quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A 8ª Coleção de Novelas Gráficas chega amanhã ao fim!


Amanhã é publicada, em conjunto com o jornal Público, a última obra daquela que foi a 8ª Coleção de Novelas Gráficas da Levoir!

A obra em questão é O Caso Alan Turing, de Arnaud Delalande e Éric Liberge, que versa sobre o célebre investigador e matemático Alan Turing, cujo contributo foi fulcral para decifrar as mensagens codificadas do exército nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Sobre esta impressionante história já foi feito, em 2014, o filme The Imitation Game, com o ator Benedict Cumberbatch.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


O Caso Alan Turing, de Arnaud Delalande e Éric Liberge
A finalizar a VIII colecção de Novela Gráfica a Levoir e do Público escolheram O Caso Alan Turing, do escritor e argumentista Arnaud Delalande e do cartoonista Éric Liberge, prémio René-Goscinny em 1999.

Em 1938 os serviços secretos britânicos recrutaram um jovem e brilhante investigador de matemática: Alan Turing. A sua missão: decifrar os códigos da Enigma, a máquina utilizada para transmitir as instruções do Führer às suas tropas. Todas as tentativas anteriores para decifrar os códigos tinham falhado.

Era o maior desafio da vida de Alan Turing. Um confronto científico sem precedentes.

Em total secretismo, ele iniciou a tarefa. E foi bem-sucedido. Ao quebrar o código da Enigma, Turing deu aos Aliados uma vantagem decisiva e lançou as bases para a revolução dos computadores.

O seu sucesso deveria tê-lo levado ao pináculo da glória, mas teve de se esconder e permanecer na sombra.

Na Inglaterra puritana, a sua homossexualidade era uma marca de infâmia. Os tribunais condenaram-no à castração química. Em 7 de junho de 1954, um homem solitário e desesperado pôs fim à sua vida mordendo uma maçã envenenada.

No final da banda desenhada há um dossier documental que reconstitui e explora o seu percurso, em particular o, longo processo de reconhecimento, que se traduz agora em monumentos, na abertura de um museu informático em Bletchley e, sobretudo, no perdão real concedido pela rainha Isabel II em 2013, que o reconheceu oficialmente como "herói de guerra".

-/-

Ficha técnica
O Caso Alan Turing
Autores: Arnaud Delalande e Éric Liberge
Editora: Levoir
Páginas: 104, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 195 x 270 mm
PVP: 13,90€

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Análise: As 5 Terras - Volumes 1 e 2

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa
As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey

Há várias coisas na vida - para não dizer todas - em que é a soma das partes que faz com que algo seja maior e mais impactante. A série As 5 Terras, de Lewelyn e Lereculey, em cujo lançamento a editora ASA acaba de mergulhar de cabeça, com a edição simultânea dos dois primeiros volumes de uma só vez, pode muito bem ser um exemplo disso. É a soma do todo que torna esta série uma bela aposta e uma leitura viciante!

Sim, é mesmo "viciante", pois esta é uma daquelas obras que nos prende de tal forma que ficamos a "chorar por mais" quando chegamos ao fim de cada livro!

Mas vamos por partes.

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa
A série As 5 Terras é uma obra de fantasia épica escrita por Lewelyn e ilustrada por Jérôme Lereculey. E "Lewelyn" não é uma pessoa, mas sim três. Na verdade, a palavra "Lewelyn" é um pseudónimo para três autores: David Chauvel, Andoryss et Patrick Wong. Todos eles são argumentistas desta obra. O que se entende, se tivermos em conta a complexidade - pelo menos, teórica - de tal empreitada.

A série é composta por uma mistura de aventura, mistério e uma exploração profunda de mundos fantasiosos interconectados, numa saga épica que está pensada para ter 30 volumes, divididos por seis arcos narrativos. Para já, em França, a série já vai no 13º volume.

Tem sido, portanto, um grande sucesso de vendas e, quanto a mim, é fácil de perceber porquê. Porque, tal como referido logo no primeiro parágrafo, consegue fazer muita coisa bem, assegurando que a soma das partes faz com que o resultado seja diferenciado e especial. Pode não ter os desenhos mais belos de sempre, mas são muito belos; pode não ter o melhor argumento de sempre, mas é um argumento muito bom. E este tipo de afirmação poderia ser feito para qualquer pequeno elemento presente na obra. Pode não ser a melhor coisa de sempre, mas é uma série indubitavelmente boa. Pelo menos, por agora.

Esta saga de inspiração medieval centra-se - como, pelo nome da obra, é fácil de perceber - em cinco terras: Angleon, Arnor, Erinal, Ithara e Lys. Cada uma destas terras é habitada por uma espécie diferente de animais e representa um reino. Mesmo assim, parece ser Angleon, o reino dos felinos - e não obstante o facto de ter a área geográfica mais pequena de todos os cinco reinos - a terra com mais preponderância político-económica. E tanto assim é que Cyrus, o rei de Angleon e herói da batalha de Dhakenor, sonha construir um império hegemónico, reinando sobre as cinco terras.

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa
Mas agora que, estando bastante velho, Cyrus se encontra debilitado e às portas da morte, começam a surgir movimentações em toda a corte para que se saiba quem será o sucessor deste rei que apenas tem duas filhas que, supostamente, não podem ocupar o cargo. Tudo indica, portanto, que será Hirus, o sobrinho de Cyrus, a assumir o reinado. Mas a trama adensa-se e cada um dos envolvidos, nomeadamente os reis das terras vizinhas, vai jogar as suas cartadas com o propósito de chegar ao poder. Ou de aumentá-lo, pelo menos.

Onde é que já viram isto? Certamente em muitas histórias, mas com uma trama tão rica em jogadas de bastidores e num jogo de traição tão infindável, só mesmo em A Guerra dos Tronos, de  George R. R. Martin, diria. E, sim, falar de As 5 Terras sem referir a A Guerra dos Tronos, é quase impossível. Não é que a história seja igual, mas há muitos pontos em comum. Também aqui somos confrontados com um complexo jogo de intrigas e com personagens carregadíssimas de personalidade a operar dentro e fora dos bastidores do reino, sempre tentando o seu usufruto pessoal. O leitor é, pois, mergulhado em várias tramas, mais ou menos independentes, que nos aproximam das várias personagens. Cada uma tem um objetivo pessoal e guarda certos segredos que vão sendo revelados a conta-gotas ao leitor. O que faz, claro está, com que haja sempre um clima tenso de incerteza perante o que vai acontecer e uma sensação constante de que qualquer personagem, não importa o seu protagonismo na história, pode morrer de um momento para o outro. Bem ao jeito de A Guerra dos Tronos, portanto.

Quem gostou da célebre obra de George R. R. Martin facilmente gostará de As 5 Terras, afianço. Em As 5 Terras (também) temos familiares distantes a lutarem entre si pelo trono; (também) temos relações amorosas proibidas e secretas; (também) temos mortes inesperadas; (também) temos casamentos arranjados; (também) temos personagens com vários segredos, (também) temos várias cenas de ação gutural. Enfim, sendo uma história com animais, dificilmente poderia ser mais humana.

Todos estes mundos aparecem-nos bem construídos e com o potencial de uma exploração quase infinita. Não admira, portanto, que a série esteja pensada para 30 volumes. Porque em apenas dois volumes - e mesmo sendo verdade que a história já começa a ter uma exploração muito interessante - fica claro que temos aqui "pano para mangas", do ponto de vista da narrativa. 

O mundo bem construído e a trama envolvente são os principais destaques. A série consegue criar uma mitologia interessante e rica, que mantém o interesse do leitor. O desenvolvimento das personagens é eficaz, principalmente no que diz respeito à sua evolução ao longo da jornada. No final, apenas uma coisa é certa: ficamos a chorar por mais!

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa
Em termos ilustrativos, há uma coisa que sobressai assim que olhamos para a capa do livro. É que todas as personagens são antropomórficas, isto é, são animais com o corpo e características dos humanos. Há muita gente que não gosta e há muita gente que gosta. Eu sou um confesso fã, admito. À boa maneira de Blacksad, aquele que será, por ventura, o melhor exemplo de BD com personagens antropomórficos, também em As 5 Terras as personagens apresentam faces de animais. Sendo que, neste caso, e até agora pelo menos, a maioria das personagens é da família dos felinos. Há outras espécies, como ursos, veados, macacos, cães ou répteis, mas a grande maioria de personagens a deambular por estes dois primeiros livros da série são felinos porque a ação também se passa, obviamente, no reino dos felinos. Acredito que, no futuro, com o desenvolvimento da história, isso possa vir a ser alterado. E refiro este tema porque, logo no início, com tantas personagens felinas, temi que os belos desenhos de Lereculey pudessem ficar algo parecidos entre si, inviabilizando que o leitor percebesse quem era determinada personagem. Contudo, devo dizer que, à medida que fui progredindo na leitura, verifiquei que o autor deu conta do recado. Seja pelo local onde a personagem se encontra, seja pelas personagens que a rodeiam, seja pelas vestes da personagem ou por pequenos traços distintivos, acabei por nunca me perder. E lembro que a trama até é bastante intrincada.

Os desenhos são, portanto, muito belos, com as personagens a apresentarem belas expressões que poderiam ser retiradas da boa escola dos estúdios de animação Disney, numa conceção muito bem executada. Não me parece que tenham o aprumo visual e elegância dos desenhos de Guarnido (desculpem a segunda referência a Blacksad, mas é quase impossível para mim não a fazer), mas são belos desenhos. E que são complementados por uma paleta moderna e bem feita de cores muito bonitas. No todo, são desenhos apelativos e não há muita volta a dar quanto a isso. São daqueles livros que, assim que os abrimos, criamos facilmente empatia com as ilustrações. Grosso modo.

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa
Em termos de edição, estes livros apresentam capa dura baça, com bom papel brilhante no miolo e um bom trabalho de encadernação e impressão. As primeiras guardas do primeiro livro são utilizadas para um esquema com as personagens mais relevantes da trama (que é muito útil para simplificar a vida ao leitor), enquanto que as segundas guardas desse mesmo livro têm um mapa das 5 Terras, que também é útil para situar geograficamente a história. O segundo livro apenas tem, nos dois lados das guardas, este mapa das terras, o que é pena, pois o esquema das personagens poderia (deveria?) ser replicado em todos os volumes da série. 

Além disto, o primeiro livro inclui um caderno gráfico enquanto extra, onde o leitor tem acesso a esboços de personagens, estudos para cenários e à conceção de uma prancha. O segundo volume não traz um caderno gráfico, mas traz como extra um texto sobre "A Batalha de Dhakenor" para melhor imersão do leitor. Como outra nota positiva, o segundo livro também traz, logo no início, uma página de texto com o resumo dos acontecimentos do primeiro tomo. Pode parecer uma coisa mínima, mas que assinalo por achar que é bastante relevante para embrenhar ainda mais, e melhor, o leitor. Lá está, e repetindo-me uma vez mais, é um conjunto de várias coisas bem feitas que contribui para que uma coisa possa almejar voos mais altos.

Continuando a falar do trabalho da edição da ASA, admito que seria desejável que a série, devido à sua extensão, pudesse ser publicada em álbuns duplos/triplos. Porém, como cada ciclo é composto por cinco tomos, isso faria com que houvesse uma dissimetria nos livros, que também não era aconselhável. Compreende-se e aceita-se, portanto, a opção da ASA em lançar cada tomo de forma isolada, o que até acaba por ser fiel à edição original francófona. 

Em suma, posso dizer-vos que, para já, As 5 Terras resulta de um casamento feliz entre A Guerra dos Tronos, na maneira de ser, e Blacksad, na parte visual. Estamos perante uma trama carregada de intriga, que nos deixa agarrados e a chorar por mais, e por um trabalho de ilustração muito bom, que dificilmente não agradará ao mais exigente leitor de banda desenhada. Tem tudo para (também) ser um sucesso em Portugal!


NOTA FINAL (1/10):
9.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-


As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa

Fichas técnicas
As 5 Terras #1 - Com Todas as Minhas Forças
Autores: Lewelyn e Jérôme Lereculey
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 319 x 226 mm
Lançamento: Outubro de 2024

As 5 Terras, Volumes 1 e 2 - Com Todas as Minhas Forças | Alguém Vivo, de Lewelyn e Jérôme Lereculey - ASA - LeYa

As 5 Terras #2 - Alguém Vivo
Autores: Lewelyn e Jérôme Lereculey
Editora: ASA
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 319 x 226 mm
Lançamento: Outubro de 2024

Primeiro álbum de Lucky Luke é finalmente editado em Portugal!




Chegou ontem às livrarias, com 75 anos de atraso, aquele que é o primeiro álbum da série Lucky Luke, originalmente lançado em 1949, e que, por incrível que pareça, nunca havia sido publicado em Portugal! Até agora!

Ainda antes de adquirir o aspeto que todos conhecemos, ou da entrada de Goscinny para o argumento da série, já existia o Lucky Luke de Morris. E é essa primeira versão em álbum que a editora ASA nos propõe agora.

Um achado para colecionadores, diria.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.

Lucky Luke - A Mina de Ouro de Dick Digger, de Morris

Tendo o seu cavalo Jolly Jumper como único companheiro, “o homem que atira mais rápido que sua própria sombra” faz a ordem e a justiça reinarem em uma fantasia de Faroeste mil vezes mais real do que a realidade.

Perseguindo os terríveis irmãos Dalton ou cruzando-se com diversos personagens históricos, Lucky Luke faz-nos descobrir com bom humor o lado avesso da conquista do Ocidente. 

Nas livrarias a 19 novembro.

-/-

Ficha técnica
Lucky Luke - A Mina de Ouro de Dick Digger
Autor: Morris
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 297 x 228 mm
PVP: 12,90€

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Análise: Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2)

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros
Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs

Se os mais céticos (ainda) poderão franzir o olho a uma afirmação como "2024 tem sido dos melhores anos de sempre no que ao lançamento de banda desenhada de qualidade em Portugal diz respeito", uma coisa é clara: basta-nos olhar para o conjunto muito alargado de bandas desenhadas de qualidade superior lançadas em 2024 em Portugal para chegarmos a uma fácil conclusão: é bem possível que este seja, de um modo global, o melhor ano de sempre . Ou um dos melhores, vá.

E este breve parágrafo inicial serve apenas para introduzir uma das mais recentes apostas da editora Ala dos Livros: a série Shi, da autoria de Zidrou e Homs. Esta era uma série há muito esperada por mim. Desde que, numa livraria na Bélgica, depositei os olhos no primeiro tomo desta obra, que percebi que estávamos logo perante um trabalho que eu queria ter na minha biblioteca pessoal. Daí que não hesitei mais do que alguns segundos para comprar, de uma só vez, os dois primeiros tomos. Passados uns anos, fiquei, pois, muito agradado por saber que a obra seria por cá editada. Ainda por cima, numa edição de luxo, como poderei abordar um pouco mais à frente.

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros
Originalmente lançada em 2017, esta série, ainda em continuação, depressa conquistou uma grande aclamação pelo público e crítica. Coisa que, olhando para o trabalho fortemente inspirado de Zidrou e Homs, não surpreende. O primeiro ciclo de Shi é composto por quatro tomos, enquanto que o segundo e terceiro ciclos, são constituídos, cada um, por dois tomos. No total, a série está pensada para vir a ter oito tomos. Para já, a Ala dos Livros brinda-nos com um volume duplo que, naturalmente, agrega os dois primeiros volumes da série, oferecendo-nos, de uma só assentada, metade do primeiro ciclo da série.

Desta vez, começo-vos por falar das ilustrações de Homs. Já li milhentos livros de banda desenhada e posso dizer-vos com sinceridade que o trabalho deste autor figura no círculo muito fechado dos meus ilustradores preferidos de banda desenhada. Sei que estas questões são sempre pessoais e algo subjetivas mas, com objetividade, também podemos ainda assim referir que os desenhos de Homs são tecnicamente muito evoluídos, com os cenários a serem de cortar a respiração, com as personagens a apresentarem uma expressividade incrível, com a dinâmica da planificação a ser estonteante, com as cores a serem magníficas. Enfim, para mim, em termos de ilustração, o trabalho de Homs é perfeito, pois não sei, honestamente, e mesmo em termos teóricos, de que forma poderia melhorar os desenhos de Homs. Dito por outras palavras, mesmo que eu quisesse andar aqui à procura de defeitos... não o conseguiria fazer. Está certamente entre os meus dez ilustradores preferidos de banda desenhada... de sempre.

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros
E, portanto, só isso já era meio caminho andado para a obra Shi ser totalmente recomendada. Pois aqui, e possivelmente mais do que nunca, Homs pôde dar asas à sua criatividade e capacidade ilustrativa, através de vários cenários, várias épocas, várias indumentárias, vários momentos de ação e um conjunto variado de peripécias. O próprio Homs, nas notas de agradecimentos inaugurais da obra, agradece a Zidrou por este ter criado "a história que Homs gostaria de desenhar".

Não tenho muitos mais elogios superlativos a fazer a Homs... os seus desenhos são um autêntico deleite, uma verdadeira obra de arte, rica, refinada e trabalhada, que todos devem conhecer e que eleva, só por si, a qualidade de Shi.

Mas, claro, ainda falta fazer referência à outra parte da obra: o argumento. 

Zidrou é um dos meus argumentistas preferidos de banda desenhada - vejam lá a "dream team" responsável por esta obra! Nunca li um livro de Zidrou que não fosse do meu agrado. E já li bastantes. As suas histórias trazem sempre consigo algo que fica a ressoar no nosso pensamento já depois de finalizadas as leituras. E, tanto ou mais importante que isso, as suas personagens estão sempre munidas de uma personalidade muito própria que as fazem credíveis e inesquecíveis até para aqueles leitores que, como eu, travam conhecimento, num ritmo diário, com novas BDs e novas personagens.

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros
Em Shi, Zidrou avança por caminhos novos, dando-nos uma história complexa, megalómana, com várias camadas, que acontece em vários momentos e tempos de ação. Quer no tempo presente, quer no tempo passado. É uma obra que mistura a narrativa de ação com uma exploração profunda de temas de conflito pessoal, questões éticas e misticismo, com vários toques de fantasia onde até vemos Zidrou a piscar o olho a algumas das criações de Jodorowsky. Mesmo assim, e ao contrário do autor por mim mencionado, Zidrou não parece, pelo menos para já, perder as rédeas da sua própria criação. De facto, e isso é uma coisa que sempre admiro numa argumentista, por muito rocambolesca e audaz que possa ser a história de Shi, Zidrou parece saber exatamente para onde quer levar a trama, não oferecendo, por isso, partes do enredo  de forma aleatória ou introduzidas à força, como fillers, como, infelizmente, tantas vezes vemos em banda desenhada.

O próprio género é de difícil catalogação: Shi é um policial, é uma história de época, é uma história de ação, é uma história de aventura, é uma história de fantasia e até tem um cariz de consciencialização social. 

Estamos em Londres, em pleno século XIX, onde a primeira Exposição Universal acaba de ser inaugurada. Uma das famílias que marca presença em tão importante evento é a família Winterfield. A filha, chama-se Jennifer, e é uma fã de fotografia. A esse propósito, decide fotografar uma mulher japonesa com o seu bebé nos braços. Mas, depois de feita a fotografia, Jennifer descobre que o bebé estava morto no momento da fotografia.

As circunstâncias que rapidamente se sucedem acabam por unir estas duas mulheres em cenas de ação agitadas, que as leva a uma sede de vingança perante o Império Britânico e, indo até mais longe, perante todo o mundo, onde as mulheres acabam por ver a sua existência relegada para segundo plano. Não diria que seja uma história "forçadamente feminista", se é que me entendem, mas é inegável que está bem presente em Shi um feminismo latente, que é bem-vindo, bem doseado e adequado. As mulheres acabam, por isso, por ser as verdadeiras heroínas desta história que nos mantém sempre com máxima atenção, num ritmo narrativo fulgurante. Talvez por isso, de início até pode ser uma história algo confusa e difícil de acompanhar. O que faz merecer reparo que a opção da Ala dos Livros em publicar álbuns duplos até permite que o leitor mergulhe melhor na narrativa, sem que nela fique tão perdido como ficaria se apenas pudesse ler um tomo de cada vez.

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros
Mas há muito mais nesta narrativa do que aquilo que aqui referi. E das duas umas: ou eu contava aqui tudo aquilo que acontece neste primeiro volume duplo, estragando dessa forma o prazer de leitura a todos aqueles que - acertadamente - não hesitarão em ler este fantástico livro; ou quedava-me por não falar mais sobre a história aqui presente. E é isso que farei.

Direi apenas, e ainda, que a história de Shi, cujo nome tem origem num ideograma que significa “a morte”, não é apenas uma história de vingança, mas uma busca por identidade e autoconhecimento no meio de um contexto caótico e violento. Zidrou consegue tecer uma narrativa complexa em que o leitor é forçado a lidar com questões existenciais, de identidade e, claro, com a moralidade de ações como a vingança. Este volume traz-nos, portanto, a construção inicial de um drama épico que mistura misticismo com um olhar humano sobre como a dor, a injustiça e o sofrimento podem mudar a essência de um ser humano. 

Já a edição da Ala dos Livros, é um verdadeiro mimo para os leitores. Para além de reunir, conforme já referido, dois tomos da série num só volume, o livro apresenta capa dura coma textura aveludada suave ao toque e uma ilustração (linda!) diferente das ilustrações das capas ditas normais. Mas se, como eu, também apreciam as ilustrações das capas normais, não se apoquentem porque a Ala dos Livros teve o cuidado de incluir essas ilustrações de capa no interior da obra. Além disso, refira-se ainda que o livro traz fita marcadora de tecido e que a lombada também é em tecido e que, à semelhança do que a Ala dos Livros tem estado a fazer com a série Blacksad, o conjunto das lombadas dos livros da coleção formará depois uma ilustração. Sim, babem-se colecionadores, porque esta edição é linda. No interior há ainda, como extra, um caderno de 12 páginas com ilustrações e estudos de capa de Homs, que são um mimo para a vista.

Em suma, se ainda não compraram este livro, não percam mais tempo, pois é seguro que ficarão bem servidos numa autêntica orgia visual onde Homs se assume como um dos melhores ilustradores em banda desenhada, e onde Zidrou se arrisca numa história complexa, intensa, impactante e que consegue transformar Shi num clássico instantâneo da banda desenhada franco-belga. Obrigatório! 


NOTA FINAL (1/10):
9.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2), de Zidrou e Homs - Ala dos Livros

Ficha técnica
Shi - Livro 1 (Tomos 1 e 2) - No princípio era a fúria e O rei demónio
Autores: Zidrou e Homs
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 320 mm
Lançamento: Setembro de 2024

Marvila recebe novo evento dedicado à BD... e à cerveja!



O bairro de Marvila, em Lisboa, prepara-se para receber a sua primeira edição do Marvila Comics!, um evento de banda desenhada que se associa à bem-vinda cerveja artesanal.

É já no próximo dia 29 de Novembro, sexta-feira, que esta nova iniciativa arranca, com organização conjunta da Kingpin Books e da Cervejeira/Cerveja Dois Corvos. O evento decorre durante esse fim de semana, terminando no domingo, dia 1 de Dezembro.

A Kingpin terá um espaço de venda de banda desenhada, haverá uma exposição com pranchas do novo livro Fojo, de Osvaldo Medina - que também será lançado no evento, espaço para debate com a presença de autores e ainda o lançamento do novo mangá, editado pel' A Seita, O Meu Marido Dorme no Congelador, de Misaki Yazuki e Hyaku Takara.

Sendo um evento local e, aparentemente, de pequena dimensão, chama-me a atenção o facto de ter um programa muito interessante, recheado com a presença de vários editores e autores de peso na banda desenhada nacional, bem como o facto de ser algo novo e refrescante. É que a junção da BD com a cerveja até traz consigo a promessa de ser um casamento perfeito.

Desejo a melhor da sorte a este evento e farei os possíveis para marcar presença.

Mais abaixo, deixo-vos a programação completa do Marvila Comics! e a nota de divulgação do mesmo.


Marvila Comics!

Quem disse que a cerveja e os livros não se misturam?

A Dois Corvos e a Kingpin Books trazem-vos o fim de semana que sempre quiseram, mesmo que não tivessem noção disso!

A Cerveja alia-se à Banda Desenhada num evento repleto de autores, exposições, conversas, lançamentos exclusivos de cerveja e BD, Black Friday, DJ e música ao vivo!

29/30 de Novembro e 1 de Dezembro, na Dois Corvos Tap Room de Marvila, Rua Capitão Leitão, 94, em Lisboa.




PROGRAMA

Sábado, 30 de Novembro

16h00 
Lançamento de Fojo, de Osvaldo Medina

16h30
Nuno Duarte e Rúben Mocho

17h00
Rita Alfaiate e Jorge Coelho

17h30
Joana Mosi e Alice Prestes

18h00
Filipe Pina e Osvaldo Medina

18h30
Jorge Coelho e Mário Freitas

19h00
Pedro Moura e Bernardo Majer

19h30
A Voz dos Editores



Domingo, 1 de Dezembro

16h00 
Lançamento do Mangá O Meu Marido Dorme no Congelador, de Misaki Yazuki e Hyaku Takara

16h30
David Soares e Sónia Oliveira

17h00
Mário Freitas e Alice Prestes

17h30
Nuno Duarte e Osvaldo Medina

18h00
André Oliveira e Bernardo Majer

18h30
Pedro Moura e Miguel Rocha

19h00
Filipe Pina e Rita Alfaiate

19h30
Encerramento com Jorge coelho, André Oliveira e Mário Freitas





segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Michel Vaillant está de regresso!



A editora ASA acaba de publicar o novo volume da série Michel Vaillant.

Este novo volume intitula-se Redenção e é assinado pelos autores Lapière, Bourgne e Eillam.

Tem sido, quanto a mim, uma série algo irregular em termos qualitativos. A ver vamos como se sai este novo tomo.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Michel Vaillant - Redenção, de Lapière, Bourgne e Eillam

O cenário é desta feita o Grande Prémio da Indycar, Flórida.

Elsa Tainmont, piloto canadense do Team Vaillant, substitui Michel que deixou a competição para acompanhar Françoise, que sofre de cancro.

Mas o caso do “Senador Warson” mudará tudo... Porque Steve voltará ao volante de um Vaillant pelas famosas 500 milhas! Uma manobra do FBI, que quer forçar o assassino que o persegue a sair das sombras, especialmente porque Michel e Elsa também estarão na corrida. 

Warson não sabe, mas uma terrível revelação o aguarda...

-/-

Ficha técnica
Michel Vaillant - Redenção
Autores: Lapière, Bourgne e Eillam
Editora: ASA
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 294 x 221 mm
PVP: 14,95€

A Seita publica novo volume de Macho Alfa!



Entre as muitas novidades que a editora A Seita disponibilizou no último Amadora BD, podemos encontrar o terceiro e penúltimo volume da série nacional Macho-Alfa, que é da autoria de Filipe Duarte Pina e Osvaldo Medina.

O último volume está já agendado para o próximo Amadora BD, o que revela um bom comprometimento quer dos autores, quer dos editores para com esta obra e, claro, para os leitores da mesma.

Relembro que já aqui analisei os volumes um e dois da série.

Por agora, deixo-vos, mais abaixo, com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais deste terceiro volume.




Macho-Alfa #3, de Filipe Duarte Pina e Osvaldo Medina

Prefácio de Nuno Markl

David Ferreira: cem vezes mais forte que o normal, pesa 980kg e estima-se que seja praticamente invulnerável. Exerce um constante auto-controlo para não magoar ninguém, evitando mesmo  apertar mãos ou dar abraços. David é o super-herói Macho-Alfa, a única pessoa com superpoderes em todo o mundo, mas... é desempregado, não tem amigos, e foi renegado por uma sociedade que sempre se aproveitou dos seus poderes para travar as suas guerras e tratar dos seus problemas mais complicados... será que alguma vez será aceite pela sociedade?

Haverá lugar no mundo para um super-herói reformado? E a terapia, será uma solução para os seus super-problemas? E... pior que tudo... os super-heróis têm MESMO de pagar segurança social??   

O terceiro volume de uma das mais originais séries de BD de super-heróis recentes, da dupla Filipe Duarte Pina (BRK) e Osvaldo Medina (Kong the King, A Fórmula da Felicidade) marca uma viragem tremenda nesta saga: o tom mais humorístico (mesmo que de humor negro!) começa a dar lugar a uma atmosfera mais séria, e começam a revelar-se alguns dos segredos do passado de David, enquanto surge também pela primeira vez... a sua némesis, o vilão da série! 

Uma saga super-heróica, super-divertida e super... trágica!
Sim, Macho-Alfa é uma tragicomédia em 4 tomos, com um final que ninguém imagina e que irá surpreender, previsto lá para o Outono de 2025.  Mas até lá, aproveitem para ler os primeiros três volumes de diversão, de humor negro e situações caricatas, hilariantes e tristes, do caminho de um herói trágico. Tudo está já em cena para o desenlace final no volume 4!

“...Pina e Medina começam esta saga como uma comédia, disparando alegremente em várias direcções da sociedade portuguesa, desde os media à natureza patriarcal e machista deste recanto. Mas depressa a “leveza” se revela ilusória - e Macho-Alfa, uma criatura de aparência épica e triunfal, torna-se, aos nossos olhos incrédulos, neste chocante anti-herói narcisista que acredita que fazer o Bem envolve naturalmente danos colaterais - até percebermos que a carreira deste super-socio-talvez-psicopata acaba por ser composta, sobretudo, por danos colaterais...”
- do prefácio de Nuno Markl

Os editores agradecem a Nuno Markl ter baptizado a dupla criativa do Macho-Alfa com aquele que será o seu nome definitivo, Pina & Medina, capaz de evocar as mais tugas das séries TV dos anos 1980!

-/-

Ficha técnica
Macho-Alfa #3
Autores: Filipe Duarte Pina e Osvaldo Medina
Editora: A Seita e Comic Heart
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 28 cms
PVP: 18,95€






Penguin publica BD inovadora de Richard McGuire!



A Penguin Random House, através da sua chancela Cavalo de Ferro, surpreende e publica uma novela gráfica de culto.

Falo de Aqui, de Richard McGuire, que, desde o seu lançamento original há cerca de 10 anos, se tornou numa obra emblemática e aclamada em todo o mundo, por ser uma novela gráfica verdadeiramente inovadora.

A Cavalo de Ferro publica agora este livro que chega hoje às livrarias e que promete não deixar indiferentes aqueles que nele apostarem.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.
Aqui, de Richard McGuire

Esta é a história de um espaço – o interior de uma casa, um dos cantos da sala – e dos acontecimentos que aí tiveram lugar ao longo de milhares de anos, no passado e no futuro.

Considerada uma obra de arte e publicada em mais de vinte países, Aqui, de Richard McGuire, revolucionou a novela gráfica enquanto género literário e continua ainda hoje a influenciar novas gerações de artistas. A crítica é unânime: este é um dos melhores livros de literatura e de arte do século.

Os elogios da crítica:
«Um trabalho de literatura e arte diferente de qualquer outro visto ou lido antes. Um livro como este aparece uma vez por década, se não por século.»
The Guardian
«Brilhante e revolucionário.»
The New York Times Book Review

Prémio de Melhor Livro do Ano (Festival de Angoulême)

Melhor Livro da Década (Les Inrocks)

Um dos 100 Melhores Livros do Séc.XXI (El País)

-/-

Ficha técnica
Aqui
Autor: Richard McGuire
Editora: Cavalo de Ferro (Penguin Random House)
Páginas: 304, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 35,45€

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

ASA prepara-se para lançar o novo livro de Blake e Mortimer!



O novo livro da série Blake e Mortimer, intitulado Assinado "Olrik", chegará às livrarias a partir do próximo dia 26 de Novembro pelas mãos da ASA!

Este novo livro é da autoria de Yves Sente e André Juillard e já se encontra em pré-venda no site da editora.

Haverá uma edição especial, em formato horizontal, com o triplo das páginas da edição normal e cm uma capa diferente.

Falando da capa deste novo álbum, acho-a francamente má. Lembro-me de muita gente ter torcido o nariz à capa do anterior álbum da série, Oito Horas em Berlim. Mas comparando essa capa com a capa deste Assinado "Olrik", parece-me que a capa deste novo álbum é infinitivamente pior do que a de Oito Horas em Berlim.

Mas enfim, mais abaixo deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Blake & Mortimer: Assinado: “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard

Um novo grupo independentista da Cornualha, o Free Cornwall Group, está a operar na pequena cidade de Sainte Corineus. Enquanto protestam contra o fluxo de novos migrantes económicos, o grupo procura o lendário tesouro do Rei Artur e a sua famosa espada, Excalibur.

Blake é então enviado para o local para desmantelar a organização e impedir o triste desígnio do seu líder, um certo “Grande Druida”.

Ao mesmo tempo, no Centro de Investigação Científica e Industrial de Londres, o Professor Mortimer apresentou uma das suas novas invenções revolucionárias: uma escavadora de bolso, “The Mole”. 

Para testar a resistência deste feito tecnológico, a imprensa britânica anuncia que “a Toupeira” será enviada para a Cornualha.

Neste novo álbum, Blake e Mortimer procuram frustrar os ataques de um pequeno grupo independentista com a ajuda de um aliado essencial e inesperado... o próprio Coronel Olrik! 

Mas podemos confiar nele para “amigo”?




-/-

Ficha técnica
Blake & Mortimer: Assinado: “Olrik”
Autores: Yves Sente e André Juillard
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 310 x 238 mm
PVP: 15,90€

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Análise: Maria Moisés

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP
Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso

A coleção dos Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, publicada em parceria pela editora Levoir e pela RTP, tem dado os seus frutos e a verdade é que, à medida que vou lendo mais livros da coleção, a minha percepção global sobre a mesma tem vindo a ser cada vez mais positiva. E este Maria Moisés, que adapta a obra homónima de Camilo Castelo Branco, também contribui para isso.

A adaptação para banda desenhada deste clássico da literatura é da autoria da primeira dupla feminina da coleção: Carina Correia e Joana Afonso. De Joana Afonso, eu confesso que já estava à espera de um bom nível de qualidade visual. E, mais uma vez, e caprichosamente, Joana Afonso voltou a não me deixar defraudado. Ainda está para chegar a primeira vez em que o faz. Já quanto a Carina Correia (autora de Conversas de BD, com João Miguel Lameiras), eu estava particularmente curioso, pois este Maria Moisés marca a sua estreia enquanto autora de banda desenhada. E Carina Correia pode estar orgulhosa do seu trabalho, diga-se.

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP
Por uma questão de transparência, habitual aqui no Vinheta 2020, confesso-vos que não li a obra original de Camilo Castelo Branco. E nem sequer sabia muito sobre a mesma. É que, às vezes, ainda não lemos determinado livro, mas já sabemos muitas informações sobre o mesmo. Já nos falaram do mesmo ou já lemos informações sobre a obra. Mas sobre Maria Moisés, eu sabia pouco ou nada. Portanto, a minha análise sobre este livro não será tanto sobre a capacidade das autoras em se manterem fieis à obra original, mas apenas e só sobre uma questão mais global: funcionará bem este livro de banda desenhada? Funciona!

Maria Moisés, originalmente escrito no século XIX, insere-se no contexto da literatura romântica, da qual Camilo Castelo Branco, especialmente com o seu Amor de Perdição - também já adaptado por João Miguel Lameiras e Miguel Jorge numa edição da Levoir - será o expoente máximo da literatura portuguesa. Maria Moisés explora, com uma narrativa intensa e emocional, temas de amor, traição, destino e justiça, sendo que todos eles são apresentados com a típica profundidade psicológica e dramática que caracterizam a obra de Camilo Castelo Branco..

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP
A história de Maria Moisés aparece-nos demarcadamente dividida em dois grandes momentos: por um lado, o amor trágico e "impossível" - para os valores vigentes da época - de Josefa da Lage com António de Queirós e Meneses e, por outro lado, a vida da filha de ambos: Maria Moisés. Por um desencontro temporal - e bem ao estilo de Shakespeare no seu célebre Romeu e Julieta - António vê-se confrontado com a morte da sua amada Josefa e, pleno de tristeza, refugia-se no Brasil para aí tentar encontrar algum alento na vida militar, bem longe da sua terra natal. 

Mas o que António não sabe, é que a filha de ambos, que Josefa tinha no ventre, acaba por ver a luz do dia e ser adotada e educada por uns fidalgos locais. A criança havia sido encontrada no rio por um pescador e acabou por receber o nome de Maria Moisés. De uma primeira fase da vida em que não passava de um bebé abandonado por tudo e todos, Maria Moisés tem a sorte de ser adotada por fidalgos abastados que lhe proporcionam uma boa vida. Mais tarde, com a morte dos mesmos, a protagonista desta história herda a sua fortuna, que passa a utilizar para fazer caridade, transformando a agora sua Quinta de Santa Eulália num orfanato. Até que, passadas quase quatro décadas, o seu pai, António, regressa do Brasil. Mais não conto, precisam de ler o livro.

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP
A narrativa montada por Carina Correia é-nos dada de forma escorreita e simples, mas não de um modo demasiado linear. E isto porque a autora foi especialmente bem sucedida na dosagem dos vários momentos do enredo que, assim dados ao leitor, nunca fazem com que o interesse do mesmo esmoreça. Por outro lado, apreciei especialmente a maneira como o Narrador da história, não participando ativamente na mesma, é ativo na forma como enrola e desenrola o novelo narrativo. Algo que me relembrou da audácia narrativa de Cervantes em Dom Quixote de la Mancha e que, claro está, também é bem ao jeito do Camilo Castelo Branco que eu conheço especialmente por Amor de Perdição.

Mesmo aceitando que Carina Correia se limitou a ser fiel ao texto original, acho que a maneira como, ainda assim, conseguiu assegurar esta curiosa forma de contar a história, num discurso que por vezes até é direto para com o leitor, oferece uma luz e uma cor muito especiais ao livro.

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP
Já quanto a Joana Afonso, a autora volta a dar-nos um livro cuja arte funciona extremamente bem para a história romântica que temos em mãos. As personagens apresentam um estilo bastante "cartoonesco", onde a expressividade das mesmas é ideal para criar empatia com o leitor. Os cenários bucólicos são especialmente bem tratados e as belas cores tornam as ilustrações da autora ainda mais bonitas. 

É, pois, um livro tipicamente "Joana Afonso". E quero com isto dizer que aqueles que, como eu, já apreciam o estilo de desenho da autora, ficarão facilmente satisfeitos com este Maria Moisés. Quanto àqueles que não engraçam com o estilo da autora, temo que continuem a ter a mesma postura, dado que Joana Afonso, com o seu signature style há muito encontrado, se mantém fiel ao mesmo, não inovando no desenho ou no estilo. Mas, diria eu, quando um trabalho já é bom na sua raiz, vai continuar a sê-lo mesmo que não se procure inovar.

Quanto à edição da Levoir, e à semelhança da restante coleção, o livro apresenta capa dura baça, bom papel brilhante no miolo, e boa encadernação e impressão. No final, há um dossier de extras, da autoria do Professor Sérgio Guimarães de Sousa, que oferece mais informações sobre Camilo Castelo Branco, o seu contexto histórico e, claro, sobre a obra em questão.

Em suma, a dupla formada por Carina Correia e Joana Afonso parece bem alinhada na adaptação para banda desenhada de Maria Moisés, originalmente escrito por Camilo Castelo Branco, e fá-lo de um modo que permite tornar presente a valência emocional e até de preocupação social e existencial da obra de Camilo - tão reconhecida do Romantismo português. Recomenda-se, portanto, para todas as idades.


NOTA FINAL (1/10):
8.7




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

Maria Moisés, de Carina Correia e Joana Afonso - Levoir e RTP

Ficha técnica
Maria Moisés
Autoras: Carina Correia e Joana Afonso
Baseado na obra original de: Camilo Castelo Branco
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Outubro de 2024