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quarta-feira, 6 de março de 2024

Análise: O Mundo Sem Fim


O Mundo Sem Fim, de Jancovici e Christophe Blain

Vou confessar-vos algo pessoal porque acho que esta minha confissão pode ser benéfica para alguns dos que me leem: se havia livros para os quais eu não estava especialmente empolgado para mergulhar na leitura, O Mundo Sem Fim, de Jean-Marc Jancovici e Christophe Blain, era um desses livros. Pronto, já o disse. Perguntar-me-ão: “porquê?” e eu dar-vos-ei duas razões.

Em primeiro lugar, confesso estar um pouco farto de banda desenhada científica ou banda desenhada didática (como lhe quiserem chamar). Não me entendam mal: eu acho que a BD didática é fantástica para educar facilmente os que a leem e, por outro lado, até pode trazer novos leitores para a 9ª arte. Portanto, eu vou ser daqueles que sempre terá a bandeira da BD científica/educativa hasteada. No entanto, confesso que tenho lido muitos livros deste género e que já me sinto um pouco saturado pelos mesmos. Aliás, quando se diz que as editoras portuguesas editam muita BD do género western, eu sinto que a tendência no lançamento de BD educativa é bastante maior, até. Citando alguns livros do género, assim de cabeça, lembro-me que a editora Penguin lançou duas obras (em quatro volumes) que foram Sapiens - Novela Gráfica ou O Mundo de Sofia. A Gradiva, por seu lado, já lançou mais de duas dezenas de bandas desenhadas de cariz didático. A própria nova coleção dos Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, da Levoir, também pode ser vista como BD educativa. E agora, a editora Ala dos Livros decidiu lançar este O Mundo Sem Fim. Do género de BD educativa, também.

Mas este não é um livro qualquer.

O que me leva ao segundo motivo para não estar tão empolgado para esta leitura: é que se trata de um dos maiores bestsellers de BD dos últimos anos. Só em França, o livro já superou o milhão de unidades vendidas, tendo até suplantado, nos TOPs de vendas, esse habitual campeão de vendas que dá pelo nome de Astérix! Ora, se esta valência aguçou a minha curiosidade, concedo, também fez, por outro lado, soar os meus alarmes do "anti-moda". Nem tudo o que é muito referenciado merece essa mesma referência.

Portanto, e desculpem a longa introdução deste texto, mas, quando peguei neste livro para o ler, franzi a sobrancelha e disse para mim mesmo: “vamos lá ver o que é que este livro tem de tão especial”. Depois de finda a leitura, meus caros, não tenho pudores nenhuns em dar o braço a torcer, e dizer-vos que demorei poucas páginas a perceber o porquê de tanto alarido à volta de um livro! O Mundo Sem Fim é um livro especialmente bem feito, que merece ser lido, não pelos amantes da banda desenhada, apenas, mas por toda a gente. Deveria até ser adquirido massivamente pelas bibliotecas escolares deste país. Porque bandas desenhadas educativas, há muitas, como já referi. Mas O Mundo Sem Fim assume-se como uma proposta de qualidade superior nesse vasto mundo das bandas desenhadas que, para além de entreter, também permitem educar - e refletir.

Aquilo que aqui nos é proposto é uma reflexão sobre as alterações climáticas e os desafios sobre a necessidade energética da qual a vida humana carece. Dito assim, pode parecer um bocado insipiente, não? Pode soar como um sumário chato, talvez? Não se apoquentem: eu não tenho vinte avos da eloquência do autor. De uma forma simples de entender, mas com método e conhecimento, Jancovici vai ao cerne da questão, apresentando o passado recente que nos fez chegar ao mundo atual, em que a nossa vida é tão dependente da energia, e os desafios e obstáculos que a mesma levanta para a nossa existência futura. A nossa e a de todo o planeta. Com a quantidade enorme de energia necessária para fazer o nosso dia-a-dia avançar e com o crescente aquecimento global, como será a vida dos nossos filhos? Ou dos nossos netos? Ou dos filhos destes?

A "aula" de Jancovici é fenomenal. Aliás, dou este exemplo frequentemente e até não me espantaria se já não o tivesse dado aqui no Vinheta 2020 noutra ocasião: desde os meus tempos de estudante que percebi que um professor pode fazer com que tenhamos interesse em conhecer determinada matéria. E, infelizmente, também existe o contrário: há professores que, por muito boas que sejam as suas intenções, não conseguem fazer nascer o interesse dos seus alunos pelas matérias lecionadas. Aconteceu-me na disciplina de história, por exemplo. Tive professores que me fizeram adorar essa disciplina e tive professores que, lamentavelmente, fizeram com que todo o meu interesse no tema se esvaísse. Jancovici é um desses "professores" que nos fazem gostar dos temas que lecionam, que nos marcam para a vida, que nos contagiam com o seu pensamento racional, com os seus exemplos e paralelismos, com o seu humor, com a sua linguagem fácil e com o seu contagiante entusiasmo. Portanto, sim, em poucas páginas percebi que iria gostar deste livro.

Além de apresentar os problemas adjacentes à forma como vivemos, o autor também tenta desmistificar algumas verdades que temos como certas, com especial destaque para a energia nuclear que, bem vistas as coisas, até é das energias em que o custo/benefício tem uma melhor relação. Ao longo do livro cheguei a temer que o autor assumisse uma postura panfletária em relação à energia nuclear – que, como sabemos, prolifera em França – mas, sinceramente, não me parece que seja isso que o autor aqui faz. Até porque, no final, e isso é mais uma das coisas positivas do livro, o autor assume uma postura não radical em qualquer que seja a ação que toda esta reflexão pressupõe. Se calhar, virtus in medium, a virtude está no meio, como diria Aristóteles. E, como tal, em vez de reações extremistas, o mais provável, segundo Jancovici, é que precisemos alterar os comportamentos, de forma macro, sim, mas apenas pela metade.

Se Jancovici me conquistou com a sua racionalidade, factualidade e eloquência, Blain apenas confirmou o que já esperava: o seu traço livre, “cartoonesco” e pleno de dinâmica, encaixa que nem uma luva no estilo de livro que temos em mãos. O autor vai apresentando uma enorme panóplia de ferramentas gráficas diferentes, o que faz com que possamos estar diante de um desenho super simples, com fundo totalmente branco, numa página, e, na página seguinte, sermos surpreendidos por uma ilustração com belos detalhes e cores.

A somar a isto tudo, o autor também é especialmente experiente e bem sucedido com o desenho de personagens de feições exageradas, que dão o tom cómico e certo para as tiradas mais humorísticas ao longo do livro. Porque, sim, apesar de O Mundo Sem Fim ser um livro sério, que nos faz engolir em seco quando olhamos para a forma como estamos a explorar em demasia os recursos naturais do planeta, vai deixando espaço para momentos humorísticos, normalmente com recurso a situações exageradas, que possibilitam que a obra respire e alcance equilíbrio, não sendo demasiado séria e negativa, mas, mesmo assim, levando-se a sério, apesar do tom aparentemente leve.

Apesar do referido, admito que há algumas pranchas que, talvez pelo alto nível de informação técnica, apresentem algum excesso de informação, com o recurso mais a esquemas pictóricos, do que a ilustrações propriamente ditas. No entanto, isto não é muito frequente e, na maior parte das vezes, o livro acaba por funcionar muito bem em termos de desenho, também.

Quanto à edição da Ala dos Livros, estamos perante (mais) um belo trabalho. O livro apresenta capa dura brilhante, papel de primeira qualidade, e um bom trabalho a nível da encadernação e impressão. O livro inclui uma bela fita marcadora em tecido e um bom prefácio de Rui Cartaxo, professor do ISEG, que também é um especialista em banda desenhada e um amigo pessoal.

Sobre o Rui Cartaxo ou, melhor dizendo, sobre as suas palavras, permitam-me um breve comentário. Algures nas redes sociais, vi Rui Cartaxo a dizer que este O Mundo Sem Fim o impactava como Sapiens, de Harari, havia conseguido impactar. E achei curioso ter lido essas palavras de Rui Cartaxo porque, de facto, e mesmo antes disso, quando estava a ler este livro, várias vezes me veio à memória a adaptação de Sapiens para BD. Que também gostei muito! Sei que, possivelmente, Rui Cartaxo estaria a referir-se ao livro Sapiens original e não à sua adaptação para BD, mas, e ainda que assim fosse, foi uma afirmação com a qual concordo totalmente. Considero, pois, que ambos os livros são, muito provavelmente, os melhores álbuns de BD educativa publicados em Portugal. O discurso e a forma como ambas as obras estão arquitetadas são verdadeiramente impactantes. E, devido ao contributo de Blain, até me vejo forçado a considerar que, pelo menos em termos de ilustrações, O Mundo Sem Fim consegue superar Sapiens - Novela Gráfica.

Em suma, e voltando ao início do meu texto, O Mundo Sem Fim entrega tudo o que promete. E mesmo sendo verdade que eu não estava propriamente entusiasmado com o livro antes de o ler, tenho que dizer que o mesmo me conquistou da primeira à última página, numa leitura viciante. Está explicado o sucesso do livro. E é bem merecido!


NOTA FINAL (1/10):
9.3



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica
O Mundo Sem Fim
Autores: Jean-Marc Jancovici e Christophe Blain
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 196, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Fevereiro de 2024

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

BD mais vendida de 2022 em França é lançada em Portugal!


A Ala dos Livros prepara-se para nos fazer chegar o seu primeiro lançamento do ano!

Falo de O Mundo Sem Fim, da autoria de Jean-Marc Jancovici e Christophe Blain (autor de obras como Gus, Donjon ou Isaac, O Pirata) que se transformou num autêntico bestseller no mercado francófono.

Em 2022, este livro vendeu mais de 1 milhão de exmplares em França, tornando-se na obra mais vendida de todos os géneros nesse país. Um feito verdadeiramente notável.

Como tal, confesso estar muito curioso em mergulhar nesta leitura.

Este lançamento deverá chegar às livrarias entre esta e a próxima semana, encontrando-se desde já em pré-venda no site da editora.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


O Mundo Sem Fim, de Jean-Marc Jancovici e Christophe Blain

“Qual o custo energético e ambiental de mantermos o nosso padrão de vida?”

Com mais de 2 anos de tempo de produção, é uma reflexão sobre as alterações climáticas, as questões energéticas e o limite físico do crescimento mundial.
Para fazer face a este tema, por vezes incómodo, o conceituado autor de banda desenhada Christophe Blain e o renomado especialista em questões energéticas e alterações climáticas Jean-Marc Jancovici, unem esforços para nos apresentarem, de uma forma concisa, clara e divertida, uma reflexão sobre o desafio com que nos deparamos e as suas repercussões ecológicas, económicas e sociais. Publicado no final do ano de 2021 em França, foi o livro mais vendido de todos os géneros em 2022, atingindo actualmente mais de 1 milhão de exemplares vendidos em França. Está, entretanto, publicado em vários países.

Uma abordagem científica, rigorosa e precisa, apoiada numa argumentação densa e documentada.

É agora publicado também em Portugal, pela Ala dos Livros, numa edição que inclui ainda um prefácio da autoria de Rui Cartaxo, Professor de Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão.


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Ficha técnica
O Mundo Sem Fim
Autores: Jean-Marc Jancovici e Christophe Blain
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 196, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 35,00 €

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Análise: Gus #1 - Nathalie

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva


Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva
Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain

Não me lembro de um ano em que, em Portugal, se tenha lançado tanta banda desenhada de estilo western. Não digo isto nem demonstrando desilusão, nem demonstrando contentamento. Gosto de praticamente todos os estilos de banda desenhada e o western, logicamente, também é sempre bem-vindo para os meus gostos. Portanto, se faço este comentário é mais porque (ainda) estou surpreendido com a enorme quantidade de westerns que, ainda sem sequer termos chegado a meio de 2021, já tivemos. Assim, de cabeça, lembro-me que a Ala dos Livros editou Undertaker #2, a Arte de Autor editou Duke #5, A Seita editou Procura-se Lucky Luke e Tex – A Chicotada e a Gradiva editou o fantástico O Último Homem..., para além deste Gus. Mas Gus, convém dizer, é bastante diferente das mencionadas propostas.

Mais do que um western, Gus é uma banda desenhada de humor. Limita-se apenas a utilizar o estilo do faroeste como âncora cénica. Porque as histórias que nos são contadas poderiam perfeitamente utilizar qualquer outro cenário e qualquer outro espaço temporal. Ou não fossem estas histórias sobre romances entre os intervenientes, sobre a busca por uma alma-gémea. Algo que nós, humanidade, já fazemos desde os primórdios da nossa existência. Claro que as histórias teriam que ocorrer em algum lugar e em algum tempo e o autor desta banda desenhada, Christophe Blain, optou por ambientar as histórias de Gus no tempo dos cowboys.

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva
E embora Gus dê título a esta série, que em França já soma 4 álbuns, esta banda desenhada não versa apenas sobre as aventuras amorosas do protagonista mas, também, sobre os companheiros deste, Clem e Grattan. O tema sempre presente é o amor, o engate, o desejo, a tentativa de sucesso destes três cowboys junto do sexo feminino, sempre em busca da mulher perfeita para o momento perfeito.

Mas, excetuando uma certa apetência para comportamentos adúlteros, não pensem que estes cowboys são garanhões e/ou brutamontes que desrespeitam as mulheres enquanto género, ou que se safam assim tão bem com elas. Pelo contrário, aquilo que esta divertida bd nos mostra é que estes homens - e, por ventura, todos os outros - são, de facto, muito parecidos entre si (perdoem-me a generelização) e que todos eles, de uma forma ou de outra, têm a mesmíssima dificuldade perante a vida: conseguirem compreender a Mulher. Os seus intentos, os seus gostos e as suas características inerentes. E, depois disso, conquistá-la, claro. Porque, enquanto os homens são, normalmente, seres mais básicos, simples e com comportamentos mais expetáveis, as mulheres são mais complexas, com mais camadas por conhecer e com comportamentos mais inesperados. Pelo menos aos olhos dos homens, entenda-se. Daí a dificuldade destes 3 cowboys em conquistarem as mulheres por quem, tão facilmente, se apaixonam.

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva
É claro que sendo estas histórias ambientadas no faroeste americano, há cenas de pancadaria, tiroteios, assaltos a bancos e perseguições de cavalo. Mas isso é apenas o mise-en-scène para que, depois, a história amorosa se possa desenrolar.

Este primeiro álbum é dividido em 5 histórias: Nathalie; Gus, Clem, Gratt; El Dorado; Linda McCormich; e Isabella. E em todos estes contos, o foco dos cowboys é conquistarem a(s) mulher(es) que procuram. O seu objetivo é sempre um "rabo de saias".

Mas em todas essas aventuras, as expetativas dos nossos heróis – especialmente as de Gus – saem divertidamente furadas. Estes não são os cowboys a que o género nos habituou: fortes, seguros, secos, rijos e sem sentimentos. Não! Estes cowboys são sentimentiais e inseguros como adolescentes e partilham entre si – e connosco – as suas mágoas perante os seus fracassos e as suas demandas em tentar anular isso e conquistarem as mulheres que procuram.

Gus e os seus amigos tão depressa são foras-da-lei, prontos a preparar o seu próprio assalto, como, numa das histórias, também são xerifes de uma cidade, o que traz, desde logo, uma piada subentendida por parte do autor. 

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva
Embora já conhecesse o autor e a série (de nome, apenas) não sabia muito bem o que esperar de Gus. E devo admitir que a leitura das primeiras duas histórias me fez sorrir levemente, sem que ficasse maravilhado. Porém, isso rapidamente mudou após a leitura da terceira história, El Dorado. Esta história é tão boa, tão divertida e tão bem trabalhada por Blain, que merecia um filme de cinema só para si. Esqueçam o filme A Ressaca! Esta viagem dos três cowboys a uma terra onde as mulheres são mais libertinas é genial da primeira à última vinheta.

Portanto, mesmo que no início da leitura eu não tenha ficado logo maravilhado com a leitura de Gus, tenho que admitir que, no final do livro, eu já era fã da série. É necessária uma acostumação a este tipo de humor de situação mas, depois, começamos a identificarmo-nos com as fraquezas destas personagens. Gostei particularmente de como Gus, o mais gabarola, acaba por ser sempre aquele que nunca se safa com nenhuma rapariga. Todos nós temos esse amigo, certo?

Como é um western humorístico, é natural que sejam feitas comparações com Lucky Luke de Morris. No entanto, não me parece que estas duas bandas desenhadas tenham muitas mais parecenças ou pontos em comum, além desses: o de se passarem no faroeste e o de serem do subgénero do humor. Porque enquanto a série Lucky Luke associa alguns factos históricos a contos divertidos, sabendo satirizar o faroeste, Gus limita-se a ser um conjunto de histórias divertidas ambientadas no faroeste. Não é uma leitura que me tenha arrancado gargalhadas hilariantes mas, seguramente, deixou-me divertido, com um sorrisinho interior, à medida que a ia lendo. Acaba por ser uma leitura fácil mas que vicia e nos faz ler o livro muito rapidamente.

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva
Relativamente à arte ilustrativa que nos é dada, Blain oferece-nos um estilo bastante "cartoonizado", com linhas bastante rabiscadas e reduzidas ao essencial, mas que sabem dotar a série de personagens expressivos e inesquecíveis. Em termos de cenários é bastante pobre, reconheço, com vários fundos completamente a branco, mas sendo uma banda desenhada humorística, mais focada naquilo que é dito do que naquilo que é demonstrado através do desenho, não achei que fizesse falta um maior detalhe nas ilustrações. 

Quanto ao desenho das personagens, sendo simplista e até infantil, acaba por ter uma personalidade muito própria que está, a meu ver, muito em sintonia com o tom e ambiente leve e divertido de Gus. Não era necessário que a personagem de Gus tivesse um nariz tão grande. Mas lá que fica com um aspeto muito mais cómico, lá isso fica. Portanto, acho que o desenho, sendo simples, encaixa bem na história que nos é dada. E não esqueçamos que Blain também consegue com extrema simplicidade desenhar poses de forma engraçada, demonstrando que domina muito bem a linguagem corporal das personagens, de modo a conseguir trazer mais humor para acompanhar o texto.

A planificação é quase sempre igual (com 8 vinhetas quadradas por prancha) e as cores também são muito simples, de uma enorme solidez e linearidade. No entanto, um destaque positivo para a forma como as cores e luzes são introduzidas, de forma a permitirem uma certa sensação de conforto nas ilustrações.

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva
Acho que Gus, em conjunto com O Último Homem..., que, até agora, são as únicas obras de bd que a Gradiva lançou em 2021, parecem demonstrar um novo caminho, uma nova direção e uma nova abordagem em relação à banda desenhada, por parte da editora portuguesa. Para melhor, diga-se. Não é que as séries de cariz histórico-didático lançadas em tempos recentes (A Sabedoria dos Mitos, Descobridores ou Eles Fizeram História) não tenham sido interessantes ou não tenham tido bons momentos de bd, mas parece-me que a Gradiva passou a jogar "cartadas" mais altas em termos de boa banda desenhada, pois a editora parece estar a querer apostar em bd com maior qualidade. E isso é algo que aplaudo, obviamente. Se com O Último Homem... a editora já tem um dos títulos mais fortes de banda desenhada lançados em 2021 até agora, com Gus, a editora abre a porta a um humor subtil e refinado, impregnado de qualidade e personalidade, que a edição de banda desenhada em Portugal também merece. Parabéns, Gradiva!

A edição apresenta uma boa encadernação, com capa dura brilhante e um bom papel a acompanhá-la. Como nota menos positiva, pareceu-me que o trabalho de legendagem nem sempre estava bem conseguido, havendo várias legendas onde as palavras e letras foram alargadas ou diminuídas para melhor caberem num balão. Não é nada que tenha estragado o prazer da minha leitura mas é algo que considero que merece nota.

Em suma, Gus assume-se como indispensável para os amantes do género do humor na banda desenhada. Esperem bons momentos, boas personagens e uma clara avaliação de como os homens são semelhantes na busca desenfreada - e muitas vezes cheia de esquemas e trapaças - para conseguirem alcançar a mulher dos seus sonhos.


NOTA FINAL (1/10):
8.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain - Gradiva

Ficha técnica
Gus #1 - Nathalie
Autor: Christophe Blain
Editora: Gradiva
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Abril de 2021

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Lançamento: Gus #1 - Nathalie



Porque 2021 é claramente o ano dos westerns, no que ao lançamento de banda desenhada em Portugal diz respeito, já se encontra nas lojas a nova aposta da editora Gradiva: Gus, da autoria de Christophe Blain!

Mesmo assim, este é um western de estilo e forma bem diferente em relação às outras propostas que têm chegado ao nosso país.

Fiquem, abaixo, com a sinopse da obra e imagens promocionais.

Gus #1 - Nathalie, de Christophe Blain

Em Gus, Christophe Blain conduz o leitor numa viagem pelo faroeste profundo assistindo às suas lutas, frequentando os seus saloons, ouvindo os tiros dos revólveres, acompanhando os seus xerifes, mas fazendo-o ao jeito de um filme de Bacri-Jaoui ou de Woody Allen. 

Através de histórias quotidianas, Chistophe Blain retrata em cada volume todo este ambiente tendo como fio condutor as peripécias amorosas de Gus. 

Pequenos mal-entendidos e o dia-a-dia de um cowboy contados com um humor irresistível, são o ingrediente quimérico que faz de Gus uma autêntica surpresa editorial. 

Christophe Blain realiza, assim, com Gus um dos seus grandes sonhos – imaginar um faroeste à sua maneira.

«Com esta publicação de Gus, de Christophe Blain, a Gradiva retoma, destacando-se da atual enchente de publicações comerciais e menores, uma ligação contemporânea com o melhor que a BD franco-belga tem para oferecer ao nosso público mais exigente. Verdadeiro sucessor do in­comparável Lucky Luke, Gus constitui a melhor homenagem possível ao génio gráfico de Morris. 
Sarcasmo, humor negro e poesia, em desenho de inexcedível elegância, recriado no respeito pela identidade, pela originalidade e pela herança criativa do grande mestre. Gus terá lugar cativo em qualquer colecção criteriosa de banda desenhada, agora na nossa língua. Retomamos, com a sua publicação, a nossa relação antiga, culta e exigente com as mais refinadas expressões da banda desenhada europeia. Obrigado, Gradiva.»
Do Prefácio de Sérgio Sousa Pinto

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Ficha técnica
Gus #1 - Nathalie
Autor: Christophe Blain
Editora: Gradiva
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,50€