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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela G. Floy Studio nos últimos 5 anos!


Hoje trago-vos as 10 melhores bandas desenhadas editadas pela G. Floy Studio nos últimos 5 anos! 

Esta editora que nos últimos anos até tem andado algo tímida no que ao lançamento de banda desenhada diz respeito, editou inúmeras bandas desenhadas de qualidade superior entre os anos 2020 e 2025, contribuindo com a sua parte para que a 9ª arte tenha vivido um momento tão bom na última meia década.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Portanto, sem mais demoras, aqui estão elas, as 10 Melhores BDs da G. Floy Studio:

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Análise: As Muitas Mortes de Laila Starr

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio
As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade

Desde o seu lançamento, em 2021, quando foi originalmente publicada pela BOOM! Studios, que este As Muitas Mortes de Laila Starr despertou o meu interesse. Em primeiro lugar, porque reunia o nome do português Filipe Andrade a Ram V – um autor indiano que tem vindo a trilhar o seu caminho com um sucesso crescente. Além disso, e como se não bastasse, o crescente sucesso e aceitação da obra, que conquistou uma rápida aclamação internacional, ainda mais adensou o meu interesse. Com efeito, As Muitas Mortes de Laila Starr acabou por ser nomeado para alguns dos prémios mais relevantes do género, dos quais se destacam os Eisners. Como tal, foi difícil, mas acabei por resistir à tentação de o ler na língua original – o inglês. Decidi, como sempre tento fazer, esperar pela edição portuguesa, que nos foi trazida pela G. Floy Studio, há umas semanas.

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio
E depois de ler este tão esperado livro, posso dizer-vos que compreendo o hype da obra e que me junto ao coro das vozes que aclamam este belo livro, a roçar a poesia em banda desenhada. A história é profunda e carregada de beleza, e as ilustrações de Filipe Andrade são verdadeiramente encantadoras. Não obstante, também acho que o livro, especialmente ao nível do argumento, apresenta algumas fraquezas – ou inconsistências – que, se acauteladas pelos autores, poderiam ter tornado a obra em algo perfeito. Não o sendo, é um livro magnífico e que já pode figurar entre os livros mais relevantes da banda desenhada nacional. Ou de origem nacional, vá.

As Muitas Mortes de Laila Starr apresenta-nos uma história onde se misturam, de forma airosa, os temas do drama, da fantasia e das reflexões sobre a vida, sobre a morte e sobre o próprio renascimento depois da morte. Como cada um dos capítulos parece poder ser lido de forma independente, quase como se o livro fosse constituído por cinco mini-histórias autocontidas, não posso deixar de dizer que muitas vezes me veio à memória o fabuloso livro Daytripper, dos autores brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá - publicado em Portugal pela Levoir. Aliás, isso até se torna ainda mais curioso, se tivermos em conta que este As Muitas Mortes de Laila Starr abre com um prefácio do próprio Fábio Moon. Além desta referência, também senti omnipresente a influência de Neil Gaiman e da sua obra-prima Sandman. Mas, atenção, ao dizer isto não posso deixar de referir que, embora estas referências estejam, por ventura, demasiado óbvias na história imaginada por Ram V, este As Muitas Mortes de Laila Starr tem a sua própria personalidade, não sendo “mais do mesmo”.

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio
E, já agora, permitam-me uma outra ressalva: se é verdade que os cinco capítulos que compõem esta história são aparentemente independentes entre si, é lógico que há um fio condutor e que a soma das cinco partes nos leva a uma reflexão e compreensão maiores da história, claro está.

A trama passa-se em Bombaim, na Índia, e gira em torno de Laila Starr, que não é mais do que um corpo, uma carcaça, que a personagem Morte adota já depois de ter sido despedida da sua função de ceifar vidas. Sim, a premissa é mesmo essa. Depois de se perceber que acaba de nascer um bebé (Darius) que será o descobridor/inventor da imortalidade, a tarefa da Morte deixa se ser relevante e a personagem vê-se relegada a uma vida mortal. Claro que não está satisfeita por ter perdido a sua função, a sua ocupação, que cumpria com tanto zelo, e procurará assegurar que esse bebé, que acaba de nascer, não dure muitos anos. Há, pois, uma tentativa de alterar o futuro previamente estabelecido, que acabará por levantar pertinentes questões e obrigar Laila a ver-se confrontada com questões sobre a natureza da vida e da morte, e a possibilidade de encontrar um significado mais profundo na sua própria existência divina.

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio
A história examina temas como a mortalidade, o propósito da vida, o desejo humano de evitar a morte e o valor das experiências efémeras. Ram V tece uma narrativa complexa que questiona as ideias convencionais sobre a morte e a imortalidade. A premissa deste As Muitas Mortes de Laila Starr é verdadeiramente apaixonante. E verdadeiramente apaixonante é também a escrita do autor indiano que, rapidamente, consegue impactar o leitor. Chega a parecer um misto de poesia e filosofia o texto que nos é dado por Ram V que, além de escrever bem, ainda nos oferece excelentes formas de narrar a sua história. Não só apreciei especialmente o modo como vamos ficando a conhecer o que acontece, de forma muito bem doseada, como há momentos verdadeiramente brilhantes como o do cigarro, entre outros. (Não digo mais nada, para não estragar a surpresa).

Mas se a premissa é excelente, se a escrita é muito boa e se a história é tecida com complexidade, é nessa mesma complexidade que a história se torna periclitante e frágil. Quase ao ponto de afundar a sua própria premissa base. Bem, talvez não a “afunde” por completo, mas certamente, acaba por apresentar inconsistências e pontas soltas que a impedem de ser perfeita ou ainda mais marcante e bela.

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio
Senão vejamos: como primeiro ponto, se a Morte é destituída da sua função, como é que as pessoas no mundo continuam a morrer? Ninguém se lembrou de que isto poria em causa o próprio conceito chave da história? Se a Morte deixa de estar no ativo quem é que está, portanto, a ser responsável pelas mortes das pessoas? Qual é, pois, a lógica para a Morte ser despedida tanto tempo antes do próprio obsoletismo da sua função? E se Laila Starr morre várias vezes – creio que isso não será um spoiler se tivermos em conta o próprio nome da obra – quem é que está, portanto, a ser o responsável pelas suas mortes, tendo em conta que o seu posto foi extinto? Já para não falar que, partindo do princípio que a história se passa na Índia, onde a religião hindu é hegemónica, não deveria Laila reencarnar em corpos diferentes, sendo desta forma mais fiel ao que a religião defende? Porque motivo a reencarnação da morte é sempre feita no mesmo corpo de Laila Starr? São perguntas óbvias que ficam sem resposta, infelizmente, e que podem deixar no ar a ideia de que o passo foi maior do que a perna na criação da premissa da obra.

Mesmo assim, estas inconsistências que podem parecer irrelevantes ao leitor mais incauto, não destroem a obra, nem nada que se pareça. Simplesmente a afastam da perfeição que, convenhamos, estava perto de ser alcançada. Até porque me pareceu que Ram V acabou por saber fechar bem a história, com um bonito e profundo final, que é acompanhado com bom texto – daqueles que também conseguem ser “quotable” e que tanto procuro sempre enaltecer.

As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio
Mas se, até este ponto, me tenho focado em Ram V, não há forma de falar neste As Muitas Mortes de Laila Starr sem fazer uma veemente menção ao trabalho de Filipe Andrade. É que, na verdade, o autor português parece acertar em tudo o que faz. Os seus desenhos, muito estilizados, rabiscados, confiantes, modernos e fluídos, adequam-se que nem uma luva ao ambiente pictórico da história e, ao mesmo tempo, conseguem imprimir a valência metafísica e poética que a história pedia.

O estilo de Filipe Andrade é único e traz uma certa misticidade à atmosfera da obra, oferecendo-nos um universo deslumbrante e emotivo, onde a planificação é cinematográfica, as personagens são impactantes e as belas cores vibrantes e vivas são a cereja em cima do bolo. Visualmente, As Muitas Mortes de Laila Starr é maravilhoso e verdadeiramente original. Sem patriotismos desmesurados, posso dizer que não foi apenas Filipe Andrade que teve a sorte de trabalhar com um autor excelente como Ram V. Na verdade, parece-me que ainda foi maior a sorte de Ram V em encontrar Filipe Andrade para ilustrar a sua história.

A edição da G. Floy Studio apresenta capa dura baça, com bom papel brilhante. A nível de impressão e de encadernação, o trabalho da editora também revela qualidade. Destaque para um generoso e bem conseguido dossier de extras com 20 páginas. Nele estão incluídos posfácios de Ram V e Filipe Andrade, breves textos explicativos sobre as várias fases de criação da obra, arte conceptual por parte de Filipe Andrade e, ainda, o conjunto das 5 capas dos vários capítulos. Como nota pessoal, embora menos relevante, já que é apenas uma questão de gosto, considero que há duas ilustrações (a segunda e a terceira) que teriam funcionado melhor para a capa deste livro. Mas, lá está, é uma questão de gostos. E diga-se que também gosto da capa deste livro. Embora, não tanto.

Concluindo, As Muitas Mortes de Laila Starr (já) é, por vários motivos, um livro incontornável na banda desenhada portuguesa. Ou de origem portuguesa, como preferirem. Porque nos dá uma história ambientada num tema e cenário pouco habitual, porque nos dá uma bela e sensível reflexão sobre a vida e sobre este passeio efémero que ela é e, por último, porque se assume como uma obra icónica e relevante para o autor português Filipe Andrade, que tem um enorme talento e merece a exposição e louvores que tem recebido em todo o mundo!


NOTA FINAL (1/10):
9.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade - G. Floy Studio

Ficha técnica
As Muitas Mortes de Laila Starr
Autores: Ram V e Filipe Andrade
Editora: G. Floy Studio Portugal
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Maio de 2023

terça-feira, 20 de junho de 2023

Obra portuguesa nomeada para os Eisners prepara-se para ser lançada!



Falo de As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e do português Filipe Andrade que, na edição do ano passado dos prémios Eisners recebeu nada mais, nada menos, do que quatro nomeações!

Desde que a G. Gloy Studio anunciou que iria lançar esta obra em Portugal, que a enorme expetativa se foi gerando. Afinal de contas, esta é das bandas desenhadas, de origem nacional, que mais aceitação e consagração conquistou. Desde sempre.

Já, por várias vezes, senti vontade para ler a obra em inglês, mas, fiel à edição portuguesa e ao trabalho das editoras em trazer para Portugal obras de boa qualidade, decidi esperar. Brevemente, poderei ler este As Muitas Mortes de Laila Starr e saciar a minha expetativa.

O livro deverá chegar às livrarias e às bancas a partir do próximo dia 28 de Junho.

Mais abaixo, deivo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


As Muitas Mortes de Laila Starr, de Ram V e Filipe Andrade

O notável novo romance gráfico do galardoado escritor Ram V (These Savage Shores, Swamp Thing) e o aclamado ilustrador Filipe Andrade (Captain Marvel) que explora a ténue distinção entre viver e morrer através da lente do realismo mágico.

A Humanidade está à beira de descobrir a imortalidade. Como resultado, a avatar da Morte é enviada para a Terra para viver uma vida mortal em Bombaim como a jovem Laila Starr.
Inconformada com a sua nova mortalidade, Laila arranja forma de descer à Terra no preciso lugar onde o criador da imortalidade nascerá. Irá Laila aproveitar para impedir a humanidade de alterar permanentemente o ciclo da vida, ou irá a morte realmente tornar-se uma coisa do passado?

Em 2022, ''As Muitas Mortes de Laila Starr'' foi nomeado para um prémio Eisner nas seguintes quatro categorias Melhor Mini-Série, Melhor Argumentista, Melhor Artista/Arte-finalista e Melhor Colorista.

"Ram V traz uma camada de humanidade à história e, no processo, humaniza o divino... Mais do que uma história sobre a vida e a morte, é uma experiência como a própria vida."
- ComicBook.com

"Ram V e Andrade criaram uma história de realismo mágico que celebra a vida e o profundo valor desta no quotidiano."
- AIPT

"
As Muitas Mortes de Laila Starr é uma obra de transcendência cíclica."
- The A.V. Club

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Ficha técnica
As Muitas Mortes de Laila Starr
Autores: Ram V e Filipe Andrade
Editora: G. Floy Studio Portugal
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Fromato: 18 x 27,5 cm
PVP: 22,00€

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Kingpin lança livro de André Oliveira na língua inglesa!



A Kingpin Books está de volta ao lançamento de banda desenhada com a reedição da obra Milagreiro, de André Oliveira e vários ilustradores nacionais de referência!

Esta nova versão da obra originalmente publicada pela editora Polvo, tem a particularidade de ser na língua inglesa - daí chamar-se Miracle Worker - e apresentar-se num formato maior, com uma belíssima nova capa da autoria de Jorge Coelho, e com nova legendagem e cores melhoradas.

O livro estará já disponível a partir deste fim de semana, no Maia BD, sendo apresentado no próprio certame com a presença dos autores André Oliveira e Filipe Andrade.

Mais abaixo, deixo-vos com algumas imagens promocionais do livro e com a nota de imprensa da editora.

Miracle Worker, de André Oliveira, Jorge Coelho, André Caetano, Filipe Andrade, Nuno Plati, Ricardo Cabral, Ricardo Tércio e Ricardo Drumond

Oito anos depois da edição original da Polvo, “Milagreiro” ganha um novo fôlego, agora numa versão em Inglês, num formato maior, com nova capa de Jorge Coelho, nova legendagem e cores melhoradas. 

Esta edição inclui ainda um novo epílogo, publicado antes apenas na antologia TLS vol.2: Silêncio, e um prefácio original do argumentista polaco Bartosz Sztybor.
Na sequência da misteriosa morte do seu irmão Cyril, Aya desafia a mais poderosa e obscura organização do mundo, para descobrir o que realmente aconteceu. Com a ajuda de Heron, um assassino profissional à beira da reforma, e movida pela força da sua própria coragem, Aya vai descer ao inferno…para perceber se afinal há ou não milagres.

Ficha técnica
Miracle Worker
Autores: André Oliveira, Jorge Coelho, André Caetano, Filipe Andrade, Nuno Plati, Ricardo Cabral, Ricardo Tércio e Ricardo Drumond
Editora: Kingpin Books
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 19,50 x 27,50 cm
Língua: Inglês
PVP: 12,99€


quinta-feira, 19 de maio de 2022

Portugueses fazem história nos Prémios Eisner!



Ontem rebentou a bomba no universo da banda desenhada nacional! Os portugueses Filipe Melo, Filipe Andrade e Inês Amaro estão entre os nomeados para os prémios Eisner!!! Sim, leram bem, os "oscars" da banda desenhada norte-americana!

Filipe Melo e Juan Cavia, autores de Balada para Sophie, receberam 4 nomeações, com a sua edição da obra por parte da Top Shelf (IDW): melhor álbum de banda desenhada, melhor edição americana de material estrangeiro, melhor argumentista (Filipe Melo) e melhor ilustrador/artista de multimédia (Juan Cavia). Não são umas nomeações quaisquer! Estamos a falar das nomeações para as categorias mais apetecíveis dos prémios. Encho-me de orgulho e felicidade perante o nosso Filipe Melo - e, também, perante o "nosso" Juan Cavia - e considero que estas nomeações são mais que fundadas!

Aliás, isto fez-me reler a minha "polémica" análise a Balada para Sophie, aqui no Vinheta 2020, que tanto burburinho causou nas redes sociais - e não só. E mesmo admitindo que, em determinadas frases, talvez a minha eloquência perante "o melhor livro de banda desenhada na história da bd portuguesa" tenha sido extasiante demais, passado todo este tempo, subscrevo toda a globalidade daquilo que escrevi na altura. E quando, aliás, escrevi esta frase: "acho até que este trabalho, se bem promovido internacionalmente nas versões inglesa e francesa da obra, pode sonhar com prémios internacionais ao nível dos Eisners ou do Festival de Angoulême", parecia que eu estava a perspetivar alguma coisa, não?

Dito por outras palavras, e apesar da perseguição pessoal (mas ridiculamente inofensiva) a que fui alvo, por causa desse polémico artigo, a verdade é que, afinal de contas, talvez eu tenha sido mais certeiro nas minhas palavras do que aquilo que muitos queriam admitir, não? E que terão a dizer, agora, esses inúmeros críticos ao meu texto? O (seu) silêncio será a resposta mais concordante possível em relação à qualidade inigualável de Balada para Sophie, estou certo.

Lembro ainda, com sentido de dever cumprido, que Balada para Sophie foi, expetavelmente, o grande vencedor da primeira edição dos VINHETAS D'OURO, em 2020. É com um certo gosto pessoal que recordo que, na aceitação desses prémios, quer Filipe Melo, quer Juan Cavia, referiram que o VINHETA D'OURO era o primeiro prémio que recebiam para esta obra e que não poderiam estar mais felizes! Ora, o Vinheta 2020 e os prémios que aqui se desenvolvem não terão sequer um átomo da importância de uns Prémios Eisner mas, lá está, foi neste pequeno canto da web mundial que a maravilha que é Balada para Sophie foi primeiramente enaltecida. E isso ninguém nos pode tirar e constitui também uma vitória para mim e para todos os membros do painel de jurados dos VINHETAS D'OURO 2020. Poderão rever os vídeos da aceitação dos prémios para Melhor Álbum de Autor Português e Melhor Argumento de Autor Português, aqui e aqui.

Por último, e para aqueles que, injustificadamente, têm menosprezado a obra-prima da banda desenhada mundial (sim, mundial!) que é Balada para Sophie, dizendo coisas como: "ah e tal... se o Filipe Melo não fosse conhecido de outras áreas, onde tem muitos contactos e tal... não conseguiria vender tão bem os seus livros como vende...", acho que cada vez mais vêem os seus pseudo-argumentos a ser invalidados. Não me parece que o Filipe Melo tenha uma amplitude de influências tão grande que atravesse o oceano. Sabem porque é que Balada para Sophie está nomeado a 4 Eisners, meus caros? Porque é uma obra-prima. Não é preciso mais do que dois olhos, um coração e um cérebro para se perceber isso. E os jurados daqueles que são os principais prémios do continente americano, concordam comigo.

Mas, pondo agora de parte o Filipe Melo, o Juan Cavia e o seu fabuloso Balada para Sophie, há que dizer que as boas notícias para a bd nacional, relativamente à edição 2022 dos Prémios Eisner não se ficam por aqui e se estendem a mais um (ou, melhor dizendo, dois) dos nossos principais artistas da 9ª arte! 

Falo de Filipe Andrade que, com a sua obra The Many Deaths of Laila Starr, escrita por Ram V e editada pela BOOM! Studios, recebe 3 nomeações para um Eisner: Melhor Série Curta; Melhor Desenho e Melhor Cor. Esta última nomeação é repartida com a portuguesa Inês Amaro que também coloriu a obra!

Que fantásticas notícias!

Neste caso concreto, ainda não conheço a obra The Many Deaths of Laila Starr mas não posso deixar de estar muito feliz com a aclamação do trabalho de Filipe Andrade, que considero sublime. Lembro-me por exemplo que no meu, também polémico, TOP 15 das melhores bandas desenhadas portuguesas de sempre, considerei BRK, de Filipe Andrade e Filipe Pina, como a minha segunda bd portuguesa de sempre. Filipe Andrade é um autor maravilhoso, pojado de um enorme talento, que recebe assim a aclamação internacional dos Prémios Eisner. E acho, portanto, que face às nomeações que The Many Deaths of Laila Starr acaba de arrecadar, a edição por cá da obra em português já não é apenas justificável, mas sim um imperativo editorial. Não deixem escapar esta oportunidade, caros editores portugueses.

A entrega dos prémios acontecerá em Julho, na próxima edição da San Diego ComiCon. Desejo os meus sinceros parabéns e boa sorte aos portugueses a concurso mas, sublinho que, para mim, eles já são vencedores neste dia histórico para a banda desenhada nacional.

Ok, se pensarmos nos prémios, propriamente ditos, ainda nada foi ganho. No entanto, e como sempre digo, tendo em conta que ocorrem tantos lançamentos de banda desenhada por esse mundo fora e há tanto por onde escolher, estar entre os nomeados já é uma vitória. Feito que, salvo erro, para os portugueses apenas foi alcançado pela Kingpin, de Mário Freitas, para a categoria de melhor loja, intitulada Will Eisner Spirit of Retailer Award, que foi nomeada (e finalista) 5 vezes para esse prémio.

Parabéns a todos aqueles que contribuem para que a banda desenhada portuguesa possa ecoar lá fora e ser respeitada por esse mundo fora! Que saibamos nós, portugueses, louvar aquilo de bom que fazemos que, até aos olhos dos estrangeiros, é imensamente louvável.

domingo, 15 de novembro de 2020

Análise: TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes


TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes, de Vários Autores 

As TLS Series são antologias de banda desenhada portuguesa, que foram desenvolvidas por autores do célebre The Lisbon Studio, um estúdio que reúne alguns dos nomes mais conceituados da produção nacional de banda desenhada, dos últimos anos. Este grupo de artistas partilhou em Lisboa um espaço físico para desenvolver o seu trabalho. E estes álbuns são antologias que reúnem os seus trabalhos durante esse tempo. Desde 2017, foram editados quatro volumes da coleção TLS Series, intitulados, respetivamente, Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes

Cada volume tem, pois, por isso, um tema subjacente, um ponto de partida, do qual todos os autores partem para criar a sua história. Os primeiros 3 volumes foram co-editados pela Comic Heart e pela G. Floy Studio. O quarto e último volume, Raízes, foi editado pela editora A Seita e pela Comic Heart. 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
Eventualmente, poderia analisar cada volume ou cada história em separado. Haveria, certamente, legitimidade para o fazer dessa forma. Mas não creio que seja de uma forma isolada que devemos olhar para estas antologias de banda desenhada. Pelo menos, não é assim que olho para elas. Mais do que enaltecer esta ou aquela história, ou apontar este ou aquele defeito, penso que o mais importante é mesmo ter em conta que esta iniciativa foi fantástica do primeiro ao último volume, da primeira à última página. Enquanto catálogo da produção nacional, enquanto prospetor de exercícios narrativos na área da bd e, claro, enquanto iniciativa incubadora da criatividade nacional. Não há como não tirar o chapéu a esta ideia e aos seus resultados concretos. Que boa maneira de mostrar que há muitos autores portugueses com elevada competência na banda desenhada. 

Olhando para estes quatro livros, há algo que rapidamente sobressai e que é raro de encontrar quando se trata de um antologia de banda desenhada que, quase sempre, procura reunir trabalhos seminais de bd independente. Pois, se há uma coisa que é característica à banda desenhada independente – ou a qualquer outra arte independente – é o habitual pouco profissionalismo da edição, por mais bela que seja, no caso da banda desenhada, a arte ou a ideia subjacente à história. Mas isso é uma coisa que não existe nestes TLS Series. Pelo contrário. O produto físico não só é profissional ao mais alto nível, como apresenta um aspeto bonito, tornando estes livros em algo extremamente apetecível do ponto de vista de um colecionador de banda desenhada. 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
As capas são duras e grossas, o papel é baço e de boa gramagem e há sempre um ou mais prefácios que introduzem cada um dos volumes. Cada livro é composto por 6 ou 7 histórias, em que apenas uma dessas histórias é impressa a cores, enquanto que as restantes são a preto e branco. O autor da história a cores de cada livro é também o autor responsável pela capa desse mesmo volume. E que magníficas capas (e contracapas) elas são! Eu bem que defendo que a construção de uma capa deverá ser algo que um autor de banda desenhada deve levar muito em conta. Especialmente nos dias de hoje. E estes quatro volumes apresentam capas muito bem concebidas. Atribuo destaque aos volumes Cidades e Viagens, que têm capas verdadeiramente incríveis. Embora Silêncio e Raízes também tenham boas capas, diga-se. 

Há também uma homogeneidade em todos os livros no que diz respeito à edição, ao design dos livros. Tudo isto nos permite verificar que é um trabalho conjunto de amor à 9ª arte. E poder testemunhar isso nestas magníficas antologias que, ainda por cima, têm um preço tão simpático, é uma grande oportunidade que, a meu ver, um fã de bd não deve deixar passar. 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
Quanto às histórias, temos argumentos, ilustrações e linguagens de todo o tipo. Traços mais "cartoonizados", traços mais realistas... há de tudo um pouco. A heterogeneidade de histórias existe mas é-nos dada, conforme já referido, em cuidadas edições que almejam alcançar uma homogeneidade e uma harmonia que são raras encontrar em antologias de banda desenhada. Há diversidade mas  também há harmonia em torno dessa diversidade.

Olhando de forma geral para as histórias que aqui temos, é justo afirmar que há qualidade em todas elas e em todos os géneros adoptados pela fantástica galeria de autores que compõem estes livros. 

Apenas para nomear as minhas favoritas, diria que Quiosque, de Joana Afonso; Muralha de Filipe Andrade; O Rosto do Fantasma, de Marta Teives e Pedro Moura; Deslumbre e One Way, de Bárbara Lopes; Monte Morte, de Jorge Coelho e André Oliveira; Tempo, de Paula Bivar de Sousa; Escolha do Dia, de Nuno Rodrigues e Pedro Ribeiro Ferreira; e Franzi, de Nuno Saraiva, merecem a minha preferência. E isto sem desprimor para todas as restantes histórias a que não faço menção. 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes

Finalmente, quero ainda destacar que o que acho mais incrível nestas antologias é que se vê que há um óbvio carinho comum entres os autores que fizeram parte do The Lisbon Studio. Uma sensação de pertença e de comunidade que aquece o coração daqueles que lêem estes livros. E se antologias de banda desenhada lançadas com esta qualidade de edição e de design, e com tantos autores consagrados de banda desenhada são raras, o que dizer quando, a isso tudo, se soma o afeto que emana deste projeto? Algo ímpar e que merece ser acarinhado por todos os que amam banda desenhada. Da minha parte, a única coisa que lamento é saber que estas TLS Series chegaram ao fim. Fica uma vazio por preencher. 

Pequeno comentário final: o primeiro volume desta coleção, o Cidades, há muito se encontra esgotado em todo o lado. Portanto, aproveito para agradecer aos meus caríssimos José Hartvig de Freitas e Bruno Caetano por me terem fornecido um dos últimos exemplares que ainda era possível recuperar. 



NOTA FINAL (1/10): 
9.0 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
Fichas técnicas
 
TLS Series - Cidades 
Autores: Dileydi Florez, Filipe Andrade, Gonçalo Duarte, Joana Afonso, João Tércio, Marta Teives, Pedro Moura, Ricardo Cabral 
Editora: G. Floy / Comic Heart 
Páginas: 120, a preto e branco (inclui uma história a cores) 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: 2017 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
TLS Series - Silêncio 
Autores: André Oliveira, Bárbara Lopes, Darsy Fernandes, Filipe Pina, Jorge Coelho, Marta Teives, Nuno Rodrigues, Paula Bivar de Sousa, Pedro Moura, Pedro Ribeiro Ferreira, Ricardo Cabral 
Editora: G. Floy / Comic Heart 
Páginas: 144, a preto e branco (inclui uma história a cores) 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: 2017 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
TLS Series - Viagens 
Autores: Dileydi Florez, Filipe Andrade, Nuno Rodrigues, Nuno Saraiva, Pedro Ribeiro Ferreira, Quico Nogueira, Ricardo Cabral 
Editora: G. Floy / Comic Heart 
Páginas: 128, a preto e branco (inclui uma história a cores) 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Maio de 2018 

TLS Series - Cidades, Silêncio, Viagens e Raízes
TLS Series - Raízes 
Autores: Ana Branco, Bárbara Lopes, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Saraiva, Pedro Moura, Quico Nogueira, Ricardo Cabral 
Editora: A Seita / Comic Heart 
Páginas: 136, a preto e branco (inclui uma história a cores) 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Março de 2020