sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Comparativo: "Mattéo" pela Ala dos Livros e pela Vitamina BD


Hoje trago-vos o comparativo entre o primeiro volume da série Mattéo, de Jean-Pierre Gibrat, recentemente editado pela Ala dos Livros, e a primeira edição portuguesa da obra, de 2009, pela editora Vitamina BD que, infelizmente, acabou por deixar de existir.

E devo ser-vos franco: não existem substanciais diferenças entre uma e outra edição.

E isso prova que, de facto, o trabalho que a Vitamina BD tinha feito com esta obra era de excelente qualidade. E, claro, de excelente qualidade também é o trabalho que a Ala dos Livros coloca na suas edições. Mas isso já não é, creio, novidade para ninguém.

Olhando então para os dois livros, lado a lado, os mesmos apresentam o mesmo formato. Bem, o da Vitamina BD parece ser uns milímetros (um ou dois milímetros, se tanto) maior do que o da Ala dos Livros.

Ambas as edições apesentam a mesma ilustração de capa, embora, se olharmos com atenção, o corte da ilustração, em termos de margens, é ligeiramente diferente entre os dois livros.

A versão da Ala dos Livros conta com detalhes a verniz, na capa e na contracapa, enquanto que a versão da Vitamina BD não tem este pequeno detalhe de requinte. A Vitamina BD optou por colocar o logótipo da editora na capa, enquanto que a Ala dos Livros o colocou na contracapa.



Em termos de lombada, os livros são praticamente iguais, excetuando o facto do sentido do texto ser oposto. Para quem está a fazer a coleção pela Ala dos Livros, mesmo que até já tenha a edição da Vitamina BD, talvez este seja um detalhe importante e positivo.




Detetei que o nome do autor na lombada da Ala dos Livros está ligeiramente desfocado. Não é algo que chame muito a atenção, mas é um pequeno erro, provavelmente de impressão - ou de preparação do ficheiro para impressão.




As próprias guardas dos dois livros são praticamente iguais, tal como também o são as folhas de rosto de cada um dos livros.




Quanto à qualidade da impressão, os dois livros apresentam cores praticamente iguais, não sendo óbvias a olho nu as diferenças entre cor. 

Talvez a edição da Ala dos Livros tenha os níveis de cor e luz mais bem equilibrados do que a edição da Vitamina BD. Mas nada que seja sobejamente visível.




O que é diferente é, para além da tradução da obra, o tipo de letra utilizado nos balões e legendas.

Ambas as fonts são bem escolhidas, se bem que até sou capaz de preferir - mas talvez por uma questão de afinidade à primeira edição que tive da obra - a font utilizada no livro da Vitamina BD. 

E isso é especialmente verificável na carta. Ora vejam:




Seja como for, compreendo que a Ala dos Livros esteja a uniformizar, como é óbvio, as fonts utilizadas em todos os livros, tendo em conta que já publicou toda a série, excetuando o segundo tomo que há de chegar até nós brevemente.




Mesmo em termos de extras, nenhum dos livros os contém, pelo que, também neste cômputo, as duas edições são iguais.

Em suma, não há nesta nova edição do primeiro tomo de Mattéo, por parte da Ala dos Livros, grandes diferenças, para melhor ou para pior, face ao trabalho que já havia sido feito com a edição da Vitamina BD. Portanto, a questão mais importante a reter é que este primeiro volume, que estava completamente esgotado, volta a estar disponível no mercado nacional. Essa é a boa notícia! 

Foram bastantes as pessoas que me escreveram a queixarem-se de que não podiam encontrar os dois primeiros volumes da série, o que era dissuasor para investirem em Mattéo. Agora que este primeiro volume da série volta a ser publicado - e tendo noção que já não faltará muito até que o segundo volume também o seja - ainda há menos razões para que os leitores de BD de qualidade superior não apostem neste trabalho de Gibrat, pois é fantástico é totalmente aconselhável.


Aí está a nova aposta da Arte de Autor!



Chama-se Islander e é uma mini-série da autoria dos autores Caryl Férey e Corentin Rouge. Este último, é o ilustrador da série Rio, publicada há alguns anos por cá, pela ASA.

Esta mini-série Islander está pensada para ter 3 volumes. Posso dizer-vos que já pude folhear rapidamente este livro e que fiquei com muito boas impressões, já que gosto bastante do traço de Corentin Rouge e, também, porque o tema aqui retratado me parece bastante promissor.

O livro já se encontra à venda no Amadora BD e em pré-venda no site da editora Arte de Autor, devendo chegar posteriormente às livrarias a partir do próximo dia 12 de Novembro.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Islander #1 - Exílio, de Caryl Férey e Corentin Rouge

O continente europeu é vítima de múltiplas catástrofes, refugiados de todos os países se amontoam no porto de Le Havre, local de trânsito para uma salvação hipotética. 

A Islândia ainda está poupada, mas por quanto tempo? 

Liam, que já perdeu tudo, vai tentar a sorte roubando o passaporte de uma migrante, sem saber que a Islândia também está dividida em relação a eles. Abalado pelo caos do mundo, Liam descobrirá que tomou o lugar de uma mulher envolvida num misterioso projeto, “Islander”; a sua redenção, se Liam e os seus novos companheiros conseguirem sobreviver.

Depois de Sangoma, a dupla explosiva formada por Caryl Férey e Corentin Rouge está de volta com uma trilogia de alta tensão. Um relato de antecipação mais realista do que nunca, que nos leva a terras geladas onde a esperança, a consciência política e os dramas íntimos se misturam. Os autores invertem a ordem do mundo tal como o conhecemos hoje num primeiro volume tão emocionante quanto premonitório.

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Ficha técnica
Islander #1 - Exílio
Autores: Caryl Férey e Corentin Rouge
Editora: Arte de Autor
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 232 x 310 mm
PVP: 33,00€






Análise: História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar

História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Cever - Porto Editora

História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Cever - Porto Editora
História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Cever

Foi com satisfação que soube recentemente que a Porto Editora iria publicar a adaptação, no formato de banda desenhada, do livro História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Luis Sepúlveda. Essa adaptação ficou a cargo do autor franco-suiço Cever que, com carinho pela obra original, nos oferece, pela primeira vez em banda desenhada, uma das mais belas e simbólicas fábulas da literatura contemporânea. 

A história decorre no porto de Hamburgo, em que temos Zorbas, um gato preto, como protagonista. O gato vive feliz na sua casa mas, de um momento para o outro, é confrontado com a visita de uma gaivota que, às portas da morte, pede ao gato um último desejo: que este cuide do seu ovo e que ensine a pequena gaivota, Ditosa, que daí há de nascer, a voar. Parece uma tarefa impossível para um gato, ensinar uma cria de gaivota a voar, certo? E é a partir dessa promessa que se desenrola uma narrativa terna e profunda sobre amizade, coragem e aceitação da diferença.

Conheço bem a obra original e posso dizer-vos que a adaptação de Cever consegue captar com grande sensibilidade o espírito do texto de Sepúlveda. O autor recria a atmosfera de humanidade e empatia que atravessa a obra original do escritor chileno, mantendo o equilíbrio entre a simplicidade da linguagem e a profundidade dos temas. É um daqueles livros que crianças leem bem, mas que os adultos conseguem capturar uma segunda linha narrativa na história descrita. 

História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Cever - Porto Editora
Esta adaptação tem o mérito de condensar a história sem a empobrecer, preservando as suas passagens mais simbólicas. Zorbas e os restantes gatos do porto tornam-se símbolos da solidariedade e da capacidade de cuidar do outro, mesmo quando esse “outro” pertence a um mundo diferente, como é o caso da gaivota no mundo dos gatos. Do ponto de vista narrativo, a história mantém o seu tom de fábula intemporal e o resultado é uma história universal, capaz de emocionar leitores de todas as idades, e que, apesar de simples na forma, é profunda no seu conteúdo.

Podemos então referir que a linguagem acessível da obra e as suas mensagens de amizade, coragem e solidariedade tornam-na uma leitura educativa e inspiradora. Contudo, a profundidade simbólica e o tom poético também a tornam apelativa para os adultos, que encontram nela uma reflexão sobre o amor, a perda e o poder da promessa. É um livro que, em cada leitura, revela novas camadas de significado. Já o tinha lido, mais do que uma vez, há uns anos e voltei a sair mais rico depois desta leitura da obra em banda desenhada.

A fábula de Zorbas e Ditosa é, acima de tudo, uma lição sobre a liberdade. A frase “só voa quem se atreve a fazê-lo” sintetiza de forma magistral o coração da obra. Encoraja-nos a enfrentar o medo, a acreditar nas nossas capacidades e a confiar no apoio dos outros. Esta mensagem, universal e intemporal, é aquilo que faz de História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar um clássico moderno.

A adaptação de Cever honra o legado de Sepúlveda, traduzindo-o num formato visual e narrativo acessível, mas sem perder a sua força simbólica. O equilíbrio entre humor, ternura e fantasia é bem conseguido, e o livro transmite uma sensação reconfortante de esperança. E a própria presença de Luis Sepúlveda enquanto personagem, permite uma homenagem ao autor chileno que nos deixou em 2020, vítima de complicações ligadas ao covid-19.

História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Cever - Porto Editora
Os desenhos de Cever funcionam bastante bem. O traço é limpo, elegante e expressivo, transmitindo emoção através da simplicidade. O gato Zorbas é retratado com particular mestria por Cever, apresentando um olhar sábio, um corpo pesado mas protetor, e uma ternura que emana da sua presença. Há também belos desenhos de dupla página, da zona portuária em que a história se desenrola, que oferecem ao conjunto diversidade e força.

No entanto, é possível sentir, em alguns momentos, que o traço excessivamente limpo deixa os cenários, especialmente os domésticos, um pouco despidos. Mesmo assim, reconheço que foco do autor recai intencionalmente sobre os animais e as suas expressões, o que acaba por servir bem o propósito da narrativa.

Quanto à edição, o livro apresenta capa dura baça, com detalhes a verniz, e um papel ligeiramente brilhante no miolo. A encadernação e impressão são de boa qualidade, também. Acima de tudo, é bom ver que a Porto Editora vá lançando algumas obras de banda desenhada, mesmo que sejam em pouco número.

Em suma, História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar é um livro que aquece o coração. A adaptação de Cever mantém intacto o espírito poético e humano do texto original, e os seus desenhos respiram beleza e emoção. É uma obra que continua a lembrar-nos de que o amor e a coragem podem vencer qualquer diferença e que, no fundo, todos podemos aprender a voar, se tivermos alguém que acredite em nós.


NOTA FINAL (1/10):
7.5

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, de Cever - Porto Editora

Ficha técnica
História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar
Autor: Cever
Adaptado a partir da obra original de: Luis Sepúlveda
Editora: Porto Editora
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 220 x 292 mm
Lançamento: Setembro de 2025

Levoir edita banda desenhada premiada!



A Levoir acaba de lançar o livro A Cor das Coisas, da autoria de Martin Panchaud, uma obra amplamente premiada que tem conquistado público e crítica pela sua audaz abordagem e desconstrução do próprio cânone que normalmente associamos à banda desenhada.

Como tal, mal posso esperar para conhecer melhor esta obra que tem apresentação dupla com a presença do autor: hoje, às 18h30, na FNAC do Colombo e no domingo, às 15h, no auditório do Amadora BD.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa e com algumas imagens promocionais.

A Cor das Coisas, de Martin Panchaud

A editora Levoir tem o prazer de anunciar o lançamento em Portugal da novela gráfica A Cor das Coisas, do autor suíço Martin Panchaud, uma das obras mais inovadoras e premiadas da banda desenhada europeia dos últimos anos.

A Cor das Coisas mistura drama, comédia, suspense e crítica social, através da história de Simon, um adolescente de 14 anos, vítima de bullying e negligência familiar. Quando decide apostar todas as poupanças do pai num cavalo de corrida, acaba por ganhar 16 milhões de libras - mas, sendo menor, não pode levantar o prémio. 

A partir daí, a sua vida dá uma volta completa: a mãe entra em coma, o pai desaparece, e Simon mergulha numa jornada inesperada.

Visualmente, a obra rompe com todos os formatos convencionais da banda desenhada. A narrativa é contada em “planta baixa”, com as personagens representadas por círculos de cor, evocando infografias e mapas. O resultado é uma experiência de leitura única, onde o leitor reconstrói, página a página, as emoções e os espaços da história.

A Cor das Coisas tem sido aclamada pela crítica e premiada em vários festivais de renome:

Fauve d’Or – Melhor Álbum no Festival de BD de Angoulême (2023)

Grand Prix da Crítica ACBD (2023)

Prix Delémont’BD (Melhor estreia suíça)

Prix “Toute première fois” no Festival BD Colomiers

Medalha de prata no concurso internacional ICMA

Nomeações para diversos outros prémios em França, Suíça e Alemanha


A chegada de A Cor das Coisas a Portugal será assinalada com duas sessões abertas ao público:

FNAC Colombo – 31 de outubro, 18h
Sessão de lançamento com apresentação da obra e sessão de autógrafos.

Festival Amadora BD – 2 de novembro, 15h
Apresentação oficial da obra com o autor e sessão de autógrafos com máquina.

Ambas as sessões contarão com momentos de conversa com o autor e sessões de autógrafos, com uma particularidade inédita: Martin Panchaud autografará os livros com o auxílio de uma máquina criada especialmente para o efeito, numa performance que junta arte, tecnologia e humor — uma inovação nunca vista em eventos do género em Portugal.

Estas serão oportunidades únicas para conhecer Martin Panchaud, conversar sobre o seu trabalho inovador e assistir a uma performance de autógrafos como nunca se viu.

Convidamos livreiros, imprensa, profissionais do setor cultural e amantes da banda desenhada a juntarem-se a nós nestes momentos especiais de celebração de uma obra que desafia as convenções visuais e narrativas do género.

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Ficha técnica
A Cor das Coisas
Autor: Martin Panchaud
Editora: Levoir
Páginas: 232, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 29,90€