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quarta-feira, 30 de julho de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Arte de Autor nos últimos 5 anos!

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Arte de Autor nos últimos 5 anos!


Se ontem vos falei da melhor banda desenhada editada pela Ala dos Livros, hoje falo-vos daquela que considero ser a melhor banda desenhada editada pela Arte de Autor nos últimos 5 anos, a partir de 2020, em tom de celebração pelos 5 anos de existência do Vinheta 2020.

Não são muitos os anos, mas são muitos os lançamentos de boa banda desenhada por cá, o que dá eco à ideia, que eu subscrevo, que a edição de banda desenhada em Portugal vive um dos seus melhores períodos de sempre... se não for o melhor.

Já escrevi isto ontem, mas deixo novamente aqui esta informação, para o caso de ser o primeiro destes artigos que o leitor desta página encontra:

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Feita a introdução, passemos então àquela que considero como a melhor BD lançada pela Arte de Autor nos últimos 5 anos. Chamo a atenção para o facto de eu considerar que fará sentido fazer um TOP dedicado aos lançamentos que a Arte de Autor fez em conjunto com a editora A Seita. Mas isso ficará para outro dia. Como tal, as obras lançadas em conjunto pelas duas editoras não foram tidas em conta para este TOP.

Por agora, centremo-nos no TOP dedicado aos livros exclusivamente editados pela Arte de Autor.

Ora vejam:

segunda-feira, 23 de maio de 2022

A Arte de Autor prepara-se para publicar na íntegra uma das melhores séries de BD!


... Pelo menos, para os meus gostos!

De todas as centenas, ou melhor, milhares de livros de banda desenhada que já li na minha vida, os 9 volumes que compõem Armazém Central, da autoria dos autores Régis Loisel e Jean-Louis Tripp, estão entre os meus preferidos de sempre!

Esta é uma história maravilhosa sobre a vida e as pequenas (grandes) insignificâncias que a tornam humana. Que fazem de nós animais racionais e emotivos. Uma obra-prima da banda desenhada mundial que, finalmente, é integralmente publicada em Portugal pela Arte de Autor.

Estou muito feliz por isto! Um bem-haja à editora!

E como se isto não fossem já notícias maravilhosas, relembro que este livro terá direito a apresentação, com a presença do autor Tripp, no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja como, aliás, já dei conta aqui.

Abaixo deixo-vos com a sinopse de cada um dos volumes que compõem este último livro duplo da série. Nota ainda para o facto deste livro incluir um álbum fotográfico como extra.


Armazém Central #8 e #9 - Les Femmes e Notre-Dame-des-Lacs, de Loisel e Tripp

Les Femmes

Novamente Inverno. Depois do Charleston, trazido de Montreal por Marie, ter varrido Notre-Dame-des-Lacs como uma fúria, os homens regressaram finalmente à floresta para trabalhar durante toda a estação fria. A calma pode finalmente regressar à aldeia. 
Mas nada diz que será por muito tempo... Porque Marie, depois de ter partilhado a sua cama com Ernest e o seu irmão Mathurin, descobre que está grávida, sem saber realmente quem é o pai - ela que sempre se achou estéril! 

Entretanto, Réjean, o jovem padre da aldeia, refugiou-se em casa de Noël, está tão perturbado pelas suas questões íntimas e existenciais que já não é capaz de desempenhar o seu serviço religioso. Os fanáticos da aldeia entram em pânico! Até se fala em ir ao bispo! Aonde é que tudo isto vai levar? 

Acabou-se o presidente da câmara, acabaram-se os sacerdotes, as danças selvagens, os amantes que vivem em pecado e os filhos sem pai... Não será isto simplesmente o sinal de uma maldição desencadeada em Notre-Dame-des-Lacs?
Notre-Dame-des-Lacs

Já não há presidente da câmara em Notre-Dame-des-Lacs, quase não há padre, Marie grávida de um pai que ninguém conhece, e as mulheres da aldeia num frenesim de compras como nunca antes se viu... 
O mundo foi para o inferno, lá em baixo na zona rural do Quebeque? É este o trabalho do diabo, o início do fim?

Não, claro que não, porque o que permeia cada imagem, cada cena, cada diálogo e cada personagem neste espectacular desfecho sob a forma de uma apoteose alegre é a felicidade! 

Loisel e Tripp tiveram obviamente um grande prazer em concretizar o destino de cada um dos protagonistas desta história com um humor irresistível, ao longo de alguns meses em 1928, quando passamos da neve profunda para o calor do Verão, tendo como pano de fundo o regresso dos homens da sua campanha. 

Aprendemos, entre muitas outras surpresas, o que acontece ao barco do velho Noël, o que atormentou tanto o jovem padre Réjean, ou o que esteve por detrás da inesperada gravidez de Marie... 

E a aldeia de Notre-Dame-des-Lacs, no final deste final febril, celebrado como deveria ser por uma grande fogueira do Dia de Verão, entra por sua vez na modernidade.

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Ficha técnica
Armazém Central #8 e #9 - Les Femmes e Notre-Dame-des-Lacs
Autores: Régis Loisel e Jean-Louis Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 194, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 227 x 302 mm
PVP: 37,00€

sexta-feira, 1 de abril de 2022

A Arte de Autor anuncia uma mão cheia de novidades para os próximos meses!


Sim, é verdade que algumas destas obras já aqui tinham sido anunciadas há uns meses.

No entanto, há algumas novidades que estavam no segredo dos Deuses até agora e que ontem a Arte de Autor anunciou nas suas redes sociais!!!

Já neste mês de Abril, chegam-nos Corto Maltese, na sua edição a preto e branco, com a publicação de As Helvéticas e a reedição de A Balada do Mar Salgado.




Ainda em Abril, lá mais para o final do mês, a editora publicará a obra prima, infanto-juvenil, Mausart, de Gradimir Smudja, numa edição integral que reúne os volumes Mausart e Mausart em Veneza.


Em Maio chegará ao fim a publicação da maravilhosa série Armazém Central, com um volume duplo As Mulheres e Notre-Dame-des-Lacs que inclui um caderno gráfico.



Em Junho, a editora publicará o integral Conde Skarbek, de Sente e Rosinsky, que inclui um caderno gráfico erótico.



Edgar P. Jacobs - Sonhador de Apocalipses chegará em Julho. O retrato biográfico de um dos maiores autores da nona arte por François Rivière, ensaísta e romancista que conversou longamente com o mestre ainda em vida e Philippe Wurm, um dos herdeiros óbvios e reivindicados da linha Jacobs.



A continuação da saga BUG, escrita e desenhada por Enki Bilal, chega em Agosto com a publicação do volume 3.


, o último livro da serie Corto Maltese, escrito e desenhado por Pratt, chegará em Outubro.




E, até ao fim do ano, mais algumas novidades como O Castelo dos Animais 3, Os Filhos de El Topo 3 e mais algumas coisas que, por agora, a editora ainda não revela!


É (tentar) esperar pacientemente por tantas e tão boas novidades! 

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Armazém Central está de volta!!!




Acho que toda a gente que segue o Vinheta 2020 já sabe da minha enorme paixão por esta série fantástica de banda desenhada!

Não me canso de dizer que Armazém Central, de Régis Loisel e Tripp, é uma das séries de bd da minha vida! Há algo maravilhoso nas histórias e nas personagens daquela localidade distante da província canadiana!

E, para este Amadora BD, a editora Arte de Autor prepara-se para nos fazer chegar mais um álbum duplo, que contém os tomos 6 e 7, Erneste Latulippe e Charleston. Depois deste, fica apenas a faltar o último livro da série com os tomos 8 e 9.

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e respetivas imagens promocionais.

Armazém Central #2 e #3 - Erneste Latulippe e Charleston, de Loisel e Tripp

Erneste Latulippe

Na ausência de Marie, que ninguém sabe se e quando ela voltará de Montreal, Serge tomou a decisão de cuidar de seus negócios a partir de agora. É necessário abastecer Notre-Dame-des-Lacs, que carece de tudo desde que seu Armazém geral caiu em desuso. Infelizmente, não é tão simples. Os fornecedores de Saint-Simon, que só confiavam em Marie, recusam-se a dar crédito a Serge. A tensão aumenta na aldeia, dividida em dois grupos: aqueles que sentem saudades de Marie (especialmente os homens) e aqueles que estão felizes por ela ter partido (especialmente as mulheres), não a perdoando por ter "cometido um erro".

Enquanto isso, Marie diverte-se loucamente em Montreal, sai e multiplica os amantes. Mas ela tem saudades da aldeia ...

Charleston

Nada corre bem em Notre-Dame-des-Lacs! Desde o regresso de Marie e Jacinthe de Montreal, um novo vento sopra na aldeia: as moças da aldeia aproveitam os lindos tecidos trazidos para fazer novos vestidos, os homens ensaiam o Charleston e as velhas, claro, estão escandalizadas. Marie, por sua vez, aproveita mais do que nunca a sua viuvez. É hora de colocar as coisas em ordem! Excepto... quando o padre propõe eleger um novo presidente, ninguém quer concorrer!

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Ficha técnica
Armazém Central #6 e #7 - Erneste Latulippe e Charleston
Autores: Loisel e Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 29,00€

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Análise: Armazém Central – Volumes 1, 2 e 3



Armazém Central – Volumes 1, 2 e 3, Marie, Serge e Os Homens, de Loisel e Tripp

Já aqui escrevi bastante sobre Armazém Central. Os leitores atentos do Vinheta 2020 saberão que esta é uma das bandas desenhadas da minha vida, marcará sempre presença entre as 3/5 melhores bandas desenhadas de sempre, para os meus gostos, claro está. Que eleva o género da BD a um patamar raro de qualidade. 

E se hoje faço esta análise conjunta aos volumes 1, 2 e 3, Marie, Serge e Os Homens, respetivamente, que a Arte de Autor teve a fantástica iniciativa de retomar, naturalmente irei transcrever muito daquilo que eu próprio já escrevi há uns meses, em Outubro, quando a editora portuguesa publicou o seu primeiro álbum duplo da série, que continha os volumes 4 e 5, Confissões e Montreal. Como foi o primeiro álbum que a editora optou por lançar – uma vez que, há uns largos anos, a ASA ainda tinha lançado os volumes 1, 2 e 3 em Portugal – tentei nessa minha análise fazer um breve resumo do enredo desta saga para conseguir situar os leitores que conheceram a série pela primeira vez.


Lembro-me que, nessa altura, também vi vários leitores céticos com o facto da editora ter começado a editar Armazém Central a partir dos volumes 4 e 5. Mas agora já ninguém pode chorar com isso. Menos de um ano se passou desde então e a Arte de Autor já lançou o primeiro volume, Marie, logo no primeiro semestre de 2021 e, há umas semanas, lançou mais um álbum duplo que contém os tomos 2 e 3, Serge e Os Homens. Ora, se tivermos em conta que no próximo mês de Setembro deverá chegar-nos o próximo álbum duplo com os volumes 6 e 7, Ernest Latulippe e Charleston, e que é expetável que no início de 2022 seja publicado o último volume, que reunirá os números 8 e 9 As Mulheres e Notre-Dame-des-Lacs, podemos dizer que, em pouco tempo, cerca de um ano e meio, teremos uma série de qualidade máxima, composta por 9 volumes, começada e finalizada pela Arte de Autor. Não será isso fantástico?! Logicamente que é!

E fantástica também é esta série, da primeira à última prancha, com uma inspiração, um requinte, uma elegância, uma qualidade por parte dos autores que a assinam, Loisel e Tripp que, se não é inédita, é muito rara de encontrar por esse mundo fora da 9ª arte.


Como já escrevi, embora seja uma série em 9 volumes, é uma saga muito equilibrada entre si, não havendo propriamente "altos e baixos". Na verdade, e a meu ver, apenas existem "altos". Portanto, é um daqueles casos em que me parece que os autores souberam contar uma bela história e ilustrá-la com altos padrões de qualidade, também. É, pois, justo, analisá-la, descrevê-la, catalogá-la e mencioná-la sempre como um todo porque, de facto, não sinto que se possa dizer que os tomos x são y é espetaculares e que os tomos a ou b são mais fracos. Não é isso que acontece aqui porque Armazém Central acaba por ser uma grande história que simplesmente se divide em 9 volumes. Como se fossem 9 capítulos de uma mesma história. Por isso, compreendam que falar de um tomo ou de outro será sempre muito semelhante e é por isso que optarei por aqui transcrever parte daquilo que já escrevi na análise a Confissões e Montreal e que é transmissível a toda a série:

«Como sintetizar a vida humana, as relações que criamos, os medos que desenvolvemos, a necessidade de aceitação, a construção de valores - e respetivo reajuste dos mesmos? E como ultrapassar o luto com que nos vamos deparando ao longo das nossas vidas? E a propensão de ultrapassar as barreiras que se vão colocando na nossa jornada? Como adocicar a existência de vidas amargas? O que é que nos diferencia verdadeiramente dos animais? Será (apenas) a inteligência ou, também, o facto de criarmos relações intensas entre nós? Qual é, então, o papel de cada pessoa numa sociedade?


Armazém Central propõe-nos, senão uma resposta a todas estas questões, pelo menos, um cuidado vislumbre para que, na pele de algumas personagens fictícias inesquecíveis, possamos ver o reflexo de nós mesmos. Esta é uma rara e singular obra-prima da banda desenhada. Como que um poema em que os versos são vinhetas e os sonetos são pranchas. O coração enche-se, o nó na garganta instala-se e o resultado desta leitura é algo que, dificilmente, deixará leitores insatisfeitos. Diria que, para conseguir apreciar este portento da 9ª arte, apenas é solicitado uma coisa aos leitores: que tenham sensibilidade e maturidade. Sem isso, talvez esta banda desenhada não possa ser apreciada. Afinal, aqui não há uma ação rápida. Nem pensar! As coisas vão acontecendo de forma lenta, suave e subtil. Assim são as mudanças numa sociedade, certo?
»

Esta é uma série desenhada e escrita “a meias” pelos autores Régis Loisel e Jean-Louis Tripp. Ambos escrevem e ambos desenham. O processo é original porque, embora as ilustrações de Loisel nos remetam para outros dos seus trabalhos, como Em Busca do Pássaro do Tempo ou a adaptação para bd de Peter Pan (que a ASA recentemente publicou integralmente em Portugal), a verdade é que, em Armazém Central, os desenhos acabam por ser algo diferentes – e melhores, a meu ver – devido ao contributo de Tripp que acrescenta individualidade e profundidade às ilustrações. Os autores acabam por criar um terceiro ilustrador, através dos seus esforços conjuntos.


«O resultado é uma ilustração bastante detalhada, embora muito “riscada”, numa base de esquisso, que acentua as sombras de forma muito demarcada e rabiscada, conseguindo obter uma aura muito artística. E a este processo magnífico e cuidado de ilustração ainda se juntam umas cores suaves que atenuam a força das sombras dos desenhos. É um estilo de ilustração que serve perfeitamente o tom humanizante e dramático das situações que habitam esta narrativa.

O universo rural está magnificamente retratado. O estilo de desenho, típico na arte de Loisel, acentua as feições da cara, oferecendo-lhes um aspeto algo caricatural, mas sério no trato. Como se fosse um próprio mundo, extraído da mente dos autores. A forma como as emoções das personagens são tratadas é verdadeiramente excepcional. Se um olhar diz muitas coisas, os olhares destas personagens dizem-nos mil coisas e, muitas vezes, um simples silêncio está repleto de muitas nuances e significados. E isso só é conseguido quando a arte da ilustração se transcende.

Se graficamente é uma obra sublime, a história, sendo simples, é magnifica no seu todo também!»


Nestes primeiros três volumes, é-nos apresentada a pequena aldeia de Notre-Dame-des-Lacs, situada numa pequena província do Quebeque, no Canadá, no ano de 1926. Esta é uma aldeia perdida no tempo, completamente rural, onde existe um equilíbrio natural – embora ténue, porque assim é o equilíbrio das sociedades criadas pelos Homens – quer a nível de valores, quer a nível económico, quer a nível sociocultural.

Félix Ducharme é o dono do Armazém Central – uma mercearia que vende todas as espécies de bens essenciais para a população local – e, logo nas primeiras páginas do primeiro livro, somos confrontados pela sua morte, que nos é narrada pelo mesmo, na primeira pessoa do singular. A partir daí, Marie, a esposa de Félix, do qual não teve filhos, fica sozinha e desesperada pois estávamos num tempo em que as mulheres mais não eram do que as sombras dos seus maridos. Sozinha e desamparada, Marie vê-se forçada a pôr mãos à obra e a travar o seu próprio destino. Passa então a ser ela a pessoa responsável pelo antigo negócio do marido. Naturalmente, qualquer mudança brusca e inesperada, traz consigo inúmeras dificuldades e pedras no caminho. Mas Marie é perseverante e com a ajuda de amigos, consegue reestabelecer-se.


Se o primeiro tomo é uma porta de entrada já por si fascinante para o mundo imaginado por Loisel e Tripp, é no segundo tomo, com a chegada de Serge, que irá proporcionar um abalo, a todos os níveis, na pequena aldeia de Notre-Dame-des-Lacs, que Armazém Central ainda se torna mais delicioso de acompanhar. Serge é diferente em tudo em relação à população da aldeia: é instruído, viajado, culto e parece saber um pouco sobre todos os assuntos. Logicamente, a sua chegada despoleta comportamentos e reações novos para aqueles que os rodeiam.

Quanto ao tomo 3, Os Homens, é o volume de um primeiro embate pessoal entre Serge, aqueles que já o admiram e aqueles que não nutrem por si tanta simpatia assim. Para os homens, pessoas rudes do campo que se encontravam fora de casa durante longas jornadas de trabalho na indústria lenhadora, Serge simboliza tudo aquilo que eles não são. E, logicamente, a primeira reação à diferença é a desconfiança e o desagrado. Neste terceiro volume também se sente que a relação de Serge e Marie está quase a consumar-se. Contudo, nem tudo é o que parece e no final do terceiro volume é-nos dada uma revelação inesperada.


Estes são os elementos base do enredo destes primeiros três livros. Mas é nas entrelinhas, naquilo que fica por dizer, que Armazém Central sobe ao Olimpo das melhores bandas desenhadas que já li. Afinal, e como já escrevi, «esta é uma história magnífica, adulta, profunda, madura e que se pode comparar a uma boa telenovela ou série de tv, daquelas em que criamos uma relação profunda com as personagens. E onde o enredo é tecido de forma magistral pelos autores Loisel e Tripp. O ritmo de ação é lento e comedido, convidando o leitor a mergulhar naquilo que aqui se passa. E o que se passa é de tudo um pouco: temas como a emancipação das mulheres, o desafio dos valores impostos, as opções sexuais, os problemas de foro psicológico, a luta entre homens e mulheres, o papel da religião, a solidão, etc.»

A edição da Arte de Autor é de qualidade máxima, como não podia deixar de ser: os livros têm capas duras com textura aveludada, que tanto aprecio, papel de primeira qualidade, boas cores, boa encadernação e boa impressão.

Os elogios parecem-me sempre fracos para elevar  ao nível justo e merecedo tudo aquilo que Armazém Central é e representa. Se, por algum motivo que a razão desconhece, eu fosse a entidade emissora de Certificados Digitais de Bom Leitor de BD, que atestassem quem eram os leitores requintados, sensíveis, profundos, maduros e com bom gosto de banda desenhada, então a leitura e conhecimento da série Armazém Central teria que ser um dos requisitos primordiais para obtenção desse Certificado.

Afinal, e termino como também terminei a análise a Armazém Central #4 e #5, estamos perante «uma série maravilhosa, uma autêntica carta de amor à sensibilidade de cada um de nós e que merece ser (re)conhecida por mais leitores de (boa) banda desenhada. Sendo magnífica nas ilustrações, no argumento e nas questões que levanta, é uma obra fantástica que (também) nos ensina a ser mais humanos, tolerantes e a saber aproveitar e guardar as coisas boas da vida. E de quantas bandas desenhadas podemos dizer isso, afinal? Esta é “A obra-prima” de Loisel e de Tripp e uma ode à banda desenhada enquanto género. Obrigatório conhecer!»


NOTA FINAL (1/10):
10.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Fichas técnicas
Armazém Central #1 - Marie
Autores: Régis Loisel e Jean-Louis Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021


Armazém Central #2 e #3 - Serge e Os Homens
Autores: Régis Loisel e Jean-Louis Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Julho de 2021

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Lançamento: Armazém Central #2 e #3 - Serge e Os Homens





Esta semana chega-nos mais um livro da irresistível série Armazém Central, de Loisel e Tripp!

E, cada vez mais, há menos razões para que os leitores de boa (excelente!, maravilhosa!) banda desenhada não apostem na série. 

A Arte de Autor começou por lançar o álbum duplo, com os volumes 4 e 5 (Confissões e Montréal), no ano passado. Nessa altura, foram algumas as vozes que se insurgiram relativamente à ausência dos volumes 1, 2 e 3 - que anteriormente haviam sido publicadas pela editora ASA - nas livrarias portuguesas.

Em Março deste ano, a Arte de Autor publicou o primeiro tomo, Marie, e agora volta a publicar um álbum duplo com os tomos 2 e 3, Serge e Os Homens, respetivamente.
E não percam tempo na compra destes álbuns porque a editora já informou que o penúltimo álbum da série, com os números 6 e 7, Ernest LatulippeCharleston, deverá chegar às livrarias já no próximo mês de Setembro.

Ficará depois a faltar apenas a publicação do último álbum duplo que se espera no primeiro semestre de 2022. 

Confusos?

Eu explico aqui:
Armazém Central 1 - Marie - já publicado
Armazém Central 2 e 3 - Serge e Os Homens - publicado, a partir desta semana
Armazém Central 4 e 5 - Confissões e Montréal - já publicado
Armazém Central 6 e 7 - Ernest Latulippe e Charleston - será publicado em Setembro
Armazém Central 8 e 9 - As Mulheres e Notre-Dame-des-lacs - A publicar no primeiro semestre de 2022

Maravilhosa aposta!

Abaixo, fiquem com a sinopse e algumas imagens promocionais deste Armazém Central #2 e #3 - Serge e Os Homens.


Armazém Central #2 e #3 - Serge e Os Homens, de Loisel e Tripp

Quebeque, 1926.

Em Notre-Dame-des-Lacs, é ao armazém da Marie que todos se dirigem para as suas compras, se actualizarem e fazerem as suas confidências.
A chegada inesperada de Serge vai alterar os hábitos: a seguir a Marie, é toda a aldeia que aos poucos vai sair do conformismo. Nesta busca da felicidade, Loisel e Tripp, com sensibilidade e optimismo, contam uma história de emancipação através do conhecimento próprio.

Um relato a favor da tolerância, como os melhores filmes de Frank Capra.

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Ficha técnica
Armazém Central #2 e #3 - Serge e Os Homens
Autores: Loisel e Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 29,00€

quarta-feira, 9 de junho de 2021

À Conversa Com: Arte de Autor - Novidades para o 2º Semestre de 2021



Faltando apenas alguns dias para finalizarmos o primeiro semestre editorial de 2021, é tempo de fazermos um pequeno balanço daquilo que foi o ano até agora e quais serão as novidades para o que falta de 2021.

Nesse sentido, estarei à conversa com as editoras portuguesas para partilhar convosco as novidades que cada uma delas prepara o segundo semestre de 2021. 

Assim, reabro esta rubrica com a Arte de Autor.

Falei com a responsável da editora, Vanda Rodrigues, que nos revela quais são as obras que a editora prepara para a segunda metade de 2021.

Relativamente à surpresa de vendas deste primeiro semestre, é com agrado que vejo que Armazém Central tem estado a marcar pontos. Não me canso de recomendar de forma veemente esta fantástica série.

Fiquem abaixo com a breve entrevista à Arte de Autor.


Entrevista

1. Como foi este primeiro semestre do ano editorial de 2021 para vós? Editaram tudo o que tinham planeado ou houve títulos que foram adiados para o segundo semestre de 2021 (ou mesmo para 2022)?
Ainda não temos apuramentos das lojas pelo que é tudo muito relativo. O 1º semestre de 2021 está a corresponder ao previsto, pois já tinhamos assumido que, numa grande parte do semestre, as lojas estariam fechadas. Todos os títulos planeados foram publicados, sendo que a publicação de Duke 5, originalmente prevista para Fevereiro, teve que ser adiada para Março.

2. Sei que ainda é cedo para aferir este tipo de resultados mas, para já, com base na informação e perceção de mercado que vão tendo, que título lançado em 2021 está a ser uma agradável surpresa de vendas?
Não temos ainda números das livrarias, mas pelas vendas directas podemos dizer que o Volume 1 – Marie da série Armazém Central, está a ser uma agradável surpresa de vendas.

3. E que obra é que está a vender mais devagar do que aquilo que tinham planeado?
Como dito no ponto anterior só temos ainda as vendas directas. O título que está a vender mais devagar é o Spaghetti Bros 2.

4. Quais são os vossos lançamentos agendados para o segundo semestre de 2021?
Para o próximo semestre contamos editar: 

Corto Maltese #9 – A Juventude
de Hugo Pratt

Corto Maltese #10 – Tango
de Hugo Pratt

Verões Felizes #3 (Álbum duplo que inclui os tomos 5 e 6)
de Zidrou e Jordi Lafebre

Agatha Christie - No início eram Dez
de Davoz e Callixte

Agatha Christie - ABC contra Poirot
de Brremaud e Zanon


Armazém Central #2 e #3 (Álbum duplo que inclui os tomos 2 e 3)
de Loisel e Tripp


Armazém Central #6 e #7 (Álbum duplo que inclui os tomos 6 e 7)
de Loisel e Tripp

5. Há algum título novo que queiram avançar, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, mesmo que seja uma novidade a ser preparada apenas para 2022?
Contamos ter ainda uma ou outra novidade que divulgaremos brevemente.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Comparativo: Armazém Central pela ASA e pela Arte de Autor


À semelhança do que já aqui fiz, há uns dias, quando elaborei um comparativo entre as edições antigas e a nova de Peter Pan, da autoria de Régis Loisel, hoje faço um comparativo entre a edição do primeiro tomo de Armazém Central que, recentemente, foi publicado pela Arte de Autor. A primeira versão da obra, que neste momento já não se encontra no mercado, era da ASA.

Portanto, este não é um artigo de análise à obra. Este é um comparativo entre edições.

Não obstante, nunca me canso de aconselhar esta fantástica série de banda desenhada, também da autoria de Régis Loisel (em parceria com Jean-Louis Tripp). É uma das minhas bandas desenhadas favoritas de sempre. Está, sem dúvida, no meu TOP 10 e até aconselho a leitura da análise que escrevi a propósito do lançamento dos Tomos 4 e 5, no ano passado.

Olhando então para estas duas edições da mesma obra, há algumas coisas que interessa referir.

Em termos de capa, como se pode ver na imagem acima, ambos os livros são muito idênticos. A grande diferença está no acabamento da capa. Na edição da ASA temos o clássico acabamento brilhante. Já quanto à capa da Arte de Autor, o acabamento é baço, numa textura aveludada. Não escondo que é dos meus tipos de acabamento preferidos e que considero que encaixam bem em quase todo o tipo de obras de bd. Aqui isso não é exceção. E além de ficar, a meu ver, mais bonito e suave ao toque, também permite que as ilustrações sejam observadas de melhor forma.

Além do acabamento, a Arte de Autor fez pequenas alterações ao nível da cor do título, que passou a ser azul, e do tipo de letra escolhido para o subtítulo do volume, que neste caso é Marie. 

Na contracapa (ver imagem abaixo) apenas muda a cor do fundo. O texto da sinopse também foi alterado.


Na imagem abaixo podemos verificar que a primeira página do livro, com os créditos dos autores, também não difere muito embora a versão da Arte de Autor me pareça mais atual e mais agradável aos olhos. O detalhe do emolduramento da ilustração como se fosse em papel de carta ou em selo, é apenas um pormenor delicioso.


Ambas as versões nos mostram o processo de feitura ilustrativa da obra. Pessoalmente, acho super interessante que o leitor possa perceber como funciona a parceria criativa de Loisel e Tripp, já que é tão única e especial. Portanto, só posso aplaudir a iniciativa da Arte de Autor em ter mantido estas páginas, tal como já nos eram dadas na edição da ASA.


Se até aqui há muitas semelhanças entre ambas as edições, abaixo enumero aquelas que me parecem ser as duas grandes diferenças entre as duas edições, para além da textura da capa, claro.

As cores da edição da Arte de Autor parecem-me melhores e menos escuras. Talvez isso se deva à melhoria das técnicas de impressão - compreensivelmente mais aperfeiçoadas hoje em dia do que há quase 20 anos, quando a primeira edição da ASA foi produzida. Se olharem para as duas imagens abaixo, verificarão que as cores da versão da direita - a da Arte de Autor - são ligeiramente mais claras, permitindo observar melhor cada um dos desenhos, deixando-nos dissecá-los com mais e melhor detalhe. Pode não parecer uma diferença assim tão gritante, olhando para as páginas que coloco abaixo, mas posso dizer que a experiência de leitura na edição da Arte de Autor sai claramente beneficiada.

Outra coisa que me parece relevante sublinhar é que, embora os livros tenham exatamente a mesma dimensão, a Arte de Autor optou por imprimir as pranchas em maior dimensão, aumentando assim a mancha pictórica a ser impressa e aproveitando melhor as margens das folhas. Foi uma boa opção pois quem ganha com esta alteração é o leitor que assim pode ver e absorver as ilustrações numa dimensão maior que apresenta mais detalhe.

A versão da Arte de Autor também tem um novo tipo de letra. Confesso que ambas as fonts são bonitas e encaixam bem no tema e ambiente da história.



A única coisa que lamento na edição da Arte de Autor é que a editora tenha retirado a página dedicada à breve biografia de ambos os autores. Mas, claro, isto é uma coisa de ínfima importância.


Em suma, embora a edição da Arte de Autor apresente uma certa harmonia com a edição que a ASA publicou primeiramente, julgo que, em termos globais, melhorou subtilmente a edição ao apresentar-nos uma textura de capa maravilhosa e ao ter aproveitado melhor a página para redimensionar as pranchas da história. As cores também estão melhores e mais bem visíveis.

Claro que o que mais vale nisto tudo é a obra e a sua fantástica qualidade e poesia. Mesmo que a Arte de Autor imprimisse esta série em papel higiénico eu já ficaria satisfeito. Mas, claro, e deixando-me de exageros, também é fantástico que, para além de apostar numa obra maravilhosa, a editora tenha optado por lançá-la numa edição sublime.

Estão a ler isto e ainda não compraram este livro? Façam um favor a vós próprios, caros leitores.

De nada.