Tendo este terceiro volume como premissa a tentativa de identificação de quem são, efetivamente, as forças (mais ou menos) tangíveis que controlam os desígnios da evolução humana, é justo dizer que esta obra acaba por encetar, logo à partida, uma tarefa complexa e verdadeiramente abstrata. Se é verdade que, dito assim, o leitor deste meu texto pode revirar os olhos e dizer “hum, isto não é para mim!”, posso, mesmo assim, assegurar a esse mesmo leitor que a maneira como os autores "descalçam esta bota" é muito bem conseguida.
E será até isso o grande feito, não só de Sapiens, a obra original de Yuval Noah Harari, como neste caso, a sua adaptação para banda desenhada. De resto, relembro que os primeiros dois volumes desta série já aqui foram analisados.
Simulando um concurso de televisão que procura saber, e passo a citar, “quem puxa os cordelinhos da história”, isto é, quem é que faz com que o mundo avance - ou regrida, conforme a opinião de cada um - este livro dá-nos uma autêntica aula de História, que procura não fazer apenas perguntas para o ar, mas dar-nos também respostas a essas perguntas. Fazer-nos pensar.
Os concorrentes do mencionado concurso são: o Sr. Aleatório, a Mulher Conflito, a Mulher-Ciclo, a Mulher-Império, o Capitão Dólar, o Homem-Céu e a Scientifika. Basicamente, cada um destes concorrentes é uma personagem que representa as grandes forças das sociedades humanas, como os impérios, o dinheiro e a religião. E aquilo que o livro nos propõe é uma reflexão sobre a importância que cada uma destas coisas teve - e tem - para moldar o mundo em que vivemos. Todos eles têm a sua quota de responsabilidade na forma como o mundo se desenvolve, sim, mas é certo que alguns serão mais relevantes para as dinâmicas de desenvolvimento planetário do que outros.
E é um pouco por este caminho que o livro segue.
O relato é especialmente bem conseguido por colocar as diferentes personagens em diálogo, argumentando e contra-argumentando umas com as outras. Acaba, pois, e conforme já referido, por ser um livro que faz as perguntas e dá as respostas. Sempre de uma forma dinâmica e com bastante humor à mistura, tornando mais leve um tema que poderia ser abstrato e difícil. Acaba por ser uma aula divertida e quase leve.
Mesmo assim, como ponto menos positivo, tenho que dizer que, no final do terceiro volume, e especialmente para aqueles que já tenham lido os primeiros dois volumes, já se começa a sentir um certo cansaço. Acredito piamente que seria difícil falar de assuntos tão complexos de uma forma mais leve e, ao mesmo tempo, completa. Reitero, pois, por isso, que o trabalho dos autores é fantástico nesse campo. Contudo, como já é o terceiro volume, sente-se que a fórmula utilizada já apresenta alguns sinais de cansaço. Tanto quanto sei, a série deverá terminar no quarto volume, pelo que, se isso acontecer, será positivo para que a série não esprema em demasia o seu próprio conceito.
Quanto às ilustrações, o trabalho do autor Daniel Casanave está em linha com aquilo que o mesmo nos deu nos dois álbuns anteriores. Por esse motivo, recupero as palavras que escrevi na análise aos dois primeiros volumes: "em termos de desenho, Daniel Casanave, o ilustrador, oferece-nos desenhos simples, rápidos e que servem bem o propósito desta banda desenhada. O traço é linear, com cores vivas, mas até é verdade que, por vezes, o autor permite-se a liberdade de nos oferecer uma vinheta ou uma prancha com mais detalhe, com maior dimensão, e que permite ao todo respirar um pouco melhor. E isso acaba por ser importante para que a informação seja dada ao leitor de forma doseada. É claro que não são desenhos “lindos” na sua forma. Ou “portentos da ilustração técnica”. Mas também não creio que fosse isso o expetável para um livro deste género."
Em relação à edição da Elsinore, uma chancela do grupo Penguin Random House, o livro apresenta uma boa robustez devido à sua espessa capa dura e baça. No interior, o papel é baço e de gramagem generosa, com a impressão e a encadernação a serem igualmente boas.
Em suma, Sapiens 3 - Os Donos da História continua a afirmar-se como uma obra recomendada para jovens e adultos. Dentro do género de banda desenhada educativa, Sapiens está, pois, entre as melhores obras e, como tal, recebe o selo de recomendado!
NOTA FINAL (1/10):
8.6
-/-
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