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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Polvo nos últimos 5 anos!



Cá estou eu para mais um TOP 10 com a melhor banda desenhada editada nos últimos 5 anos em Portugal! Hoje é dia de ficarmos a conhecer quais os melhores livros de BD que a editora Polvo lançou nos últimos 5 anos.

A Polvo é uma das editoras de banda desenhada mais antigas em Portugal, tendo já editado perto de 200 livros, desde o seu início de atividade há quase 30 anos. Sendo uma editora de cariz independente, não tem uma assiduidade muito constante no lançamento de novos livros, ao longo dos meses, embora, todos os anos, seja quase garantido que haverá novos livros desta editora a serem lançados por alturas do Amadora BD

Com um catálogo que se concentra numa clara aposta em obras de origem brasileira, a editora tem também editado muitas obras de referência de autores nacionais, bem como de outros autores europeus.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Deixo-vos então, as 10 melhores BDs editadas pela Polvo nos últimos 5 anos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Análise: Ditirambos #4 - Noite

Análise: Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira

Análise: Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira
Ditirambos #4 - Noite, de Vários Autores

Foi recentemente que chegou às livrarias o quarto volume da antologia Ditirambos! Desta vez, passou-se um pouco de mais tempo entre o lançamento do último volume e o atual, cerca de 3 anos, mas posso dizer-vos que a espera foi compensada com mais um belo lançamento.

Para quem ainda não sabe, Ditirambos é uma antologia de banda desenhada que junta autores já com provas dadas em termos qualitativos. Uns são mais conhecidos ou ativos do que outros, mas todos eles já nos ofereceram obras de BD relevantes.

A antologia volta a manter a sua matriz: um mote único - que, neste caso, é o da Noite - e um constrangimento formal rigoroso de quatro páginas por história, o que, naturalmente, força cada um dos autores participantes a uma certa "ginástica" de síntese narrativa e de soluções visuais inventivas. 

Análise: Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira
A coesão que depois a obra consegue adquirir não é, pois, conquistada pela continuidade visual ou narrativa, mas antes por esse tema comum que, sendo neste caso algo tão abrangente como a "Noite", permite variadíssimas interpretações narrativas. O estilo visual, claro está, revela-se ricamente heterogéneo, sendo facilmente inidentificáveis os estilos dos autores Joana Afonso, Ricardo Baptista, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sofia Neto e Carla Rodrigues. E todos eles se apresentam em boa forma.

Já quanto às histórias, cada autor escolhe uma inflexão distinta sobre o tema, indo desde o onírico ao social, da fantasia ao slice of life, passando até pelo humor ou pelo horror. Como tal, é justo dizer que este quarto volume da antologia apresenta um andamento que, quer em termos de argumento, quer em termos de desenho, consegue ser pertinente e evitar qualquer tipo de monotonia. São histórias que não têm problema em captar a atenção do leitor.

Análise: Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira
É claro que, naturalmente, há histórias que ressoam mais do que outras em nós, consoante as nossas preferências, que serão sempre pessoais. No meu caso, devo dizer que, mesmo tendo gostado de todas as histórias, gostei especialmente das histórias A Esfinge, de Ricardo Baptista; Caçadores, de Raquel Costa e Nuno Cancelinha; Presas, de Francisco Ferreira e Sónia Mota; e Pesadelo, de Carla Rodrigues.

Não obstante as boas sensações que a leitura deste quarto Ditirambos me ofereceu, devo dizer que, desta vez, senti que algumas histórias careciam de maior desenvolvimento para se tornarem mais relevantes. Estou ciente, claro, da regra das quatro páginas por história, mas mesmo assim pareceu-me que alguns destes mini-contos precisariam de mais páginas para que os seus temas fossem melhor explanados. É, pois, interessante notar que, em volumes anteriores, certas histórias pareceram mais bem resolvidas dentro da mesma restrição, atingindo um equilíbrio mais feliz entre concisão e clareza narrativa.

Análise: Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira
Mesmo assim, não tenho dúvidas de que Ditirambos se mantém como uma das melhores antologias de banda desenhada em Portugal, com todos os autores a apresentarem-se num bom nível. 

Também em termos de edição, o livro volta a apresentar as mesmas características das edições passadas, envergando capa mole com badanas, bom papel baço no interior e boa encadernação e impressão. Volto a dizer: para um projeto independente, Ditirambos tem tudo de profissional e nada de amador.

Em suma, este quarto volume de Ditirambos confirma a iniciativa como uma das melhores antologias de banda desenhada em Portugal. Todos os autores apresentam trabalhos num bom nível, e o resultado global transmite uma rara sensação de profissionalismo, quer na escrita, quer na ilustração. O projeto contribui, inclusive, para desarmar um preconceito recorrente em certos espaços de discussão sobre BD: a ideia de que as antologias falham em consistência ou qualidade. Pelo contrário, Ditirambos mostra que um trabalho rigoroso e cuidado pode produzir uma antologia sólida e exemplar. Que o projeto continue a sua caminhada!


NOTA FINAL (1/10):
7.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Análise: Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira

Ficha técnica
Ditirambos #4 - Noite
Autores: Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sónia Mota, Sofia Neto e Carla Rodrigues
Editora: Edição Independente
Páginas: 52, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 168 x 258 mm
Lançamento: Maio de 2025

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Antologia "Ditirambos" está de volta!




Este é um dos projetos da BD nacional independente que mais acarinho e que acaba de lançar o seu 4º volume!

Já aqui escrevi sobre os volumes dois e três desta antologia. Aquilo que aprecio no projeto Ditirambos é que, embora independente, a qualidade das histórias ao nível do aprumo narrativo-visual é, quanto a mim, superior às restantes antologias portuguesas de banda desenhada. E refiro isto, claro, sem desprimor para todas as antologias de banda desenhada que, naturalmente, também são importantes.

Ditirambos é, quanto a mim, uma antologia que, embora independente, parece feita por uma editora profissional. A este nível, coloco também o projeto Umbra, de qual também sou muito admirador.
Este quarto volume, intitulado Noite, já foi apresentado no passado fim de semana, no Maia BD, e terá nova apresentação no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, que arranca já nesta sexta-feira.

Por agora, deixo-vos, mais abaixo, com a nota de imprensa deste Ditirambos #4 - Noite.


Ditirambos #4 - Noite, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sónia Mota, Sofia Neto e Carla Rodrigues


Um ditirambo é um canto coral exortativo que nos chega da antiguidade clássica grega. Nele, uma multitude de vozes une-se em homenagem ao deus Dioniso.

É também uma multipremiada antologia de banda desenhada de autores portugueses, cujas distintas técnicas e vozes narrativas obedecem, para além do mote, a um único requisito: 4 páginas.
O primeiro volume explorou o conceito de “Êxtase”, com as contribuições de Ricardo Baptista, Nuno Filipe Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira e Sofia Neto.

Para o segundo volume – “Abismo”, juntaram-se-lhes as vozes dos autores e ilustradores Joana Afonso, André Caetano e Carlos Drave e da autora Sónia Mota.

No terceiro volume – “Fauna” a colaboração de Carlos Drave dá lugar à da autora e ilustradora Carla Rodrigues.


O Volume 4 – Noite, repete, em 2025, a dose, com Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sónia Mota, Sofia Neto e Carla Rodrigues.


Histórias incluídas:

“Ciclo”, Joana Afonso
“A Esfinge”, Ricardo Baptista
“Que o Sol Volte a Brilhar”, André Caetano
“Caçadores”, Raquel Costa (arte) / Nuno F. Cancelinha (argumento)
“Prima Nocte”, Diogo Carvalho
“Presas”, Francisco Ferreira (arte) / Sónia Mota (argumento)
“Perseidas”, Sofia Neto
“Pesadelo”, Carla Rodrigues

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Ficha técnica
Ditirambos #4 - Noite
Autores: Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sónia Mota, Sofia Neto e Carla Rodrigues
Editora: Edição Independente
Páginas: 52, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 168 x 258 mm
PVP: 14,00€ (Edição limitada a 200 exemplares)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Análise: O Punhal


O Punhal, de Nuno Duarte, João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano

O único lançamento que este ano a Kingpin Books fez no Amadora BD foi este O Punhal, um álbum que marca o regresso de Nuno Duarte ao lançamento de banda desenhada. E, desta feita, o reverenciado autor faz-se acompanhar por um pequeno "exército" de confirmados talentos nacionais nas ilustrações: João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano.

Na prática, o livro é dividido por quatro histórias, cada uma delas ilustrada pelos autores supramencionados, que têm em comum o facto de orbitarem em torno de um objeto físico: o punhal que dá nome à obra.

Cada uma das histórias ocorre em tempos diferentes: em 1916, período em que o mundo estava (mais uma vez) dividido ao meio devido à Primeira Guerra Mundial; em 1974, em vésperas do 25 de Abril num Portugal ainda controlado pela PIDE; em 2001, no exato momento em que as Torres Gémeas, em Manhattan, foram alvo de um ataque terrorista; e em 2222, num futuro relativamente longínquo onde as (des)humanas relações entre os intervenientes são assunto principal. 

Em cada uma destas histórias, constituídas escrupulosamente por 14 pranchas, o mesmo punhal marca presença. Gosto desta ideia de unir várias histórias, no tempo e no espaço, através de um artefacto e lembro-me de ter sido algo que, recentemente, pude especialmente apreciar no livro Go West - Young Man, de Tiburce Oger e vários outros autores, que a Gradiva publicou por cá há pouco mais de um ano, e que também tinha em comum a todas as suas histórias o facto de todas elas serem atravessadas por um objeto físico. Nesse caso, era um relógio de bolso.

Neste O Punhal, devo dizer que, infelizmente, não me parece que Nuno Duarte tenha conseguido explanar todo o potencial que este interessante conector narrativo tinha à partida. Na verdade, a presença do artefacto punhal acaba por parecer mais um engodo, uma interligação forçada entre histórias, do que um real elemento fulcral para o desenvolvimento da obra no seu todo. E é apenas por isso que, de algum modo, este livro fica um pouco aquém de outros trabalhos de Nuno Duarte, como O Baile e, especialmente, A Fórmula da Felicidade, dos quais sou confesso admirador.

Mas não me entendam mal. As histórias e temas trazidos por Nuno Duarte parecem-me interessantes e dignos de nota. A "cola" que os une é que me parece menos espessa, menos credível. E se o livro fosse apresentado como uma simples antologia, um livro de contos de Nuno Duarte, provavelmente não só eu não apontaria esta fraqueza à obra, como ainda enalteceria o facto da quarta história fazer uma ponte direta aos eventos vividos na primeira história. Sim, aí sim, há uma ligação direta entre histórias. Na primeira e na quarta. 

Lá pelo meio, há duas histórias que me parecem avulsas e desconectadas do suposto tema central mas que, ainda assim, são as mais interessantes do álbum. Falo da história ilustrada por Osvaldo Medina, que nos remete para o ambiente pesado e assustador de uma sala de interrogatório da PIDE, tema sempre atual e que Nuno Duarte resgata muito bem; e da história ilustrada por Rita Alfaiate - de longe, a melhor das quatro - onde, através de um estilo slice of life, o argumentista nos pinta um belo retrato de uma época mais contemporânea - embora ocorrida há mais de 20 anos(!) -  quando, em 2001, o mundo se chocou perante o ataque ao centro nevrálgico financeiro dos Estados Unidos - e do mundo ocidental - que levou à queda das Torres Gémeas de Nova Iorque e à morte de alguns milhares de pessoas. E tal como as torres foram abaixo, também a relação das duas protagonistas desta história parece estar a sucumbir. O paralelismo encetado por Nuno Duarte é muito bem conseguido.

A primeira história assume uma aura mais fantástica e a última, a que é ambientada no futuro, é de ficção científica que, à boa maneira do género, levanta boas questões sob a forma de uma distopia. A escrita de Nuno Duarte é, como habitual, bastante boa e inspirada.

Em termos de ilustração, cada um dos autores nos oferece um bom trabalho. Osvaldo Medina dificilmente entrega um trabalho mal concebido em termos de desenho; João Lemos dá-nos belas e familiares personagens, cuja expressividade cria empatia com o leitor; e André Caetano, num registo de traço "mais cartoonesco" premeia-nos com pranchas muito dinâmicas na planificação e com um desenho que muito me agrada. 

Se os três autores que refiro são bons e competentes, é Rita Alfaiate, com o seu traço fino e inspirado, que utiliza muitas e belas tramas, quem, na minha opinião, mais brilha neste O Punhal. Acho que o leitor português de banda desenhada já não tem dúvidas quanto a isto mas, de facto, Rita Alfaiate é um autêntico tesouro da 9ª Arte em Portugal. Quando penso que a autora já não me pode impressionar mais pela positiva, sou confrontado com algo novo que me surpreende e me faz ser um verdadeiro fã do seu trabalho. E acho até que, depois de outras duas curtas feitas por Nuno Duarte e Rita Alfaiate, igualmente muito boas, a pergunta sacramental que se impõe é apenas esta: quando é que teremos uma história longa da autoria de Nuno Duarte e Rita Alfaiate cuja criação conjunta em banda desenhada é tão boa e tem tanto potencial?

Todas as histórias são a preto e branco, com os autores a explanarem as potencialidades que essa opção dá. Neste tema, considero que a primeira história, aquela que é ilustrada por João Lemos, não funciona tão bem como as demais, já que a sensação que dá é que a mesma foi feita a cores e depois impressa a preto e branco, com demasiados tons a cinza que retiram algumas potencialidades dos bons desenhos do autor, tornando-os escuros em demasia. Tirando isso, Osvaldo Medina, André Caetano e Rita Alfaiate revelam-se muito à vontade com o preto e branco.

A edição da Kingpin é bastante boa, com o livro a apresentar capa dura baça e bom papel baço no miolo. A impressão, encadernação e design do livro também são igualmente bons, bem ao jeito das edições de Mário Freitas que, para além do design, também assegura a boa legendagem da obra.

Em suma, O Punhal prima especialmente por marcar o regresso de Nuno Duarte ao lançamento de nova banda desenhada e por este trazer consigo uma quase mão cheia de ilustradores. Fica um pouco aquém do enorme potencial que a premissa de usar um punhal como elemento agregador das quatro histórias teria, mas é, ainda assim, um interessante livro de BD que vale a pena conhecer.


NOTA FINAL (1/10):
7.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
O Punhal
Autores: Nuno Duarte, João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano
Legendagem e design: Mário Freitas
Editora: Kingpin Books
Páginas: 64, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 19,5 x 27 cm
Lançamento: Outubro de 2024

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Kingpin volta aos lançamentos de BD!


A Kingpin Books volta a trazer-nos uma nova edição de banda desenhada nacional! E desta vez, é um álbum que reúne uma mão cheia de autores portugueses!

Com argumento de Nuno Duarte (autor de A Fórmula da Felicidade ou de O Baile), este novo livro intitula-se O Punhal e conta com ilustrações de João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano. Um belo conjunto de autores, diga-se.

Estive na apresentação deste livro no Maia BD, com a presença de Nuno Duarte e do editor Mário Freitas, e posso dizer-vos que fiquei bastante entusiasmado com esta obra, já que o conceito de ter um artefacto - neste caso um punhal - que atravessa as quatro mini histórias, separadas no tempo e no espaço, me parece uma premissa muito interessante. 




O livro terá lançamento no Amadora BD, no próximo sábado, dia 19 de Outubro, às 17h.

Por agora, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

O Punhal, de Nuno Duarte, João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano

Pode um punhal ser mais que um punhal? Ao longo de quatro épocas diferentes, um único objecto misterioso entrelaça destinos e revela segredos profundos. Um amor fatídico e uma mente fragmentada, em 1916; a tensão opressiva de uma cela da PIDE, em 1974; um casal à beira do colapso emocional, durante o caos de 2001; um futuro onde a humanidade e a identidade são questionadas, em 2222.

Cada história tece fios de dor, desespero e desejo, orbitando em torno do mesmo punhal, cujos ecos atravessam o tempo. Mas será o punhal símbolo de destruição? De libertação? Ou algo muito mais profundo, ligado à essência humana e aos nossos destinos mais sombrios? À medida que a sua lâmina corta gerações, cada protagonista é confrontado com decisões que mudam não só as suas vidas, mas o próprio tecido do tempo.

Uma viagem ao âmago das escolhas e mentiras que contamos a nós próprios, e dos sacrifícios que fazemos em nome do amor, da lealdade e da sobrevivência, num épico que atravessa séculos, que conecta o passado ao futuro — e o que nos une a todos, além do tempo.

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Ficha técnica
O Punhal
Autores: Nuno Duarte, João Lemos, Osvaldo Medina, Rita Alfaiate e André Caetano
Legendagem e design: Mário Freitas
Editora: Kingpin Books
Páginas: 64, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 19,5 x 27 cm
PVP: 16,99€


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Análise: Volta – Volumes 1 e 2

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano

A Polvo lançou recentemente, no Amadora BD, o livro Volta – O Despertar dos Gigantes de Gelo que assinala o regresso da dupla nacional constituída por André Oliveira e André Caetano a esta saga que está pensada para ser uma trilogia.

Oito anos separam o lançamento do primeiro e segundo álbuns. Lembro-me que já tinha lido, por alturas do seu lançamento, o primeiro álbum intitulado Volta – O Segredo do Vale das Sombras. Mas como já não me lembrava muito bem da sua história e para poder mergulhar melhor no universo deste segundo Volta, que tem o título de O Despertar dos Gigantes de Gelo, decidi voltar a ler, de uma só vez, os dois volumes e analisá-los conjuntamente. O que acabou por ser um exercício pertinente e interessante.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
É que, apesar de ser uma história em continuação, há, por ventura, uma certa quebra entre um volume e o outro. A vários níveis. Mas já lá irei.

Em primeiro lugar, e começando por abordar o trabalho de André Caetano ao nível das ilustrações, houve uma clara evolução e melhoria do Volta #1 para o Volta #2. Este segundo álbum é muito mais bonito e bem executado do que o primeiro ao nível do desenho. E não me entendam mal relativamente ao que acabei de escrever. Volta #1 já era um álbum bastante bonito, sim, onde ficava claro o potencial e skill de Caetano nas ilustrações e na capacidade de construir toda uma tónica visual única e especial.

No entanto, aquilo que o autor faz neste O Despertar dos Gigantes de Gelo é manifestamente (ainda) mais especial! Desde logo, o traço a preto e branco de André Caetano, onde as camadas a cinza aumentam a textura visual das ilustrações, parece mais confiante, limpo e dinâmico a todos os níveis. A utilização do preto e branco, onde o traço por vezes é mais grosso e seguro de si mesmo, apresenta-se-nos, pois, com mais beleza. E até mesmo a própria utilização do formato italiano (horizontal) parece ser mais bem aproveitada pelo autor para nos passar uma experiência mais imersiva e cinematográfica. E isto já para não falar nos maravilhosos cenários - onde as tempestades de neve parecem congelar-nos - nas belas cenas de ação e nos variados monstros que André Caetano tão bem (re)cria.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
E, depois, sucede algo bastante interessante neste Volta #2: é que parece que a história é talhada para ir ao encontro das competências, estilo e gosto de André Caetano. O autor, que domina muito bem o desenho dos ambientes paisagísticos, das florestas, das tempestades de neve, da natureza e até das figuras mitológicas do foro (mais) fantástico, tem neste Volta #2 um autêntico playground para se recriar. Em Volta #1 não houve tanto espaço para isso. Dito de outra forma, em Volta #1 parece que foi mais André Caetano que encaixou no estilo e forma de André Oliveira e, em Volta #2, parece ter ocorrido o oposto, isto é, que foi André Oliveira que melhor soube moldar a sua história para um mais bem conseguido aproveitamento do talento de André Caetano. Se se ganhou na parte das ilustrações, a parte do argumento deste Volta #2 ficou uns furos abaixo em relação ao primeiro volume.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Mas recuemos então à proposta de história que André Oliveira nos traz nesta saga. Tudo começa quando um ciclista chega - sem saber muito bem como - a uma pequena aldeia, denominada Reste du Monde, que parece parada no tempo. Embora este ciclista, que fica apelidado como Campeão, pareça vagamente contemporâneo, a verdade é que as gentes da aldeia parecem de um tempo mais longínquo ainda. O que causa uma interessante dúvida e insegurança na população local. E embora Campeão esteja de passagem, acaba por permanecer em Reste du Monde, encontrando o amor e debatendo-se com alguns dos monstros que parecem atormentar a aldeia. Ou serão os monstros que o atormentam a ele mesmo? Há, portanto, um cariz de conto fantástico ou de terror nesta história, embora a mesma assuma com mais inclinação um tom de mistério que, quanto a mim, envolve melhor o leitor, fazendo-o cismar sobre o que pode ou não vir a acontecer às personagens. Por outro lado, Campeão também parece ter sido vítima de uma experiência traumática no seu passado que o inviabiliza de continuar o seu percurso pessoal sem que enfrente certos esqueletos do seu armário. Acaba por acontecer uma revelação, já no final desse primeiro volume, que responde a algumas das questões levantadas.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Em Volta #2, onde a escrita de André Oliveira, expetavelmente, se mantém profunda e bem explanada – embora, por vezes, algo vaga -, acompanhamos a caminhada de Campeão e Violeta por montanhas geladas, atravessando inóspitas tempestades de neve. Desta vez, após ficar soterrado por uma avalanche, o casal acaba por ser resgatado por criaturas fantásticas. Os sonhos de Campeão continuam a atormentá-lo – enquanto nos dão algumas luzes sobre o seu passado – mas, tirando isso, e a companhia de Violeta, não há muitas coisas que unam este segundo volume ao primeiro volume da saga. Não diria que exista um fio condutor. Pelo menos, de forma direta e/ou coerente. A menos, claro, que no terceiro e último volume, André Oliveira venha a cozer todas estas linhas soltas. Mas se, por um lado, este corte com o enredo do primeiro para o segundo tomo, parece algo abrupto e até mesmo aleatório, este O Despertar dos Gigantes de Gelo acaba por ter a vantagem de também poder ser lido de forma isolada. Sem que se tenha lido ou se conheça, sequer, o álbum anterior.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Mesmo assim, é verdade que a figura de Campeão surge novamente carregada de alegorias e metáforas que, embora nunca sejam realmente resolvidas ou reveladas pelo argumentista, servem como ponte de ligação para a intrincada conceção do protagonista da história. Campeão volta a ser reconhecido pelos demais como um predestinado para algo maior. Ao contrário do primeiro volume de Volta onde parecíamos estar perante um episódio de Twin Peaks, neste segundo tomo parece que aterrámos dentro de um dos filmes da saga de O Senhor dos Anéis. Há muitas criaturas fantásticas e falantes (algumas com um tamanho semelhante a um colosso) que encetam um conflito entre dois grupos/espécies diferentes que parecem reclamar a presença de Campeão junto de si. No final, André Oliveira dá-nos mais umas pistas sobre o passado do protagonista.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
É sempre um pouco lato – e por vezes injusto – tecer uma opinião sobre uma história que ainda não está fechada. Ainda assim, quer Volta #1, quer Volta #2, procuram através do mistério – no primeiro volume – e da fantasia – no segundo volume – oferecer-nos uma personagem com um passado sombrio que merece ser resolvido. O argumento acaba por ser bastante abstrato e por vezes confuso, mas também é verdade que nos faz pensar e indagar para onde nos quererá levar o autor. Não sendo, para já, a obra de André Oliveira que mais me agrada, creio que se o autor conseguir fechar com chave de ouro as inúmeras portas que foi abrindo ao longo destes dois volumes, bem como as pontas soltas que deixou pendentes, pode vir a ser uma trilogia brilhante. Mas veremos o que acontece.

Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Em termos de edição, os livros apresentam capa dura com bom papel brilhante, boa encadernação e boa impressão. Isto não esquecendo que o grafismo dos livros – para o qual contarão, certamente, as (boas) opções estéticas de ambos os autores – é muito bonito. Uma nota mais que positiva tem que ser dada à ilustração da capa deste Volta #2. Não é segredo para ninguém que André Caetano é um excelente capista e também é verdade que qualquer uma das duas capas de Volta #1 – especialmente a primeira – é muito bela. Porém, neste Volta #2 o autor foi especialmente feliz. Muitas vezes digo que uma boa capa pode vender um livro. É o caso. Só de olhar para a belíssima ilustração desta capa, já apetece comprar e mergulhar neste ambiente gelado, tão bem reproduzido por André Caetano.

Em suma, ainda que sejam a primeira e segunda parte de uma trilogia, Volta #1 e Volta #2 são bastante diferentes entre si. Do ambiente taciturno e misterioso do primeiro volume, passamos para um registo do fantástico, com inúmeros monstros e criaturas mitológicas que, mesmo criando uma certa rutura algo brusca com o volume anterior e tendo algumas pontas soltas ao nível do argumento, são o engodo para a confirmação do enorme talento desta dupla criativa em termos de banda desenha nacional. Se é que tal “confirmação” ainda é necessária.


NOTA FINAL (1/10):
8.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Fichas técnicas
Volta #1 – O Segredo do Vale das Sombras
Autores: André Oliveira e André Caetano
Editora: Polvo
Páginas: 96, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 168 mm
Lançamento: Dezembro de 2015


Volta – Volumes 1 e 2, O Segredo do Vale das Sombras e O Despertar dos Gigantes de Gelo, de André Oliveira e André Caetano - Polvo
Volta #2 – O Despertar dos Gigantes do Gelo
Autores: André Oliveira e André Caetano
Editora: Polvo
Páginas: 96, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 168 mm
Lançamento: Outubro de 2023

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Análise: A Little Girl

A Little Girl, de André Caetan

A Little Girl, de André Caetan
A Little Girl, de André Caetano

Foi no ano 2021 que André Caetano lançou a sua primeira banda desenhada a solo, assumindo as funções de argumentista, para além das de ilustrador. E o resultado é um belo livro onde o autor dá azo à sua capacidade para criar belas e misteriosas ambiências visuais. Falo-vos de A Little Girl.

E aquilo que o autor nos propõe neste pequeno livro de 32 páginas, é uma representação livre e muda do clássico O Capuchinho Vermelho. Não há qualquer tipo de legendas ou falas neste livro. E embora a história do Capuchinho Vermelho seja uma das mais conhecidas e das que mais se mantêm presentes no imaginário infantil, André Caetano optou por não fazer uma adaptação literal da história clássica, mas, antes, pegar no tema central do conto infantil – incluindo a personagem da menina, o bosque misterioso, o caminho para casa e a presença de um temível lobo (ou será loba?) – e readaptá-lo de forma a criar uma história que bebe da sua própria inspiração.

A Little Girl, de André Caetan
A não utilização de texto permite que nos centremos única e exclusivamente nos desenhos que o autor nos dá. E que belos eles são! Neste registo a preto e branco puro, onde André Caetano faz bom uso do espaço negativo e das francas camadas de preto e sombra, é justo dizer que o trabalho do autor português é impressionante e carregado de beleza. Tenho gostado bastante das obras de André Caetano, mas neste A Little Girl, os seus desenhos pareceram-me especialmente inspirados. Para isso, também conta que Caetano tenha sabido escolher bem a história a ilustrar. Tal como, na música, quando se faz uma cover de uma canção, é necessário escolher bem e de acordo com as nossas valências enquanto músicos, também na banda desenhada, quando se escolhe adaptar um clássico da literatura, é crucial que se escolha bem. E André Caetano mostrou-se inteligente na sua escolha.

Com efeito, o tratamento das paisagens onde abundam luxuriantes florestas é o ponto alto na criação visual do autor nesta obra, mas o próprio tratamento das personagens, e do seu belo rol de expressões, ou o aterrorizante lobo, permitem afirmar que André Caetano é um dos principais talentos da banda desenhada nacional. É certo que, em termos de narrativa visual, nem sempre é claro e inequívoco para o leitor, aquilo que está a acontecer, mas, ainda assim, depois de uma segunda leitura, julgo ter percebido o que realmente acontece com a protagonista da história.

A Little Girl, de André Caetan
Talvez por esta incerteza na total compreensão da trama, julgo que talvez a história merecesse mais algumas páginas para melhor ser apreendida. Contudo, e assumindo que o intento do autor é mais uma nova abordagem a um breve texto clássico, também se compreende e aceita a opção de André Caetano. Se isto fosse cinema, este A Little Girl seria uma curiosa e bela curta metragem, portanto.

Quanto à planificação, o autor revela ter um belo domínio na forma como os tempos da narração são geridos, dotando a obra de uma bela dinâmica. Destaca-se o truque utilizado, com belo efeito, que coloca a protagonista a deambular, em vários momentos, pela mesma paisagem que nos é dada numa ilustração maior. Funciona muito bem e traz ritmo e dinâmica à leitura.

Em termos de edição, e especialmente tendo em conta que estamos perante uma edição de autor, o livro apresenta boa qualidade. Com capa mole baça e bom papel baço, o livro apresenta boa impressão e encadernação. Em termos de edição, e mesmo admitindo que estamos perante um livro curto em páginas, lamento que a lombada não tenha qualquer informação. Por mais fino que o livro seja, considero sempre que a presença do título da obra na lombada é obrigatória. Não apenas por uma questão de O.C.D. da minha parte, mas também porque, no meio de tantos livros que estão nas estantes de um amante de banda desenhada, a existência de um livro sem qualquer informação na lombada pode bem significar que esse livro possa ficar perdido e esquecido durante muitos anos nessas mesmas estantes. Mais do que uma opção estética, a lombada é uma opção técnica.

A Little Girl, de André Caetan
De resto, há que aplaudir que o livro venha acompanhado por um postal promocional e por uma folha A4 com o mapa que nos procura demonstrar os locais por onde a protagonista da história passa. Gostei ainda que o autor nos desse uma breve explicação para a existência da história e de como a criação da mesma surgiu do convite da Associação Cultural Casa da Esquina que, aliás, acaba por estar envolvida na edição da obra. É ainda disponibilizado um link para uma banda sonora considerada adequada para acompanhar esta leitura muda. Todas estas coisas demonstram bem o cuidado que André Caetano depositou nesta sua edição de autor. O que é muito louvável e acaba por aproximar o autor dos leitores.

Embora o livro seja mudo, o título, as informações técnicas e o texto explicativo de André Caetano estão na língua inglesa, o que indicia a tentativa do autor em exportar a sua criação.

Refira-se, por fim, que a capa deste livro é qualquer coisa de mágico e belo. Que capa maravilhosa!

Em suma, A Little Girl é apenas mais uma prova do enorme potencial de André Caetano que revela que, mesmo saindo um pouco para fora da sua zona de conforto em relação àquilo a que o autor nos habituou noutros trabalhos que editou, André volta a sair-se bem e dá-nos um belo livro que merece ser conhecido por mais gente e que nos volta a colocar no caminho da célebre Capuchinho Vermelho.


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Little Girl, de André Caetan

Ficha técnica
A Little Girl
Autor: André Caetano
Editora: Independente (Edição de Autor)
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Julho de 2021
Pode ser adquirido aqui

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Kingpin lança livro de André Oliveira na língua inglesa!



A Kingpin Books está de volta ao lançamento de banda desenhada com a reedição da obra Milagreiro, de André Oliveira e vários ilustradores nacionais de referência!

Esta nova versão da obra originalmente publicada pela editora Polvo, tem a particularidade de ser na língua inglesa - daí chamar-se Miracle Worker - e apresentar-se num formato maior, com uma belíssima nova capa da autoria de Jorge Coelho, e com nova legendagem e cores melhoradas.

O livro estará já disponível a partir deste fim de semana, no Maia BD, sendo apresentado no próprio certame com a presença dos autores André Oliveira e Filipe Andrade.

Mais abaixo, deixo-vos com algumas imagens promocionais do livro e com a nota de imprensa da editora.

Miracle Worker, de André Oliveira, Jorge Coelho, André Caetano, Filipe Andrade, Nuno Plati, Ricardo Cabral, Ricardo Tércio e Ricardo Drumond

Oito anos depois da edição original da Polvo, “Milagreiro” ganha um novo fôlego, agora numa versão em Inglês, num formato maior, com nova capa de Jorge Coelho, nova legendagem e cores melhoradas. 

Esta edição inclui ainda um novo epílogo, publicado antes apenas na antologia TLS vol.2: Silêncio, e um prefácio original do argumentista polaco Bartosz Sztybor.
Na sequência da misteriosa morte do seu irmão Cyril, Aya desafia a mais poderosa e obscura organização do mundo, para descobrir o que realmente aconteceu. Com a ajuda de Heron, um assassino profissional à beira da reforma, e movida pela força da sua própria coragem, Aya vai descer ao inferno…para perceber se afinal há ou não milagres.

Ficha técnica
Miracle Worker
Autores: André Oliveira, Jorge Coelho, André Caetano, Filipe Andrade, Nuno Plati, Ricardo Cabral, Ricardo Tércio e Ricardo Drumond
Editora: Kingpin Books
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 19,50 x 27,50 cm
Língua: Inglês
PVP: 12,99€


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Análise: Ditirambos #3: Fauna


Ditirambos #3: Fauna, de vários autores

Mais um ano se passou e mais uma edição da antologia de banda desenhada Ditirambos foi lançada no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Este é o terceiro volume e continua o bom trabalho que tem sido feito por este talentoso conjunto de autores nacionais.

Atualmente, Ditirambos é atualmente a minha antologia portuguesa de banda desenhada preferida. Acho que é uma "coisa" com cabeça, tronco e membros. Bem pensada, com um tema comum e com a regra das “quatro páginas por história”, parece-me uma coisa estruturalmente bem feita. Ora, adicionando a esta coleção vários autores com provas dadas na banda desenhada nacional, e que trazem consigo talento e personalidade, temos uma antologia que não me canso de recomendar.

O tema deste terceiro volume é a Fauna, um título que à semelhança do que foi feito nas duas edições anteriores, em que os temas foram o Êxtase e o Abismo, é suficientemente lato para que as abordagens – não só visuais, mas também ao nível do argumento – acabem por ser muito variadas. Lá por termos um estilo "cartoonesco" numa história, não quer dizer que, na história seguinte, não tenhamos um estilo realista no traço. Lá por termos uma história imensamente colorida com cores vivas, não quer dizer que a história posterior não seja a preto e branco. Ou seja, o resultado será sempre eclético. E isso é uma coisa de que eu gosto particularmente, pois acabamos sempre por ser surpreendidos à medida que vamos progredindo na leitura destas oito histórias.

De um modo geral, estas histórias estão bem conseguidas, permitindo-nos um vislumbre ténue ao trabalho e engenho de cada autor.

Os autores da segunda edição da Ditirambos transitaram todos para esta terceira edição, com a exceção de Carlos Drave, que saiu, e de Carla Rodrigues, que entrou. Portanto, para além desta última autora, participam nesta terceira edição Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Raquel Costa, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Francisco Ferreira, Sónia Mota e Sofia Neto. Cinco autores e cinco autoras. Viva a igualdade!

Como são histórias de apenas 4 páginas, vou tentar falar delas de forma genérica, tentando revelar o menos possível para não estragar a leitura a alguém que, perspicazmente, compre o livro após a leitura desta minha análise.

Joana Afonso é para mim, um sinónimo de qualidade. E, portanto, não foi surpresa que a sua história, Ninhos, me tenha agradado. O seu estilo de desenho, tão próprio, mantém-se em boa forma e também gostei do conceito que a autora introduziu na sua história. O sentimento com que fico sempre, quando acabo uma história da autora, é o seguinte: "quero mais!".

Já André Caetano, outro autor que considero com um potencial enorme, dá-nos, em A Caçada, uma bela e serena história que nos remete para a labuta de uma raposa, que procura um cacho de uvas inalcançável, e a (melhor) forma para chegar ao fruto do seu desejo. Simples, mas muito eficiente. E destaco as belas ilustrações e cores com que o autor nos brinda.

Raquel Costa e Nuno F. Cancelinha assinam, em conjunto, a história Oração. Mais uma vez, temos umas belas ilustrações e universo visual magnífico, por parte de Raquel Costa. Adoro, verdadeiramente, os belíssimos desenhos da autora que considero serem “fora da caixa” e de uma beleza ímpar que me fazem viajar para longe do expetável. Já tinha ficado maravilhado com a história da edição anterior, Mise en Abyme, que considerei a melhor dessa antologia. Neste caso, com Oração, também me senti maravilhado embora ache que, do ponto de vista do argumento, é uma história que precisaria de mais páginas para melhor ser compreendida e desenvolvida. Acho que havia aqui potencial para um livro de 40 ou mais páginas, vejam lá! Portanto, se a sensação é boa… também causa um certo "sentimento de oportunidade perdida". Bem, não diria “perdida” porque isso não seria justo, mas sim "oportunidade mal aproveitada", vá.

Avançando para Mãe Gaia, de Diogo Carvalho, posso dizer que esta história traz uma mensagem biológica bastante relevante. Diogo Carvalho é um daqueles autores que sabe fechar muito bem as suas histórias e volta a demonstrá-lo neste pequeno conto. Além de que, tendo a tal mensagem biológica, também não achei que se tornasse demasiado paternalista. O que é uma coisa que marca pontos, quanto a mim.

Destinos
, de Francisco Ferreira na ilustração, e Sónia Mota no argumento, traz consigo uma curiosa divagação. Confesso que não achei a história muito lógica ou escorreita numa primeira leitura. Mas depois de a ler uma segunda vez, julgo ter captado bem a mensagem, o que me fez gostar da história. Embora tenha gostado da frescura desta história ser a preto e branco, e do próprio sentimento clean que essa opção dava às pranchas, senti que algumas das ilustrações precisariam de um maior cuidado, por parte do ilustrador.

Recreio, de Sofia Neto, é uma reflexão tensa e de um foro muito psicológico, quase a tocar o terror, que resulta muito bem do ponto de vista de planificação. Os desenhos são meio abstratos o que torna mais difícil a total compreensão das intenções narrativas da autora. Ao contrário da história anterior, julgo que, mesmo após uma segunda leitura, fiquei ainda à deriva em relação à mensagem ou reflexão que a autora queria passar. Claro que o problema, por vezes, também é do leitor e não do autor. Pode ser o caso.

Fauna Terrestre, de Carla Rodrigues, a tal autora estreante em Ditirambos, foi uma das histórias que mais gostei. Apreciei muito o seu carácter "cartoonesco", com cores bem vivas e um monólogo presente – sem diálogos, portanto – em que é feita uma boa analogia entre o homem contemporâneo e um qualquer animal selvagem. Simples, bem executado e com algum humor. Gostei muito.

Para o fim, deixo a minha história favorita deste Ditirambos: Ausência, de Ricardo Baptista. Tenho acompanhado as várias histórias que o autor já nos deu nos últimos tempos e devo dizer que, mesmo apreciando e gostando de todas essas séries, me parecia que o autor ainda andava à procura do seu próprio estilo de ilustração. E não digo isso como uma coisa boa, nem má. É o que é. Ou o que me parecia, vá.  Não obstante, e depois de finda a leitura deste Ausência, acho que posso afirmar que me parece que Ricardo Baptista encontrou o seu estilo próprio ou, pelo menos, conseguiu oferecer-nos o seu mais bem conseguido trabalho. Sem desprimor dos outros, entenda-se. Em Ausência, as cores, o desenho, a planificação, as expressões das personagens, os enquadramentos… está tudo feito de uma forma verdadeiramente impressionante. E já para não falar do argumento que é belíssimo e carregado de uma humanidade e de uma maturidade que é raro encontrarmos. A resolução e fim da história é magnífica, mostrando um autor que sabe dosear o enredo, que sabe guardar a emoção para a altura certa. E tudo isto numa história de 4 páginas! Li uma vez. Arrepiei-me com o final. Li uma segunda vez, acenei com a cabeça de forma aprovadora. Li uma terceira vez e senti o cabelo arrepiado. Maravilhoso trabalho. Apreciava e respeitava o trabalho de Ricardo Baptista mas com esta história, fiquei fã do autor.

Olhando agora para a edição, mantenho o que disse sobre o volume 2 da série: “tendo em conta que estamos perante uma edição de autor – limitada a 200 exemplares numerados - acho que o resultado é bastante agradável (...) Tudo muito clean e bem arrumado. A qualidade do papel é bastante aceitável e a capa mole tem a robustez necessária.”. Destaque ainda para a belíssima capa de André Caetano.

Devo confessar que gostaria que, em vez de 4 páginas por história, fossem 6 ou 8 páginas. Dessa forma, os autores teriam mais espaço para melhor desenvolver as suas histórias e nós, leitores, teríamos mais espaço para melhor mergulhar nos seus contos. Mesmo assim, também compreendo que isto seria, quiçá, desvirtuar o próprio conceito base original da antologia Ditirambos. Portanto, aceita-se.

Finalizando as minhas considerações, admiro muito estes jovens autores da antologia Ditirambos. Vê-se que há ali um gosto, uma personalidade própria e uma vontade em fazer algo refrescante, que todos devemos aplaudir e apoiar. É um grupo que muito aprecio. Não só pelas pessoas acessíveis, simpáticas e “sem tretas” que são como, natural e principalmente, pelo enorme talento e potencial que têm.


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica
Ditirambos #3 - Fauna
Autores: Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Raquel Costa, Nuno F. Cancelinha, Diogo Carvalho, Francisco Ferreira, Sónia Mota, Sofia Neto e Carla Rodrigues
Edição de Autor
Páginas: 52, a cores e a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 168 x 258 mm
Lançamento: Maio de 2022

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Mais abaixo, deixo o convite para a leitura das análise ao álbum anterior da série: