sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

As novidades d' A Seita para 2026!


Hoje trago-vos um apanhado com algumas das novidades de banda desenhada que a editora A Seita prepara para o ano de 2026.

Para quem esteve no Amadora BD a assistir à apresentação do plano editorial, pelos editores José Hartvig de Freitas e João Miguel Lameiras, algumas destas obras já serão conhecidas.

Porém, além dos livros que foram apresentados nessa altura, acrescento ainda algumas novidades, mais frescas, à lista de obras que a editora espera publicar em 2026.

Posso dizer-vos que me parece, para já, um plano ambicioso.

Ora vejam.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Vinheta 2020 lança passatempo a propósito dos 40 anos de carreira de Luís Louro!


Não há uma sem duas, nem duas sem três, já dizia a frase popular!

Tal como já vos tinha anunciado quando, há uns dias, vos informei que o Vinheta 2020 iria fazer três passatempos, depois daqueles dedicados ao livro inVISÍVEIS e ao livro Peter Pan, agora trago-vos o terceiro e último passatempo do mês de Dezembro.

Sob o tema dos 40 anos da carreira de Luís Louro, e procurando celebrar esse feito incrível, o autor e o Vinheta 2020, têm um conjunto de livros para vos oferecer.

E faz todo o sentido que sejam 10 livros de Jim Del Monaco, a personagem que iniciou, definitivamente, a carreira do autor português, que temos para vos oferecer.

São 5 os packs de 2 livros, formados pelos livros Jim Del Monaco - O Cemitério dos Elefantes e Jim Del Monaco - Ladrões do Tempo, que podem ganhar!

E o melhor de tudo é que todos os livros irão chegar aos vencedores deste passatempo com o devido autógrafo personalizado por Luís Louro!

Para concorrer só precisam de escrever num comentário, aqui no blog, a frase mais divertida que reúna as seguintes palavras: "Luís Louro", "Jim Del Monaco" e "Vinheta 2020".

Os 5 vencedores serão escolhidos pelo próprio Luís Louro.

O passatempo termina no dia 23 de Dezembro às 23:59.

Boa sorte a todos!

Análise: A Cor das Coisas

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir
A Cor das Coisas, de Martin Panchaud

Se há algo que preciso referir em primeiro lugar, é que a aposta da editora Levoir na recentemente lançada obra A Cor das Coisas, do suíço Martin Panchaud, merece o meu aplauso, já que revela coragem, audácia e vontade de fazer diferente. Embora vencedor ou finalista de inúmeros prémios por essa Europa fora, este é um livro que, pela sua abordagem visual, pode afastar muita gente. Especialmente os que não gostam de surpresas ou de saírem da sua zona de conforto. 

De facto, A Cor das Coisas parte de uma premissa gráfica que poderia, à primeira vista, desagradar a muitos adeptos de banda desenhada. É que todo o universo nos é revelado numa perspetiva zenital, ou seja, como se fosse uma planta. Todo o mundo, todos os cenários, todos os ambientes, nos são dados como vistos de cima. Naturalmente, também personagens são representadas dessa forma, enquanto meros pontos coloridos. Estão a ver como é que o célebre videojogo GTA (Grand Theft Auto) começou por ser nas suas primeiras edições? Ou lembram-se dos videojogos Micro Machines para a velhinha consola Sega Mega Drive? É mais ou menos assim que vemos este mundo.

Se esta aposta visual pode parecer quase improvável para sustentar um livro com mais de 200 páginas, deixem-me que vos diga que rapidamente o livro se transforma numa engrenagem narrativa sólida, envolvente e cheia de nervo. 

Se a história não fosse boa, este livro também não o seria. Mas isso pode ser dito de todos, ou quase todos, os livros.

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir
A história de Simon, um adolescente obeso de 14 anos marcado pelo bullying e por uma estrutura familiar frágil, ganha contornos inesperados quando o jovem decide, após conselho de uma vidente, apostar num cavalo de corrida todas as poupanças do seu pai sem que este, ou alguém, o saiba. E o improvável acontece e a aposta de Simon passa a valer o prémio astronómico de 16 milhões de libras. O problema? Simon é menor e não pode levantar o dinheiro. E é precisamente a partir desta frustração inicial que tudo se começa a desmoronar… e a ganhar densidade, com a narrativa a obrigar-nos, de modo algo inesperado, a um mergulho emocional. 

De um momento para o outro, a mãe de Simon entra em coma, o seu pai desaparece e o rapaz vê-se forçado a atravessar um território desconhecido, feito de decisões difíceis que nenhum miúdo da sua idade deveria ter de tomar. Martin Panchaud constrói este percurso, em estilo de thriller, com uma mestria impressionante, equilibrando drama, humor, suspense e uma crítica social subtil, mas constante. 

Há qualquer coisa de profundamente humano nesta narrativa. Simon não é um herói, nem sequer um anti-herói. É apenas um rapaz perdido num mundo demasiado grande e indiferente, onde os adultos falham sucessivamente. E é nesse espaço, entre a negligência e o acaso, que A Cor das Coisas encontra a sua força. A história agarra-nos não por ser espetacular, mas por ser verosímil,- ou possível, pelo menos - e emocionalmente honesta.

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir
Importa sublinhar algo essencial: o que mais gostei neste livro foi o facto de a história ser especialmente cativante. Ao ponto de arriscar dizer que, mesmo que A Cor das Coisas fosse uma obra desenhada de qualquer outra forma, a narrativa continuaria a ser relevante, excitante e difícil de largar. Há aqui uma espinha dorsal narrativa forte que não depende exclusivamente do artifício visual para funcionar.

E depois há "o elefante na sala" ou melhor, os círculos de cor na página. Não vos posso dizer que é um livro bonito para observar. Não, não o é. Martin Panchaud tenta que as páginas não sejam sempre iguais umas às outras - e, de algum modo, até o consegue - mas, naturalmente, quando colocado ao lado de grandes livros de banda desenhada de ilustradores consagrados, A Cor das Coisas ficará aquém em termos visuais, pois é um autêntico alien no meio da banda desenhada.

Mas é precisamente aí que reside o seu grande trunfo. Nesta mudança de paradigma visual, quase agressiva na sua diferença, está o grande statement da obra. Panchaud prova que a banda desenhada não é um território exclusivo de quem domina o desenho clássico, virtuoso ou academicamente “bonito”. Qualquer pessoa pode fazer um grande livro de BD. Haja talento e, sobretudo, criatividade.

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir
A narrativa contada sempre com este ponto de vista, estilo planta, e com personagens representadas por círculos de cor, mais próximas de infografias ou mapas do que de figuras humanas, é uma decisão radical. E radical no melhor sentido possível. Obriga o leitor a participar ativamente na leitura, a reconstruir espaços, movimentos e emoções. Não é uma leitura passiva. É um exercício constante de atenção e envolvimento.

Logicamente, compreendo perfeitamente quem, ao folhear o livro pela primeira vez, sinta algum afastamento. A abordagem visual pode parecer demasiado complexa, fria ou até intimidante. O preconceito — ou pré-conceito, se preferirem desmontar a palavra — toca-nos a todos. Também a mim. Mas basta ler algumas páginas deste livro para que algo mude subitamente. E isso acontece pela história, que impacta e que nos convoca a entrar neste mundo visualmente diferente daquilo a que estamos habituados em banda desenhada.

E assim que nos acostumamos a esta nova forma de representar pessoas e figuras, tudo se torna surpreendentemente fluido. Começamos a reconhecer cores, padrões, trajetos. Começamos a “ver” personagens onde antes só víamos formas geométricas. E isso é absolutamente fascinante. A leitura deixa de ser um esforço e passa até a ser um vício. Este é um daqueles livros que, quando tinha que fazer uma pausa na leitura, me deixava com muitas ânsias de voltar à leitura. 

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir
Prémios "valem o que valem", bem sei, mas não é por acaso que A Cor das Coisas foi amplamente aclamado pela crítica e premiado em festivais tão relevantes como Angoulême, onde venceu o Fauve d’Or de Melhor Álbum. Estes prémios não surgiram por exotismo, mas porque estamos realmente perante uma obra que empurra os limites da linguagem da banda desenhada sem nunca perder o foco naquilo que realmente importa: contar uma boa história.

A edição da Levoir é em capa dura baça, com bom papel baço no miolo. O trabalho de impressão e encadernação também está bem conseguido. A capa do livro é ligeiramente diferente, em termos visuais, pois em vez de apresentar uma tira a preto com a inscrição "Novel Gráfica" como é assinatura da editora, opta por não ter essa inscrição e por ter a referida tira na cor roxa. Acaba por dar um aspeto mais diferenciado ao livro. 

Há livros que se destacam pelo desenho, outros pelo argumento, outros ainda pela ousadia formal. A Cor das Coisas consegue, de forma rara, equilibrar estes três elementos, mesmo quando parece estar deliberadamente a negar um deles. É uma obra que desafia expectativas, hábitos de leitura e até preconceitos estéticos profundamente enraizados.

E, no fim, ficamos com a sensação de ter lido algo verdadeiramente único. Um livro que não se parece com mais nenhum, que não tenta agradar a todos, mas que recompensa generosamente quem aceita o desafio. A Cor das Coisas não é apenas uma grande banda desenhada. É uma prova viva de que o meio ainda tem muito espaço para surpreender, reinventar-se e - acima de tudo - emocionar. Adorei e é o livro do ano da Levoir.


NOTA FINAL (1/10):
9.7

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Cor das Coisas, de Martin Panchaud - Levoir

Ficha técnica
A Cor das Coisas
Autor: Martin Panchaud
Editora: Levoir
Páginas: 232, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Outubro de 2025

"O Preço da Desonra", de Hirata, está de volta!



Depois da edição do primeiro volume de O Preço da Desonra, de Hiroshi Hirata, um verdadeiro sucesso editorial que obrigou a nova reimpressão do livro, a editora A Seita lançou recentemente o segundo e último volume da obra, intitulado Crónicas de Kubidai, que nos dá mais quatro histórias sobre samurais e sobre a personagem de Hanshiro.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.


O Preço da Desonra 2 - Crónicas de Kubidai, de Hiroshi Hirata

A promessa firmada com uma nota de dívida implica pôr a vida em jogo. Quem não cumpre a promessa, comete um acto sem perdão.

Japão, período Edo. Os clãs e os seus líderes disputam território e guerreiam por poder. No calor da batalha, guerreiros samurais evitam a morte a troco de quantias exorbitantes pagas aos seus executores. Ao longo de quatro novas histórias, voltamos à companhia de Hanshiro, o implacável cobrador de dívidas, que exige que se cumpram estas promissórias. 

Com um desenho magistral, Hirata volta a contar-nos como a glória e a honra, associadas aos códigos samurais, podem cair por terra ou elevarem-se aos extremos da ética e da moral, dependendo de quem os pratica. E Portugal, através d’A Seita, é apenas o segundo país no mundo a ver todas estas histórias num único volume.

Assim como Akira Kurosawa imortalizou as histórias de samurais no cinema, Hirata deu-lhes realismo e grandeza no mangá.

A Seita e a sua chancela de mangá, a Ikigai (生きがい), tem a honra de apresentar, pela segunda vez em português de Portugal, um dos maiores mangakás da história da arte de banda desenhada, Hiroshi Hirata. Trata-se de um (cada vez menos) ilustre desconhecido em terras lusas, com um peso na nona arte que iguala gigantes como Kazuo Koike e Goseki Kojima, os autores do seminal Lone Wolf & Cub, ou Sanpei Shirato, de Kamui-Den, e mesmo Katsuhiro Otomo, do conhecido Akira. A obra que vos trazemos é O Preço da Desonra: Crónicas de Kubidai, um verdadeiro tratado do que são histórias de samurais, que nada deve a outras artes e a outros mestres como Akira Kurosawa (Ran; Yojimbo). Remete-nos para um dos mais importantes momentos da história do Japão, o período Edo, alvo de tanta curiosidade, não só pelos próprios japoneses, como também pelo resto do mundo.
Samurais e ronins, e os poderosos chefes de clãs nobres e guerreiros do Japão da época do final das guerras, no início do século XVII, quando se inicia o período Edo, são algumas das imagens e nomes que mais ressoam em todos os entusiastas de literatura de guerra e de aventura. 

É neste ambiente que decorrem as quatro novas histórias deste Shin Kubidai Hikiukenin, O Preço da Desonra: Crónicas de Kubidai. Hirata voltou à personagem de Hanshiro em 1997, e em 1999 foi publicado o volume com (quase) todas estas novas histórias. Um dos capítulos não tinha sido incluído, e foi a editora Pipoca & Nanquim, do Brasil, quem primeiro publicou este regresso, num integral com as quatro crónicas. E A Seita adapta este volume ao nosso português de Portugal, a partir da tradução de Drik Sada. Este volume inclui as quatro novas histórias da personagem, que podem todas ser lidas independentemente umas das outras (e não é necessário ter lido o primeiro volume para apreciar esta segunda recolha de histórias).

Se a imaginação dos leitores se empolga com os feitos dos samurais, das batalhas e conflitos em que se regiam pelo bushido, a via do guerreiro, toda ela feita de honra e desprezo pela morte, o próprio título deste volume anuncia que as histórias aqui incluídas se afastam dessas premissas. Porque é dos traços opostos aos do bushido que estas histórias tratam: do medo de morrer, de promessas de dinheiro a troco de ter a vida salva, da vergonha e da desonra que isso acarreta para aqueles que assinaram no campo de batalha essas notas promissórias... mas também do outro lado do espelho. Daqueles que, ao ver este lado negro, brilham mais forte, num assomo de ética e moral.

É desse modo que Hanshiro, o cobrador de dívidas, funciona como um observador imparcial, mas sensível, da realidade da vida dos samurais num dos períodos mais conturbados da história do Japão.
A edição portuguesa conta ainda com dois posfácios, um pelo próprio Hiroshi Hirata, e outro por Pedro Bouça, entusiasta da BD e da cultura japonesa em geral e do mangá em particular, e inclui igualmente oito páginas a cores que Hirata coloriu usando pela primeira vez técnicas digitais de cores.

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Ficha técnica
O Preço da Desonra 2 - Crónicas de Kubidai
Autor: Hiroshi Hirata
Editora: A Seita
Páginas: 360, a preto e branco (com 8 páginas a cores)
Encadernação: Capa mole com badanas
Formato: 15,5 x 22,5 cm
PVP: 23,99€