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quinta-feira, 31 de julho de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pel' A Seita nos últimos 5 anos!



Hoje trago-vos aquela que, na minha opinião, foi a melhor banda desenhada lançada pela editora A Seita nos últimos cinco anos!

Recordo que esta iniciativa surge pela comemoração dos 5 anos do Vinheta 2020, que me fez olhar um pouco para trás e ver a enorme quantidade de excelente banda desenhada que por cá foi publicada durante um período bastante pequeno de cinco anos.

Tendo em conta o enorme sucesso que estes artigos estão a ter aqui no blog, já tendo eu feito artigos dedicados à Ala dos Livros e à Arte de Autor, prometo fazer o mesmo tipo de artigo para a melhor banda desenhada editada por cada uma das principais editoras portuguesas de banda desenhada durante o mês de agosto. Mesmo que, pelo meio, haja uma certa quebra devido às minhas férias que se avizinham.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Chamo a atenção para o facto de eu considerar que fará sentido fazer um TOP dedicado aos lançamentos que A Seita fez em conjunto com a Arte de Autor. Mas isso ficará para outro dia. Como tal, as obras lançadas em conjunto pelas duas editoras não foram tidas em conta para este TOP. Também a Comic Heart merecerá um artigo isolado.

Bem, sem mais delongas, deixo-vos a melhor BD lançada em exclusivo pel' A Seita.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Análise: Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago

Se há coisas que, na maior parte das vezes, me parecem forçadas, por vezes fabricadas por mero apelo comercial, são os crossovers. Este encontro entre personagens de universos diferentes e independentes, muitas vezes utilizado em banda desenhada, mas não só, embora possa ser apelativo, especialmente quando já apreciamos um ou os dois universos que passam a estar juntos, é muitas vezes um exercício forçado, sem grande substância. Partindo deste pressuposto, e depois de ter ligo este Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, posso dizer-vos que esta nova aposta da editora A Seita foi uma agradável surpresa.

Reunindo duas personagens de primeira linha, Dylan Dog, pelos fumetti, e Batman, pelos comics americanos, este é um livro que consegue o quase milagroso feito de ser equilibrado, de ter uma história consistente e que, mais importante que tudo, nunca se atropela a si mesmo. Ou quase nunca. Mas já lá irei.

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Com argumento de Roberto Recchioni e desenhos por parte de Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago, este Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego até pode muito bem representar uma das mais inesperadas e bem-sucedidas colaborações intereditoriais da banda desenhada contemporânea. Ao unir dois universos aparentemente tão distintos como o sombrio e surreal mundo do investigador do pesadelo Dylan Dog e o universo noir e urbano do Cavaleiro das Trevas, os autores demonstram uma sensibilidade rara e uma compreensão profunda das personagens que têm em mãos.

A história arranca quando é forjada uma aliança entre os dois vilões Joker e Doutor Xabaras, que acaba por levar Batman a Londres, à cidade de Dylan Dog. A partir deste momento, os dois heróis deverão  colocar de lado as suas visões divergentes sobre a natureza do Mal, e unir forças para eliminar a terrível ameaça que se lhes apresenta.

A narrativa estabelece desde cedo um equilíbrio delicado entre o realismo psicológico e a fantasia gótica. A história decorre entre Londres e Gotham, cidades que espelham as características dos protagonistas: uma mais espectral e melancólica, a outra mais urbana e violenta. O enredo aproveita essa dualidade para explorar o trauma, o medo e a obsessão - temas que são comuns a ambos os heróis, apesar das suas diferentes formas de enfrentá-los.

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Recchioni mostra mestria ao fundir as mitologias de Dylan Dog e Batman sem que uma se sobreponha à outra. A construção da história é coesa, e os acontecimentos fluem com naturalidade, o que evita o risco típico de crossovers: o de parecerem artificiais ou forçados. Com efeito, é particularmente eficaz o modo como os dois protagonistas interagem. Em vez de uma simples união para combater um mal comum, há um verdadeiro confronto de métodos, éticas e até de fragilidades. Batman, metódico e controlado, encontra em Dylan uma figura mais intuitiva, sem grandes regras, aberta ao irracional e ao paranormal. Essa diferença é explorada com inteligência e traz-nos bons momentos de diálogo.

No entanto, a introdução da personagem de John Constantine e da ida ao inferno - numa alusão direta à obra de Dante - assume-se, claramente, como o excesso cometido pelos autores. Compreendo que a simples presença de uma personagem carismática como Constantine seja, por si só, uma escolha tentadora para qualquer história que envolva ocultismo, mas, neste caso específico, a sua entrada surge como um artifício que quebra o ritmo e a coerência interna da narrativa. A dimensão infernal, embora visualmente impressionante, acrescenta pouco à estrutura narrativa principal e desvia o foco da relação entre Batman e Dylan Dog. 

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
Esta parte da história parece, pois, mais motivada por um desejo de introduzir mais uns "cameos" e referências, do que por uma real necessidade de enredo. O inferno de Dante, ainda que estilisticamente coerente com o tom onírico e perturbador do universo de Dylan Dog, soa mais a homenagem do que a desenvolvimento de enredo. E, quanto a mim, acaba por ser a parte mais forçada de um livro que, tal como já referi, até consegue não ser muito "forçado" e que até ali se mantinha sóbrio e bem doseado.

Tirava-se a parte de Constantine deste livro e, para mim, ele seria perfeito. É demasiado o  destaque dado a esta personagem, que acaba por cortar mais do que o devido com a linha narrativa principal da obra. Note-se que há muitas outras personagens que deambulam por este livro, como Alfred, Catwoman, Joker, Crocodilo, Comissário Gordon, Inspetor Bloch e o próprio Groucho... e todas elas foram mais bem introduzidas no espaço que a trama principal lhes permitia ocupar. O próprio Groucho, um comic relief à séria, aparece com tiradas especialmente inspiradas e divertidas que dão alguma luz e cor a uma história mais sombria. 

Apesar do erro da presença do carismático Constantine, o saldo final da obra é amplamente positivo. A ousadia da proposta é sustentada por uma execução sólida, que respeita profundamente os cânones dos dois heróis. Em vez de diluir as suas essências, o livro reforça o que há de mais icónico em cada um: o detetive do insólito, cuja mente é assombrada por sonhos e mortes, e o justiceiro de Gotham, prisioneiro de um trauma infantil que o transforma num símbolo.

Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita
É também digno de nota o modo como os autores evitam o fan service gratuito. Cada referência, cada elemento de ambos os universos é integrado com conta e medida. A sensação que fica é a de uma celebração madura das personagens e não a de um desfile nostálgico para agradar a fãs.

Falando nas ilustrações desta obra, há que referir que a arte de Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago é, sem exagero, deslumbrante. A expressividade das personagens, o uso dramático das sombras e a paleta cromática alternando entre tons frios e quentes, refletem com precisão os estados emocionais das cenas. Há um trabalho pictórico que valoriza tanto a tensão da narrativa quanto a beleza estética do cruzamento entre o terror e o policial. 

O desenho é, portanto, de altíssimo nível, com as personagens totalmente reconhecíveis e carregadas de expressividade e carisma, o que torna cada cena ainda mais envolvente. Os ambientes são ricos em detalhes e contribuem para a atmosfera densa e imersiva da narrativa. A cinematografia dos planos utilizados é muito bem pensada, com enquadramentos dinâmicos que valorizam a ação e o suspense, criando uma leitura fluida e impactante. Além disso, o belo trabalho de cores complementa perfeitamente o clima sombrio, realçando as emoções e o tom de mistério que permeiam a história. Tudo isso junto resulta numa experiência visual marcante e memorável.

Em termos de edição, o trabalho da editora A Seita é bastante bem conseguido. O livro apresenta capa dura baça e bom papel brilhante no seu interior, bem como um bom trabalho em termos de encadernação e impressão. As dimensões do livro são maiores face àquelas que a editora tem utilizado nos seus outros livros dedicados a Dylan Dog. Em termos de extras, o livro inclui um caderno de 12 páginas, que nos traz desenhos inéditos, um guia das personagens dos universos DC e Dylan Dog e uma galeria das capas alternativas. No início, a edição abre com um prefácio de Luca del Salvio. É uma bela edição, portanto.

Em suma, contra as expectativas mais conservadoras e negativas de muitos leitores que, como eu, se habituaram a ver nascer crossovers fracos que procuravam apenas vender livros apoiando-se em franquias de sucesso, Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego é uma bela surpresa. Não só demonstra a viabilidade de cruzamentos improváveis, como também eleva o género de crossover ao propor algo mais do que uma simples junção de mundos: uma verdadeira história com substância, atmosfera e arte. Mesmo que possa não ser perfeita, é uma leitura recomendada tanto para fãs de longa data de Dylan Dog e/ou Batman quanto para novos leitores. E, com sorte, até pode trazer novos leitores ou para os fumetti, ou para os comics americanos! Boa aposta!


NOTA FINAL (1/10):
8.9





Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego, de Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago - A Seita

Ficha técnica
Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego
Autores: Roberto Recchioni, Werther Dell’Edera e Gigi Cavenago
Editora: A Seita
Páginas: 224, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 20 x 26,5 cm
Lançamento: Março de 2025


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Análise: Dylan Dog - Picada Mortal

Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli - A Seita

Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli - A Seita
Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli

Depois de um ano sem editar qualquer livro de Dylan Dog, a editora A Seita começou 2024 com o lançamento de mais um número para a sua coleção Aleph - dedicada à publicação de fumettis da Bonelli - que já conta com mais de uma dezena de livros publicados. Todos eles - ou quase todos – são dedicados a essa personagem carismática que dá pelo nome de Dylan Dog.

Dylan Dog é, aliás, uma série de culto. Nem toda a gente gosta de Dylan Dog… mas quem gosta, gosta muito. Daí apelidar-se de “série de culto”. E sim, considero-me como pertencente ao culto!

Conhecido como o Detetive do Pesadelo, Dylan Dog é um investigador do paranormal e as suas aventuras levam-nos a cenários, premissas e ideias bastante amplas. Havendo elementos em comum em todas as histórias, como o charme natural de Dylan, as tiradas hilariantes do seu assistente, Groucho, eventos do fantástico e belas mulheres, não deixa de ser verdade que cada história tem a sua própria singularidade. É uma daquelas séries em que é perfeitamente natural que se adore uma história e se odeie outra história.

Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli - A Seita
Neste Picada Mortal, da autoria de Alberto Ostini e Francesco Ripoli, o conceito da história toca temas como a adição e a prostituição, enquanto assenta numa história de paixão, vivida a dois tempos: o tempo presente e os dias da adolescência de Dylan Dog.

A história arranca quando Dylan Dog, procurando um livro na sua biblioteca pessoal, acaba por dar de caras com uma noz que o remete para o passado. Aquela noz tem um significado especial, pois foi-lhe oferecida por Tiffany, uma bela rapariga com quem Dylan viveu um amor de verão na sua adolescência. Uma daquelas histórias que, sendo efémeras, com um princípio e um fim muito fechados em si mesmo, acabam por sempre nos deixar um sorriso na cara quando para elas somos remetidos através da memória. Mesmo que se passem anos ou décadas. E não acontece apenas com Dylan Dog, acontece com todos nós.

Depois de encontrar a tal noz entre os livros, e de um modo algo brusco - e aqui acho que o argumentista Ostini poderia ter imaginado uma forma mais orgânica e/ou credível - Dylan parte para Southeaven, uma pequena província onde conheceu Tiffany. Quando chega à cidade, encontra algo que, certamente, não estava à espera: não só Tiffany passou a ser uma prostituta, como a localidade se tornou num cenário para a prática de crimes hediondos. O assassino é conhecido como “River Man”, pois mata as suas vítimas, todas prostitutas, no rio que passa na localidade.

A presença de Dylan naquela terra faz com que o protagonista mergulhe nas suas memórias ali criadas com Tiffany, levando-nos também a nós, leitores, a esse passado doce, onde o romance era fácil e os planos eram complexos.

Mas, pelo menos pela parte de Tiffany, o passado sempre foi algo triste e pesado em demasia para carregar sozinha. A sua mãe era toxicodependente e prostituía-se com o único intento de amealhar algum dinheiro para a próxima dose. E, com um pano de fundo tão funesto como este, o aparecimento de Dylan Dog, com toda a sua doçura, cavalheirismo e bom trato, foi a lufada de ar fresco que a juventude de Tiffany precisava. Mas, como a vida é feita de encontros e desencontros, no final desse doce verão, Dylan Dog deixou aquela cidade para rumar a Londres. E isso acabou por levar Tiffany a percorrer as pisadas da sua mãe. Tornou-se prostituta e viciada em drogas.

Uma outra coisa interessante do ponto de vista narrativo, é que a história nos vai sendo contada pelo fantasma da própria Tiffany, o que deixa o leitor mais embrenhado em procurar os “porquês” e os “comos” daquilo que há de acontecer na história de Tiffany. Sabemos que a história vai acabar mal, mas não sabemos bem como. Mas será que acaba mesmo mal? Terão que ler o livro para o saber.

Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli - A Seita
Esta é uma bela obra onde o passado e o presente de Dylan Dog e Tiffany são bem explorados, dando-nos uma versão agridoce da sua relação amorosa e uma clara reflexão de como, por vezes, é difícil contrariar o futuro que, teimosamente, a vida parece ter reservado para nós. É mais uma bela história que, quanto a mim, ganharia mais se certos elementos da narrativa fossem menos bruscos. Isto é, aliás, uma crítica que faço a muitos fumetti que já pude ler: as ideias e conceitos narrativos são bons, mas, por vezes, parece-me que, em vez de “bons”, seriam “excelentes” com um pouco de mais aprumo na conceção das histórias. Um exemplo claro disto, é a ida de Dylan Dog de Londres para Southeaven, que já referi acima, mas também poderia dizer que o próprio desenvolvimento da ação e desenlace final, pediam menos brusquidão e mais páginas. Fico sempre com a ideia que, com mais páginas, muitos fumetti seriam (muito) melhores. E Picada Mortal é mais um desses exemplos. A apoteose narrativa sabe a pouco.

Mas não me entendam mal: este é, ainda assim, um bom livro e mais uma boa escolha por parte d’ A Seita. Digo apenas, com pesar, que, por pouco, não é excelente.

Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli - A Seita
Quanto às ilustrações de Ripoli, devo dizer que estamos perante um belo trabalho que faz jus à série. Com um eficaz traço a preto e branco, o autor sabe bem como nos mergulhar na imagética que associamos ao universo de Dylan Dog. Gostei especialmente do aspeto de Tiffany que é muito bela, mas sem ter aquela beleza esperada e já algo forçada da típica “loiraça boazona”. É bom variar, de vez em quando. E a personagem Tiffany é bonita, mas parece, ao mesmo tempo, muito real. Aquela mulher bonita que, de vez em quando, encontramos aqui e ali.

O autor muda o estilo de desenho e a forma das vinhetas quando nos oferece os flashbacks da juventude de Dylan e Tiffany. Algo semelhante ao que Carlo Ambrosini faz no magnífico O Imenso Adeus, que A Seita também já publicou. Aliás, agora que falo nisso, é bastante percetível a tentativa deste Picada Mortal em aproximar-se, quer em termos de ilustrações, quer em termos de argumento, de O Imenso Adeus. Mesmo assim, sendo este Picada Mortal um bom livro, não consegue ser tão bom como O Imenso Adeus, quanto a mim.

Relativamente à edição d’ A Seita, temos um bom trabalho. O livro apresenta capa dura baça, papel decente baço e boa encadernação e impressão. Nota positiva para o facto de, no final, o livro trazer um breve dossier de extras com 4 páginas com esboços e estudos para este livro.

Em suma, é bom verificar que a aposta d’A Seita na série Dylan Dog se mantém ativa. Picada Mortal é mais um bom pretexto para nos encontrarmos com essa personagem carismática, charmosa e romântica que dá pelo nome de Dylan Dog.


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Dylan Dog - Picada Mortal, de Alberto Ostini e Francesco Ripoli - A Seita

Ficha técnica
Dylan Dog - Picada Mortal
Autores: Alberto Ostini e Francesco Ripoli
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 16,5 x 24 cm
Lançamento: Janeiro de 2024

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Dylan Dog está de volta a Portugal!



É mesmo verdade! Depois de um interregno de um ano, Dylan Dog, o herói italiano dos fumetti, volta a ser editado por cá!

E é a editora A Seita que acrescenta mais um título à sua coleção Aleph, toda ela focada em fumetti.

Desta vez, o volume lançado é Picada Morta, que conta com argumento de Alberto Ostini e ilustrações de Francesco Ripoli.

Sendo eu um fã da série e do protagonista da mesma, estou bastante contente com esta retoma!

O livro deverá chegar às livrarias a partir da próxima semana.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.


Dylan Dog #7 - Picada Morta, Alberto Ostini e Francesco Ripoli


Em Southeaven, pequena cidade de província, chamam-lhe River Man, porque este assassino psicopata prefere os cursos de água para matar as suas vítimas, todas prostitutas. 

Tiffany, uma drogada, também ela uma prostituta, viveu em adolescente uma intensa paixão com Dylan Dog. 

Ao procurar um livro no estúdio, o detective do pesadelo encontra uma noz muito particular, e decide tentar reencontrar a sua amiga, depois de tantos anos de ausência, acabando por investigar a morte das mulheres e mergulhar nas memórias distantes de um passado comovente.

Inspirado no romance de Tiffany McDaniel On the savage side, Picada Mortal é a história de uma família disfuncional onde o bem e o mal se encontram entrelaçados de maneira indistinguível, uma combinação complexa que se irá repercutir ao longo dos anos, da infância até à idade adulta. 

À semelhança de O Imenso Adeus (já publicado pela Seita), a narrativa situa-se no passado e no íntimo de Dylan Dog, e desenvolve-se num contexto social dramático onde o protagonista é um vislumbre de humanidade num meio do desespero e cinismo. Uma história sensível e apaixonante pelas suas implicações sociais e pessoais.


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Ficha técnica
Dylan Dog #7 - Picada Mortal
Autores: Alberto Ostini e Francesco Ripoli
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 16,5 x 24 cm
PVP: 14,99€

quinta-feira, 24 de março de 2022

Análise: Dylan Dog - O Número Duzentos

Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi - A Seita

Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi - A Seita
Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi

Ainda durante o último Amadora BD, entre o (muito) generoso conjunto de bandas desenhadas que a edita A Seita lançou nessa altura, estava este Dylan Dog – O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi. Para mim, que sou fã da série, é sempre uma boa notícia saber que a editora publica mais um livro do Detetive do Pesadelo.

Esta é uma história que, remetendo para as origens de Dylan Dog, se torna obrigatória para melhor conhecer esta personagem emblemática, que tanta gente tem encantado ao longo dos anos. Os que já são fãs da série não poderão perder este livro e os que ainda não deram uma hipótese a Dylan Dog, podem muito bem fazê-lo através deste O Número Duzentos.

Neste livro acompanhamos os primeiros passos de Dylan Dog na sua carreira enquanto investigador do paranormal. Todos os inícios são um pouco atabalhoados e é também dessa forma que o protagonista se inicia nos primeiros casos que lhe aparecem. Um pouco sem saber bem como vai ter sucesso com a sua nova opção profissional. Ficamos também a saber como Dylan Dog conhece Groucho e como este se torna assistente do primeiro. Ou como o herói deixa a polícia e se instala na célebre casa de Craven Road.

Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi - A Seita
A história de O Número Duzentos é apresentada como sendo uma sequela de Até que a Morte vos Separe, também publicado em Portugal pela mesma editora. Por isso, reagindo aos eventos dessa história marcante, que culminou na morte de Lillie, o amor da vida do herói, a argumentista Paola Barbato avança a partir desse ponto de perda, para nos mostrar um lado sério e trágico em Dylan Dog, ao desvendarmos que o mesmo atravessa um período em que está totalmente consumido pelo alcoolismo. Para lidar com essa fase de autodestruição, as personagens de Groucho e, especialmente, do Comissário Bloch, assumem bastante relevância. Com efeito, diria até que o Comissário Bloch tem neste livro uma sub-narrativa, só para si, e paralela ao percurso de Dylan Dog, que o torna imprescindível para a história.

Acaba por ser um conto sensível e emotivo, bem construído por Barbato, e que se torna muito relevante para o estreitamento da relação que já temos com Dylan Dog. Se já gostávamos dele, acho que ainda gostamos mais, após a leitura deste livro.

Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi - A Seita
Quanto às ilustrações que nos são dadas por Bruno Brindisi, temos um bom trabalho que cumpre um bom nível ao longo da obra. Não será o Dylan Dog mais bem desenhado ou mais visualmente apelativo de que tenho memória, mas também não há muito em que se lhe possa apontar o dedo de forma negativa. É um desenho bom e eficiente que nos conta bem, em termos gráficos, a história pensada por Barbato.

Devo dizer que a capa deste livro é das coisas mais horríveis que vi nos últimos tempos. O desenho das personagens não é o mais feliz principalmente pelas cores, com demasiado contraste, que fazem com que pareça que Dylan Dog e os seus companheiros apanharam um escaldão na Costa da Caparica. Mas isso ainda é o menos grave. Não consigo lidar com aquele número duzentos no fundo, que parece a numeração de um programa televisivo tipo Preço Certo. E, como se não bastasse, ainda temos um fundo dourado que atribui a esta capa um cariz “azeitolas” como é raro encontrar! 

Não pensem que teço estes comentários para “deitar abaixo”, só porque sim. Não, pois não é esse o meu estilo. Escrevo estes comentários porque, de facto, é uma capa que me mete pena. O interior do livro – que é bom – não merecia uma capa destas. Não me canso de dizer – e de escrever, aqui no Vinheta 2020 – que uma boa capa não faz um bom livro, mas certamente ajuda a cativar o potencial leitor para a compra de um livro. Tal como também ajuda a gostarmos ainda mais de um bom livro. É quase como as relações amorosas. O que mais importa é – ou deveria ser – a beleza interior, mas lá que a beleza exterior também é relevante para a total apreciação do todo, lá isso é verdade! Quero, no entanto, ilibar A Seita da responsabilidade desta capa horrorosa. Falei com um dos editores que me disse que a editora portuguesa até fez um esforço, junto da Bonelli, para que se usasse outra capa. Mas esse esforço foi em vão e A Seita viu-se mesmo obrigada a ter que usar a capa original.

Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi - A Seita
De resto, a edição da editora portuguesa obedece aos padrões que a mesma delineou para a Coleção Aleph: pequeno formato, cada dura, bom papel e boa encadernação. No final do livro há, como extras, um desenho original por Bruno Brindisi, uma ilustração de uma capa de Dylan Dog e uma boa introdução ao livro, por parte do editor João Miguel Lameiras. Tendo em conta que o livro original foi lançado a cores, devo dizer que gostaria de ter experienciado esta obra dessa forma. No entanto, também é verdade que acho que a arte ilustrativa do livro até funciona bem a preto e branco e também compreendo que a editora tenha querido manter a unidade na coleção, já que todos os livros são a preto e branco. Aceita-se a opção d’A Seita.

Em suma, não se sintam dissuadidos com a lastimável capa deste livro, já que este O Número Duzentos é mais uma boa história do Detetive do Pesadelo e que, por ser um álbum que procura sedimentar o background de Dylan Dog, assume uma maior relevância ainda. A história é bastante bem construída e a arte ilustrativa faz-lhe jus. Recomenda-se, pois está claro!


NOTA FINAL (1/10):
8.6



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Dylan Dog - O Número Duzentos, de Paola Barbato e Bruno Brindisi - A Seita

Ficha técnica
Dylan Dog - O Número 200
Autores: Paola Barbato e Bruno Brindisi
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2021

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Lançamento: Dylan Dog - O Número 200



Já se encontra disponível o novo livro de Dylan Dog!

Intitulado O Número 200, este volume, da autoria de Paola Barbato e Bruno Brindisi, publicado por cá pel'A Seita, já se encontra disponível em banca. 

A história é apresentada como sendo uma sequela de Até que a Morte vos Separe, também publicado em Portugal pela mesma editora.

Quanto às livrarias generalistas, só a partir dos finais do mês de Janeiro é que deverão ter o livro disponível para compra.

Abaixo, deixo algumas imagens promocionais e sinopse da obra.
Dylan Dog - O Número 200, de Paola Barbato e Bruno Brindisi

Criado por Tiziano Sclavi, DYLAN DOG é o célebre investigador do paranormal, o Detective do Pesadelo, uma das mais conhecidas personagens de BD de sempre, cujas aventuras ao mesmo tempo aterradoras, inquietantes e melancólicas, têm encantado leitores - e leitoras - em todo o mundo.

No início da sua carreira como detective do pesadelo, Dylan Dog recorria aos dotes “habilidosos” de Groucho... mas tudo muda quando enfrentam o seu primeiro monstro real. E como deixou ele a polícia, mudando-se para a lendária casa de Craven Road? São muitas as revelações inéditas sobre o passado do Detective do Pesadelo que vão descobrir neste volume, em que o leitor fica a saber tudo aquilo que queria mas nunca tinha ousado perguntar.
O título deste volume, O Número Duzentos, remete para o número da edição original italiana em que foi publicada, mas também ao número do prédio onde o Comissário Bloch vive, e que vai ser cenário dos momentos mais decisivos da história. Nesta história, o leitor vai assistir a um conjunto de revelações inéditas: ficaremos a saber como Groucho se tornou assistente do herói, como Dylan se estabeleceu em Craven Road e se tornou um detective do oculto, descobrimos também que caiu no alcoolismo após a morte de Lillie, e que Groucho e Bloch foram decisivos para que Dylan conseguisse libertar-se do vício. Uma história emotiva e absolutamente definidora da trajectória de uma das mais interessantes personagens dos fumetti, e que, embora possa perfeitamente ser lida de forma autónoma, faz também a ponte com outros episódios marcantes da saga do detective do pesadelo, como Até que a Morte vos Separe (de que é de certa maneira uma sequela) e O Imenso Adeus.
Primeira mulher a escrever uma história de Dylan Dog e uma das mais populares e prolíficas argumentistas da série, Paola Barbato nasceu 1971, e desde que se recorda que sempre escreveu. Em 1996, convenceram-na a apresentar os seus trabalhos em várias editoras, incluindo na Sérgio Bonelli Editore, na redacção de Dylan Dog, série de quem era fã. Contactada pelo editor Mauro Marcheselli, veio a escrever um álbum de Groucho, Il cavaliere di sventura, publicado no Speciale La preda umana. A sua entrada na série mensal ocorreu em 1999 com Il Sonno della ragione (#157), e daí para cá, tornou-se numa das principais autoras da série e numa autora fundamental no desenvolvimento do universo dylaniano. Os seus trabalhos para a Bonelli não se esgotam em Dylan Dog, desenvolvendo argumentos para um extenso conjunto de publicações. Foi galardoada com o Prémio Scerbanenco (que premeia romances policiais) pelo seu romance Mani Nude, e por duas vezes com o Gran Guinigi, primeiro na qualidade de melhor argumentista de 2013, e em 2017, com Corrado Roi, com Ut, para melhor série.

Oriundo de uma família de artistas, Bruno Brindisi nasceu em 1964. Autodidacta, com apenas dezanove anos fundou a Scuola Salernitana com Roberto De Angelis e Luigi Siniscalchi, com quem publicou a revista amadora Trumoon. A sua carreira profissional começa em 1986, desenhando histórias eróticas para a Blue Press e a Ediperiodici. Em 1990, com apenas vinte cinco anos, entra na Bonelli, desenhando alguns episódios de Nick Raider, até entrar na equipa de Dylan Dog, série onde se vai estrear com a aventura Il Male, escrita por Tiziano Sclavi. Desenhou inúmeras outras personagens para a editora, e desnvolveu projectos para o mercado franco-belga. Em 2015, foi galardoado com o prémio Romics d’Oro, apenas um de inúmeros prémios e reconhecimentos que recebeu pelo seu trabalho.

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Ficha técnica
Dylan Dog - O Número 200
Autores: Paola Barbato e Bruno Brindisi
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 13,00€

terça-feira, 4 de maio de 2021

Análise: Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador



Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador, de Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri, Daniele Bigliardo, Mauro Boselli e Bruno Brindisi

Quando, em 2017, a Sergio Bonelli decidiu fazer um crossover com duas das suas personagens mais emblemáticas, Dylan Dog e Dampyr, certamente foram muitos os fãs que ficaram radiantes com esta opção. Até porque, na verdade, a editora nunca tinha feito um verdadeiro crossover, isto é, a junção de duas personagens de universos diferentes numa só história. Contrariamente ao mercado americano, onde os crossovers são mais do que habituais, no mercado europeu é algo bem mais raro de acontecer. Portanto, acho que a iniciativa demonstrou coragem e modernidade por parte da editora. 

E embora a minha primeira reação a esta iniciativa tenha sido: “Porreiro, e faz sentido com estas duas personagens”, a verdade é que, vendo bem, até são personagens de universos bastante distintos. Dylan Dog é uma personagem que se move num mundo que considero filosófico, onírico e, até mesmo, poético. Com uma premissa tão aberta como sendo o “detective do pesadelo”, há abertura para uma variedade enorme de situações e aventuras. Já quanto a Dampyr, estamos perante um herói muito mais clássico no seu cerne e que se move num universo com regras e barreiras muito mais específicas e previamente delineadas.

Por este motivo, e com alguma pena minha, parece-me que este crossover assume-se mais como um “Dampyr convida Dylan Dog”, do que o contrário. Ou seja, este O Detective e o Caçador parece-se mais com um clássico livro de Dampyr. A grande diferença é que, neste caso, Dylan Dog aparece como convidado. Como sou muito mais fã de Dylan do que Dampyr, tive alguma pena que assim fosse. Mas, tal como já disse, também compreendo que os envolvidos nesta obra tenham feito esta opção, pois seria mais fácil trazer Dylan Dog para o universo mais fechado de Dampyr, do que o oposto.

Se Dylan Dog é detective do pesadelo, Dampyr é filho de uma humana e de um vampiro e, por ter essa mistura rara, o seu sangue é letal para matar vampiros. O que faz dele um guerreiro verdadeiramente poderoso e temível pelos seus inimigos.

A história, que mais para o fim, especialmente no segundo livro, se torna demasiado rocambolesca, arranca em Londres quando vários vampiros invadem de surpresa um baile de máscaras e começam a fazer vítimas. Entretanto, o maquiavélico Lordbrok – retirado do universo de Dampyr – tem planos nefastos para com o mundo e para com o seu rival Marsden que, nesta aventura, faz com que Harlan Draka, Dampyr, seja involuntariamente seu aliado na luta contra Lordbrok. Dampyr faz-se acompanhar por Kurjak e Tesla. Já do lado do universo de Dylan Dog, aparece-nos o irresistível Groucho e o malvado inimigo John Ghost também faz uma aparição. As belas mulheres que, naturalmente, se apaixonam por Dylan Dog também não faltam. No primeiro livro é a bela Lagertha – cujo aspeto há-de ter sido inspirado em Angelina Jolie – que encanta o detetive do pesadelo. No segundo livro é Selkie com quem Dylan estabelece (mais) um breve romance.

A narrativa arranca com uma fantástica cena de ação e sabe colocar muito bem Dampyr no caminho de Dylan Dog (ou será o oposto que acontece?). De uma forma natural as duas personagens vêem-se na necessidade de trabalharem juntas, mesmo sendo bastante diferentes entre si. Essa dinâmica aparece especialmente bem trabalhada no primeiro álbum, sublinhando as diferenças de ambas as personagens na abordagem aos eventos com que se deparam: Dylan Dog é um romântico e uma persona algo frágil, enquanto que Dampyr é um guerreiro-nato e pragmático, que passa rapidamente para a ação.

Um destaque tem que ser dado a Groucho que aparece em ambos os livros com tiradas muito divertidas, que melhoram a leitura da obra. Diria até que foi a personagem mais bem trabalhada por ambos os autores. Ainda mais do que os dois heróis protagonistas! Interessante também é a dinâmica entre Kurjak – um autêntico brutamontes – e Groucho, que tão bem representa a função de comic relief. Muito bem conseguido.

Depois, e eventualmente, à medida que os eventos se vão desenrolando, ambos os protagonistas têm que ceder um ao outro: Dylan Dog acaba por perceber que os métodos agressivos e pragmáticos de Dampyr são muitas vezes a forma mais eficaz de lidar com o mal. Todavia, em sentido contrário, Dampyr também irá descobrir que há nobreza nos métodos ponderados e sentido de justiça de Dylan Dog.

Há uma coisa que convém desde já dizer e que se torna muito relevante para a análise deste duplo lançamento: é que, o facto deste O Detective e o Caçador ter duas equipas criativas independentes entre si, faz com que ambos os livros difiram muito entre si mesmos. Não só em termos de ilustração (já lá irei) mas, também, em termos de argumento. 

É certo que a história do primeiro livro tem continuação no segundo, mas é uma continuação demasiado livre. Como se a obra se tratasse dum exercício criativo em que os argumentistas de ambos os livros, Roberto Recchioni (que é ajudado por Giulio Antonio Gualtieri ) e Mauro Boselli combinassem entre si, “eu levo a história até aqui… e depois disso faz o que quiseres com a mesma”. Se isso traz alguns elementos de surpresa à trama, devo dizer que o segundo livro é manifestamente inferior em comparação com o primeiro. Parece-me até que a história no segundo volume resolve a trama de uma forma algo preguiçosa, apoiando-se na introdução de vikings mortos-vivos, dragões e demais elementos que acabam por ser inseridos de uma forma algo forçada, sem grande linha condutora. No primeiro livro, como a história ainda nos está a ser apresentada aos poucos, está mais conseguida e funciona melhor. E não me refiro apenas à construção do argumento porque mesmo na construção dos próprios diálogos, a obra apresenta-se menos inspirada no segundo livro.

E, claro, as diferenças não se sentem apenas em termos de argumento. Na parte ilustrativa, as diferenças também são gritantes. Enquanto que Daniele Bigliardo nos dá um trabalho soberbo no primeiro livro, com as personagens, com trato realista, a parecerem que querem sair das páginas do livro, e onde o autor também apresenta um ótimo domínio da luz, dos altos contrastes, das cenas de ação, dos planos de câmara e enquadramentos; Bruno Brindisi, por sua vez, oferece-nos uma ilustração mais clássica, menos estilizada e impactante. Pobre nos detalhes, por vezes até parece ter sido feita algo “à pressa”. Não é que seja má, mas fica, indubitavelmente, muito aquém da arte de Daniele Bigliardo. E ainda que haja um esforço por continuidade na caracterização gráfica das personagens – especialmente das principais – a própria ilustração de algumas personagens, com destaque para os inimigos, por vezes afasta-se entre ambos os livros.

Quanto à edição, a editora A Seita preparou uma edição em linha com os outros livros da sua Coleção Aleph: boa encadernação, capa dura e papel baço. Há também uma entrevista com os argumentistas que está dividida entre os dois livros. 

Mas claro que, em termos de edição, o destaque principal tem que ser dado às fantásticas capas que, quando colocadas ao lado uma da outra, formam uma bonita ilustração entre si. Como se fossem duas peças para um puzzle. No primeiro livro temos Dylan Dog em primeiro plano e, lá em cima, no título temos “Dylan Dog & Dampyr”, como se fosse o primeiro que convida o segundo. No segundo livro temos todos estes elementos inversamente colocados: Dampyr é que aparece em primeiro plano e no título aparece “Dampyr & Dylan Dog”. São duas capas espetaculares que, juntas, tornam os dois “objetos-livro” ainda mais colecionáveis e verdadeiramente apetecíveis. Julgo que A Seita foi inteligente ao escolher esta opção de capas pois dificilmente um leitor só comprará um dos livros.

Concluindo, acho que mais do que uma oportunidade para que os fãs de Dylan Dog conheçam Dampyr, esta obra dupla permite, acima de tudo, que os fãs de Dampyr possam acolher nas páginas do seu herói, a personagem maravilhosa de Dylan Dog, que vem muito bem acompanhada por Groucho. O Detective e o Caçador ficou um pouco aquém das minhas expetativas – mais pela divisão de tarefas entre autores do que por outra coisa - mas não deixa de ser uma boa iniciativa da Sergio Bonelli. E o final da obra deixa uma porta aberta para que uma nova aventura com Dylan Dog e Dampyr possa ocorrer no futuro. A ver vamos.

Desta vez, embora ambos os livros formem um todo, parece-me que a diferença de qualidade por mim percepcionada, merece notas distintas. 


NOTA FINAL LIVRO 1: A Noite de Dampyr: 8.4
NOTA FINAL LIVRO 2: O Detective do Pesadelo: 6.8


NOTA FINAL dos 2 ÁLBUNS (1/10):
7.6



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Fichas técnicas
O Detective e o Caçador vol. 1: A Noite do Dampyr
Autores: Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri e Daniele Bigliardo
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021


O Detective e o Caçador vol. 2: O Detective do Pesadelo
Autores: Mauro Boselli e Bruno Brindisi
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Lançamento: Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador





Já estão disponíveis os dois álbuns que correspondem ao crossover entre as personagens do fumetti, Dylan Dog e Dampyr, e que assinalam uma interessante aposta dupla da editora A Seita.

O primeiro tomo chama-se O Detective e o Caçador Vol. 1: A Noite do Dampyr e o segundo volume intitula-se O Detective e o Caçador Vol. 1: O Detective do Pesadelo. Uma coisa curiosa é que as equipas criativas mudam: no primeiro livro temos o argumento a cargo de Roberto Recchioni e Giulio Antonio Gualtieri, com desenho de Daniele Bigliardo; e no segundo livro o argumento é de Mauro Boselli e arte ilustrativa fica a cargo de Bruno Brindisi. 

Desde já, destaca-se a capa conjunta que os dois álbuns, alinhados um ao outro, completam entre si. Fantástica ideia.

Abaixo fiquem com a nota do editor e com algumas imagens promocionais.


Dylan Dog / Dampyr - O Detective e o Caçador, de Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri, Daniele Bigliardo, Mauro Boselli e Bruno Brindisi 

Um vive em Londres e é um detective do pesadelo, investigador do paranormal, melancólico, introspectivo e sonhador. 

O outro é filho de uma humana e de um vampiro, e viaja pelo mundo para combater o mal, utilizando o seu sangue letal, capaz de queimar e matar os vampiros. 

Nunca se tinham cruzado, porque o mundo é demasiado grande e os seus mistérios infindáveis. Até ao Verão de 2017, quando a Sergio Bonelli Editore publicou o seu primeiro crossover, uma aventura que junta Dylan Dog e Dampyr numa luta lado a lado contra as criaturas do Mestre da Noite Lodbrok!

Harlan Draka, o Dampyr, e Dylan Dog, cruzam-se finalmente a tempo da chegada de um conjunto de visitantes estranhos – e perigosos! - a Craven Road, que irão mergulhar Londres no terror. E qual o papel do temível Lodbrok, um dos arqui-vampiros que Draka persegue incansavelmente? Dylan Dog acaba por fazer uma promessa que não pode quebrar à morta-viva Lagertha, inimiga jurada de Harlan Draka, o caçador de vampiros. Nas remotas ilhas Hébridas, para onde viajaram em busca de resolver o mistério de Lodbrok, o Senhor da Noite, os nossos dois heróis terão de sobreviver a uma multidão de personagens horrendas, dragões, vikings mortos-vivos, e outras criaturas sobrenaturais.

Esta história, que junta Dylan Dog e Dampyr, duas das mais emblemáticas personagens da Sergio Bonelli Editore, foi o primeiro crossover jamais criado pela editora (já tinham existido alguns team-ups, em que personagens diferentes tinham aparecido nas revistas umas das outras). Assim, esta aventura que junta o detective do pesadelo ao caçador de vampiros acabou por ser uma grande estreia, e o evento dos fumetti do Verão de 2017 em Itália, uma vez que a história foi dividida por duas revistas diferentes, iniciada em Dylan Dog #371 e concluída em Dampyr #209.

Dylan Dog e Dampyr são, no entanto, bem diferentes enquanto personagens e séries. Numa entrevista concedida há uns anos, Mauro Boselli sublinhou que no caçador de vampiros sobressai um lado algo realista, uma vez que as suas aventuras devem dar a ilusão de que acontecem no nosso mundo, na nossa realidade. Ao contrário do que acontece com Dylan Dog, onde o fantástico pode ser apresentado repetidas vezes com contornos menos realistas e onde tudo é possível. 
Por seu lado, Roberto Recchioni acrescenta que a maneira como os dois heróis lidam com o horror também é diferente: de um lado a dureza e intransigência de um Dampyr pragmático frente aos monstros, qual herói clássico, em contraponto com a visão mais irónica, romântica e empática de Dylan Dog, anti-herói por excelência ou herói por acaso, que diz que os verdadeiros monstros somos nós, os seres humanos.

Duas personagens com pouco em comum, mas com um importante ponto de ligação entre ambas: o horror dos ambientes em que se movem. Como tal, não é de estranhar que, mais tarde ou mais cedo, acabariam por aliar forças, o que só não tinha acontecido antes porque, a acreditar nas palavras de Dylan, “o mundo é demasiado grande”.

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Fichas técnicas
O Detective e o Caçador vol. 1: A Noite do Dampyr
Autores: Roberto Recchioni, Giulio Antonio Gualtieri e Daniele Bigliardo
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 13,00€

O Detective e o Caçador vol. 2: O Detective do Pesadelo
Autores: Mauro Boselli e Bruno Brindisi
Editora: A Seita
Páginas: 104, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 13,00€