É uma notícia que acabo de receber e que me deixa bastante triste. O Ministério da Cultura vai abrir uma nova edição do programa de bolsas de criação literária, que atribuirá 24 bolsas anuais no valor de 15.000€ cada, mas estas bolsas deixam de incluir a banda desenhada, bem como os livros infanto-juvenis.
Depois de vários passos em frente, com, por exemplo, a oficialização pela República Portuguesa do Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa; o reconhecimento pela Secretaria de Estado da Cultura da Banda Desenhada enquanto forma superior de expressão da cultura; a condecoração póstuma de José Ruy enquanto Grande-Oficial da Ordem do Mérito pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa; e mais uns quantos momentos gloriosos recentes para a 9ª Arte em Portugal, eis que agora damos um passo atrás.
Relembro que estas bolsas de criação literária da DGLAB (Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas) já foram atribuídas, noutros anos, a criadores de banda desenhada, o que torna esta notícia bem mais amarga. Não é que se tenha criado algo novo que não inclui a banda desenhada... é pior, pois deixa-se de ter algo que os autores nacionais de BD já tiveram. É um passo atrás, portanto.
Por um lado, estou bastante desapontado com o atual Governo que retira deste modo algo que já tinha sido anteriormente possibilitado aos autores portugueses de BD. É mais uma pedrada num meio onde toda e qualquer ajuda é relevante para que 9ª arte nacional subsista. E é ao Governo que se deve apontar o dedo.
Por outro lado, não posso deixar de dizer que tenho poucas ou nenhumas dúvidas de que para esta decisão também há de ter contribuído com a sua quota parte o autêntico descalabro e fantochada que foi a edição de 2022 desta Bolsa, em que um editor de banda desenhada, Marcos Farrajota, decidiu nomear três autores pertencentes à sua própria editora(!) para receber esta bolsa. (Sim, passados dois anos, ainda me custa a acreditar que isto se passou mesmo, pois é anedótico).
Naturalmente, após tamanha falta de noção e de ética, o assunto acabou mesmo por chegar à comunicação social depois de ter sido aqui primeiramente noticiado.
Enfim, como se costuma dizer, quem tudo quer, tudo perde, e agora quem mais perde é todo um meio: a banda desenhada nacional.
Que se aprenda algo com isto e que se faça melhor da próxima vez, sem espertezas saloias... se, neste tema, houver próxima vez, claro. Às vezes há comboios que só passam uma vez.
Agora sendo advogado do diabo, será que os vencedores e júris que ao longo do tempo foram ganhando as bolsas não acabaram por contribuir para este desfecho?
ResponderEliminarNada na sociedade é feito só porque é bom, é sempre necessário produzir obras e essas obras venham à luz do dia - quem cria estas iniciativas precisa de resultados e não estou a falar de resultados financeiros.
Sei de algumas obras que foram feitas à luz destas bolsas e autores que foram importantes porque elas o permitiram, mas o nº de anos em que as bolsas existem e não se vê produção que reflita a sua existência parece superior.
Sabemos sempre quem ganha com maior ou menor polémica, mas e os livros que são feitos por cada ano que elas existiram...
Acho que é tempo de se perceber porque é que isto aconteceu, muito mais do que eles são maus e tentar perceber se existe mais alguma coisa que tenha motivado a decisão.
A cultura tem de ser apoiada, mas no mínimo os vencedores deste prémios devem produzir e apresentar os seus resultados. Aí é que se deixam os governos sem condições morais para acabar com as bolsas e que se pode reiterar o desinvestimento na cultura.
Desta forma, é melhor continuar ficar contente com dias Nacionais da BD que para sermos honestos, servem para muito pouco.
O exemplo do ano passado é um, muitos sucederam anteriormente e foram metidos para debaixo do tapete. Agora como é uma farrajotice já toda a gente ficou indignada, como se fosse a primeira vez.
Ele apenas estava a usar o mecanismo.
Que se aprenda com toda a vida dese concurso.
reitirar ---- refilar com o desinvestimento
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