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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Iguana edita obra de estreia de nova autora portuguesa!



Chegou esta semana às livrarias portuguesas um dos novos livros da chancela Iguana (Grupo Penguin), que assinala a estreia da autora R.G.B e que se intitula Manda Msg Quando Chegares.

Trata-se de um conjunto de histórias curtas que relatam histórias reais de abuso sentidas na pele por mulheres, e que, só por isso, já prometem ser uma reflexão profunda sobre o tema do abuso.

Deixo-vos, mais abaixo, com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Manda msg quando chegares, de R.G.B

Uma ode gráfica às mulheres e aos abusos que sofrem todos os dias desde crianças.

R.G.B reuniu uma série de histórias reais de abusos e assédios e transformou-as em arte. Não para as embelezar, mas para as contar de forma que todos ouvissem.

Intercalando fotografias dos locais reais destes episódios com ilustrações, a autora criou uma obra gráfica original e poderosa à qual será impossível ficar indiferente.

Quantas vezes dissemos às nossas amigas ou irmãs “manda mensagem quando chegares” depois de nos despedirmos, para termos a certeza de que nada lhes acontece naqueles breves instantes de separação? Responderão: muitas. E a quantas aconteceu, pelo menos, um dos casos deste livro? A todas.

Todas as histórias deste livro são verdadeiras. Aconteceram a pessoas reais, num tempo não muito distante.
Pedir a uma mulher que mande mensagem quando chegar é pedir-lhe que se proteja, que esteja sempre atenta, que olhe bem à sua volta e que leve o telemóvel na mão enquanto finge que fala com alguém. É dizer que caminhe no meio da estrada e não junto aos prédios. É assegurar que estamos aqui.

Este é um grito de revolta, uma constatação, uma exposição de medos, preconceitos e avisos. Uma coletânea de episódios de todas nós e os retratos daquilo que as mulheres não podem fazer porque não fica bem, porque é provocante, porque se põem a jeito.

A luta continua.


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Ficha técnica
Manda msg quando chegares
Autora: R.G.B
Editora: Iguana
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 16,65€

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Acaba de sair BD sobre Kim Jong-un!



A Iguana, uma chancela do grupo Penguin, prepara um regresso em grande nesta nova rentrée literária, com bastantes novas obras de BD que estão próximas de nos chegar. 

Por agora, já chegou às livrarias no início desta semana, o novo livro da autora Keum Suk Gendry-Kim que, desta vez, versa sobre a figura de Kim Jong-un, líder autocrata da Coreia do Norte.

A publicação da obra da autora Keum Suk Gendry-Kim em Portugal sai, pois, mais reforçada, aumentando para cinco as obras que estão disponíveis em edições nacionais. Pela parte da Iguana, temos, além deste O Meu Amigo Kim Jong-un, os livros Erva e A Espera, enquanto que da parte da Levoir, temos os livros A Árvore Despida e Alexandra Kim, Filha da Sibéria.

Mais abaixo, deixo-vos a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.

O Meu Amigo Kim Jong-un, de Keum Suk Gendry-Kim

O que sabemos realmente sobre o líder da República Popular Democrática da Coreia?

Se quisermos saber que tipo de homem pode ser um ditador, temos de analisar atentamente os seus antecedentes, desde a infância até à sua ascensão ao poder, passando pela educação, os seus gostos e passatempos, as relações com professores e colegas, os seus traços de personalidade e os seus pensamentos.

Para este novo livro documental, a multipremiada autora Keum Suk Gendry-Kim entrevistou diversas personalidades, incluindo jornalistas, amigos estrangeiros do período em que Kim Jong-un viveu na Europa, desertores norte-coreanos e até o ex-presidente sul-coreano Moon Jae-in, que conheceu Kim Jong-un pessoalmente.

Da autora das multipremiadas novelas gráficas A Espera e Erva chega-nos agora um relato na primeira pessoa de um país dividido ao meio.

Combinando registos factuais com reflexões pessoais, este impressionante relato ilustrado oferece uma visão aprofundada sobre momentos cruciais da vida de Kim Jong-un e conta a história de um país dividido, transmitindo, nas palavras da autora, «uma mensagem de urgência pela paz».

«A genialidade do traço de Keum Suk Gendry-Kim e a força da sua narrativa dão-nos a conhecer histórias coreanas com extrema sensibilidade e brilhantismo.» 
Diário de Notícias


«A poderosa arte de Gendry-Kim, com os seus traços selvagens e o seu negro denso, consegue fazer-nos mergulhar num reino de pesadelo.»
The New York Times



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Ficha técnica
O Meu Amigo Kim Jong-un
Autora: Keum Suk Gendry-Kim
Editora: Iguana
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa mole com badanas
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 20,95€

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Penguin nos últimos 5 anos!


Hoje trago-vos um TOP 10 relativo à melhor banda desenhada editada pela Penguin nos últimos 5 anos, a propósito do 5º aniversário aqui do Vinheta 2020.

Muita gente não sabe disto, mas a Penguin Random House é uma empresa multinacional, apontada como a maior editora de livros do mundo, sendo que a sua sucursal portuguesa engloba várias chancelas que editam banda desenhada: a Iguana, a Distrito Manga, a Companhia das Letras, a Topseller, a Cavalo de Ferro, a Fábula... entre outras.

Recentemente, a Penguin preocupou-se em criar duas chancelas dedicadas à banda desenhada: a Iguana e a Distrito Manga.

De qualquer maneira, para este TOP, e para que a qualidade das obras propostas fosse a melhor possível, eu olhei para a Penguin como um todo - que é isso que ela é, na verdade - e trago-vos os 10 melhores livros de BD desta editora que li.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora. 

Aqui ficam, então, as 10 melhores BDs editadas pela Penguin nos últimos 5 anos:

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Análise: Danificada

Danificada, de M.L. Vieira - Iguana - Penguin Random House

Danificada, de M.L. Vieira - Iguana - Penguin Random House
Danificada, de M.L. Vieira

Uma das mais recentes apostas da Iguana, uma chancela do grupo editorial Penguin Random House, foi este Danificada, que hoje vos trago, que marca a estreia em livro (de grande fôlego) de M.L. Vieira.

Trata-se de uma história distópica, com um forte cunho social, que nos faz parar um pouco para pensar.

E há que dizer que Danificada se apresenta como uma estreia corajosa e singular no panorama da banda desenhada portuguesa, aliando a estética visual à ficção científica num registo distópico futurista que remete, inevitavelmente, para clássicos como 1984, de George Orwell, ou Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Ou também poderia ser um episódio da série da Netflix Black Mirror.

Ambientado numa fábrica do futuro onde clones femininas, numeradas e despersonalizadas, trabalham arduamente, este é um livro que oferece uma crítica subtil – mas pertinente – sobre o apagamento da individualidade num mundo (cada vez mais) automatizado e impessoal.

Danificada, de M.L. Vieira - Iguana - Penguin Random House
A protagonista, cujo nome é 2518, funciona como ponto de ruptura neste sistema fechado e desumanizado em que vive juntamente com tantas outras clones iguais a si mesma. Mas mesmo sendo, aparentemente, igual a todas as outras, 2518 começa a ter a sua própria individualidade e a ganhar consciência de si mesma, da sua diferença, da sua singularidade e do mundo que a rodeia. Porém, e como em qualquer regime totalitário que se preze, não há espaço para o livre pensamento. E assim que 2518 começa a sonhar com a liberdade, com um sentido de propósito e identidade, desencadeia uma série de eventos que perturbam a lógica fria e maquinal do universo em que vive. Esta rutura interior, por mais ténue que seja, ganha relevo num mundo onde o sonho é uma anomalia e a introspeção é uma ameaça ao equilíbrio imposto.

Se, dito assim, o interesse da obra se mantém nos píncaros, devo dizer que, infelizmente, a execução da boa ideia apresenta algumas fragilidades, pois ainda que o universo e tema de Danificada sejam bem moldados, a trama, propriamente dita, parece depois cair em demasiados lugares comuns, oferecendo personagens pouco desenvolvidas. Se os eventos vividos por 2518 fossem mais rentabilizados em termos narrativos, talvez estivéssemos perante uma obra mais marcante. Continua a ser uma obra bem-vinda, um bom cartão de apresentação de M.L. Vieira, mas abstém-se de ser mais impactante para o leitor. O que é uma pena. A narrativa, embora envolvente, deixa algumas pontas soltas que poderiam ter sido mais bem exploradas. Existem momentos em que os diálogos parecem não fazer a história avançar nem recuar, tornando certas passagens redundantes ou excessivamente vagas. Essa indefinição acaba por comprometer, em parte, o impacto dramático da obra.

Danificada, de M.L. Vieira - Iguana - Penguin Random House
Mesmo assim, o facto de o discurso narrativo nos ser dado na primeira pessoa, funciona bem para que o leitor crie mais facilmente uma experiência direta com a protagonista. E embora sendo um texto simples, há alguns momentos mais líricos na forma como o pensamento da personagem está estruturado, que contrastam com o ambiente cinzento e mecânico da narrativa. Essa oposição entre forma e conteúdo contribui para o tom melancólico da obra, conferindo-lhe alguma profundidade.

Outra questão que aparenta ser interessante, reside na opção pela escolha de clones femininas como força operária, que pode acentuar a dimensão simbólica da obra de trazer uma crítica implícita às normas de género, à exploração do corpo feminino e à homogeneização imposta às mulheres na sociedade contemporânea. 

A uniformização não é apenas física - é também mental, emocional e social. Ou, pelo menos, foi essa a leitura que fiz.

Danificada, de M.L. Vieira - Iguana - Penguin Random House
Do ponto de vista do desenho, o trabalho da autora apresenta-se intermitente. Agradou-me especialmente a conceção da protagonista e reconheço que há algumas páginas/vinhetas no livro que, visualmente falando, são belas e onde a inspiração estética contribui para a imersão no mundo da narrativa. Noutras páginas, porém, nota-se uma abordagem mais arcaica e simplificada, que quebra o ritmo visual e diminui o efeito emocional de algumas cenas-chave. Talvez um maior equilíbrio entre os estilos e uma revisão de composição ajudassem a manter a coesão visual da obra.

A edição do livro por parte da Iguana apresenta-se em capa dura baça, com bom papel baço no interior e um bom trabalho ao nível da encadernação e impressão. Apesar destes bons apontamentos, há algo bastante negativo no trabalho de edição deste livro que tem que ser referido: a sua legendagem que, infelizmente, está bastante mal trabalhada. Tanto o tipo de letra utilizado - completamente desajustado - quer a balonagem amadora comprometem a legibilidade e distraem o leitor da história. Numa obra em que o conteúdo e a forma precisam de caminhar lado a lado, estes elementos tornam-se demasiado dissonantes, tirando força à leitura e empobrecendo a experiência estética. O que é uma pena. E relembro que até me considero uma pessoa benevolente em relação ao tema da legendagem. Para eu falar da legendagem... é porque há algo de grave na mesma. Caso contrário, costumo "deixar passar". Mas, neste caso, não há como não o assinalar negativamente.

Em suma, Danificada é uma obra promissora sobre resistência, identidade e liberdade. Não obstante, apresenta várias fragilidades que a impedem de ser mais positivamente impactante. Seja como for, a autora portuguesa M.L. Vieira estreia-se com coragem e sensibilidade, e é com expectativa que se aguardam futuras obras suas, talvez mais depuradas, mas igualmente ousadas. 


NOTA FINAL (1/10):
6.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Danificada, de M.L. Vieira - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
Danificada
Autora: M.L. Vieira
Editora: Iguana
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Maio de 2025

terça-feira, 1 de julho de 2025

As novidades de BD da Penguin para o segundo semestre de 2025!


Hoje começamos o segundo semestre do ano 2025. Como tal, é tempo de olharmos para a banda desenhada que as editoras portuguesas preparam para o que falta deste ano civil!

Começamos pelo grupo editorial Penguin, que, através das suas duas chancelas dedicadas à banda desenhada, a Iguana e a Distrito Manga, acaba de tornar públicas as suas novidades para o segundo semestre. E não são poucas obras... são 22 livros até ao fim do ano!

Da parte da Iguana, temos a confirmação de uma obra que, na verdade, já aqui tinha sido anunciada e outra que tinha sido sugerida/perspetivada por mim. Temos também uma novidade que, em Espanha, causou algum furor por ter vencido o Premio Nacional del Cómic 2024 e temos ainda a estreia de dois autores nacionais! Há duas obras a editar que são livros ilustrados.

Da parte da Distrito Manga, foram anunciados os novos números das séries em continuação e foram apresentadas quatro obras que considero especialmente interessantes, para já: uma delas é a adaptação para mangá de um clássico da literatura japonesa, a outra é uma autobiografia íntima e as outras duas novidades são dois dos mangás mais populares de sempre! 

Ora vejam!

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Iguana aposta em BD distópica de autora portuguesa estreante!



A editora Iguana prepara-se para lançar, a partir do próximo dia 12 de Maio, uma nova autora nacional de banda desenhada, que dá pelo nome M.L. Vieira e que tem neste Danificada a sua primeira obra de grande fôlego.

A história remete-nos para uma distopia futurista em que os clones são criados para trabalhar que nem escravos. Até que um deles passa a almejar mais do que a vida para o qual foi criado.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora

Mais abaixo, deixo-vos com alguma informação sobre o mesmo.


Danificada, de M.L. Vieira
Numa fábrica do futuro, máquinas e meios de transporte são montados por um batalhão de clones.

Todas mulheres, todas iguais, cada uma com um número. 

Elas não têm personalidade, nem ansiedades, nem se interrogam sobre a vida. 

Até que um dia a 2518 começa a sonhar com uma vida diferente. Sonha com a liberdade e um propósito até que… tudo começa a correr mal.

Nesta estreia impressionante, M.L. Vieira pega na ficção científica e na banda desenhada, e dá-lhe uma prosa poética e atual.

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Ficha técnica
Danificada
Autora: M.L. Vieira
Editora: Iguana
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 17,45€

segunda-feira, 31 de março de 2025

Análise: Peanuts - Volta, Snoopy!

Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House

Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House
Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz

Volta, Snoopy! marca o regresso de uma das mais célebres séries de tiras humorísticas às livrarias portuguesas: a série Peanuts que, para além de Snoopy, conta com um vasto conjunto de personagens famosas, como Charlie Brown, por exemplo, que marcaram várias gerações desde o seu lançamento. A obra volta agora pelas mãos da editora Iguana que, à semelhança daquilo que já fez com Mafalda, de Quino, volta a apostar num clássico. Há, pois, obras que merecem estar sempre disponíveis e Peanuts é uma delas.

Este livro reúne tiras que, originalmente publicadas em jornais entre os anos de 1962 e 1965, retratam as aventuras e desventuras de Snoopy, o carismático beagle, e do seu dono, Charlie Brown. À boa maneira do trabalho executado na plena de longevidade série Peanuts, o autor Charles Schulz utiliza o humor e a sensibilidade para abordar temas universais como a amizade, a solidão, o fracasso, a perseverança e muitos outros temas mundanos.

Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House
Podemos considerar que, entre histórias, há uma narrativa conjunta, embora as tiras que nos são dadas sejam independentes entre si, o que faz com que este seja um livro apetecível para abrir de forma aleatória e descobrir um gag que nos surpreende e nos deixa com um sorriso na face. Por outro lado, isso também gera uma certa desconexão entre histórias, fazendo com que, naturalmente, algumas piadas funcionem melhor do que outras ou que a envolvência entre o que é retratado numa história e o próprio leitor vá variando em impacto. 

Cada breve história é constituída por quatro vinhetas que nos oferecem diálogos afiados e expressões marcantes, mantendo a leveza e o humor típicos da série. Além disso, há uma notável economia de palavras e desenhos, algo que reforça a genialidade do autor ao transmitir emoções profundas com traços simples.

Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é a personalidade multifacetada de Snoopy. Este simpático cão tem uma imagem de si mesmo como um aventureiro destemido, mas, ao mesmo tempo, não esconde a sua afeição pelo conforto do seu lar e dos seus amigos. "Cão que ladra, não morde". A dualidade entre independência e apego emocional é, pois, um dos pontos centrais do livro e ressoa com leitores de todas as idades, pois reflete dilemas humanos comuns.

Outro ponto de destaque é a forma como Schulz equilibra melancolia e humor. Apesar de o livro tratar de temas como solidão e rejeição, a abordagem nunca se torna excessivamente pesada. O autor consegue arrancar risos e, ao mesmo tempo, provocar reflexões subtis sobre o significado de pertença e amizade.

Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House
E embora Charlie Brown, Lucy, Linus, Schroeder e Woodstock também façam a sua aparição neste Volta, Snoopy!, o mesmo assume-se como especialmente dedicado à personagem de Snoopy. Coisa que, a meu ver, neste regresso da obra, faz todo o sentido, pois nenhuma personagem da série é mais popular do que Snoopy - nem mesmo Charlie Brown.

Reconheço que, como ponto menos positivo, há uma certa previsibilidade nas histórias. Razão pela qual a leitura conjunta do livro, de uma ponta à outra, se possa tornar repetitiva, concedo. Mesmo assim, o brilho de muitas histórias mantém-se intacto passados tantos anos, o que atesta a qualidade do material.

Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House
A edição da Iguana é em capa mole com badanas, com bom papel, impressão e encadernação. Nota positiva para o facto da editora portuguesa estar a aproveitar (e a capitalizar) uma lacuna no nosso mercado recente de banda desenhada que é - ou, melhor dizendo, era - a das tiras humorísticas. Tirando as constantes reimpressões de Calvin & Hobbes que a Gradiva vai fazendo, não estavam a sair muitas obras de tiras humorísticas em Portugal. E em pouco mais de um ano, a Iguana assegurou que quer Mafalda, quer Peanuts, voltam a estar presentes nas livrarias portuguesas.

Concluindo, Volta, Snoopy! é uma leitura encantadora com o potencial de, nos tempos correntes, conseguir chegar a leitores de todas as idades. Através do estilo simples e inteligente de Schulz, a obra capta bem a essência das personagens e a beleza das pequenas coisas da vida. É um convite aos novos leitores, por um lado, e, para os fãs antigos de Peanuts, é um livro que oferece uma experiência nostálgica e, ao mesmo tempo, atemporal, reafirmando o legado duradouro de Charles Schulz na literatura e na cultura popular.


NOTA FINAL (1/10):
7.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
Peanuts - Volta, Snoopy!
Autor: Charles M. Schulz
Editora: Iguana
Páginas: 136, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 200 x 220 mm
Lançamento: Março de 2025

segunda-feira, 3 de março de 2025

Série "Peanuts" está de volta!


A série Peanuts, de Charles M. Schulz, volta a ver as suas tiras humorísticas serem publicadas em Portugal!

Desta vez, isso acontece pelas mãos da Iguana (Grupo Penguin) que, relembro, já por altura do último natal lançou O Guia de Peanuts para o Natal, um breve e pequeno livro que também se centrava na personagem de Snoopy.

O centro deste novo livro, conforme o nome assim faz perceber, volta a ser Snoopy, o célebre cão do também célebre - embora em dimensão menor - Charlie Brown.

Nota-se que a Iguana está a aproveitar uma franja de mercado - a das tiras humorísticas clássicas - que andava um pouco esquecida no mercado nacional.

Nota positiva, portanto, para esta aposta da editora portuguesa que, deste modo, torna disponíveis obras obrigatórias.

O livro chega hoje às livrarias!

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa e com algumas páginas promocionais.


Peanuts - Volta, Snoopy!, de Charles M. Schulz

A personagem de banda desenhada que conquistou várias gerações com as suas tiras repletas de humor está de volta, juntamente com o seu grupo de amigos.

Descubra o mundo de Snoopy enquanto ele luta para salvar a sua estimada casota, se faz de abutre para impor respeito, chuta bolas para aliviar a alma, põe óculos para assumir um estatuto superior… isto quando não está a dançar, a evitar gatos ou a refletir sobre os caprichos da vida.
Com muitas personagens incontornáveis da banda desenhada, incluindo Snoopy, Woodstock, Charlie Brown, Lucy, Schroeder, Linus, Susan Brown e Shermy, esta seleção de tiras dos Peanuts convida os leitores a viajar pelo universo imaginário do cão mais querido de todos os tempos, apreciando o humor inteligente, irónico e, por vezes, fantástico de Charles M. Schulz.

Este livro reúne uma seleção de tiras dos Peanuts publicadas em diferentes jornais entre 1962 e 1965, criadas com o humor inteligente, irónico e único de Charles M. Schulz.
«A poesia dos Peanuts resulta do facto de encontrarmos nas suas personagens infantis todos os problemas e sofrimentos dos adultos, que só são verbalizados pela boca das crianças após passarem pelo filtro da inocência.»
Umberto Eco

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Ficha técnica
Peanuts - Volta, Snoopy!
Autor: Charles M. Schulz
Editora: Iguana
Páginas: 136, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 200 x 220 mm
PVP: 14,35€

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Análise: Toda a Mafalda - Edição Integral

Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino - Iguana - Penguin Random House

Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino - Iguana - Penguin Random House
Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino

Não há muito que não tenha sido dito ou escrito sobre Mafalda, uma das mais icónicas personagens, não só da banda desenhada, como da cultura popular do último século. Originalmente criada pelo argentino Quino, esta é uma personagem que nos últimos 60 anos tem estado próxima de todos nós. Portanto, acho difícil que alguém não conheça tão simbólica e acutilante personagem.

A obra continua, pois, atual e relevante, oferecendo uma crítica perspicaz à sociedade, à política e à condição humana através das perguntas diretas e genuínas de uma criança. Com humor inteligente e sensibilidade, Quino construiu um retrato atemporal da humanidade, explorando temas que ainda ressoam nos dias de hoje.

Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino - Iguana - Penguin Random House
Mafalda é uma criança precoce, curiosa e inconformada, que observa o mundo ao seu redor com um misto de ingenuidade e sagacidade. As suas reflexões e perguntas desconcertantes frequentemente colocam os adultos em situações embaraçosas, revelando as contradições da sociedade. Ao longo das suas inúmeras tiras, Mafalda revela preocupações com a paz mundial, com os direitos humanos, com a injustiça social e com as guerras, ao mesmo tempo que, naturalmente, lida com os desafios típicos da infância, como a escola, as brincadeiras ou a relação com os seus amigos.

Além do conteúdo, o estilo de ilustração de Quino contribuiu significativamente para o impacto das tiras. O seu traço expressivo e dinâmico dá vida às personagens e às situações com grande riqueza de detalhes, e o uso estratégico do enquadramento e da composição visual permite um reforço das piadas e do tom crítico das histórias, tornando a leitura ainda mais envolvente.

A par da relevância intrínseca à obra, Mafalda também tem um valor histórico e cultural inestimável. A personagem tornou-se num símbolo do pensamento crítico e da liberdade de expressão, sendo reconhecida em quase todo o mundo, com a sua popularidade a transcender gerações, influenciando leitores de diferentes idades e contextos. Mafalda é, pois, e há mais de 60 anos, um reflexo do inconformismo, da resistência e da esperança por um mundo melhor.

Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino - Iguana - Penguin Random House
E foi precisamente a propósito da comemoração dos seus 60 anos, que a editora Iguana (chancela do grupo Penguin) lançou no ano passado este "peso pesado", com mais de 600 páginas, que reúne todas as tiras de Mafalda publicadas entre 1964 e 1973. Relembro que edição semelhante já havia sido lançada pela editora Verbo, a propósito do 50º aniversário da personagem, há 10 anos. 

Com o passar dos anos e com a posterior compra dos direitos de publicação da obra por parte do Grupo Penguin, essa edição integral dos 50 anos da Verbo foi deixando de estar presente no mercado. De resto, convém dizer, a Iguana já lançou recentemente outros livros de Mafalda, como O Indispensável da Mafalda, Mafalda: Feminino Singular, Mafalda para Miúdos ou Mafalda: O Que é o Amor?. No entanto, e tratando-se de uma edição integral comemorativa dos 60 anos da personagem, é exatamente este Toda a Mafalda o livro que mais vos posso recomendar.

Esta bonita edição em capa dura, com bom papel baço no interior, boa encadernação e boa impressão, conta ainda com uma elegante fita de tecido marcadora. Mas é no belo conteúdo dos extras no interior do livro que assenta a qualidade e o esforço editorial que a Iguana colocou nesta obra.

Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino - Iguana - Penguin Random House
Esta edição assume-se como uma autêntica "bíblia" sobre Mafalda em que nada ficou deixado ao acaso. Para além de todas as tiras, a edição apresenta um prefácio de Umberto Eco, uma biografia de Quino, uma contextualização das personagens e das várias fases de publicação de Mafalda, bem como homenagens ilustrativas de outros autores ou comentários de personalidades famosas portuguesas e internacionais sobre Mafalda, das quais posso destacar Gabriel Garcia Márquez, Capicua, Ana Markl, Susana Romana, entre muitos outros. Além dos textos, convém referir que o livro está repleto de fotografias e ilustrações que o tornam ainda mais apelativo.

Uma coisa em que a Iguana está de parabéns é que não se limitou a adquirir uma edição integral estrangeira, a traduzi-la e a publicá-la. Ao invés, procurou que os textos informativos tivessem sempre em conta a realidade portuguesa e ainda lhes juntou homenagens com ilustrações de autores portugueses (Joana Mosi, Filipa Beleza ou Nuno Caravela) além dos já mencionados comentários de individualidades portuguesas.

Gostaria que o livro, na parte dos textos e das imagens, fosse a cores, mas compreendo que essa opção poderia encarecer mais o livro. Aceita-se.

É uma verdadeira homenagem que culmina numa das melhores edições do ano passado e, certamente, na melhor edição de banda desenhada da Iguana.

Em suma, Toda a Mafalda não é apenas uma reunião integral de tiras humorísticas, mas um verdadeiro documento sobre uma das mais emblemáticas personagens de sempre com um olhar incrivelmente atual sobre a sociedade contemporânea. Com humor refinado e uma visão aguçada da realidade, Quino criou uma obra-prima que continua a cativar leitores e a provocar reflexões profundas. Toda a Mafalda é, sem dúvida, uma leitura essencial para aqueles que apreciam humor inteligente e uma crítica social perspicaz.


NOTA FINAL (1/10):
9.7


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Toda a Mafalda - Edição Integral, de Quino - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
Toda a Mafalda - Edição Integral
Autor: Quino
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 608, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 200 x 280 mm
Lançamento: Outubro de 2024

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Magazine Especial - 5 Livros ilustrados para quem gosta de BD

Magazine Especial - 5 Livros ilustrados para quem gosta de BD


Embora o Vinheta 2020 se centre mais na análise a livros de banda desenhada, não é tão incomum assim que, de tempos a tempos, vos traga algum livro de ilustração que me marcou. Até porque sou muito adepto de um (bom) livro ilustrado.

Um livro ilustrado e um livro de banda desenhada são coisas diferentes, bem o sei, mas também têm alguns pontos em comum.

Com efeito, quatro dos cinco livros ilustrados que hoje vos trago neste Magazine Especial, até foram feitos por autores cuja obra em banda desenhada é mais conhecida do que a obra em livros ilustrados. Trago-vos também as obras recentes de dois nacionais, mais conhecidos pela sua obra em banda desenhada.

Assim, sem mais demora, eis 5 livros ilustrados, todos bons, que li recentemente e que merecem o meu destaque neste especial:

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

As novidades de banda desenhada da Penguin para 2025!



Hoje trago-vos as novidades de banda desenhada que o grupo editorial Penguin, através das suas várias chancelas que publicam BD, tem previstas para o primeiro semestre de 2025!

É um plano que, por agora, não desvenda muitas obras, mas que traz como principal surpresa a publicação da obra de Charles M. Schulz! Depois da editora, através da chancela Iguana, apostar na obra de Quino, através de Mafalda, traz-nos agora a célebre e clássica série Peanuts!

A par disto, é com bons olhos que vejo a Iguana a continuar a sua aposta na obra da coreana Keum Suk Gendry-Kim.

Relativamente às séries mangá, é naturalmente expectável que a chancela Distrito Manga continue a publicar as séries em andamento. Além disso, também já anunciou duas novas séries.

Nota: A editora apresentou ao Vinheta 2020 algumas obras ilustradas que, por cortesia, mantenho no artigo, mas que são isso mesmo: "livros ilustrados" e não "banda desenhada". Mas dou conta disso, junto a cada livro, para que o leitor mais incauto que aceda a este artigo não fique confundido.

Ora vejam, mais abaixo, quais são as obras que a Penguin tem preparadas para este primeiro semestre:

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Análise: A Educação Física

A Educação Física, de Joana Mosi - Iguana - Penguin Random House

A Educação Física, de Joana Mosi - Iguana - Penguin Random House
A Educação Física, de Joana Mosi

A Iguana, uma chancela do grupo editorial Penguin Random House, publicou há poucas semanas o novo livro de Joana Mosi que dá pelo (curioso) nome de A Educação Física. E ainda antes de falar do novo livro, uma nota tenho que dar: parece-me de relevância o facto da Iguana ter vindo, cada vez mais, a apostar "mais a sério" em banda desenhada. Com efeito, de ano para ano se vê, por parte deste Grupo, a aposta em nova banda desenhada. E até com um especial ênfase em autores nacionais. 

Desta feita, o novo recrutamento nacional incidiu em Joana Mosi, uma autora com provas dadas em várias das suas obras. Relembro até que o seu último livro, O Mangusto, editado pel' A Seita, recebeu dois VINHETAS D'OURO de uma só vez (Melhor Obra de Autor Nacional e Melhor Argumento de Autor Nacional) no ano passado.

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Concentrando-me então neste A Educação Física, nota-se que Joana Mosi, talvez sem encantar, mas também sem desiludir, consegue oferecer-nos uma obra coesa e que assinala bem o quanto a autora (e, por ventura, o próprio mercado nacional?) tem amadurecido desde o seu início. Eis uma obra que não sendo, em teoria, comercial, acaba por ter um forte apelo comercial.

Parece esta afirmação incoerente? Explico melhor, então: acredito que talvez Joana Mosi não seja uma autora com a capacidade de agradar a todos os públicos - especialmente aos leitores de banda desenhada mais clássica - mas, por oposição, também tem o potencial de chegar a um outro público de banda desenhada, trazendo novos leitores para o género.

Goste-se mais ou menos, uma coisa é certa: Joana Mosi tem vindo a sedimentar a sua forma de contar uma história em banda desenhada, parecendo a autora estar num momento em que encontrou o seu estilo próprio, a sua forma de comunicar. Quer no tipo de história, quer no tipo de ilustração, Joana Mosi tem vindo, pois, a estabilizar o seu modus operandi. Se, por um lado, talvez isso faça com que este A Educação Física não tenha assim tanto de novo, face àquilo que a autora nos deu em O Mangusto, por outro lado, faz com que ambas as obras também acabem por ser leituras complementares. Quem adorou o anterior livro certamente apreciará esta nova empreitada.

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Quanto mais não seja porque a autora volta a dar-nos, bem ao jeito de outros autores nacionais, como Bernardo Majer, Joana Estrela ou Ana Pessoa, uma história moderna, bem ambientada nas crises existenciais do nosso tempo e especialmente experienciada por millennials. É por isso que considero que este A Educação Física é de e para millennials. Essa geração de relações pessoais mais casuais, de trabalhos mais precários, inundada por tecnologia e redes sociais, e que vive à mercê de um certo embate brusco com uma realidade que, não sendo trágica do ponto de vista político-social, também não parece trazer uma felicidade muito plena. Mas o que é, pergunto eu, uma felicidade plena? 

A Educação Física centra-se na personagem de Laura que, tendo recebido uma bolsa, se vê com dificuldades de inspiração para escrever o seu novo livro. Além de toda esta batalha criativa interna, a existência de Laura também é pautada por outras atividades quotidianas e idiossincrasias que dão cor e vida à personagem. A casa dos avós precisa de ser esvaziada e arrumada e o seu namorado, que vê apenas de quando a quando, é um homem casado com outra mulher. Além de tudo isto, ir ao ginásio - pelo qual se paga uma mensalidade - passou a ser um objetivo de Laura e das suas amigas quando, na verdade, nos tempos de adolescente, a aula de educação física - gratuita - era a que menos Laura e as amigas apreciavam. Há, pois, um certo vazio, um certo descontentamento, um certo sentimento agridoce na passagem da idade adolescente para a primeira idade adulta. E isso está impregnado um pouco por todo o livro, revelando uma obra algo resignada e onde ficam a pairar no ar certas pistas reveladoras de possíveis notas autobiográficas na obra.

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Mesmo assim, o estilo da obra é slice of life, procurando - mais do que tirar ilações diretas e rápidas - fazer o leitor refletir apenas pela observação direta destas personagens. Sem juízos ou sem sermões. Como se a obra também fosse um espelho refletor de uma nova geração. E diria que essa é uma das boas valências desta obra. 

Uma nota para o ritmo, lento, onde, mais uma vez, a autora parece especialmente dotada, fazendo a leitura - e, por conseguinte, o leitor - bailar ao ritmo lento que interessa à autora, através de frames, de pinceladas nos pormenores que habitam a história que é montada através de uma planificação propositadamente anárquica.

Em termos de desenho, o que merece mais destaque pela positiva é um certo erotismo, conseguido com vários planos próximos de detalhe que nos remetem para o melhor que o autor Bastien Vivès já nos ofereceu nas suas obras. Infelizmente, estes momentos até não são muito frequentes. O que me deixa até a pensar que adoraria, numa oportunidade futura, ver um livro de cariz demarcadamente mais erótico por parte de Joana Mosi, já que a autora consegue transpor para as suas pranchas pequenos fragmentos e vislumbres de imagens belas do corpo das personagens que se alojam na nossa memória.

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Mesmo assim, o estilo rápido, circunspeto a simplistas e lineares traços, onde, em certos casos, as personagens nem apresentam boca, olhos ou narizes, torna a experiência abstrata e por vezes um pouco mais vazia do que o desejável. Nuns casos funciona bem, centrando a atenção do leitor nos tais detalhes que já mencionei. Mas noutras situações admito que gostaria de ver um maior aprimoramento dos desenhos. Até porque, não esqueçamos, a autora já revelou ter esses skills técnicos em algumas das suas primeiras obras em BD.

A edição da Iguana é em capa mole baça com badanas. No miolo, o livro apresenta papel brilhante. Tendo em conta o estilo de ilustração da autora, não me parece que esta tenha sido a melhor opção. Acredito que um papel mais baço teria servido melhor o trabalho de Joana Mosi. Mas talvez seja uma questão subjetiva. De resto, o livro apresenta um bom trabalho ao nível de impressão e encadernação.

Em suma, A Educação Física é a confirmação da voz criativa de Joana Mosi num bom livro de banda desenhada que mesmo podendo (e devendo) não agradar ao leitor de BD mais clássica, terá o condão de apelar a novos leitores. O que é bom. Precisamos de uma banda desenhada nacional heterogénea e que chegue ao maior número possível de pessoas. E a obra de Joana Mosi terá a sua responsabilidade nessa batalha.


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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A Educação Física, de Joana Mosi - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
A Educação Física
Autora: Joana Mosi
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 176, a preto e branco (com algumas páginas a cores)
Encadernação: Capa mole
Formato: 170 x 240 mm
PVP: Outubro de 2024