Agora que ainda estamos no primeiro mês de 2020 é altura de olharmos para
trás, para o ano anterior, e verificarmos como foi um excelente ano para a
Banda Desenhada em Portugal. E isso deve-se às Editoras – que são, cada vez,
mais e melhores – e aos leitores. Se os leitores não comprarem livros, os esforços
das Editoras caem em saco roto.
Abaixo, deixo-vos o meu top 10 de leituras que fiz em 2019. Naturalmente,
não consegui ler todos os livros que queria. Já chegámos a uma fase em que me é
impossível comprar todos os livros que gostaria de ler. O que não deixa de ser
uma coisa boa. Significa que a oferta é vasta e tem qualidade. Não será de
estranhar que no meu Top 10 de leituras que farei em 2020 possam existir livros
que foram lançados em 2019. E é por isso que no meu top 10 de leituras de 2019
há um livro que ainda foi lançado em 2018.
Antes de avançar para o top gostaria de fazer algumas menções honrosas que,
a meu ver, tanto contribuíram para fazer do ano 2019, um excelente ano para o
lançamento de banda desenhada em Portugal.
Menção Honrosa #1 - Novelas Gráficas
da Levoir/Público
A Coleção Novelas Gráficas da
Levoir/Público continua, ao fim de 5 anos, a ser o grande momento editorial anual
em Portugal. Isto de levar obras de qualidade à generalidade dos interessados e
com um preço mais que acessível, chega-me a parecer serviço público! Espero que
durante os próximos anos continue a disponibilizar obras de qualidade sem
alterar o preço. Sou fã da iniciativa e enquanto leitor de BD, fico agradecido
por esta coleção já me ter dado a ler, obras que desejava ler em português ou
outras, que embora sejam excelentes trabalhos, eu nem os conhecesse se não
fosse esta coleção. Este ano não foi exceção. Embora os livros “clássicos”
escolhidos não tenham sido muito do meu agrado – refiro-me a Febre de Urbicanda, de Peeters e Schuiten,
a Flex Mentallo: Herói do Mistério,
de Grant Morrison e Frank Quitely ou a Como
uma luva de veludo moldada em ferro, de Daniel Clowes – as restantes obras
agradaram-me muito. De forma global, este até foi dos anos onde a qualidade
global mais me pareceu equilibrada. Gostos aparte, a qualidade e importância da
coleção mantém-se. Se, por acaso, num dia sombrio da banda desenhada em
Portugal, esta coleção deixar de ser lançada, abrir-se-á um enorme buraco na bd
no nosso país.
A Levoir está também de parabéns pela Coleção
Batman 80 anos. Embora possamos argumentar que algumas escolhas para esta
coleção de 10 livros tenham sido algo questionáveis, a verdade é que considero
um exemplo bom de ver, a forma como a Levoir tem tratado este Herói, com lançamentos
constantes, cobrindo de forma exemplar quer obras que estavam em falta no
catálogo em português, quer aquelas que são mais recentes. A somar a esta
coleção ainda lançou outros livros importantes como Batman Maldito, de Brian Azzarello e Lee Bermejo; a edição integral
do Regresso do Cavaleiro das Trevas,
de Frank Miller; Batman Ano Um de
Frank Miller; ou o fantástico (e obrigatório) Batman Cavaleiro Branco, de Sean Murphy.
Menção Honrosa #3 - As Séries de BD
deixaram “de ficar a meio”
Lembram-se daquela situação deprimente em que os leitores de bd em Portugal
viam aparecer no mercado várias coleções de BD que acabavam por ser canceladas
passados um ou poucos mais números, deixando a coleção a meio? Os exemplos que
aqui poderia nomear são tantos que nem vou perder tempo com isso – vou apenas
referir o término da excelente série Y –
O Último Homem, por parte da Levoir. E de resto, acho que todos os leitores
deverão estar gratos às Editoras por estas estarem a criar uma relação de
confiança com aqueles. Se há uns anos, o leitor tinha receio de investir o seu
dinheiro numa nova coleção porque havia a forte possibilidade da mesma ficar a
meio, hoje em dia, essa tendência parece ter terminado. Claro que me poderão
dizer: “Ah, as séries ficavam a meio porque os leitores não compravam os livros”.
Mas, a isso, poderemos contra-argumentar: “os leitores não compravam os livros
porque temiam que as séries não fossem completadas pelas editoras”. Enfim, é um
ciclo vicioso e felizmente, as editoras portuguesas parecem estar a compreender
melhor os consumidores e por isso, cometem riscos mais calculados, com tiragens
menores. A adesão a uma nova série ou herói de bd será sempre carregada de
incertezas mas, não obstante, as editoras parecem estar cada vez mais cientes
daquilo que os leitores pretendem.
Menção Honrosa #4 - Editoras
Portuguesas – Cada vez mais, cada vez melhores.
Uma menção honrosa tem que ir para as editoras em geral. A Levoir já foi
referida mas creio que – sem desprimor daquelas a que não farei referência, há
outras 4 editoras que merecem destaque:
1) A Ala dos
Livros e a força com que entrou no mercado português durante 2019. Se o seu início
em 2018, com o lançamento único de Beowulf, de Santiago Garcia e David Rubin, foi algo tímido, o ano passado foi profícuo em lançamentos, com obras de
qualidade superior tais como Undertaker,
de Dorison e Meyer; Eu,
Louco, de Antonio Altarriba e Keko; A
Morte Viva, de Olivier Vatine e Alberto Varandas; Os Escorpiões do
Deserto – Obra Completa, de Hugo Pratt; ou Comanche - Obra Completa, de Greg e Hermann, cujos primeiros dois
volumes já foram lançados.
2) A G.Floy
continua a ser uma referência em Portugal. À semelhança do trabalho feito pela
Levoir, custa-me imaginar a Banda Desenhada sem a presença desta excelente
editora. Não consumo tudo aquilo que a Editora publica - não teria dinheiro para comprar todos os livros interessantes, mas tenho muito respeito
pela forma como a Editora tem apostado em algumas obras.
3) A Gradiva foi
talvez a grande surpresa do ano, com lançamentos tão regulares e pertinentes.
Diria que encontrou uma franja de mercado, com as suas excelentes coleções "Descobridores",
"Sabedoria dos Mitos" ou "Eles fizeram História".
4) Finalmente, a Arte de Autor também merece o meu destaque pois, desde que apareceu, tanto tem
brindado os leitores portugueses com livros de qualidade superior. Sou fã do
seu trabalho.
Então, feitas as menções honrosas que achei relevante fazer, e sem mais
demoras, este é o meu Top10 dos livros que mais prazer me deram ler em 2019.
Foi um ano tão bom, que certamente poderia colocar neste Top mais uns 10 ou 15
livros para além dos que se seguem.