Mostrar mensagens com a etiqueta Criminal. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Criminal. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Análise: Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips

Não há nada que enganar: para aqueles que apreciam uma história bem escrita, com personagens profundas e bem desenvolvidos, assente numa trama de cariz noir, muito bem construída, Criminal é uma série de bd obrigatória!

Já por aqui o disse várias vezes, nas análises que fiz aos volumes Dois, Três e Quatro e volto a afirmá-lo nesta análise ao Livro Cinco - Um Verão Cruel, publicado recentemente pela G. Floy Studio (e que deixa os portugueses a par com tudo aquilo que já foi publicado nos Estados Unidos, relativamente a esta fantástica série): Ed Brubaker é um escritor fantástico! Na verdade, até vou mais longe e digo o seguinte: o texto e as histórias são tão boas e tão bem construídas que, mesmo que fosse eu o ilustrador da série – e não o Sean Phillips - Criminal continuaria a ser maravilhoso. Mais! Mesmo que só lêssemos o guião destas histórias, continuaria a ser uma leitura muito boa.

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio

Dizer isto assim até pode parecer que estou a menosprezar o trabalho nas ilustrações de Sean Phillips. Sim e não. Por um lado, reconheço que Phillips tem a capacidade de concretizar visualmente as ideias de Brubaker e fá-lo bem, sabendo construir um universo noir com bastante personalidade própria. Por outro lado, há que ser sincero e admitir que a estrela da companhia é mesmo Ed Brubaker. A meu ver, é o autor de bd que melhor consegue (re)criar estas histórias negras, com personagens negras, com vidas negras, num ambiente hostil e negro. É negritude por todo o lado, apesar das cores garridas que os desenhos trazem consigo! Dito por outras palavras: neste género de banda desenhada noir, policial, violenta e madura, Ed Brubaker é o melhor argumentista no ativo.

E porquê? Porque a escrita de Brubaker é fabulosa. Tal como são as suas personagens e a linha entrelaçada de histórias e vivências que o autor vai depois tecendo, fazendo com que estejamos sempre a saber mais sobre as personagens deste universo. Até o podem ser mas a verdade é que as histórias desta série não parecem ser “mais do mesmo” porque têm a sua própria diversidade e há sempre algo de novo em cada um dos contos de Criminal.

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio

E, neste Livro Cinco - Um Verão Cruel, há até que admitir que estamos perante a história mais ambiciosa de toda a série até agora. Ao contrário dos volumes anteriores – que incluem, pelo menos, duas histórias – este quinto volume tem apenas uma história do princípio ao fim do livro, o que permite ao autor explorar interessantes opções narrativas e desenvolver ainda com mais profundidade as personagens.

A história envolve o já conhecido Teeg Lawless que, no verão de 1988, regressa a casa para começar a planear o maior assalto da sua carreira. Mas o seu filho, Ricky, e os seus amigos, estão também a aventurar-se no mesmo percurso negro e desastroso que os seus pais estão a trilhar. E, como se não bastasse, Teeg Lawless que nos habituou à sua agressividade e frieza, encontra, pela primeira vez, o amor da sua vida. E embora Lawless tenha ficado profundamente apaixonado, isso não parece tê-lo amolecido – por completo – e a história, que tem várias linhas condutoras, vai depois caminhar para uma apoteose marcante, fazendo com que este verão seja, de facto, o pior das vidas destas personagens.

O texto continua vívido, inspirado e marcante, bem como as personagens são muito bem trabalhadas pelo autor, revelando-se profundas e com backgrounds bem pensados. Uma verdadeira maravilha para ler.

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio

Em termos de ilustrações – e sei que também já o disse – considero o trabalho de Phillips aceitável e competente mas que poderia brilhar mais. É verdade que neste livro há páginas onde a inspiração do autor aparenta estar em altas. Mas, na grande maioria dos casos, acho que um maior detalhe nas expressões das personagens e nos ambientes, poderia ter elevado (ainda mais) esta banda desenhada. Poderão até dizer que é uma implicação minha mas acho sinceramente que é a arte ilustrativa de Phillips que não me faz dar nota máxima à série. Seja como for, o autor consegue cumprir com a sua parte e assegurar que esta é uma boa obra. Até mesmo na componente ilustrativa.

Quanto à edição da G. Floy Studio, a editora mantém a qualidade que nos deu ao longo de toda a série. Capa dura, bom papel brilhante e boa encadernação e impressão. No final há ainda espaço para as capas da série original e algumas bonitas ilustrações selecionadas por Phillips. Brubaker assina ainda um posfácio em que nos dá conta de como esta história de Criminal #5 foi uma ideia que precisou de amadurecer. Tudo apelativo para o leitor.

Uma nota de louvor deve ainda ser dada à G. Floy Studio por terminar (pelo menos até à data) mais uma série. E logo esta! Uma série com tanta qualidade (e com tantas páginas) que, diria, estará facilmente entre as melhores obras da editora! Faço vénias, pois são mais que merecidas!

Em conclusão, acho que posso dizer que, por muito que eu goste de todos os outros volumes de Criminal, este número 5 consegue a proeza de ser o melhor (ou, pelo menos, está “taco a taco” com o Livro Três). É denso, muito bem escrito e marcante para todos os que apreciam uma boa história rija, agressiva e violenta. Mesmo que a violência mental seja, muitas vezes, superior à violência física. Assim é a violência mais impactante, claro está.


NOTA FINAL (1/10):
9.2


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio

Ficha técnica
Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Lançamento: Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel




E como hoje é um dia de novidades editoriais, aqui fica mais uma!

A G. Floy Studio prepara-se para editar, no próximo dia 15 de Setembro, mais um livro da fantástica série Criminal, de Ed Brubaker e Sean Phillips. O livro estará disponível em bancas e em lojas especializadas a partir da próxima quarta-feira.

Se não forem lançados mais álbuns desta série a mesma ficará integralmente editada em português pela G. Floy, o que é um feito notável.

Abaixo fiquem com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.
Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel, de Ed Brubaker e Sean Phillips

Os vencedores do prémio Eisner para Melhor Novela Gráfica de 2019 regressam com aquele que pode vir a ser o volume final da CRIMINAL!

Este é também, o livro mais ambicioso de toda a saga até à data, com pais e filhos, amor, ódio, crime e... homicídio.

No Verão de 1988, Teeg Lawless regressa a casa para começar a planear o maior assalto da sua carreira. Mas o filho de Teeg e os seus amigos estão também a aventurar-se no mesmo percurso negro e desastroso que os seus pais estão a trilhar, e este Verão irá transformar-se no pior de todas as suas vidas.
Este volume de CRIMINAL é mais uma banda desenhada actual, um conto de tragédias que passam de geração em geração, neste espantoso universo ficcional.

CRIMINAL é a obra maior de dois dos grandes criadores dos comics modernos, Ed Brubaker (The Fade Out, Capitão América: E o Soldado do Inverno) e Sean Phillips (Fatale, The Fade Out, Marvel Zombies).


"Um drama emocional e psicologicamente complexo.”

- Library Journal


-/-
Ficha técnica
Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 30,00€

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Análise: Criminal: Livro Quatro

Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio


Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio
Criminal: Livro Quatro, de Ed Brubaker e Sean Phillips

A série Criminal, de Ed Brubaker e Sean Phillips continua em grande força sendo, a meu ver, das melhores apostas de banda desenhada publicadas pela G. Floy Studio.

Tudo aquilo que tem caracterizado a série até agora - isto é, o ambiente noir, povoado por personagens carregadas de defeitos e maldade, que praticam crimes de todas as formas possíveis e que parecem, todas elas, caminhar para a perdição, rumo a um final nunca feliz - se mantém neste quarto volume, composto por 3 histórias.

E o coletivo de histórias de Criminal, aparentemente independentes entre si mas que, devido ao talento de Ed Brubaker, se encaixam entre si mesmas, contando uma história maior, é talvez uma das coisas mais bem conseguidas nesta série. Pode-se, por isso, dizer que quem nunca leu Criminal pode muito bem começar a fazê-lo através deste quarto volume. Ou através de um outro qualquer. Não obstante, como em várias ocasiões Brubaker vai buscar antigas personagens, acontece que esta é uma série onde há muito para ler nas entrelinhas e onde as personagens acabam por ser muito bem exploradas. Se um leitor procura personagens densas e multi-dimensionais, encontrará em Criminal uma verdadeira quimera. Um bom exemplo disto é, aliás, a forma como Brubaker volta a explorar a vida de Lawless pai e Lawless filho nas duas primeiras histórias Lugar Errado e Altura Errada.

Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio
Este volume tem ainda a particularidade de em todas as três histórias, haver uma clara presença da banda desenhada – enquanto temática - à volta das personagens. Como se fosse uma banda desenhada que fala de banda desenhada. Há pois uma meta-comunicação sobre a própria bd que está sempre presente, de uma forma ou de outra, neste Criminal #4.

Aprofundando a primeira história do álbum, somos remetidos até aos anos 70 quando Teeg Lawless se encontra na prisão, após ter sido acusado por um pequeno delito. É logo curioso que Lawless, que é uma personagem tão violenta e sem escrúpulos, esteja a cumprir uma pena de apenas 30 dias, por um pequeníssimo delito. Mas as coisas começam a correr mal quando Lawless sente que alguém está a persegui-lo dentro da própria cadeia, com o intuito de o assassinar. A temática da bd que, tal como já referi, está aqui presente, vai-nos sendo mostrada através dos próprios comics, de estilo sword and sorcery - a fazerem lembrar Conan, Tarzan ou Taar –, com as quais Lawless se entretém de forma a passar o tempo.

Tenho que reconhecer que considerei que esta primeira história está bastantes furos abaixo daquilo a que Brubaker nos tem habituado em Criminal. O enredo parece-me pobre, a trama e desenvolvimento da mesma é bastante difusa e a introdução, em segundo plano, desta banda desenhada de Zanghar não é mais do que um intermezzo, um fait-diver, demasiado forçado. É que não há qualquer ponte entre a história de Lawless e a história de Zanghar. E isso faz com que a atenção do leitor cesse. Primeiro, faz-se esforço para que as páginas de Zanghar passem mas depois, às tantas, já nem a história de Lawless nos prende assim tanto. Talvez seja mesmo a história mais fraca que li até hoje da série Criminal. Mas felizmente as coisas melhoram daqui para a frente!

Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio
Porque a história seguinte, Altura Errada (que talvez também possa ser considerada como a segunda parte da primeira história) já é muito mais convincente e interessante. Aqui, andamos um pouco para a frente no tempo, quando Teeg leva o seu filho, Tracy, numa road trip. Mas esta não é uma aprazível e turística viagem de carro. Na verdade, o pai do jovem Tracy tem muitos trabalhos para fazer e acaba por levar o filho por arrasto. Infelizmente para Tracy, este acaba por presenciar vários crimes do seu pai que, certamente, marcarão a sua existência. Se na história anterior Brubaker não esteve, na minha opinião, ao seu melhor nível, nesta história está em full speed, e apresenta-nos um conto memorável, denso, forte e de uma enorme carga de violência emocional. É difícil não mergulharmos de cabeça nos acontecimentos que Tracy experencia nesta viagem. Arrebatador.

Aqui, mais uma vez, a história principal é entre-cortada pelas páginas de comics que Tracy gosta. E, também neste caso, a introdução dos comics enquanto história paralela, me parece algo forçada e sem uma grande ligação com a história principal. Remeteu-me até para o clássico da banda desenhada Watchmen que também tem uma bd paralela lá pelo meio da história, intitulada Contos do Cargueiro Negro que, a meu ver, mais uma vez, está "enfiada" na história de uma forma completa e igualmente forçada. Se há leitores que, certamente, considerarão estas soluções narrativas como uma sub-leitura genial que acrescenta significados vários à história, eu considero um autêntico "enchimento de chouriços", permitam-me a expressão. São textos demasiado abstractos, vagos e soltos para marcar a história (ou o leitor) e bem que poderiam ser introduzidos numa outra bd da mesma forma forçada. No caso desta segunda história de Criminal, Altura Errada, como estamos a acompanhar as vivências de um adolescente, este comic que ele anda a ler conta-nos a história de Fang, O Lobisomem do King Fu. Apesar de tudo, parece-me que encaixa (um pouco) melhor na história de Tracy embora, repito, seja algo forçado que não acrescenta grande coisa à história, além de uma pequena homenagem à banda desenhada dos anos 60/70 e como a mesma inspirou os jovens (e não só) desse tempo.

Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio
Depois temos ainda a terceira e última história que nos coloca, mais uma vez, no universo da banda desenhada. Mas, ao contrário do que é feito nas histórias anteriores, aqui temos uma abordagem à banda desenhada mais como indústria. E então reencontramos a personagem Jacob que tem como missão acompanhar o seu ídolo Hal Crane, o lendário artista dos comics, durante um fim de semana inteiro, a uma convenção de comics. Mas aquilo que parecia uma mera missão de acompanhar uma pessoa mais velha, começa a tornar-se um fardo bem mais pesado, com Crane a demonstrar ter uma personalidade intragável e com Jacob a ter que se envolver em assaltos e falsificações. E não falamos de quaisquer assaltos ou falsificações, falamos daqueles que são referentes à própria banda desenhada. Esta é uma história que não sendo tão pesada, nem tendo mortes e sangue à mistura, acaba por ser uma leitura muito interessante pela forma como é abordada a indústria norte-americana dos comics e com os devidos podres da mesma a serem levantados. Acaba por ser um verdadeiro documento histórico e onde desfilam – nem que seja através de um mera menção - muitos nomes célebres e episódios de bastidores da história dos comics americanos. Um conto bem construído e com um final gratificante, onde Brubaker brilha, mais uma vez.

Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio
Em termos de ilustrações, Sean Phillips mantém-se igual a ele mesmo, mais uma vez. O seu estilo de ilustração encaixa que nem uma luva na temática noir da série. Achei o autor especialmente inspirado nas ilustrações do jovem Tracy Lawless e de Gabby embora, repito, não se atira para fora de pé. Não é uma arte que eu considere deslumbrante mas tenho que admitir que Sean Phillips consegue oferecer aos textos e histórias de Brubaker tudo aquilo que os mesmos pediriam em termos gráficos. Portanto, há que reconhecer que são ilustrações que casam bem com as histórias de Criminal

E claro, neste volume, concretamente, calculo que Sean Phillips se tenha sentido bem por ter que ilustrar as tais bandas desenhadas alternativas que diferem em termos de estilo, naturalmente, face aos acontecimentos de Criminal. E quer na história de Zanghar, de estilo sword and sorcery, quer na história de Fang, O Lobisomem do King Fu, Phillips apresenta-nos bons apontamentos ilustrativos, com um traço mais "cartoonizado" e a preto e branco. Gostei particularmente dos desenhos de Fang que apresentam um estilo de ilustração clássico e vintage, tão em voga nos anos 50 e 60.

Quanto à edição da G. Floy, estamos perante mais um lançamento de qualidade. A encadernação é em formato deluxe, com capa bastante grossa e dura, e papel brilhante de boa qualidade. No fundo, um lançamento em linha com os primeiros três volumes que a editora já lançou por cá. As edições de qualidade superior que esta excelente série merecia, diga-se.

Concluindo, Criminal: Livro Quatro continua a transportar-nos para um submundo noir, com personagens falíveis e mal intencionadas, enquanto nos oferece uma leitura viciante e sublime. Se este volume fica ligeiramente abaixo dos lançados até agora pela G. Floy, é apenas porque a primeira das três histórias que compõem este livro, não é tão inspirada (e inspiradora) como as restantes. Ainda assim, a série continua a assumir-se como uma das franquias mais recomendáveis e obrigatórias da G. Floy Studio. Indispensável.



NOTA FINAL (1/10):
8.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

-/-


Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau - G. Floy Studio

Ficha técnica
Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio Portugal
Páginas: 176, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021

terça-feira, 13 de abril de 2021

Lançamento: Criminal Livro Quatro: Altura Errada / Fim-de-Semana Mau



Amanhã é lançada uma das séries mais interessantes de todo o catálogo da G. Floy Studio! Senhoras e Senhores, vem aí o quarto volume de Criminal, da autoria de Ed Brubaker e Sean Phillips.

Abaixo fiquem com a nota da editora e com algumas imagens promocionais.

Criminal Livro Quatro: Altura Errada / Fim-de-Semana Mau, Ed Brubaker e Sean Phillips


Está de regresso uma das séries favoritas dos leitores da G. Floy: Criminal. Este álbum duplo Reúne os livros Wrong Time, Wrong Place e Bad Weekend.

CRIMINAL é a obra maior de dois dos grandes criadores de comics modernos, Ed Brubaker (The Fade Out, Capitão América: O Soldado do Inverno) e Sean Phillips (Fatale, The Fade Out, Marvel Zombies).

Teeg Lawless é uma das personagens mais imorais e violentas deste universo criminoso e regressa em duas histórias que nos transportam para questões como as expectativas - as de um filho para com o pai ou um criminoso para os chefes - neste quarto volume de CRIMINAL, que abre sob o signo... da banda desenhada, apenas para fechar com uma convenção de comics!


Em ALTURA ERRADA, Teeg está na prisão, em 1976, preso por um pequeno delito, e não por um dos seus crimes a que foi condenado, mas alguém pagou para ele ser assassinado, e um mês transforma-se numa luta pela sobrevivência.

Em LUGAR ERRADO, viajamos até ao ano de 1972, quando Teeg leva o seu filho de doze anos, Tracy, numa road trip de vingança e morte que o marcará para sempre.

Finalmente, saltamos para os anos 90 e reencontramos Jacob, o cartunista e criador de Frank Kafta. 

Ele vai ter de acompanhar o seu ídolo, o lendário artista Hal Crane, num FIM-DE-SEMANA MAU, durante uma convenção de comics, apenas para descobrir que dois dias são suficientes para uma aspiral de assaltos, roubo e falsificação.



-/-

Ficha técnica
Criminal Livro Quatro: Altura Errada, Lugar Errado / Fim-de-Semana Mau
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio Portugal
Páginas: 176, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 20,00€

domingo, 21 de junho de 2020

À Conversa Com: G. Floy Studio - Novidades para 2020



Hoje no À Conversa Com: foi a vez de falar com José Hartvig de Freitas, Editor da G. Floy Studio, que amavelmente compartilhou o ambicioso plano editorial da editora, até final do ano.

Para além da continuação de séries em andamento, tais como Harrow County, Descender, Criminal, Gideon Falls ou Novos X-Men, a G. Floy Studio lançará as séries The Old Guard, StumptownBlack Magick. Todas de Greg Rucka. Lançará ainda o volume auto-contido de Jeff Lemire, entitulado Berserker Unbound. 

E há duas novidades que estavam no segredo dos deuses até ao dia de hoje e que foram avançadas ao Vinheta 2020 em primeira mão! Uma delas é uma história que roça o sobrenatural e o erótico, da autoria de Brian Azarello, e que dá pelo nome de Faithless. E a segunda novidade consiste num clássico da banda desenhada, com mais de 500 páginas: Moonshadow, escrito por J. M. DeMatteis.

Não percam esta pertinente conversa, onde José Hartvig de Freitas, fala abertamente dos planos da editora, das dificuldades causadas pelo covid-19 e do próprio funcionamento da G. Floy Studio.

Uma entrevista mais do que interessante, que podem ler abaixo. 

1. Como tem a G. Floy superado os constrangimentos sofridos com a pandemia de Covid-19? Quais têm sido as maiores dificuldades e que estratégia tem a Editora adotado?
O principal problema que enfrentámos foi, obviamente, o facto de os nossos principais clientes (Fnac, Bertrand, etc...) terem estado fechados, e agora que se iniciou o desconfinamento, estarmos a assistir a um recomeçar muito tímido em termos de vendas e de encomendas por parte dos clientes.

Fizemos um esforço para manter um fluxo de facturação constante, fazendo promoções para vendas online, e tivemos a satisfação de ver que os nossos fãs corresponderam bem, e encomendaram MUITOS livros, nunca pensámos que conseguíssemos vender tanto directamente. Alguns dos nossos clientes mantiveram o seu trabalho, e nomeadamente a Wook aumentou muito as suas encomendas. Como somos uma editora com poucos custos fixos, as coisas não foram dramáticas, e no geral podemos dizer que passámos bem este período.

Dito isto, se as vendas levarem muito tempo a recuperar para o nível anterior - que já não era particularmente bom - as coisas podem complicar-se. Temos a vantagem de estarmos “acoplados” aos nossos colegas na Polónia, e de lá as coisas terem corrido bastante melhor (quase não perdemos vendas em termos absolutos lá). Esperamos agora que os nossos clientes reabram completamente, e claro, que os leitores recomecem a ir às livrarias comprar. Vamos também continuar a apostar nas vendas online, mas queremos ter algum cuidado na nossa gestão do relacionamento com as livrarias, porque não queremos ganhar essas vendas online à custa da diminuição das vendas nos nossos clientes.

2. Apesar das dificuldades, a Editora lançou já em pleno surto de Covid-19 bastante banda desenhada, como The Wicked + The Divine vol. 4: Escalada; Roughneck - Um tipo duro; Criminal - Livro Três ou os Novos X-Men Vol. 1 - E de Extinção. Podemos por isto concluir que a G.Floy conseguiu manter o seu plano de lançamentos de banda desenhada para o primeiro semestre de 2020? Ou alguns títulos/séries tiveram que ser descartados ou adiados?
Muitos desses livros já tinham sido lançados antes (entre finais de Novembro e Março), simplesmente dado o nosso sistema de distribuição em fases (primeiro em bancas, e só dois a três meses depois em livrarias), alguns desses livros foram cair durante o período da pandemia. Os únicos livros que lançámos na altura como novidade absoluta foram o Roughneck e o Criminal Livro Três, que foram também os nossos motores de venda online durante o confinamento.

O que é preciso ter em conta é isto: nós TEMOS de imprimir junto com os nossos colegas Polacos, e na Polónia o mercado manteve-se mais ou menos estável e não podíamos parar de imprimir os livros. Conseguimos um acordo com a nossa gráfica para espalhar pelo tempo o pagamento da meia-dúzia de livros que imprimimos em português nessa altura, mas continuámos sempre a produzir os livros, porque não podemos prejudicar o ritmo de lançamento dos nossos colegas polacos.

A nossa maior atrapalhação foi que acumulámos uns 6 ou 7 livros para enviar para livrarias agora em Junho (tinham sido distribuídos no início do ano em bancas, e por causa do confinamento não começaram a ir para livrarias quando deviam ter começado a ir, em Abril) e em simultâneo 6 novidades que foram para bancas entre Maio e Junho (ainda estão a sair neste momento).

E, infelizmente, e para preservar a tesouraria da empresa, e dado também que as vendas em Portugal estavam já numa trajectória descendente, há séries que acabaram por ser canceladas e que só sairão na Polónia. Porque não nos podemos dar ao luxo de estar a imprimir livros que vão levar um ano a pagar-se, e a ter o dinheiro empatado sob a forma de paletes no armazém, nesta altura. Assim, 2 ou 3 coisas que sairão na Polónia, não sairão cá, títulos que achámos que cá iriam vender mais devagar.

3. Quais são os novos lançamentos que os leitores de banda desenhada poderão esperar no segundo semestre de 2020?
Iremos publicar em breve o nosso plano para a segunda metade do ano, mas obviamente, iremos continuar as séries que temos em curso. Descender e Harrow County terminarão entre Julho e Setembro, nos seus volumes 6 e 8, respectivamente, que vai marcar mais uma série de colecções nossas terminadas, e continuaremos também com Criminal, Gideon Falls e Novos X-Men. Como séries novas posso confirmar que se resolveram finalmente os problemas contratuais com os agentes do Greg Rucka, e que The Old Guard e Black Magick estão ambos a caminho, mas vamos dar prioridade a The Old Guard, cujo filme estreia para o mês na Netflix. Vamos estrear também a série Stumptown (também de Rucka), que deu origem à série de TV que está neste momento a passar na Fox. E teremos também um volume auto-contido de Jeff Lemire, com arte de Mike Deodato, Berserker Unbound. Contamos lançar um total de cerca de mais 15 a 17 livros este ano. Para mais novidades, vejam a última pergunta!

4. Há alguma série ou livro que possa ter ficado para o próximo ano, devido ao estado pandémico que atingiu Portugal?
Exceptuando aqueles livros que decidimos simplesmente não fazer cá, os atrasos ou adiamentos têm mais que ver com a situação nos EUA do que cá. Em primeiro lugar, porque tem levado muito tempo a negociar séries e títulos, os agentes estiveram em layoff ou fora dos escritórios, e muita coisa está a levar muito tempo. É o caso, p.ex. do terceiro volume de Moonshine, que estávamos quase certos de conseguir lançar este ano, mas que talvez deslize para o próximo porque ainda não recebemos os contratos. E o outro factor tem que ver com séries que viram a sua edição suspensa durante alguns meses nos EUA, e que por causa disso atrasarão cá também. É nomeadamente o caso da conclusão de Outcast, que tínhamos esperança de lançar este ano, e de Saga cujo relançamento está atrasado por causa disso (mas Saga provavelmente teria sido sempre um lançamento para 2021). Possivelmente, Black Magick de Greg Rucka será também apenas agendado para o início de 2021.

5. Por último, há alguma série surpresa que ponderem lançar ainda este ano e que queiram dar a conhecer, em primeira mão, aos leitores do Vinheta 2020, através desta entrevista?
Temos duas novidades que ainda não estavam anunciadas e estavam no “segredo dos Deuses”. Em primeiro lugar, iremos lançar Faithless, uma história entre o sobrenatural e o erótico, escrita por Brian Azzarello, e desenhada pela artista catalã Maria Llovet, uma série que teve bastante impacto nos EUA.

E iremos lançar um grande clássico, numa edição ENORME de mais de 500 pgs, o integral de Moonshadow, escrito por J. M. DeMatteis no final dos anos 80, o primeiro comic US que foi integralmente pintado, com arte de Jon J. Muth, e Kent Williams e George Pratt. É uma das primeiras “novelas gráficas” dos comics americanos - ou mega-romance gráfico, dado o tamanho! - e teve um imenso impacto. É uma espécie de clássico esquecido, que recebeu recentemente uma nova edição, que é a que vamos editar nós também. Originalmente saiu na Epic, o selo editorial da Marvel em que saíam os comics que não eram de super-heróis, e onde foram publicadas algumas das BDs mais arrojadas dessa época, e passou mais tarde para Vertigo, onde atingiu enorme popularidade. Um romance gráfico poético e filosófico, e visualmente inovador, que marcou uma época. 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Análise: Criminal: Livro Três



Criminal: Livro Três, de Ed Brubaker e Sean Phillips

Criminal tem tido um ritmo de publicação impressionante por parte da editora G.Floy. Especialmente se tivermos em conta que o primeiro dos três livros publicados, foi lançado em Abril de 2019. Agora que a editora lançou o terceiro volume para o mercado português são, no total, quase 800(!) páginas de Criminal, publicadas em português de Portugal, no espaço de um ano! Se isto não é impressionante do ponto de vista editorial, não sei que adjetivo posso utilizar.

Não quero repetir muito as minhas observações sobre esta fantástica série, obra maior de Ed Brubaker e Sean Phillips. Já disse, na minha análise a Criminal: Livro Dois, que esta série “está para a banda desenhada como, para o cinema, estão os filmes O Padrinho, de Francis Ford Coppola, Era uma Vez na América, de Sergio Leone ou Tudo Bons Rapazes, de Martin Scorsese. Crimes sangrentos habitam esta narrativa adulta e intensa, com uma forte trama construída em torno das personagens, todas elas a um passo da destruição. Esta série criminal que, legitimamente também se chama Criminal, tem todos os ingredientes obrigatórios (sexo, drogas, álcool, crimes, corrupção), com a dosagem certa, que um amante de histórias de gangsters, adora.” 
E também no meu top das 10 melhores leituras feitas em 2019, Criminal Livro Um apareceu nessa lista, o que revela que a qualidade é uma constante ao longo de toda a série.

Portanto, a boa constução de texto e das histórias são uma garantia e já não preciso de repetir que esta é uma das séries mais interessantes da atualidade. O ambiente é noir, as histórias são negras, sangrentas, pesadas e adultas e muito bem engendradas pela dupla de autores. 

Aquilo que Criminal nos oferece são mais “abordagens” do que histórias. Ou seja, pontos de vista de algumas personagens. E é por isso que muitas vezes regressamos às mesmas personagens para uma nova abordagem, um novo ponto de vista. Muitas das personagens já são para nós bem conhecidas mas, perante uma nova situação, teremos mais a descobrir sobre estes seres errantes que habitam este mundo pecaminoso. E isso é tão recompensador do ponto de vista da leitura! O simples facto das personagens não serem unidimensionais (apenas separadas entre o bem e o mal) aproxima-as da nossa realidade. Porque, de facto, nós não somos apenas "boas" ou "más" pessoas. Por vezes, somos boas pessoas e noutras ocasiões somos más pessoas. Tal como acontece em Criminal.

Será então Criminal: Livro Três “mais do mesmo”?

Bem... sim e não. É “mais do mesmo” porque nos oferece tudo aquilo que adoramos na série. Mas, por outro lado, este Livro Três arrisca um pouco mais, nadando mais para fora de pé. E é exímio e audaz na forma como o faz.

E portanto, sim, aqueles que já são fãs de Criminal não ficarão desiludidos com este novo livro e terão na primeira história, Os Pecadores, “mais do mesmo”, no melhor sentido da expressão.

Por outro lado, não é apenas "mais do mesmo" porque, na minha opinião, este é o melhor livro da série, até agora. E isso deve-se apenas e só a uma razão: a segunda história do livro, entitulada O Último dos Inocentes. O que Ed Brubaker faz com esta história é, a meu ver, uma masterclass de como construir um bom argumento. Verdadeiramente sólido e perfeito na composição, no jogo temporal dos acontecimentos da história, na originalidade e no interesse que desperta no leitor. Se ainda ninguém em Hollywood comprou os direitos para esta história... é porque anda muito distraído. Daria um magnífico filme. Talvez até, com argumento adaptado vencedor de oscar, se fosse suficientemente fiel ao original. 

Aproveito até este apontamento para dar uma pequena nota pessoal. Nas minhas tertúlias sobre banda desenhada (e cinema ou literatura) com amigos e conhecidos com quem partilho estas paixões, muitas vezes, acabo por concluir que a maioria das pessoas parece ficar entusiasmada por obras cuja criatividade do autor é totalmente desgarrada, livre e que varia de forma abrupta. Eu, não sou desses. Para mim a genialidade de uma história, não é atirar para um tacho todos os ingredientes que nos vierem à cabeça mas sim, conseguindo ser original e criativo, "sair da caixa", mantendo unidade e não cometendo o erro fácil de “chutar para todos os lados” narrativos. 

Por outras palavras, e sabendo que vou dizer algo que pode fazer alguns leitores que seguem o Vinheta 2020 abanar a sua cabeça com alguma desilusão, considero que autores como, por exemplo, Neil Gaiman ou mesmo Alejandro Jodorowsky, que são vencedores de inúmeros prémios de banda desenhada (e mesmo literatura) e considerados como Mestres das Histórias por milhares (ou milhões) de fãs em todo o mundo, recorrem, muitas vezes, a esta opção criativa que é: “tudo é válido e portanto... seja qual for a ideia que eu tiver, vou usá-la”. Muitos consideram: “Uau! Brutal Que génio!”. Eu considero uma confusão narrativa, um guisado desestruturado e, portanto, sem a magnificiencia que muitos lhes conferem. Não me interpretem mal, não quero desvalorizar estes dois nomes enormes da banda desenhada mundial – poderia falar de outros mas lembrei-me destes dois enquanto escrevia – pois considero que merecem o melhor dos respeitos e já fizeram grandes feitos. Escrevem bem e têm obras importantíssimas e originais. Mas, o que quero dizer é que, para mim, pelo menos, não vale tudo e as obras dos autores mencionados pecam em excesso. Como diria Robert De Niro sobre a arte de bem representar: "less is more". 

Essa parte de enfiar tudo numa história é fácil. Posso construir uma história que começa com um miúdo a comer um queque de chocolate que faz com que uma miúda se aproxime dele e comece a meter conversa, até que falem de questões políticas inerentes à Guerra Fria e, com base nisso, queiram, vingativamente, fazer um assalto à mão armada a um banco, que fica na mesma rua onde o miúdo costumava comprar gomas, nas tardes que antecediam o natal, em que o seu pai - agora um homossexual a viver com um ex-colega de trabalho - costumava dar-lhe dinheiro, a troco de pequenos recados que o filho fazia. O tal ex-colega de trabalho do pai, por sua vez, foi vítima de maus tratos pelo seu tio materno, que entretanto se focou em questões ambientais no centro da Tanzânia, onde seres alienígenas se disfarçam de caçadores de bisontes para, verdadeiramente, acederem a um cristal mágico, enterrado numa das minas do país onde, reza a lenda, vários lobisomens foram enterrados vivos, por regimentos secretos das tropas de Hitler. Estão a ver o que quero dizer? Exagerei claramente(?) mas o que pretendo explicar é que, para mim, não vale tudo quando se escreve uma história. Escrevi isto a seco, sem pensar muito. Foi fácil porque escrevi o que me vinha à cabeça. Mas isto não faz – pelo menos para mim – com que seja um bom argumento ou uma ideia super criativa. Ao invés, é um guisado de ideias soltas. É mais difícil ser-se criativo, sair da caixa, mantendo o mesmo tom, a mesma coerência, o mesmo estilo, do que chutar em todas as direções do ponto de vista narrativo. 

E é exatamente isso que Ed Brubaker não faz nesta segunda história de Criminal Livro Três. Há coerência com o universo Criminal, continua a narração do protagonista, continua a ser uma história negra, habitada por personagens negativas, corruptas e corruptíveis... mas são-no de uma forma completamente diferente das outras histórias da série, até agora publicadas em Portugal. E é por isso que o meu chapéu tem de ser retirado a Ed Brubaker. Penso que já ninguém tem dúvidas da sua qualidade enquanto criador de histórias mas com este O Último dos Inocentes, ele assume-se como um autor de primeira linha.

Dando agora algumas luzes sobre as duas histórias que nos são oferecidas em Criminal: Livro Três, em Os Pecadores, temos, como já referi, uma típica história de Criminal. Voltamos a encontrar Tracy Lawless que, desta vez, terá que investigar um conjunto de assassinatos com o objetivo de ganhar liberdade do seu patrão. Mas a história adensa-se e nem tudo é, como parece ser. Mais uma boa história dos autores. Em O Último dos Inocentes, já sobejamente aclamada nos parágrafos que escrevi acima, acompanhamos a história de Riley Richards, os seus dramas pessoais entre o ser-se bem sucedido e ter-se aquilo que realmente se precisa. A série de acontecimentos vividos pela personagem fez-me recordar a série Breaking Bad devido a toda a sua escalada de acontecimentos e tramóias por parte do protagonista. Magnífico!

Em termos de arte, repito o que já disse sobre Sean Phillips. Em Criminal ele faz aquilo que é necessário. Não é uma arte maravilhosa na minha opinião, mas é uma arte que cumpre, que casa bem com o género noir e que portanto, não desilude. Merece, no entanto, um destaque para a história O Último dos Inocentes por parecer ter um cuidado especial, quer nas cenas do tempo presente, quer nas cenas do passado, onde é utilizado um estilo completamente diferente, mais cartoonished e que, eleva ainda mais, a qualidade da história e do texto de Ed Brubaker.

Em resumo, este Criminal: Livro Três ainda consegue ser melhor que os dois livros anteriores que já eram fantásticos. Criminal é uma obra prima da banda desenhada que só mesmo o leitor desatento, (ainda) não adquiriu.


NOTA FINAL (1/10):
9.2

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020 


Ficha técnica
Criminal: Livro Três
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy
Páginas: 264, a cores
Encadernação: Capa Dura

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Lançamento: Criminal Livro Três



Criminal Livro Três, de Ed Brubaker e Sean Phillips
E se muitos de nós, fãs sedentos de uma das melhores bandas desenhadas policiais de sempre, ainda estávamos a deglutir o Criminal Livro Dois, a G. Floy, mesmo em período de Covid-19, faz o incrível e acaba de lançar Criminal Livro Três. A palavra de ordem é uma: comprar, comprar, comprar.

Fiquem com a nota de imprensa e imagens promocionais da Editora:

Criminal Livro Três, de Ed Brubaker e Sean Phillips

Mesmo que não escolhamos ser maus voluntariamente, não deixamos por isso de ser responsáveis... Criminal regressa no seu terceiro volume, com mais duas histórias que tratam do eterno regresso da violência e da queda, numa espiral negra sem fim e da qual não há fuga possível!

Em Os Pecadores, reencontramos Tracy Lawless, o veterano da guerra transformado em assassino a soldo da máfia. Encarregado de investigar uma série de misteriosos homicídios que atingiram mafiosos leais ao seu chefe, Lawless vai ver o seu inusitado código de honra meter-se no caminho da resolução do mistério, numa história com o final trágico à altura daquilo que está em jogo. Em O Último dos Inocentes, Riley Richards, que sempre teve tudo o que queria - a miúda mais sexy do liceu, os amigos e o dinheiro - é confrontado com a solidão da sua vida na cidade, e a incapacidade de esquecer a vida pacata que teve em Brookview na infância... será por isso que decidiu assassinar a sua mulher?

Criminal é uma das séries mais aclamadas da banda desenhada actual, uma meditação profunda sobre os clichés do policial e do noir, que se quer no entanto realista e credível, e é a obra maior de uma das maiores duplas de criadores de comics de sempre, Ed Brubaker (The Fade Out, Capitão América: O Soldado do Inverno) e Sean Phillips (The Fade Out, Marvel Zombies).


Ficha técnica
Criminal Livro Três
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy
Páginas: 264, a cores
Encadernação: Capa Dura
PVP: 28€

sexta-feira, 27 de março de 2020

Lançamento: Criminal: Livro Dois



Embora, o novo volume da fantástica série Criminal, de Ed Brubaker e Sean Phillips, já esteja disponível quer nas bancas, quer em algumas livrarias especializadas há alguns meses, só agora foi enviada a nota de imprensa pela G.Floy, que partilhamos abaixo. 

A G.Floy esclarece que Criminal: Livro Dois pode ser adquirido diretamente, através da editora.

Este é um livro que o Vinheta 2020 considera obrigatório e que já recebeu a minha análise

Aqui fica a nota de imprensa e respetivas imagens:

Criminal: Livro Dois
No segundo volume de Criminal, Brubaker e Phillips servem-nos um conjunto de histórias que exploram os limites do noir e da narração visual. Em Os Mortos e os Moribundos, uma mulher que sofreu na pele a crueldade do mundo que a rodeia, regressa à cidade com uma ideia em mente apenas: vingança. E os seus melhores amigos, o filho do mais poderoso senhor do crime da cidade, e um pugilista em ascensão, vão ser apanhados no fogo cruzado da sua raiva. Uma única tragédia, contada de três pontos de vista diferentes. Em Uma Noite Má, a mais estranha das histórias da série segue um autor de banda desenhada com insónias, Jacob, o criador da tira “Franz Kafka Detective Privado”, que vai ser apanhado num furacão auto-destrutivo de sexo, mentiras e violência. Duas vontades de vingança opostas vão colidir numa história com um desfecho surpreendente.

“Se estão à procura de aventura, Criminal é o sítio perfeito para as encontrarem. E, pelo menos, vão sair desta leitura vivos, que é mais do que algumas personagens do livro podem esperar.”
Den of Geek

Criminal é uma das séries mais aclamadas da banda desenhada actual, uma meditação profunda sobre os clichés do policial e do noir, que se quer no entanto realista e credível, e é a obra maior de uma das maiores duplas de criadores de comics de sempre, Ed Brubaker e Sean Phillips.

Os leitores irão descobrindo com este volume os meandros das muitas histórias que Brubaker e Phillips vão contar neste mundo que vai tornar familiar à medida que nele avançamos. Personagens recorrentes vão surgir, vamos voltar ao passado e saltar de novo para o presente, e acompanhar este
turbilhão de acontecimentos, um verdadeiro ouroboros de violência e de traição. O Livro Dois estabelecerá mais alguns protagonistas, e explicará o passado de outros: como os Hyde ascenderam a reis do crime de Center City, e as complexas relações entre Teeg Lawless, Sebastian Hyde e Jake Brown; e a surreal história de Jacob, o criador da tira de BD ‘Frank Kafka Detective
Privado’.

Inclui material originalmente publicado sob a forma de revista como Criminal
(vol. 2) #1-7, os arcos de história THE DEAD AND THE DYING e BAD NIGHT.

Ficha Técnica
Criminal: Livro Dois
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy
Páginas: 224, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 25,00€




segunda-feira, 9 de março de 2020

Análise: Criminal: Livro Dois



Análise: Criminal: Livro Dois, de Ed Brubaker e Sean Phillips

A série Criminal está para a banda desenhada como, para o cinema, estão os filmes O Padrinho, de Francis Ford Coppola, Era uma Vez na América, de Sergio Leone ou Tudo Bons Rapazes, de Martin Scorsese. Crimes sangrentos habitam esta narrativa adulta e intensa, com uma forte trama construída em torno das personagens, todas elas a um passo da destruição. Esta série criminal que, legitimamente também se chama Criminal, tem todos os ingredientes obrigatórios (sexo, drogas, álcool, crimes, corrupção), com a dosagem certa, que um amante de histórias de gangsters, adora.

Quando em 2019 a G.Floy lançou o primeiro volume de Criminal que, aliás, acabou mencionado nas minhas melhores 10 leituras de 2019, a Editora Portuguesa mais do que presentear os fãs portugueses que já conheciam esta série imprescindível, estava a fazer serviço público pela comunidade de leitores portugueses de banda desenhada.

Afinal, trata-se da obra mais conhecida de Ed Brubaker e Sean Phillips que, nos últimos anos se têm afirmado como uma das duplas com mais sucesso da banda desenhada norte-americana.

Criminal apresenta-nos várias histórias das personagens da cidade de Center City. Todas elas são histórias pesadas, agressivas, negras, adultas e que nos revelam o que de mais negativo e nefasto há na condição humana. Podíamos fazer um paralelismo com a Sin City de Frank Miller embora, essa seja uma obra mais estilizada e talvez mais superficial, do que Criminal. Cada uma, à sua maneira, são excecionais.  

E se é verdade que há um ambiente próprio, comum a cada uma das histórias da série Criminal, este Criminal Livro Dois não é, ainda assim, mais do mesmo. Cada história deste volume tem a sua própria singularidade mesmo quando há personagens repetidas com quem já nos cruzámos numa outra história. 

E uma outra coisa que este Criminal Livro Dois tem, e que merece o meu destaque, é a capacidade de contar uma mesma história através de várias perspetivas. Isto permite que a relação criada entre o leitor e as personagens se intensifique, levando-nos, muitas vezes, a relativizar e a pôr em perspetiva determinada opinião que tínhamos sobre um personagem. 

Assim, se, há algo que a banda desenhada clássica nos deu foi um universo de personagens que espelhavam o bom e o mau, o que devemos e o que não devemos fazer, qual objeto de culturalização. Contudo, com o passar dos anos e com o amadurecimento da banda desenhada enquanto meio, fomos começando a ter personagens mais dúbias que nos aproximam muito mais da realidade em que vivemos. Porque de facto, nós não somos só “bons” ou só “maus”. Temos um conjunto de atitudes “boas”, mas também temos um conjunto de atitudes “más”. 

Criminal agarra muito bem neste paradigma. Estes vários pontos de vista que nos são dados sobre as personagens, levam-nos a mudar – ou pelo menos a ajustar – certa opinião que possamos ter sobre as diversas personagens. À partida, podemos olhar para uma personagem e catalogá-la, automaticamente, como sendo um vilão ou um “bom”, baseando-nos nos seus actos. Não obstante, como Criminal regressa às mesmas personagens e aos meus actos mas de uma outra perspetiva, faz com que, por diversas vezes, consigamos perceber quais são as motivações que transformaram aquela personagem num "mau da fita" e, por conseguinte, leva-nos a alargar os nossos horizontes em relação ao que é certo e errado. Olhando para os super-heróis clássicos da banda desenhada em que fica claro quem são os bons e quem são os maus, através de uma dimensão unilateral, aqui, a postura é completamente multilateral. O que atribui a esta série um cariz totalmente adulto.

Em termos de arte, acho que cumpre bem os propósitos da série, apresentando-nos um ambiente noir, com muitas sombras acentuadas e umas cores propositadamente esbatidas numas alturas e muito vivas, noutras. Não é um desenho que eu considere espetacular mas também não lhe posso apontar erros. Como já disse, cumpre. Porque claro, aqui a estrela da companhia não é a arte mas sim o texto, a história, a teia de personagens que Brubaker constrói de forma magistralmente inteligente, levando-nos a relacionarmo-nos com as mesmas e com as vicissitudes que enfrentam.

Criminal é uma série obrigatória para fãs de bd. Na verdade, nem consigo nutrir muito respeito por uma pessoa que se considere leitor de banda desenhada e não tenha nenhum Criminal na sua estante. Imprescindível.

Parabéns à G.Floy Studio por trazer esta magnífica série para Portugal. A edição é de luxo, com capa rija. Penso que as capas podiam ser mais apelativas – como as da versão americana Deluxe Integral - mas calculo que não se trate de uma escolha da G. Floy pois há versões em inglês com estas mesmas capas, naturalmente.

Se adoraram o Criminal: Livro Um, continuarão a adorar este novo volume. Se ainda não têm nenhum destes dois livros, façam a vocês mesmos um favor e tratem de resolver esta falta para convosco mesmos.


NOTA FINAL (1/10):
9.0


-/-

Ficha Técnica:
Criminal: Livro Dois
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy
Páginas: 224, a cores
Encadernação: Capa dura