Um dos planos editoriais da Ala dos Livros passa por reeditar os três volumes de O Corvo, originalmente editados pela ASA, de forma a homogeneizar a clássica série da autoria de Luís Louro. Tendo, aliás, em conta que o autor viu o seu 4º, 5º e 6º volume a serem publicados em pouco tempo pela Ala dos Livros - e relembro que está para breve o lançamento do 7º álbum da série - acho que esta reedição das obras mais antigas, faz todo o sentido.
E, como primeiro desses 3 álbuns a ser lançados, a editora trouxe-nos, há uns meses, Laços de Família, o terceiro volume da série, que havia sido originalmente lançado no ano de 2007. Este era, aliás, o livro mais raro e, portanto, mais difícil de encontrar à venda. Pelo que, parece-me, foi um passo lógico por parte da editora, apesar de eu ter dado conta de algumas críticas sobre a opção da editora em relançar o terceiro álbum, quando a opção pela republicação do primeiro álbum seria, para alguns, mais lógica. A mim, confesso, não me fez problema nenhum. Estou confiante que a editora acabará por republicar os três álbuns mais antigos. E isso é que interessa.
Laços de Família é o único álbum da série em que Luís Louro não assume o argumento da história. Esse, ficou a cargo de Nuno Markl. Já tinha lido Laços de Família há muitos anos e, confesso, já nem me lembrava bem da história. E agora que o voltei a ler, devo dizer que até gostei da abordagem que Markl faz às personagens criadas por Luís Louro.
Desta feita, será um concurso de TV, que procura encontrar um super-herói português, que fará com que o Corvo fique indignado com a própria sugestão de se achar que Portugal precisa de um herói. O Corvo é O HERÓI português. Pelo menos, é isso o que ele acha.
Mas há outros concorrentes que procuram reclamar a sua importância e serem aclamados como heróis. E, claro, surgem vários vilões. Entre eles, destaco o Senhor do Mal, que me fez rir várias vezes e, claro, a Viúva Negra, uma voluptuosa e curvilínea mulher que, qual Catwoman na série Batman, sendo vilã, também é irremediavelmente sexy aos olhos do protagonista Corvo. Cria-se aqui uma relação muito divertida entre o protagonista e a Viúva Negra que, quanto a mim, até poderia ser mais explorada. Não só neste terceiro tomo da série, como em futuros volumes.
Se a história funciona bem e tem vários momentos divertidos, o que salta mais à vista quando se (re)lê este O Corvo III é a componente da ilustração.
É que, por muito que eu seja fã do trabalho de Luís Louro há muitos anos, olhar agora para este livro e compará-lo com um dos Corvos lançados a partir do quarto volume, é um exercício interessantíssimo. Até porque há uma mudança, uma revolução extrema (!) na forma como Luís Louro evoluiu em termos de desenho. Afirmar isto pode parecer que estou a descurar o trabalho de Luís Louro antes de O Corvo IV. Nada disso! Nos primeiros três volumes da série o traço já lá estava, o estilo também. Mas o que é assinalável, e verdadeiramente impressionante, é a forma como o autor soube evoluir o seu próprio estilo e, portanto, tornar mais atuais, modernas e, admitamos, melhores as suas ilustrações. Para tal, melhorou o processo de cores, de luz, de sombra e do próprio traço, mais anguloso e estilizado. Portanto, por este motivo, olhar para Laços de Família, conhecendo as obras mais atuais do autor, é um exercício que faz sorrir e prestar louvor ao percurso evolutivo, para melhor, do autor. Merece especialmente respeito o facto de o autor não se ter “sentado à sombra da bananeira”, tentando evoluir. Conseguiu.
Em termos de edição, o livro apresenta um excelente trabalho, que supera a edição anterior da obra. O formato é maior, a capa é dura e brilhante (tendo um nova e melhor ilustração de capa) e, no miolo, o papel é brilhante e de boa qualidade, com uma boa impressão e encadernação.
Há também 10 páginas dedicadas a extras que melhoram a edição. Entre esses conteúdos, há uma nota introdutória de Nuno Markl, vários esboços e estudos de personagem de Luís Louro, o guião das primeiras 10 páginas, a ilustração da capa original e uma curiosa (e incomum) troca de e-mails entre os autores quando começaram a conversar, à distância, sobre a obra, no ano 2005.
Digo sempre isto e, portanto, lamento repetir-me mas, a meu ver, faria mais sentido que estes conteúdos adicionais fossem disponibilizados no final do livro, ao invés de nos serem dados logo nas primeiras páginas, quando ainda nem sequer lemos a obra. Quando começo a ver um filme, em Dvd ou Bluray, também não começo pelo making of do vídeo. Mas imagino que isto seja um capricho/escolha do autor/editor e há que aceitá-lo.
Portanto, concluindo, é com bons olhos que vejo os números mais antigos da série O Corvo, de Luís Louro, a serem reeditados numa bela edição. Era uma pena que os primeiros três volumes da série estivessem extintos das livrarias portuguesas e é ótimo saber que, pelo menos Laços de Família, volta a estar disponível para todos. Que venham os volumes 1 e 2 do super-herói português mais célebre de todos!
NOTA FINAL (1/10):
7.5
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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O Corvo III - Laços de Família
Autores: Nuno Markl e Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Maio de 2023
Embora com um desenho mais solto agora, a narração visual do louro continua igual. Nesse sentido evoluiu zero - as paginas do louro desperdiçam a dimensão da folha porque ele usa o espaço narrativo que caberia numa folha a5.
ResponderEliminarMas se os especialistas nao veem estas coisas...
Já falei contigo sobre isso, trata-se de uma opção estética em que cada quadrado respira e dá o seu tempo de contemplação que pelos vistos também agrada a muita gente.
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