A propósito de um generoso passatempo em que ofereci banda desenhada avaliada em mais de 250€, aproveitei para procurar obter a opinião dos leitores do Vinheta 2020 sobre os Prémios de Banda Desenhada VINHETAS D'OURO, com o intuito de saber o que as pessoas acham, de forma a melhorar os denominados "prémios da crítica" da banda desenhada em Portugal.
E foram mais de 100, as respostas que obtive. Todas elas, com muita utilidade. A esse respeito, devo dizer que as mesmas questões também já foram endereçadas aos editores de banda desenhada em Portugal e serão igualmente enviadas para os outros membros do painel de jurados e criadores de conteúdos sobre BD.
Porquê tudo isto? Bem, porque não me considero uma pessoa que vive fechada dentro de si mesma. Gosto de ouvir opiniões alheias - mesmo que contrárias às minhas - e tentar percebê-las e aprender com as mesmas. Caso isso seja possível.
Dito isto, também acho que tenho sentido autocrítico e, já antes de lançar este passatempo, eu sabia bem para onde levar estes Prémios e que alterações incutir-lhes. Não o digo com arrogância. Digo-o porque depois de 4 edições dos prémios, já tenho um certo distanciamento para perceber quais as coisas a melhorar/corrigir/alterar.
Mesmo assim, e repetindo-me, gosto de ouvir as opiniões alheias. Seja para comprovar que os outros pensam como eu, seja para ter a certeza de que estou sozinho sobre determinado tema.
Estes Prémios são feitos para o público, claro, mas isso não quer dizer que eu vá fazer todas as vontades ao público, caso discorde veementemente das mesmas. Como aliás verão mais abaixo.
Inicialmente, achei que não iria partilhar estes resultados, mas convidado, nas redes sociais, pelo meu amigo Rui Cartaxo - que até foi apoiado por mais uma meia dúzia de leitores do blog que manifestaram interesse neste assunto - partilho-os mais abaixo. Inicialmente, considerei os resultados deste inquérito como documento de trabalho. Mas, como já disse, não há secretismo nos mesmos e não tenho pruridos em partilhá-los.
Vamos lá a eles, então.
Nada de especial a retirar desta questão. A grande maioria dos inquiridos (81,7%) conhece os VINHETAS D'OURO. 17,3% também conhece, mas só de nome, não tendo nunca visto uma GALA.
Nas categorias consideradas mais relevantes destes Prémios, as cinco categorias mais votadas foram: Melhor Obra de Autor Nacional (86,5%), Melhor Obra Estrangeira (69,2%), Melhor Argumento de Autor Nacional (50,0%), Melhor Ilustração de Autor Nacional (48,1%) e Melhor Série de Banda Desenhada (35,6%). Coisa que não me surpreende.
As cinco categorias menos votadas - e olhar para estes resultados antes da próxima questão pode ser um exercício comparativo interessante - como preferidas foram: Melhor Criador de Conteúdos de Banda Desenhada (3,8%), Melhor Obra de Humor em Banda Desenhada (4,8%), Melhor Capa de Banda Desenhada (6,7%), Melhor Banda Desenhada Infanto-Juvenil (7,7%) e Melhor Reedição de Banda Desenhada (9,6%).
Relativamente às categorias consideradas menos importantes dos VINHETAS D'OURO, as cinco categorias mais votadas foram Melhor Criador de Conteúdos de Banda Desenhada (51,0%), Melhor Reedição de Banda Desenhada (39,4%), Melhor Mangá Publicado em Portugal (33,7%), Melhor Capa de Banda Desenhada (31,7%) e Melhor Banda Desenhada Infanto-Juvenil (25%).
Aqui os resultados já me parecem mais interessantes.
E como sou bastante transparente, posso já dizer-vos que as categorias para Melhor Criador de Conteúdos em Banda Desenhada e Melhor Capa de Banda Desenhada já estavam na minha lista pessoal para serem excluídas da próxima edição dos prémios. Posso dizer porquê: em termos de criadores de conteúdos, sempre me senti algo desconfortável pelo facto do Vinheta 2020 ser considerado como elegível. Fui aconselhado, na altura dos primeiros prémios, a deixar o Vinheta 2020 como elegível porque era apenas mais um dos blogs a fazer este serviço e, como tal, deveria ser tido em conta. Mesmo assim, sempre achei um pouco foleiro, concedo. Felizmente, nunca ganhei o prémio. Além disso, tendo em conta que têm surgido (muito) poucos novos criadores de conteúdos, há aqui o risco de, com a passagem dos anos, estarmos sempre a premiar e a nomear os mesmos. Algo que ficaria redundante e desinteressante para os leitores. Como, aliás, a sua votação deixa bem claro.
Relativamente à Melhor Capa de Banda Desenhada, também confesso que há já alguns anos que venho a considerar esta categoria pouco importante. Não me entendam mal: eu sou das primeiras pessoas a achar que a capa de um livro de banda desenhada é de importância vital para que um livro seja mais ou menos apetecível e, como tal, faz sentido assinalar isso. Nesse ponto, não mudei de opinião. Por outro lado, o que é uma boa capa? Aquela que tem uma boa ilustração por parte do autor? Ou aquela que tem um bom grafismo feito pelo editor? Um conjunto das duas coisas, quiçá? Sempre achei que os requisitos de voto não eram tão claros assim. E, como tal, já era minha ideia excluir esta categoria. Não acho uma categoria ridícula, nem nada que se pareça, mas acho demasiadamente específica.
Relativamente às outras categorias consideradas menos importantes pelos inquiridos, como o mangá, compreendo que é uma categoria algo dúbia mas que, pelo menos neste momento, ainda é relevante para destacar este subgénero de banda desenhada em grande expansão em Portugal. É uma categoria que, por agora, será mantida.
A Melhor Reedição, embora tenha sido considerada pelos inquiridos como a segunda categoria menos relevante dos Prémios, também deverá ser mantida. E explico porquê: se o papel dos VINHETAS D'OURO é servirem como curadoria, é de bom tom que as boas obras, aquelas que merecem ser lidas e/ou que têm bom trabalho de reedição, recebam o merecido destaque. Caso contrário, e não sendo consideradas nas outras categorias por não serem material novo, estas obras podem cair no esquecimento. Pode haver muitas opiniões discordantes mas, pelo menos por agora, estou firme na importância desta categoria. Acho que a mesma só será menos importante se o número de obras reeditadas for demasiado pequeno. Coisa que não tem acontecido nos últimos anos.
E, relativamente à categoria de Melhor Obra Infanto-Juvenil ainda estou mais firme! Aliás, é das minhas categorias preferidas de todos os prémios. Porque acho que tem a melhor das funções: tentar dar destaque à boa banda desenhada para os mais novos. Só isso, é razão suficiente para a existência dos prémios, meus caros! Percebo que os leitores do blog não consumam este tipo de banda desenhada, claro, mas a ideia é que, mesmo por essa razão, possam tomar contacto com a banda desenhada que poderão, depois, recomendar, comprar ou oferecer aos mais novos. Esta categoria não será excluída, certamente! É uma das minhas "bandeiras" e só lamento por não existir desde que os prémios foram originalmente lançados.
Havendo espaço para excluir algumas categorias, também se abrirá espaço para a introdução de novas categorias. E, para isso, tentei perceber quais eram as novas categorias que o público considerava mais relevantes.
E aqui, meus caros, desde já aviso que poderei deixar muita gente insatisfeita. A categoria mais votada foi a Melhor Loja Portuguesa de Banda Desenhada, mas não creio que essa categoria vá ser criada. Mas será por eu não considerar que o bom trabalho das lojas de BD deva ser premiado? Ah, é claro que considero! Sem pestanejar. O problema aqui é que são tão poucas as lojas de BD em Portugal, que corremos o risco de termos, de ano para ano, sempre os mesmos nomeados e vencedores. Não considero que haja dinâmica suficiente para ter esta categoria em Portugal. No máximo, poderei considerar esta categoria em edições de aniversários especiais dos Prémios, de 5 em 5 anos. É uma questão a rever. Ainda não tomei uma posição.
Depois, as restantes categorias mais votadas foram Melhor Ilustração de Autor Estrangeiro e Melhor Argumento de Autor Estrangeiro. Percebo a votação e concordo com a mesma. É algo que é interessante aferir. Mas, por agora, não me comprometo a considerar nem a desconsiderar esta categoria. Aqui o problema é de ordem logística. Se estas duas categorias forem incluídas, tornarão mais pesada a organização dos prémios. Como sabem, há um esforço muito grande, diria, em ter anualmente vídeos de agradecimento por parte dos autores estrangeiros. Se para conseguir 1 vídeo do autor vencedor de melhor obra estrangeira é difícil, imaginem passar a ter que conseguir 3 vídeos de autores estrangeiros. Não digo que não, mas também não digo que sim. Terei que pensar nesta questão com cuidado.
De resto, as categorias de Melhor Argumento Adaptado para BD, Melhor Obra Curta, Melhor Antologia, Melhor Web Comic e Melhor Tradução parecem-me todas elas pertinentes. Mas não poderei incluir todas por uma questão de organização. Terei que escolher uma ou duas. A de Melhor Web Comic, Melhor Obra Curta e Melhor Antologia implicarão, pela sua independência editorial, que sejam os autores/editores a fazerem chegar as obras ao Painel de Jurados, seja em formato físico ou digital. E isso pode ser uma dificuldade para a Organização. Vamos ver o que é possível fazer.
Este é um assunto que, volta e meia, vem à baila e, como tal, gostaria de sondar os inquiridos sobre o mesmo. Já muita gente me disse que seria bom que o público pudesse ter uma opinião sobre as melhores obras do ano. Algo semelhante ao que se faz em Angoulême em que se atribui o "Prémio do Público".
A mim, não me choca e acho que poderia fazer sentido. Mesmo assim, nunca tive por hábito pisar "os calos" dos outros. Existem os Prémios do Central Comics que já permitem que o público faça a sua própria votação. Isso já é muito bem feito por parte do Central Comics e, portanto, talvez não exista a necessidade de criar algo semelhante, para que não seja repetitivo ou redundante.
No entanto, os resultados da votação demonstraram que a grande maioria (55,8%) gostaria que houvesse esta oportunidade de voto. Vamos ver... ainda não tomei uma decisão sobre este assunto.
Confesso que esta é uma das categorias dos Prémios que mais me divide desde a sua criação: a de Melhor Editora Portuguesa de Banda Desenhada. Bastante polémica foi levantada desde a criação desta categoria. O propósito foi apenas e só o de premiar o trabalho global de uma editora. Mesmo assim, muita gente criticou a categoria dizendo que não se devem premiar as editoras - pois elas, na generalidade dos casos, apenas adquirem obras - mas sim as edições de forma avulsa. Confesso que eu próprio compreendo e aceito essa opinião, apesar da boa intenção com que a categoria foi criada.
E, portanto, fiquei um bocado surpreendido quando mais de 70% dos votantes considerou que esta categoria era importante. Estava à espera que os resultados fossem muito mais equilibrados. Ainda não decidi o que vou fazer com esta categoria.
Já falei sobre este tema mais acima. Esta é uma das categorias que, quase de certeza, será excluída dos VINHETAS D'OURO.
Também pelas razões acima referidas, esta categoria dedicada ao mangá deverá ser mantida. Pelo menos, por agora. O que me importava saber era se as pessoas olhavam com bons olhos para a inclusão de obras a que chamamos do género visual mangá sem o serem realmente, por não terem origem no Japão. Os resultados foram claros e, em princípio, a categoria passará a abarcar esse tipo de obras.
Este também é um assunto que já me foi sugerido por diversas pessoas, várias vezes. Deveriam os autores vencedores de um ano transitarem para o ano seguinte enquanto jurados, caso não tivessem obras a concurso? Aqui as respostas foram bastante divididas. Tal como eu estou dividido nesta questão...
Vou ser-vos sincero: por muito que eu gostasse que a Gala fosse em formato híbrido (em vídeo e presencial) muito dificilmente isso deverá acontecer. Por uma questão apenas: porque sou eu que a organizo sozinho. Mesmo sendo apenas em formato vídeo, cada uma das Galas demora-me cerca de 2 meses(!) a montar. E, mesmo assim, ainda não tem o grau de profissionalismo que eu gostaria que tivesse.
Mesmo assim, acho que, de alguma forma, os VINHETAS D'OURO podem passar a ter um evento presencial à parte. E, como tal, pelo menos para este 5º aniversário, estou a equacionar a possibilidade de organizar um jantar de gala que reúna autores, editores e leitores. A ideia apenas está em fase embrionária. Não me comprometo com nada, por enquanto, mas posso adiantar que é algo que eu tenho em mente.
Bem, estão partilhados os resultados do inquérito. Na última questão, que era de resposta aberta, houve um conjunto muito interessante de sugestões e opiniões que não publico aqui para não estar a ser um exercício demasiado exaustivo.
Mas volto a abrir a discussão sobre o que aqui foi referido, nos comentários abaixo.
Que vos parece destes resultados e dos Prémios em si?
Obrigado a todos por ajudarem esta iniciativa a crescer e a evoluir.
Estes inquéritos são bons para aferir algumas coisas dentro de certo contexto mas é de lembrar que a amostra pode ser mais ou menos representativa da realidade concreta que queremos aferir.
ResponderEliminarExatamente. A amostra não é muito pequena, tendo em conta o mercado nacional da banda desenhada, mas também não é especialmente grande. Um abraço
EliminarOs resultados podiam ter sido adiados um pouco. Tirando o óbvio retirar o blog dos nomeados, há bastante indecisão ainda. Ainda assim, resultados de 2/3 são já bastante claros, sendo questão de logística. No resto, o dono da tasca é que manda.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário, caro Paulo Silva!
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