Mostrar mensagens com a etiqueta Lewis Trondheim. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Lewis Trondheim. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 6 de março de 2024

Análise: Mulher Vida Liberdade

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House
Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores

Este é um livro de forte mensagem política, como se de um statement de resistência se tratasse, e que, até por esse bom motivo, em boa hora foi lançado em Portugal. E a proeza de tal feito coube à editora Iguana que, como tenho vindo a dizer, e de forma gradual, começa a tornar-se mais relevante no lançamento de banda desenhada de qualidade.

Mulher Vida Liberdade é um esforço criativo conjunto, orquestrado por Marjane Satrapi, a célebre autora de Persépolis, que junta um alargado conjunto de autores para assinalar, acusar, testemunhar e relatar o constante ataque aos direitos humanos, especialmente os das mulheres, que continua a ser feito no Irão. Por tudo isto, mais do que um livro de banda desenhada, Mulher Vida Liberdade é uma afirmação político-cultural. De um conjunto de autores que procura chamar a atenção do mundo para a triste realidade que ainda se vive no Irão. E cabe a nós, leitores, inteirarmo-nos pelo assunto, divulgando-o e, já agora, e se possível, tomando ação.

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House
Portanto, com tamanhos propósitos, talvez a análise à arte e argumento deste livro, que é dividido por um grande conjunto de curtas histórias de BD, seja o mais acessório e irrelevante que posso fazer. Logicamente, com a participação de nomes sonantes da banda desenhada, como Joann Sfar, Lewis Trondheim ou Paco Roca, entre outros, é fácil para um leitor de banda desenhada sentir o seu interesse neste livro a crescer. Até porque são várias as abordagens e tipos de desenho que nos são dados, naturalmente.

A ignição para todo este movimento, que tem crescido em força, deu-se quando, a 16 de Setembro de 2022, Mahsa Amini, uma jovem mulher iraniana, foi espancada pela “Polícia dos Costumes” no Irão (sim, eles têm disso no Irão), pela única razão de não estar a usar o véu de forma correta. Whatever that means, como se diz em inglês. Depois do espancamento, Mahsa Amini não conseguiu resistir aos ferimentos e acabou por se tornar numa mártir e numa heroína pela luta dos direitos das mulheres no país. Passou a ser o símbolo desta luta pela Mulher, pela Vida e pela Liberdade. Esse foi, aliás, o slogan político que acabou por ser usado neste movimento pela independência curda que procura, acima de tudo reconhecer a importância da mulher. E que também dá nome a este livro.

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House
Mas resumir esta Luta apenas ao nome de Mahsa Amini, será por demais redutor e, de certa forma, também é isso que este livro procura demonstrar: que são muitas as caras e os nomes que se têm rebelado contra o regime autoritário e castrador de princípios básicos dos direitos humanos que é o Estado do Irão. Assim, o livro está dividido por breves contos que procuram demonstrar e esquematizar vários momentos e pessoas desta Luta do povo iraniano. Para tal, Satrapi reuniu três especialistas no assunto (Farid Vahid, Jean-Pierre Perrin e Abbas Milani) que assumem a quase totalidade dos argumentos.

Cada um desses breves contos é depois ilustrado por um autor diferente, sendo que alguns dos participantes ilustram mais do que uma mera história. No total, são 17 os autores que colaboram neste livro.

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House
Apreciei especialmente os contributos de Mana Neyestani - que muito me surpreendeu, também, em Uma Metamorfose Iraniana, editado pela Levoir - de Paco Roca, de Patricia Bolaños, de Lewis Trondheim e de Deloupy. 

Já em relação à colaboração de Sfar, não fiquei tão empolgado, uma vez que o autor apenas se limitou a ilustrar um longo diálogo entre Satrapi, Jean-Pierre Perrin, Milani e Farid Vahid. Por muito interessante que seja este diálogo com mais de 30 páginas, e é, o facto de as ilustrações serem apenas das quatro individualidades sentadas, numa esplanada, a conversar, sem que haja lugar a diversidade ou outro tipo de dinâmica, tornou esta última parte do livro bem abaixo das minhas expectativas. 

Marjane Satrapi não é apenas a "coordenadora" deste livro e também faz a sua contribuição. Mas, também neste caso, a autora deixou-me algo desiludido, pois limitou o seu contributo apenas a alguns textos e a uma ilustração o que, quanto a mim, foi manifestamente pouco, embora, claro está, a autora mereça as minhas vénias por ter encabeçado a feitura/curadoria do livro em si.

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House
De resto, devo dizer que há muitas histórias curtas/contributos que me impressionaram pela positiva. Lamento que algumas participações sejam demasiado breves, tendo apenas uma ou duas páginas. No entanto, outras há que têm mais páginas e permitem uma maior imersão do leitor naquilo que nos é contado.

Em termos de edição, a Iguana dá-nos aqui um trabalho exemplar que apresenta capa dura, com textura aveludada, bom papel baço e um excelente trabalho de encadernação e impressão. Também pela relevância dos testemunhos aqui presentes, parece-me legítimo afirmar que o trabalho de edição da Iguana sai reforçado com a aposta nesta obra. Para além das histórias em banda desenhada, o livro também é complementado por alguns textos de apoio que procuram iluminar os leitores acerca dos principais acontecimentos históricos e culturais do Irão. O que é uma mais valia, sem dúvida.

Portanto, em suma, esta é uma boa aposta da editora Iguana num livro que, acima de tudo, está carregado de uma mensagem política que convém que o mundo ocidental não esqueça. Recomenda-se a sua leitura.


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores - Iguana - Penguin Random House

Ficha técnica
Mulher Vida Liberdade
Autores: Marjane Satrapi e vários autores
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2023

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Iguana lança novo livro de Marjane Satrapi, autora de Persépolis!



E é um livro que, para além de Satrapi, conta com o contributo de Paco Roca, Lewis Trondheim, Joann Sfar, e mais 14 talentos da banda desenhada mundial!

A Iguana está finalmente a entrar em força no lançamento de banda desenhada com selo de qualidade!

Não tenho dúvidas de que este será um dos livros de banda desenhada mais comentados do ano. E, se ontem elogiei a Levoir por lançar em Setembro dois livros sobre a situação que se vive no Irão, acho que a Iguana também está de parabéns por esta aposta, que se reveste de uma grande relevância para mostrar ao mundo ocidental - e, em particular, aos leitores portugueses - a atualidade político-social do Irão

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.

Mulher Vida Liberdade, de Marjane Satrapi e vários autores

Os desenhos da revolta iraniana: Marjane Satrapi juntou grandes nomes da BD no livro "Mulher Vida Liberdade"

Autora de Persepolis dá corpo aos heróis desconhecidos que fazem a história da revolta iraniana. Com base nos textos de três especialistas (um historiador, um politólogo e um jornalista), e através dos desenhos de 17 dos maiores talentos da banda desenhada, como Paco Roca ou Lewis Trondheim, este é um livro que dá a conhecer o movimento que reacendeu o debate sobre os direitos humanos.

«Um livro-ovni, um livro-evento, escrito com urgência e paixão, raiva e fraternidade» LE MONDE

Para marcar o aniversário da morte da iranaiana Mahsa Amini e o começo do movimento MULHER VIDA LIBERDADE, um livro com a visão de dezassete ilustradores reconhecidos mundialmente e três especialistas sobre o Irão, sob a coordenação de Marjane Satrapi.

Em 16 de Setembro de 2022, Mahsa Amini, uma jovem estudante iraniana, foi detida e espancada até à morte pela polícia religiosa em Teerão. O seu único crime foi não usar o lenço imposto às mulheres pela República Islâmica. O destino desta mulher de 22 anos desencadeou uma onda de protestos sem precedentes que rapidamente se espalhou por todo o país.

Por ocasião do primeiro aniversário do movimento, Marjane Satrapi reuniu alguns peritos e cartoonistas. Juntos, querem mostrar o que não pôde ser fotografado ou filmado devido à censura.

-/-

Ficha técnica
Mulher Vida Liberdade
Autores: Marjane Satrapi e vários autores
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 27,75€






quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Análise: Stay

Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard - Magnetic - Review

Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard - Magnetic - Review
Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard

Eis um bom exemplo de um livro que se compra devido a uma boa capa. Depois de um primeiro contacto com a bela capa deste livro, fiquei com vontade de o folhear. À medida que o folheei, fiquei agradado com as ilustrações. E, pronto, o processo foi tão simples quanto isso. E, claro, o nome de Lewis Trondheim, um dos grandes mestres da banda desenhada europeia, também fez com que o meu interesse aumentasse mais, concedo.

Lançada originalmente pela editora francesa Rue de Sèvres, com o título Je Vais Rester, foi a versão americana da obra, editada pela editora Magnetic, e comprada na livraria Dr. Kartoon, que tive a oportunidade de ler.

E em boa hora o fiz! Stay é uma magnífica e bela banda desenhada, que nos deixa a refletir sobre a vida, a morte e o luto. Uma verdadeira viagem ao âmago da vida, que muito me cativou. A meu ver, merecia uma versão portuguesa. Quem sabe, não existe uma editora portuguesa que aposte nesta bela obra? Estou certo que poderia agradar a muita gente.

Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard - Magnetic - Review
A história centra-se num casal, formado por Fabienne e Roland, que parte para uma semana de férias, junto à praia. Roland é um daqueles homens super organizados que estudou e preparou as férias com a sua esposa ao mais ínfimo detalhe, organizando programas para todos os dias e pagando pelos mesmos em adiantado. Deixou, até, todo um itinerário das férias registado num caderno. Mas nem tudo pode ser programado! E a prova disso é que, mal o casal chega ao destino idílico que escolheu para as suas férias, desenrola-se um acontecimento irrevogável e chocante que deixa Fabienne sozinha, sem a companhia do seu marido. Tudo levaria a crer que, após determinado acontecimento, que opto por não referir, ela voltaria a casa, mas, por ventura, e inexplicavelmente para alguns, Fabienne decide continuar a sua semana de férias e cumprir o programa previamente pensado por Roland. Sente-se atónita e só, não sabendo lidar com a situação, é certo, mas, talvez por essa mesma razão, ocupa o seu tempo, cumprindo aquilo que estava estipulado. Como se estivesse em negação. Acaba por conhecer um vendedor local, Paco, com uma forma muito peculiar de olhar para vida e para a morte. Fabienne vai mentindo acerca da ausência do seu marido, mas Paco acaba por juntar as peças. E em vez de confrontar Fabienne, Paco, acaba por oferecer um apoio silencioso, cheio de compaixão.

Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard - Magnetic - Review
Onde Stay consegue ser singular e profundo, é mesmo na forma, extremamente sensível e madura, como consegue mergulhar-nos na vivência psicológica da protagonista. Não há manuais de como lidar com uma perda tão grande como a vida de alguém e, nisso, esta obra consegue ser especialmente bela. Como é que cada pessoa lida com as grandes dores da vida? Há um manual? Há um certo e um errado? Qual será a reação normal e anormal?

As ilustrações são asseguradas por Hubert Chevillard, cujo traço semi-caricatural, captura visualmente a dualidade entre a aparente normalidade das cenas turísticas que envolvem Fabienne e a profundidade emocional que habita o interior da personagem. 

O estilo de desenho lembrou-me, por exemplo, Cyril Pedrosa, em Portugal. É um estilo de desenho sensível e genuíno, que se encaixa que nem uma luva na tónica agri-doce do argumento de Trondheim.

Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard - Magnetic - Review
Em termos de planificação, a obra apresenta as vinhetas de uma forma algo rígida, com seis vinhetas por prancha, embora surjam, amiúde, belíssimas ilustrações que ocupam uma só página e que conferem o dinamismo necessário ao natural ritmo de leitura. Já a paleta de cores, que apresenta belos tons amarelados e quentes, coaduna-se simbioticamente nos dias do calor de verão vivido.

A edição da Magnetic, apresenta capa dura baça, com os cantos arredondados, que me agradou especialmente, e bom papel brilhante. A encadernação e impressão são de excelente qualidade.

Resumindo, Stay é um belo livro que aborda a vida e a morte, de uma forma pouco convencional, explorando os diferentes processos e modos de enfrentar a dor e que, nem sempre, correspondem às expetativas da sociedade. Uma obra simples, singela e genuína, mas onde abunda e impera uma grande dose de emoção e de reflexão!


NOTA FINAL (1/10):
9.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Stay, de Lewis Trondheim e Hubert Chevillard - Magnetic - Review

Ficha técnica
Stay
Autores: Lewis Trondheim e Hubert Chevillard
Editora : Magnetic
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2019

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Análise: As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis!


As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis!, de Lewis Trondheim

As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis! é uma das apostas recentes da editora portuguesa Ala dos Livros. E, por ventura, é uma aposta que surpreendeu bastantes leitores. Não tanto por ser uma obra que carece de qualidade – sobre isso falarei no texto que se segue – mas, especialmente, por ser um livro e uma proposta que fogem um pouco ao cariz mais clássico da editora, no que ao catálogo diz respeito.

Afinal de contas, este As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis! assume-se como uma incursão inusitada, moderna e divertida no universo de Astérix. Assim sendo, e mesmo que este não seja um “Astérix Visto Por”, bem que o podia ser, se tivermos presente que o autor, o incontornável Lewis Trondheim, presta aqui uma sentida, inspirada e divertida homenagem a esse herói maior da banda desenhada franco-belga.

É claro que, para o fazer, parte da sua personagem Lapinot, o coelho, que acorda no meio de uma floresta sem perceber o que se está a passar e dá de caras com Obélix. Este, por sua vez, começa a tratá-lo por Astérix. Lapinot não compreende o porquê da situação e tenta argumentar que ele não é Astérix. Que se trata de um erro, de uma confusão. Mas ninguém aparenta querer saber disso. Aliás, não é só Obélix que vê Astérix em Lapinot porque na verdade, muitas das personagens que celebrizaram a série original, como Ideiafix, Panoramix, Matasetix ou os imprescindíveis legionários romanos, sempre que olham para Lapinot, veem o Astérix e não o coelho. Quem tem o privilégio de o ver é apenas o leitor. Pelo menos, inicialmente.

O livro funciona bem por ter um bom conjunto de inside jokes, que os conhecedores da série Astérix saberão apreciar. Trondheim aplica uma boa dose de humor, conseguindo não cair nunca na troça alheia. Isso poderia ter-lhe ficado mal, quanto a mim. Mas a verdade é que não é coisa que aconteça. Ao invés, não restam dúvidas de que o autor é um enorme fã de Astérix, e dos seus autores Uderzo e Goscinny, e quer com este álbum fazer a sua devida homenagem. O resultado é um tributo divertido, leve e bem-disposto, que acaba por tomar forma numa sentida homenagem.

Outra coisa divertida é que, ao contrário das outras personagens, Lapinot parece saber estar dentro de uma banda desenhada fazendo, por isso, inúmeras referências à própria BD de Astérix. Isso traz-nos uma meta-comunicação na história, que pode ser esmiuçada a dois diferentes níveis: o nível da própria história principal e o nível do diálogo secundário que Lewis Trondheim, através de Lapinot, parece querer encetar com o leitor.

A narrativa de Por Tutatis! é conduzida de forma fluída, com diálogos bem construídos e uma mistura equilibrada de momentos cómicos. Trondheim tem um estilo de escrita ágil e uma habilidade especial para criar situações absurdas e divertidas. Ao mesmo tempo, consegue ir um pouco mais longe e abordar algumas questões mais profundas, que nos deixam a pensar sobre a lógica, a relevância e o legado deixados por Uderzo e Goscinny.

Posso dizer-vos também que há muito tempo que um livro de BD – especialmente que envolvesse as personagens de Astérix – não me deixava a rir como este Por Tutatis!

O desenho do autor é simples e linear e, mesmo sem encantar, cumpre muito bem os seus propósitos. O estilo é minimalista, mas capta bem as expressões. Por vezes, pode parecer algo arcaico em demasia na composição, especialmente na própria construção visual do protagonista, Lapinot, para o meu gosto. Mas, lá está, tenho que reconhecer que a atmosfera descontraída do autor e da história com que aqui nos brinda, encaixa mais do que bem neste tipo de ilustração.

Este é um livro que faz parte da coleção As Novas Aventuras de Lapinot, sendo o sexto volume da série. Se pode ser estranho que a editora portuguesa tenha começado por editar uma coleção a partir do sexto volume da mesma, considero que se compreende a decisão na aposta num livro que, por prestar homenagem a Astérix, terá certamente a vantagem de chegar a mais público. Não tenho dúvidas de que foi algo bem pensado por parte da editora. Além do mais, como esta coleção é composta por álbuns auto-conclusivos, não se perde nada, em termos de história, por começarmos com o sexto volume.

De resto, a edição da Ala dos Livros é bastante competente, apresentando capa dura baça, bom papel couché e um bom trabalho de edição e impressão. Nota positiva para o facto de o livro trazer um autocolante em que se passa a mensagem de que “isto não é um álbum de Astérix”. Sendo uma afirmação verdadeira, considero que funciona também como teaser, já que, face a uma capa destas e com este autocolante, a tendência é querer pegar no livro e ver do que, afinal, se trata.

Em suma, posso dizer que a obra funciona especialmente bem por não tentar ser um álbum de Astérix – o próprio autocolante do livro assim o sublinha. Se a pretensão do autor fosse fazer um mero pastiche, o resultado não seria, certamente, tão agradável. Mas como esta é, afinal, uma divertida, inteligente e bem-disposta homenagem a uma das séries mais célebres de banda desenhada em todo o mundo, acaba por ser uma boa proposta.


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-


Ficha técnica
As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis!
Autor: Lewis Trondheim
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 21,7 x 28,8
Lançamento: Março de 2022

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ala dos Livros vai lançar um livro de homenagem a Astérix!



Eis um dos livros que promete ser um dos mais comentados do ano!

Não há volta a dar! Goste-se ou não, Astérix é um dos nomes (marcas, franquias, séries, o que lhe quiserem chamar) mais relevantes da banda desenhada em todo o mundo! E Portugal não é exceção!

Todos os anos em que há novo Astérix, invariavelmente, é esse o livro que mais vende.

Portanto, o novo livro que a Ala dos Livros se prepara para lançar - e que não é bem um "Astérix de autor" uma vez que nem a personagem de Astérix, propriamente dita, entre neste livro (embora entre um Obélix que se chama Astérix) é, ainda assim, a homenagem que Lewis Trondheim, um autor incontornável da banda desenhada europeia, fez a Astérix.


Falo do livro As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis! que deverá chegar às livrarias a partir do próximo dia 18 de Abril.

É uma das grandes apostas da editora para este ano!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais da mesma.

As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis!, de Lewis Trondheim

Atónito, Lapinot acorda no meio de uma floresta e não quer acreditar naquilo que os seus olhos vêem e muito menos no que os seus ouvidos ouvem… um homenzarrão, bem constituído e forte, que veste bragas às riscas azuis e brancas, que tem tranças e usa um capacete na cabeça… chama-lhe «Astérix»! 

Lapinot ignora-o, quer prosseguir o seu caminho, mostra-lhe as suas orelhas, mas dá de caras com uma patrulha de legionários romanos e fica ferido… e em condições de ser levado até à aldeia gaulesa - onde é tratado por Panoramix, que obviamente lhe dá a beber a poção mágica. 

E é nessa altura que Lapinot se convence: parece que desta vez foi teletransportado até à aldeia dos irredutíveis gauleses e, o que é ainda mais estranho, parece que Tutatis anda por lá!

Com vários níveis de leitura, susceptível de agradar a várias gerações de leitores, “As Novas Aventuras de Lapinot ? Por Tutatis” é uma história bem humorada e bem contada, onde Trondheim aborda temas diferentes e questiona o verdadeiro e o falso, o possível e o improvável.

-/-

Ficha técnica
As novas aventuras de Lapinot - Por Tutatis!
Autor: Lewis Trondheim
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 21,7 x 28,8
PVP: 15,50€



segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Análise: Mickey Horrifikland



Mickey Horrifikland – Une Térrifiante Aventure de Mickey Mouse, de Lewis Trondheim e Alexis Nesme

Começo esta análise com um lamento: que pena tenho eu que este Mickey Horrifikland não tenha versão em português! É com quase pesar, que assinalo isso, pois este é um daqueles livros mágicos, com uma arte assombrosamente magnífica e uma história, bem equilibrada, que certamente deixará maravilhados todos os fãs da Disney. 

E é pegando neste assunto, os “fãs da Disney”, que pergunto: quem são as pessoas que são fãs de banda desenhada e não são fãs da Disney? Será, sequer, possível existirem fãs de banda desenhada que tenham passado ao lado do enorme legado Disney? Quem são os leitores de bd que não reservam na sua memória um espaço para os “livros do tio patinhas”, como nos habitámos a chamar? Mesmo que, pelo amadurecimento natural dos nossos interesses, tenhamos deixado um pouco de lado os livros do “tio patinhas”, acho que um convite a navegarmos novamente por esse universo mágico, que moldou o nosso imaginário desde tenra idade, é sempre uma oferta que não podemos recusar, como diria Don Corleone em O Padrinho, certo?

E essa é a proposta deste Mickey Horrifikland dos autores Lewis Trondheim e Alexis Nesme. E, sem exageros, considero esta obra um livro de sonho pois, de facto, é tudo aquilo que eu, um leitor que há muito não lê banda desenhada da Disney, poderia sonhar!

Vamos por partes.

A história apresenta-nos as personagens Mickey, Donald e Pateta que têm uma agência de detetives que vive nas ruas da amargura, por manifesta falta de clientes. Até que aparece uma cliente cujo gato tinha desaparecido desde que tinha entrado no abandonado parque de diversões "Horrifikland". Este é um parque fantasmagórico, repleto de muitas atrações, há muito deixadas ao abandono, para onde os nossos heróis se verão forçados a ir, apesar dos claros receios de Donald. 

Esta é, pois, uma história de terror, mas não um terror “a sério”. Diria que é um terror “à Disney”. Pois mesmo que Horrikland apresente um ambiente que poderia ter sido retirado do universo gótico de Tim Burton em The Nightmare Before Christmas ou The Corpse Bride, a assinatura Disney está bem presente. E afinal de contas, é uma história suave e leve que pode ser lida por miúdos e graúdos. Há elementos assustadores, mas sempre numa medida suave, que ainda por cima, é atenuada com várias tiradas cómicas, sobretudo do Donald, também elas bem conseguidas.

À semelhança das histórias de Scooby Doo em que nem sempre aqueles que pareciam maus eram os verdadeiros vilões, também aqui o enredo está bem construído, levando Mickey e Companhia a inúmeras peripécias, encontros e desencontros e algumas surpresas no final. Se a narrativa apresenta solidez e uma história tipicamente Disney, que não desiludirá os fãs do género, a arte é qualquer coisa de espetacular!

Quanto às ilustrações, é um livro que merece nota máxima. A fidelidade às personagens de Walt Disney na sua fisionomia e expressões é total e o resultado final é, arrisco-me a dizer, perfeito. Os cenários góticos estão incrivelmente bem conseguidos e assinale-se que, mesmo mantendo uma boa linha de continuidade e coesão, são cenários bastante variados pois os nossos heróis percorrerão cemitérios, casas assombradas, asilos abandonados, laboratórios sinistros, grutas sombrias, pântanos assustadores, comboios-fantasma, galeões de piratas escondidos ou mesmo pirâmides assombradas. Tudo isto em apenas 46 páginas que compõem este Horrifikland. Tudo bem montado, do ponto de vista narrativo e com uma arte ímpar.

Relativamente às cores, é-me difícil pensar num livro de banda desenhada que seja tão magnífico como este. Não diria que não exista, mas, reafirmo, é-me difícil pensar num livro com melhores cores que este. Com efeitos de luz espantosos, com tonalidades de uma beleza ímpar quer nos ambientes exteriores, quer nos interiores, quer em cenários bem iluminados, quer em cenários sombrios, este é um livro especial e ímpar na sua conceção cromática. 

De realçar também que existem várias páginas em que os próprios limites das pranchas ou vinhetas receberam cuidadosos e intricados ornamentos, dando uma ideia de bonitas molduras que enfeitam as já lindíssimas páginas que nos são dadas. Como se a arte já não fosse uma beleza para os olhos, estes ornamentos ainda fazem das páginas algo mais original e com mais classe.

A qualidade da edição da Glénat também é impressionante, com uma lombada em tecido, com papel de gramagem adequada e com a soberba capa da obra marcada com vários detalhes a verniz. Nada está errado ou fora do sítio.

Há uma certa “magia” nesta história, nesta arte e nestas cores que por ventura será difícil de definir, mas que, estou certo, quem me lê, saberá a que me refiro quando estamos a falar da Disney. É verdade que nem tudo o que a Disney faz é mágico, mas também é verdade que quando o faz, parece que vai aonde os outros não conseguem ir em termos de “magia”. Este é o caso. Se alguma vez, uma pessoa já ficou rendida a algo que a Disney fez – possivelmente, toda a gente – então este livro é obrigatório.

Esta obra, lançada em Janeiro de 2019 pela Glénat, faz parte da coleção de Originais Disney que a editora francesa tem vindo a desenvolver desde 2016, convidando autores de renome para criar histórias novas com as personagens clássicas da Disney. Desta coleção já saíram títulos como Mickey's Craziest Adventures, de Lewis Trondheim e Keramidas; Une mystérieuse mélodie, de Cosey; La Jeunesse de Mickey, de Tebo; Café Zombo, de Régis Loisel; Mickey et l'océan perdu, de Denis-Pierre Filippi e Silvio Camboni; Donald's Happiest Adventures, de Lewis Trondheim e Keramidas; Mickey à travers les siècles, de Dab's e Fabrizio Petrossi; Super Mickey, de Pieter de Poortere; Minnie et le secret de Tante Miranda, de Cosey; Mickey et la terre des anciens, de Denis-Pierre Filippi, Sara Spano e Silvio Camboni e este Mickey Horrifikland da dupla Lewis Trondheim e Alexis Nesme. Uma coleção já bastante extensa, marcada por uma qualidade que merecia ter edição em português.

Admito que não conheço os moldes e trâmites da venda dos direitos destas obras mas, seja como for, considero um pecado capital se os direitos de publicação desta coleção, e em particular deste Horrifikland, (ainda) não estiverem assegurados por nenhuma editora portuguesa. O fim da editora Goody que publicava as "revistas clássicas da Disney" (chamemos-lhe assim) foi certamente uma grande perda para os fãs de banda desenhada da Disney. Mas esta coleção da Glénat, não existindo em português, será uma perda, por ventura, maior. Obviamente, acho que se pode facilmente perceber que são tipos de leitores diferentes: as revistas da Disney em pequeno formato, são para um público mais infanto-juvenil e mais desprendido. Estes Originais Disney da Glénat são para um público mais maduro, mais seguidor da banda desenhada e com mais poder de compra (porque afinal de contas, são livros em grande formato e em edições de capa dura luxuosas). Numa altura em que editoras como a G.Floy, a Arte de Autor, a Ala dos Livros e até A Seita estão a começar a apostar em edições luxuosas e mais caras, direcionadas a um púbico cada vez mais informado e com algum poder de compra, julgo ser legítimo dizer que há um claro espaço e uma óbvia oportunidade para que estes Originais Disney da Glénat entrem no mercado português. Será certamente um dia muito bom para a banda desenhada portuguesa quando este Horrifikland – ou outro(s) título(s) da coleção – for publicado em português. 

Este é um livro soberbo, com ilustrações para lá do magnífico, com cores maravilhosas e uma história com a linguagem Disney que tanto marcou o mundo da animação no cinema mas, também, e não menos importante, o género da banda desenhada. Não há defeitos neste livro que roça a perfeição. O único defeito é mesmo (ainda) não ter versão em português, o que me leva ao lamento com que iniciei esta análise. Que pena tenho eu que este Mickey Horrifikland não tenha versão em português!


NOTA FINAL (1/10):

9.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-


Ficha Técnica
Mickey Horrifikland – Une Térrifiante Aventure de Mickey Mouse
Autores: Lewis Trondheim e Alexis Nesme
Editora: Glénat
Páginas: 46, a cores
Encadernação: capa dura
Lançamento: Janeiro de 2019