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quarta-feira, 23 de julho de 2025

Análise: A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart
A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou

Uma das mais recentes bandas desenhadas editadas pela editora A Seita - e, desta feita, através da chancela Comic Heart - foi este A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos que hoje vos trago, que junta pela primeira vez a dupla nacional formada por André F. Morgado, no argumento, e Kachisou, no desenho. Autores dos quais, de resto, tenho as melhores impressões com base nas suas obras, das quais posso citar, por exemplo, O Infeliz Pacto de George Walden (Morgado) Quero Voar (Kachisou) ou as recentes adaptações de obras clássicas da literatura portuguesa da coleção da Levoir, que André Morgado tem feito com vários ilustradores brasileiros.

Olhando para as obras criadas até então, este A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos apresenta-se como uma alternativa deveras diferente face àquilo que os autores nos deram até agora. Este é um livro cuja catalogação afigura-se-me difícil. Dizer que é um livro para um público mais novo está correto, sim, embora seja uma afirmação redutora, pois este é um livro munido de um humor maduro, carregado de referências, que, por isso, também pode (e deve) ser lido por um público mais adulto.

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos apresenta-se como uma fábula moderna, com simpáticos animais - exceptuando os amargurados ratos - e reveste-se de um humor que varia entre o inteligente e o absurdo. 

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart
A história centra-se num sapo entediado com o pântano e com a sua rotina, que, num impulso de inconformismo, procura uma nova aventura. O que se segue, no entanto, não é o épico tradicional que o protagonista poderia imaginar, mas sim uma espiral de acontecimentos caóticos onde os animais passam a conseguir adquirir as características que nunca tiveram, como a capacidade para falar, para voar, para cantar, para saltar... enfim, para viver tal como os humanos. E tudo isso é conseguido através de amuletos mágicos comercializados pelo Sapo. Entretanto, a comunidade dos ratos decide ficar com enormes corpos musculados e procura a sua vingança por, historicamente, ser um classe animal tão desprezada e mal tratada por todos. No meio disto tudo, ainda entram na trama as caralhotas (pães) de Almeirim. Bem, só por aqui já dá para ver como este desejo do Sapo em alterar a sua vida nos leva a situações divertidas e inusitadas.

É praticamente impossível que o início desta aventura não nos remeta para O Vento nos Salgueiros, de Kenneth Grahame, e brilhantemente adaptado para banda desenhada por Michel Plessix, quando o sapo dessa história também sente um chamamento interior para ter uma aventura que o transporte da sua vida rotineira no pântano. Mas, claro, o Sapo deste Caos e Coaxos é ainda mais propenso à criação de caos à sua volta. E coaxos!

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart
A estrutura da história é interessante. O início arranca um pouco aos tropeções, mas essa sensação é rapidamente contrariada quando a trama ganha corpo e se estabelece um fio condutor entre os diversos episódios e as personagens excêntricas que vão surgindo. André F. Morgado demonstra um bom domínio da narrativa ao conseguir amarrar todos os elementos aparentemente aleatórios num final que fecha o ciclo da história com coerência e até com uma subtil moral. 

É nesse equilíbrio entre o nonsense e a estrutura clássica da fábula que reside uma das maiores forças da obra, porque embora o absurdo impere, nunca se sente que o autor perdeu o controlo da narrativa. Ao contrário, percebe-se uma intenção clara de brincar com as convenções do género e de subverter expectativas, algo que contribui para manter o interesse do leitor ao longo da obra. Ao longo da leitura somos constantemente surpreendidos, seja com personagens inusitadas, seja com referências pop inesperadas ou com momentos de quebra da quarta parede.

Nesse ponto, o humor do livro merece um destaque especial. À primeira vista, pode parecer algo infantil ou “silly”, como se se limitasse ao jogo de palavras ou ao absurdo pelo absurdo. No entanto, uma leitura mais atenta revela um humor multifacetado, com várias camadas de referências culturais, literárias e musicais, jogos linguísticos e até críticas subtis ao nosso quotidiano. Essa combinação torna o livro acessível a leitores mais jovens, mas também muito satisfatório para leitores mais maduros que consigam captar as referências. André Morgado tem aqui o mérito de escrever com despretensão sem cair na banalidade. Também é de salientar o trabalho de diálogo e caracterização das personagens. A escrita é eficaz e ritmada, com bons tempos cómicos e um domínio interessante do absurdo como ferramenta narrativa, sem que este se torne cansativo.

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart
Todavia, se posso criticar algo, diria que a opção de incluir notas explicativas para duas ou três referências, como as de Tyler Durden ou de Chad Channing, por exemplo, me parece desajustada porque, lá está, se a intenção é criar um humor referencial, então parte da graça está precisamente na capacidade do leitor de reconhecer (ou não) as tais referências. Explicá-las tira-lhes impacto e, em certos casos, mata a própria piada, além de criar uma inconsistência, pois algumas referências são explicadas e outras não, o que leva à sensação de que se subestima a inteligência do leitor. Mas, enfim, é apenas uma nota pequena que, naturalmente, não belisca em nada a qualidade da obra.

Falando em qualidade, o trabalho de ilustração de Kachisou é outro ponto alto da publicação. O traço "cartoonesco", simplista, leve e expressivo, combina perfeitamente com o tom da narrativa. A paleta bicromática em tons esverdeados confere identidade visual à obra, sem a sobrecarregar. 

A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart
As ilustrações complementam e, em vários momentos, amplificam o humor e o ritmo da narrativa. O Sapo tem expressões que, por si só, são inequívocas em transmitir as suas emoções e pensamentos. Admito que não comecei por adorar os desenhos da autora nas primeiras páginas, mas não é menos verdade que acabei o livro a achar que Kachisou tinha aqui feito (mais) um belo trabalho. E que é diferente de tudo o que a autora já nos deu nas suas outras obras de banda desenhada. Prova superada, portanto.

Refiro ainda que a pertinência deste livro no panorama editorial português também é digna de nota. O humor tem escassa representação na banda desenhada nacional, especialmente com esta combinação de humor absurdo, fábula e sátira, o que faz com que esta A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos seja ainda mais bem-vinda. A aposta das editoras A Seita e Comic Heart revela, neste sentido, uma visão interessante e arriscada, num mercado que nem sempre valoriza este tipo de propostas.

De resto, a edição do livro é em capa dura baça, com bom papel baço e um bom trabalho quanto à impressão e encadernação. No final, como extra, há um conjunto de ilustrações sobre a obra, feitas por artistas convidados.

Em suma, A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos traz consigo algo de lúdico e libertador, convidando à gargalhada, ao espanto e, ao mesmo tempo, à reflexão sobre o que pedimos à vida e sobre as consequências dos nossos desejos. É um livro que vale pela diversão, mas que recompensa também a atenção e a releitura do leitor. 


NOTA FINAL (1/10):
7.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Aventura do Sapo - Caos e Coaxos, de André F. Morgado e Kachisou - A Seita e Comic Heart

Ficha técnica
A Aventura do Sapo: Caos e Coaxos
Autores: André F. Morgado e Kachisou
Editora: A Seita e Comic Heart
Páginas: 174 páginas, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 23 x 16 cm
Lançamento: Maio de 2025

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Análise: Frei Luís de Sousa

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges

A coleção dos Clássicos da Literatura Portuguesa em BDque a editora Levoir tem vindo a publicar em parceria com a RTP, aproxima-se do seu final.

O 13º volume da coleção é dedicado Frei Luís de Sousa, o clássico do romantismo português de Almeida Garrett, que conta com desenhos do brasileiro Gustavo Borges e com argumento do português André Morgado que, com este livro, contabiliza quatro álbuns desta coleção, nomeadamente: Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, Farsa de Inês Pereira e O Fato Novo do Sultão. Em todos eles, o autor se fez acompanhar por um ilustrador brasileiro.

Frei Luís de Sousa é um drama que retrata a tragédia de uma família portuguesa no século XVI, marcada pelo conflito entre o dever patriótico e os sentimentos pessoais. A peça gira em torno de D. Madalena de Vilhena, que acredita ter perdido o marido, D. João de Portugal, na Batalha de Alcácer-Quibir. Anos depois, ela casa-se com D. Manuel de Sousa Coutinho, com quem tem uma filha, Maria. 

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
No entanto, o regresso inesperado de D. João obriga os protagonistas a renunciar à sua felicidade, por respeito às normas sociais e religiosas da época. O desfecho trágico para as personagens simboliza bem a opressão das convenções sociais sobre os desejos individuais, refletindo também uma crítica ao contexto político vivido à época em Portugal.

Esta nova perspetiva sobre o drama romântico de Almeida Garrett que nos é dada por André Morgado e Gustavo Borges, preserva bem a essência da obra original, tendo-me deixado bastante agradado, pois considero que torna o romance original mais acessível a um público contemporâneo, especialmente aos leitores mais jovens.​

André F. Morgado, responsável pela adaptação do texto, demonstra sensibilidade ao equilibrar a linguagem original com uma abordagem mais contemporânea. Este equilíbrio permite que a profundidade temática da obra seja mantida, ao mesmo tempo que a torna mais acessível aos leitores atuais, conseguindo condensar eficazmente os principais momentos-chave da peça de Almeida Garrett sem sacrificar a profundidade emocional nem a complexidade temática. 

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
Ao sintetizar o essencial, a obra preserva as ideias centrais do drama original — o conflito entre dever e desejo, a identidade nacional e a tragédia do destino — tornando-os acessíveis a novos públicos, mas sem os banalizar. É natural que alguns dos temas como o sebastianismo e a crítica social implícita, elementos centrais na obra de Garrett, sejam aqui trazidos mais à superfície, mas também é óbvio que não poderíamos esperar que uma adaptação para BD com 64 páginas o pudesse fazer de forma muito aprofundada. Mesmo assim, alguma da simbologia presente na obra original, como o incêndio do palácio que reforça o claro presságio e a atmosfera trágica da narrativa original, é  preservado nesta adaptação. 

As ilustrações de Gustavo Borges, com o seu traço marcadamente "cartoonesco", revela-se uma escolha surpreendentemente eficaz. Longe de desvalorizar o conteúdo trágico da obra, este estilo acentua a expressividade das personagens, captando com intensidade as suas emoções — da angústia de Maria à inquietação de D. Manuel. Para além disso, a dinâmica da planificação, com variação constante na dimensão e organização das vinhetas, confere um ritmo visual que se ajusta bem ao tom dramático e introspectivo da história. Admito que um maior cuidado no aprimoramento dos cenários teria elevado a experiência a outro patamar. No entanto, também tenho que conceder que o método de utilizar texturas para preencher os cenários acaba por se revelar uma boa opção.

Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP
Mas o mais importante é mesmo o facto do trabalho de Gustavo Borges se destacar pela sua capacidade de traduzir visualmente a intensidade emocional da história. As ilustrações capturam com precisão os dilemas internos das personagens e o ambiente opressivo da época, enriquecendo a experiência de leitura e proporcionando uma nova dimensão à obra de Garrett.​

A edição da Levoir deste livro não foge à fórmula utilizada nos restantes volumes da coleção, com o livro a apresentar capa dura baça, bom papel brilhante, boa encadernação e boa impressão. No final, há um caderno informativo com 6 páginas sobre o autor, a obra e o contexto histórico-social da mesma, que promove o cariz didático da edição.

Em suma, um dos aspetos mais notáveis deste Frei Luís de Sousa é a sua coesão narrativa e competência estética, que o coloca entre os melhores livros desta coleção da Levoir. Ao combinar fidelidade ao texto original com uma apresentação visual envolvente, a obra consegue, se uma forma simples, transmitir a complexidade emocional e temática do drama de Garrett a uma nova geração de leitores. 

NOTA FINAL (1/10):
8.6



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Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges - Levoir - RTP

Ficha técnica
Frei Luís de Sousa
Autores: André F. Morgado e Gustavo Borges
Baseado na obra original de: Ameida Garrett
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Janeiro de 2025

quarta-feira, 12 de março de 2025

"Frei Luís de Sousa" ganha versão em banda desenhada!



A Levoir e a a RTP publicaram ontem o mais recente livro da sua coleção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD

Desta feita, estamos perante a adaptação da obra original de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, que é adaptada para banda desenhada pelo português André Morgado e pelo brasileiro Gustavo Borges.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.


Frei Luís de Sousa, de André F. Morgado e Gustavo Borges

A 11 de Março a Levoir editou o volume 13 da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa, Frei Luís de Sousa.

Drama, da autoria de Almeida Garrett, escrito em 1843 e publicado em 1844, é considerado a obra-prima do teatro romântico e uma das obras-primas da literatura portuguesa.

Almeida Garrett nasceu no Porto, em Fevereiro de 1799. Escritor e dramaturgo romântico, foi o proponente da edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e da criação do Conservatório. 

Considerado o introdutor do romantismo em Portugal é considerado o escritor mais completo de todo o século XIX. Os seus textos são marcados pela temática patriótica com forte caráter dramático, típicos dos escritores românticos. Garrett foi um activista político, lutando contra o absolutismo, foi deputado, orador, cronista-mor, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
O enredo passa-se no século XVI, época em que Portugal se encontra sob o domínio espanhol. D. Manuel de Sousa Coutinho, Telmo e Maria desejam a independência do Reino. A ação decorre vinte e um anos após a histórica Batalha de Alcácer-Quibir (1578), onde D. João de Portugal foi dado como morto.

Passaram-se sete anos e D. Madalena de Vilhena casa com D. Manuel de Sousa Coutinho, de quem tem uma filha, Maria.

Maria nasceu de um «crime», de um sentimento que nunca deveria ter existido. Porque, ainda casada com D. João, Madalena amou Manuel assim que o viu. Por isso é que Telmo, que acredita que o primeiro marido de Madalena está vivo, tem dificuldade em ver Maria como filha legítima, lamentando a sorte que teve, considerando-a digna de «nascer em melhor estado». Maria é uma criança de 13 anos, frágil, inteligente e astuta.

A doença e a fatalidade perseguem-na. O velho aio, continua à espera do regresso de D. João. Este aparece, disfarçado de romeiro, e dá a conhecer a sua verdadeira identidade. O desfecho é trágico: Maria morre na igreja, no preciso momento em que os seus pais professam.

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Ficha técnica
Frei Luís de Sousa
Autores: André F. Morgado e Gustavo Borges
Baseado na obra original de: Ameida Garrett
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 15,90€

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Magazine Especial - 5 Livros ilustrados para quem gosta de BD

Magazine Especial - 5 Livros ilustrados para quem gosta de BD


Embora o Vinheta 2020 se centre mais na análise a livros de banda desenhada, não é tão incomum assim que, de tempos a tempos, vos traga algum livro de ilustração que me marcou. Até porque sou muito adepto de um (bom) livro ilustrado.

Um livro ilustrado e um livro de banda desenhada são coisas diferentes, bem o sei, mas também têm alguns pontos em comum.

Com efeito, quatro dos cinco livros ilustrados que hoje vos trago neste Magazine Especial, até foram feitos por autores cuja obra em banda desenhada é mais conhecida do que a obra em livros ilustrados. Trago-vos também as obras recentes de dois nacionais, mais conhecidos pela sua obra em banda desenhada.

Assim, sem mais demora, eis 5 livros ilustrados, todos bons, que li recentemente e que merecem o meu destaque neste especial:

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Análise: O Fato Novo do Sultão

O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss - Levoir e RTP

O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss - Levoir e RTP
O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss

De todos os livros que a Levoir já lançou na sua coleção de Clássicos da Literatura Portuguesa em BD - e que eu tive oportunidade de ler - este O Fato Novo do Sultão, do português André Morgado e da brasileira Luiza Strauss, que adaptam para banda desenhada a obra homónima de Guerra Junqueiro, é dos livros que se apresentam mais diferentes dos demais. Para o bom e para o mau.

Comecemos, naturalmente, pelo "bom". 

Quer em termos de história, que já no seu texto original era bastante simples, quer em termos de desenhos, este livro não tem pudor (e por que razão haveria de ter pudor?!) em ser totalmente endereçado a um público jovem. Melhor dizendo, a um público infantil.

O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss - Levoir e RTP
Assim que abrimos o livro e somos confrontados com os desenhos de Luiza Strauss, que são expressivos, coloridos e muito simplistas, parece que somos automaticamente levados para o universo da infância. Os traços são lineares, os pormenores são parcos e as expressões e linguagem corporal das personagens são "cartoonescas". Tudo de (muito) fácil absorção.

Nesse sentido, também o argumento de André Morgado se apresenta escorreito, simples e funcional, cumprindo bem com os seus intuitos de resumir e adaptar o texto de Guerra Junqueiro que consiste numa sátira política, onde o humor afiado do autor critica a monarquia e os poderes estabelecidos no Portugal da época, em finais do século XIX.

Nesse tempo, Portugal vivia um período de especial instabilidade, com o fracasso do modelo político monárquico a tornar-se evidente para muitos intelectuais, incluindo Junqueiro, que se identificava com as ideias republicanas e liberais. O autor utiliza, pois, a alegoria do "fato novo" para criticar a superficialidade e as falsas aparências que caracterizavam a monarquia. Na verdade, a narrativa criada por Guerra Junqueiro remete à famosa história infantil As Roupas Novas do Imperador, de Hans Christian Andersen, em que um governante é ludibriado por falsos alfaiates que o convencem de estar vestido com um traje magnífico, quando, na verdade, ele está nu. Junqueiro adaptou esta alegoria para satirizar a figura do rei português e, mais amplamente, o sistema político da monarquia portuguesa, que, na sua visão, se baseava em ilusões e enganos. 

O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss - Levoir e RTP
E sendo claro que, nesta versão para banda desenhada, a mensagem original está lá bem visível, a sua apresentação é feita de forma leve e simples, não imergindo muito o leitor em questões mais densamente politizadas. Por falar em leitor, enquanto que as outras obras contidas nesta coleção me parecem mais adequadas para um público adolescente e, noutros casos, adulto, este O Fato Novo do Sultão parece-me para um público mais infantil ainda. Imagino que o público adolescente, bem como o adulto, talvez considere esta obra demasiado simplória.

O que me leva ao lado "mau" da obra.

É que, com efeito, este O Fato Novo do Sultão talvez seja curto para voos mais altos ou para chegar a um maior público. É simples, resume a história à sua essência e é de fácil apreensão, sim, mas também não ousa ir mais longe do que isso, sendo algo unilateral na sua abordagem à obra de Guerra Junqueiro. E as próprias ilustrações de Luiza Strauss - que nem sequer são más - parecem apenas cumprir com os mínimos olímpicos. 

O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss - Levoir e RTP
E, lá está, mesmo aquela narrativa que diz que "o simples é mais adequado para os mais novos" também peca por ser redutora. É que, como são vários os exemplos, há muitas obras direcionadas para os mais novos que estão cheias de detalhes e que são esculpidas com o maior dos rigores. É quase como achar que a música pop "tem que ser" simples na sua estrutura e conceção. Poderá sê-lo, claro, mas não é mandatório que o seja. Vão ouvir o Michael Jackson, para verem como a música pop pode ser ricamente complexa. Também na BD isso acontece: há obras que são para crianças, mas que, quando lidas por um público mais adulto, ganham novos e mais profundos significados. Ou ilustrações que funcionando bem para os mais novos, são feitas com um detalhe incrível.

Ou seja, e dito por outras palavras, este O Fato Novo do Sultão cumpre, sim, mas apenas para um público (bastante) mais novo, já que não há grande alcance da obra para um público mais adulto ou mesmo adolescente. Olhando para o copo "meio cheio" também considero justo afirmar que este é um livro que deveria figurar nas "bibliotecas de turma" das escolas primárias do país. Há muita falta de banda desenhada para um público entre os 6 e os 9 anos - especialmente de origem nacional - e, tendo isso em vista, o lançamento deste O Fato Novo do Sultão é bem-vindo.

A edição da Levoir é em tudo igual à dos outros livros da coleção. Apresenta capa dura baça, bom papel brilhante no interior e uma boa encadernação e impressão. No final, há um bom dossier de extras que permite ao leitor saber mais acerca da obra, do autor e do contexto histórico da mesma.

Em suma, O Fato Novo do Sultão é uma daquelas bandas desenhadas claramente destinadas a um público mais infantil que, não perdendo nunca esse propósito de vista, acaba por fazer um belo trabalho, possuindo um simples mas eficaz desenho de Luiza Strauss e um igualmente simples mas eficaz argumento de André Morgado. No entanto, é uma obra que se torna quiçá insuficiente para um leitor mais experiente ou exigente.


NOTA FINAL (1/10):
6.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss - Levoir e RTP

Ficha técnica
O Fato Novo do Sultão
Autores: André Morgado e Luiza Strauss
Adaptação a partir da obra original de: Guerra Junqueiro
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Junho de 2024

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Levoir lança obra de Guerra Junqueiro em BD!


A Levoir lançou há poucos dias, juntamente com a RTP, aquele que é o sexto volume da sua coleção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD.

Desta vez, estamos perante a adaptação de O Fato Novo do Sultão, de Guerra Junqueiro. A autoria desta adaptação ficou a cargo do português André Morgado e da brasileira Luiza Strauss.

O livro já pode ser encontrado nas livrarias do país.

Por agora, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.


O Fato Novo do Sultão, de André Morgado e Luiza Strauss

A Levoir e a RTP lançam o volume 5 da coleção Clássicos da Literatura em BD a 27 de Maio. O Fato Novo do Sultão faz parte da coletânea Contos para a Infância de Guerra Junqueiro.

O Fato Novo do Sultão conta a história dum Sultão, que por ser muito vaidoso vê-se envolvido numa burla. O sultão desperdiçava todos os seus haveres na compra de trajes. Em qualquer momento que a sua comparência fosse necessária, o Sultão não perdia ocasião para exibir um fato novo. 

Vivendo numa cidade por onde muitos estrangeiros passavam, a obsessão do Sultão despertou a atenção de dois homens que, disfarçados de tecelões, um dia decidiram visitar o rei. Disseram-lhe que tinham a habilidade de confecionar o tecido mais precioso que havia.

A qualidade do vestuário feito a partir desse tecido residia no facto de o mesmo se tornar invisível aos idiotas e àqueles que não desempenhassem bem as suas tarefas.

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Ficha técnica
O Fato Novo do Sultão
Autores: André Morgado e Luiza Strauss
Adaptação a partir da obra original de: Guerra Junqueiro
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 15,90€

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Levoir adapta mais um Clássico da Literatura Portuguesa em BD!



Nesta que é a quarta adaptação para banda desenhada da coleção dos Clássicos da Literatura Portuguesa, temos o lançamento da obra Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, da autoria de Pêro Vaz de Caminha.

Os autores responsáveis por esta adaptação são o português André Morgado e o brasileiro Tainan Rocha de Lima.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora Levoir que edita este livro juntamente com a RTP.

Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, de André Morgado e Tainan Rocha de Lima

Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, foi lançado a 16 de abril. Este título editado pela Levoir e a RTP tem como argumentista André F. Morgado e ilustrador Tainan Rocha de Lima.

A Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil, data do dia 1 de maio de 1500. Foi uma carta redigida ao rei, de modo a comunicar-lhe o descobrimento de novas terras. Parte dela veio apenas a público pela mão de um historiador espanhol, João Bautista Muñoz, no século XVIII. A publicação integral da epístola acontece mais tarde, em 1817, quando o padre Manuel Aires de Casal, sacerdote secular do Grã-Priorado do Crato, a partir de uma cópia existente no Arquivo Real da Marinha do Rio de Janeiro, a publica em Corografia Brasílica ou Relação Histórico-geográfica do Reino do Brasil.

Pêro Vaz de Caminha começa por descrever as peripécias passadas pela armada liderada por Pedro Álvares Cabral, com indicações sobre as várias etapas da expedição com destino à Índia, até ao surpreendente e inesperado achamento de um território novo.

Pêro Vaz de Caminha descreve com admirável vivacidade e agudo sentido de observação, o encontro com a gente local, os indígenas, registando magistralmente para a posteridade esse momento maior que foi o contacto do mundo ocidental, por interposta presença dos portugueses, com essa parte desconhecida da humanidade.


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Ficha técnica
Carta a El-Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil
Autores: André Morgado e Tainan Rocha de Lima
Adaptado a partir da obra original de: Pêro Vaz de Caminha
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 15,90€

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Análise: Farsa de Inês Pereira

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP
Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa

A adaptação para banda desenhada da peça de teatro Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, corresponde ao segundo livro da coleção Clássicos da Literatura Portuguesa, que a editora Levoir tem vindo a lançar conjuntamente com a RTP.

Os autores responsáveis pela adaptação para BD deste clássico escrito em 1523 pelo mais famoso dramaturgo português, são o português André Morgado e o brasileiro Jefferson Costa. E digo-vos, desde já, que esta parceria intercontinental parece ter resultado em pleno, pois o resultado desta adaptação agradou-me bastante. Se, em Mensagem, referi que a junção de Pedro Vieira de Moura e Susa Monteiro tinha sido uma boa ideia, neste caso também tenho de admitir que André Morgado consegue, por um lado, recuperar o humor, pleno de sátira, de Gil Vicente, enquanto que Jefferson Costa, com o seu traço (aparentemente) tosco, mas belo, dá vida às personagens de forma orgânica e convincente.

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP
Escrita no período do Renascimento, a Farsa de Inês Pereira - bem como qualquer outro trabalho de Gil Vicente - é um retrato, nu e cru, da sociedade renascentista portuguesa, funcionando como se de um frame congelado no tempo se tratasse. Um fóssil histórico-social, portanto. E o mais saboroso e demais lusitano, diria, é que os traços que caracterizavam os nossos antepassados portugueses há mais de 500 anos, continuam bem presentes na sociedade portuguesa nos dias de hoje.

A história gira em torno de Inês Pereira, uma mulher preguiçosa e vaidosa que, sentindo tédio por estar em casa, sonha em casar-se para almejar uma vida melhor. E, por vida melhor, Inês não deseja propriamente um casamento com um homem rico, mas sim com alguém que seja sedutor… que seja sofisticado, que lhe faça as vontades. Recusando o interesse de um rapaz de natureza simples e rude, Inês acaba por se casar com um homem galã, de aparentes boas maneiras e de palavras caras. Parece ser o “match” perfeito para a protagonista!

E, a partir daí, são várias as situações cómicas e divertidas que vão desfilando perante nós. Gil Vicente era um génio na forma como conseguia veicular as suas ideias impregnadas dos valores e moral certos - pelo menos, à época - através de personagens estereotipadas. Por ventura, e à luz dos dias de hoje, estereotipadas de uma forma demasiado unidimensional, temos que admitir. No entanto, estes textos foram escritos há 500 anos, e, mesmo passado tanto tempo, ainda fazem sentido nos dias da atualidade. 

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP
Inês Pereira é o claro e clássico exemplo da mulher preguiçosa e ingénua, que é facilmente enganada pela promessa de uma vida fácil. O seu marido é um perfeito “brutamontes” que exerce toda a sua força machista e viril sobre a sua esposa que, para ele, não é mais do que um objeto de posse; enquanto que o primeiro pretendente de Inês é aquilo a que, na gíria, chamamos de bom e velho “banana”. Passaram-se séculos e até me atrevo a dizer-vos, numa nota pessoal, que, quando olho à minha volta, vejo que esta última estirpe dos “bananas” se tem solidificado nos tempos atuais. De qualquer maneira, é preferível que haja mais "bananas" do que "brutamontes". Disso, não haja a menor dúvida. Mas avancemos.

A peça também apresenta críticas sociais e morais, destacando a importância do trabalho diligente e honesto, em contraste com a ociosidade e a busca por riqueza fácil. Gil Vicente usa o humor e a sátira para explorar temas como a vaidade, a ganância e as ilusões da sociedade da sua época.

Ao contrário daquilo que João Miguel Lameiras fez na sua adaptação de outra conhecida obra de Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno - que, com desenhos de Joana Afonso, também recebeu uma adaptação para banda desenhada - em que o texto original da peça foi mantido, neste Farsa de Inês Pereira, André Morgado optou por adaptar a linguagem aos tempos atuais. A meu ver, ambas as opções são válidas. Por um lado, considero que manter o texto original é uma decisão que joga mais pelo seguro. Mas também é verdade que o resultado final desta opção corre o risco de apresentar um texto demasiado arcaico para o público atual – e, no caso da obra de Gil Vicente, com um português já tão afastado do português que hoje em dia utilizamos, isso é mais premente. Por outro lado, e tendo em conta que se trata de uma obra de sobeja relevância, também há o risco de, adaptando o texto para o português atual, se “estragar” a obra, desvirtuando-a e arruinando os seus intentos.

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP
Mas - e, lá está, como em tudo na vida - há sempre o lado bom e mau para qualquer coisa e, com efeito, adaptando o texto original para um texto mais atual, funcionando bem, pode ser uma lufada de ar fresco e um novo modo de modernizar a obra, levando-a, com mais facilidade, a um público que, de outra forma, poderia não pegar na mesma. Felizmente, parece-me que foi isto que André Morgado fez. Arriscou e saiu-se bem nessa empreitada. Os diálogos parecem-me bem pensados, os momentos mais relevantes da obra original são mantidos e há um ritmo narrativo que funciona bem em banda desenhada.

É verdade que, dirão os puristas, esta hipótese deixa que caia por terra a riqueza histórica e tradicional da parte linguística da obra original. Mas, em oposição a isso, também fica mais “digerível” para os jovens que pegarão neste livro como complemento à leitura da obra original. Nesta questão mantenho-me, portanto, neutro. Há vantagens e desvantagens. E o que mais interessa, pelo menos na minha opinião, é que, de uma forma ou de outra, o livro acabe por funcionar bem. Como é o caso deste Farsa de Inês Pereira.

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP
Quanto ao trabalho de Jefferson Costa, que eu só conhecia dos trabalhos feitos para as Graphic MSP, para a personagem da Turma da Mónica, Jeremias, devo dizer que corresponde muito bem àquilo que Farsa de Inês Pereira pedia. O autor apresenta um traço rápido e sujo, que transpira segurança e que, mesmo sendo um estilo de desenho “cartoonesco”, que aparenta ser urgente e genuíno na forma e no output final, consegue criar personagens memoráveis e ter um dinamismo muito interessante. Em certa medida, e sempre com as devidas distâncias, lembrou-me do trabalho do autor português Jorge Miguel no seu O Fado Ilustrado.

A edição da Levoir mantém-se em linha com o expetável: capa dura baça, boa encadernação, boa impressão e bom papel no miolo. Temos, novamente, um bom dossier de extras sobre a vida e obra de Gil Vicente, aumentando o cariz didático da proposta editorial.

Em suma, esta nova coleção da Levoir parece navegar para bom porto, já que este Farsa de Inês Pereira consegue ser uma boa proposta de leitura e, em somatório, uma possível porta de entrada na banda desenhada por parte de um público menos habituado às lides da 9ª arte.


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa - Levoir - RTP

Ficha técnica
Farsa de Inês Pereira
Autores: André Morgado e Jefferson Costa
Adaptação a partir da obra original de: Gil Vicente
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Fevereiro de 2024

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Levoir publica nova adaptação de obra de Gil Vicente em BD!



E aí está o segundo livro da nova coleção da Levoir e da RTP dedicada a adaptações para banda desenhada de clássicos da literatura portuguesa!

Depois de a Mensagem, de Fernando Pessoa, é a vez de Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, receber a sua adaptação para a 9ª arte.

A referida adaptação é da autoria do português André Morgado (autor de O Infeliz Pacto de George Walden e de A Vida Oculta de Fernando Pessoa) e do ilustrador brasileiro Jefferson Costa.

O livro chega hoje às livrarias portuguesas.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais da obra.

Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa

Depois da publicação de Mensagem de Fernando Pessoa a Levoir e a RTP lançam Farsa de Inês Pereira, volume 2 da coleção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD a 6 de fevereiro.

Mestre do teatro português (considerado o primeiro dramaturgo moderno), do século XVI, cujas obras são preenchidas por momentos de sarcasmo, ironia e critica social. A obra de Gil Vicente satiriza em particular os vícios das classes sociais mais abastadas, como a nobreza e o clero, principalmente por possuir a proteção dos reis D. Manuel e D. João III.
Entre as suas críticas encontrava-se o parasitismo da aristocracia, o materialismo do clero e a corrupção da administração, assim como a desproteção da classe trabalhadora (mais pobre). Além de autor, este desempenhava também as funções de encenador e ator, tendo levado a cena cerca de 50 peças, entre 1502 e 1536.

Existem muitas dúvidas quanto à biografia de Gil Vicente. Desconhecem-se a data e o local de nascimento, por exemplo. Com base em indicações documentais surgidas depois da sua morte, acredita-se que possa ter nascido em Guimarães ou em Barcelos no ano de 1465.

Jefferson Costa é o ilustrador desta obra, brasileiro de S. Paulo, tem trabalhado como ilustrador e cartoonista. Artista premiado com vários troféus recebeu em 2017-2020 o Prémio Jabuti o mais tradicional prémio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

André F. Morgado é professor e o argumentista desta obra, tendo passado os últimos oito anos a desenvolver projetos pedagógicos para incentivar o interesse e gosto pela cultura junto do público infantojuvenil, a par da prática docente que continua a exercer.

O dossier pedagógico é da responsabilidade do Professor Dr. José Augusto Cardoso Bernardes, Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde tem sobretudo regido cadeiras no âmbito da Literatura Portuguesa do século XVI e na Didática da Literatura.

Quem é Inês Pereira? Inês é uma jovem caprichosa, ambiciosa e emancipada, sabe ler e escrever, procura um marido que a faça feliz não ouvindo os concelhos que a mãe lhe dá, não quer ter uma vida submissa, acabando por se casar com o homem que quer, mas fica desencantada e desiludida, transformando-se na esposa infiel do segundo marido.

A Farsa de Inês Pereira ilustra o ditado “antes quero burro que me leve que cavalo que me derrube”, de forma bastante caricata e viva.

Faz parte das leituras obrigatórias do 10º ano de escolaridade.

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Ficha técnica
Farsa de Inês Pereira
Autores: André Morgado e Jefferson Costa
Adaptação a partir da obra original de: Gil Vicente
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 15,90€