sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

As novidades da Ala dos Livros para 2025!


A editora Ala dos Livros acaba de anunciar ao Vinheta 2020, em primeira mão, o seu plano editorial para o primeiro semestre de 2025!!! E posso dizer-vos que há aqui surpresas que vão agradar a muitos leitores portugueses!

Desde logo, porque se retomam algumas séries que a editora tem em continuação, como Blacksad, O Mercenário ou Wild West! É possível que O Mercenário venha mesmo a ser concluído durante este ano, no segundo semestre!

Para este primeiro semestre, estão ainda previstas pela Ala dos Livros as edições de dois livros portugueses e a aposta em alguns autores que são inéditos no catálogo da editora!

A Ala dos Livros faz notar que é possível que possa haver uma ou outra troca e/ou um ou outro acerto, mas que, à partida, serão estas as obras a publicar na primeira metade de 2025.

Parece-me que o difícil será mesmo deixar alguma obra de fora!

Fiquem a conhecer as novidades em concreto, mais abaixo.

Análise: Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”

Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard - ASA - LeYa

Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard - ASA - LeYa
Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard

Blake e Mortimer - Assinado "Olrik" é o mais recente álbum da clássica série franco-belga criada por Edgar P. Jacobs, que desta vez nos é servida pelas mãos dos autores Yves Sente e André Juillard. Infelizmente, este é um álbum que se torna emblemático por funcionar como uma despedida ao ilustrador André Juillard, um nome grande da banda desenhada europeia - e mundial - que faleceu recentemente e que tem neste livro o seu último trabalho. Talvez por isso, fica uma sensação agridoce após a leitura deste Assinado "Olrik": por um lado, é sempre bom termos uma última oportunidade para mergulhar em mais alguma obra de um artista relevante que nos deixa, por outro lado, convenhamos que este é um dos piores Black e Mortimer da história da série.

Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard - ASA - LeYa
A história desenrola-se na Cornualha, com o Rei Artur e a sua famosa espada Excalibur como tema central que, infelizmente, acaba por ser parcamente explorado. Um grupo independentista da região está a protestar contra o fluxo de novos migrantes económicos ao mesmo tempo que tenta encontrar o lendário tesouro do Rei Artur. A Blake, é incumbida a missão de desmantelar esta organização, enquanto Mortimer se encontra a apresentar a sua nova invenção revolucionária: uma escavadora a que dá o nome de The Mole. No meio de tudo isto, Olrik assume um papel relevante ao aliar-se ao grupo independentista para, claro está, usufruto pessoal, enquanto tenta deitar mãos à invenção de Mortimer. E tudo isto fazendo um acordo com os protagonistas da série.

Dito assim, estas breves linhas até nos podem fazer acenar a cabeça de forma positiva. No entanto, a história revela-se verdadeiramente desinspirada, com pouco ritmo, pouco encadeamento dos acontecimentos e com um enredo que depressa se torna fastidioso. 

Depois de um lamentável O Grito do Moloch - decididamente o pior álbum da série - até tenho que reconhecer que os álbuns O Último Espadão e Oito Horas em Berlim tinham sido bastante coesos e interessantes. A série parecia num melhor momento. Porém, com este Assinado "Olrik", a franquia volta a dar um passo atrás. Às tantas, já não sei se é boa ideia lançar estes livros - especialmente tendo em conta os nomes sonantes dos autores que os encabeçam. É que: 1) não são livros suficientemente bons para entrada de novos leitores na série e 2) muito menos são estes livros interessantes para os leitores da série clássica. Acredito que só mesmo os mais nostálgicos leitores de Blake e Mortimer - e à boleia de uma certa carolice ou "fanboyismo" - podem realmente apreciar este livro.

Não é algo que seja impossível de ler ou nada que se pareça, mas é uma leitura olvidável, que pouco acrescenta, e que se apresenta muitíssimo datada. Nem consegue ter o brilho do passado, nem consegue recriar-se, adaptando-se ao tempo atual. A trama proposta por Yves Sente carece, pois, de originalidade e desenvolve-se de modo forçado, sem o lado inventivo ou a presença de mistério característicos das melhores histórias de Edgar P. Jacobs. 

Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard - ASA - LeYa
Mesmo o trabalho de André Juillard, que se assume como eficaz, não está com o refinamento a que o autor já nos habituou. Verifica-se que há vários desenhos que parecem ter sido feitos à pressa ou sem o aprimoramento necessário. Também os cenários, normalmente um ponto forte na série, aqui não possuem o mesmo nível de detalhe e sofisticação de alguns álbuns anteriores. 

Enfim, talvez esta sensação menos positiva seja justificada pela condição de saúde do autor, o que é compreensível. Não posso dizer que a ilustração seja o elo fraco da obra - esse será o argumento - mas deixo a nota.

O que também é bastante fraca é a capa do livro. Possivelmente, a mais fraca da série.

A edição da ASA está em consonância com os livros da mesma coleção - capa dura brilhante com bom papel baço no miolo - sendo que, desta vez, também saiu uma edição especial, em formato horizontal (ou italiano). Como o livro acaba por ter mais páginas - cerca de 300 - devido a esta opção de formato, também é mais caro. Ideal para colecionadores, mas não tanto para os leitores mais casuais, dado que a obra não foi originalmente concebida para o formato horizontal e, por esse motivo, a leitura do mesma, desse modo horizontal, pode não funcionar tão bem.

Em suma, Blake e Mortimer - "Assinado Olrik" assume-se como uma obra esquecível dentro do cânone da série. O argumento pouco inspirado, as ilustrações apressadas e a falta de dinamismo fazem com que o álbum não consiga capturar a essência da saga original. Para os fãs mais exigentes, é uma leitura frustrante que falha tanto no desenvolvimento da história quanto no aspeto visual.


NOTA FINAL (1/10):
6.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Blake e Mortimer - Assinado “Olrik”, de Yves Sente e André Juillard - ASA - LeYa

Ficha técnica
Blake & Mortimer - Assinado “Olrik”
Autores: Yves Sente e André Juillard
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 310 x 238 mm
Lançamento: Novembro de 2024


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

ASA prepara-se para lançar thriller em BD!


É no próximo mês de Março, mais ao menos a meio, que chegará às livrarias uma das novas apostas de banda desenhada por parte da ASA que dá pelo nome de A Detetive Russa

A autora é Carol Adlam de quem, honestamente, não conheço nada. Pelo que estou bastante intrigado com esta aposta da editora portuguesa.

Por agora, o livro já se encontra em pré-venda no site da editora.

Relembro que já antes tinha aqui dado conta da aposta da ASA nesta obra quando apresentei as novidades da editora portuguesa para o primeiro trimestre de 2025.

Deixo-vos mais abaixo a sinopse da obra e algumas imagens promocionais da versão inglesa.
A Detetive Russa, de Carol Adlam

Nesta impressionante reimaginação de um thriller policial russo do século XIX do mundo de Dostoiévski, Carol Adlam apresenta Charlie Fox, jornalista, mágico, mentiroso e ladrão, que relutantemente retorna à sua cidade natal, Nowheregrad, para investigar o assassinato de Elena Ruslanova, filha de um fabricante de vidro fabulosamente rico.

Em Nowheregrad, Charlie vê-se envolvida numa história de múltiplas camadas que é contada através dos dispositivos visuais ricamente variados da época. Com a ajuda involuntária de seu amante, Netochka, Charlie desvenda o mistério da família Bobrov, apenas para enfrentar a verdade sobre si mesma.

Requintadamente desenhada e contada de forma convincente, a narrativa complexa e elegante de Adlam dá vida aos legados perdidos da ficção policial antiga e das primeiras mulheres jornalistas e detetives.

-/-

Ficha técnica
A Detetive Russa
Autora: Carol Adlam
Editora: ASA
Páginas: 112, a cores
Encadernação:
Formato: 307 x 224 mm
PVP: 24,90€

O terceiro livro de "Boa Noite, Punpun" chega hoje às livrarias!



A editora Devir lança hoje o terceiro volume da aclamada série Boa Noite, Punpun, de Inio Asano!

Esta é uma bela série mangá, cujo primeiro volume já aqui foi analisado, e que se recomenda vivamente!

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais deste terceiro volume da série.


Boa Noite, Punpun #3, de Inio Asano

Há livros que têm a capacidade de despertar todo o tipo de emoções. Boa Noite, Punpun, série aclamada de Inio Asano e cujo terceiro volume chega às livrarias no dia 27 de fevereiro, tem este efeito no leitor.

Cada volume é uma exploração profunda das complexidades da vida humana, vista através dos olhos de Punpun, um jovem representado como um pássaro estilizado, contrastando com o mundo humano realista e frequentemente cruel ao seu redor.

Desde o seu lançamento, a série Boa Noite, Punpun tem sido elogiada pela sua abordagem sem medo de temas difíceis como as primeiras paixões, amizades, até questões mais profundas como o amor, a família, a ansiedade e depressão, a alienação e a procura pelo significado da existência, tudo com uma franqueza que cativa e perturba.

Recomendada para jovens adultos e adultos, aborda, num género literário cada vez mais em voga em Portugal, o Mangá, temas como a saúde mental, desenvolvimento pessoal e a complexidade das relações familiares e sociais.

Estes três primeiros volumes já editados, levam então os leitores numa viagem emocional que é tanto perturbadora quanto esclarecedora, perfeita para fãs de literatura gráfica que procuram algo verdadeiramente diferente e impactante.

-/-

Ficha técnica
Boa Noite, Punpun #3
Autor: Inio Asano
Editora: Devir
Páginas: 426, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 20,00€

Carlos Rafael regressa ao lançamento de BD!




Depois de O Mistério de Cepheus, que o autor nos trouxe em colaboração com Liliana Gaito, o autor português Carlos Rafael acaba de lançar uma nova coleção de banda desenhada para os mais novos, projetada para três volumes, que se intitula As Aventuras de Máti.

O livro já se encontra à venda no site do autor.

Deixo-vos, mais abaixo, a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.


As Aventuras de Máti – Volume I, de Carlos Rafael

As Aventuras de Máti é uma banda desenhada, realizada em três volumes, da autoria de Carlos Rafael (argumento e ilustração). 

A história tem como inspiração os filmes, cartoons, animes e brinquedos dos anos 90. 

O livro conta a história de Máti, uma menina de 10 anos com estranha capacidade de entrar na mente das outras pessoas. 

Para ajudar o seu amigo Tomás, que se encontra doente no hospital, ela decide entrar no seu subconsciente. 

Mas algo de estranho acontece, levada pelas emoções, Máti acaba por entrar num mundo estranho, onde irá fazer novos amigos e defrontar o maior de todos os vilões.
O livro encontra-se a venda no site https://carlosrafaelcomics.wordpress.com/, e também através do e-mail c_picamilho@hotmail.com, bem com das redes sociais facebook e instagram.


-/-

Ficha técnica
As Aventuras de Máti - Volume I
Autor: Carlos Rafael
Edição de Autor (Independente)
Páginas: 76, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 210 x 297 mm
PVP: 15,00€

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Análise: Os Grandes Nomes do Macabro

Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix - Levoir

Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix - Levoir
Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix

Uma das obras lançadas na última Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, foi este Os Grandes Nomes do Macabro, que reúne vinte histórias de terror do autor Joan Boix, um dos célebres nomes da banda desenhada espanhola clássica.

Esta antologia conta com histórias que foram originalmente publicadas entre as décadas de 1970 e 1980 em revistas como Dossier Negro, S.O.S. e Creepy.

E alguns dos contos presentes neste livro são adaptações de obras de célebres escritores como Franz Kafka, H.P. Lovecraft, Edgar Allan Poe, Gustavo Adolfo Bécquer, Arthur Conan Doyle, Victor Hugo, Fitz-James O'Brien, Robert Block e Hudson Irish. Outros, são narrativas originais de Boix.

Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix - Levoir

Na parte das adaptações, é de salientar que Boix demonstre habilidade na forma como transpõe para  a banda desenhada a essência das obras literárias originais. Especialmente se tivermos em conta que algumas destas histórias são muito curtas em dimensão. Não obstante, Boix revela boa capacidade de síntese para conseguir oferecer um vislumbre e/ou homenagem às obras originais.

Algo bastante positivo é que as histórias da autoria de Boix não ficam nada atrás em termos qualitativos e até conseguem, em alguns casos, apresentar conceitos e enredos mais inovativos do que o expectável para o género. Os temas explorados são os clássicos do género do terror: uns com a presença de criaturas fantásticas e assustadoras, outros com assassinatos, que procuram, acima de tudo, instigar o leitor a refletir sobre a natureza humana e sobre os seus medos mais profundos. Há sempre uma moral em cada uma das histórias. A presença de mulheres sensuais em alguns destes contos também adiciona uma camada de complexidade e beleza visual à narrativa, levando a ponderações sobre o desejo e sobre a moralidade.

Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix - Levoir
Se é verdade que algumas das histórias nos levam a uma bem-vinda reflexão, também é verdade que algumas delas se apresentam demasiado superficiais em termos de desenvolvimento, o que é explicável pelo facto de alguns contos serem curtos em demasia, deixando, por isso, algumas pontas soltas no enredo. É claro que isto pode ser atribuído à dimensão curta das histórias, que nem sempre permite uma exploração mais profunda dos temas propostos. 

Ainda assim, a combinação de narrativas adaptadas e originais oferece uma variedade que mantém o interesse do leitor ao longo da obra, concedo.

Esta foi, quanto a mim, a obra mais "fora da caixa" desta última Coleção de Novelas Gráficas. E não o refiro como sendo uma coisa boa nem negativa. Mas sim por me parecer uma proposta deveras diferente dos demais títulos incluídos na coleção. Talvez por isso, tenha agradado muito a alguns leitores e, ao mesmo tempo, desagradado muito a outros. Sendo demasiado "fora da caixa" ou não, aceita-se a aposta da editora pela celebração do trabalho de um autor clássico que vale a pena conhecer.

Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix - Levoir
As belas ilustrações de Boix são, por ventura, o grande destaque deste livro. Com um traço realista a preto e branco puro, que me remeteu para autores como Mandrafina ou, especialmente, para os recentes Drácula e Frankenstein de Georges Bess, Joan Boix assume-se como um virtuoso no desenho, com as suas ilustrações detalhadas, elegantes e expressivas a complementarem perfeitamente o tom sombrio das histórias, criando uma experiência imersiva para o leitor. 

A edição da Levoir, à boa maneira dos outros livros da coleção, apresenta capa dura baça com bom papel baço no miolo. A impressão e a encadernação também são boas. A edição inclui ainda um dossier de extras da autoria de Antoni Arigita, que nos oferece uma biografia detalhada de Joan Boix. Este complemento enriquece a compreensão do leitor sobre a trajetória do autor e o contexto em que as suas histórias foram produzidas, proporcionando uma visão mais ampla da contribuição do autor espanhol para o género do terror em banda desenhada.

Em suma, Os Grandes Nomes do Macabro é uma interessante antologia de vinte histórias curtas de terror, que destaca o desenho virtuoso de Joan Boix e o seu talento tanto como adaptador, como criador original. Adicionalmente, além de demonstrar o cariz eclético da Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do Público, é uma obra especialmente direcionada para os fãs do terror e do fantástico.


NOTA FINAL (1/10):
7.6


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Os Grandes Nomes do Macabro, de Joan Boix - Levoir

Ficha técnica
Os Grandes Nomes do Macabro
Autor: Joan Boix
Editora: Levoir
Páginas: 168, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 195 x 270 mm
Lançamento: Setembro de 2024

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Análise: Bobigny 1972

Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel - ASA - LeYa

Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel - ASA - LeYa
Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel

A editora ASA continua "a somar e a seguir" no que ao lançamento de banda desenhada de boa qualidade diz respeito! A par da recente edição de Um Oceano de Amor - simplesmente obrigatório e que, certamente, será um dos livros do ano para mim - a editora trouxe-nos também a edição deste Bobigny 1972, das autoras francesas Marie Bardiaux-Vaïente e Carole Maurel, de que hoje vos falo.

Saliente-se que este foi um dos livros mais celebrados na última edição do Festival de Angoulême, tendo mesmo vencido o galardão Prix des Lycées. Como o assunto da obra em questão pode ser visto como político - e, em certa medida, o é - estava curioso para verificar se a atribuição deste prémio era por motivos mais políticos ou pela real qualidade do livro em causa. Ora, não sabendo se os motivos da escolha da obra para o prémio foram políticos ou não, depois de feita a leitura do livro não tenho dúvidas de que é uma obra muito bem feita e plena de qualidades... mesmo que também possa ser política. 

Bobigny 1972 aborda um marco significativo na luta pelos direitos das mulheres em França, retratando o célebre julgamento de Bobigny, ocorrido em 1972, que se tornou um ponto de inflexão na batalha pela legalização do aborto no país.

Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel - ASA - LeYa
A narrativa centra-se em Marie-Claire Chevalier, uma jovem de 16 anos que, após ser violada, engravida e decide, com a ajuda da sua mãe solteira, interromper a gestação. Ora, nos igualmente próximos e distantes - se é que isso faz sentido - anos setenta do século passado, o aborto era considerado crime em França - e não só - e era punível com pesadas multas ou até mesmo com uma pena de prisão. Ao ser denunciada pelo próprio homem que a tinha violado, Marie-Claire acaba a ter que enfrentar o sistema judicial francês, juntamente com a sua mãe e com mais algumas mulheres que deram uma ajuda para a interrupção desta gravidez.

A advogada Gisèle Halimi, uma militante dos direitos das mulheres, assume a defesa de Marie-Claire, transformando o caso num julgamento mediático que agitou a realidade social francesa por questionar as leis repressivas contra o aborto que se viviam em França. A advogada acaba, pois, por utilizar o tribunal como palco para um debate público, desafiando as políticas antiaborto vigentes e mobilizando a opinião pública a favor da descriminalização da interrupção voluntária da gravidez.

E o que a obra também assinala é que a própria lei era hipócrita, pois punia as mulheres de condição social mais baixa que faziam abortos, mas não se preocupava com as mulheres de uma classe social mais alta que se deslocava a um país vizinho para fazer a interrupção da gravidez com comodidade e segurança. E os números eram grandes: neste tempo, quase 1 milhão de mulheres francesas faziam abortos de forma clandestina anualmente.

A história é-nos muito bem contada por Marie Bardiaux-Vaïente, procurando remeter-se aos factos, mas colocando-se, naturalmente, no lado das mulheres que viam o direito aos desígnios do seu próprio corpo ser-lhes vedado pelo Estado francês. E embora muitas das páginas do livro nos coloquem dentro do tribunal onde decorre o julgamento de Marie-Claire Chevalier, a argumentista é ágil a saber recuar no tempo, através de flashbacks, para que melhor possamos compreender os eventos que propiciaram aquele julgamento. A maneira como os vários momentos nos são dados e doseados por Bardiaux-Vaïente oferece ao livro um tom cinematográfico que torna a leitura cativante e viciante. Este é um livro que nos faz querer chegar ao fim assim que lhe pegamos.

Resulta bem do ponto de vista histórico - já que estamos a falar de acontecimentos verídicos que viriam a impactar a constituição francesa nos anos 70 e, consequentemente, as constituições de outros países que seguiram o exemplo francês - mas também é um livro que funciona em termos de orgânica de enredo, com o leitor a criar uma ligação emotiva com a protagonista e a tomar igualmente consciência direta da situação injusta e precária que durante tantos anos tanto afetou as mulheres. Infelizmente, em muitos pontos do globo - não tanto, e felizmente, no ocidente - esta injustiça ainda incide na simples condição de se ser mulher. E ao focar-se nas experiências pessoais das protagonistas, a obra humaniza a luta pelos direitos reprodutivos e evidencia as injustiças enfrentadas pelas mulheres em contextos de opressão legal e social.

Nota ainda, positiva, para os diálogos bem construídos por Bardiaux-Vaïente que, sendo assentes naquilo que foi realmente proferido no próprio julgamento, também conseguem deixar no ar as perguntas e as críticas que semelhante assunto merecia. Desde logo, por serem homens a julgar mulheres sobre os corpos das mulheres.

Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel - ASA - LeYa
Se o argumento é bem arquitetado, também as ilustrações de Carole Maurel - de quem, curiosamente, a editora Levoir já anunciou a edição para breve de Nellie Bly, outra história feminista que muito interesse me suscitou - encaixam bem na história. O traço de Maurel é semi-realista, com as personagens a deterem uma expressividade muito rica, bem comum naquela a que eu gosto de chamar de a "nova vaga" do franco-belga, numa clara herança da escola mais clássica de Spirou e outros congéneres. 

Também as cores são aplicadas de modo muito belo, numa palete em tons maioritariamente amarelados que combinam bem com a própria cinematografia dos anos 70. Para melhor separar as cenas de flashback, a autora optou por delimitar com cantos arredondados as vinhetas do tempo passado. Além disso, estas cenas passadas também têm um estilo mais pulp, por utilizarem mais tramas e pontilhados. Uma coisa é certa: toda a experiência visual é muito bem conseguida.

A cena inicial de ação e, especialmente, a cena da violação e os momentos que lhe seguem, coloridos por tons mais escuros, de forma a aumentar o trauma experienciado por Marie-Claire, revelam-nos um trabalho bastante bem-conseguido da autora que, através dos seus desenhos, consegue passar uma grande emotividade mergulhando o leitor de forma profunda nos eventos desenhados. Fiquei muito bem impressionado com esta autora de quem ainda não tinha lido nenhum livro. Bem, na verdade, fiquei bem impressionado com as duas autoras, já que Bardiaux-Vaïente também se revela uma boa argumentista.

A edição da ASA - que aproveita a proximidade do Dia da Mulher para o lançamento deste livro - é em capa dura baça, com bom papel baço no interior e com boa impressão e encadernação. Nada de errado a objetar. 

Como nota positiva sobre a ASA, refira-se que a editora continua a acertar em cheio nas obras que escolhe publicar em Portugal. Que esse trabalho dê frutos de forma a que possamos poder contar com a editora portuguesa como mais uma das editoras portuguesas que aposta em banda desenhada de qualidade superior é o meu sincero desejo.

Em suma, Bobigny 1972 é uma excelente aposta, repleta de rigor histórico e intensidade emocional, que deve ser lida por todos. Além de narrar os acontecimentos do mediático julgamento que pôs em causa as leis repressivas contra o aborto em França, este é um livro que também destaca o impacto do caso na sociedade francesa, servindo como um tributo às mulheres que lutaram pelos seus direitos e pavimentaram o caminho para as gerações futuras. Um livro a não deixar passar!


NOTA FINAL (1/10):
9.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel - ASA - LeYa

Ficha técnica
Bobigny 1972
Autoras: Marie Bardiaux-Vaïente e Carol Maurel
Editora: ASA
Páginas: 192, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 276 x 207 mm
Lançamento: Fevereiro de 2025

Análise: Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu

Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Xavier Dorison e Matz - Gradiva

Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Xavier Dorison e Matz - Gradiva
Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Philippe Xavier e Matz

Depois de o sétimo álbum da série Tango ser aquele que, até agora, mais me agradou em toda a franquia - devido a permitir um melhor desenvolvimento da história, possibilitado pela opção de se lançar um díptico em vez de um álbum autocontido - estava especialmente empolgado para ler este oitavo volume, intitulado O Tesouro do Mar de Sulu, que termina a história começada no anterior A Flecha de Magalhães.

Este oitavo volume que continua a trazer-nos a escrita de Matz (autor da série O Assassino e de O Desaparecimento de Josef Mengele, por exemplo) e as ilustrações de Philippe Xavier, coloca-nos no ponto onde o anterior volume nos deixou, e procura ser uma conclusão coesa para a história que colocou John Tango e Mario na senda do capacete de Fernão de Magalhães, o navegador português que liderou a primeira expedição a circunavegar o globo, provando que a Terra é redonda e conectando o Oceano Atlântico ao Pacífico através do estreito que hoje detém o seu nome. Sobre o próprio Fernão de Magalhães, relembro que a Gradiva também já havia lançado a banda desenhada Magalhães.

Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Xavier Dorison e Matz - Gradiva
O enfoque deste O Tesouro do Mar de Sulu mantém-se, portanto, sólido, através da combinação de ação e aventura, num ambiente exótico, propício à exploração de um universo com histórias de tesouros escondidos e perseguições mortais. Bem ao jeito de Uncharted (onde as próprias personagens principais da banda desenhada lembram as do videojogo), de Tomb Raider ou do mais velhinho Indiana Jones.

Neste volume, a narrativa desenrola-se no Mar de Sulu, uma região repleta de piratas, lendas e riquezas submersas, onde John e Mario tentam ajudar o seu amigo filipino Crisanto a encontrar o capacete de Magalhães, um autêntico tesouro histórico-arqueológico. Talvez justamente pelo valor intrínseco deste artefacto, o que começa como uma expedição promissora rapidamente se transforma numa luta pela sobrevivência, já que Tango e os seus companheiros chamam a atenção dos criminosos locais. A partir desse ponto, a história desenvolve-se em ritmo acelerado, com algumas reviravoltas no enredo que procuram ser inesperadas.

Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Xavier Dorison e Matz - Gradiva
Não há aqui espaço para grandes reflexões ou mensagens subliminares. Convenhamos que também não é isso que Tango procura ser, mas antes uma série de puro entretenimento que se lê bem. E é isso mesmo que acaba por ser, com este livro a ser uma leitura fácil, escorreita e agradável. É verdade que o volume anterior trouxe uma certa densidade dramática à série, desenvolvendo o enredo com mais cuidado, que neste O Tesouro do Mar de Sulu parece, infelizmente, menos presente. Mesmo assim, o fim satisfatório deste díptico faz com que não me restem dúvidas de que a aventura que envolve Fernão de Magalhães é mesmo a mais interessante que John Tango já viveu.

As ilustrações de Philippe Xavier continuam a apresentar um bom nível qualitativo. Neste livro em particular, a própria ambientação do Mar de Sulu permite que Xavier nos ofereça cenários vibrantes, onde a natureza exuberante contrasta com as energéticas cenas de ação e tiroteios. Gostei especialmente dos momentos mais calmos do livro, em que o nosso protagonista faz mergulho nas águas cristalinas locais com vista a encontrar o famigerado tesouro.

Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Xavier Dorison e Matz - Gradiva
As personagens também estão muito bem desenhadas, com expressões inequívocas e com um carisma muito próprio - especialmente quando olhamos para o protagonista da série. A bela Lani, a personagem feminina com quem John Tango vai vivendo um relacionamento amoroso pouco assumido, é especialmente cativante. Nota ainda, muito positiva, para a belíssima capa - uma das melhores, se não mesmo a melhor, de toda a série.

A edição da editora Gradiva mantém-se em linha com os restantes livros da coleção, apresentando capa dura baça, bom papel brilhante no interior, boa encadernação e boa impressão.

Em suma, fica claro que Tango funciona melhor se as aventuras deste carismático protagonista forem lançadas em díptico, dado que isso permite uma construção mais aprimorada da história. Portanto, o meu desejo é que volte a acontecer o mesmo nos próximos livros.  E mesmo que este O Tesouro do Mar de Sulu fique alguns furos abaixo de A Flecha de Magalhães, vale, ainda assim, a pena por terminar a aventura que coloca John Tango em busca de um artefacto do célebre navegador português.


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-


Tango #8 – O Tesouro do Mar de Sulu, de Xavier Dorison e Matz - Gradiva

Ficha técnica
Tango #8 - O Tesouro do Mar de Sulu
Autores: Matz e Philippe Xavier
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,30 x 31,30
Lançamento: Agosto de 2024

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Análise: Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal
Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores

Hoje trago-vos uma dose dupla da série Preto, Branco e Sangue, da Marvel, que a editora G. Floy Studio tem estado a publicar em Portugal: Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua, os livros mais recentes desta coleção que, anteriormente, já teve volumes dedicados a Wolverine, Carnificina, Deadpool e Elektra.

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal
Infelizmente, o meu parecer poderia ser bem mais positivo em relação aos livros desta coleção. Considerei que a mesma até começou bem, com os livros de Wolverine e Carnificina, mas é notório que a qualidade na oferta tem vindo a decair de livro para livro e estes Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua são exemplos disso mesmo.

Comecemos com Marvel Zombies

Aqui a premissa que, tal como em todos os outros livros, assenta na ideia de nos oferecer histórias curtas a preto e branco, onde a cor vermelha - de sangue - também assume função primordial. Um artifício visual que tem resultado muito bem, diga-se. Só que, neste caso, em vez de termos um conjunto de 12 histórias sobre uma personagem apenas, temos 12 histórias em que o tema central são os zombies. Citando os super-heróis que aqui aparecem - mais em formato de vilão do que de herói - posso referir Daredevil, Homem-Aranha, Iron Man, Cavaleiro da Lua, Quarteto Fantástico, Thor, X-Men, Blade, Capitão América, Black Panther, Hulk, entre vários outros. O rol de personagens famosas é muito generoso, sim, mas, infelizmente, as narrativas que aqui nos são dadas parecem verdadeiramente desinspiradas.

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal
Todas as histórias contidas nesta antologia, que reúne autores como Garth Ennis, Gail Simone, Steve Skroce ou Peach Momoko, trazem a sua visão sobre um mundo apocalíptico em que super-heróis convivem com zombies ou , noutros casos, são os próprios super-heróis que são os zombies.

Em termos narrativos, a obra oferece uma diversidade de abordagens, com algumas histórias a explorarem o drama e o desespero da transformação dos heróis em mortos-vivos, enquanto outras assumem um tom mais sarcástico e exagerado, típico da cultura pop. A pluralidade de vozes criativas volta a trazer uma experiência dinâmica para o leitor, já que este nunca sabe exatamente qual será o tom da próxima história. Bem, mas isso é característico de quase todas as antologias de banda desenhada que são assinadas por múltiplos autores.

De forma geral, e como já referido, as histórias que aqui nos são dadas são facilmente olvidáveis e apresentam-se como pouco inspiradas. Destaca-se a história Juju e a Dádiva da Conta de Insecto, de Peach Momoko, pelo seu visual e narrativa completamente diferentes das demais. Não sendo um dos melhores livros da coleção, este Marvel Zombies tem principalmente o dom de reafirmar o potencial do horror dentro do universo Marvel, mostrando que até os heróis mais poderosos podem sucumbir à fome insaciável dos mortos.

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal
Se Marvel Zombies pouco me impressionou, o livro dedicado à personagem Cavaleiro da Lua ainda me deixou mais desapontado.

O livro conta com histórias de autores como Jonathan Hickman, Chris Bachalo, Paul Azaceta ou Leonardo Romero, e procura aprofundar a psique complexa de Marc Spector e as suas múltiplas identidades. É, pois, essa dualidade que o conjunto de histórias desta antologia tenta captar, mostrando que o Cavaleiro da Lua não é apenas um vigilante brutal, mas também um homem dividido entre diferentes personalidades e uma conexão instável com o deus egípcio Khonshu. 

Se a ideia pode ser boa, dado que, quanto a mim, esta é uma personagem com muita coisa a ser explorada, não me parece que essa exploração seja feita de modo satisfatório. Especialmente se tivermos em conta que são histórias tão curtas que funcionam melhor para heróis e tramas mais simples, do que variações e reflexões mais profundas. Talvez por isso, o resultado é um guisado de vislumbres e piscares de olhos, mas que acaba por ser desestruturado, superficial e pouco clarividente. Pareceu-me, com justiça, o pior conjunto de histórias de toda a coleção até agora. Destaco, no entanto, como exemplos positivos, as histórias Tão Branco, Mas Tão Negro, de Murewa Ayodele e Dotun Akande e O Túmulo Vazio, de Benjamin Percy e Vanesa R. Del Rey.

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal
Olhando para a componente visual presente em ambos os livros, é claro que temos belos desenhos para todo o tipo de gostos. Desde os mais realistas, aos mais abstratos ou "cartoonescos". Nesse cômputo, qualquer um dos livros de que hoje vos falo me parece uma proposta interessante. 

A ideia de utilizar as cores preto e branco cria um tom sombrio e clássico, enquanto que o vermelho é estrategicamente utilizado para enfatizar momentos de violência extrema, sangue e perigo iminente. Esse estilo visual remete tanto ao terror tradicional - em Marvel Zombies - quanto à linguagem da banda desenhada mais "pulp", tornando as cenas de ação ainda mais intensas. Enfim, quer em Marvel Zombies, quer em Cavalheiro da Lua, brilham mais os ilustradores e coloristas do que os argumentistas.

Em termos de edição, a G- Floy Studio volta a dar-nos um bom trabalho. Ambos os livros apresentam capa dura baça, com bom papel brilhante no miolo e uma boa impressão e encadernação. Cada um dos livros apresenta uma galeria de capas alternativas em que o trabalho dos autores é verdadeiramente impressionante.

Numa altura em que esta é a única coleção atual de super-heróis da Marvel a ser publicada em Portugal, compreendo que os fãs portugueses dos comics americanos olhem para ela como uma botija de oxigénio. No entanto, a verdade é que, de volume para volume, a série tem vindo a perder o fator originalidade e a mostrar-se cada vez mais desinspirada.


NOTA FINAL (1/10):
Marvel Zombies – Preto, Branco e Sangue - 6.0
Cavaleiro da lua – Preto, Branco e Sangue - 5.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal

Fichas técnica
Marvel Zombies – Preto, Branco e Sangue
Autores: Vários
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Setembro de 2024

Marvel Zombies e Cavaleiro da Lua - Preto, Branco e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal

Cavaleiro da lua – Preto, Branco e Sangue
Autores: Vários
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 152 a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Março de 2023

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Análise: Thorgal - Adeus Aaricia

Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht - A Seita

Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht - A Seita
Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht

Depois de dois lançamentos inseridos na continuidade original de Thorgal, nomeadamente O Eremita de SkellingarA Selkie, a editora A Seita regressou recentemente à edição de obras da série em questão.

E desta vez fê-lo não com um álbum da série canónica em continuidade, mas através de Adeus Aaricia, um "Thorgal de Autor" que abre, aliás, a série Thorgal Saga, uma iniciativa que permite a autores de renome explorarem o universo de Thorgal sob perspectivas únicas. Embora estas histórias estejam fora da continuidade da série original, mantêm-se fiéis ao espírito mitológico da série criada por Jean Van Hamme e Grzegorz Rosiński.

O autor deste Adeus Aaricia, que assina argumento e ilustração, é Robin Recht.

Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht - A Seita
Nesta narrativa, encontramos um Thorgal já bastante idoso que, no crepúsculo da sua vida, vê-se forçado a ter que enfrentar a perda irreparável de Aaricia, a sua eterna amada. A história arranca com Thorgal, só e devastado pela dor, a ter que observar o barco que leva Aaricia na sua última viagem. É o fim de uma era para o protagonista neste começo arrojado e poético do livro.

Mas a trama logo ganha profundidade quando Nidhogg, um antigo inimigo de Thorgal, surge do nada, como que por magia, e lhe oferece o anel de Ouroboros. Este artefacto místico tem o poder de transportar o seu portador de volta ao passado, o que proporciona a Thorgal a possibilidade de viajar no tempo e, por conseguinte, voltar a estar com Aaricia, alterando o curso dos acontecimentos. A proposta é mais que tentadora e Thorgal acaba mesmo por ceder, entrando numa jornada que tem muito de perigoso - pois não devemos mexer com o passado - e muito de introspetivo, pois aquilo que nos acontece no passado, sejam coisas boas ou más, também converge no sentido de nos moldar enquanto homens e mulheres.

Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht - A Seita
A premissa não é propriamente nova - lembro-me, por exemplo, que, com as devidas diferenças, o recentemente publicado Bairro Distante, de Jiro Taniguchi, toca em pontos semelhantes -, mas pareceu-me bem explanada por Robin Recht. Se os mais céticos ou puristas da série Thorgal estão a torcer o nariz perante esta premissa de voltar atrás no tempo, deixem-me assegurar-vos que esta opção narrativa funciona bem e consegue ser minimamente credível. Ou aceitável, vá.

Ao revisitar momentos cruciais do seu passado, Thorgal terá que confrontar não apenas as memórias compartilhadas com Aaricia, mas também os desafios e sacrifícios que moldaram a sua vida. Esta viagem temporal levanta questões sobre o destino, o arrependimento e o verdadeiro custo de se alterar o passado.

Teremos acesso a um Thorgal velho a coexistir com um Thorgal novo, numa história que consegue ser cativante e facilmente perceptível mesmo para aqueles que não estão familiarizados com a série. Há depois vários momentos de ação, a utilização de personagens recorrentes da série, como Gandalf, e a introdução de uma nova personagem, por sinal muito interessante, que dá pelo nome de Skraeling.

Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht - A Seita
As ilustrações de Recht são belíssimas, conseguindo acompanhar a força do trabalho miraculoso de Rosiński, com os cenários, as personagens, os momentos de ação e de introspeção a remeterem-nos para o frio das regiões nórdicas da Escandinávia. As expressões das personagens são bem conseguidas também, dotando a obra de um tom dramático. Ao contrário de Fred Vignaux, que, em temor de ilustração, me parece assumir uma abordagem mais moderna para a série, Recht parece mais alinhado com o estilo de desenho de Rosiński. Por esse motivo, julgo que os fãs da vertente visual da série mais clássica ficarão, pois, muito satisfeitos. Curiosamente, até prefiro os desenhos de Fred Vignaux, mas não posso deixar de dizer que também o trabalho de Rech é do meu agrado por ser verdadeiramente impressionante. Gostos, portanto.

A edição que A Seita faz deste livro é verdadeiramente cativante, com o livro a apresentar capa dura com textura aveludada e detalhes a verniz. O formato também é grande, sendo bastante superior aos outros Thorgal publicados pela editora. No miolo, o livro oferece-nos bom papel brilhante e uma excelente encadernação e impressão. Há ainda um belo dossier de extras, com 10 páginas, composto por uma nota final do autor e com um "making of" do livro, onde nos são mostrados esboços das personagens acompanhados por comentários de Robin Recht, bem como o processo de desenvolvimento do storyboard e duas belas ilustrações. É mesmo um daqueles livros bonitos, com uma edição muito cuidada.

Como nota final, espero que este livro represente o regresso da editora ao lançamento desta série que, infelizmente, tem sido publicada em Portugal aos tropeços deixando muitos e belos livros por publicar ainda.

Em suma, Thorgal - Adeus Aaricia é um belo livro que oferece uma exploração profunda do luto, do amor e das escolhas que definem a nossa existência. Mesmo situado fora da continuidade principal da série, este é um livro que acaba por enriquecer o universo de Thorgal, proporcionando aos fãs uma perspectiva renovada sobre a icónica personagem e o seu legado. 


NOTA FINAL (1/10):
9.2


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Thorgal - Adeus Aaricia, de Robin Recht - A Seita

Ficha técnica
Thorgal Saga - Vol. 1 - Adeus Aaricia
Autor: Robin Recht
Editora: A Seita
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 340 mm
Lançamento: Setembro de 2024