Hoje é oportunidade para mais um comparativo entre diferentes edições para a mesma obra.
E, desta vez, trago-vos uma das minhas bandas desenhadas portuguesas preferidas de sempre: A Fórmula da Felicidade, de Nuno Duarte e Osvaldo Medina.
Lançado originalmente em 2009, depressa este trabalho absolutamente soberbo, se tornou um clássico da banda desenhada nacional, quanto a mim. Por essa altura, a obra foi lançada em dois volumes pela Kingpin Books. E é essa mesma Kingpin Books que, passada mais de uma década, volta a colocar no mercado esta obra que há muito se encontrava esgotada e virtualmente impossível de encontrar à venda.
Só por isso, já há mérito e sentido de oportunidade por parte da Kingpin Books. Há livros que, na minha opinião, e na medida do possível, devem estar sempre disponíveis no mercado. A Fórmula da Felicidade é um desses livros.
Já não o lia há muito tempo e, agora que voltei a ler este livro, posso dizer que a obra envelheceu muito bem e continua obrigatória. A escrita e argumento de Nuno Duarte continuam profundos e marcantes; e as ilustrações de Osvaldo Medina - que aqui nos dá, à boa maneira de Blacksad, um mundo com personagens antropomorfizadas - continuam um deleite para os olhos. Muito aprecio o trabalho de ambos os autores noutras das suas obras mas, a meu ver, esta continua a ser a melhor BD escrita por Nuno Duarte e a melhor BD desenhada por Osvaldo Medina. Já para não falar na própria premissa da história que é verdadeiramente inteligente e bem explanada por Nuno Duarte. Enfim, se estão a ler este artigo e não conhecem este livro, façam um favor a vós mesmos e vão comprá-lo... agora! Thank me later.
Olhando, então, para a nova edição, há bastante a dizer.
Em primeiro lugar, e já o referi, o facto de uma obra de referência que estava esgotada voltar a estar novamente disponível justifica, por si só, a existência desta reedição.
Mas há mais coisas boas para além disso. A obra que antigamente era formada por dois volumes, passou a estar disponível neste volume integral, que reúne os dois tomos e, adicionalmente, acrescentou-lhe uma nova história curta que serve como complemento à história principal e onde, novamente, a escrita de Nuno Duarte é um verdadeiro sopro de leveza e beleza. E, quanto a Osvaldo Medina, este volta a não desiludir.
Esta história adicional que se intitula "Era uma vez um Epílogo que era um Prólogo" contém 16 páginas e funciona como uma prequela da história ao permitir explorar melhor duas das personagens d' A Fórmula da Felicidade. É um extra muito bem-vindo e que acrescenta bastante à história.
Outra das novidades desta nova edição, é a nova capa que apresenta uma linda ilustração de Osvaldo Medina. Eu gostava das capas dos dois volumes originais, especialmente da capa do primeiro volume, mas acho que esta nova ilustração ainda é mais bonita e impactante. E é colorida com belas cores, também. E o próprio lettering utilizado para o título está inspirado, cativante e faz uma ponte clara para os temas matemáticos que encontramos na história. Esta nova capa é lindíssima!
Além disso, os livros originais tinham capa mole e esta nova reedição é em capa dura, o que atribui à obra o requinte que ela merece.
Tudo muito bem feito, portanto.
Se, no que mais importa, tudo foi feito para melhor, nos detalhes há algumas questões que, quanto a mim, poderiam ter sido feitas de uma outra forma.
O novo formato é mais pequeno do que o formato original. Não consigo perceber muito bem o porquê desta opção. Talvez tenha que ver com a tentativa de não encarecer os custos de produção ou de, comercialmente falando, tentar aproximar o livro do posicionamento mais de "novela gráfica" do que de "banda desenhada" - mas este tema daria pano para mangas e não me quero alargar muito nesta questão. Seja como for, lamento que o formato tenha sido reduzido, embora também não ache que seja algo que destrua o prazer da leitura.
A legendagem e as fonts escolhidas para o texto também sofreram alterações nesta nova edição. Na colocação das legendas e balões parece-me que a nova edição está mais bem feita e profissional. E parece-me também que a font utilizada nos balões de fala funciona melhor do que a font original. No entanto, na font das legendas utilizadas para os monólogos e narração de Victor, a personagem principal da obra, não apreciei tanto a nova font utilizada. Parece-me que a anterior trazia mais familiaridade e aconchego ao texto que nos era dado.
Também em termos de papel houve alterações. Passámos de um papel baço (mate) para um papel brilhante (couché). Não tem muito brilho, mas tem algum. Ora, bem sei que esta escolha do acabamento do papel é algo muito subjetivo. Mas devo dizer que prefiro o papel baço utilizado na versão original da obra que se coadunava bem mais ao estilo de traço e cores da obra em questão. Basta folhear um e outro livro e a sensação é inequívoca. Mas subjetiva, concedo.
Por fim, e imagino que isto aconteça por algum tipo de dificuldade em ter disponíveis (ou digitalizados) os ficheiros originais da obra, algumas das cores da nova versão da mesma parecem-me algo garridas e com saturação a mais. Mais uma vez, não é nada que belisque a qualidade da obra ou a fluidez da leitura, mas, lá está, tendo as duas versões em mãos, sente-se a diferença.
De resto, é pena o lapso na página 55 - que nos dá uma legenda em polaco em vez da mesma estar em português - e o estranho desaparecimento, na página 47, do quadro afixado na parede da casa de Victor que, miraculosamente, volta a aparecer na página 82 do livro.
Como nota final, acho que teria sido pertinente a inclusão de algum tipo de material de extras nesta edição, de forma a torná-la ainda mais definitiva, como esboços do autor (que no primeiro livro original até apareciam) e - porque não? - um texto de análise à obra ou alguma entrevista com os autores. Lamento ainda a ausência dos prefácios de Nuno Artur Silva e Filipe Homem da Fonseca que os volumes 1 e 2, respetivamente, continham. Mesmo não querendo repetir-se os mesmos textos para o prefácio, poder-se-ia ter criado um novo prefácio. A obra merecia-o.
No entanto, foi com satisfação que vi que, nesta nova versão da obra, as duas páginas com o estudo para a fórmula matemática da felicidade tenham sido mantidas. Como gostei da página com as biografias dos autores.
Em suma, e apesar de alguns pequenos detalhes que poderiam ter tornado a edição perfeita, volto ao que já disse no início: o simples facto desta nova edição de A Fórmula da Felicidade (re)colocar uma obra tão relevante como esta no mercado nacional, já é motivo de regozijo! Além disso, a inclusão de uma nova história curta - com real valor e não apenas com o objetivo de ser um mero filler - bem como a belíssima nova ilustração da capa e a opção pela capa dura, fazem desta edição um trabalho verdadeiramente meritório.
Deixando o tema da edição de lado, o importante a manter presente é o seguinte: se não conhecem esta obra ou se já ouviram falar dela mas não a leram... o meu conselho é muito simples: não deixem de a adquirir!
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