Blake e Mortimer - Assinado "Olrik" é o mais recente álbum da clássica série franco-belga criada por Edgar P. Jacobs, que desta vez nos é servida pelas mãos dos autores Yves Sente e André Juillard. Infelizmente, este é um álbum que se torna emblemático por funcionar como uma despedida ao ilustrador André Juillard, um nome grande da banda desenhada europeia - e mundial - que faleceu recentemente e que tem neste livro o seu último trabalho. Talvez por isso, fica uma sensação agridoce após a leitura deste Assinado "Olrik": por um lado, é sempre bom termos uma última oportunidade para mergulhar em mais alguma obra de um artista relevante que nos deixa, por outro lado, convenhamos que este é um dos piores Black e Mortimer da história da série.
A história desenrola-se na Cornualha, com o Rei Artur e a sua famosa espada Excalibur como tema central que, infelizmente, acaba por ser parcamente explorado. Um grupo independentista da região está a protestar contra o fluxo de novos migrantes económicos ao mesmo tempo que tenta encontrar o lendário tesouro do Rei Artur. A Blake, é incumbida a missão de desmantelar esta organização, enquanto Mortimer se encontra a apresentar a sua nova invenção revolucionária: uma escavadora a que dá o nome de The Mole. No meio de tudo isto, Olrik assume um papel relevante ao aliar-se ao grupo independentista para, claro está, usufruto pessoal, enquanto tenta deitar mãos à invenção de Mortimer. E tudo isto fazendo um acordo com os protagonistas da série.
Dito assim, estas breves linhas até nos podem fazer acenar a cabeça de forma positiva. No entanto, a história revela-se verdadeiramente desinspirada, com pouco ritmo, pouco encadeamento dos acontecimentos e com um enredo que depressa se torna fastidioso.
Depois de um lamentável O Grito do Moloch - decididamente o pior álbum da série - até tenho que reconhecer que os álbuns O Último Espadão e Oito Horas em Berlim tinham sido bastante coesos e interessantes. A série parecia num melhor momento. Porém, com este Assinado "Olrik", a franquia volta a dar um passo atrás. Às tantas, já não sei se é boa ideia lançar estes livros - especialmente tendo em conta os nomes sonantes dos autores que os encabeçam. É que: 1) não são livros suficientemente bons para entrada de novos leitores na série e 2) muito menos são estes livros interessantes para os leitores da série clássica. Acredito que só mesmo os mais nostálgicos leitores de Blake e Mortimer - e à boleia de uma certa carolice ou "fanboyismo" - podem realmente apreciar este livro.
Não é algo que seja impossível de ler ou nada que se pareça, mas é uma leitura olvidável, que pouco acrescenta, e que se apresenta muitíssimo datada. Nem consegue ter o brilho do passado, nem consegue recriar-se, adaptando-se ao tempo atual. A trama proposta por Yves Sente carece, pois, de originalidade e desenvolve-se de modo forçado, sem o lado inventivo ou a presença de mistério característicos das melhores histórias de Edgar P. Jacobs.
Mesmo o trabalho de André Juillard, que se assume como eficaz, não está com o refinamento a que o autor já nos habituou. Verifica-se que há vários desenhos que parecem ter sido feitos à pressa ou sem o aprimoramento necessário. Também os cenários, normalmente um ponto forte na série, aqui não possuem o mesmo nível de detalhe e sofisticação de alguns álbuns anteriores.
Enfim, talvez esta sensação menos positiva seja justificada pela condição de saúde do autor, o que é compreensível. Não posso dizer que a ilustração seja o elo fraco da obra - esse será o argumento - mas deixo a nota.
O que também é bastante fraca é a capa do livro. Possivelmente, a mais fraca da série.
A edição da ASA está em consonância com os livros da mesma coleção - capa dura brilhante com bom papel baço no miolo - sendo que, desta vez, também saiu uma edição especial, em formato horizontal (ou italiano). Como o livro acaba por ter mais páginas - cerca de 300 - devido a esta opção de formato, também é mais caro. Ideal para colecionadores, mas não tanto para os leitores mais casuais, dado que a obra não foi originalmente concebida para o formato horizontal e, por esse motivo, a leitura do mesma, desse modo horizontal, pode não funcionar tão bem.
Em suma, Blake e Mortimer - "Assinado Olrik" assume-se como uma obra esquecível dentro do cânone da série. O argumento pouco inspirado, as ilustrações apressadas e a falta de dinamismo fazem com que o álbum não consiga capturar a essência da saga original. Para os fãs mais exigentes, é uma leitura frustrante que falha tanto no desenvolvimento da história quanto no aspeto visual.
NOTA FINAL (1/10):
6.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Blake & Mortimer - Assinado “Olrik”
Autores: Yves Sente e André Juillard
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 310 x 238 mm
Lançamento: Novembro de 2024
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