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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Análise: Lucky Luke Muda de Sela




Lucky Luke Muda de Sela, de Mawil

Se, tal como eu, ficaram céticos quanto a um livro que subverte algumas coisas no clássico Lucky Luke, apresentando o cowboy mais famoso do mundo a deslocar-se numa bicicleta, em vez de no seu célebre e fiel cavalo Jolly Jumper, devo dizer que não há razões para alarme! Não é o Lucky Luke típico – desenganem-se os que acham ou esperam que seja – mas é uma bonita, sentida e, acima de tudo, divertidíssima homenagem a essa figura inesquecível da banda desenhada - e até mesmo da cultura popular -, que é Lucky Luke. Portanto, ponham de lado o ceticismo pois este é um livro que não vão querer deixar de ler!

Mawil, autor alemão que julgo ser inédito em Portugal, mergulhou bem fundo, nas profundezas da sua memória, para aí encontrar as características singulares que fizeram desta série incontornável da banda desenhada franco-belga, aquilo que ela é. E essas características, e de forma muito sucinta, são estas: 1) Lucky Luke é um cowboy solitário; 2) que dispara mais depressa do que a própria sombra; 3) que se mete em diversas aventuras mirabolantes; 4) mas com uma narrativa que sempre se apoia em factos reais. Isto é, há sempre algo histórico, algo real em que a série se baseia para narrar as suas histórias. 5) Por último, todos os livros têm uma vertente muito divertida, com personagens carismáticas e cómicas que ficam célebres junto dos leitores.

Agarrando nestas 5 características, Mawil soube (re)criar um excelente álbum de Lucky Luke, que assenta bem nas tais características nucleares que apontei. Senão vejamos: em Lucky Luke Muda de Sela, 1) o cowboy tem uma aventura bastante solitária em grande parte do livro; 2) são-nos mostradas situações em que relembramos porque é que Luke é o cowboy mais ágil e rápido com a sua pistola; 3) somos introduzidos numa aventura muito louca que atravessa os Estados Unidos da América (ainda por cima, com o protagonista montado numa bicicleta); 4) não esquecendo de introduzir os factos reais na história, ao nível do desenvolvimento das bicicletas, bem como, utilizando duas personagens reais. Finalmente, 5) as novas personagens que aparecem nesta história, são divertidíssimas e bem carismáticas. Et voilà, temos os ingredientes certos para uma boa história de Lucky Luke

Nesta aventura, conhecemos o inventor Albert Overman que acaba de inventar uma nova bicicleta, muito diferente das que existiam então – que tinham uma grande roda à frente e outra, bem pequena, atrás – e que decide rumar até São Francisco, onde se realizava a maior corrida de bicicletas de todos os tempos. Com a sua nova bicicleta, que passa a usar uma corrente ente pedais e roda traseira, Overman acredita ter uma invenção que irá mudar para sempre a forma como a sociedade utiliza estes veículos de duas rodas. Eventualmente, o inventor conhece Lucky Luke, que o decide ajudar na sua demanda, mas que, invariavelmente, acaba metido numa grande confusão. Quando dá por ele, o cowboy solitário encontra-se a atravessar a América montado numa bicicleta(!). Se a ideia parece um pouco sem sentido, tendo em conta que, afinal de contas, se trata de um western, devo dizer que Mawil soube arquitetar muito bem o argumento de forma a que, mesmo parecendo absurdo, o leitor aceite e acabe por mergulhar com gosto na história. 

E o grande trunfo desta obra é, sem dúvida, a forma divertida como nos é contada. São inúmeras as situações engraçadas em que Lucky Luke se irá meter e estou certo que muitas delas arrancarão uma boa dose de risadas a muitos leitores. Não esquecendo também a introdução do Sr. Smith e a Sra. Wesson, que são dois vilões hilariantes, que certamente não serão esquecidos por quem ler este livro. 

Para além de ser divertida, esta história também está bem ritmada, havendo espaço para que muita coisa aconteça. Desde uma viagem atribulada no comboio, a um encontro de Lucky Luke quase fatal com uma tribo de índios, a uma acidentada viagem de bicicleta pelo meio do deserto (e respetivas impossibilidades que isso acarreta), ou a própria corrida de bicicletas que sucede num espaço totalmente urbanizado como a cidade de São Francisco, tudo isso oferece ao álbum um certo dinamismo, que faz com que o livro possa ser lido de um só trago, pois não há espaço para repetições. A leitura é escorreita e fácil. 

Em termos de argumento, a única coisa que me pareceu não tão bem conseguida é que a personalidade deste Lucky Luke me pareceu algo descaracterizada. E não o digo pelo aspeto visual da personagem. Digo-o porque o achei um pouco mais "desmiolado", mais perdido, menos hábil e menos "senhor da situação", como normalmente costuma ser. Claro que a introdução de uma bicicleta, que era um objeto que, naquele tempo, parecia vindo de um outro planeta, pode justificar a reação algo insegura de Lucky Luke. Mas, mesmo assim, acho que o autor talvez pudesse ter introduzido algumas características clássicas do comportamento da personagem pois a verdade é que esta história continuaria a funcionar exatamente da mesma forma se, em vez de Lucky Luke, tivéssemos um qualquer outro cowboy inventado por Mawil.

Quanto à arte ilustrativa, penso que há um caminho certo e errado para conseguir aproveitar da melhor forma o trabalho de Mawil. Se olharmos para estes desenhos, comparando-os automaticamente com o trabalho de Morris, a desilusão é quase um dado adquirido. No entanto, se olharmos para esta arte, tendo em conta de que se trata de uma hommage ao Lucky Luke original, então aí, certamente, conseguiremos aproveitar e bem-dizer a forma como o autor alemão soube recriar estas personagens. Esta é, aliás, uma regra base para que os leitores consigam mergulhar verdadeiramente neste tipo de obras, que procuram prestar homenagens aos autores e/ou personagens originais. Este não é o Lucky Luke de Morris. Este é o Lucky Luke de Mawil que, é verdade, presta uma justa e bem conseguida homenagem ao herói original. Mas cabe ao leitor saber abrir a sua cabeça, para melhor aproveitar novas abordagens em séries clássicas.


As ilustrações de Mawil são extremamente cartoonizadas, com um estilo naïf e simplista no traço, e com as caras das personagens e dos cavalos a parecerem, por vezes, desenhadas por crianças. A forma algo arcaica como desenha as caras, bem "abonecadas", das personagens remete-me também para um estilo de desenhos animados que hoje em dia, passa muito na televisão. No entanto, é igualmente de salientar que na caracterização de algumas paisagens, Mawil revela ter uma boa capacidade ilustrativa que ajuda a obra a "respirar" melhor, para que não sejam (só) as personagens a monopolizar as vinhetas desta banda desenhada. 

Esta edição portuguesa – que faz o feito mais do que respeitável de anteceder a própria publicação da obra no mercado franco-belga! - está um autêntico mimo e segue aquilo que A Seita já nos deu, com o anterior O Homem que Matou Lucky Luke. Boa encadernação, com papel baço de primeira qualidade (que até cheira bem!) e que atribui o charme adequado à obra. E a capa dura baça também funciona muito bem. Um detalhe que merece nota é a lombada, por ter recebido da editora portuguesa o cuidado de ser igual à edição d’ O Homem que Matou Lucky Luke, o que será uma mais valia extra para os que compraram esse volume. Agora, juntando esse primeiro álbum a este Lucky Luke Muda de Sela, esses leitores poderão colocar ambos os livros, lado a lado, na estante, para um bom efeito visual.
A obra tem ainda uma capa alternativa que é exclusiva para a FNAC e que está, para o meu gosto, espetacular. Finalmente, há ainda um caderno de extras no final do livro onde vemos o processo de conceção da capa e de algumas pranchas e personagens. Se sou o primeiro a apontar problemas no design dos livros ou na qualidade da edição de certas obras de bd, também sou o primeiro a enaltecer as editoras e autores, quando fazem um magnífico trabalho. Como é o caso. Faço ainda um destaque para a tradução que me pareceu muito feliz, com a utilização de algumas expressões bem portuguesas, que tornam a história mais "nossa" sem, naturalmente, corromper ou alterar o texto original.

Capa da edição exclusiva da FNAC

Em conclusão, este é um livro adequado para miúdos e jovens mas que também vai agradar a muitos adultos, pela oportunidade de mergulhar num universo western tão querido e amado por tantos amantes de banda desenhada. Lucky Luke Muda de Sela é muitíssimo divertido, funciona extremamente bem e é uma agradável surpresa. Todos os fãs do cowboy mais célebre da banda desenhada deverão dar-lhe uma oportunidade. Há fortes probabilidades de não se arrependerem!


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Ficha técnica
Lucky Luke muda de Sela
Autor: Mawil
Editora: A Seita
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2020

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Lançamento: Lucky Luke muda de Sela





Esta semana chega às livrarias a próxima aposta da editora A Seita. Trata-se de Lucky Luke muda de Sela, do autor Mawil, que é o segundo volume da coleção "Lucky Luke visto por...", de
homenagens ao cowboy criado por Morris.

Note-se que o livro teve um grande sucesso na Alemanha e que ainda é inédito em França, estando o lançamento nesse país agendado apenas para o final do próximo ano.

A edição portuguesa corresponderá à edição de luxo alemã, com um caderno de extras e, à semelhança do que foi feito no aclamado O Homem que Matou Lucky Luke, já analisado no Vinheta 2020Lucky Luke muda de Sela estará disponível em duas capas diferentes, sendo que uma delas será exclusiva para a FNAC, e também numa edição limitada que incluirá um ex-libris assinado pelo autor, para as vendas feitas diretamente à editora, através do canal online.

Fiquem com a nota da editora e com as respetivas imagens promocionais.



Lucky Luke muda de Sela, de Mawil

“Mas... que raio... de invenção maluca é esta?”

Como sempre, Lucky Luke não conseguiu impedir-se de ajudar o inventor Albert Overman num momento de aflição, e ser o herói que conhecemos tão bem. E, de repente, vê-se montado num improvável burro-de-ferro, a atravessar a América do Grande Oeste com o seu novo veículo, e vai ter de se haver com bandidos sem escrúpulos, matarruanos desmiolados, e mesmo nativos desconfiados, na sua viagem em direcção a São Francisco e à maior corrida de bicicletas de todos os tempos. E, claro, tem de se haver também com um Jolly Jumper nada contente de ver o nosso cowboy mudar de sela... O alemão Mawil, igualmente fã de Lucky Luke e de bicicletas, assina este segundo volume da colecção dedicada a homenagens ao cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra.


Depois de O Homem que Matou Lucky Luke, de Matthieu Bonhomme, A Seita continua a sua colecção Lucky Luke visto por... – dedicada às homenagens ao cowboy solitário criado por Morris - com o magnífico álbum do aclamado autor de banda desenhada alemão Mawil, numa edição que conta com duas capas diferentes, uma delas exclusiva das lojas FNAC, e um extenso caderno de extras sobre o desenvolvimento do álbum. Este álbum ainda não foi editado em França (está previsto para finais de 2021), e esta edição é a primeira edição em papel numa língua que não o original alemão (existe uma edição em formato digital em língua inglesa na Europe Comics).

Haverá também uma edição especial de 200 exemplares, que vem acompanhada por um ex-libris, numerado e assinado por Mawil, que será vendida exclusivamente online e poderá ser encomendada através das redes sociais d’A Seita.


“O leitor poderá dizer: este é um Lucky Luke bastante clássico, com os seus clichés e os seus momentos absurdos, combinados numa história cheia de piadas. Mas a implementação é do mais puro Mawil: sem concessões ao estilo de Morris, mantendo o seu próprio estilo, numa acção constante e arrepiante... e divertida.”
Bela Sobottke - Der Tagesspiegel

Ficha técnica
Lucky Luke muda de Sela
Autor: Mawil
Editora: A Seita
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,95€

quinta-feira, 2 de julho de 2020

À Conversa Com: A Seita



Hoje no À Conversa Com: volto a dar a palavra a José Hartvig de Freitas. Mas, desta vez, para falar da Editora A Seita, da qual é um dos responsáveis.

Desta feita, em mais uma interessante conversa, o Editor convida os leitores a conhecerem um pouco melhor o processo de funcionamento d'A Seita, enquanto admite que alguns dos planos para 2020, no que ao lançamento de obras diz respeito, tiveram que ser alterados.

Mas há boas notícias, também! Em 2020, a editora ainda deverá lançar Lucky Luke Muda de Sela, do autor alemão Mawil. A edição de livros da Bonelli deverá continuar e certamente será lançado um livro de um autor português.

Mas a grande revelação é esta: A Seita tem planeado o lançamento, por alturas da época do Halloween, de Dracula de Bram Stoker, feita por Georges Bess! 

Abaixo, encontram a entrevista:

1. Como tem A Seita superado os constrangimentos sofridos com a pandemia de Covid-19? Quais têm sido as maiores dificuldades e que estratégia tem a Editora adotado?
A Seita tem uma estrutura de funcionamento diferente da de muitas outras editoras, em que cada membro ou cooperante (ou grupo de cooperantes) se responsabiliza pelos seus projectos. Ou seja, cada grupo ou membro tomou decisões sobre como continuaria ou não a funcionar. No geral, podemos dizer que tivemos algum mau timing, com o lançamento de dois volumes de Dylan Dog [Dylan Dog: O Imenso AdeusDylan Dog: Após um Longo Silêncio] e do livro do Lucky Luke [O Homem que matou Lucky Luke] em pleno período da pandemia. Os resultados foram obviamente menos bons do que pensávamos, mas no geral, e dada a estrutura fixa muito leve que temos, não houve constrangimentos específicos durante este período.

2. Apesar das dificuldades, a Editora lançou já em pleno surto de Covid-19 bastante banda desenhada, como O Homem que matou Lucky Luke; Dylan Dog: O Imenso Adeus; ou Dylan Dog: Após um Longo Silêncio. Podemos por isto concluir que A Seita conseguiu manter o seu plano de lançamentos de banda desenhada para o primeiro semestre de 2020? Ou alguns títulos/séries tiveram que ser descartados ou adiados?
Obviamente estes títulos já estavam planeados antes da pandemia, e inclusive foram apresentados ao público no Coimbra BD antes da pandemia ter tido os seus principais efeitos. No Coimbra BD, por exemplo, tínhamos agendada a presença de um autor italiano, que à última da hora desistiu de vir, e ainda bem, se tivesse vindo não teria conseguido regressar a Milão, já que poucos dias depois do Coimbra BD os voos foram suspensos entre Portugal e a Itália.

Os livros mencionados na pergunta estavam impressos, e portanto foi mais uma questão de decidir se e quando os distribuir. De notar que houve decisões tomadas de inserção em catálogos e promoções (da FNAC) que tiveram de ser assumidas, e que foram depois adiadas pela própria FNAC para Junho e Julho, pelo que de certa maneira, se manteve um programa de lançamento sólido.

Mas é verdade que quanto a outros lançamentos, foi tomada a decisão de adiar lançamentos para 2021, nomeadamente em livros de autores portugueses. Mais que isso, a pandemia também influiu no planeamento dos lançamentos devido às incógnitas que planam sobre o festival da Amadora BD, por exemplo haver ou não festival, e em que moldes ele terá lugar, é algo que poderá ter um impacto nos nossos planos. Um livro lançado com uma exposição no FIBDA e a presença do autor tem um impacto muito maior, e caso isso não seja possível, talvez tenhamos de repensar algumas datas e empurrar alguns títulos para o início de 2021 (isto é ainda mais verdade no caso de livros de autores portugueses).

[Nota do Vinheta 2020: à data em que esta entrevista foi feita, ainda não havia confirmação oficial do cancelamento do Festival de Banda Desenhada da Amadora]

3. Quais são os novos lançamentos que os leitores de banda desenhada poderão esperar no segundo semestre de 2020? Alguma novidade em termos de banda desenhada nacional?
Como já anteriormente tínhamos anunciado, teremos um segundo volume de Lucky Luke, do alemão Mawil, uma homenagem num espírito humorístico e divertido, e extremamente original (Lucky Luke Muda de Sela), que é um livro inédito até em França, que terá a sua primeira edição física noutra língua no nosso país. Estamos em negociações com o autor e com a Dargaud para a implementação de uma versão exclusiva do livro, inclusão de extras, e vinda do artista a Portugal, esperamos mais notícias em breve. Iremos certamente editar pelo menos um, senão dois, livros de autores portugueses, mas ainda estamos a decidir timings e ordem de lançamentos. E claro, queremos prosseguir na nossa edição de livros da Bonelli.

4. Há alguma série ou livro que possa ter ficado para o próximo ano, devido ao estado pandémico que atingiu Portugal?
Como podem intuir pelas respostas acima, há uma série de títulos que tínhamos pensado para este ano e que serão provavelmente adiados para inícios de 2021.

5. Por último, há alguma série surpresa que ponderem lançar ainda este ano e que queiram dar a conhecer, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, através desta entrevista?
Podemos anunciar em exclusivo que iremos editar, provavelmente com data de lançamento próxima do Halloween, uma adaptação espectacular do Drácula de Bram Stoker pelo grande artista francês Georges Bess, um livro maravilhoso a preto e branco e em grande formato, que será certamente um dos grandes lançamentos do ano no nosso país.