sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Análise: Blake & Mortimer #39 - Oito Horas em Berlim

Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim, de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin - ASA - Leya

Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim, de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin - ASA - Leya
Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim, de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin

Assim dito de rajada, considero que os leitores que compram Blake e Mortimer têm todos mais de 40 anos. É bem verdade que esta série, originalmente criada por Edgar P. Jacobs, ainda é das que mais vende no mercado franco-belga, mas, ainda assim, e perdoem a minha teimosia, custa-me muito a crer que seja uma série que apela a um público jovem. Parece fechada no seu próprio tempo. Ao contrário de outras séries de banda desenhada franco-belga, que ainda conseguem ter, de uma forma melhor ou pior, relevância para algumas camadas mais jovens, como Astérix, Lucky Luke ou Spirou, Blake e Mortimer parece não ter esse appeal. Será o público mais maduro aquele que compra esta série, estou certo.

Mas porquê esta minha introdução? Bem, porque a obra mais recente de Blake e Mortimer, intitulada Oito Horas em Berlim, é o álbum mais recente da série, tendo sido editado pela editora ASA, no final de 2022. E, portanto, mesmo admitindo que é uma série com poucas armas para apelar a um público jovem, tem vindo a alcançar uma qualidade bastante aceitável nos últimos dois volumes. Falo deste Oito Horas em Berlim e de O Último Espadão, já que O Grito do Moloch foi dos álbuns mais fracos da série, quanto a mim.

Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim, de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin - ASA - Leya
Em Oito Horas em Berlim, da autoria de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin, somos colocados na Primavera de 1963 onde, algures no território soviético, uma missão arqueológica descobre sete caixões que albergam cadáveres cuja pele do rosto foi arrancada. Nesse mesmo instante, em Berlim, um homem é assassinado por tentar atravessar o muro que divide o mundo ocidental do mundo oriental. Antes de jazer morto, o homem pronuncia a estranha palavra: "Doppelgänger". Os dois acontecimentos, que parecem independentes entre si, acabam por se revelar relacionados, por estarem ligados a Julius Kranz, um cirurgião alemão, que se ocupa com experiências e manipulações eletrocirúrgicas no cérebro humano. E - adivinhem só! - os nossos velhos conhecidos Mortimer e Blake vão acabar por se cruzar com este cientista maquiavélico.

O argumento bem que podia ser de um filme de Indiana Jones, pois reúne história, espiões, aventura, mistério, ação, misticismo e ficção científica. Devo dizer que achei bastante satisfatória a forma como o argumento é pensado e desenvolvido, mesmo que, tenho que dizer, haja depois um conjunto de facilitismos para tornar a história acessível a todos e para melhor caber nas 64 páginas que compõem o livro. Havendo possibilidade para mais umas 20 páginas, onde certas mudanças de cena poderiam ser feitas de forma menos abrupta, ou onde certos elementos da história poderiam ser melhor explicados, estaríamos perante um livro ainda melhor. Mesmo assim, a obra cumpre bem. Para que a história não se perca em si mesma, também ajudam o (sempre presente) excesso de texto e balonagem. Mas, lá está, também é algo comum aos livros da série e, portanto, não é nada que surpreenda.

Como o álbum é mais sobre espiões do que sobre questões do foro fantástico – embora as mesmas também cá estejam, mesmo que de forma mais tímida – acaba por funcionar bastante bem e ser um dos melhores Blake e Mortimer dos últimos anos. A par do último volume, O Último Espadão, que já mencionei, que também me agradou bastante.

Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim, de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin - ASA - Leya
Em termos de desenho, estamos perante um excelente trabalho, que faz jus à célebre linha clara de Jacobs, onde há espaço para inúmeros detalhes que agradam ao olhar e dão personalidade ao universo gráfico da série. Não sendo eu, presumivelmente, um leitor tão exigente como certos puristas nesta questão, considero que o trabalho do ilustrador Antoine Aubin (mais que) dá conta do recado. Não foi Jacobs quem desenhou este livro, mas bem que poderia ter sido.

Gostei particularmente das cores, também, que são asseguradas por Laurence Croix.

Quanto à edição, este é um típico livro da ASA. A capa é dura e brilhante, o papel é bom e baço, e a encadernação e impressão são de boa qualidade, também. As lojas FNAC tiveram direito a uma capa exclusiva, como já tem vindo a acontecer nos álbuns passados da série. É sempre, na minha opinião, uma boa iniciativa e que aumenta o cariz colecionável dos livros, mesmo que, neste caso concreto, a capa alternativa da FNAC me tenha parecido mais fraca do que a capa dita “normal”.

E por falar em capa, li várias críticas à capa “normal” e como a mesma é mal conseguida e desinspirada, mas não partilho da mesma opinião. Acho que é uma capa bem conseguida e equilibrada, que nos remete para o universo de Blake e Mortimer. Não vou dizer que é uma capa espetacular, mas considero que está longe de ser má. Muito piores capas tiveram outros álbuns da série como A Armadilha Diabólica, S.O.S. Meteoros, As 3 Fórmulas do Professor Sato ou O Grito do Moloch. Mas, enfim, são gostos.

Em suma, Oito Horas em Berlim é um álbum bastante aceitável, que se lê bem, e uma agradável surpresa se tivermos em conta que, para muita gente, Blake e Mortimer é uma série que não tem caído em graça há já vários anos. Não é o melhor álbum da série, claro, mas está longe de ser o pior e recomenda-se para os adeptos de banda desenhada europeia.


NOTA FINAL (1/10):
8.3



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim, de José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin - ASA - Leya

Ficha técnica
Blake & Mortimer #39 - Oito horas em Berlim
Autores: José-Louis Bocquet, Jean-Luc Fromental e Antoine Aubin
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 16 x 23,6 cm
Lançamento: Novembro de 2022

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