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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Análise: O Fado Ilustrado

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel

Desde que as editoras A Seita e Arte de Autor juntaram esforços para lançar obras de banda desenhada em conjunto, já recebemos três livros de banda desenhada da autoria do português Jorge Miguel. O primeiro foi Shanghai Dream, que me conquistou totalmente, o segundo foi Sapiens Imperium que, não sendo isento de algumas lacunas, também me agradou. Desta feita, estamos perante o terceiro livro do autor que ambas as editoras lançam.

Na verdade, este O Fado Ilustrado até já havia sido lançado por cá, em 2011, pela editora Plátano. Portanto, estamos perante uma reedição. Que tem, também, a particularidade de ser uma obra em que Jorge Miguel assume o argumento e a arte.

Confesso que, aquando o seu lançamento original, este trabalho passou por mim sem que por ele eu tivesse dado conta. Com a sua crescente raridade no mercado e com um maior conhecimento e interesse dos leitores portugueses pela obra do autor, parece-me que esta é uma aposta muito bem pensada por ambas as editoras e que faz sentido ter sido relançada. Estamos perante um daqueles livros que consegue o feito de ter potencial intrínseco para agradar a um grande conjunto de pessoas.

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
O Fado Ilustrado
é uma obra em que Jorge Miguel se baseia em factos reais que marcaram a História de Portugal, na viragem do século XIX para o século XX, enquanto lhes acrescenta factos ficcionais, que unem bem a história entre si e que dão o “sal” necessário a tornar este livro numa experiência de leitura leve e muito agradável.

O autor parte do célebre quadro de José Malhoa, O Fado, para construir uma narrativa à volta do processo de criação dessa pintura, enquanto nos vai mostrando os momentos marcantes dessa época, como o fim do periclitante reinado de D. Carlos I ou a relevância de Eça de Queiroz e de Ramalho Ortigão na mudança da consciencialização político-social vivida à época. E isto enquanto monárquicos e republicanos brigam entre si. Assim, vamos conhecendo todas as peripécias, imaginadas por Jorge Miguel, que o pintor José Malhoa há-de ter passado até conseguir pintar os seus quadros mais célebres: O Fado e Os Bêbados.

Parece-me que o autor foi bastante inteligente ao juntar as tais figuras e acontecimentos históricos à feitura do quadro para lhe dar mais consistência. Se o livro fosse apenas centrado no mestre José Malhoa talvez ficasse demasiado fechado em si mesmo. Assim, desta forma, o livro assume a função, bem conseguida, de ser um retrato de época. É certo que é tudo feito de forma bem leve e suave mas, quanto a mim, não acho que isso belisque em nada a boa leitura que nos é oferecida.

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Gostei especialmente da portugalidade com que o autor traça toda esta obra. Quer nas personagens e no modo como as mesmas interagem entre si, quer, claro está, nos próprios desenhos. 

E isto permite-nos também afirmar que a obra assume um cariz de documento histórico. Que me leva, aliás, a considerar que uma edição deste livro em inglês venderia que nem Galos de Barcelos nas lojas de souvenirs portuguesas. Deixo a sugestão para, quiçá, uma reimpressão futura da obra na língua inglesa.

Em termos de ilustração, temos algo bastante diferente se pensarmos na já mencionadas obras Shanghai Dream ou Sapiens Imperium, que tinham um traço bem mais realista. Aqui, em O Fado Ilustrado, Jorge Miguel oferece-nos um estilo bastante mais caricatural, de traço mais rápido, mas onde é claro um óbvio talento em tornar expressivos e eficazes os seus desenhos. 

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Em termos de estilo, este tipo de desenho lembrou-me bastante de Chiqui de la Fuente, que tanto marcou a minha infância com a sua adaptação do álbum Tom Sawyer, e que sempre admirei muito. Para além dos desenhos de Jorge Miguel, também gostei bastante das cores, da autoria de João Amaral, que vivem numa boa relação de harmonia com o estilo de ilustração com que Jorge Miguel nos brinda.

A edição da Arte de Autor e d’ A Seita é bem conseguida. Comparando com a edição original, percebem-se alterações na capa, tornando-a mais atual – e quiçá mais comercial. No final, há uma breve linha cronológica para melhor ambientar os leitores no período histórico retratado no livro. De resto, a edição é em capa dura, com bom papel baço, boa encadernação e boa impressão.

Em conclusão, é notória a forma despretensiosa e leve com que Jorge Miguel se nos revela neste seu O Fado Ilustrado, dotando a obra de uma grande acessibilidade para um vasto público: os que gostam de banda desenhada; os que gostam do fado enquanto estilo de música e corrente artística; e os que gostam, simplesmente, de História. A todos eles, este livro presta um belo serviço. Por tudo isto e muito mais, é um belo livro que se recomenda.


NOTA FINAL (1/10):
8.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor

Ficha técnica
O Fado Ilustrado
Autor: Jorge Miguel
Editoras: Arte de Autor e A Seita
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 21 x 28,5 cm
Lançamento: Maio de 2022

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel, já está disponível!



Já era anunciado há muito mas finalmente está disponível! 

Falo de O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel, um autor português consagrado no estrangeiro e que, uqer-me parecer, se não fosse a parceria d' A Seita e da Arte de Autor, que já nos deu dois álbuns do autor, Shanghai Dream e Sapiens Imperium, o trabalho do autor natural da Amadora provavelmente permaneceria bastante arredado do conhecimento da grande maioria dos leitores portugueses de banda desenhada.

É certo que este O Fado Ilustrado até chegou a ser editado por cá, pela editora Plátano, no ano de 2011. Não obstante, e talvez por falta de promoção, foi um livro que passou pelos "pingos da chuva".

Espero que com esta nova reedição, das editoras A Seita e Arte de Autor, a obra mereça a relevância que merece.


Mais abaixo, deixo-vos algumas imagens promocionais, bem como a nota de imprensa das editoras.


O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel

Estamos no virar do século XIX. A Europa foi assolada por uma vaga de atentados anarquistas. Em Portugal, a Carbonária, uma facção terrorista, pretende derrubar o regime monárquico. 

Nas artes, o ambiente também é de crise. Os «Vencidos da Vida» já não se reúnem no Hotel Bragança, e o «Grupo do Leão» perdeu pujança. O povo antevê a mudança, e a monarquia está inquieta. Ramalho Ortigão, e sobretudo Eça de Queirós, escrevem obras de uma acuidade perturbadora acerca do que irá acontecer...
Através da história de uma das pinturas mais icónicas da história da arte em Portugal, O Fado, de José Malhoa, Jorge Miguel traça-nos uma maravilhosa e fascinante imagem do Portugal dos finais da Monarquia e inícios da República.

Jorge Miguel tem neste álbum um dos trabalhos que o afirmou claramente como um autor maior da banda desenhada portuguesa, quer como artista, quer como argumentista. E o facto de ele ter rumado a França pouco depois para construir a sua carreira como desenhador no mercado franco-belga, com uma mão-cheia de álbuns de sucesso (de que a Arte de Autor e A Seita editaram já anteriormente dois, Shanghai Dream, com argumento de Philippe Thirault, e Sapiens Imperium, com Sam Timel) foi certamente uma perda para o nosso mercado nacional, tão necessitado de uma variedade de obras, desde as mais “alternativas” ou “independentes”, até às que poderíamos apelidar de mainstream, capazes de tocar um público nacional bem mais alargado, de que O Fado Ilustrado é um excelente exemplo.

Cruzando vários fios narrativos, uns ficcionais - as personagens que acabaram por inspirar Malhoa na criação do seu quadro e que aparecem nele - e outros históricos, reais, Jorge Miguel reconstitui “uma” história de como o quadro surgiu, e juntamente com ela traça-nos um fresco do Portugal do virar do século 19 para o início do século 20, fugindo aos clichés normais da BD histórica.

Editada pela primeira vez há mais de dez anos pela Plátano, a nova edição em parceria da Arte de Autor e d’ A Seita inclui uma capa nova, bem como uma revisão do texto feita em conjunto com o autor, e uma cronologia da época, e aproveita a edição conjunta polaca com a Timof Comics.
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Ficha técnica
O Fado Ilustrado
Autor: Jorge Miguel
Editoras: Arte de Autor e A Seita
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 21 x 28,5 cm
PVP: 16,50€

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A Seita e a Arte de Autor preparam-se para causar impacto no mercado da BD em Portugal!


E se a Devir tem excelentes propostas para reforçar o seu catálogo editorial, que dizer, também, da parceria entre as editoras A Seita e Arte de Autor?!

As duas editoras anunciaram na passada sexta-feira as novas obras que se preparam para co-editar ao longo dos próximos meses!

E, meus amigos, preparem-se para livros verdadeiramente apetecíveis!!!

Em primeiro lugar, teremos a publicação do segundo - e último - tomo de O Combate Quotidiano, que apresenta, desde já, a capa mais bonita de todas as que conheço dos vários tomos e edições integrais da série.

Teremos também a reedição de Fado Ilustrado, de Jorge Miguel, autor das obras Shanghai Dream e Sapiens Imperium, ambas publicadas por cá, pela parceria A Seita/Arte de Autor, para além da obra O Cavaleiro do Unicórnio, de Stéphane Piatzszek e Guillermo Gonzalez Escalada, que não conheço mas que aparenta ter uma arte ilustrativa verdadeiramente impressionante.

Para além disso, teremos o novo livro, intitulado Noir Burlesque, do autor Marini, um dos meus ilustradores favoritos, e, também, duas obras de Zidrou, um dos meus argumentistas favoritos de banda desenhada: Naturezas Mortas e Emma G. Wildford!

Se todas estas obras me deixam com um apetite de leitura voraz, tenho que confessar que Dentro da Cabeça de Sherlock Holmes é a obra que mais me deixa empolgado! E não falo apenas em relação a este conjunto de fantásticas obras d'A Seita/Arte de Autor. Falo em relação a todos os livros de banda desenhada que foram lançados nos últimos anos. Daquilo que já pude investigar sobre a obra e sobre a edição, este é um daqueles livros que tem tudo para ser "um dos livros da minha vida". Sim, a minha expetativa é tão grande que até tenho medo de sair defraudado. Mas, ou muito me engano, ou tal não vai acontecer. Resta-me esperar para que chegue rapidamente a altura em que me poderei deliciar com esta obra.

Abaixo, deixo-vos a nota emitida pelas editoras que explica melhor quais as novidades editoriais do seu esforço conjunto:


Plano editorial Arte de Autor e A Seita

Como muitos fãs de banda desenhada portugueses sabem, a Arte de Autor e A Seita iniciaram há um pouco mais de um ano uma colaboração algo inédita no mercado português, para co-editar livros de BD, principalmente de franco-belga. Essa cooperação nasceu de uma conversa fortuita durante o Festival de BD de Angoulême, em Janeiro de 2020, em que nos demos conta de que estávamos a tentar comprar os direitos dos mesmos livros. Dessa conversa surgiu a ideia de, em vez de competirmos e entrarmos numa espécie de leilão, podíamos colaborar e co-editar esse livro. E nasceu o nosso primeiro livro em conjunto, “Shanghai Dream”, de Jorge Miguel e Philippe Thirault, e a intenção de editar outros livros, consoante os projectos editoriais de cada uma das editoras. Em 2021 continuámos essa colaboração: mais um livro do Jorge Miguel, desta feita “Sapiens Imperium” (com Sam Timel), bem como “Os Olhos do Gato”, de Moebius e Jodorowsky, e “O Combate Quotidiano” de Manu Larcenet (o primeiro volume).

Esta colaboração vai continuar este ano, a experiência foi boa e tem havido um bom entendimento entre as duas editoras. Queremos continuar os projectos que nos propusemos começar, claro: continuar a editar a obra de Jorge Miguel em Portugal, e concluir “O Combate Quotidiano”, mas decidimos juntar forças para mais uma série de livros em 2022 e 2023!

E o nosso primeiro anúncio vai para “Noir Burlesque” de Marini, um policial negro e pulp, ambientado nos anos 1950, que junta paixão, crime, ciúme e vingança numa história que é, como o diz o Le Figaro, “a sua homenagem pessoal ao cinema de Hollywood dos anos 50”. Um álbum magnífico a preto e branco e… vermelho! Antecipamos o lançamento do primeiro álbum (de dois) durante o último trimestre do ano.

Noir Burlesque, de Marini

E a verdade é que somos todos fãs de Zidrou, os (muitos!) sócios d’A Seita, e a Vanda da Arte de Autor, e entre “Verões Felizes” e “A Fera” já temos editados alguns livros escritos por este fabuloso argumentista belga. E então... porque não uma colecção Zidrou? Pois bem, foi o que decidimos fazer. Zidrou tem inúmeras histórias completas, pequenos (ou não tão pequenos) romances gráficos, e já no final do ano lançaremos “Naturezas Mortas”, com arte do espanhol Oriol,

Naturezas Mortas, de Zidrou e Oriol


(...) a que se seguirá em inícios de 2023 “Emma G. Wildford”, ilustrado por Edith. São duas histórias maravilhosas, e um convite a que mais leitores portugueses descubram a obra de Zidrou.

Emma G. Wildford, de Zidrou e Edith

Temos também para o final do ano um álbum completo, uma história fechada, “O Cavaleiro do Unicórnio”, uma saga medieval com toques de fantástico e em tons de alegoria sobre a violência, com argumento de Stéphane Piatzszek e arte (deslumbrante!) de Guillermo Gonzalez Escalada.

O Cavaleiro do Unicórnio, de Stéphane Piatzszek e Guillermo Gonzalez Escalada 


E, finalmente, com lançamento previsto para inícios de 2023, temos um álbum que foi um dos grandes sucessos em França nos anos mais recentes, e que é um dos livros de BD mais originais que já vimos: “Na Cabeça de Sherlock Holmes” de Cyril Liéron e Benoit Dahan, um álbum que reúne os dois primeiros volumes da série num livro com mais de 100 páginas que apresenta “O Caso do Bilhete Escandaloso” numa integral com a qual mergulhamos (literalmente!) na cabeça do detective de Conan Doyle.

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Liéron e Benoit Dahan


Como já dissemos acima, a estes livros juntam-se “O Fado Ilustrado”, a re-edição de uma interessante obra de Jorge Miguel, que segue a história e os meandros da Lisboa do fim do século 19 no célebre através do quadro “O Fado” de Malhoa; 

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel
(Provavelmente a capa será diferente da edição original da Plátano Editora)


(...) e, claro, o segundo volume (e final) “O Combate Quotidiano” de Manu Larcenet, uma das obras-primas deste grande autor franco-belga contemporâneo.

O Combate Quotidiano - Volume Dois (de dois), de Manu Larcenet


São sete livros, distribuídos entre o segundo trimestre do ano (o “O Fado Ilustrado” e “O Combate Quotidiano” serão editados entre Abril e Junho) e o último trimestre de 2022 e primeiro de 2023 (para os outros), que esperamos possam satisfazer os nossos leitores e fãs com mais e melhor BD!

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Análise: Sapiens Imperium

Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita

Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita
Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel

Depois do fantástico Shanghai Dream nos ter levado ao passado, através de um drama ambientado na Segunda Guerra Mundial, o autor português Jorge Miguel, que muitas cartas dá no universo da banda desenhada franco-belga vê, num curto espaço de tempo, um segundo livro seu publicado em Portugal pelas editoras Arte de Autor e A Seita. Mas, se o álbum anterior foi histórico, este Sapiens Imperium não poderia ser mais futurista. E, desta vez, no lugar de Philippe Thirault, o autor português aparece acompanhado pelo americano Sam Timel.

Há que dizer que Sapiens Imperium se apresenta como uma obra de ficção científica cheia de potencial e uma forte ambição. E embora seja publicada como um one-shot, uma história auto-contida em si mesma, a verdade é que há aqui espaço para muito mais. E quando falo em “muito mais” refiro-me a uma maior e mais complexa exploração narrativa das boas ideias que Sam Timel congeminou. E, talvez por isso, não seja de admirar que a última legenda do livro seja “Fim do Primeiro Ciclo”. O que traz consigo a promessa de que, mesmo tendo em conta que este livro se fecha a si mesmo, há (haveria!) espaço para muito mais.

Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita
E essa característica, podendo ser extremamente positiva, e bem apetecível para o nosso imaginário, também acaba por ser o calcanhar de Aquiles da obra, a meu ver. É que, esta sensação de subaproveitamento, de demasiadas coisas para poucas páginas (embora sejam 120, ainda assim) e de alguma aleatoriedade de ideias, está presente ao longo de toda a leitura.

A história leva-nos, como já referi, para uma distopia futurista, passada num local e num tempo longínquos. O universo é governado, de forma autoritária, pelo chefe dos Kerkans. Quanto à dinastia dos Khelek, depois de deposta, foi aprisionada em Tazma, uma lua abandonada, onde o seu povo passou a viver no subsolo. Entretanto, passou-se muito tempo e começa a surgir uma onda de revolta por parte dos Khelek, que têm que fazer trabalhos forçados para a produção de algas, que são indispensáveis à vida do Império. No fundo, a clássica situação de um povo que é escravizado em prole de um outro. 

E da revolta que se vai sentindo junto dos Khelek, começa a sobressair a jovem Xinthia, que protagoniza este Sapiens Imperium, numa luta pela revolução e pelo direito à liberdade. Entretanto, Xinthia acaba por se apaixonar pelo filho do imperador que, contrariamente à sua família, até consegue nutrir simpatia e respeito pelo povo Khelek. 

Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita
Desta forma, estamos perante uma narrativa carregada de alguns lugares comuns e uma certa sensação de déjà vu. Nesse sentido, e ainda que tudo seja ambientado num universo muito particular e original, fica-se com a sensação de que já se viu, leu ou ouviu esta mesma história noutro(s) lugar(es).

Há também uma coisa muito interessante que são os Metalnautas, uma espécie de robots de guerra, que são controlados à distância por humanos. Essa premissa destes soldados de guerra mecânicos é, por si só, muito interessante e merecia, por ventura, uma maior e mais complexa exploração por parte de Timel. Como também o merecia a boa dose de criaturas e locais imaginados por Timel e ilustrados por Jorge Miguel.

É, pois, por isso, que considero que, em termos narrativos, Timel parece munir a história de muitas pontas soltas. Há imensas boas ideias, aqui e ali, mas parece que são "atiradas" para a história de uma forma algo aleatória.

Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita
Quanto ao trabalho de ilustração, do português Jorge Miguel, devo dizer que o autor continua a dar mostras das suas enormes capacidades enquanto bom desenhador. Apresentando um traço rápido, mas elegante, que até me remete para alguns autores clássicos da literatura franco-belga, a forma como ilustra expressões faciais, a linguagem corporal das personagens, as naves espaciais e até algumas figuras alienígenas, é praticamente sempre muito bem conseguida. Por vezes, passamos por uma ou outra vinheta que parece ter sido desenhada um pouco mais "à pressa" e que talvez tivesse merecido a colocação de mais detalhes por parte do autor, mas, logo a seguir, deparamo-nos com uma ilustração muito apelativa, que nos faz esquecer a anterior ilustração. E sim, no final, Jorge Miguel consegue encher o olho de um admirador de boas ilustrações. 

Sendo clássico no estilo, mas, neste caso, desenhando uma história futurista, diria que o autor arriscou bastante e a coisa até podia ter saído mal. Mas não. O seu trabalho é deveras interessante, merecendo ainda um destaque pela sua versatilidade para histórias de cariz bem diferente. Shanghai Dream não tem nada a ver com Sapiens Imperium e em ambas as obras, Jorge Miguel, nos dá ilustrações muito cativantes e soluções narrativas eficazes para bem nos contar ambas as histórias.

Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita
A edição que a Arte de Autor e A Seita prepararam para esta obra, mantém os padrões de qualidade que poderíamos antever: capa dura, bom papel brilhante e um bom trabalho ao nível da impressão e encadernação. Saliente-se ainda o dossier de 8 páginas, no final da obra, que permite um mergulho mais profundo neste universo, através de uma cronologia e de algumas imagens preparatórias relativamente ao visual da obra.

Sobre o objeto físico, há uma coisa, que importa dar conta, que diz respeito ao excesso de texto que aparece na capa e contracapa. Senão, vejamos: há uma síntese logo na capa(!), há um pequeno resumo na contracapa num texto maior em dimensão e depois ainda há um terceiro resumo da obra. O texto não se repete mas complementa-se, é certo, mas acho que todo este texto, para lá de excessivo, tira muita beleza ao livro em si. Bem sei que na versão original, sucedeu o mesmo, portanto não é algo que deva ser imputado às editoras portuguesas, mas, presumivelmente, aos autores. 

A ilustração escolhida para a capa também não é a melhor, quanto a mim, se tivermos em conta a enorme capacidade de ilustração de Jorge Miguel. Não é que seja uma capa feia. Quantas dezenas de livros com capas mais feias não haverão, mas, lá está, conhecendo a capacidade do autor português, acho que a capa poderia ser melhor e mais cativante.

Em suma, este é um daqueles livros que me deixa com sentimentos mistos. A ideia, o potencial da mesma, as ilustrações fantásticas de Jorge Miguel… tudo isso está a um nível de excelência. Mas depois, há a tal sensação de déjà vu e de ideias recicladas de outras obras, bem como a introdução de muitas coisas, que tendo potencial, poderiam ser mais bem aproveitadas. Seja como for, é um bom livro, ainda assim, especialmente recomendado aos adeptos da ficção científica.


NOTA FINAL (1/10):
8.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Sapiens Imperium, de Sam Timel e Jorge Miguel - Arte de Autor e A Seita

Ficha técnica
Sapiens Imperium
Autores: Sam Timel e Jorge Miguel
Editora: Arte de Autor e A Seita
Páginas: 120, a cores
Encadernação: capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

quinta-feira, 24 de junho de 2021

À Conversa Com: A Seita e Arte de Autor - Novidades Conjuntas para o 2º Semestre de 2021

Hoje é dia de vos dar a conhecer (mais) novidades fantásticas em relação a novos lançamentos de banda desenhada para o segundo semestre de 2021!!!

Desta vez falei, não com uma, mas com duas editoras. Bem, na verdade, é quase como se os esforços das editoras A Seita e Arte de Autor tivessem formado uma nova editora à parte, desde que se uniram, no ano passado, para lançar o interessantíssimo livro Shanghai Dream, de Philippe Thirault e Jorge Miguel. Esse esforço conjunto correu tão bem que as duas editoras preparam novos lançamentos "a meias". E, se no ano passado foi apenas um livro em parceira, em 2021 serão três livros!

E todo eles, sem exceção, me deixam super empolgado! E há uma obra em concreto que vai marcar, certamente, o ano de 2021 como uma das mais importantes obras!

Ora, vejam lá, mais abaixo, as fantásticas surpresas que nos esperam da parceria entre A Seita e a Arte de Autor!


Entrevista



1. Como foi este primeiro semestre do ano editorial de 2021 para vós? Editaram tudo o que tinham planeado ou houve títulos que foram adiados para o segundo semestre de 2021 (ou mesmo para 2022)?
A parceria entre a Arte de Autor e A Seita começou no ano passado, e o primeiro livro que editámos saiu em Dezembro, o Shanghai Dream de Philippe Thirault e Jorge Miguel. Portanto, e sem mais lançamentos, é difícil apresentar um “balanço” típico. Podemos dizer que o livro foi um dos mais vendidos de ambas as editoras, e que olhando para a “racionalização” da distribuição que fizemos entre as duas editoras para chegar ao máximo de pontos de venda possíveis, o projecto foi muito bem sucedido.


2. Quais são os vossos lançamentos agendados para o segundo semestre de 2021?
Depois do lançamento deste projecto, as duas editoras analisaram o seu “stock” de direitos comprados, bem como o de livros que pretendiam adquirir. Neste momento, decidimos colaborar em dois títulos (ver abaixo), e temos também uma lista de livros que queremos fazer em conjunto. Tentámos já num caso a compra dos direitos de uma série francesa, mas acabámos por perder para outra editora (os fãs portugueses vão ficar muito felizes quando ela for anunciada, diga-se).

Os três lançamentos que podemos desde já anunciar são já para o segundo semestre, com um deles a entrar no mercado provavelmente já em Julho, se tudo correr bem.

Em primeiro lugar, iremos lançar um livro estranhamento esquecido na história da edição da BD no nosso país: Os Olhos do Gato, que foi a primeira colaboração entre Moebius e Jodorowsky, ainda no tempo da revista Métal Hurlant, antes de começarem a trabalhar no Incal. Uma obra inédita no nosso país, que inclui um texto super interessante do Jodorowsky e um dossier nosso, que esperamos que seja interessante para os leitores portugueses. É um livro incrivelmente original, que desafia um pouco a noção daquilo que entendemos por BD, mas que é também um conjunto absolutamente maravilhoso de desenhos do Moebius (lançamento previsto em finais de Julho).

Os Olhos do Gato
de Jodorowsky e Moebius


O segundo livro que as duas editoras vão co-editar era mais previsível para os nossos fãs: trata-se de mais um livro desenhado pelo Jorge Miguel para o mercado... francês? Franco-americano? Sapiens Imperium, com argumento do americano Sam Timel, acaba de sair em França, e será publicado cá com lançamento na Amadora, onde terá lugar também uma bela exposição retrospectiva da obra de Jorge Miguel. Acreditamos que este seja o seu melhor trabalho de sempre em termos de desenho, uma belíssima space-opera.

Sapiens Imperium
de Sam Timel e Jorge Miguel 

E finalmente: decidimos colaborar na edição de uma das obras-primas da banda desenhada francesa, O Combate Quotidiano, de Manu Larcenet, que planeamos editar em dois volumes de 120 pgs. cada, a começar já em Setembro, com o segundo volume marcado para início de 2022. Vencedor do Prémio de Melhor Álbum, no festival de Angoulême, originalmente publicado em 4 volumes, é uma história magnífica do dia-a-dia, que vendeu mais de meio milhão de livros em França, e que esperamos seja também um sucesso no nosso país.

O Combate Quotidiano
de Manu Larcenet

E, claro, esperamos poder colaborar em mais projectos durante o ano de 2022, sendo que já estamos a fazer propostas a editoras várias para mais títulos.

Vanda Rodrigues (Arte de Autor)
José de Freitas (A Seita)

domingo, 20 de dezembro de 2020

Análise: Shanghai Dream - Edição Integral

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor


Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel
 

Se eu tivesse que falar a alguém sobre Shanghai Dream em apenas uma frase, diria algo deste género: “é uma banda desenhada franco-belga, ambientada no período da Segunda Guerra Mundial e maravilhosamente ilustrada por um português. Muito boa. Tens de ler”. 

E de facto, Shanghai Dream é tudo isso. E até mais. Mas vamos por partes. 

Shanghai Dream começa logo por ser bastante original pela forma como aborda o tema histórico em que a narrativa é ambientada. Já todos nós vimos o tema da Segunda Guerra Mundial a ser abordado milhentas vezes, quer em livros de banda desenhada, quer em filmes, quer em livros. No entanto, a questão central do êxodo de judeus para a China, em busca de refúgio e fuga às garras dos alemães, é um tema que, até agora, permanecia inédito para mim. E essa é uma das boas cartadas que este livro nos dá. Conhecemos o ambiente histórico que envolve as personagens mas acabamos por ter nesta obra uma abordagem diferente e nova à temática. E isso, claro, é sempre de louvar, pois faz a história ser refrescante sem que seja “mais do mesmo”. 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Depois falemos no mais óbvio, quando olhamos para a ficha técnica do livro. Shanghai Dream é ilustrado por um português. Trata-se de Jorge Miguel que, já há uns largos anos, até teve duas obras editadas em português Fado IlustradoCamões - De vós não conhecido nem sonhado?, uma biografia de Luís de Camões. Já quanto ao mercado estrangeiro, é um autor bastante consagrado, tendo a editora Humanoïdes Associés lançado um considerável número de obras de Jorge Miguel, que contemplam vários estilos de narrativa. E embora seja, por isso, um autor com créditos firmados no estrangeiro, e, ainda por cima, num mercado tão concorrencial como o franco-belga, a verdade em que em Portugal, é um autor praticamente desconhecido. Pelo menos, por aqueles leitores que acompanham banda desenhada mas sem estarem tanto por dentro do que se faz lá fora. E, assim sendo, tenho que dar uma palavra de apreço às editoras A Seita e Arte de Autor que, juntas, co-editam este Shanghai Dream

Analisando, então, as ilustrações de Jorge Miguel neste álbum, posso dizer que o seu trabalho é deveras impressionante. É um álbum brilhantemente ilustrado da primeira à última página. O seu estilo é aqui demarcadamente clássico no tipo de ilustração, com um traço hábil que alterna entre uma espessura mais fina e outra semi-grossa. A utilização de planos de câmara é muito bem feita, a construção das personagens e suas expressões também apresenta muita qualidade. Não há aqui muito espaço para apontar falhas ao trabalho espantoso do autor. Posso dizer que, neste livro, prefiro as vinhetas em que o traço é mais fino. Nas vinhetas em que o traço é mais grosso, ainda que também funcionem bem, as ilustrações não são tão espetaculares, quanto a mim. São “apenas” muito boas. Nas ilustrações de traço mais fino, o trabalho de Jorge Miguel é apaixonante! 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Há duas coisas onde o autor me impressionou sobejamente: a primeira é no desenho de expressões. Esta é uma história emocional e, portanto, seria fulcral que os desenhos nos tocassem perante a forma como as personagens reagem aos acontecimentos. E Jorge Miguel é exímio neste cômputo. O modo como ilustra as expressões faciais, ou mesmo em termos da caracterização da linguagem corporal das personagens, é brilhante. 

A segunda coisa onde o autor nos deixa literalmente de boca aberta é na caracterização dos cenários. Quer sejam cenários interiores, quer sejam cenários exteriores, com a utilização de paisagens incríveis, o trabalho de Jorge Miguel é de mestre. São desenhos com muitos detalhes, com muito perfeccionismo no traço e que dão gosto de observar. Refira-se um exemplo que me intrigou pela positiva: na página 31 do livro, no canto inferior direito, há uma pequena vinheta em que se vê o combóio que transporta os protagonistas da história. E é impressionante a quantidade de detalhe que o autor aplicou a uma vinheta tão pequena em dimensão. Muitas vezes reparo que certos autores são capazes de nos presentear com uma ilustração magnífica para uma vinheta grande em dimensão mas que, depois, quando se tratam de vinhetas pequenas, o seu traço é, compreensivelmente, menos cuidado e detalhado porque, à partida, o olhar dos leitores não se demorará tanto numa vinheta pequena em dimensão. Jorge Miguel parece não estar para aí virado. E isso leva a que mesmo vinhetas pequenas possam estar cheias de detalhe e mereçam uma atenção especial por parte dos leitores. Incrível! 

Quanto à história aqui tratada, acompanhamos as vivências de Bernhard e Illo, um jovem casal judeu, apaixonado um pelo outro e pelo cinema, que sonha conseguir filmar a comédia romântica que Illo escreveu. Mas, com o desenrolar dos movimentos anti-semitas, o casal vê-se forçado a fugir de Berlim, em direção à China, o local do Oriente onde mais se apostava no cinema, durante estes anos. 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Se, para nós portugueses, o nome de Jorge Miguel é motivo de atenção especial e orgulho por termos um português a dar cartas de nível na produção de banda desenhada de estilo franco-belga, devo dizer que Philippe Thirault, o argumentista, também me surpreendeu bastante, pela positiva. De facto, não é apenas a original abordagem ao tema da Segunda Guerra Mundial que funciona. A construção do argumento, o desenvolvimento das personagens, o desfile de situações com que o protagonista da história, Bernhard, se depara... tudo isso é muito bem montado e orquestrado por Thirault. Shanghai Dream é, acima de tudo, uma história de amor em temos difíceis. Um autêntico romance em banda desenhada. E, a meu ver, apresenta um tipo de história a que nem sempre é dada a devida importância na banda desenhada. Na 9ª arte há – e deve haver – espaço para o western, para a comédia, para a ficção científica, para a ação, para o terror, para o thriller, para todos os géneros... e, nesse sentido, logicamente também deve haver sempre espaço para o romance. E, felizmente, é bom verificar que, cada vez mais, se vêem bandas desenhadas que aplicam esse tipo de histórias ao género. 

Depois há ainda uma coisa interessante nesta história. É que o guião do filme de Bernhard e Illo vai-nos sendo dado aos poucos – e com um grafismo em tons de cinza, que difere da restante história – e isso é um exercício narrativo muito interessante. Até porque vamos percebendo como as consequências dos acontecimentos que envolvem as personagens principais condicionam, elas mesmas, a história do guião de cinema do filme que está a ser produzido. E isso transparece de forma fluída e muito bem conseguida. Um exercício de contar a história do guião que funciona muito bem e que representa também uma clara homenagem ao cinema. É mais um ponto a favor deste Shanghai Dream

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Relembrando que se trata de um álbum duplo, que em França foi editado em dois livros separados, Êxodo: 1938 e Em Memória de Illo, respetivamente, confesso que a primeira parte da história, isto é, o primeiro volume me pareceu mais bem conseguido em termos de argumento, pois as situações aí retratadas são emocionalmente mais intensas fazendo com que a história seja pesada, madura e impactante para o leitor. No segundo tomo, a história mantém-se interessante, pois permite-nos desvendar o que sucedeu ao Guião do filme elaborado por Bernhard e Illo, mas o ritmo dos acontecimentos abranda e passa a focar-se mais na elaboração do filme, por parte do protagonista. Não é que fique entediante, mas parece que o filme passa a ser o verdadeiro protagonista da história, em detrimento de Bernhard. Será o filme alguma vez rodado? Com que resultados? E como será superada a perda de Bernhard, se é que alguma vez será superada? Sob pena de poder arruinar a leitura desta obra incrível, fico-me por aqui, convidando o meu leitor a desvendar por si, esta história tão plena de humanidade e tão bem executada. 

Quanto à edição, que, pela primeira vez, junta duas das principais editoras de banda desenhada em Portugal, A Seita e a Arte de Autor, é uma maravilha e apresenta uma qualidade de nível superior. A conceção gráfica do livro é muito bonita e a qualidade da encadernação, numa elegante capa dura e baça, dá um toque de classe ao objeto-livro. No interior temos papel brilhante de boa gramagem e, no final do volume, temos um caderno gráfico com vários esboços de Jorge Miguel. Se estes esboços já acrescentariam algo interessante ao álbum, considero que o facto de serem esboços com comentários do autor, faz com que a experiência de leitura seja ainda melhor. Cadernos com esboços de autor como extra são bons. Mas cadernos com esboços e comentários do autor elevam ainda mais a fasquia. E já para não falar que a capa deste livro é soberba e, na minha opinião, uma das mais belas nos lançamentos de bd de 2020, em Portugal. Mas, a isso, deve-se, especialmente, a qualidade incrível das ilustrações de Jorge Miguel. 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Em conclusão, esta é uma obra majestosa e fundamental para uma boa coleção de bd. Tudo parece funcionar extremamente bem neste livro: a história, a arte, a edição. Fantástico e mais um dos lançamentos deste ano editorial. Não é só Jorge Miguel, um dos melhores ilustradores de banda desenhada de Portugal, que merece ter TODOS os seus livros publicados em português... os leitores de banda desenhada também o merecem. Como não, se a sua arte é tão especial? E este Shanghai Dream é o primeiro passo nesse sentido. Parabéns às editoras A Seita e Arte de Autor. Outro tiro na mouche! 


NOTA FINAL (1/10): 
9.5 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Ficha técnica
 
Shanghai Dream - Edição Integral 
Autores: Philippe Thirault e Jorge Miguel 
Editora: A Seita e Arte de Autor 
Páginas: 120, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Uma nova parceria editorial traz-nos Shanghai Dream, de Jorge Miguel!




Hoje trago-vos uma notícia estonteante!

As editoras portuguesas A Seita e Arte de Autor acabam de anunciar que formarão uma parceria para nos trazer a obra Shanghai Dream, da autoria do português Jorge Miguel que, lamentavelmente, é um autor praticamente desconhecido no mercado português.

A obra, que é ambientada durante a Segunda Guerra Mundial, conta com argumento de Philippe Thirault.

E ainda por cima, em vez de ser uma edição em dois volumes, como sucedeu na editora original em que a obra foi lançada, a edição portuguesa será integral, num só volume! Fantástico!

De referir ainda que a edição portuguesa será lançada com um Ex Libris exclusivo numa tiragem limitada de 99 exemplares!

Abaixo, fiquem com a nota de imprensa que ambas as editoras emitiram para os meios de comunicação social.

Assim que surjam mais novidades, como datas de lançamento ou imagens promocionais, informarei!



Shanghai Dream - Edição Integral, de Jorge Miguel e Philippe Thirault

É com orgulho que duas das mais relevantes editoras de banda desenhada do mercado português vêm apresentar o seu primeiro projecto conjunto, dedicado à obra de um autor português que misteriosamente permanecia desconhecido em Portugal, o artista Jorge Miguel.

A Arte de Autor é uma editora que se lançou em 2015, com um projecto vocacionado inicialmente para a edição de alguns grandes clássicos, quer de autores quer de personagens, da banda desenhada europeia, mas que rapidamente expandiu o seu catálogo para géneros e autores bem diversos. Projecto encabeçado por Vanda Rodrigues, conta já no seu catálogo com autores como Manara, Hugo Pratt, Bilal, Boucq, Jodorowsky ou Zidrou, e títulos e personagens icónicos como Corto Maltese, Bouncer ou as adaptações a BD de Agatha Christie, entre muitos outros, e tem vindo a tornar-se numa das editoras mais regulares e inovadoras de Portugal. Quanto à A Seita, ela é a convergência de vários projectos de banda desenhada que estavam integrados noutras editoras, ou que eram independentes. Reunindo uma série de selos, como por exemplo, a Comic Heart ou a colecção Aleph, previamente editados sob a chancela da G. Floy Portugal, e outros como a Bicho Carpinteiro, e um conjunto de parceiros fãs de BD envolvidos no mercado e na edição há já décadas em muitos casos, A Seita tem colocado a sua ênfase em títulos europeus, nomeadamente franco-belgas e italianos, e em autores portugueses, e afirmou-se em pouco tempo como uma das principais editoras nacionais.

Depois de contactos iniciais, as duas editoras decidiram unir as suas forças na edição da obra de um dos mais significativos e importantes artistas de banda desenhada nacionais que os fãs portugueses NÃO conhecem, Jorge Miguel, cuja carreira foi principalmente construída no mercado franco-belga, e em particular na mítica Les Humanoïdes Associés, e através dela, no mercado americano via a Humanoids, a actual casa-mãe da editora. E o primeiro álbum assim editado é Shanghai Dream - Edição Integral, com argumento de Philippe Thirault, uma interessante história que nos leva de volta à Segunda Guerra Mundial e à perseguição Nazi aos judeus, e a um episódio pouco conhecido, o da comunidade de refugiados judeus que se instalou em Xangai nesses anos.

Nascido na Amadora em 1963, Jorge Miguel iniciou a sua carreira artística como ilustrador, trabalhando tanto no campo editorial, ilustrando livros escolares e desenhando para publicidade, como na pintura à vista, género que lhe permitiu desenvolver a sua excelente técnica de aguarela. Na BD a sua estreia deu-se em 2008 com Camões: De vós não Conhecido nem Sonhado? uma dinâmica e muito conseguida biografia de Camões, a que se seguiu O Fado Ilustrado, um retrato da Lisboa dos finais do século XIX centrado no quadro O Fado de José Malhoa (2011), ambos publicados pela editora Plátano, que já tinha publicado diversos livros escolares ilustrados por Jorge Miguel.

Desde 2012 que trabalha exclusivamente para o mercado francês, tendo oito títulos publicados na Humanoïdes Associés. Livros que abordam temáticas tão diversas como o terror, em Z Comme Zombies, o thriller em Seul Survivant e Arène des Balkans, a ficção cientifica em Les Decastés d’Orion e o drama histórico neste Shangai Dream, onde volta a trabalhar com Philippe Thirault, o argumentista de Arène des Balkans. Uma vasta e eclética produção, de grande qualidade gráfica, a que, até agora, os leitores portugueses não tinham acesso. Uma lacuna que a associação entre A Seita e a Arte de Autor vem procurar preencher com esta edição de Shangai Dream, a primeira coedição entre as duas editoras, que se juntaram para dar aos leitores portugueses a oportunidade de descobrir a obra de um artista português bem mais conhecido em França e nos EUA do que em Portugal.