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terça-feira, 29 de julho de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Ala dos Livros nos últimos 5 anos!


A propósito da comemoração dos 5 anos de existência do Vinheta 2020, trago-vos um especial que começa a partir de hoje e que procura celebrar e assinalar a melhor banda desenhada que cada uma das principais editoras portuguesas editou nos últimos 5 anos. Durante as próximas semanas tentarei, pois, oferecer-vos um artigo por editora.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a crème de la crème de cada editora.

Em cinco anos de edição ininterrupta de banda desenhada, há naturalmente muitos títulos editados e, como devem calcular, a tarefa não foi fácil e vi-me forçado a excluir obras fantásticas, mas, lá está, há que fazer escolhas e estas são as minhas escolhas.

Hoje começo com uma editora cujo contributo para o lançamento de boa banda desenhada em Portugal é verdadeiramente inegável: a Ala dos Livros.

Esta editora tem um catálogo que considero de extrema qualidade. São (muito!) mais as obras que adoro da editora, do que aquelas de que não gosto. Não foi fácil, mas aqui está o meu TOP

Eis, mais abaixo, as minhas obras favoritas lançadas pela editora Ala dos Livros:

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Análise: Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Hoje trago-vos uma dose dupla de Blacksad, motivada pelo lançamento recente, por parte da editora Ala dos Livros, do terceiro álbum da série, intitulado Alma Vermelha. Como já antes disso, ainda em 2023, a editora tinha reeditado o segundo álbum da série, Arctic Nation, aproveito para vos falar dos dois tomos de uma só vez.

Como não me canso de dizer, Blacksad é muito provavelmente a minha série favorita de banda desenhada. A par de Armazém Central, uma outra série que adoro. Este tipo de afirmações é sempre muito perigosas, eu sei, mas, de facto, os anos vão passando, o número de séries por mim lidas vai aumentando e, mesmo assim, uma coisa é clara para mim: Blacksad é uma obra prima da banda desenhada mundial!

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Extraída da mente e engenho dos autores espanhóis Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido, este noir com um carismático protagonista, uma divertida personagem sidekick, mulheres sensuais e tantas outras personagens marcantes, oferece-nos histórias que, mais do que entretenimento puro, nos marcam já depois de finda a leitura. Não é que sejam histórias que reinventam a roda - nem sequer o tentam fazer, diga-se -, mas são histórias bem arquitetadas, bem esculpidas e muito bem escritas. E isto, claro, junta-se ao brilhante, quiçá perfeito, trabalho de ilustração de Juanjo Guarnido, que nos oferece um mundo realista onde as personagens nos são apresentadas de forma antropomorfizada, ou seja, tendo faces de animais, embora mantendo corpos humanos. E tudo isto é colorido com um meticuloso e inspirado trabalho de aguarela. Enfim, se não é uma série perfeita, não sei que outra o poderá ser.

E se Arctic Nation sempre me deixou maravilhado perante tão marcante história, devo dizer que a releitura deste Alma Vermelha - que à data do seu lançamento, em 2005, até não me tinha deixado tão empolgado - é uma daquelas histórias que envelheceu muito bem. Mesmo sem ter, por ventura, a força de Arctic Nation, Alma Vermelha é uma bela história, carregada de referências e uma trama bem construída. Mas, enfim, goste-se mais de um ou doutro tomo, a verdade é que cada um destes volumes nos traz uma história sólida e profunda, combinada com um trabalho gráfico de excelência, que ajudam a fazer desta série uma das mais notáveis bandas desenhadas de sempre.

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Arctic Nation
 remete-nos para a luta pela igualdade racial vivida na América entre os anos 50 e 60, onde os brancos dominavam todos os quadrantes da sociedade. Arctic Nation mergulha em temas complexos como o racismo e a segregação, utilizando a fábula animal para refletir questões humanas muito reais. A história gira em torno do conflito entre diferentes grupos sociais, representados por animais de espécies distintas, e a investigação de Blacksad acaba por revelar camadas de tensão social, preconceito e violência.

O argumento de Díaz Canales é inteligente e bem estruturado, evitando simplificações ou moralismos fáceis, e conseguindo analogias fáceis, mas bem conseguidas. A trama envolve mistério, ação e drama social, tudo com uma construção cuidadosa das personagens e dos seus conflitos internos. Este equilíbrio torna a história envolvente e relevante, conferindo-lhe uma dimensão que ultrapassa o mero entretenimento. Uma das grandes qualidades da série é a forma como os animais escolhidos para cada personagem refletem as suas características psicológicas e sociais. Em Arctic Nation, essa escolha torna-se ainda mais significativa, já que a espécie das personagens brancas - com a utilização de animais do próprio Ártico - está diretamente ligada às tensões raciais e ao preconceito que marcam a narrativa, conferindo uma profundidade simbólica que enriquece a leitura. Nos dias que vivemos atualmente, onde posições políticas extremadas sobre aqueles que são diferentes parecem ganhar novo ímpeto, Arctic Nation volta a manter-se relevante e inspirador.

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Por sua vez, Alma Vermelha, o terceiro volume da série, apresenta uma história mais centrada em temas de violência e corrupção, ainda que nunca perca o toque noir que caracteriza a série. 

Neste caso, vemos John Blacksad a trabalhar como guarda-costas de um abastado jogador em Las Vegas. Mas os tempos pós Segunda Guerra Mundial são outros e as maiores potências mundiais começam a apostar na corrida ao armamento nuclear, com o comunismo a tornar-se uma ameaça cada vez mais evidente para os Estados Unidos. Durante uma conferência sobre energia nuclear, John Blacksad encontra-se inesperadamente com um velho amigo, Otto Lieber, que, entretanto, se tornou um cientista de alto gabarito. A partir daqui, Blacksad vê-se envolvido numa intriga política internacional numa trama que explora a complexidade das personagens e do mundo onde vivem, mantendo o suspense e sendo, curiosamente, um bom complemento àqueles que já tiverem lido o mais recente díptico da série, também editado pela Ala dos Livros, Então, Tudo Cai.

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Em ambos os volumes, o desenho de Guarnido é simplesmente soberbo. A expressividade das personagens, desde os olhares até aos pequenos gestos, é impressionante e dá vida a cada cena de um modo único. A qualidade do traço, os detalhes dos cenários e a direção de arte demonstram uma maturidade gráfica rara, que evidencia a influência da animação e a experiência do autor, ex-colaborador dos estúdios Disney. 

Outro destaque vai para a paleta de cores e para a técnica de aguarela que Guarnido utiliza, criando ambientes imersivos e atmosferas que variam do sombrio ao tenso, passando por momentos de calma e reflexão. As cores não só complementam o traço, como também ajudam a transmitir as emoções e o clima de cada cena, funcionando quase como uma personagem adicional na narrativa. Também em termos visuais, Blacksad é uma autêntica obra-prima!

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Em termos de edição, esta também é uma das melhores edições de banda desenhada que temos no mercado nacional. Além da utilização de materiais nobres na feitura física do livro, como a lombada em tecido (que com os livros agrupados forma o logótipo da coleção); a capa dura baça com detalhes a verniz; e o excelente papel e encadernação utilizados; esta coleção conta ainda com A História de Aguarelas, onde, em cada um dos livros, Guarnido mergulha profundamente na forma como essa obra foi feita, oferecendo-nos esboços e estudos de cor, que são acompanhados pelos seus comentários, o que faz deste extra - que na verdade até foi originalmente lançado como livro independente, tal não é a sua relevância - um autêntico "making of" da série. 

Em suma, Blacksad mantém-se como uma das melhores séries de banda desenhada de sempre. Em termos pessoais, não tenho problemas em afirmar que é a uma das minhas séries favoritas de banda desenhada. Díaz Canales e Guarnido assinam um trabalho verdadeiramente sublime com Blacksad, e estes dois volumes também são disso exemplo. O argumento inteligente, a boa construção da trama e a escolha acertada dos animais para as personagens, aliadas a um desenho de topo, ultra expressivo, que remete ao melhor da animação Disney, e um trabalho de cores em aguarelas que são verdadeiras obras de arte, fazem desta série uma leitura obrigatória para qualquer amante de banda desenhada. É difícil apontar falhas num trabalho tão bem nivelado e envolvente - uma obra que merece todo o reconhecimento e admiração!


NOTA FINAL (1/10):
Blacksad #2 - Arctic-Nation - 10.0
Blacksad #3 - Alma Vermelha - 9.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Fichas técnicas
Blacksad #2 - Arctic-Nation
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura com lombada em tecido
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Setembro de 2023

Blacksad #2 e #3 - Arctic Nation e Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Blacksad #3 - Alma Vermelha
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Abril de 2025

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Ala dos Livros lança 3º volume de Blacksad!


Já está disponível o mais recente volume da série Blacksad, intitulado Alma Vermelha, da dupla espanhola formada por Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido.

Este lançamento faz parte da reedição definitiva da série, numa luxuosa coleção, cujas lombadas em tecido formam o logótipo da franquia, que a editora Ala dos Livros tem vindo a reeditar. Para além da nobreza dos materiais, cada livro da série vem provido de um caderno de extras que inclui A História das Aguarelas, onde temos esboços e estudos de cor acompanhados pelos comentários de Juanjo Guarnido. Um autêntico luxo!

E, claro, além da espetacularidade da edição, tenho a dizer-vos que este - e qualquer outro volume de Blacksad - são absolutamente obrigatórios!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Blacksad # 3 - Alma Vermelha, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Com as finanças em baixo e com a moral nas lonas, Blacksad encontra-se em Las Vegas onde trabalha como guarda-costas de um jogador abastado. 

Mas os tempos estão a mudar: as maiores potências mundiais apostam na corrida ao armamento nuclear e o comunismo torna-se uma ameaça cada vez mais evidente para os Estados Unidos. 

Durante uma conferência sobre energia nuclear, Blacksad encontra-se inesperadamente com um velho amigo, Otto Lieber, que, entretanto, se tornara um cientista de alto gabarito.

Otto parece ter uma vida emocionante, apesar da excentricidade de seu "benfeitor", Gotfield. 
Após esse encontro, durante o qual conhece a bela e perturbadora Alma Mayer, Blacksad vê-se envolvido numa intriga política internacional e a sua vida sofrerá uma reviravolta.

Blacksad é uma série de culto, cujo protagonista principal é um gato que se movimenta num universo antropomórfico e cuja acção decorre nos Estados Unidos, nos anos de 1950, num ambiente que evoca o romance negro e a literatura americana. 

Com os desenhos fulgurantes - e cores sublimes - assinados por Juanjo Guarnido, a força de Blacksad reside também na qualidade das suas histórias, que contam com o argumento de Juan Diaz Canales.

Inicialmente publicado em 2005, Alma Vermelha é o terceiro volume desta série de culto, publicada em Portugal pela Ala dos Livros.

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Ficha técnica
Blacksad #3 - Alma Vermelha
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 29,90€

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Análise: Blacksad 7 - Então, Tudo Cai (Segunda Parte)

Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros


Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Blacksad 7 - Então, Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Passaram-se dois anos entre o lançamento da primeira parte deste díptico e a sua conclusão, que chegou às livrarias pelas mãos da Ala dos Livros apenas há umas semanas. Esta é a primeira vez em que a série Blacksad conta com uma história maior em dimensão, que precisa de ser dividida em dois volumes. Como tal, a expectativa de todos os fãs da franquia era muita. E sendo verdade que o primeiro tomo, que já aqui analisei, assegurou a boa qualidade da narrativa e argumento, havia algumas pontas soltas que faltava fechar com aprumo neste segundo volume. E, felizmente, isso acontece e esta segunda parte de Então, Tudo Cai é, sem sombra de dúvidas, um dos livros do ano!

Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Sobre Guarnido e sobre o seu trabalho nas ilustrações, não sei o que mais possa dizer. De todas as séries de banda desenhada que já li – e, sim, já li muitas – não há nenhuma que, na minha opinião, supere Blacksad em termos de beleza ilustrativa. Bem sei que esta é uma questão meramente subjetiva e, por isso, vale o que vale. Mas é com sinceridade que afirmo que toda este ambiente de “Disney para adultos”, com um toque demarcadamente noir, me conquistou desde o primeiro momento em que pousei os meus olhos na primeiríssima vinheta da série. E isso foi há mais de 20 anos! De lá para cá, foi com gosto e prazer que fui vendo que Juanjo Guarnido foi moldando e aperfeiçoando ainda mais aquilo que aos meus olhos já era perfeito.

O resultado desta segunda parte de Então, Tudo Cai é um livro miraculosa e magistralmente ilustrado. Cada pequena ou grande vinheta, cada personagem, cada expressão, cada cenário… tudo é feito com classe por parte de Guarnido. Com profundidade visual, com inúmeros detalhes deliciosos e conseguindo extrair da fisionomia de um animal, um conjunto de emoções verdadeiramente humanas - e humanizantes.

E mais! Ainda nem falei das cores! Com uma lindíssima paleta de cores que encaixa que nem uma luva no tom da história, a obra atinge patamares estratosféricos em termos visuais! E quanto ao uso das aguarelas, vou pôr as coisas desta forma: não me lembro de nenhum autor de banda desenhada que supere a técnica de Guarnido em termos de utilização de aguarela. Visualmente, quer este último livro, quer toda a série, é um verdadeiro festim para os olhos.

Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Tudo é feito, portanto, com um virtuosismo técnico e, ao mesmo tempo, inspiração emocional, que faz com que Blacksad seja uma obra perfeita em termos ilustrativos. Portanto, partindo desse ponto, tudo aquilo que pode ou não funcionar são os argumentos para os vários tomos. Ou seja, o trabalho de Guarnido é uma tal garantia de qualidade, que a “pressão” ao nível da maior ou menor qualidade da obra recai forçosamente nos ombros de Juan Díaz Canales.

Mas, mais uma vez, Canales está à altura da tarefa e assina aqui mais uma bela história. Talvez não seja a minha favorita e talvez houvesse forma de capitalizar um bocadinho melhor alguns elementos e/ou personagens da história, mas, ainda assim, esta é uma história muitíssimo competente, bem amarrada a si mesma, que nos prende à trama e aos eventos que impactam as várias personagens deste Então, Tudo Cai.

A história que já havia sido avançada no primeiro volume deste díptico, coloca Blacksad e o seu fiel amigo Weekly perante uma cidade de Nova Iorque em mutação, onde os interesses económicos de certos grupos parecem querer suplantar-se aos interesses mais gerais e mundanos da população. Solomon, uma autêntica ave de rapina, é um empresário construtor, bastante focado e vocacionado para as grandes obras públicas e a fama e adoração que as mesmas parecem granjear àqueles que as encabeçam. E é por isso que Solomon quer, a todo o custo, construir uma enorme ponte mesmo que, para tal, tenha que pisar os líderes do sindicato dos trabalhadores do metro. Quando se quer construir uma ponte para os carros, talvez não seja tão bom assim que se invista muito no metro, certo?

Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
E é quando Blacksad começa a investigar o passado de Solomon, que se apercebe de como o implacável construtor teve que silenciar muita gente, deixando um rasto de sangue à sua passagem. Entretanto, Iris Allen, a diretora do teatro que vai alimentando essa necessidade de cultura da classe trabalhadora da cidade - e que tinha chamado para a auxiliar uma velha e marcante conhecida de John Blacksad - é assassinada. Por sua vez, Weekly, cai numa armadilha e acaba a ser acusado deste mesmo assassinato. Blacksad terá, pois, que fazer os possíveis e os impossíveis não só para comprovar a inocência do seu amigo, como para desvendar este caso de corrupção.

Canales continua a apresentar uma bela escrita onde cada comentário que o protagonista nos dá, em voz off, fica na memória e faz-nos refletir. Os diálogos e as novas personagens também se apresentam bem trabalhados embora, como já disse, algumas personagens pudessem ter sido exploradas com mais ênfase, parece-me. Ainda assim, as grandes questões que ficaram sem resposta no primeiro volume, são aqui muito bem trabalhadas por Canales, unindo bem os pontos da trama. Há espaço para belas reviravoltas e posso desde já assegurar-vos que o final da história é de uma audácia autoral verdadeiramente fantástica. Tudo acaba por ser muitíssimo bem feito nesta história que envolve as ramificações do poder político, a corrupção, a máfia a construção civil e os diversos lobbies. Canales tem o mérito de conseguir dar-nos uma história densa – por sinal, a mais densa da série – mas sem que a mesma se torne enfadonha.

Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Um detalhe delicioso é o facto de a junção das capas dos dois volumes, quando colocadas lado a lado, formarem uma só ilustração. Como se, com efeito, cada um dos livros precisasse do outro para almejar voos e relevância maiores. E assim é.

A história prova bem que nada é para sempre. Tudo acaba por cair. É uma questão de tempo. Até as artes, como o teatro, ou a modernização, como a arquitetura, estão condenadas a cair. A serem substituídas. Por falar nisso, o que (também) é incrível em Blacksad é que esta seja, afinal de contas, uma série que tem como personagens todo o tipo de animais, mas que, ainda assim, seja munida por um humanismo que é raro encontrar em banda desenhada.

Quanto à edição da Ala dos Livros, o livro apresenta a expetável capa dura brilhante, bom papel, boa encadernação e boa impressão. Sendo uma edição a que não se pode apontar nenhuma falha, não está, porém, ao mesmo nível qualitativo da reedição dos primeiros álbuns da série que a editora tem vindo a fazer. Mas também não se esperava que isso acontecesse, diga-se. Esta é, afinal de contas, uma edição “normal”, enquanto que essa é uma edição verdadeiramente “especial”. Nota ainda, positiva, para o facto de o lançamento português ter sido feito em simultâneo com o lançamento original da obra.

Em suma, a espera valeu a pena! Este segundo volume de Então, Tudo Cai volta a trazer-nos uma história de alto nível, sob qualquer prisma de análise, onde tudo parece confluir de forma perfeita. É dessa forma que, normalmente, os clássicos são feitos. E Blacksad é um clássico. Não é por este livro ter algumas semanas de vida apenas, que não será bom, importante e obrigatório daqui a 50 ou 100 anos. Não percam mais tempo e vão comprá-lo!


NOTA FINAL (1/10):
10.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Blacksad 7 - Então Tudo Cai (Segunda Parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Ficha técnica
Blacksad 7 - Então tudo cai (Segunda parte)
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 54, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Outubro de 2023

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ala dos Livros reedita Blacksad 2!


E como se já não fosse motivo de tamanha alegria o anúncio de que a Ala dos Livros vai editar, nas próximas semanas, o novo volume de Blacksad, a editora também já fez saber que lançará na mesma altura o segundo volume da série!

Chama-se Arctic-Nation e é o segundo volume desta série, que começou com o primeiro volume Algures Entre As Sombras - do qual, já aqui falei.

De notar é que, para além da história propriamente dita, esta reedição da série inclui a História das Aguarelas, em que temos o ilustrador da obra, Juanjo Guarnido, a explicar-nos na primeira pessoa as ideias que teve para o livro e como as foi desenvolvido.

Posso garantir-vos que é uma edição fantástica e que, ainda por cima, tem lombada em tecido, que formará um desenho quando a coleção estiver integralmente publicada.
Acrescento ainda que, embora eu adore tudo o que esteja relacionado com Blacksad, este Arctic-Nation até é capaz de ser o meu volume favorito de toda a série.

Mais que recomendado, este livro é obrigatório! Tal como toda a série, na verdade.

Mais abaixo, deixo-vos a sinopse da obra.

Blacksad #2 - Arctic-Nation, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Blacksad é uma série de culto, cujo protagonista principal é um gato que se movimenta num universo antropomórfico e cuja acção decorre nos Estados Unidos, nos anos de 1950, num ambiente que evoca o romance negro e a literatura americana.
Com os desenhos fulgurantes - e cores sublimes - assinados por Juanjo Guarnido, a força de Blacksad reside também na qualidade das suas histórias, que contam com o argumento de Juan Diaz Canales.

Em Arctic Nation, o segundo volume desta série, a crueldade do mundo animal põe a nu os instintos humanos mais selvagens.

O presidente da câmara da cidade, é um tigre branco. 

Karup, o chefe da polícia, um urso branco. 

Huk, uma raposa branca…

Juntos, formam a WASP (W de White, AS de Anglo-Saxão, P de Protestante). Todos os outros habitantes de pele negra, castanha ou mesclada, não passam de “ralé”.

E se a polícia não é capaz de manter a ordem, a ala dura do Arctic-Nation, o partido racista, veste-se de trajes brancos e trata do assunto à sua maneira. 

É neste cenário que Blacksad, o gato detetive privado, investiga o desaparecimento de uma criança de cor…

Inicialmente publicado em 2003, Artic Nation, o segundo volume da série, conhece, 20 anos depois, uma nova edição pela Ala dos Livros. 

Esta edição de 80 páginas, em capa dura e com lombada em tecido, inclui num único volume duas obras: o álbum de BD e o “Livro das Aguarelas”, um livro até agora inédito em Portugal.



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Ficha técnica
Blacksad #2 - Arctic-Nation
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura com lombada em tecido
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 27,50€

Ala dos Livros prepara-se para lançar o novo livro de Blacksad!



Isto é música para os meus ouvidos!!!

Não é nada que não fosse expetável, tendo em conta que é a Ala dos Livros que tem os direitos da série para Portugal, mas, mesmo assim, é uma notícia que me deixa sempre eufórico.

Estou farto de dizer que Blacksad figura entre as minhas três séries preferidas de banda desenhada de sempre, portanto a sensação de saber que estamos perto de receber mais um tomo da série, é sempre bom.

Ainda para mais, quando se trata da segunda parte da história lançada há cerca de dois anos, intitulada Então, Tudo Cai. O primeiro álbum deste díptico encheu-me as medida (como toda a série, aliás) e, por isso, tenho esperança que a dupla Canales/Guarnido continue a oferecer-nos (mais) um livro espetacular.

A editora portuguesa ainda não avançou uma data de lançamento mas, tendo em conta que o álbum será originalmente lançado em França no dia 3 de Novembro, diria que é expetável que a versão portuguesa nos chegue nessa mesma primeira semana de Novembro! Mais coisa, menos coisa.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Blacksad 7 - Então tudo cai (Segunda parte), de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Ao efectuar algumas investigações sobre Solomon, o grande construtor em Nova Iorque que está na origem da imensa ponte que se encontra em construção, Blacksad descobre que o império do falcão se encontra edificado sobre um amontoado de cadáveres, e que Iris Allen, a directora do teatro, não é a sua primeira vítima.

Caindo numa armadilha montada por Solomon, Weekly é acusado de assassínio. Inicia-se então para Blacksad uma verdadeira corrida contra o tempo. E enquanto Blacksad tenta reunir provas que inocentem o seu amigo e permitam derrubar o arquitecto, reencontra Alma, o seu amor do passado, cujo papel neste caso será determinante.

Segundo e último tomo do díptico realizado pelos mestres Juanjo Guarnido e Juan Diaz Canales, “Então, Tudo Cai – Tomo 2”, é editado em Portugal pela Ala dos Livros, em simultâneo com a edição francesa.

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Ficha técnica
Blacksad 7 - Então tudo cai (Segunda parte)
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 54, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 17,50€

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Análise: Blacksad #1 - Algures entre as Sombras

Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Para mim, enquanto leitor de banda desenhada, existe a vida antes de Blacksad e existe a vida depois de Blacksad. Nesse sentido, falar neste primeiro Blacksad, que a Ala dos Livros reeditou recentemente, numa edição de luxo verdadeiramente estrondosa, obriga-me a falar, por ventura, mais de mim próprio do que da obra em si. E, por isso, peço desde já as minhas desculpas. Porque, de facto, o Vinheta 2020 é – e procura ser – sobre a banda desenhada que o leitor que há em mim lê e, não tanto, sobre a minha pessoa. Mas, neste caso, talvez isso seja difícil de fazer.

E tudo isto porque, no ano 2000, quando o primeiro volume de Blacksad, Algures entre as Sombras, foi originalmente lançado pela dupla criativa espanhola formada por Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido, eu estava um pouco “de costas voltadas” para a banda desenhada no geral. Na altura, tinha 16 anos e, depois de uma infância muito assente na leitura da banda desenhada franco-belga e alguma coisa de comics americanos, eu estava bem mais ocupado com outras paixões que não a banda desenhada: a música, as bandas, a bateria, a guitarra, o piano, os filmes, o desporto, o ténis, o futebol, as paixões da juventude e tudo e mais alguma coisa… exceto a banda desenhada. Não foi um afastamento pensado ou porque, subitamente, eu tinha deixado de gostar de banda desenhada. Ao invés, foi algo que simplesmente foi acontecendo. O tempo, ou a ausência do mesmo, obriga-nos, por vezes, a escolhas e a minha escolha, nessa altura, não era a banda desenhada.

Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Mas, com Blacksad, tudo mudou. Assim que pus a vista neste primeiro volume da série, não só fiquei atordoado perante a sua qualidade, como o meu gosto antigo pela banda desenhada reemergiu e eu não mais deixei de ter um livro de banda desenhada na mesa de cabeceira. Até ao dia de hoje. Portanto, obrigado Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido por terem repescado para a banda desenhada esta “ovelha tresmalhada” que era eu, no ano 2000.

Mas porquê esta revolução em mim? Bem, porque me lembro de como Blacksad parecia diferente e melhor de tudo o que eu já tinha lido até então. Este maravilhoso mundo antropomórfico, em que cada personagem tem um corpo humano mas o rosto de um animal, convenceu-me desde o primeiro momento. A história, dura e adulta, embora igualmente simples e de fácil leitura, deixou-me agarrado à série e a salivar por mais livros. A personagem de John Blacksad, o detetive privado amargo, charmoso e inteligente, que embora não fosse – nem seja - a coisa mais original do mundo, pois todos nós já havíamos visto várias personagens com algumas semelhanças a esta em alguns clássicos do estilo noir, representou, ainda assim, e desde logo, um carisma muito próprio, que automaticamente tornou a personagem emblemática. Tudo parecia funcionar muito bem!

E ainda nem mencionei a qualidade majestosa das ilustrações de Guarnido, com um traço virtuoso, com tiques dos desenhos da Disney – ou não tivesse o autor trabalhado como animador nos Estúdios Disney – e com uma aplicação de cores em aguarela a roçar a perfeição, que me deixaram rendido – e passados mais de 20 anos ainda estou rendido, diga-se.

“Mas que maravilha vem a ser esta?!”, lembro-me de exclamar, por alturas do lançamento de Algures entre as Sombras.

Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Os desenhos são de deixar qualquer um de boca aberta. Pela sua expressividade, pela sua originalidade, pelas suas cores, pela sua cinematografia, pela sua inspiração. O estilo é bastante “Disney-like”, com os animais a serem desenhados de forma realista, mas com expressões “cartoonizadas” como poderíamos encontrar num filme de animação da Disney. Em jeito de desabafo, até vos digo: tanto que eu gostaria que os estúdios Disney pegassem nesta série e a animassem como só eles sabem fazer, em vez de nos darem tantos remakes, em imagem real, dos seus clássicos de animação, como tem sido a tendência dos últimos anos.

Bem, mas isso já sou eu a divagar. Voltando a este Algures entre as Sombras, e falando um pouco sobre a história, acho que este volume até nos traz a história mais linear e simples de toda a série. É quase como se funcionasse enquanto carta de apresentação para a personagem e para a série.

Tudo começa quando John Blacksad é chamado pelo Comissário Smirnov para reconhecer um cadáver. Trata-se de Natalia Wilford, uma célebre atriz com quem Blacksad tinha vivido uma tórrida paixão no passado e os momentos mais felizes da sua vida. De forma expetável, Smirnov pede a Blacksad para não meter o nariz onde não deve e afastar-se da resolução do caso. Mas, claro, o nosso protagonista não o irá fazer e vai até ao fim do mundo para fazer justiça em nome do seu antigo amor. Nada de muito original, nada de muito diferente, mas, é justo dizer, a história está muito bem ligada e vai sabendo dar ao leitor alguns momentos inesquecíveis: quer quando voltamos ao passado de John Blacksad através de flashbacks, quer na resolução e investigação deste caso. Tudo muito bem feito.

Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
O texto de Canales é, também, muito, muito bom. Se muitas vezes parece que a adoração de Blacksad surge pelas ilustrações imaculadas de Guarnido, acho que também é justo considerar que não só o enredo, mas também o próprio texto, fazem maravilhas pela série. E não digo isto por serem enredos demasiado densos ou tão surpreendentes assim, mas porque são bem pensados. O texto em voz off, com que o protagonista John Blacksad nos vai relatando os eventos, é absolutamente marcante, bem concebido e muito “quotable”. Várias são as frases que continuam a ressoar na nossa mente, já depois de lido o livro. E fazer texto “quotable” não é para todos os autores, como tantas vezes relembro. Canales revela que é exímio nesse atributo.

Voltando, ainda – e como não? – às ilustrações de Guarnido, há que dizer que esta cidade baseada em Nova Iorque, onde se desenrola a trama, está brilhantemente retratada pelo autor. Cada rua, cada beco, cada prédio, estão detalhadamente bem caracterizados. Como estão, igualmente, os cenários de interiores em que a história se desenvolve. Há sempre muitos pormenores, brilhantemente retratados. E também no belo uso de pontos de vista, com perspetivas arriscadas e complexas, ou na planificação dinâmica, Guarnido dá cartas de mestre. Se Algures entre as Sombras não é perfeito, do ponto vista visual, não sei que outra obra o possa ser.

Em termos de edição, tenho que dizer uma coisa: tendo em conta que este primeiro volume de Blacksad, bem como os restantes - que haviam sido originalmente publicados em Portugal pela ASA e, depois, o quinto volume, Amarillo, pela Arcádia, do Grupo Babel - eram cada vez mais difíceis de encontrar à venda, eu acho que a Ala dos Livros já merecia um enorme louvor só por agarrar na série e reeditá-la. Mesmo que o fizesse numa qualidade de edição fraca.

Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros
Mas, claro está, não é essa a bitola de edição por parte da Ala dos Livros. Pelo contrário, a qualidade das suas edições parece desafiar-se a ela mesma. E, portanto, este Blacksad também se assume como uma das melhores edições do ano. Com capa dura baça (onde apenas os olhos de Blacksad têm verniz), papel de excelente qualidade, boa impressão e boa encadernação, o livro prima especialmente por duas coisas: a primeira é a lombada em tecido que irá formar um desenho com os restantes livros da coleção – o que representa, também, um compromisso da editora em reeditar a restante série. Acho que este pormenor dá charme à edição e torna-a num objeto de coleção ainda mais apetecível. Além disso, esta edição tem uma outra segunda coisa que é fenomenal: inclui o suplemento A História das Aguarelas, em que Guarnido nos fala, em discurso na primeira pessoa, de como estudou, testou e arriscou as cores, em aguarela, deste livro. Para quem não sabe, este A História das Aguarelas até chegou a ser publicado em livro próprio, em França, mas por cá mantinha-se inédito até esta parte. Ora, reunir este fantástico extra é uma cereja no topo do bolo. No total, são 24 páginas onde ficamos a conhecer com exatidão o processo de aplicação de cores por parte de Guarnido. Fantástico! Parabéns e obrigado, Ala dos Livros!

Concluindo, posso dizer que falar, portanto, de Blacksad obriga-me a revisitar a minha adolescência e a perceber como um livro pode mudar uma vida. Por esse motivo, antes de dizer se o livro é bom ou não (e é magnífico!); antes de dizer se a personagem de Blacksad é marcante ou não (e, depois de a conhecermos, não mais a esquecemos!); antes de dizer se o argumento de Díaz Canales é bom ou não (e é uma história muito bem trabalhada); antes de dizer se este universo antropomórfico funciona bem ou não (e é, para mim, o universo deste tipo que melhor funciona!) … tenho que dizer algo ainda mais marcante: por todas as razões que já apontei, este livro mudou a minha vida. Provavelmente nem existiria Vinheta 2020 se não fosse Blacksad! Figura entre as duas melhores séries de banda desenhada da minha vida. Obrigatório para todos!


NOTA FINAL (1/10):
10.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Blacksad #1 - Algures entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido - Ala dos Livros

Ficha técnica
Blacksad #1 - Algures Entre as Sombras
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura com lombada a tecido
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Junho de 2022





Mais abaixo, deixo o convite para a leitura da análise aos álbum Blacksad #6:


quinta-feira, 30 de junho de 2022

Blacksad está de volta!!! E não é numa edição qualquer!...


Oh que maravilha de notícia logo pela manhã! Blacksad está mesmo de volta!!!

Já era conhecido há algum tempo que a Ala dos Livros, depois até de ter publicado o mais recente volume da série, Blacksad #6 - Então, tudo cai. Primeira Parte, iria reeditar todos os volumes da série e que são cada vez mais difíceis de encontrar à venda.

E agora é tempo de começarmos logo pelo primeiro deles, Algures entre as Sombras, que foi a génese deste fantástico policial noir em que as personagens são antropomorfizadas.

Há muito que este primeiro volume não se encontrava à venda em lado nenhum. E é um livro elementar em qualquer coleção que se preze de banda desenhada. Bem, na verdade, considero toda a série como obrigatória!
Mas, além de Blacksad ser uma obra magnífica, devo destacar que esta edição será de uma qualidade superior! Até porque conta com um dossier de extras com nada mais, nada menos, do que 24 páginas que recolhem o suplemento A História das Aguarelas. Isto, por si só, já faria desta coleção obrigatória, pois todos sabemos o quão sublimes são os esboços e os estudos preparatórios de Juano Guarnido. Mas, não ficamos por aí, o livro ainda é fornecido com lombada em tecido e outros acabamentos de luxo!

Sei que o editor Ricardo M. Pereira, muito batalhou para conseguir chegar a uma edição desta qualidade.

Meus amigos... isto é para reservar já!

O livro deverá chegar às livrarias a partir de Julho!

Blacksad #1 - Algures Entre as Sombras, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

À data da sua publicação inicial em França, em Outubro de 2000, John Blacksad apresentava uma diferença notável face a outros policiais congéneres: era o herói de uma história protagonizada, na íntegra, por personagens antropomórficos.

Por detrás desta obra, encontravam-se dois autores espanhóis que até então se tinham dedicado apenas ao desenho de animação: Juan Díaz Canales e Juan Guarnido. Blacksad era, para ambos, a sua estreia no mundo da banda desenhada.
E que estreia: para além do acolhimento entusiástico do público e da crítica, o álbum inaugural daquela que viria a tornar-se uma das séries mais aclamadas da BD franco-belga, foi de imediato distinguido com vários prémios a nível internacional, nomeadamente como Mejor Obra y Autor Revelación na 19ª edição do Salón del Cómic de Barcelona, sendo ainda nomeado na categoria Coup de Coeur no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême.

John Blacksad é o herói desta história totalmente nova. O cenário é uma cidade grande que lembra muito a Nova York dos anos 1950. Todas as criaturas que vivem nesta cidade são animais. E John Blacksad, o detective particular - um gato preto com focinho branco -, terá de investigar o assassínio de uma actriz que fora outrora sua amante...
A história, que Juan Diaz Canales construiu como um thriller, é habilmente transposta para o desenho por Juanjo Guarnido em vinhetas aguareladas.

Trata-se de uma técnica que Guarnido desenvolveu no Disney Studios em Montreuil.

As aguarelas que serviram de base à concepção dos livros da série Blacksad foram a seu tempo reunidas em diversas obras que, até à data, se encontravam inéditas em Portugal.

Surgem agora, sob a forma de suplemento de 24 páginas, numa Edição Especial com lombada em tecido, pela Ala dos Livros que assim inicia a reedição desta série.

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Ficha técnica
Blacksad #1 - Algures Entre as Sombras
Autores: Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura com lombada a tecido
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 25,00€


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Entrevista a Ayroles e Guarnido "Há um projeto novo (...) que é muito diferente do Burlão nas Índias. É um projeto maravilhoso. Simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO!"


Conforme prometido, aqui está a segunda e última parte da conversa que tive com Juanjo Guarnido e Alain Ayroles, autores de O Burlão nas Índias, à margem da entrega de prémios do Amadora BD, em que a sua obra acabou premiada como o melhor livro estrangeiro.

Se na primeira entrevista a Juanjo Garnido a conversa se centrou em Blacksad, neste caso centrou-se em O Burlão nas Índias.

Agradeço, uma vez mais, a Ricardo Magalhães Pereira e a Maria José Magalhães pela oportunidade e deixo-vos com a conversa, mais abaixo.


Entrevista

1. Parabéns por este livro fantástico que eu adorei. Assim que soube da obra e li o nome de Guarnido pensei logo: “Isto é do Guarnido! Vou adorar!”. Mas, se a arte não foi uma surpresa, por eu já saber, de antemão, que iria gostar, a verdade é que também gostei muito do argumento. Porque acho que fazes uma coisa muito boa que é o seguinte: a personagem principal do Burlão também engana o leitor. Também me mente a mim, que estou a ler o livro. Foi difícil conseguires fazer isso?

Alain Ayroles: Essa era a ideia. É um personagem mentiroso. Que mente aos outros protagonistas da história. Mas também ao leitor. E, quiçá, até enganou-nos a nós, autores. Porque este personagem embora seja bastante mau (é ladrão e vigarista), à medida que íamos escrevendo a história, começámos a gostar cada vez mais dele.


2. Foi difícil para ti, enquanto escritor da história, pensar naquilo que o leitor estaria a pensar?

Alain Ayroles: O mais difícil quando escreves uma história com um twist no fim é surpreender o leitor. E quando tu conheces o mistério é muito difícil continuar a história sem desvendar a surpresa, pondo-te na cabeça do leitor. E dá muito trabalho e passa-se muito tempo a procurar as pequenas coisas e pequenos erros que possam atraiçoar a perceção do leitor.


3. Uma coisa que eu gostei muito foi que, por vezes, há vinhetas/desenhos que são quase iguais mas há pequenas mudanças entre si. E eu achei isso algo com audácia, com coragem… pois tiveste que desenhar quase a mesma coisa, mas com pequenos detalhes alterados. Deu-te prazer enquanto desenhador, fazer isto?

Juanjo Guarnido: Foi divertidíssimo! Muito difícil! Quando o livro já estava terminado, no dia anterior a ir para impressão, estávamos a terminar a maqueta para impressão, o título, o rótulo, etc. O Alain estava em Bordeaux e eu estava em Paris. Ele liga-me e diz: “Descobri um erro.” E eu: “Como?” E ele: “Há um erro. Nesta cena aqui, na realidade quando a personagem conta isto, não se passa nesse momento. Mas numa outra altura. Portanto há aí um erro.” E eu digo: “Não faz mal. Isso não tem importância! Alain, amanhã o livro vai ser impresso. Está tudo definido. Pronto para ser impresso”. E ele: “Não, temos que mudar isto!” E eu: “Ai meu Deus!”. Precisávamos, então, de mudar um balão fazendo-o desaparecer de um céu. Estava a trabalhar com um colega e pergunto-lhe “Podemos fazer isto?” E ele responde: “Vamos tentar fazê-lo com Photoshop”. Então, através duma ferramenta do programa, PING!, fizemos desaparecer o balão e o céu estava perfeito! Incrível! Isto foi no último dia!

Alain Ayroles: (risos) Sim era uma pequena mudança mas que poderia atraiçoar toda a encenação da personagem de Pablo.


4. Em termos de argumento, Alain, já tinhas quase tudo pensado ou o Juanjo contribuiu com algumas alterações? Falavam os dois sobre a história?

Alain Ayroles: Sim, o Juanjo contribuiu desde o princípio. A ideia da história foi pensada por nós os dois. E depois, durante o processo de escrita do texto, fomos alterando muitas coisas.

Juanjo Guarnido: Sim, falámos constantemente. Sempre com muita comunicação. Nessa época, eu viajava muito até Bordeaux e tínhamos um atelier em comum. E foi muito intenso porque fazer o storyboard completo de todo o álbum demorou um ano inteiro. Um ano inteiro só para o storyboard! Mas conseguimos fazê-lo os dois. Nem eu sozinho, nem o Alain sozinho. Os dois. Totalmente trabalho de equipa. Eu sabia que precisava de fazer a primeira versão, a primeira ideia. Quando trabalho com o Juan Díaz Canales, ele deixa-me fazer o storyboard à vontade. Com o Alain foi diferente. Para nós, desenhadores, há sempre uma ideia na cabeça. Se eu tiver uma ideia e ele tiver outra como é que a vamos trabalhar então? Assim, eu fiz o primeiro esboço do storyboard e depois, com o Alain, trabalhámo-lo juntos. Mas o Alain não dizia: “Ah sim, está tudo muito bem.” Não, não. Em cada página havia que mudar algumas coisas. “Isto não pode ficar aqui” e lá discutíamos sobre cada uma dessas alterações. Ele era muito crítico e muito útil. E tudo melhorava. Cada ideia que ele tinha fazia o trabalho melhorar.

Alain Ayroles: Por exemplo, mudava a posição de um balão para poder melhorar a posição e tempo de leitura.


5. Relativamente à ideia de fazer a capa d’ O Burlão desta forma, já tinhas a ideia na cabeça desde o princípio?
Alain Ayroles: Ele já tinha a ideia e eu pensava que era boa. Mas quando recebemos o livro acabado e finalizado e o li todo, quando cheguei à última página, fechei o livro e senti que aquela capa fazia todo o sentido. Como se fechasse um ciclo. E preciso dizer que o original é uma obra de óleo sobre tela enorme, como uma verdadeira obra de um mestre.


6. Depois da segunda parte de Blacksad 6 estar finalizada, já tens algum projeto na cabeça? Se calhar até com o Sr. Ayroles? (risos) Just sayin…

Juanjo Guarnido: Há um projeto novo com o Sr. Ayroles, efetivamente! (risos) que é muito diferente do Burlão nas Índias. É um projeto maravilhoso. Simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO!

Alain Ayroles: Mais louco!

Juanjo Guarnido: Sim, mais ambicioso.


7. O Burlão nas Índias já é muito ambicioso…

Juanjo Guarnido: Sim! Por isso me dá medo! Tenho medo! (risos)

Alain Ayroles: Tenho medo também! (risos)


8. Podem falar mais sobre este novo projeto? O tema, não?

Alain Ayroles: É muito cedo para falarmos disto por agora. Mas é muito ambicioso.

Juanjo Guarnido: Apenas quero dizer que se passa noutra época, mas é uma história muito diferente da de O Burlão nas Índias. Não tem nada a ver. Quando estávamos a fazer a tourné do Burlão por França, em que durante um mês inteiro andávamos de cá para lá, e de lá para cá, as pessoas perguntavam: “Vão fazer outro álbum? Há outro projeto?” E, no princípio, dizíamos: “Sim, talvez encontremos algo para fazer... porque não?”. E uma vez, numa viagem de comboio de duas ou três horas, eu disse ao Alain: “Então? Que fazemos? Duas horas de comboio... queres dormir, é?” Então ele começou-me a contar várias ideias e de repente diz-me: “Também tinha esta ideia que queria fazer com o fulano tal mas ele não quis porque não sei quê…” e depois começa a contar-me a ideia. E eu escutei-o, calado. Calado como uma puta. Falou durante uma hora, uma hora e meia, termina e diz: “que tal?” E eu digo: “onde é que eu assino? É maravilhoso!”. “Gostas, mesmo?” E eu respondi-lhe: “Parece-me incrível mas se o vamos fazer, vamos fazer de uma forma muito especial. Que vai tornar o proejto ainda mais ambicioso. (risos)

Alain Ayroles: É mais difícil de fazer do que dizer.

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Mal posso esperar! Muito obrigado!