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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Análise: Tex - Minstrel Show

Tex - Minstrel Show, de Mauro Boselli e Marco Ghion - A Seita

Tex - Minstrel Show, de Mauro Boselli e Marco Ghion - A Seita
Tex - Minstrel Show, de Mauro Boselli e Marco Ghion

Depois de um interregno de quase três anos, A Seita voltou a trazer-nos um novo volume da série Tex. Este é o quinto Tex editado pela cooperativa e difere dos demais por ser a preto e branco. E não só. Denomina-se  Minstrel Show e é uma belíssima obra que tem o condão de inserir a icónica personagem de Tex Willer num contexto histórico rico e complexo. 

Com argumento de Mauro Boselli e ilustrações de Marco Ghion, Minstrel Show apresenta uma certa militância social ao abordar temas sensíveis como o racismo e a discriminação, naturalmente ambientados nos tempos do faroeste, mais precisamente no período pós-Guerra Civil Americana. 

A trama, como o próprio nome faz menção, é sobre os denominados "minstrel shows", que eram espetáculos que reuniam um misto de teatro e música e que eram populares no século XIX. Normalmente, as companhias que apresentavam estes tipo de espetáculo andavam em digressão, percorrendo os vários saloons do país. E sempre que havia um novo espetáculo deste género na cidade, havia um entusiasmo geral. Aos olhos de hoje, este tipo de apresentações de entretenimento tinham representações estereotipadas e frequentemente depreciativas dos afro-americanos. E os atores que representavam os próprios negros nestas atuações eram atores brancos com a cara pintada de carvão.

Tex - Minstrel Show, de Mauro Boselli e Marco Ghion - A Seita
É a partir deste tema, não muito explorado, que o argumentista Mauro Boselli desenvolve uma história que mistura ficção e realidade e que acaba por fazer uma reflexão profunda sobre as tensões raciais da época sem, no entanto, e felizmente, ser demasiado panfletária.

Joey Nelson é um afro-americano amigo de infância de Tex. Depois de fugir das amarras da escravidão, Joey passa a integrar uma companhia de Minstrel Show enquanto músico, já que domina muito bem a guitarra. Ao contrário dos seus colegas da companhia, Joey Nelson não precisa de colorir a cara para parecer negro. Ele já o é de nascença. Eventualmente, alguém na plateia apercebe-se de tal facto, o que vai fazer com que a presença de Joey depressa cause tensões em plenos espetáculos, levando a que Joey Nelson acabe discriminado e ostracizado.

Mas, claro, Tex Willer e Kit Carson acabam por interceder a favor do seu amigo.  Entretanto, a trama intensifica-se quando na cidade de Lexington, no Missouri, ocorre um ataque por rebeldes sulistas liderados por Arch Clement e por Jesse James, o que leva Tex e Carson a terem que unir forças com alguns dos artistas do minstrel show para defender a cidade. Afinal de contas, em tempos de guerra os homens precisam ultrapassar os seus próprios preconceitos e antagonismos para o alcance de objetivos maiores.

A amizade entre Tex e Joey serve, pois, como fio condutor para explorar as dinâmicas raciais e as injustiças enfrentadas por afro-americanos no Velho Oeste. Boselli constrói diálogos que evidenciam a hipocrisia e o racismo institucionalizados, desafiando o leitor a refletir sobre essas questões. Não de um modo de "cancelamento", tão em voga nos tempos atuais, mas mais com o intuito de fazer compreender erros do passado para melhor podermos construir o futuro à nossa frente. Abordagem educativa que apreciei devido à sua maturidade intrínseca. 

À boa maneira de um livro de Tex, temos várias cenas de ação, com muitos tiroteios na clássica luta do bem contra o mal. Mas o que mais apreciei foi mesmo a capacidade do livro em nos induzir momentos de introspeção. São-nos dados de forma leve, mas não leviana. E nem sempre isso acontece nos livros de Tex onde, não raras vezes, as mensagens - mesmo tendo uma boa moral - são algo unidimensionais na forma e no conteúdo. Aqui não, o tema apresenta-se-nos com mais profundidade. Mesmo sendo através de um modo leve, repito.

Tex - Minstrel Show, de Mauro Boselli e Marco Ghion - A Seita
As ilustrações a preto e branco de Marco Ghion capturam com precisão a atmosfera do Velho Oeste. O traço detalhado e expressivo é elegante, conferindo profundidade e verossimilhança às personagens e aos cenários. O autor consegue brilhar quer em cenas de ação, com enquadramentos dinâmicos que transmitem movimento e urgência, que em momentos mais introspetivos e serenos, com a atmosfera cénica a ser retratada com beleza e permitindo que a narrativa possa acalmar antes ou depois de acontecimentos de maior ação. 

Destaque ainda para a forma eficaz como Ghion utiliza a luz, as sombras e os contrastes, criando uma ambientação que reflete a tensão e a gravidade dos eventos retratados. A escolha pelo preto e branco puro reforça o tom clássico da história, remetendo-nos para as origens do género western e da série Tex em particular.

Em termos de edição, apreciei bastante o trabalho que A Seita nos dá nesta obra. O livro apresenta capa dura com um acabamento algo rugoso e agradável ao toque, que é diferente daquilo que normalmente encontramos nas edições portuguesas, e que me agradou bastante. Além deste detalhe, o livro tem bom papel baço no interior, boa encadernação e boa impressão. No início da obra, há uma nota introdutória de Mauro Boselli e, no final, há um dossier de extras com 6 páginas que reúnem uma entrevista feita a Marco Ghion por Mário Marques, uma coleção com vários esboços e estudos preliminares do ilustrador e as notas biográficas dos dois autores. 

Em suma, Tex - Minstrel Show consegue um equilíbrio muito interessante ao apresentar, em tom de homenagem, uma certa dinâmica e estilo próprios dos western mais clássicos, por um lado, enquanto transcende o próprio género, oferecendo uma reflexão social, por outro. E esta última valência é algo mais raro de encontrar em banda desenhada de cowboys. Especialmente em Tex. É, por isso mesmo, o melhor Tex publicado pel' A Seita chegando mesmo a remeter-me por vezes para o meu Tex favorito de todos: Tex - Patagónia.


NOTA FINAL (1/10):
8.7


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Tex - Minstrel Show, de Mauro Boselli e Marco Ghion - A Seita

Ficha técnica
Tex - Minstrel Show
Autores: Mauro Boselli e Marco Ghion
Editora: A Seita
Páginas: 136, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 28 cm
Lançamento: Outubro de 2024

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Análise: Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita
Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono

Nos últimos meses chegaram ao mercado, pelas mãos d’ A Seita, mais dois títulos para a sua coleção dedicada a Tex, a personagem mais famosa do fumetti italiano, pertencente à célebre editora Sergio Bonelli. Os primeiros dois álbuns desta coleção, já analisados no Vinheta 2020, haviam sido A Chicotada, de Pasquale Ruju e Mario Milano, e O Homem das Pistolas de Ouro, também de Pasquale Ruju, que desta vez, fora acompanhado com as ilustrações de r.m. Guéra.

Estes terceiro e quarto volume da coleção, respetivamente, O Vingador e Justiça em Corpus Christi, podem ser lidos em separado – ainda que, na minha opinião, as leituras em separado deixem muitas pontas soltas – mas constituem um díptico que nos narra uma aventura de um Tex ainda muito jovem. Quando ainda nem sequer era um Ranger, mas sim - pasmem-se! - um fora-da-lei. É claro que esta questão de a personagem ser um “fora-da-lei” tem muito que se lhe diga mas, para perceberem isso, terão mesmo que ler estes dois livros.

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita
Tratando-se, pois, de um díptico, esta análise foi feita com base na leitura conjunta de ambos os livros. E note-se que, embora de um volume para o outro, tenha havido a alteração do ilustrador, verifica-se que há uma sensação de continuidade de um artista para o outro. A história, essa, é da autoria de Mauro Boselli, um nome incontornável da Sergio Bonelli.

A história que o autor fabricou, apresenta-nos um Tex Willer que é ainda muito jovem e que procura fazer justiça pelo assassinato do seu pai. Para tal, atravessa o Rio Grande em busca da sua vingança. Mas a aliança forjada entre um rancheiro e um bando de ladrões de gado, rouba a dignidade e respeito de Tex, colocando a sua cabeça a prémio e sendo considerado, oficialmente, como “fora-da-lei”. Tex, ainda algo imberbe e sem a experiência que as histórias da sua vida adulta nos revelam, procura então formar parceria com outros cowboys que partilham o mesmo código de conduta. E assim, alia-se a Juan Cortina.

O final de O Vingador traz-nos uma bela cena de ação, em que Tex se revela um fantástico e audaz pistoleiro, quando se encontra cercado por muitos adversários, e em condições extremamente difíceis. Ainda que a história seja, até aí, algo titubeante, acho que a cena final compensa em grande a leitura encetada até esse ponto.

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita
No livro seguinte, Justiça em Corpus Christi, teremos Tex a finalizar a sua sede de justiça que começou no tomo anterior. Acusado injustamente, ruma agora à localidade de Corpus Christi para enfrentar um bando de pistoleiros que, ainda por cima, se encontram sobre a alçada do xerife local. Alia-se então, desta vez, aos três únicos homens que estão dispostos a ajudá-lo: os rangers Jim Callahan, Dan Bannion e o irmão de Tex, Sam. Nota para o facto de Sam Willer receber algumas páginas dedicadas a si, de forma a oferecer ao leitor uma possibilidade para melhor conhecer o irmão do protagonista.

Penso que, acima de tudo, estes dois livros nos revelam que até aquelas personagens “velhinhas”, que já cá andam há longas décadas, podem receber novas abordagens e roupagens que as vão tornar mais apetecíveis para novos leitores. Também será justo dizer que a história que nos é dada, até porque não é carregada de originalidade e apresenta alguns clichets clássicos do género, poderia ser vivida por um qualquer outro cowboy. Uma qualquer outra personagem que não Tex, portanto. Mas também não deixa de ser verdade que este Tex jovem traz consigo uma certa frescura à personagem e à série, que vale a pena conhecer.

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita
E, para isso, também ajuda que as ilustrações, quer de Stefano Andreucci, em O Vingador, quer de Corrado Mastantuono, em Justiça em Corpus Christi, funcionem muito bem e sejam muito modernas e belas. Confesso ainda ter gostado mais do traço de Mastantuono, ligeiramente mais elegante e mais detalhado do que o de Andreucci, mas foi uma ténue preferência da minha parte apenas, já que as ilustrações deste último, também me deixaram muito satisfeito.

A planificação em ambas as obras é bastante diversificada, com vinhetas de várias dimensões que, em muitos casos, se sobrepõem a outras, aumentando o dinamismo da leitura e da narração gráfica. Há também uma sensação bem cinematográfica, na forma como os planos e enquadramentos são utilizados, que funciona bastante bem. As cores nos dois álbuns são feitas por Matteo Vattani, que faz um belíssimo trabalho, por um lado, e contribui para a sensação de continuidade no estilo gráfico dos dois livros, mesmo sendo ilustrados por diferentes autores, por outro lado.

Acho que, visualmente falando, estes são dois belos livros que muito agradarão a fãs do género western na bd e, particularmente, aos fãs de Tex, claro está. Em termos de argumento, já me parece que a história por vezes se torna algo confusa, com um surpreendente grande número de personagens que, em vez de ajudarem à fluidez da trama, a complicam. Não é nada de muito grave ou que estrague a leitura, mas parece-me que se certas partes da história fossem mais simplificadas, e com menos personagens, cuja relevância para a trama é quase nenhuma, a experiência destes dois álbuns seria um pouco melhor. Por outras palavras, parece-me que, por vezes, Boselli divaga um pouco demais no argumento e dá-nos demasiada “palha” redundante. Será este o meu principal reparo.

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita
As duas edições destes livros estão muito boas! O Vingador apresenta um caderno de extras exclusivo, que inclui uma entrevista a Stefano Andreucci e diversos esboços e estudos enviados expressamente pelo próprio desenhador, bem como uma interessante introdução à juventude de Tex, escrita por Mário João Marques. Quanto a Justiça em Corpus Christi, é-nos dado outro dossier de extras, com a apresentação da juventude de Tex, por parte do próprio autor Mauro Boselli, bem como algumas pranchas em esboço e páginas do argumento. Além de que também merece destaque que este segundo livro comece com uma pequena nota sobre o que ocorreu no álbum anterior, O Vingador, que ajuda a situar o leitor, caso este comece a ler este Justiça em Corpus Christi e não conheça – ou não se lembre d' – os eventos de O Vingador. Pequenos detalhes, talvez, mas uma prova clara e significante do envolvimento e preocupação dos editores d’ A Seita, que merece as minhas vénias.

Só tenho que fazer um reparo mais negativo ao facto de, na capa de O Vingador, o logótipo de Tex não estar devidamente alinhado ao centro como, aliás, foi feito na capa da edição original da Sérgio Bonelli. É só um pequeno erro de design de capa, mas que me causa uma certa urticária, admito.

Em suma, estes dois Tex, têm a principal função de apresentar o célebre cowboy do fumetti italiano a uma geração mais nova de leitores e, ao mesmo tempo, dar profundidade, frescura e essência à juventude do herói para aqueles que já acompanham a série há muitos anos. Com ilustrações (e cores!) muito belas, é um exercício globalmente bem conseguido.


NOTA FINAL (1/10):
8.1



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita

Fichas técnicas
Tex #3 - O Vingador
Autores: Mauro Boselli e Stefano Andreucci
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 28 cms
Lançamento: Janeiro de 2022

Tex #3 e #4 – O Vingador | Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli, Stefano Andreucci e Corrado Mastantuono - A Seita

Tex #4 - Justiça em Corpus Christi
Autores: Mauro Boselli e de Corrado Matantuono
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 28 cms
Lançamento: Fevereiro de 2022






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Mais abaixo, deixo o convite para a leitura das análises aos álbuns anteriores da série:






quinta-feira, 26 de maio de 2022

O Vingador fala-nos sobre a juventude de Tex Willer!


aqui dei conta de que A Seita lançou recentemente o 4º volume da sua coleção dedicada a Tex.

Menos recentemente mas, ainda assim, há pouco tempo, a editora também lançou o terceiro volume dedicado ao mais célebre herói da Sergio Bonelli Editore.

Trata-se de O Vingador, dos autores Mauro Boselli e Stefano Andreucci, e a primeira vez que vi o livro à venda foi no Festival Coimbra BD. Depois disso, o livro esteve em venda nas bancas e é a partir do próximo mês de Junho que deverá chegar às livrarias generalistas do país. Até lá, o livro já pode ser encomendado diretamente através da editora ou adquirido nas livrarias portuguesas dedicadas à bd.

Relembro que este volume 3 forma, juntamente com o volume 4, Justiça em Corpus Christi, um díptico sobre a juventude de Tex. E mesmo que as histórias funcionem bem de forma independente, recomenda-se a leitura conjunta dos dois volumes.

Mais abaixo, deixo-vos com algumas imagens promocionais e com a nota de imprensa da editora.


Tex #3 - O Vingador, de Mauro Boselli e Stefano Andreucci

“...mataram o meu pai... vão todos pagar com a vida!”

Tex atravessou o Rio Grande em busca de justiça para os assassinos do seu pai. Mas um rancheiro poderoso alia-se com um bando de ladrões de gado, e coloca a sua cabeça a prémio. Procurado por pistoleiros fora-da-lei e xerifes corruptos, Tex Willer procura a ajuda de Juan Cortina, um desperado que, tal como ele, decidiu fazer justiça pelas suas mãos, numa aventura sem tréguas, que nos leva de volta à juventude do herói!
Criado em 1948 por Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini, Tex é um dos mais antigos cowboys da banda desenhada europeia, e a mais popular personagem dos fumetti italianos. Nesta colecção, alguns dos maiores desenhadores da BD italiana e mundial têm oportunidade de desenhar Tex em histórias criadas expressamente para a cor e para o formato mais ambicioso dos álbuns de BD franco-belga.

O Tex de Boselli e Andreucci cavalga a grande velocidade numa clássica narrativa western de vingança, onde o leitor vai encontrar o herói ainda muito jovem, atormentado pela violenta perda do pai. Os autores relatam-nos os eventos que vieram transformar um Tex vingador num fora-da-lei, uma oportunidade de reviver o passado do herói e compreender melhor toda a expressividade e psicologia da personagem, os valores que a moldaram, os homens que o formaram, no fundo a identidade de um justiceiro no seio de um Oeste colossal e épico.
Ritmado, frenético e preciso, O Vingador apresenta-nos mais um capítulo do jovem Tex, comprovando que a sua juventude é um território com muito por explorar e cheio de potencial narrativo.

Mais uma vez, a edição portuguesa de O Vingador apresenta um caderno de extras exclusivo, com uma entrevista a Stefano Andreucci e diversos esboços e estudos enviados expressamente pelo próprio desenhador.

“Não se deixem fascinar pelo álbum só porque é um belo objecto, bem cuidado e acabado: dêem-lhe uma hipótese também por representar de forma impecável a vitalidade e a frescura de uma personagem com mais de setenta anos, mas cuja juventude está bem longe de ter terminado.”
- Gli Audaci (blogue italiano de BD)

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Ficha técnica
Tex #3 - O Vingador
Autores: Mauro Boselli e Stefano Andreucci
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 28 cms
PVP: 14,00€

terça-feira, 24 de maio de 2022

4º volume de Tex já está em banca!




Já está disponível em banca o 4º volume de Tex, da autoria de Mauro Boselli e de Corrado Matantuono!

Este volume, publicado pel'A Seita, denomina-se Justiça em Corpus Christi e, juntamente com O Vingador - de que falarei ainda hoje -, forma um díptico que nos revela episódios da juventude de Tex. Ambos os livros podem ser lidos de forma independente embora as histórias se interliguem, pelo que recomenda-se a leitura de ambos. Este Justiça em Corpus Christi é o segundo livro e não o primeiro.

Mais abaixo, partilho algumas imagens promocionais, bem como a sinopse da obra.
Tex #4 - Justiça em Corpus Christi, de Mauro Boselli e de Corrado Matantuono

“As serpentes espalham veneno... é da natureza delas... incriminaram-me, mas estou a tentar limpar o meu nome...”

Tex quer justiça! Acusado injustamente de ser cúmplice de uma quadrilha de ladrões de gado, o jovem vingador deverá enfrentar um bando de pistoleiros protegidos pelo xerife de Corpus Christi. Mas para isso, precisa de aliados. No entanto, em todo o Texas, apenas três homens estão do seu lado e dispostos a ajudá-lo no ajuste de contas final: o seu irmão Sam e os rangers Jim Callahan e Dan Bannion.

A conclusão da aventura iniciada em Tex: O Vingador!
Continuação dos acontecimentos narrados em O Vingador, o jovem Tex é obrigado a enfrentar todos aqueles que o acusaram injustamente. Veloz com a pistola, inteligente na estratégia, e rodeado de verdadeiros amigos, Tex apresenta-se soberbo numa trama escorreita, onde Mauro Boselli ainda tem tempo para dedicar um conjunto de páginas que desenvolvem um pouco mais a figura do seu irmão Sam. Visualmente atraente, graças ao excelente trabalho de Corrado Mastantuono e do colorista Matteo Vattani, Justiça em Corpus Christi é mais um belo fresco sobre a juventude de um herói que teima em não envelhecer.

“De facto, paira uma aura quase mitológica sobre toda esta história, como convém na narração das origens de um ícone do fumetto, feita de grandes espaços, grandes feitos e grandes personagens. Com toda a certeza um must para todos os fãs do ranger bonelliano, mas também aconselhado aos apaixonados por uma boa história de aventuras, bem escrita e também bem desenhada”.
- Dimensione Fumetto

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Ficha técnica
Tex #4 - Justiça em Corpus Christi
Autores: Mauro Boselli e de Corrado Matantuono
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 28 cms
PVP: 14,00€

terça-feira, 4 de maio de 2021

Análise: Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador



Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador, de Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri, Daniele Bigliardo, Mauro Boselli e Bruno Brindisi

Quando, em 2017, a Sergio Bonelli decidiu fazer um crossover com duas das suas personagens mais emblemáticas, Dylan Dog e Dampyr, certamente foram muitos os fãs que ficaram radiantes com esta opção. Até porque, na verdade, a editora nunca tinha feito um verdadeiro crossover, isto é, a junção de duas personagens de universos diferentes numa só história. Contrariamente ao mercado americano, onde os crossovers são mais do que habituais, no mercado europeu é algo bem mais raro de acontecer. Portanto, acho que a iniciativa demonstrou coragem e modernidade por parte da editora. 

E embora a minha primeira reação a esta iniciativa tenha sido: “Porreiro, e faz sentido com estas duas personagens”, a verdade é que, vendo bem, até são personagens de universos bastante distintos. Dylan Dog é uma personagem que se move num mundo que considero filosófico, onírico e, até mesmo, poético. Com uma premissa tão aberta como sendo o “detective do pesadelo”, há abertura para uma variedade enorme de situações e aventuras. Já quanto a Dampyr, estamos perante um herói muito mais clássico no seu cerne e que se move num universo com regras e barreiras muito mais específicas e previamente delineadas.

Por este motivo, e com alguma pena minha, parece-me que este crossover assume-se mais como um “Dampyr convida Dylan Dog”, do que o contrário. Ou seja, este O Detective e o Caçador parece-se mais com um clássico livro de Dampyr. A grande diferença é que, neste caso, Dylan Dog aparece como convidado. Como sou muito mais fã de Dylan do que Dampyr, tive alguma pena que assim fosse. Mas, tal como já disse, também compreendo que os envolvidos nesta obra tenham feito esta opção, pois seria mais fácil trazer Dylan Dog para o universo mais fechado de Dampyr, do que o oposto.

Se Dylan Dog é detective do pesadelo, Dampyr é filho de uma humana e de um vampiro e, por ter essa mistura rara, o seu sangue é letal para matar vampiros. O que faz dele um guerreiro verdadeiramente poderoso e temível pelos seus inimigos.

A história, que mais para o fim, especialmente no segundo livro, se torna demasiado rocambolesca, arranca em Londres quando vários vampiros invadem de surpresa um baile de máscaras e começam a fazer vítimas. Entretanto, o maquiavélico Lordbrok – retirado do universo de Dampyr – tem planos nefastos para com o mundo e para com o seu rival Marsden que, nesta aventura, faz com que Harlan Draka, Dampyr, seja involuntariamente seu aliado na luta contra Lordbrok. Dampyr faz-se acompanhar por Kurjak e Tesla. Já do lado do universo de Dylan Dog, aparece-nos o irresistível Groucho e o malvado inimigo John Ghost também faz uma aparição. As belas mulheres que, naturalmente, se apaixonam por Dylan Dog também não faltam. No primeiro livro é a bela Lagertha – cujo aspeto há-de ter sido inspirado em Angelina Jolie – que encanta o detetive do pesadelo. No segundo livro é Selkie com quem Dylan estabelece (mais) um breve romance.

A narrativa arranca com uma fantástica cena de ação e sabe colocar muito bem Dampyr no caminho de Dylan Dog (ou será o oposto que acontece?). De uma forma natural as duas personagens vêem-se na necessidade de trabalharem juntas, mesmo sendo bastante diferentes entre si. Essa dinâmica aparece especialmente bem trabalhada no primeiro álbum, sublinhando as diferenças de ambas as personagens na abordagem aos eventos com que se deparam: Dylan Dog é um romântico e uma persona algo frágil, enquanto que Dampyr é um guerreiro-nato e pragmático, que passa rapidamente para a ação.

Um destaque tem que ser dado a Groucho que aparece em ambos os livros com tiradas muito divertidas, que melhoram a leitura da obra. Diria até que foi a personagem mais bem trabalhada por ambos os autores. Ainda mais do que os dois heróis protagonistas! Interessante também é a dinâmica entre Kurjak – um autêntico brutamontes – e Groucho, que tão bem representa a função de comic relief. Muito bem conseguido.

Depois, e eventualmente, à medida que os eventos se vão desenrolando, ambos os protagonistas têm que ceder um ao outro: Dylan Dog acaba por perceber que os métodos agressivos e pragmáticos de Dampyr são muitas vezes a forma mais eficaz de lidar com o mal. Todavia, em sentido contrário, Dampyr também irá descobrir que há nobreza nos métodos ponderados e sentido de justiça de Dylan Dog.

Há uma coisa que convém desde já dizer e que se torna muito relevante para a análise deste duplo lançamento: é que, o facto deste O Detective e o Caçador ter duas equipas criativas independentes entre si, faz com que ambos os livros difiram muito entre si mesmos. Não só em termos de ilustração (já lá irei) mas, também, em termos de argumento. 

É certo que a história do primeiro livro tem continuação no segundo, mas é uma continuação demasiado livre. Como se a obra se tratasse dum exercício criativo em que os argumentistas de ambos os livros, Roberto Recchioni (que é ajudado por Giulio Antonio Gualtieri ) e Mauro Boselli combinassem entre si, “eu levo a história até aqui… e depois disso faz o que quiseres com a mesma”. Se isso traz alguns elementos de surpresa à trama, devo dizer que o segundo livro é manifestamente inferior em comparação com o primeiro. Parece-me até que a história no segundo volume resolve a trama de uma forma algo preguiçosa, apoiando-se na introdução de vikings mortos-vivos, dragões e demais elementos que acabam por ser inseridos de uma forma algo forçada, sem grande linha condutora. No primeiro livro, como a história ainda nos está a ser apresentada aos poucos, está mais conseguida e funciona melhor. E não me refiro apenas à construção do argumento porque mesmo na construção dos próprios diálogos, a obra apresenta-se menos inspirada no segundo livro.

E, claro, as diferenças não se sentem apenas em termos de argumento. Na parte ilustrativa, as diferenças também são gritantes. Enquanto que Daniele Bigliardo nos dá um trabalho soberbo no primeiro livro, com as personagens, com trato realista, a parecerem que querem sair das páginas do livro, e onde o autor também apresenta um ótimo domínio da luz, dos altos contrastes, das cenas de ação, dos planos de câmara e enquadramentos; Bruno Brindisi, por sua vez, oferece-nos uma ilustração mais clássica, menos estilizada e impactante. Pobre nos detalhes, por vezes até parece ter sido feita algo “à pressa”. Não é que seja má, mas fica, indubitavelmente, muito aquém da arte de Daniele Bigliardo. E ainda que haja um esforço por continuidade na caracterização gráfica das personagens – especialmente das principais – a própria ilustração de algumas personagens, com destaque para os inimigos, por vezes afasta-se entre ambos os livros.

Quanto à edição, a editora A Seita preparou uma edição em linha com os outros livros da sua Coleção Aleph: boa encadernação, capa dura e papel baço. Há também uma entrevista com os argumentistas que está dividida entre os dois livros. 

Mas claro que, em termos de edição, o destaque principal tem que ser dado às fantásticas capas que, quando colocadas ao lado uma da outra, formam uma bonita ilustração entre si. Como se fossem duas peças para um puzzle. No primeiro livro temos Dylan Dog em primeiro plano e, lá em cima, no título temos “Dylan Dog & Dampyr”, como se fosse o primeiro que convida o segundo. No segundo livro temos todos estes elementos inversamente colocados: Dampyr é que aparece em primeiro plano e no título aparece “Dampyr & Dylan Dog”. São duas capas espetaculares que, juntas, tornam os dois “objetos-livro” ainda mais colecionáveis e verdadeiramente apetecíveis. Julgo que A Seita foi inteligente ao escolher esta opção de capas pois dificilmente um leitor só comprará um dos livros.

Concluindo, acho que mais do que uma oportunidade para que os fãs de Dylan Dog conheçam Dampyr, esta obra dupla permite, acima de tudo, que os fãs de Dampyr possam acolher nas páginas do seu herói, a personagem maravilhosa de Dylan Dog, que vem muito bem acompanhada por Groucho. O Detective e o Caçador ficou um pouco aquém das minhas expetativas – mais pela divisão de tarefas entre autores do que por outra coisa - mas não deixa de ser uma boa iniciativa da Sergio Bonelli. E o final da obra deixa uma porta aberta para que uma nova aventura com Dylan Dog e Dampyr possa ocorrer no futuro. A ver vamos.

Desta vez, embora ambos os livros formem um todo, parece-me que a diferença de qualidade por mim percepcionada, merece notas distintas. 


NOTA FINAL LIVRO 1: A Noite de Dampyr: 8.4
NOTA FINAL LIVRO 2: O Detective do Pesadelo: 6.8


NOTA FINAL dos 2 ÁLBUNS (1/10):
7.6



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Fichas técnicas
O Detective e o Caçador vol. 1: A Noite do Dampyr
Autores: Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri e Daniele Bigliardo
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021


O Detective e o Caçador vol. 2: O Detective do Pesadelo
Autores: Mauro Boselli e Bruno Brindisi
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Lançamento: Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador





Já estão disponíveis os dois álbuns que correspondem ao crossover entre as personagens do fumetti, Dylan Dog e Dampyr, e que assinalam uma interessante aposta dupla da editora A Seita.

O primeiro tomo chama-se O Detective e o Caçador Vol. 1: A Noite do Dampyr e o segundo volume intitula-se O Detective e o Caçador Vol. 1: O Detective do Pesadelo. Uma coisa curiosa é que as equipas criativas mudam: no primeiro livro temos o argumento a cargo de Roberto Recchioni e Giulio Antonio Gualtieri, com desenho de Daniele Bigliardo; e no segundo livro o argumento é de Mauro Boselli e arte ilustrativa fica a cargo de Bruno Brindisi. 

Desde já, destaca-se a capa conjunta que os dois álbuns, alinhados um ao outro, completam entre si. Fantástica ideia.

Abaixo fiquem com a nota do editor e com algumas imagens promocionais.


Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador, de Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri, Daniele Bigliardo, Mauro Boselli e Bruno Brindisi 

Um vive em Londres e é um detective do pesadelo, investigador do paranormal, melancólico, introspectivo e sonhador. 

O outro é filho de uma humana e de um vampiro, e viaja pelo mundo para combater o mal, utilizando o seu sangue letal, capaz de queimar e matar os vampiros. 

Nunca se tinham cruzado, porque o mundo é demasiado grande e os seus mistérios infindáveis. Até ao Verão de 2017, quando a Sergio Bonelli Editore publicou o seu primeiro crossover, uma aventura que junta Dylan Dog e Dampyr numa luta lado a lado contra as criaturas do Mestre da Noite Lodbrok!

Harlan Draka, o Dampyr, e Dylan Dog, cruzam-se finalmente a tempo da chegada de um conjunto de visitantes estranhos – e perigosos! - a Craven Road, que irão mergulhar Londres no terror. E qual o papel do temível Lodbrok, um dos arqui-vampiros que Draka persegue incansavelmente? Dylan Dog acaba por fazer uma promessa que não pode quebrar à morta-viva Lagertha, inimiga jurada de Harlan Draka, o caçador de vampiros. Nas remotas ilhas Hébridas, para onde viajaram em busca de resolver o mistério de Lodbrok, o Senhor da Noite, os nossos dois heróis terão de sobreviver a uma multidão de personagens horrendas, dragões, vikings mortos-vivos, e outras criaturas sobrenaturais.

Esta história, que junta Dylan Dog e Dampyr, duas das mais emblemáticas personagens da Sergio Bonelli Editore, foi o primeiro crossover jamais criado pela editora (já tinham existido alguns team-ups, em que personagens diferentes tinham aparecido nas revistas umas das outras). Assim, esta aventura que junta o detective do pesadelo ao caçador de vampiros acabou por ser uma grande estreia, e o evento dos fumetti do Verão de 2017 em Itália, uma vez que a história foi dividida por duas revistas diferentes, iniciada em Dylan Dog #371 e concluída em Dampyr #209.

Dylan Dog e Dampyr são, no entanto, bem diferentes enquanto personagens e séries. Numa entrevista concedida há uns anos, Mauro Boselli sublinhou que no caçador de vampiros sobressai um lado algo realista, uma vez que as suas aventuras devem dar a ilusão de que acontecem no nosso mundo, na nossa realidade. Ao contrário do que acontece com Dylan Dog, onde o fantástico pode ser apresentado repetidas vezes com contornos menos realistas e onde tudo é possível. 
Por seu lado, Roberto Recchioni acrescenta que a maneira como os dois heróis lidam com o horror também é diferente: de um lado a dureza e intransigência de um Dampyr pragmático frente aos monstros, qual herói clássico, em contraponto com a visão mais irónica, romântica e empática de Dylan Dog, anti-herói por excelência ou herói por acaso, que diz que os verdadeiros monstros somos nós, os seres humanos.

Duas personagens com pouco em comum, mas com um importante ponto de ligação entre ambas: o horror dos ambientes em que se movem. Como tal, não é de estranhar que, mais tarde ou mais cedo, acabariam por aliar forças, o que só não tinha acontecido antes porque, a acreditar nas palavras de Dylan, “o mundo é demasiado grande”.

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Fichas técnicas
O Detective e o Caçador vol. 1: A Noite do Dampyr
Autores: Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri e Daniele Bigliardo
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 13,00€

O Detective e o Caçador vol. 2: O Detective do Pesadelo
Autores: Mauro Boselli e Bruno Brindisi
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 13,00€

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Análise: Tex - Patagónia

Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo


Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo
Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda

Desde sempre que a série Tex me surpreendeu pelas suas características únicas. É que, se por um lado, Tex é o grande porta-estandarte da editora italiana Bonelli e um herói muito acarinhado pelos muitos fãs que tem em todo o mundo (e faço destaque ao próprio Clube Tex Português e ao fantástico blog que sustenta esse clube - Tex Willer Blog); por outro lado, é uma série que não chega a um verdadeiro público mainstream da banda desenhada. É extremamente bem sucedida mas, face a uma franja de mercado apenas. Nem toda a gente gosta... mas quem gosta, gosta muito! É fã acérrimo. Tex é, por isso, aquilo que costumamos apelidar de “série de culto”.

Se me parece que, por vezes, Tex Willer é uma personagem demasiado unidimensional e, por esse motivo, bastante clássica nos valores e idiossincrasias que representa, a verdade é que isso também é facilmente justificável pela longa vida do personagem, a cavalgar planícies áridas desde 1948. E, em Patagónia, o fantástico trabalho do argumentista Mauro Boselli, traz-nos um Tex Willer que, mesmo preservando essa unidimensionalidade que referi acima, consegue, não obstante, pintar este Ranger do Texas com subtis pinceladas, que nos dão tonalidades mais cinzentas na postura da personagem. E isso é, sem dúvida, um dos muitos pontos a favor deste fantástico Patagónia.

Em termos de história, esta é uma aventura única de Tex Willer e diferente daquilo que poderíamos estar à espera. Desta vez, Tex e o seu filho, Kit Willer, viajam dos Estados Unidos para as pampas argentinas, para servirem de intermediários entre o Governo argentino e as tribos indígenas locais. Tudo o que despoleta esta demanda é uma sequência de ataques mortíferos por parte dos índios e o consequente rapto de prisioneiros. À medida que a história se vai desenrolando, as reais razões desta missão dos Willer surgem dúbias. Por um lado, parece haver uma tentativa de negociação pacífica do Governo argentino – e esta, naturalmente, é a vontade de Tex – mas, por outro lado, uma facção do exército argentino parece querer resolver o assunto com o recurso à violência gratuita, manifestando vontade de dizimar as tribos de índios.

Há uma vertente mais histórica nesta obra pois consegue transmitir-nos, com realismo, o genocídio das tribos de indíos na Patagónia, levado a cabo pelo exército argentino, e como só através de muita determinação, espírito de sacrifício e incríveis perdas humanas, estas tribos de índios conseguiram ter uma palavra a dizer na história da Argentina. Tex Willer aparece aqui como um intermediário, um pêndulo de bom-senso e diplomacia que procura, de forma disciplinada, reunir consensos e cedências de parte a parte.

Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo
Obviamente, um cowboy vindo do faroeste não é inicialmente bem-vindo. Nem junto dos oficiais argentinos – com exeção de Ricardo Mendonza, antigo companheiro de Tex e responsável pela sua chamada à Argentina – nem junto dos índios que olham de soslaio para o protagonista, por ter a pele branca. Eventualmente, Willer terá que conquistar a sua admiração através de alguns eventos, muito bem imaginados pelo argumentista Boselli.

Uma coisa é certa: embora seja uma obra com bastantes momentos de ação, esta é uma história que demora bastante tempo a arrancar. As primeiras 40 páginas servem mais para que Boselli nos apresente a história, o tema, a demanda, os interesses em conflito. E isto não é necessariamente mau. É adulto. Leva-se a sério. Possivelmente, um jovem leitor ficará algo entediado com o ritmo lento da primeira parte da obra. No entanto, um adulto que procure uma história com cabeça, tronco e membros, apreciará a forma cuidada e rigorosa com que a narrativa está construída.

Mais do que uma história de cowboys, esta é uma história de guerra. Entre soldados do regime argentino e os índios da Patagónia. E mesmo estando embebida de alguma moral relativamente ao erro de se ser preconceituoso, no que concerne a raças e culturas, também não é uma história demasiado moralista. Tenta ser até, bastante factual, na forma como narra os eventos. Se essa moral existe, é nos feitos e postura de Tex Willer, pelo seu exemplo de justiça, que a mesma é passada. Muito adulto, uma vez mais.

Apreciável também é a tal dimensão menos unidimensional de Tex e das personagens que o rodeiam. Gostei particularmente de como Ricardo Mendonza e Solano conseguem ter várias camadas entre o bem e o mal. Entre o certo e o errado.

Mas, se a história é bem documentada, original pelo cenário onde acontece, e com personagens interessantes, a arte ilustrativa de Pasquale Frisenda é uma autêntica obra de arte. Uma maravilha para os olhos ao saber utilizar, com tanta mestria, o preto e branco, para nos dar um mundo verdadeiramente bem executado, para onde somos convidados a entrar. A minúcia dos pormenores que Frisenda deposita nos seus desenhos é incrivel e merece ser observada com um olhar igualmente minucioso. Assim, não raras vezes, dei por mim a perder largos momentos em muitas vinhetas incríveis e majestosas no tratamento gráfico.

A caracterização das personagens é excelente, com uma boa panóplia de emoções, que o autor utiliza sabiamente para dotar as personagens de sentimentos verossímeis. Mas é na caracterização dos ambientes, sejam eles paisagens distantes, olhares sobre os grandiosos acampamentos índios, cenas de desenfreado combate ou de cavalos em impetuosas cavalgadas, que mais fiquei surpreendido e apaixonado pela sua arte. De facto, a maneira como Frisenda capta o momento é magnífica e tem algo de poético, até. E isso não é comum em banda desenhada. O seu traço fino, elegante e muito seguro de si mesmo, representa a qualidade gráfica que uma série de culto como Tex merece. A meu ver, era difícil fazer um melhor trabalho no cômputo da arte ilustrativa.

Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo
Se há uma coisa que não gostei tanto, e que diz respeito à história, é o final algo abrupto da mesma. Chega a ser frustante se tivermos em conta que a história demora tantas páginas a desenvolver – e isso é bom, pois permite explorar as personagens e preparar o leitor para a grande missão de Tex – mas depois, no final, resolve a história em duas páginas, de forma demasiado seca. Não sei se isso aconteceu por causa de alguma pressão da editora sobre os autores, que tivesse que ver com deadlines, mas é uma pena, pois é um final demasiado brusco. Não é um mau final, note-se. Mas é um final mal explorado. Um livro destes merecia um final mais épico e bem conseguido.

Quanto à edição da Polvo, mesmo admitindo que considero que esta obra de qualidade superior merecia uma capa dura, tenho que reconhecer que é uma edição com muita qualidade por parte da editora portuguesa. O papel é muito bom, a capa, com generosas bandanas, é muito bonita, e o trabalho gráfico também apresenta uma elegância muito apreciável. A introdução da obra por José Carlos Francisco também acrescenta informação pertinente à obra.

Em conclusão, é fácil perceber porque é que Patagónia é uma das obras mais aclamadas de Tex Willer. As ilustrações de Frisenda são verdadeiramente magníficas e dignas de serem analisadas ao detalhe, enquanto que a história, que nos é oferecida por Boselli, é muito bem encetada, sabendo munir a obra de uma boa trama, que se desenvolve num cenário diferente daquilo a que estamos mais habituados a ver nas histórias do famoso cowboy. Pela parte que me toca, não tenho dúvidas que, se não for mesmo a melhor, é uma das melhores obras de Tex e um ótimo portal para mergulhar nas aventuras desde famosíssimo herói. Imprescindível.


NOTA FINAL (1/10)
9.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo

Ficha técnica
Tex – Patagónia
Autores: Mauro Boselli e Pasquale Frisenda
Editora: Polvo
Páginas: 228, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Maio de 2015 (2ª Edição: Maio de 2018)