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quinta-feira, 27 de julho de 2023

Análise: O Acordo


O Acordo, de Carlos Páscoa

Depois de, em 2021, a Escorpião Azul ter lançado a obra Vazio, de Carlos Páscoa, que acabou por ser muito bem recebida - e tendo até vencido o VINHETA D’OURO para Obra Revelação desse ano -, eis que a editora portuguesa publicou mais uma nova obra do autor. Desta feira, a Escorpião Azul traz-nos O Acordo, que foi lançado no passado Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.

Se Vazio e O Acordo são livros lançados com pouco espaçamento temporal entre si, contando até com as mesmas personagens como protagonistas, há que dizer que há algumas diferenças substanciais entre ambas as obras.

Começa logo pelo formato que, no caso de O Acordo, utiliza o formato horizontal (italiano). Mas também ao nível de narrativa, há várias diferenças entre as duas obras. Se Vazio tem intuitos quase poéticos que muito apreciei, é inegável que a narrativa de O Acordo está mais bem tecida, de forma global. É uma obra mais down to earth.

Em termos de história, continuamos a acompanhar as personagens de Eric e Melina não havendo, porém, nenhuma ligação direta óbvia aos eventos de Vazio. O que quer dizer que, quer um livro, quer outro, pode ser lido de forma isolada. O universo de fantasia mantém-se, mas, ao contrário de Vazio que mesmo tendo passagens muito bonitas parecia mais uma divagação poética, em O Acordo Carlos Páscoa oferece-nos uma história com uma estrutura mais clássica na forma. Um conto com princípio, meio e fim.

Tudo começa quando uma horda de criaturas desconhecidas e, aparentemente, famintas da raça humana, começa a chegar a uma localidade, destruindo tudo à sua passagem. O que faz com que as populações locais abandonem casas e tentem fugir desta carnificina, da melhor forma que conseguem. E é neste ponto de situação, que vemos um pai completamente desesperado a suplicar a uma deusa que lhe traga o seu filho desaparecido. Eventualmente, e depois de um plot twist divertido/chocante, acaba por ser Melina a guardiã da pequena criança. Isto é o mote para uma aventura que, a partir deste ponto, arranca com Eric e Melina a tentarem cuidar de um bebé que não é deles. Mas a vida de uma criança é sempre um motivo de esperança para uma mudança (para melhor?) no mundo. E, no caso concreto, o mundo parece estar perdido. Portanto, os dois protagonistas tudo farão para assegurar que o bebé está a salvo. Mesmo que tenham que colocar a sua própria existência em causa.

Depois de encontrarem abrigo, aparece uma personagem – um velho solitário – que, com o seu carisma especial, dá profundidade à trama e à narrativa. Posso dizer que achei uma personagem muito boa, daquelas que tendem a ficar na nossa memória já depois de terminada a leitura. Depois deste muito interessante encontro, Eric procura um meio e um fim para a criança que protege numa localidade próxima, mas, infelizmente, volta a encontrar as forças do mal.

E é então que, depois de confrontos agitados, Carlos Páscoa coloca de forma algo abrupta um final a esta história. Mais do que achar que seriam necessárias mais páginas para fechar melhor a narrativa, eu considero que a história é constituída por vários acontecimentos que parecem algo aleatórios entre si. É claro que há um fio condutor que encaixa as várias peças, mas parece que esse fio é demasiado ténue, deixando no ar a ideia de que Carlos Páscoa não tinha muito presente para onde queria levar a sua história e que se foi deixando levar ao “sabor da maré”. Se nada de mal há nessa postura, acredito que se a história tivesse sido melhor estruturada, poderia ser mais impactante.

Apesar do que acabo de escrever, este O Acordo representa uma melhoria em relação a Vazio, pois, mesmo não sendo perfeito, já tem uma história menos aleatória, composta por bons diálogos, com uma excelente personagem secundária e que nos faz torcer pela nossa dupla de heróis. É verdade que a narrativa começa um pouco aos solavancos, demorando a arrancar verdadeiramente e, também no seu fim, a obra parece algo apressada e insuficientemente explanada, mas é no meio que está o verdadeiro néctar deste breve conto. Há boas ideias, aqui e ali, que me levam a crer que o autor ainda tem potencial para fazer uma melhor obra no futuro, mesmo que este O Acordo já seja um livro bastante bem conseguido.

Quanto à ilustração, Carlos Páscoa volta a demonstrar que é um autor com grande capacidade, técnica e inspiração. O seu traço semi-caricatural, a preto e branco, sabe dotar a obra de desenhos onde as personagens são expressivas. Refira-se ainda que a maneira como o autor planifica a obra, é bastante audaz e dá uma ótima sensação de urgência à trama. Facto esse que parece ser ainda melhor explorado neste formato italiano.

No desenho das cenas de ação e da própria força maléfica, não considero que o autor tenha conseguido um trabalho tão aliciante, mas, reitero que não deixa de ser muito capaz, moderno e dinâmico aquilo que Carlos Páscoa consegue fazer em termos de ilustrações. E mesmo que não existam desenhos tão eloquentes como os de Vazio, com aquele fantástico mar revolto que me conquistou totalmente, O Acordo é uma obra bastante bela em termos visuais e onde me parece existir um maior equilíbrio.

Aprecio especialmente o domínio do autor na técnica a preto e branco e das potencialidades da mesma, ao nível da luz e do espaço negativo.

Quanto à edição, o livro tem, como já referi, formato horizontal. A capa é mole, o papel é de qualidade aceitável e a encadernação e impressão são bem executadas. Nota muito positiva para a capa da obra que está muito bem conseguida. Quer ao nível do desenho, como ao nível da organização da informação e do sentimento que a mesma faz transparecer. Fantástica capa!

Em suma, se Vazio já nos havia mostrado o potencial de Carlos Páscoa, O Acordo continua a reiterar que o autor tem boas cartas para se afirmar ainda mais no espectro da banda desenhada nacional. Quem ainda não deu uma hipótese a Carlos Páscoa, não deveria perder mais tempo.


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
O Acordo
Autor: Carlos Páscoa
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 72, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 24 x 17 cm
Lançamento: Maio de 2023

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Escorpião Azul lança mais um livro de Carlos Páscoa!




A editora portuguesa Escorpião Azul lançou recentemente O Acordo, de Carlos Páscoa!

Na verdade, o livro até acabou por ser lançado no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.

É o regresso deste autor natural de Beja já com cartas dadas na banda desenhada, especialmente por ter vencido o VINHETA D'OURO 2021 para Obra Revelação da Banda Desenhada Nacional com o seu livro anterior, Vazio.

O que faz com que haja razões de sobra para estarmos atentos a este livro que se apresenta em formato horizontal (italiano).

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


O Acordo, de Carlos Páscoa

Uma horda imparável de criaturas desconhecidas está a descer das montanhas para o mar, destruindo tudo à sua passagem. Florestas, prados, campos e povoados, tudo está em risco, e as populações locais estão em fuga. 

No desespero, uns deixam tudo para trás, e outros tentam salvar quem podem. Outros ainda, recorrem a espíritos ancestrais para resolver as suas agruras, e outros aproveitam-se da desgraça alheia para proveito pessoal. 

O que está disposto a pagar um pai pela segurança do seu filho?


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Ficha técnica
O Acordo
Autor: Carlos Páscoa
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 72, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 24 x 17 cm
PVP: 14,00€

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Análise: Vazio

Vazio, de Carlos Páscoa - Escorpião Azul


Vazio, de Carlos Páscoa - Escorpião Azul
Vazio, de Carlos Páscoa

Vazio, de Carlos Páscoa, corresponde ao segundo lançamento da editora Escorpião Azul. A primeira obra havia sido Um Trovão no Caminho e Outras Histórias, de António Rocha, já aqui analisado, também.

É mais uma obra de um autor português. Carlos Páscoa, que já tem alguma experiência em colaborações em coletâneas de bd tem neste Vazio, a sua estreia em álbum completo, com uma só história. E, diga-se em abono da verdade, estamos perante um autor com enorme potencial. Nem todas as coisas correm bem nesta obra, mas o potencial do autor, quer no desenho, quer, até, no próprio argumento, é muito interessante. Mas já lá irei.

Esta é uma história que nos leva a um universo de fantasia e de paragens oníricas, mas sempre com uma clara e bem conseguida ponte com a realidade. No fundo, estamos perante uma alegoria para a nossa própria existência.

A personagem principal é Eric, um jovem rapaz que vive no meio de um deserto cinzento, vazio e árido, há tanto tempo que nem sabe como foi lá parar. No entanto, é visitado por uma personagem, Melina, que nos é apresentada como a alma-gémea de Eric. E é então que mergulhamos numa subnarrativa em que Melina nos conta uma aventura que vivenciou em pleno alto-mar e como um velho lobo do mar que conheceu, a fez refletir sobre a sua própria existência.

Vazio, de Carlos Páscoa - Escorpião Azul
Dizer muito mais sobre esta história pode ser traiçoeiro para desvendar algo desnecessário para os meus leitores e, portanto, ficar-me-ei por aqui. Mas, não querendo desvendar mais do que o desejável, acho que é óbvio que os intuitos do autor são bastante nobres na história que projetou. E isto porque me parece que há aqui uma tentativa de trazer à tona de água (literalmente) uma luz de esperança para todos aqueles que se encontram num beco sem saída ao longo da sua vida. Onde a magia das pequenas coisas parece estar a findar, onde o dia-a-dia (já) não é mais do que a repetição do dia anterior e onde o espaço para a reinvenção, para a criação e para a imaginação é cada vez mais curto, deixando a nossa vida cinzenta. Sem cor. E sem alegria de viver.

O tom existencialista da obra começa até logo na nota introdutória de Carlos Páscoa. O autor passou por uma fase menos positiva na sua vida, pelas razões que o mesmo enumera, e isso reflete-se inequivocamente na obra que nos oferece. Como se a mesma fosse um exercício pessoal para que o autor encontrasse a tal luz, a tal magia, a tal criatividade que procurava. Como se Eric fosse Carlos Páscoa e como se Melina fosse um Carlos Páscoa mais jovial, mais antigo, menos desencantado.

No entanto, propositadamente ou não, a personagem de Melina até parece resolver bem o problema que Eric experiencia. Dá-nos boas razões e permite-nos facilmente perceber qual é o caminho certo para um desfecho feliz. No entanto, há aqui uma dicotomia porque esta não é necessariamente uma obra feliz. Provavelmente – se a minha interpretação foi a correta – até é uma obra que nos deixa com um sentimento agridoce. É-nos mostrado o caminho certo. Mas será que estamos prontos ou capazes de o seguir? Será que, uma vez perdida a alegria de viver e de nos recriarmos, é impossível voltarmos atrás? São perguntas que, pertinentemente, o autor deixa no ar.

Eric, o protagonista, discursa diretamente para o leitor o que, a meu ver, foi uma boa opção narrativa já que facilmente criamos uma relação com a personagem. E, como estamos a falar de um tema tão aberto a mil abordagens possíveis como é o da imaginação, o autor foi feliz ao recriar um universo do foro fantástico, onde há criaturas mitológicas e magníficas cenas de ação num mar bem revolto.

Em termos de ilustração, há muito potencial neste autor. Fiquei bastante agradado com o seu traço, que me parece bastante dinâmico, moderno e seguro de si mesmo. As suas ilustrações a preto e branco são quase sempre muito bonitas, com personagens marcantes – especialmente o velho lobo do mar e Melina – e que são portadoras de um bom naipe de emoções, muito bem representadas por Carlos Páscoa.

Vazio, de Carlos Páscoa - Escorpião Azul
Um destaque grande tem também que ser dado às fantásticas representações do mar revolto e da chuva. Parece que somos arrastados para o centro da tempestade. A forma como estas cenas em alto mar são ilustradas é espetacular e impactante. Se há autor que poderia fazer uma adaptação para bd do filme A Tempestade (Perfect Storm, no título original), com George Clooney no papel principal, julgo que Carlos Páscoa seria o autor adequado. Impressionante o seu trabalho nestas cenas marítimas.

Infelizmente, também tenho que dizer que as ilustrações que o autor nos oferece em Vazio, não estão todas ao mesmo nível entre si. Por vezes, algumas pranchas são verdadeiramente heterogéneas na qualidade do desenho. Se há uma vinheta espetacular numa página, nessa mesma página também pode haver uma vinheta bem mais “fraquinha”. Especialmente nas ilustrações de Eric, o protagonista desta obra. Não é que os desenhos passem a ser intragáveis. Nada que se pareça. Mas temos em alguns momentos desenhos magníficos que são acompanhados de perto por outros desenhos menos rigorosos. E isso gera, claro, alguma incongruência.

Enquanto escrevo estas linhas abri aleatoriamente o livro na página 50 e, sem procurar muito, encontrei logo um exemplo claro deste meu sentimento. Na página 50 temos uma ilustração verdadeiramente bonita de Melina, em que a sua expressão facial parece ao nível de uma mega produção da Disney. E, logo na ilustração abaixo dessa, temos um Eric que parece feito meio à pressa e sem o rigor desejado. O que me espanta também é que tenha sido especificamente nas ilustrações onde aparecem a personagem de Eric – que, ainda por cima é o protagonista – que tenha havido esta diferença de cuidado ou rigor na ilustração, por parte do autor.

Vazio, de Carlos Páscoa - Escorpião Azul
Se isto estraga a história de Vazio ou se me leva a achar a ilustração de Carlos Páscoa pobre? Nem por sombras! Não tenho dúvidas que Carlos Páscoa é um excelente desenhador com um enorme potencial. No entanto, também tenho que reconhecer – e eventualmente até o autor o fará – que um pouco de mais cuidado em algumas ilustrações, poderia ter transformado esta obra em algo (ainda) mais marcante. E por todas as qualidades que já apontei ao autor, considero isto algo inglório. Não sei se houve timings apertados na conceção da obra, que tenham obrigado o autor a “despachar” certos desenhos ou se foi pura e simplesmente alguma falta de inspiração em alguns momentos da obra, mas o que é certo é que esta heterogeneidade, ao nível da qualidade do desenho, tem algum peso na sensação final que a obra passa para o leitor.

Quanto à edição, estamos perante um livro com o formato e materiais semelhantes aos lançamentos da Escorpião Azul e com a característica capa mole. Falando na capa, acho que as cores estão bem chamativas, mas a ilustração das personagens também poderia estar melhor. E quando digo “estar melhor” não é um capricho gratuito meu. Não. Basta folhear o livro para percebermos que o autor é capaz de melhor. A própria ilustração de página 9 daria uma melhor capa, a meu ver.

Uma nota positiva deve ser dada para o facto de, neste lançamento, ter havido uma aposta da editora numa edição especial, limitada a 100 exemplares, que são acompanhados por uma brochura com material inédito, um marcador e a uma serigrafia numerada e assinada pelo autor. Aplaudo a iniciativa. Cada vez mais as editoras parecem apostar em edições especiais. A meu ver, todos ganham com essa aposta.

Em conclusão, Vazio é tudo menos uma obra vazia. Na verdade, traz consigo uma matriz de pensamento existencialista e uma interessante reflexão sobre vidas repetitivas que tendencialmente nos afetam enquanto pessoas e qual o caminho a fazer para alterar isso. E tudo isto acompanhado por uma arte visual que, permitam-me a expressão, “quando quer” consegue ser fantástica. Um livro a conhecer, certamente.


NOTA FINAL (1/10):
7.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Vazio, de Carlos Páscoa - Escorpião Azul

Ficha técnica
Vazio
Autor: Carlos Páscoa
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 64, a preto e branco
Encadernação: Capa molde
Lançamento: Abril de 2021

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Lançamento: Vazio



A editora Escorpião Azul brinda-nos com o seu segundo lançamento de 2021, que está agendado para a segunda quinzena de Maio. 

A aposta na produção nacional continua bem assente nos pressupostos da editora. Desta feita, é a vez de Carlos Páscoa lançar a sua obra Vazio.

Pelas previews apresentadas pela editora, posso dizer que estou bastante curioso com este trabalho.

Partilho-as abaixo, bem como a sinopse da obra.


Vazio, de Carlos Páscoa

Eric vive no meio de um deserto cinzento, vazio e árido, há tanto tempo que nem sabe como foi lá parar.

O que resta da sua imaginação e das suas memórias regressa inesperadamente, para lhe mostrar como existe mais mundo para lá do horizonte, e que vale a pena todo o esforço para tentar lá chegar.

Juntem-se a nós numa viagem aos confins da imaginação, onde os únicos limites são o medo e a vontade de permanecer imóvel, no que se conhece, na desilusão e no torpor, que são, no final de contas, o sal desta planície sem fim, deste deserto, grande, imenso e vazio...

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Ficha técnica
Vazio
Autor: Carlos Páscoa
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 64, a preto e branco
Encadernação: Capa molde
PVP: 12,00€