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sexta-feira, 21 de abril de 2023

Análise: Mar Negro

Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina

Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina
Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho

Começo por dizer que Mar Negro, que traz consigo o muito aguardado regresso da dupla Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho à edição de banda desenhada, responsável pelo aclamado Desvio, que até ganhou um VINHETA D’OURO em 2020, começou por não me agarrar logo à primeira.

Estão a ver os dois longos capítulos que Eça Queiroz ocupa na descrição do Ramalhete no célebre romance Os Maias? Bem, as primeiras 40 páginas de Mar Negro não nos dão mais do que detalhes dos gestos e tarefas mundanas do dia-a-dia de um café de praia. Compreendo que seja uma forma de ambientar o leitor, de apresentar o quotidiano das personagens, de representar os pequenos nadas da vida que fazemos diariamente e, acima de tudo, de mostrar o que Mar Negro tem para nos oferecer. Mas permitam-me dizê-lo: é levado ao extremo. E relembro que sou alguém que, em banda desenhada, até prefere páginas “a mais” do que “a menos”, pois acabo por achar que, muitas vezes, é frustrante que uma boa história, carregada de boas personagens, não tenha o devido espaço para bem explanar as suas ideias e emoções. Mas as primeiras páginas de Mar Negro são, de facto, custosas de superar. Nem os momentos, nem as palavras, nem os desenhos conseguem criar uma relação no leitor.

Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina
Mas não julguem um livro pelas primeiras 40 páginas! Tal como não devemos julgar Os Maias pelos primeiros dois capítulos. Depois dessa travessia do deserto, à semelhança do que acontece na obra-prima de Eça de Queiroz, há em Mar Negro toda uma história e universo que nos marca e que cuja leitura da mesma se torna compensadora.

E ainda bem que assim é. Relembrando a proposta de Desvio, Ana Pessoa volta a convidar-nos a mergulhar na existência frugal de um jovem completamente normal. Desta vez, focamo-nos em Inês, que trabalha num café de praia, onde tem como colega JP. Ambos parecem estar em sintonias diferentes, mas quase sempre é assim no meio profissional, não? O que nos levou ali, ao trabalho que fazemos, pelo menos a muitos de nós, foi a procura por uma forma de sustento e, naturalmente, é normal que os nossos colegas tenham sido movidos justamente por essa mesma coisa apenas e, portanto, não tenham assim tanto em comum connosco, certo? Bem, às vezes não é bem assim. Às vezes, encontramos semelhanças ou, melhor ainda, formas de encaixe com pessoas que, à partida, não teriam nada a ver connosco.

Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina
Se Inês e JP parecem ser a antítese um do outro, vai-se tornando claro, com a passagem do tempo, que os seus feitios e formas de estar se começam a interligar. Mas, sendo um relato muito vívido e verossímil, de tal forma que esta história poderia ter sido baseada numa história real, não deixa de ser verdade que os adolescentes (ainda) não sabem, sequer, o que querem do mundo e, em última análise, de si mesmos. 

Com efeito, Ana Pessoa traz-nos, novamente, mais uma protagonista que parece procurar o seu lugar e a definição de si mesma. E nisso, a autora é exímia na forma como gere tempos, momentos e pensamentos. A história é lenta, sim, mas depois de superadas as 40 páginas, começa a deixar-nos cada vez mais ligados ao enredo e às personagens que nele coabitam. É certo que, quanto a mim, não me parece que, desta vez, as falas sejam tão inspiradas, marcantes ou inspiradoras como foram em Desvio. Pelo contrário, temos alguns diálogos que parecem tão insípidos como os diálogos reais de adolescentes entediados. E, assumindo que isso não será assim tão positivo para o leitor, não deixa de ser impressionante o nível de realismo que a autora consegue colocar naquilo que é dito pelas suas personagens.

Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina
Em termos de desenho, Bernardo P. Carvalho mantém o seu registo de traço. A grande diferença, face a Desvio, é que deixámos de ter uma obra a cores, em detrimento de um registo de bicromia. Neste caso, os desenhos não são a preto e branco, mas sim a azul e branco. Há bons momentos de ilustrações e algumas opções estéticas belas, de facto, mas parece-me que, não sendo o traço do autor muito detalhado ou provido de grandes virtuosismos técnicos, os desenhos neste registo de duas cores apenas acabam por ficar mais despidos, com o resultado final a ser menos cativante. É verdade que as cores de Desvio eram, por vezes, algo saturadas demais. Não obstante, acho que possibilitaram que o livro fosse mais cativante.

Continuando a falar do trabalho de Bernardo P. Carvalho neste Mar Negro, há algo que é difícil não reparar que é na planificação da obra. Mar Negro enverga possivelmente uma das planificações mais dinâmicas e audazes que vi nos últimos tempos. O autor já o tinha feito em Desvio, mas, neste caso, fá-lo com muita (talvez demais?) assertividade. As margens entre vinhetas são feitas na cor laranja e apresentam uma espessura muito fina, fazendo com que as mesmas não se pareçam tanto como uma margem entre vinhetas, mas sim uma mera linha delimitadora. Isto faz com que, naturalmente, as ilustrações não respirem tanto, muito embora, o resultado final seja original, claro.

Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina
De facto, a planificação chega a ser tão dinâmica, que em vez de olharmos para pranchas de banda desenhada, parece que estamos a olhar para uma parede de alvenaria, ou para uma parede de azulejos, com diferentes formas entre si. Consequentemente, nem sempre se torna uma experiência de leitura fluída ou agradável. Prova disso é que, em alguns casos, o autor tenha sentido a necessidade de colocar umas “setas”, entre vinhetas, para que o leitor não se perca. 

Chega a parecer que o autor quis, por capricho, formatar mais as páginas segundo um padrão estético do que para melhor servir a história. Mas, lá está, também há que reconhecer que o resultado final é, mais uma vez, original, moderno e audaz. Não se pode dizer que Bernardo P. Carvalho não faça as coisas à sua própria maneira.

Pensando a quem se destina esta banda desenhada - um público jovem adulto, por ventura arredado da banda desenhada mais clássica - não vejo que, quer no ritmo, quer no teor, quer na componente visual, Mar Negro não seja uma obra que facilmente atrai e causa impacto. E isso merece as minhas vénias. Acho mesmo que seria salutar – até para a afirmação da 9ª Arte nacional enquanto expressão artística moderna e diversificada – que esta dupla continuasse a dar-nos mais bandas desenhadas no futuro.

Mar Negro não consegue, a meu ver, chegar ao patamar a que Desvio chegou, mas é, não obstante, uma boa e original experiência de leitura. Daquelas bandas desenhadas que trazem público novo ao género.

Em termos da edição, merece destaque o facto de este ser o 100º livro da editora Planeta Tangerina. É certo que desses 100 livros não são tantos os que são de banda desenhada. Porém, é um marco muito interessante, que merece os meus parabéns e agradecimentos. O livro apresenta capa mole, com largas badanas e um papel decente. Quer a capa, quer o papel, poderiam ser um pouco mais espessos, ainda assim. De resto, a encadernação e a impressão são de boa qualidade.

Portanto, em conclusão, e depois de ler este Mar Negro, há que admitir uma coisa: Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho parecem estar a jogar um campeonato à parte na banda desenhada nacional. Escrevem e desenham histórias de uma forma que ninguém escreve ou desenha, e parecem direcionar-se para um público diferente do público habitual de banda desenhada. E isso terá todas as desvantagens, para alguns, mas também tem todas as vantagens para outros.


NOTA FINAL (1/10):
7.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho - Planeta Tangerina

Ficha técnica
Mar Negro
Autores: Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Editora: Planeta Tangerina
Páginas: 320, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 174 x 230 mm
Lançamento: Março de 2023

terça-feira, 18 de abril de 2023

Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho lançam nova BD!



Depois do lançamento de Desvio, obra que conquistou vários prémios, entre os quais um VINHETA D'OURO, a dupla de autores formada por Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho está de volta para o lançamento de mais um livro de banda desenhada.

Intitula-se Mar Negro e já se encontra à venda nas livrarias.

Este é o 100º livro da Planeta Tangerina! Dou os parabéns à Editora e faço votos para que a aposta em banda desenhada se mantenha e, se possível, aumente.

Abaixo, podem encontrar a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.


Mar Negro, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho

O verão está a chegar ao fim, mas o bar da praia continua quase sempre cheio. JP serve às mesas e Inês fica nos bastidores, a tirar cafés, a cortar fiambre, a fazer tostas. Não são propriamente amigos. Ele é leviano e alegre, ela parece levar-se demasiado a sério.
Numa manhã de nevoeiro, um acontecimento inesperado vai uni-los mais do que nunca. Mas quanto mais Inês mergulha num drama que não é o seu, mais se afasta da sua própria vida.

– Às vezes sinto que não sou eu própria.
– Como assim?
– Parece que sou outra pessoa ou que estou a tentar ser outra pessoa.

Depois de “Desvio“, Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho regressam ao tema da identidade com uma novela gráfica ímpar, de diálogos longos e desenho irrepreensível.

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Ficha técnica
Mar Negro
Autores: Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Editora: Planeta Tangerina
Páginas: 320, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 174 x 230 mm
PVP: 22,90€


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Já é conhecido o vencedor do Prémio Jorge Magalhães!



A editora Ala dos Livros promove o Prémio de Argumento para Banda Desenhada Jorge Magalhães, que é um prémio com dois claros e importantes objetivos: 1) o de homenagear essa personalidade incontornável da banda desenhada em Portugal que foi Jorge Magalhães, avô dos editores, e 2), o de procurar assinalar e destacar os melhores trabalhos da banda desenhada portuguesa, ao nível do argumento. 

Por estes dois motivos, esta iniciativa, cuja primeira edição é esta mesmo, é algo que considero mais que relevante e que espero que se possa manter futuramente!

Foi também por achar que é algo muito pertinente e bem-vindo que aceitei fazer parte do júri que selecionou as melhores obras, ao nível do argumento, da banda desenhada de 2020. Não poderia estar mais bem acompanhado no júri, ou não fosse este painel composto por nomes tão ilustres da banda desenhada nacional como João Miguel Lameiras, Paulo Monteiro, Pedro Cleto ou Maria José Magalhães. Bem, na verdade, o único nome menos ilustre deste conjunto, é o meu!

Mas, deixando a constituição do júri de lado e focando-me no(s) vencedor(es), informo que o grande vencedor deste primeira edição do Prémio de Argumento para Banda Desenhada Jorge Magalhães foi Filipe Melo, com o seu Balada para Sophie, que arrecadou o prémio de melhor argumento de 2020. Este livro foi inicialmente publicado pela Tinta da China embora, neste momento, esteja a ser editado pela chancela Companhia das Letras, da Penguin Random House.

Vencedor: Balada para Sophie 
de Filipe Melo e Juan Cavia
Companhia das Letras (Originalmente publicado pela Tinta da China)



Também dignas de relevo e louvores são as duas obras que receberam uma menção honrosa por parte do júri: Desvio, da Planeta Tangerina, com argumento de Ana Pessoa, e O Penteador, da Escorpião Azul, com argumento de Paulo J. Mendes.

Menção Honrosa: Desvio
de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Planeta Tangerina

 
Menção Honrosa: O Penteador
de Paulo J. Mendes
Escorpião Azul



Parabéns aos autores vencedores, às editoras que apostaram nestas obras e aos criadores deste Prémio!

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Análise: Desvio



Desvio, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho

Ainda estamos em Agosto, mas acredito que Desvio possa ser a surpresa do ano, no que à produção de banda desenhada nacional, diz respeito. Um autêntico "desvio" para um novo caminho a percorrer na bd portuguesa que estava, até agora, senão virgem, pelo menos parcamente explorado.

Numa altura em que estamos (ainda) a viver as consequências duma nova forma de vida, causada pela Pandemia de COVID-19, este livro pode parecer ainda mais adequado aos dias do presente. No entanto, se a nossa análise for mais profunda, verificaremos que este modo de vida confinado em casa, mantendo relações pessoais que, cada vez mais, se sedimentam através de interações online, já existe há muitos anos, principalmente junto dos jovens da atualidade. Mesmo assim, admito, o lançamento desta obra da Planeta Tangerina, que já nos deu o fantástico e inolvidável Finalmente o Verão, bem como, recentemente, publicou A Época das Rosas, não poderia ter um timing mais adequado.

Desvio
conta-nos a história de um jovem de 18 anos que decide ficar em casa durante o verão, não indo de férias com os seus pais, nem com os seus amigos. Também as coisas com a sua namorada parecem estar frias, tendo em conta a pausa que a mesma lhe pediu. Neste contexto, Miguel tem a casa só para si. E vai ocupando o seu tempo com videojogos, com o livro do Código da Estrada, com as redes sociais e, acima de tudo, com os pensamentos que lhe habitam o ser. Miguel tem em si, um retrato fidedigno dos jovens do nosso tempo, o que revela a capacidade da autora Ana Pessoa para construir e desenvolver uma personagem com que o leitor facilmente se identifica, sem que essa personagem seja, contudo, uma mera representação de lugares comuns. 

A história é abundante em monólogos do protagonista que nos dão a conhecer todas as suas dúvidas, os seus medos, as suas incertezas. Aos poucos, vamos percebendo que, tal como todos nós, em algum momento da nossa adolescência – ou até mesmo, na idade adulta –, Miguel não sabe bem qual caminho seguir. Não sabe o que é que os outros esperam de si. E, mais importante ainda, não sabe o que ele próprio espera de si mesmo. E Desvio toca-nos pela sua forma emocional e pelo vazio, tão cheio de significados, com que nos brinda.

Também importante e extremamente bem conseguido, é que Ana Pessoa não perde tempo a fazer juízos de valor em relação à sociedade atual. O mundo que nos é apresentado, em que os jovens estão rodeados de videojogos, telemóveis, redes sociais e uma mão cheia de nada na sua existência não parece pretender ser, per si, um julgamento ou uma crítica fácil. Ao invés disso, parece querer ser apenas um retrato verossímil do ambiente que nos rodeia. É o mundo como é. Sem moralismos. E sem comiserações. E isso é coisa que revela, a meu ver, uma maturidade de Ana Pessoa enquanto autora. Seria mais fácil partir para uma crítica fácil de caracterizar como negativa, toda esta tecnologia vibrante que envolve as nossas vidas. Mas a autora apenas utilizou essa ambiência para munir a sua história de credibilidade e honestidade.

E há também algo muito bom neste Desvio: o seu ritmo. O domínio desta característica, seja em cinema, seja em banda desenhada, pode arruinar ou imacular uma história que nos é contada. Porque nem sempre o mais importante é o que nos é contado mas, antes, como nos é contado. E um ritmo completamente acertado é o que Desvio nos oferece. Os silêncios, os significados subentendidos, as reflexões a que somos obrigados a recorrer, tudo isso, está feito de forma magnífica, com fluidez e com o tempo narrativo adequado. Seria impossível criar esta história em 50 páginas. Não teria a mesma profundidade e não marcaria o autor da mesma forma. Era necessário um ritmo calmo, com tempo para aprofundar. E felizmente, é isso que nos é dado.

Relevante ainda, é afirmar que Ana Pessoa não nos oferece apenas uma boa história, bem ritmada e com bons objetos de reflexão. Desvio apresenta um cunho literário no texto que, infelizmente, não é muito frequente em banda desenhada. Como diriam os ingleses, há aqui muito material quotable, isto é, frases marcantes que podemos pedir emprestadas ao livro para aplicar nas nossas vidas, nos nossos contextos pessoais. E isso não só é louvável como é, estou seguro, algo que qualquer autor almeja: conseguir escrever algo que possa ser universal. Ana Pessoa tem o dom da palavra e isso só enriquece este livro. 

Mas não é só de palavras que este magnífico livro vive. O trabalho de Bernardo P. Carvalho é igualmente digno de destaque. Com uma ampla experiência em variados projetos e trabalhos de ilustração, Bernando P. Carvalho parece sentir-se como peixe na água a dar imagem às palavras de Ana Pessoa. Aqui, apresenta um estilo de ilustração moderno, jovial e confiante que dá identidade, personalidade e frescura à história que nos é dada. A utilização de cores vivas também torna a obra em algo agradável à vista e que parece ideal para os tempos estivais que vivemos. 

Também a planificação da obra merece menção. Ao longo do livro encontram-se várias páginas que apresentam vinhetas triangulares que, juntas, formam um padrão simétrico, que quase parece o efeito criado em painéis de azulejos, permitindo um resultado muito interessante e original, e que faz com que Desvio também seja um livro bonito em termos de ilustração.

A Planeta Tangerina está de parabéns por esta aposta na banda desenhada tão bem conseguida. Se A Época das Rosas, sendo um dos vencedores do Festival de Banda Desenhada de Angoulême de 2020, tendo recebido 3 prémios, incluindo o Prémio do Público, foi uma sugestão bem-vinda por parte da editora, este Desvio é a grande surpresa da Planeta Tangerina e um livro que todos os amantes de banda desenhada deverão acarinhar. É bom que este género possa emergir na banda desenhada nacional. 

Quanto à edição, em capa mole, apresenta um papel de boa gramagem, adequado para a obra. Como pontos não tão positivos, lamento que a capa não seja dura. Acho que esta obra a mereceria. E também a menção "Recomendado para leitores maiores de 14 anos", na contracapa do livro, me parece um pouco escusada. A meu ver, mais depressa esta menção redutora afasta leitores adultos do que, propriamente, convence leitores jovens – ou os pais dos mesmos – a adquiri-la. Mas isto é apenas a minha opinião. Talvez faça parte duma iniciativa comercial por parte da editora.

Em conclusão, um leitor desatento até poderia dizer "Ah, este Desvio é um bocado entediante". A esse leitor eu diria: "não percebeste aquilo que os autores pretendiam. Não soubeste megulhar nesta obra-prima". Desvio, apresentando-nos o dia-a-dia aparentemente vazio de um jovem, mostra-nos de forma sublime, quão cheia de dúvidas, ambiguidades, incertezas e medo pelo desconhecido, é marcada a vida de um jovem, de quem é sempre esperado tanto, por parte do mundo que o rodeia. 

Desvio pode muito bem ser uma viragem na banda desenhada nacional e a partida para algo novo e inesperado. Um autêntico desvio, portanto. A leitura deste livro arrebatou-me e considero-o, sem pudores, como um dos melhores livros de banda desenhada que a produção nacional já nos deu. Obrigatório.


NOTA FINAL (1/10):

9.1


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Ficha técnica
Desvio
Autores: Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Editora: Planeta Tangerina
Páginas: 200, a cores
Encadernação: capa mole
Lançamento: Junho de 2020

terça-feira, 7 de julho de 2020

Lançamento: Desvio



E depois de anunciado A Época das Rosas, de Chloé Wary, é altura de anunciar-se a segunda aposta da Editora Planeta Tangerina para 2020. 

Trata-se de Desvio, da dupla portuguesa Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho.

Abaixo encontram a nota de imprensa e respetivas imagens promocionais.

Desvio, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
É verão. Os pais foram de férias. Os amigos também.
A namorada pediu-lhe um tempo. Miguel tem a casa só para si. Vê televisão, joga computador, lê o livro de código. O mundo parece suspenso no meio do calor. “Tudo o que quero é que nada aconteça. Que tudo permaneça como está. O planeta muito quieto. Com a sua lei da gravidade, as suas regras de trânsito.”
Onde irá dar este desvio?

Pela primeira vez juntos numa novela gráfica, Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho não se desviam nem um centímetro da qualidade a que já nos habituaram.

Recomendado para leitores maiores de 14 anos.



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Ficha técnica
Desvio
Autores: Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Editora: Planeta Tangerina
Páginas: 200, a cores
Encadernação: capa mole
PVP: 18,90€