Os Covidiotas, de Luís Louro
A
Ala dos Livros lançou recentemente o primeiro livro da série
Os Covidiotas, da autoria de Luís Louro. E falo em “primeiro livro” porque, tanto quanto sei, o autor até já tem um segundo livro d'
Os Covidiotas alinhavado para sair.
E começo por aí: o ritmo de trabalho deste consagrado autor português é verdadeiramente impressionante. Só para terem uma ideia, apenas em 2020, Luís Louro esteve envolvido em 4 livros: no relançamento da sua personagem
O Corvo, com
Inconsciência Tranquila, na
edição especial comemorativa dos 25 anos de Alice – a sua obra maior – no lançamento de
Universo Negro, que compilava as suas primeiras histórias feitas em parceria com Tozé Simões, e na preparação e publicação assídua da sua nova série
Os Covidiotas. Se tivermos em conta a dimensão do mercado nacional, acho que estes números são impressionantes e que é seguro afirmar que Luís Louro se mantém como o autor mais querido pelo público português.
Este primeiro livro d'Os Covidiotas é, aliás, uma compilação das tiras humorísticas que o autor foi publicando nas redes sociais ao longo do último ano e cujo tema central é a pandemia de Covid-19.
Acaba por ser um registo novo para o autor que aqui assume uma produção mais típica do
cartoon diário ou semanal de reação (com humor) à envolvente mediática. Ou seja, aquilo que Louro nos oferece é um conjunto de crónicas diárias, que vão relatando, com exagero e de forma jocosa, as notícias mais incríveis e mirabolantes que se foram sucedendo, umas atrás das outras, no último ano em que o Covid-19 ocupou todo o espaço mediático enquanto tema.
É um humor que vive do quotidiano e da forma como a sociedade foi reagindo a este vírus que mostrou, acima de tudo, o quão mal preparado o mundo estava para ele.
Sendo um "humor de reação" é caracterizado por ser rápido, simples e direto, sem grande trabalho de argumento por parte do autor. Não há pois, uma construção de script, propriamente dita, mas uma criação humorística que se apoia nas notícias que vão chegando ao autor sobre o tema em questão. Isto, na minha opinião, leva a que não seja um humor muito sofisticado mas que, por oposição, também seja algo muito fluído e orgânico, que nos consegue surpreender, arrancando-nos uma gargalhada, aqui e ali, por não haver, propriamente, uma fórmula que o autor explore. O método de Luís Louro é agarrar numa situação real e, a partir daí, retratá-la em tom jocoso, fazendo normalmente uma interpretação exagerada do tema. Por vezes, até é um humor que põe o dedo na ferida, falando de temas algo sensíveis.
E, quase sempre, resulta bastante bem. Houve vezes em que achei uma ou outra piada mais seca mas, regra geral,
Os Covidiotas conseguem ser divertidos. Acaba, por isso, por ser uma obra muito adequada para os tempos estivais que se avizinham, sendo uma leitura que se pode levar para a praia ou para o campo, consoante os gostos de cada um.
É um livro que se lê de forma fácil e leve e em que a leitura também pode ser feita aos “poucos”, lendo uma ou duas piadas de cada vez. Embora também saiba bem ler tudo de uma enfiada para absorver o aparecimento de algumas personagens recorrentes, como a figura da autoridade policial ou o bombista Ahmed.
Posso dizer que o autor é particularmente feliz nos gags em que não há legendas, pois as piadas tornam-se um bocado mais livres na interpretação de cada um. Nos gags em que também há texto além do desenho, encontramos cartoons divertidos mas, em vários casos, achei que o texto era em demasia ou demasiado auto-explicativo da piada. Nada que manche o divertimento da leitura, ainda assim. Digo-o mais como crítica construtiva para futuras piadas que o autor esteja a preparar.
E o que é certo é que Luís Louro volta a surpreender e a mostrar, cada vez mais, que é um autor bastante completo. E mesmo admitindo que as suas histórias estão (quase) sempre envoltas num registo humorístico, é claro que Louro consegue dividir-se, de forma muito interessante, por vários subgéneros. E isso é louvável e aumenta - ainda mais - o meu respeito por Louro.
Em termos de ilustração, os desenhos que nos são dados n'
Os Covidiotas têm a linguagem pictórica característica de Luís Louro, com as personagens a apresentarem traços bastantes retilíneos e "cartoonizados". As raparigas, quando aparecem, têm sempre aquelas formas voluptuosas e abundantes a que o autor já nos habitou e que eu tanto aprecio. Quem (já) gosta do estilo do autor, continuará feliz com os seus desenhos neste
Os Covidiotas. Embora, naturalmente, e tendo em conta que se tratam de
cartoons diários, o estilo é bastante mais simplista do que os lançamentos mais recentes de Luís Louro.
Quanto à edição, temos um livro algo diferente em relação àqueles que a Ala dos Livros tem lançado. Neste caso, temos uma edição em capa mole, no formato horizontal, com um papel ajustado ao tipo de edição. Olhando para o cariz light e despretensioso da obra e respetiva leitura, já não mencionando o simpático preço de 11,90€, penso que esta opção, em termos de edição física, faz todo o sentido.
Destaque ainda para o facto de o livro vir acompanhado por uma máscara cirúrgica e por alguns pedaços de papel higiénico. Ambas as coisas com o carimbo d'
Os Covidiotas. Como
já referi há uns dias, considero esta “uma ideia fora da caixa, original e que demonstra uma clara vontade de fazer algo diferente e impactante, por parte da editora. As editoras portuguesas começam a perceber que este tipo de
extra mile pode compensar. Se se coloca um produto no mercado, acho que todas as ideias que metam as pessoas a falar e a comentar esse lançamento são bem-vindas. Desde, claro, que sejam ideias que encaixem bem no tipo de produto em questão. Como é o caso. Tratando-se d'
Os Covidiotas, uma série carregada de humor negro e que sabe, acima de tudo, rir dela própria, parece-me uma ideia bem ajustada e divertida! “
Concluindo, e acima de tudo, Os Covidiotas são um conjunto de histórias divertidas para nos rirmos de toda a loucura que o ano 2020 – e o seu famigerado Covid-19 – trouxe às nossas vidas. Estou certo que este primeiro livro d'Os Covidiotas poderá ser um sucesso de vendas, que culminará com mais um álbum desta série num futuro próximo.
NOTA FINAL (1/10):
7.0
-/-
Os Covidiotas
Autor: Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 88, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Maio de 2021