terça-feira, 19 de março de 2024

Análise: Monster #2

Monster #2, de Naoki Urasawa - Devir

Monster #2, de Naoki Urasawa - Devir
Monster #2, de Naoki Urasawa

Depois de lido este segundo volume do mangá Monster, uma coisa se mantém bem presente: esta fabulosa série é verdadeiramente viciante! E, uma vez mergulhados na trama imaginada por Naoki Urasawa, difícil mesmo é pousarmos o livro até que cheguemos à sua última página. E quando isso acontece, a sensação menos boa é que ficamos a salivar pelo próximo volume.

Para isso, contribui o facto de Urasawa ser muito hábil a montar uma trama intrincada. E quando falo em “trama intrincada”, não me refiro propriamente ao facto de Monster apresentar um enredo demasiadamente complexo, que exija muito do leitor. Não, nada disso. Convenhamos que a história até é bastante simples de acompanhar. Quando refiro “trama intrincada”, estou a ter em conta a forma como o autor vai mantendo, quase sempre, dois eventos independentes e que afetam diferentes personagens, a acontecerem em simultâneo. Como se fosse um “jogo de cadeiras”, o autor é um verdadeiro mestre neste doseamento da ação, fazendo com que o leitor esteja sempre com alguma ansiedade para desvendar a história. É uma característica típica dos filmes thriller e que, logicamente, também se tenta fazer em livros do mesmo género. Mas, repito, não é fácil fazer isto tão bem feito como Urasawa faz.

Monster #2, de Naoki Urasawa - Devir
A história deste segundo volume continua a acompanhar o Dr. Tenma, que passa a ser procurado pela polícia depois de ter caído numa armadilha montada por Johan. Então, com a polícia sempre no seu encalço e com a sua cara a aparecer nos telejornais, Tenma procura agora travar Johan de cometer mais um crime. Entretanto, junta-se à trama um grupo de neonazis que vai condicionar Nina, a irmã gémea de Johan, bem como aparecem duas novas personagens que, mesmo sendo “side-kicks” do Dr. Tenma, acabam por cativar o leitor por diferentes motivos. Como já referi, a ação desenrola-se sempre de forma muito rápida, fazendo com que o ritmo de leitura também seja, consequentemente, a alto ritmo. São 400 páginas que se leem muito rapidamente.

Por vezes, a ação pode parecer um pouco over the top e menos plausível, mas, e pelo menos quanto a mim, consegue, ainda assim, manter-se num nível suficientemente verosímil, embora alucinante. Não sei se, continuando deste modo, nos próximos 7 volumes que faltam para finalizar a série, a série Monster não correrá o risco de cansar o leitor ou de se repetir a si mesma. Mas, lá está, como ainda não cheguei até lá, há que aguardar tendo esperança que a mente (muito) criativa de Urasawa continue a oferecer-nos uma ótima história como até agora.

Monster #2, de Naoki Urasawa - Devir
Quanto às ilustrações da obra, Urasawa continua a dar-nos um belo trabalho. As personagens são muito expressivas e como a história é ambientada na Alemanha, onde grande parte das personagens não tem feições asiáticas, isso permite que os desenhos de algumas personagens cheguem mesmo a aparentar um doce e leve travo franco-belga, embora, claro está, as personagens principais apresentem os traços faciais típicos das personagens que, habitualmente, habitam os mangás. 

Ou seja, dito por outras palavras, até na parte visual o autor parece agradar a uma franja maior do que aquilo que é comum de ver no mangá. E, também por isso, eu não me canso de dizer que este é o mangá mais que adequado para todos os que lêem franco-belga, ou comics, e não leem/conhecem mangá.

Em termos de desenho, a minha única crítica menos positiva, e isto é muito frequente noutros mangás, é que o autor utilize (em demasia) cenários em que se torna claro que os mesmos foram desenhados por cima de uma fotografia. Há casos em que o resultado fica mais próximo de um desenho mais convencional e orgânico, mas há vários exemplos em que parece que o autor se limitou a pegar numa fotografia a preto e branco, aumentando-lhe o contraste e usando a técnica de photoshop “threshold”. Sei que a cadência a que os mangás são publicados talvez não permitiria que os cenários fossem feitos de uma outra forma, mas, lá está, isso não invalida que a opção utilizada não seja a melhor.

A edição da Devir mantém-se em capa mole, com sobrecapa. Na sobrecapa sente-se o relevo nas molduras, o que é um bom e simpático detalhe. No miolo, o papel é de qualidade decente e a encadernação e impressão são boas. Nota para o facto de, quando a série estiver terminada, o conjunto das nove capas formar um ambicioso e apelativo desenho conjunto, como se fosse um papel de parede carregado com molduras afixadas nele.

Em suma, Monster é mesmo obrigatório e é mesmo viciante! É difícil que não fiquemos “agarrados” a esta trama genialmente arquitetada por Urasawa. Foi o mangá do ano no ano passado e, muito provavelmente, continuará a ser o mangá deste ano. E dos próximos… até que a série fique integralmente publicada. Até lá, tudo o que podemos fazer é desfrutar desta magnífica série.


NOTA FINAL (1/10):
9.6


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Monster #2, de Naoki Urasawa - Devir

Ficha técnica
Monster #02
Autor: Naoki Urasawa
Editora: Devir
Páginas: 404, a preto e branco (inclui 12 páginas a cores)
Encadernação: Capa mole com sobrecapa
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Fevereiro de 2024

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