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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Ala dos Livros edita primeiro volume de Mattéo!



A Ala dos Livros prometeu e cumpriu: o primeiro tomo da série Mattéo, de Jean-Pierre Gibrat, prepara-se para ser editado!

Inicialmente editado, há uns largos anos, pela extinta editora Vitamina BD, este primeiro volume da série Mattéo - tal como o segundo volume, já agora - encontrava-se extinto das livrarias portuguesas. 

A Ala dos Livros começou por editar depois toda a restante série, do terceiro ao sexto volume, e deixou no ar o compromisso de que, eventualmente, editaria os dois primeiros volumes da série.

E, a partir do próximo dia 23 de Setembro já poderemos contar com o primeiro volume, ficando apenas a faltar, para um futuro próximo, o lançamento do segundo volume da série. Por agora, o livro já se encontra em pré-venda no site da editora.

Esta é uma série verdadeiramente impressionante, totalmente recomendada, e em que, curiosamente, o autor parece mais inspirado nos primeiros dois volumes.

É, pois, uma excelente novidade para os muitos admiradores do autor e da série e a prova comprovada da dedicação da Ala dos Livros aos leitores, autores e obras de banda desenhada.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Mattéo - Primeira Época (1914 – 1915), de Jean-Pierre Gibrat

Reconhecida pela elevada qualidade gráfica e narrativa, Mattéo é uma série em 6 volumes que nos conta o destino singular de um homem. Empurrado pela força das circunstâncias, da guerra de 1914 à Segunda Guerra Mundial, passando pela Revolução Russa, a Frente Popular e a Guerra Civil Espanhola, Mattéo participará de todas as guerras que incendiaram as primeiras décadas do século XX, atravessando tempos tumultuosos e paixões exaltadas...

Na zona de Collioure, tudo pertence aos De Brignac: as vinhas, as casas, as pessoas, o seu suor... Mattéo e o seu amigo Paulin sabem-no. Trabalham para eles. Quanto a Juliette, a namorada de Mattéo, que a família De Brignac acolheu quando tinha apenas três anos de idade, é considerada por "eles" como um membro da família.

Agosto de 1914. A I Grande Guerra eclode. Filho de um anarquista espanhol, Mattéo escapa à mobilização geral pelo facto de ser estrangeiro. Mas quando o seu amigo Paulin e os jovens da sua idade partem, eufóricos, para a frente de batalha, Mattéo sente-se confusamente envergonhado por ter sido deixado para trás, com as mulheres e os velhos. Paradoxalmente, e o que lhe é ainda mais insuportável, é o facto de nos encontros diários que mantem com Juliette, esta passar o tempo a falar-lhe das suas preocupações com Guillaume de Brignac, que está na Força Aérea. No momento em que, ferido pela indiferença de Juliette e atormentado pelo remorso por não estar na frente de batalha, Mattéo decide finalmente incorporar-se e partir para as trincheiras, o seu amigo Paulin regressa definitivamente a casa.

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Ficha técnica
Mattéo - Primeira Época (1914 – 1915)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 24,90 €

quinta-feira, 14 de março de 2024

Análise: Mattéo - Sexta Época

Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat - Ala dos Livros

Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat - Ala dos Livros
Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat

Já o disse anteriormente, mas terei que me repetir: mesmo mantendo-se boa, com uma premissa original e com um desenho de primeira qualidade, Mattéo, de Jean-Pierre Gibrat, é uma série que perdeu algum fulgor desde o segundo tomo. Curiosamente, a partir do momento em que a série passou a ser editada em Portugal pela Ala dos Livros que, não obstante, já manifestou vontade de publicar esses dois primeiros volumes completamente extintos do mercado nacional que foram originalmente lançados por cá pela Vitamina BD. Com efeito, e após Mattéo ter arrecadado o VINHETA D’OURO 2023 para Melhor Série, o editor da Ala dos Livros voltou a deixar no ar a ideia de publicar na íntegra toda a série. Incluindo os primeiros dois volumes, portanto. Não há datas concretas para tal, mas parece ser algo que está no horizonte da editora. O que é uma boa notícia, claro!

Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat - Ala dos Livros
Mas, voltando ao que dizia, a partir do terceiro volume, a série baixou abruptamente o ritmo narrativo, concentrando-se mais na vivência pessoal da personagem de Mattéo e das outras personagens que orbitam à sua volta, mantendo apenas o contexto político como pano de fundo. É certo que os vários momentos históricos que vão sucedendo ao longo da vida da personagem - e que vão desde a Primeira Guerra Mundial ao início da Segunda Guerra Mundial - estão bem presentes e condicionam a vida das personagens. Mas aquele tumulto da experiência vivida nos primeiros dois volumes – e tão gratificante para os leitores - dá lugar, a partir do terceiro tomo, a uma existência das personagens mais calma. Talvez por isso, não seja de admirar que, se nos dois primeiros livros se passam quatro anos, nos volumes Terceira e Quarta Época se passem apenas dois meses(!). Fica a ideia que Gibrat optou deliberadamente por abrandar a história, fazendo-a render e saindo do ritmo frenético dos dois primeiros volumes.

Claro que também é verdade que esta opção permitiu que a trama respirasse de forma mais contida, proporcionando ao leitor a oportunidade de mergulhar e refletir sobre certas escolhas e privações da vida do nosso protagonista. Nomeadamente, do seu passado amoroso e das consequências irrevogáveis que o mesmo teve na vida da personagem, quer Mattéo o desejasse ou não.

Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat - Ala dos Livros
Este sexto e último volume que encerra a série, coloca-nos já em plena Segunda Guerra Mundial, na altura em que, a 10 de maio de 1940, o exército alemão invade o território francês. A isto junta-se uma relação de proximidade entre Mattéo e o seu filho, Louis, com quem o protagonista não tem qualquer ligação e com o qual procura agora criar algum tipo de laço… nem que seja através da proteção e luta que enceta com vista à sobrevivência do filho. Eventualmente, a sua caminhada conjunta leva-os às praias de Dunquerque, onde os bombardeamentos são incessantes e o caos bélico é histórico.

Com este sexto volume, Gibrat fecha com chave de ouro esta série até porque, a meu ver, consegue finalizar bem os momentos mais calmos da totalidade da obra e, ao mesmo tempo, trazer-nos uma apoteose mais vibrante e mais em linha com o ritmo frenético dos dois primeiros volumes da série. E o final da história - sem o revelar, como é óbvio - é de uma verdadeira força emocional. Assim sendo, é bem possível que, excluindo os volumes 1 e 2 da série, este sexto e último volume seja o melhor!

Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat - Ala dos Livros
Quanto ao desenho, o trabalho de Gibrat continua absolutamente apelativo e magnífico. A identidade do seu traço realista, com mulheres lindas que ficam na nossa mente já depois de fecharmos o livro – embora, sejamos justos, elas sejam bastante (demasiado?) parecidas entre si – continua bem presente ao longo de toda a série. Por isso, até repesco as minhas próprias palavras aquando da análise a um dos álbuns: “a qualidade do seu desenho é verdadeiramente impressionante, com uma elegância de traço poucas vezes encontrada em livros de banda desenhada. (…) A sua arte é ímpar, sofisticada e clássica ao mesmo tempo, e apresenta um estilo muito próprio. Às vezes diz-se: “goste-se ou não”. No caso de Gibrat, parece-me que a única expressão válida, em relação à sua arte é: “goste-se ou goste-se”. É possível não gostar de tamanha obra de arte da ilustração?

É verdade que, por vezes, encontramos algumas vinhetas onde parece claro que o aprumo/cuidado do autor no desenho não se revela ao seu melhor nível, no entanto, também há outros momentos em que ficamos embasbacados com a beleza visual que o autor consegue incutir nos seus desenhos. E sejamos sinceros, mesmo quando Gibrat não está ao seu melhor nível, o seu desenho continua a ser uma proposta irrecusável. Por isso reitero que o cunho de qualidade no desenho do autor continua bem presente ao longo da grande maioria da obra.

A capa deste sexto volume também tem, como seria de prever, uma ilustração verdadeiramente linda, com belas cores. De tal modo que, quanto a mim, poderia figurar num museu de pintura. E, mais uma vez, a capa deixa bem assente que é difícil resistir à beleza das personagens femininas de Gibrat.

A edição da obra é de excelente qualidade, como seria expectável por parte da editora Ala dos Livros. O livro apresenta capa dura baça, com detalhes a verniz. No miolo, o papel é ligeiramente brilhante e a encadernação e impressão são muito boas.

Em suma, este Mattéo – Sexta Época é o ponto final digno para uma série de qualidade superior que tanto nos maravilhou com o seu protagonista intrigante e ávido na luta por ideais, com as suas belas mulheres de olhares convidativos e com a sua audaz premissa de representar um espaço temporal muito rico (ou pobre?), a nível de acontecimentos políticos, numa Europa que, durante mais de 20 anos não fez mais nada do que destruir-se a si mesma.


NOTA FINAL (1/10):
9.3



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat - Ala dos Livros

Ficha técnica
Mattéo - Sexta Época (2 de Setembro de 1939 – 3 de Junho de 1940)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Março de 2023

quinta-feira, 9 de março de 2023

Ala dos Livros completa a série Mattéo!



Eis mais uma bela notícia para os amantes portugueses de banda desenhada!

A Ala dos Livros prepara-se para lançar, no próximo dia 15 de Março, o sexto e último volume da série Mattéo, de Jean-Pierre Gibrat! Por agora, o livro já se encontra em pré-venda no site da editora.

Sou um confesso amante de Gibrat e é com muita satisfação que vejo mais uma série, de qualidade superior, a ser concluída em Portugal!

Dou os parabéns, por isso, à editora.

Relembro que os primeiros dois volumes desta série foram publicados em Portugal pela extinta editora Vitamina BD. A Ala dos Livros retomou a série a partir do terceiro volume.
Já agora, a esse propósito, aproveito para dizer que já vários leitores do blog me enviaram mensagens perguntando se a Ala dos Livros vai editar os primeiros dois volumes da série. Já tive oportunidade de questionar o editor, Ricardo M. Pereira, a esse propósito. A resposta, na altura, foi que a editora iria analisar essa opção. Portanto, pelo menos por agora, não tenho confirmação de que a Ala dos Livros publique os dois primeiros tomos mas também não tenho confirmação que não o faça. É aguardar mais algum tempo.

Sem mais demoras, deixo-vos com a nota de imprensa sobre este sexto volume e com algumas imagens promocionais.


Mattéo - Sexta Época, de Jean-Pierre Gibrat
Mattéo consegue evadir-se do forte de Collioure, mas terá de recorrer a antigas amizades para conseguir permanecer oculto e não ser novamente preso. Esta sua liberdade precária sofre, no entanto, um revés na altura em que o exército alemão ocupa o território francês. Estamos no início da II Guerra Mundial e as circunstâncias conjugam-se para que Mattéo se veja obrigado a deixar o seu esconderijo para tentar salvar a vida do filho.

Mattéo - 6ª Época, que a Ala dos Livros edita em Portugal em Março de 2023, é o último volume da série Mattéo, a aclamada e magistral obra assinada por Jean Pierre Gibrat que aborda os grandes conflitos de primeira metade do século XX através do destino singular de um homem que, da Guerra de 1914 à Segunda Guerra Mundial, passando pela Revolução Russa, a Frente Popular e a Guerra de Espanha, atravessará as primeiras décadas do século XX, uma época marcada por conflitos bélicos tumultuosos…

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Ficha técnica
Mattéo - Sexta Época (2 de Setembro de 1939 – 3 de Junho de 1940)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 22,90€




quarta-feira, 29 de junho de 2022

Análise: Mattéo - Quinta Época


Mattéo - Quinta Época, de Jean-Pierre Gibrat

Recentemente, a editora Ala dos Livros publicou o último livro – até à data – da série Mattéo, da autoria de Jean-Pierre Gibrat. Trata-se do quinto tomo, Quinta Época, que fecha o segundo ciclo da série. O primeiro ciclo é constituído pelos Tomos 1 e 2 (publicados em Portugal pela extinta Vitamina BD) e o segundo ciclo é constituído pelos tomos 3, 4 e 5 e tem sido publicado pela Ala dos Livros. Embora convenha dizer que é suposto a história ser uma só, já que conta a vida de Mattéo, que vai marcando presença em momentos e conflitos históricos relevantes como a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Soviética e a Guerra Civil Espanhola, até chegar, inevitavelmente, até à Segunda Guerra Mundial. O autor prepara-se para editar, em França, no último trimestre deste ano, o sexto volume da série.

Neste Mattéo – Quinta Época, Gibrat continua a dar-nos a história e vivências da personagem Mattéo, naquele ritmo mais pausado, que foi introduzido na série a partir do terceiro tomo. Aliás, para aqueles que apenas conhecem os dois primeiros tomos da série, com uma ação agitada e com um enredo mais dinâmico e surpreendente, há que dizer (avisar?) que, a partir do terceiro tomo, a série mudou exponencialmente. Especialmente no ritmo de narração, mais lento, mas também no próprio enredo que se foi desenvolvendo. Como tal, e sabendo já disto, posso dizer que este Mattéo #5, sendo fiel a esse ritmo mais pausado, volta a trazer alguns pontos relevantes para a história no seu todo.

Com a Guerra Civil Espanhola como pano de fundo, Mattéo e os seus companheiros estão estacionados de forma algo estática, sem que muito aconteça, na aldeia de Alcetia, em Espanha. No entanto, depois de Amélie ter sido capturada pelos nacionalistas, Mattéo está disposto a tudo fazer para conseguir libertá-la.

Entretanto, Anechka parece não ter grande empatia com Amélie e acaba por fazer algumas coisas à sua maneira, pondo a missão de resgate preparada por Mattéo em sério risco. Em simultâneo, Mattéo está instalado em casa do maior latifundiário da região, um nacionalista radical, o que leva o autor Gibrat a bem explorar esta relação entre estes dois homens que será, por ventura, um dos pontos mais altos deste quinto tomo da série. É que, sendo aparentemente antagónicos, com o gradual desenvolvimento da relação entre ambos, verificamos que talvez eles tenham mais em comum do que aquilo que gostariam de admitir. Muito interessante este paradoxo que Gibrat aqui explora.

A história torna-se, portanto, mais impactante do que no tomo anterior. Gibrat soube guardar para este quinto volume um bom conjunto de acontecimentos e revelações que, certamente, não vão deixar os leitores indiferentes. O ritmo da narrativa é lento, como já disse. Mas essa característica acaba por permitir algo ao autor: é que, quando achamos que nada de especial vai acontecer, eis que surge algo, de um momento para o outro, que nos surpreende.

Diria que tenho apenas uma certa queixa em relação a uma vertente narrativa da obra. Por vezes, Gibrat passa de um momento para o outro, sem que nada assim o fizesse prever. Não estou bem a falar de plot twists que, logicamente, se alicerçam nesse mesmo t"ruque" narrativo. Não. Estou a referir-me à introdução de certos momentos avulsos, de uma forma repentina e algo aleatória. Portanto, não me parece tanto que seja com o intuito de criar volte-faces na narrativa – esses até são colocados no sítio certo da história. Assim, das duas, uma: ou o autor quis contar alguma coisa de forma apressada para poupar páginas ou, no exato sentido oposto, quis encher a história com um acontecimento, não tão relevante assim, utilizando a chamada técnica de “filler”, por vezes utilizada em banda desenhada, especialmente quando há um número de páginas pré-definidas para o livro.

A “voz do narrador”, isto é, os comentários de Mattéo na primeira pessoa que, lamentavelmente, quase não existiu no tomo 3, mas que foi recuperada no tomo 4, volta a marcar presença nesta Quinta Época. É um pormenor que muito ajuda para contar-nos bem a história e os seus desenvolvimentos, e onde Gibrat é habilidoso em passar-nos os pensamentos, carregados de cinismo e ironia, que Mattéo vai desenvolvendo. É uma das coisas que muito aprecio nesta série.

Outra característica que estou a apreciar também é que, de livro para livro, a personagem de Mattéo parece estar a endurecer o seu carácter e a ficar  cada vez mais sorumbática e negativa, embora esta mudança seja, compreensivelmente, o resultado de tudo o que este homem já passou. Seja como for, serve para mostrar que o autor Gibrat está a saber trabalhar e evoluir o seu protagonista – mais em termos de personalidade do que em termos de desenho já que, tendo em conta que se passaram muitos anos desde o primeiro tomo até esta parte, o desenho da personagem parece ter envelhecido pouco ou nada.

Quanto às ilustrações de Gibrat, posso repetir-me, dizendo que estamos perante um autor que debita talento, charme, personalidade própria e beleza nos desenhos que nos oferece. Para quem já está familiarizado com as ilustrações do autor – não só na série Mattéo como, também, em O Voo do Corvo, Destino Adiado ou em Pinóquia – posso assegurar que este Mattéo – Quinta Época continua a fornecer-nos a mesma qualidade. Com um traço realista, com belas mulheres (embora algo semelhantes entre si), com boa e subtil capacidade de ilustrar cenários e ambientes e, ainda, com belíssimas cores a aguarela, Gibrat é um autêntico virtuoso da ilustração.

Portanto, e recuperando as minhas palavras acerca de Mattéo – Terceira Época, “considero a qualidade do desenho [de Gibrat] verdadeiramente impressionante, com uma elegância de traço poucas vezes encontrada em livros de banda desenhada.

É verdade que em planos médios de corpo, ou seja, naquelas ilustrações em que as personagens estão um pouco mais ao longe do ponto de vista do leitor, o detalhe é manifestamente inferior ao detalhe aplicado a planos de cara, quando as personagens estão mais próximas. Mesmo assim, e até pela técnica de cor aplicada pelo autor, diria que é apenas uma pequena fraqueza que se aceita e que acaba por ser natural. 

Nota ainda para a sublime capa do livro!

Quanto à edição da Ala dos Livros, está tudo bem feito e em linha com o lançamento dos álbuns anteriores: capa dura, excelente papel, boa encadernação e boa impressão. Nada de negativo a declarar.

Em jeito de conclusão, posso dizer que este Mattéo – Quinta Época, mesmo tendo um ritmo de narração que não se coíbe de ser demarcadamente lento, traz novas e imprevisíveis revelações à trama, que surpreenderão os leitores mais incautos. Por outro lado, é mais um livro para que nos possamos deleitar com as magníficas, belas e singulares ilustrações de Jean-Pierre Gibrat.


NOTA FINAL (1/10):
8.7


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica
Mattéo - Quinta Época - (Setembro de 1936 – Janeiro de 1939)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Abril de 2022






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Mais abaixo, deixo o convite para a leitura das análises aos álbuns anteriores da série:






quarta-feira, 4 de maio de 2022

Matteo é mais outra das séries integralmente publicadas em Portugal!



E aí está! Num período mais que bom da publicação de banda desenhada em Portugal, há mais uma série que fica integralmente publicada em português!

Falo de Mattéo, da autoria de Gibrat, que, com o lançamento deste quinto tomo pela Ala dos Livros, fica totalmente publicada em português!!! Recordo que os primeiros dois tomos haviam sido publicados pela extinta editora Vitamina BD. Mas desde que, em 2020, a Ala dos Livros pegou nesta série, publicando-a a partir do terceiro tomo, foi lançando um volume por ano até chegar ao seu fim.

Bem e não sei se podemos falar em "fim" porque, tecnicamente, a série ainda não está fechada pelo seu autor. No entanto, quando falo em "publicação integral em português", quero dizer que todos os álbuns que já foram lançados até esta parte, na edição original em francês, se encontram editados em português. E isso são boas notícias e algo que há uns anos não era muito comum por cá.

Além de que esta é uma série de que gosto muito e, portanto, felicito a editora pela aposta! 

Abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.

Mattéo - Quinta Época, de Jean-Pierre Gibrat

Em Alcetia, Espanha, instalado em casa do maior latifundiário da região, Mattéo parece disposto a tudo para libertar Amélie, a quem os nacionalistas haviam capturado. 

Entretanto, e à medida que a Guerra Civil Espanhola caminha, de forma dramática, para o seu fim, o inimigo ganha terreno, estando cada vez mais próximo da posição ocupada por Mattéo e pelos seus companheiros.

Conseguirá Mattéo regressar a Collioure? A que preço?

Quinto volume da série assinada por J. Pierre Gibrat, Mattéo - Quinta Época, narra-nos o destino singular de um homem que, da Guerra de 14 à Segunda Guerra Mundial, passando pela Revolução Russa, a Frente Popular e a Guerra de Espanha, atravessará as primeiras décadas do século XX, uma época marcada por conflitos tumultuosos…

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Ficha técnica
Mattéo - Quinta Época - (Setembro de 1936 – Janeiro de 1939)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 21,00€

terça-feira, 13 de julho de 2021

Análise: Mattéo – Quarta Época

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat

Quando há cerca de um ano a Ala dos Livros lançou o terceiro álbum da série Mattéo, da autoria de Jean-Pierre Gibrat, eu não poderia ter ficado mais feliz. Sou um grande admirador deste autor, adorando algumas das suas obras como Destino Adiado, O Voo do Corvo ou mesmo o, muitas vezes esquecido, Pinóquia. Portanto, tendo em conta que, de Mattéo, apenas tinham sido publicados dois números em Portugal – pela extinta editora Vitamina BD - saber que a Ala dos Livros voltava a agarrar nesta série foi uma ótima notícia para mim.

E tal como escrevi na altura do lançamento de Mattéo – Terceira Época, considero “a qualidade do desenho [de Gibrat] verdadeiramente impressionante, com uma elegância de traço poucas vezes encontrada em livros de banda desenhada. Aliás, se me pedissem para, por alguma razão do foro da ficção científica - fosse ela um ataque nuclear ou uma operação de raptos levada a cabo por aliens -, colocar num bunker aqueles que considero os melhores ilustradores de banda desenhada do mundo, fazendo com que o seu talento continuasse a viver junto de nós, é bastante provável que Gibrat figurasse nesse número ultra-exclusivo de ilustradores que eu colocaria no abrigo. A sua arte é ímpar, sofisticada e clássica ao mesmo tempo, e apresenta um estilo muito próprio. Às vezes diz-se: “goste-se ou não”. No caso de Gibrat, parece-me que a única expressão válida, em relação à sua arte é: “goste-se ou goste-se”. É possível não gostar de tamanha obra de arte da ilustração?”

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Não mudo uma linha ao que escrevi nessa altura. De facto, há um charme e um carisma nos desenhos de Gibrat que tornam a sua arte facilmente apelativa a qualquer fã de banda desenhada, diria. Há algumas vozes que dizem – com alguma razão – que as personagens de Gibrat são, todas elas, muito parecidas entre si. No entanto, e mesmo admitindo que isso é verdade e que as personagens acusam muitas semelhanças visuais entre si, especialmente as femininas, os desenhos são de uma beleza tal que não deixam de nos cativar. E, desde que o autor saiba utilizar elementos diferenciadores para que as suas personagens não se confundam entre si, alterando e prejudicando a normal fluidez da narrativa, então, esta característica do autor não merece, a meu ver, críticas negativas. Parece-me mais uma opção criativa do que uma incapacidade técnica.

Até porque, tecnicamente o trabalho de Gibrat é exímio ao nível da caracterização realista das suas personagens – e das suas expressões e linguagem corporal - ou da caracterização cénica, com veículos, edifícios e florestas a serem representados de forma magnífica. Portanto, para os leitores deste texto que já conhecem e gostam dos desenhos de Gibrat, posso dizer que não se sentirão defraudados neste livro. Continua espetacular! E, por isso, não há neste Mattéo – Quarta Época muitas coisas a assinalar que são diferentes daquilo a que o autor já nos habitou nesse cômputo, excetuando um maior predomínio de vinhetas de grandes dimensões que vão aparecendo no livro. Umas ocupam meia página e outras chegam mesmo a ocupar uma página inteira. Tendo em conta, lá está!, a qualidade da arte ilustrativa do autor, é com bom olhos que vejo esta nova aposta. De resto, e relativamente à arte, não há nada que enganar! É Gibrat, afinal de contas! Portanto esperem um traço muito realista e virtuoso que sabe cativar o leitor da primeira à última página.

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Falemos agora na história deste quarto volume. Relembro que a história desta série acompanha a Europa entre Guerras, passando pela Primeira Guerra Mundial, para a Revolução Russa, para a Revolução Espanhola e, finamente, para a Segunda Guerra Mundial. Continuando os acontecimentos que foram deixados em suspenso no anterior volume, Mattéo e os seus companheiros, Amélie e Robert, conseguem chegar a Barcelona com o intuito de apoiarem a jovem república espanhola. Mas a demanda não é fácil. Primeiro, são as armas que transportam que acabam por levantar suspeitas junto dos republicanos espanhóis e, depois, são as divergências que sucedem entre Mattéo e Robert sobre em que fileiras se deve o grupo alistar que geram frações na sua relação de amizade. Mattéo acaba por assumir o controlo de um grupo miliciano e, como não podia deixar de ser, aparece uma nova e (sempre) bela personagem feminina, Anechka, uma polaca antiga campeã olímpica, que se junta à milícia.

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Há que dizer que a história está agora num ritmo muito mais calmo do que nos primeiros dois tomos da série. Já no anterior volume, em que Mattéo e os seus amigos passam um mês de férias na terra natal do protagonista, o ritmo da narrativa tinha sido muito mais pausado e, neste Mattéo – Quarta Época, embora se sucedam alguns acontecimentos de maior ação, estamos perante uma certa calmaria narrativa. Uma coisa que felizmente Gibrat parece ter ido repescar aos dois primeiros tomos e que, lamentavelmente, foi muito pouco utilizada no tomo anterior foi a “voz narrativa” de Mattéo, que nos vai contando, com sábia e mordaz ironia, os acontecimentos que se vão sucedendo. Antes deste Mattéo 4, reli todos os álbuns publicados em português até agora e, de facto, é magnífica a qualidade do texto de Gibrat nos primeiros dois tomos da série. A partir do número 3, os diálogos entre as personagens tornam-se mais políticos mas os comentários em voz off de Mattéo, quase se extinguem por completo. Felizmente, neste Mattéo – Quarta Época, parecem mais presentes. O que é bom.

Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Mesmo assim, há que admitir que o enredo é demasiado simples e linear. Tendo em conta que o Terceiro tomo pareceu ser uma preparação para eventos marcantes vindouros, acho que estava à espera de algo mais neste quarto volume. Não é que não seja um bom livro em termos de história mas é justo dizer que o autor já nos habitou a mais. Especialmente nos dois primeiros volumes ou mesmo no anterior que, mesmo sendo mais calmo em acontecimentos, permitiu um excelente desenvolvimento das personagens.

Em termos de edição, a Ala dos Livros oferece-nos um livro que vem com boa encadernação, bons acabamentos, bom papel e capa dura. Tudo feito com a qualidade que a editora nos tem habituado. Contudo, desta vez, há apenas uma coisa a lamentar: na lombada não aparece o título da obra “Mattéo”, mas apenas o subtítulo Quarta Época (Agosto – Setembro de 1936). Já averiguei que foi um erro que aconteceu na gráfica. Não é algo que “estrague” a edição mas, pensando no cariz colecionável que as boas séries têm, é uma pena que tenha acontecido e pede-se mais cuidado nas revisões futuras.

Em conclusão, há que dizer que, mais uma vez Gibrat não desilude no enorme virtuosismo e inspiração que destila nas páginas deste Mattéo. Há, ainda assim, que admitir que, dos quatro volumes da série que foram lançados em Portugal até esta parte, este talvez seja o volume onde os momentos vividos pelas personagens são menos impactantes para o leitor. Não obstante, sendo o menos forte é, ainda assim, um livro muito bom que agradará aos fãs portugueses de Gibrat. Que venha o próximo!


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Mattéo – Quarta Época (Agosto – Setembro de de 1936), de Gibrat - Ala dos Livros

Ficha técnica
Mattéo - Quarta Época (Agosto - Setembro de 1936)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Junho de 2021

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Lançamento: Mattéo - Quarta Época




E aqui está mais uma das boas notícias editoriais que nos chegaram nos últimos dias!

O quarto livro da série Mattéo, da autoria de Jean-Pierre Gibrat, acaba de ser lançado pela editora Ala dos Livros!

Tenho um especial gosto pela beleza dos desenhos de Gibrat e, portanto, este é um livro que há muito esperava! 

Estou, naturalmente, curioso por lê-lo!

Em França. já foram publicados, até à data, 5 tomos. Pelo que, cada vez mais, os leitores portugueses estão a par com o ritmo da série no seu mercado original. 

O que é ótimo, diga-se!
Mattéo - Quarta Época, de Jean-Pierre Gibrat

Transportando as armas de que se tinham apoderado em Colliure, Mattéo e os seus companheiros chegam finalmente a Barcelona. 

Mas as armas, de fabrico italiano, acabam por levantar suspeitas entre os republicanos, causando a Amélie, Robert e Mattéo momentos de inquietação. 

Com o mal-entendido ultrapassado, parece chegado o momento de se alistarem. 

Mas em que fileiras? Na dos socialistas? Na dos Anarquistas? Na dos Comunistas?
É aqui que as divergências entre Mattéo, anarquista, e Robert, comunista, começam a comprometer a sua amizade.

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Ficha técnica
Mattéo - Quarta Época (Agosto - Setembro de 1936)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 19,90€

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Análise: Mattéo – Terceira Época (Agosto de 1936)



Mattéo – Terceira Época (Agosto de 1936), de Gibrat

Mesmo vivendo um período de constrangimento social e económico, causado pelo alastramento do coronavírus, a verdade é que as Editoras portuguesas têm estado imparáveis no lançamento de livros. Não tanto na quantidade, que efeticamente tem decrescido um pouco, mas antes, na qualidade, que se revela tão incrível com o lançamento de livros tão bons como Roughneck: Um Tipo Duro e Criminal: Livro Três, da G. Floy; Os Cavaleiros de Heliópolis: Rubedo e Citrinitas, da Arte de Autor, Dylan Dog: O Imenso Adeus ou O Homem que matou Lucky Luke, da Editora A Seita. Agora é a vez da Ala dos Livros se juntar a este conjunto de obras obrigatórias de 2020, com a publicação de Mattéo – Terceira Época (Agosto de 1936), de Gibrat.

Este é o terceiro livro da série, sendo que os dois primeiros foram publicados pela extinta Editora Vitamina BD há praticamente uma década, deixando os leitores portugueses sem a continuidade da história que, até ao momento atual, já completou 5 volumes. Sendo que se aguarda por um sexto livro. Li algumas polémicas em blogs e nas redes sociais sobre o “aparente” erro da editora portuguesa em publicar uma série a partir do volume 3 e que, “aparentemente” (sublinho, uma vez mais), poderia levar a um fracasso de vendas porque muitos potenciais leitores não irão comprar uma história que começa no volume 3, se não têm os volumes 1 e 2. Ora, não consigo vaticinar com tantas certezas se uma série terá ou não sucesso comercial. Há coisas que às vezes são feitas e que me levam, automaticamente a pensar que serão um fracasso de vendas. Mas não é o caso. Gibrat não é um desconhecido do público português. A sua obra já conseguiu consolidar um público no nosso país. Incluindo a minha pessoa. E também é verdade que os seus álbuns Pinóquia, O Voo do Corvo ou o Destino Adiado são livros lançados há bastantes anos em Portugal, sendo fáceis de encontrar em feiras dos livros ou em sites de vendas de usados. E o mesmo pode ser dito de Mattéo. Há uns anos comprei os dois primeiros tomos da série no site de vendas Olx. E não foi uma procura muito difícil. Portanto, parece-me que cai por terra o “grande” argumento das vozes críticas que sugerem que os leitores portugueses não conseguirão encontrar os dois primeiros volumes e que, por essa mesma razão, não comprarão o terceiro volume. Enquanto escrevo este artigo, fiz uma rápida pesquisa na web e encontrei cada um dos dois primeiros tomos de Mattéo com bastante facilidade em sites de usados e mesmo em livrarias. Nesse sentido, considero que não será portanto um grande problema que a Ala dos Livros tenha decidido começar a publicar a série a partir do 3º volume se, de facto, os dois primeiros volumes ainda são facilmente encontrados em português. Uma coisa é o que queremos, outra coisa é o que precisamos.

E de facto precisávamos de ter mais livros (inéditos) de Gibrat publicados em português. A qualidade do seu desenho é verdadeiramente impressionante, com uma elegância de traço poucas vezes encontrada em livros de banda desenhada. Aliás, se me pedissem para, por alguma razão do foro da ficção científica - fosse ela um ataque nuclear ou uma operação de raptos levada a cabo por aliens -, colocar num bunker aqueles que considero os melhores ilustradores de banda desenhada do mundo, fazendo com que o seu talento continuasse a viver junto de nós, é bastante provável que Gibrat figurasse nesse número ultra-exclusivo de ilustradores que eu colocaria no abrigo. A sua arte é ímpar, sofisticada e clássica ao mesmo tempo, e apresenta um estilo muito próprio. Às vezes diz-se: “goste-se ou não”. No caso de Gibrat, parece-me que a única expressão válida, em relação à sua arte é: “goste-se ou goste-se”. É possível não gostar de tamanha obra de arte da ilustração?

Quanto à história, continua a acompanhar o percurso do protagonista Mattéo que, depois dos acontecimentos vividos na frente da Primeira Guerra Mundial (no Tomo 1) e na Revolução Soviética (no Tomo 2), está de regresso a França para passar o verão de 1936, em Colliere, a terra onde viveu a sua juventude. E fá-lo acompanhado pelos seus amigos Paulin, Amélie e Augustin. Em Colliere, para além de reencontrar a sua casmurra e retorcida mãe, volta a estabelecer contacto com a sua antiga paixão Julliette. Este é um livro que permite à série - ao autor e aos leitores - respirarem, por ser menos pesado do que os anteriores. Quase como se fossem umas férias dos acontecimentos históricos que se viviam à época e que tantos milhões de pessoas condicionaram. No entanto, mesmo sendo uma período mais relaxado, as tensões vividas eram (já) muitas e a Europa preparava-se para aquele que foi, provavelmente, o seu período mais negro: o da Segunda Guerra Mundial. Portanto, mesmo sendo umas férias com banhos na praia, com piqueniques ou bailes e festas, também há uma tensão que é vivida entre as personagens, marcada pelas discussões políticas e extremamento de fações, com alguns aliados à direita e outros à esquerda.

Uma coisa que muito aprecio em Gibrat é a maturidade das suas narrativas. Acredito que um leitor jovem que goste de ler livros de super-heróis me diga que, “pouco ou nada acontece nos livros de Gibrat”. Mas, lá está, Gibrat não é para adolescentes... é para adultos. O ritmo é mais compassado, há tempo para reflexão e para contemplação. E, especialmente neste terceiro livro, o que parece ser mais explorado não são tanto os acontecimentos históricos mas as personagens em si. Como se relacionam entre si - e com elas mesmas - e com os acontecimentos à sua volta. Este livro serve pois para aprofundar personagens, bem como os acontecimentos históricos aqui presentes servem mais para contextualizar as personagens num período político da Europa e do mundo.

O desenho de Gibrat continua igual a si próprio. Magnífico na concepção. A beleza das personagens, especialmente femininas, é majestosa. As personagens têm carisma também. É verdade que, por vezes, algumas das personagens femininas se parecem um pouco entre si mas não a um ponto que nos faça perder o fio condutor da narrativa. Parece-me óbvio que Gibrat adora as mulheres que desenha – tal como todo o seu público também as adora – e que é mais essa a razão pela qual as personagens têm traços comuns entre si do que por incapacidades ilustrativas do autor.

A própria capa deste livro é de uma beleza ímpar ao nível da ilustração, das cores e da caracterização das personagens. Diria até, que sintetiza de forma perfeita a própria história do livro. Candidata a melhor capa do ano, a meu ver.

Há, no entanto, duas coisas que arrisco dizer que poderiam ser melhores na generalidade dos livros de Gibrat e neste Mattéo 3, em particular.
E a primeira delas é a legendagem. Se, na análise a Assembleia das Mulheres, referi que a legendagem, mesmo sendo muito dinâmica e moderna, funcionava muito bem; nos livros de Gibrat a legendagem, nem sequer é muito dinâmica ou moderna (pois normalmente são utilizados balões retangulares clássicos) mas torna-se, não raras vezes, confusa de acompanhar. E deixa o leitor a ter que reler cada vinheta, o que o faz despertar da sua imersão na história. Numa obra tão rica em texto e em ilustração, isto pode parecer uma coisa pequena. E de facto, admito que não altera a qualidade da obra no seu todo. Simplesmente, faz com que não seja perfeita. O que é uma pena. Gibrat bem anda lá perto.

Outra coisa que também me merece reparo é que o passar do tempo no desenrolar da história (e relembro que entre o Tomo 2 e este Tomo 3 se passam 18 anos) parece não ter envelhecido em nada as personagens. Mattéo, o protagonista, aparenta estar um pouco mais envelhecido mas Juliette está praticamente igual. No entanto, o que mais me custou a aceitar é a caracterização física de Louis, o filho de Juliette que tem 18 anos e parece ser (muito!) mais velho do que a sua mãe! Incomprenssível como isto escapou ao mestre Gibrat e a todos aqueles que, suspeito, podiam ter-lhe dito isto aquando a feitura da obra. Não pode ser só a mim que isto me faz confusão.

Tirando estas pequenas imperfeições, Mattéo – Terceira Época (Agosto de 1936) é quase perfeito e uma aposta ganha e totalmente recomendável.

Por isso, é com muita alegria e de braços abertos que eu - e todos os admiradores da banda desenhada franco-belga, estou certo - recebo este novo volume de Mattéo, obra maior de Gibrat, um dos autores mais impresssionantes de banda desenhada que, imperdoavelmente, tinha deixado de ser editado em Portugal, há cerca de uma década. Agora que a Ala dos Livros, inteligentemente, pegou nesta série, imperdoável mesmo, é não adquirir este livro de qualidade superior.


NOTA FINAL (1/10):
9.2

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020 

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Ficha técnica
Mattéo - Terceira Época (Agosto de 1936)
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Lançamento: Mattéo - Terceira Época



A Editora portuguesa Ala dos Livros acaba de lançar Mattéo - Terceira Época. Isto é uma excelente notícia para todos aqueles que tinham ficado com a coleção - originalmente lançada pela extinta Editora Vitamina BD - a meio. Para os que (ainda) não conhecem este trabalho de Gibrat, é uma oportunidade de ouro para o conhecerem!

Fiquem com a nota de imprensa da editora e imagens promocionais abaixo.


Mattéo - Terceira Época, de Gibrat

Agosto de 1936. França. É a época da Frente Popular, a felicidade das primeiras férias pagas. 15 dias sem fazer nada, como resmungavam os patrões! Mas desse por onde desse, eram 15 dias de lazer. E Mattéo, Paulin, Amélie e Augustin partem de carro a caminho das primeiras férias oficiais, em direcção ao mar, a Sul. Para grande desgosto da sua mãe, uma rezingona de primeira, há muito tempo que Mattéo não punha os pés em Collioure. Não sabe o que aconteceu a Juliette, nem sequer que tem um filho, Louis…

À alegria dos banhos no mar, soma-se a dos piqueniques, dos postais, dos bailes populares… Tudo parece possível, até o melhor! No entanto, do outro lado dos Pirenéus, numa Espanha muito próxima, o barulho e o furor da Guerra Civil fazem-se ouvir cada vez mais alto. Os legalistas enfrentam, desde 17 de Julho, a insurreição levada a cabo pelo General Franco. E se Paulin, a quem Mattéo lê diariamente o «L’Humanité», fica furioso quando o gabinete de Léon Blum decreta o embargo às armas que se destinam aos Republicanos – trata-se de um pacto de não intervenção que é assinado pelas grandes potências europeias – Mattéo parece totalmente indiferente a tudo isso, preferindo ler as páginas da Volta à França, que está a acabar. O tempo que passou na Rússia e no degredo destruíram a sua vertente militante e socialmente comprometida.

Mas deixará este filho de anarquista espanhol de ficar insensível aos gritos da pátria do seu pai?

E é aqui que termina a Terceira Época de Mattéo, uma série brilhantemente desenhada por J.P. GIBRAT, cuja edição a Ala dos Livros prossegue em Portugal.

Ficha técnica
Mattéo - Terceira Época
Autor: Jean-Pierre Gibrat
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 21,00€