Hoje trago-vos uma dose dupla da série Preto, Branco e Sangue, da Marvel, que a editora G. Floy Studio tem estado a publicar em Portugal: Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua, os livros mais recentes desta coleção que, anteriormente, já teve volumes dedicados a Wolverine, Carnificina, Deadpool e Elektra.
Infelizmente, o meu parecer poderia ser bem mais positivo em relação aos livros desta coleção. Considerei que a mesma até começou bem, com os livros de Wolverine e Carnificina, mas é notório que a qualidade na oferta tem vindo a decair de livro para livro e estes Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua são exemplos disso mesmo.
Comecemos com Marvel Zombies.
Aqui a premissa que, tal como em todos os outros livros, assenta na ideia de nos oferecer histórias curtas a preto e branco, onde a cor vermelha - de sangue - também assume função primordial. Um artifício visual que tem resultado muito bem, diga-se. Só que, neste caso, em vez de termos um conjunto de 12 histórias sobre uma personagem apenas, temos 12 histórias em que o tema central são os zombies. Citando os super-heróis que aqui aparecem - mais em formato de vilão do que de herói - posso referir Daredevil, Homem-Aranha, Iron Man, Cavaleiro da Lua, Quarteto Fantástico, Thor, X-Men, Blade, Capitão América, Black Panther, Hulk, entre vários outros. O rol de personagens famosas é muito generoso, sim, mas, infelizmente, as narrativas que aqui nos são dadas parecem verdadeiramente desinspiradas.
Todas as histórias contidas nesta antologia, que reúne autores como Garth Ennis, Gail Simone, Steve Skroce ou Peach Momoko, trazem a sua visão sobre um mundo apocalíptico em que super-heróis convivem com zombies ou , noutros casos, são os próprios super-heróis que são os zombies.
Em termos narrativos, a obra oferece uma diversidade de abordagens, com algumas histórias a explorarem o drama e o desespero da transformação dos heróis em mortos-vivos, enquanto outras assumem um tom mais sarcástico e exagerado, típico da cultura pop. A pluralidade de vozes criativas volta a trazer uma experiência dinâmica para o leitor, já que este nunca sabe exatamente qual será o tom da próxima história. Bem, mas isso é característico de quase todas as antologias de banda desenhada que são assinadas por múltiplos autores.
De forma geral, e como já referido, as histórias que aqui nos são dadas são facilmente olvidáveis e apresentam-se como pouco inspiradas. Destaca-se a história Juju e a Dádiva da Conta de Insecto, de Peach Momoko, pelo seu visual e narrativa completamente diferentes das demais. Não sendo um dos melhores livros da coleção, este Marvel Zombies tem principalmente o dom de reafirmar o potencial do horror dentro do universo Marvel, mostrando que até os heróis mais poderosos podem sucumbir à fome insaciável dos mortos.
Se Marvel Zombies pouco me impressionou, o livro dedicado à personagem Cavaleiro da Lua ainda me deixou mais desapontado.
O livro conta com histórias de autores como Jonathan Hickman, Chris Bachalo, Paul Azaceta ou Leonardo Romero, e procura aprofundar a psique complexa de Marc Spector e as suas múltiplas identidades. É, pois, essa dualidade que o conjunto de histórias desta antologia tenta captar, mostrando que o Cavaleiro da Lua não é apenas um vigilante brutal, mas também um homem dividido entre diferentes personalidades e uma conexão instável com o deus egípcio Khonshu.
Se a ideia pode ser boa, dado que, quanto a mim, esta é uma personagem com muita coisa a ser explorada, não me parece que essa exploração seja feita de modo satisfatório. Especialmente se tivermos em conta que são histórias tão curtas que funcionam melhor para heróis e tramas mais simples, do que variações e reflexões mais profundas. Talvez por isso, o resultado é um guisado de vislumbres e piscares de olhos, mas que acaba por ser desestruturado, superficial e pouco clarividente. Pareceu-me, com justiça, o pior conjunto de histórias de toda a coleção até agora. Destaco, no entanto, como exemplos positivos, as histórias Tão Branco, Mas Tão Negro, de Murewa Ayodele e Dotun Akande e O Túmulo Vazio, de Benjamin Percy e Vanesa R. Del Rey.
A ideia de utilizar as cores preto e branco cria um tom sombrio e clássico, enquanto que o vermelho é estrategicamente utilizado para enfatizar momentos de violência extrema, sangue e perigo iminente. Esse estilo visual remete tanto ao terror tradicional - em Marvel Zombies - quanto à linguagem da banda desenhada mais "pulp", tornando as cenas de ação ainda mais intensas. Enfim, quer em Marvel Zombies, quer em Cavalheiro da Lua, brilham mais os ilustradores e coloristas do que os argumentistas.
Em termos de edição, a G- Floy Studio volta a dar-nos um bom trabalho. Ambos os livros apresentam capa dura baça, com bom papel brilhante no miolo e uma boa impressão e encadernação. Cada um dos livros apresenta uma galeria de capas alternativas em que o trabalho dos autores é verdadeiramente impressionante.
Numa altura em que esta é a única coleção atual de super-heróis da Marvel a ser publicada em Portugal, compreendo que os fãs portugueses dos comics americanos olhem para ela como uma botija de oxigénio. No entanto, a verdade é que, de volume para volume, a série tem vindo a perder o fator originalidade e a mostrar-se cada vez mais desinspirada.
NOTA FINAL (1/10):
Marvel Zombies – Preto, Branco e Sangue - 6.0
Cavaleiro da lua – Preto, Branco e Sangue - 5.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Marvel Zombies – Preto, Branco e Sangue
Autores: Vários
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Setembro de 2024
Autores: Vários
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 152 a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Março de 2023
Facilmente a série mais fraca da Marvel atual
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