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terça-feira, 5 de março de 2024

Análise: Quentin Por Tarantino

Quentin Por Tarantino, de Amazing Ameziane - ASA - LeYa

Quentin Por Tarantino, de Amazing Ameziane - ASA - LeYa
Quentin Por Tarantino, de Amazing Ameziane

O início da minha leitura de Quentin Por Tarantino, a mais recente aposta da editora ASA, deixou-me completamente embasbacado, pela positiva, tal não era a proposta refrescante, audaz, dinâmica e moderna que Amazing Ameziane, o autor, nos tinha para dar nesta biografia em banda desenhada dedicada ao célebre realizador Quentin Tarentino. Se o começo da obra me deixou completamente siderado na leitura, no restante livro o nível não andou sempre lá em cima, caso contrário, daria nota máxima a este livro sem pestanejar. Ainda assim, é um excelente livro e uma ótima aposta da ASA!

Este é, aliás, o segundo volume de uma trilogia sobre grandes cineastas que o autor francês Amazing Ameziane fez, sendo que os outros livros são dedicados a Martin Scorsese e a Francis-Ford Coppola. Não percebo bem o porquê da ASA ter apostado primeiramente no segundo volume da trilogia, mas presumo que o fez por considerar que Tarantino poderia ter mais apelo comercial do que Scorsese. Uma opção questionável, mas que, caso a editora venha a lançar os três volumes da coleção, não tem qualquer problema porque todos eles são independentes e auto-conclusivos.

Mas, voltando ao que comecei por afirmar, assim que pus os olhos nas primeiras páginas de Quentin Por Tarantino, adorei a proposta que me era dada. Sou um confesso amante de cinema e considero que o realizador Quentin Tarantino é “uma personagem” por si só. Portanto, a premissa de um livro sobre a sua pessoa e que, ainda por cima, procura ser um relato insurgente e não uma mera biografia académica, daquelas bonitinhas para venderem a ideia de que alguém é perfeito, convenceu-me desde logo.

O livro arranca com um diálogo (monólogo?) que é encetado entre Tarantino e o leitor, e em que o primeiro mergulha de forma bem profunda na sua vida, levando-nos consigo até aos seus primeiros anos, quando era uma criança. Daí partimos para o percurso do realizador, passando por cada um dos seus filmes e outros tantos em que colaborou. E, às tantas, o diálogo não é bem entre Tarantino e o leitor, mas sim, entre si mesmo. Ou entre Quentin e Tarantino.

Quentin Por Tarantino, de Amazing Ameziane - ASA - LeYa
Adorei as muitas e diversas ferramentas visuais que Amazing Ameziane emprega para nos contar o percurso do realizador de uma forma muito dinâmica, que procura não repetir-se a si mesma. E até chegar à realização do primeiro filme Reservoir Dogs, é quando, quanto a mim, o livro atinge a perfeição. Depois disso, vamos acompanhando as diferentes peripécias que acompanharam a feitura de cada um dos seguintes filmes de Tarantino: Pulp Fiction, Jackie Brown, Kill Bill, Death Proof, Inglorious Basterds, Django Unchained, The Hateful Eight e Once Upon a Time in… Hollywood. O relato está carregado de histórias de bastidor. Algumas das coisas que aqui são reveladas, já o fã mais atento conhecerá, mas, mesmo assim, há muitas factos novos que aqui nos são dados, o que revela que Amazing Ameziane fez um bom trabalho de exploração e investigação sobre o realizador americano.

Em termos visuais, é uma obra extremamente impactante. Se o trabalho do autor não me deixou especialmente entusiasmado em 1984 - Novela Gráfica, publicado por cá pela Cavalo de Ferro – e não é que tivesse sido mau ou algo semelhante, mas porque, na minha opinião, foi a edição menos conseguida das três(!) que foram publicadas em Portugal - devo dizer que, neste caso, me deixou muito agradado.

Amazing Ameziane parece-me mais um designer do que, propriamente, um ilustrador de banda desenhada. E isso traz-nos coisas boas e más, como tudo na vida. Se, por um lado, o seu desenho, por ser tão estilizado, parece por vezes pouco orgânico para a linguagem de banda desenhada, especialmente quando é necessária uma sensação de movimento e continuidade entre quadros, por outro lado, é essa mesma característica que permite às suas ilustrações uma certa pompa e circunstância visual que encaixam que nem uma luva naquilo que procura ser ilustrado. E se este é um livro que, para além de ser uma biografia de Tarantino, é também um livro de trivias sobre o realizador, com inúmeras referências à sua obra, Amazing Ameziane consegue dar-nos um trabalho carregado por uma certa audácia visual que torna a obra dinâmica no relato, surpreendendo-nos a cada virar da página.

E, claro, outra coisa que em termos visuais me deixou muito agradado, foi o facto de Amazing Ameziane ter conseguido homenagear alguns nomes grandes da banda desenhada. Há vários exemplos mas nomeio dois que são fáceis de identificar: o primeiro revela-se quando o autor nos conta as primeiras memórias da infância de Tarantino. Fá-lo em tiras “cartoonescas” que nos remetem para as histórias de Charlie Brown, desenhadas por Charles M. Schulz. Outro autor que também é homenageado de forma inequívoca, é Frank Miller porque, aqui e ali, nos são dadas páginas que poderiam ter sido retiradas de uma prancha de Sin City. Todas estas influências, quando juntas com as próprias referências aos filmes de Tarantino, bem como alguns easter eggs, tornam a leitura deste livro como algo gratificante que, eventualmente, até convida a uma segunda leitura. Até mesmo a esse propósito, a própria capa do livro tem 47 easter eggs relacionados com a vida e obra do cineasta.

Quentin Por Tarantino, de Amazing Ameziane - ASA - LeYa
Mesmo assim, nem tudo é perfeito neste livro. Bem sei que a carreira e vida pessoal de Tarantino sempre esteve muito ligada a Robert Rodriguez, outro famoso realizador, mas creio que Robert Rodriguez é presença demasiado constante no livro. Às tantas, o próprio Rodriguez (realizador de filmes como Desperado, Sin City ou Spy Kids) até chega mesmo a oferecer ao leitor um discurso na primeira pessoa, obliterando a importância do próprio Tarantino. Isto causa um certo caos narrativo. Não tenho dúvidas que esse mesmo caos impera fortemente na mente do Tarantino - e, por isso só, já poderíamos dizer que a certa desordem que vai aparecendo a meio do livro entra em consonância com a própria forma de pensar de Tarantino - mas acho que, por vezes, o fio condutor se perde um bocado para lá do adequado. Não é nada de gritante ou que incomode muita gente, estou certo, mas é algo que afasta o livro da perfeição. 

E outra coisa menos positiva é que, sensivelmente também a partir da segunda parte do livro, se perde um pouco o formato banda desenhada do livro, assemelhando-se o mesmo mais a um livro ilustrado do que a um livro de banda desenhada, onde não há sequência entre vinhetas - nem mesmo vinhetas - e onde as ilustrações são acompanhadas de longos blocos de texto.

Em termos de edição, Quentin Por Tarantino apresenta capa mole baça, com as guardas a serem aproveitadas enquanto créditos, como se estivéssemos, no início da leitura, a começar a visualização de um filme e, no final do livro, a chegar ao fim de uma película, quando os créditos rolam sob o nosso olhar atento. Gostei muito dessa valência visual do livro e acredito que isso ajudará, desde logo, o livro a conseguir vendas. Mesmo a contracapa parece a contracapa de um dvd, contendo informações que normalmente encontramos num dvd. Acaba por ser um objeto de culto ao grande realizador, como se fosse uma homenagem que é feita por Amazing Ameziane e partilhada pelo leitor do livro.

Em suma, palpita-me que a ASA acertou na mouche com este lançamento. Quentin Por Tarantino é uma autêntica carta de amor ao cinema, aos cinéfilos, aos filmes de Tarantino e a todos os seguidores que foram afetados pela peculiaridade dos seus filmes. Tem tudo para agradar aos fãs de BD, bem como a gente que nunca pegou num livro de banda desenhada!


NOTA FINAL (1/10):
9.2


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Quentin Por Tarantino, de Amazing Ameziane - ASA - LeYa

Ficha técnica
Quentin por Tarantino
Autor: Amazing Ameziane
Editora: ASA
Páginas: 248, a cores
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 292 x 219 mm
Lançamento: Março de 2024

terça-feira, 29 de março de 2022

Qual das três adaptações para bd de "1984", de George Orwell, comprar?


TOP 3 - Há 3 adaptações para BD de 1984, de George Orwell. Que livro comprar?

Chamei TOP 3 a este artigo, mas bem que lhe podia ter chamado, apenas, as "3 adaptações para BD de 1984, publicadas em Portugal, enumeradas da melhor para a pior".

Bem, mas esse título também não me deixou muito satisfeito. Até porque, como veremos mais abaixo, não me parece justo que, no caso concreto, haja uma obra que se demarca muito, pela positiva ou pela negativa, em relação às demais.

Mas já lá irei.

Por agora, relembro que a grande causa que originou que, em cerca de um ano, surgissem no nosso pequeno mercado de banda desenhada, não uma, nem duas, mas três (!) adaptações da icónica obra 1984, de George Orwell, foi o facto da obra do escritor inglês ter entrado em domínio público recentemente.

Quer isto dizer que as editoras são agora livres de publicar a obra sem as habituais condicionantes e regras dos direitos de autor. A obra passou a ser do público, portanto.

E que obra ela é! Já o disse aqui, creio eu, que coloco 1984 numa restrita lista dos melhores livros que li na minha vida. Pela sua audácia, pelo facto de ser uma obra visionária e porque, em jeito de distopia futurista, nos permite ver tanto do que está errado nas sociedades contemporâneas e que riscos daí poderão advir no futuro. De quantas obras podemos nós dizer isto, não é?

Mas focando o meu texto nas bandas desenhadas que foram publicadas pela Alfaguara, pela Cavalo de Ferro (20|20 Editora) e pela Relógio d’Água, posso dizer que temos obras para todos os gostos. Ou, por ventura, para todo o tipo de leitores. Acho até que esse será o principal ponto.

É que, sendo uma adaptação da obra de Orwell, todas estas adaptações cumprem os requisitos mínimos de o ser, mas, claro está, com resultados e abordagens bastante diferentes entre si.

Sei também que a escolha de qual será "a melhor" dependerá muito dos gostos de cada um. Mas, não obstante, olhando para as características inerentes das obras, até não é muito difícil percecionar as diferenças.

A mim, enquanto leitor, parece-me que a obra que globalmente é mais bem conseguida é a versão de Fido Nesti. Acredito que não será uma opinião muito consensual, já que este livro sofreu bastantes críticas – não só em Portugal, como lá fora – por ter demasiado texto e de não ter conseguido abreviar bem a obra. Meus caros, permitam-me discordar nesse ponto. 1984 é uma daquelas obras que tem que ser explicada para que possa ser (melhor) percecionada. E é isso que Fido Nesti aqui faz. 

Se é verdade que também eu achei que, por vezes, há demasiado texto – incluindo páginas de texto em prosa! -, não deixa de ser verdade que, para quem conhece bem a obra original, como é o meu caso, esta será a versão das três que melhor – e de forma mais completa – tenta ser uma adaptação completa. Dito por outras palavras, é – das três opções – o livro que me parece mais completo e, portanto, mais recomendável para quem não conhece, ou para quem conhece mal, a obra original de George Orwell. 

No entanto, parece-me claro que, graficamente falando, a obra mais espetacular das três, é a de Xavier Coste.

Esta adaptação tem, aliás, sido alvo de muito mais louvores e aceitação do que a de Fido Nesti. O problema que esta tem, quanto a mim, é que quase nem parece uma adaptação, mas mais uma homenagem à obra. E porquê? Bem, porque tentando não ter tanto texto e deixar mais espaço para que os desenhos e os momentos possam respirar melhor – e isso é, de facto, conseguido – acaba por explicar de uma forma bastante incompleta quem foi Winston e o mundo de 1984

Se a obra de Fido Nesti tinha muito texto, esta tem demasiado pouco texto. E se a adaptação de Nesti é a que considero pertinente para alguém que nunca leu a obra original, e quer fazê-lo através de uma novela gráfica, esta adaptação de Xavier Coste é completamente adequada para quem já conhece a obra original e/ou para aqueles que são leitores mais batidos de bd e procuram um álbum com ilustrações maravilhosas.

Finalmente, a adaptação da dupla de autores Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane situa-se no meio termo. Nem os desenhos são tão bonitos como os de Xavier Coste, nem a adaptação é tão bem elaborada como a de Fido Nesti. Acaba, por isso, por ser a obra mais superficial das três e a menos memorável. 

Mas isto também não quer dizer que não seja um livro com vários pontos interessantes, quer do ponto de vista narrativo, quer do ponto de vista visual. Para quem aconselharia eu esta versão? Bem, para aqueles vossos amigos que não lêem banda desenhada habitualmente e que também só querem uma leitura mais leve e fácil da obra.

Quanto às edições, todas elas são em boa qualidade, com um bom trabalho de encadernação por parte das respetivas editoras. As da Alfaguara e da Cavalo de Ferro apresentam capa dura, enquanto que a versão da Relógio d’ Água é em capa mole.

Em suma, e abreviando aquilo que escrevi mais acima, esta é a minha consideração sobre as três obras, quando comparadas entre si: 


1984, de Fido Nesti
(Alfaguara) – destina-se aos que não conhecem bem a obra original e querem passar a conhecê-la através da banda desenhada. É a adaptação mais completa da história original.


1984, de Xavier Coste
(Relógio d’Água) – destina-se aos que já são leitores de bd e procuram um álbum muito belo em termos de ilustrações e, também, aos que já conhecem, pelo menos por alto, a obra original.


1984, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane
(Cavalo de Ferro – 20|20 Editora) – destina-se aos leitores que habitualmente não lêem banda desenhada e querem apenas ficar com uma breve ideia da obra original de Orwell.








Como disse, há opções para todo o género de leitores.

A mim, enquanto leitor, diria que as minhas preferências recaem algures entre a edição de Nesti e a de Coste. Nenhuma das duas me deixa totalmente satisfeito, mas ambas são bastante boas. E, eventualmente, tenho uma ligeira preferência pela edição de Nesti, diria. Não tem desenhos tão bonitos, mas é um livro mais completo para uma história tão complexa como 1984.

Para saberem mais sobre cada uma destas obras, convido-vos a visitarem os artigos que escrevi para cada livro, mais abaixo.



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Fichas técnicas

1984 - A Novela Gráfica 
Autor: Fido Nesti
A partir da obra original de: George Orwell
Editora: Alfaguara 
Páginas: 224, a cores 
Encadernação: capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020
Análise à obra, aqui.


1984
Autor: Xavier Coste
A partir da obra original de: George Orwell
Editora: Relógio D’Água
Páginas: 248, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Agosto de 2021
Análise à obra, aqui.


1984: Novela Gráfica
Autores: Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane
A partir da obra original de: George Orwell
Editora: 20|20 (Cavalo de Ferro)
Páginas: 240, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021
Análise à obra, aqui.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Análise: 1984: Novela Gráfica

1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora

1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora
1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane

Desde que a obra de George Orwell entrou, recentemente, em domínio público, são cada vez mais as diversas adaptações que vão surgindo no mercado. Só em Portugal, já foram lançadas, no espaço de cerca de um ano, 3 adaptações para banda desenhada da mesma obra 1984. A primeira adaptação, da autoria de Fido Nesti, pela editora Alfaguara, já aqui foi analisada. Brevemente, analisarei também a adaptação de Xavier Coste, publicada pela Relógio d’Água, que também já se encontra na minha pilha de “livros para ler”. Possivelmente, até farei depois um comparativo entre as 3 obras. Saliento, também, a título de curiosidade, que há ainda uma quarta versão, da autoria de Jean-Christophe Derrien e Remi Torregrossa, que também me parece muito interessante, mas que, pelo menos até agora, não foi lançada em Portugal.

Mas centremo-nos na versão de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane, que a 20|20 Editora, sob a chancela da Cavalo de Ferro, lançou recentemente.

1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora
Posso dizer que, no seu todo, esta é uma adaptação que cumpre bem os pressupostos de uma adaptação tão relevante como a de 1984, de George Orwell. Resume os momentos mais importantes da obra, tem clareza narrativa e tem uma ilustração que, não sendo estonteante, sabe reconstruir o universo imaginado por Orwell.

A história, sobejamente conhecida, mas que sintetizo aqui, é ambientada num futuro distópico que se passa no ano de 1984 (mas que foi originalmente escrito no ano de 1948) e conta-nos o percurso de Winston Smith, que trabalha no Ministério da Verdade, onde textos, filmes e livros são oficialmente retificados para provar que o Partido tem sempre razão. Winston começa então a discordar com os valores preconizados por este Estado Autoritário e começa a sentir uma rebelião secreta a crescer dentro de si. E essa rebelião e essa revolta acabam por ser ainda mais despertadas quando começa a travar conhecimento com Julia, por quem se apaixona, e com quem mantém um relacionamento às escondidas dos tele-écrans comandados pela equipa do Grande Irmão. Tal como Winston, também Julia é crítica do sistema que os controla ao mais ínfimo detalhe. E, eventualmente, esse sentimento de revolta e contraordenação de ambos, acaba por ser posto a descoberto pela máquina que sustenta o Grande Irmão, havendo fortes punições para os prevaricadores.

1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora
A história deste que é um dos meus livros favoritos de sempre, e que continua tão atual e tão relevante acerca das formas como podemos olhar para um Estado e para o papel que desempenhamos no mundo, já é bem conhecida. Interessa, por isso, olhar mais para a forma como a obra original foi adaptada nesta edição. Acho que, de uma forma global, podemos dizer que a adaptação está bem conseguida, pois consegue transportar-nos para esse universo opressivo, sorumbático e cinzento. Este é um sítio onde nenhum de nós gostaria de estar, mas que nos cativa por ser uma distopia que, em muitos casos, se assemelha àquilo que temos nas sociedades modernas. E isso, passa bem nesta adaptação de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane. Quanto aos diálogos, porém, julgo que os mesmos poderiam ter sido mais bem trabalhados.

Em termos visuais, é uma obra que, em muitas ocasiões, parece alicerçar-se mais no livro ilustrado do que na banda desenhada. Porém, tenho cuidado com esta afirmação, pois é claro que estamos perante um livro de banda desenhada na forma, com a presença de vinhetas, balões, etc. No entanto, o que quero sublinhar é que, por vezes, as vinhetas são compostas por uma ilustração com o texto a aparecer fora das mesmas, como se fosse a legenda de uma ilustração apenas. Além disso, não há propriamente uma grande sequência entre desenhos já que, em vários casos, o ilustrador Amazing Améziane se limita a oferecer-nos desenhos que nos remetem para o universo aqui tratado, ou para os valores que são passados por esta distopia, mas que não são, necessariamente, uma sequência visual para o que acontece na linha narrativa da história. Por outras palavras, como as ilustrações não obedecem, necessariamente, ao que é dito e narrado, bem que também poderiam ser utilizadas mais à frente ou mais atrás na história, com outra descrição e/ou texto. É, também por isso, que este livro nos remete para o livro ilustrado.

1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora

A paleta de cores assenta, depois, em tons azulados, que nos transportam para um universo triste e monocromático que está, também, muito presente na história original. Acho, portanto, que, de um modo geral, o autor é feliz em caracterizar o universo de 1984. As ilustrações acabam por nos dar ambientes sujos, opressivos, lineares e obtusos que nos parecem fazer viajar facilmente para este universo.

Gostei também, e particularmente, da planificação da obra, já que é muito dinâmica e moderna. Temos ilustrações que ocupam uma só página; temos as tradicionais vinhetas; temos ilustrações grandes, que são divididas por vinhetas entre si; temos figuras a rasgar os limites das vinhetas; temos, basicamente, muita variedade.

Talvez, também por isso, esta adaptação sendo, ainda assim, pesada pelo tema que aborda, torna-se uma leitura fácil e simples de ler por toda a gente. Claro que, se isso é bom por um lado, por outro lado, também faz com que esta adaptação, quando comparada, por exemplo, com a de Fido Nesti, se pareça, por ventura, mais superficial e menos fidedigna. Quase como se procurasse ser, por seu turno, mais uma introdução à obra original do que, propriamente, um resumo da obra original. Se me perguntarem: “então, mas quem nunca leu a obra original e lê esta adaptação destes autores fica a conhecer 1984?” Responderia que fica a conhecer, por traços gerais, a obra original, sim. Ganha umas luzes sobre o tema. Mas também é verdade que há muito da obra original que acaba por não ser resgatado para esta adaptação.

1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora

Em termos de edição, a 20|20 Editora faz aqui mais um bom trabalho. O livro é robusto e em capa dura, com papel baço de boa gramagem. Um objeto-livro bem apetecível, embora a ilustração da capa pudesse ser, a meu ver, bem melhor, a julgar por outras splash pages no interior do livro, que dariam capas bem mais apelativas.

Em conclusão, esta é (mais) uma adaptação para novela gráfica da obra 1984, de George Orwell, que cumpre os pressupostos primordiais de nos transportar, novamente, para esse universo cinzento e opressivo que o autor inglês criou na sua obra-prima. Acaba por ser uma adaptação light – leia-se “superficial” – mas que consegue ser bem conseguida e uma porta de entrada pertinente para o texto original.





NOTA FINAL (1/10):
7.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane - Cavalo de Ferro - 20|20 Editora

Ficha técnica
1984: Novela Gráfica
Autores: Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane
Editora: 20|20 (Cavalo de Ferro)
Páginas: 240, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Lançamento: 1984: Novela Gráfica




Desde que a obra de George Orwell entrou em domínio público recentemente são cada vez mais as diversas adaptações que vão surgindo no mercado.

Desta vez, é a 20|20 Editora, através da chancela Cavalo de Ferro, que apresenta a sua versão, em formato de novela gráfica, da maior obra de Orwell, 1984, como, aliás, já tinha sido anunciado aqui no Vinheta 2020 há umas semanas.

Esta adaptação conta com Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane nos papéis de argumentista e ilustrador, respetivamente.

Abaixo, fiquem com algumas imagens promocionais e com a sinopse da obra.
1984: Novela Gráfica, de Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane

Winston Smith trabalha no Ministério da Verdade, onde textos, filmes e livros são oficialmente «rectificados» para provar que o Partido tem sempre razão. Mas Winston anseia pela liberdade. 

A sua revolta interior contra o sistema é finalmente despertada quando se apaixona por Julia e ambos são atraídos para uma conspiração que visa derrubar o governo. No entanto, numa sociedade sob a vigilância omnipresente das câmaras e da Polícia do Pensamento, o Grande Irmão não tolera actos de desobediência ou rebelião...
1984, a célebre distopia de George Orwell, continua a interpelar-nos em toda a sua modernidade, questionando a nossa relação com a linguagem, o poder político e a liberdade de expressão.

Uma das obras mais importantes e de maior sucesso na literatura mundial, agora adaptada para novela gráfica.


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Ficha técnica
1984: Novela Gráfica
Autores: Sybille Titeux de la Croix e Amazing Améziane
Editora: 20|20 (Cavalo de Ferro)
Páginas: 240, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 24,99€