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terça-feira, 29 de julho de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Ala dos Livros nos últimos 5 anos!


A propósito da comemoração dos 5 anos de existência do Vinheta 2020, trago-vos um especial que começa a partir de hoje e que procura celebrar e assinalar a melhor banda desenhada que cada uma das principais editoras portuguesas editou nos últimos 5 anos. Durante as próximas semanas tentarei, pois, oferecer-vos um artigo por editora.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a crème de la crème de cada editora.

Em cinco anos de edição ininterrupta de banda desenhada, há naturalmente muitos títulos editados e, como devem calcular, a tarefa não foi fácil e vi-me forçado a excluir obras fantásticas, mas, lá está, há que fazer escolhas e estas são as minhas escolhas.

Hoje começo com uma editora cujo contributo para o lançamento de boa banda desenhada em Portugal é verdadeiramente inegável: a Ala dos Livros.

Esta editora tem um catálogo que considero de extrema qualidade. São (muito!) mais as obras que adoro da editora, do que aquelas de que não gosto. Não foi fácil, mas aqui está o meu TOP

Eis, mais abaixo, as minhas obras favoritas lançadas pela editora Ala dos Livros:

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Análise: A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano

A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau - Ala dos Livros

A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau - Ala dos Livros
A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau

Depois de O Burlão nas Índias, de Alain Ayroles e Juanjo Guarnido, ter-me conquistado ao mais alto nível, numa obra que considero, sem problema algum, "perfeita", devo dizer que estava ansioso para mergulhar nesta mini-série, intitulada A Sombra das Luzes e projetada para 3 volumes, dos quais a Ala dos Livros editou recentemente o primeiro deles, O Inimigo do Género Humano. Desta feita, Alain Ayroles faz-se acompanhar por Richard Guérineau nas ilustrações.

A Sombra das Luzes é uma obra ambiciosa que procura recriar o século XVIII com elegância, sátira e decadência moral, seguindo a tradição epistolar de obras como Ligações Perigosas, de Pierre Choderlos de Laclos. A narrativa é, portanto, construída através de uma teia de cartas escritas pelo cavaleiro de Saint-Sauveur e por diversas figuras do seu círculo social, o que nos permite acompanhar de forma indireta a ascensão social e as manobras traiçoeiras de um autêntico libertino que visa brilhar na corte do rei Luís XIV.

A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau - Ala dos Livros
À semelhança do clássico da literatura já mencionado de Choderlos de Laclos, esta obra apresenta-se como um jogo de máscaras e manipulações, em que a linguagem requintada contrasta com as ações praticadas pelas várias personagens, em particular por Saint-Sauveur. Este, procura aproximar-se de uma mulher casada, Eunice de Clairefont, sendo movido pela sua vaidade, pelo seu orgulho e, claro, por um enorme desejo de ascensão social. A sua crueldade é disfarçada pelo charme e inteligência da sua máscara social, e isso torna-o uma figura fascinante e abjeta ao mesmo tempo. O argumento de Ayroles tem pois essa crítica face ao vício dos indivíduos e das instituições, em especial da sociedade aristocrática, embora também haja, naturalmente, uma clara ponte entre a sociedade retratada e a sociedade atual. Algo que é bem-vindo.

Confesso que iniciei a leitura com grande entusiasmo. O livro evocava-me o classicismo romântico de obras como Sambre, de Yslaire, da qual sou grande admirador. A expectativa era alta, e esperava mergulhar num drama profundo e rico em intrigas. No entanto, tenho que admitir que à medida que avançava pelas páginas deste A Sombra das Luzes, o meu entusiasmo foi perdendo força. O que encontrei foi uma obra que, embora bem escrita e visualmente apelativa, se perde um pouco nesta forma de contar a história por cartas, parecendo excessivamente preocupada em preparar terreno para algo que ainda não se concretiza neste primeiro volume. O que, bem vistas as coisas, até pode trazer bons frutos nos dois álbuns futuros da série, embora, pelo menos por agora, isso fragilize este primeiro tomo.

A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau - Ala dos Livros
Esta forma narrativa epistolar, que até poderia ser um recurso engenhoso para criar tensão e revelar os meandros da manipulação social, acaba por se tornar, na prática, um obstáculo. A alternância constante de vozes, nem sempre bem assinalada, nas cartas que nos são dadas a conhecer, obriga-nos a retroceder com frequência na leitura para perceber quem escreve a quem e com que intenção. Isso retira fluidez à leitura e prejudica a imersão. Torna-se uma leitura excessivamente - e desnecessariamente! - complexa. As cartas sucedem-se com pouco impacto direto na ação, deixando muitas pontas soltas... talvez de forma propositada -  a ver vamos -, mas de forma algo frustrante.

Ayroles apresenta talento enquanto argumentista, claro, mas não atinge ainda, neste primeiro tomo, a mesma sofisticação narrativa que revela, por exemplo, em O Burlão nas Índias, que já mencionei. Falta aqui um ritmo mais bem calibrado entre mistério, revelação e progressão dramática. O que recebemos são fragmentos promissores, mas pouco consolidados. Portanto, não há dúvidas de que o impacto emocional, por agora, fica aquém do potencial que o enredo sugere.

No entanto, não se pode ignorar a qualidade visual do álbum. O desenho de Richard Guérineau é minucioso, elegante e perfeitamente adequado à época retratada. As indumentárias, os cenários aristocráticos, os salões, as carruagens e os gestos da corte são retratados com enorme atenção ao detalhe. Guérineau consegue transmitir aquele charme francês típico do século XVIII, com uma composição visual que nos remete imediatamente para esse mundo de verniz social e podridão moral escondida por detrás do luxo. E, ao mesmo tempo, e apesar desse classicismo, o traço até tem alguma simplicidade e modernidade. Em várias páginas, a beleza estética dos desenhos compensa as dificuldades de leitura, e isso diz muito sobre o trabalho de Guérineau enquanto ilustrador desta intriga.

A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau - Ala dos Livros
É importante sublinhar que este é apenas o primeiro tomo de uma trilogia, e tudo indica que muitas das peças aqui lançadas terão continuidade e desenvolvimento nos volumes seguintes. Pode dar-se o caso de este álbum funcionar como uma longa introdução, como uma abertura mais lenta e atmosférica antes de a narrativa ganhar velocidade e peso emocional nos capítulos seguintes. No entanto, enquanto volume isolado, a obra não me convenceu, com pena minha.

Já a edição que a Ala dos Livros nos oferece é, mais uma vez, belíssima. O livro tem um charme muito especial que o torna facilmente apetecível. Para além de editado em grande formato - semelhante ao de O Burlão nas Índias ou do das obras de Patrick Prugne, também editadas pela Ala dos Livros -, a capa dura do livro apresenta uma textura que faz lembrar tecido e que é muito agradável ao toque. Tem ainda um brilho localizado que torna o objeto mais requintado. As próprias guardas do livro, fazendo lembrar papel de parede, são belíssimas. No interior, o papel é brilhante e de boa qualidade, tal como também assim o é a impressão e a encadernação.

Em conclusão, este primeiro volume de A Sombra das Luzes é uma BD ambiciosa, com argumentos morais interessantes e um retrato visual rico do século XVIII, mas que sofre de uma narrativa algo confusa e pouco envolvente, principalmente devido à estrutura epistolar mal integrada com o ritmo da banda desenhada. É uma leitura que exige paciência e atenção redobrada, e que, para já, ficou um pouco aquém das minhas expectativas iniciais. A esperança, no entanto, reside na promessa de que os volumes seguintes consigam atar as pontas deixadas soltas e revelar, enfim, o grande jogo que Ayroles parece estar a construir.


NOTA FINAL (1/10):
6.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau - Ala dos Livros

Ficha técnica
A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano
Autores: Alain Ayroles e Richard Guérineau
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 255 x 340 mm
Lançamento: Abril de 2025

terça-feira, 13 de maio de 2025

Ala dos Livros lança nova BD do criador de "O Burlão nas Índias"!



Já está disponível a nova aposta da editora Ala dos Livros, que dá pelo nome de A Sombra das Luzes e é uma minissérie projetada para três volumes da autoria de Alain Ayroles e Richard Guérineau.

Alain Ayroles é o argumentista, relembro, de O Burlão nas Índias, um livro absolutamente formidável, que conta com ilustrações de Juanjo Guarnido, e que a Ala dos Livros também por cá editou.

Talvez por isso, estou extremamente curioso em mergulhar nesta leitura.

O primeiro volume de A Sombra das Luzes denomina-se O Inimigo do Género Humano

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano, de Alain Ayroles e Richard Guérineau

Após “O Burlão nas Índias”, Alain Ayroles volta a repetir a proeza com elegância! Dando continuidade à tradição epistolar de Ligações Perigosas, orquestra um vertiginoso jogo de vigarices, num século XVIII brilhantemente retratado pelo desenhador Guérineau.

Vício de um homem, vício de uma ordem, vício de uma época. Encontrada nas gavetas secretas de uma escrivaninha com tampa de correr, a correspondência do cavaleiro de Saint-Sauveur percorre todo o século XVIII e desenha o retrato assustador de um vilão.
Ao revelar as torpitudes do infame libertino, a sua perseverança na maldade e a constância dos seus infortúnios, a publicação das suas cartas contribuirá, esperamos, para o triunfo da Virtude.

A série “A Sombra das Luzes”, de que a Ala dos Livros apresenta agora aos leitores portugueses o primeiro tomo, está prevista para 3 volumes.

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Ficha técnica
A Sombra das Luzes - Tomo 1 – O Inimigo do Género Humano
Autores: Alain Ayroles e Richard Guérineau
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 255 x 340 mm
PVP: 25,00€

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Entrevista a Ayroles e Guarnido "Há um projeto novo (...) que é muito diferente do Burlão nas Índias. É um projeto maravilhoso. Simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO!"


Conforme prometido, aqui está a segunda e última parte da conversa que tive com Juanjo Guarnido e Alain Ayroles, autores de O Burlão nas Índias, à margem da entrega de prémios do Amadora BD, em que a sua obra acabou premiada como o melhor livro estrangeiro.

Se na primeira entrevista a Juanjo Garnido a conversa se centrou em Blacksad, neste caso centrou-se em O Burlão nas Índias.

Agradeço, uma vez mais, a Ricardo Magalhães Pereira e a Maria José Magalhães pela oportunidade e deixo-vos com a conversa, mais abaixo.


Entrevista

1. Parabéns por este livro fantástico que eu adorei. Assim que soube da obra e li o nome de Guarnido pensei logo: “Isto é do Guarnido! Vou adorar!”. Mas, se a arte não foi uma surpresa, por eu já saber, de antemão, que iria gostar, a verdade é que também gostei muito do argumento. Porque acho que fazes uma coisa muito boa que é o seguinte: a personagem principal do Burlão também engana o leitor. Também me mente a mim, que estou a ler o livro. Foi difícil conseguires fazer isso?

Alain Ayroles: Essa era a ideia. É um personagem mentiroso. Que mente aos outros protagonistas da história. Mas também ao leitor. E, quiçá, até enganou-nos a nós, autores. Porque este personagem embora seja bastante mau (é ladrão e vigarista), à medida que íamos escrevendo a história, começámos a gostar cada vez mais dele.


2. Foi difícil para ti, enquanto escritor da história, pensar naquilo que o leitor estaria a pensar?

Alain Ayroles: O mais difícil quando escreves uma história com um twist no fim é surpreender o leitor. E quando tu conheces o mistério é muito difícil continuar a história sem desvendar a surpresa, pondo-te na cabeça do leitor. E dá muito trabalho e passa-se muito tempo a procurar as pequenas coisas e pequenos erros que possam atraiçoar a perceção do leitor.


3. Uma coisa que eu gostei muito foi que, por vezes, há vinhetas/desenhos que são quase iguais mas há pequenas mudanças entre si. E eu achei isso algo com audácia, com coragem… pois tiveste que desenhar quase a mesma coisa, mas com pequenos detalhes alterados. Deu-te prazer enquanto desenhador, fazer isto?

Juanjo Guarnido: Foi divertidíssimo! Muito difícil! Quando o livro já estava terminado, no dia anterior a ir para impressão, estávamos a terminar a maqueta para impressão, o título, o rótulo, etc. O Alain estava em Bordeaux e eu estava em Paris. Ele liga-me e diz: “Descobri um erro.” E eu: “Como?” E ele: “Há um erro. Nesta cena aqui, na realidade quando a personagem conta isto, não se passa nesse momento. Mas numa outra altura. Portanto há aí um erro.” E eu digo: “Não faz mal. Isso não tem importância! Alain, amanhã o livro vai ser impresso. Está tudo definido. Pronto para ser impresso”. E ele: “Não, temos que mudar isto!” E eu: “Ai meu Deus!”. Precisávamos, então, de mudar um balão fazendo-o desaparecer de um céu. Estava a trabalhar com um colega e pergunto-lhe “Podemos fazer isto?” E ele responde: “Vamos tentar fazê-lo com Photoshop”. Então, através duma ferramenta do programa, PING!, fizemos desaparecer o balão e o céu estava perfeito! Incrível! Isto foi no último dia!

Alain Ayroles: (risos) Sim era uma pequena mudança mas que poderia atraiçoar toda a encenação da personagem de Pablo.


4. Em termos de argumento, Alain, já tinhas quase tudo pensado ou o Juanjo contribuiu com algumas alterações? Falavam os dois sobre a história?

Alain Ayroles: Sim, o Juanjo contribuiu desde o princípio. A ideia da história foi pensada por nós os dois. E depois, durante o processo de escrita do texto, fomos alterando muitas coisas.

Juanjo Guarnido: Sim, falámos constantemente. Sempre com muita comunicação. Nessa época, eu viajava muito até Bordeaux e tínhamos um atelier em comum. E foi muito intenso porque fazer o storyboard completo de todo o álbum demorou um ano inteiro. Um ano inteiro só para o storyboard! Mas conseguimos fazê-lo os dois. Nem eu sozinho, nem o Alain sozinho. Os dois. Totalmente trabalho de equipa. Eu sabia que precisava de fazer a primeira versão, a primeira ideia. Quando trabalho com o Juan Díaz Canales, ele deixa-me fazer o storyboard à vontade. Com o Alain foi diferente. Para nós, desenhadores, há sempre uma ideia na cabeça. Se eu tiver uma ideia e ele tiver outra como é que a vamos trabalhar então? Assim, eu fiz o primeiro esboço do storyboard e depois, com o Alain, trabalhámo-lo juntos. Mas o Alain não dizia: “Ah sim, está tudo muito bem.” Não, não. Em cada página havia que mudar algumas coisas. “Isto não pode ficar aqui” e lá discutíamos sobre cada uma dessas alterações. Ele era muito crítico e muito útil. E tudo melhorava. Cada ideia que ele tinha fazia o trabalho melhorar.

Alain Ayroles: Por exemplo, mudava a posição de um balão para poder melhorar a posição e tempo de leitura.


5. Relativamente à ideia de fazer a capa d’ O Burlão desta forma, já tinhas a ideia na cabeça desde o princípio?
Alain Ayroles: Ele já tinha a ideia e eu pensava que era boa. Mas quando recebemos o livro acabado e finalizado e o li todo, quando cheguei à última página, fechei o livro e senti que aquela capa fazia todo o sentido. Como se fechasse um ciclo. E preciso dizer que o original é uma obra de óleo sobre tela enorme, como uma verdadeira obra de um mestre.


6. Depois da segunda parte de Blacksad 6 estar finalizada, já tens algum projeto na cabeça? Se calhar até com o Sr. Ayroles? (risos) Just sayin…

Juanjo Guarnido: Há um projeto novo com o Sr. Ayroles, efetivamente! (risos) que é muito diferente do Burlão nas Índias. É um projeto maravilhoso. Simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO!

Alain Ayroles: Mais louco!

Juanjo Guarnido: Sim, mais ambicioso.


7. O Burlão nas Índias já é muito ambicioso…

Juanjo Guarnido: Sim! Por isso me dá medo! Tenho medo! (risos)

Alain Ayroles: Tenho medo também! (risos)


8. Podem falar mais sobre este novo projeto? O tema, não?

Alain Ayroles: É muito cedo para falarmos disto por agora. Mas é muito ambicioso.

Juanjo Guarnido: Apenas quero dizer que se passa noutra época, mas é uma história muito diferente da de O Burlão nas Índias. Não tem nada a ver. Quando estávamos a fazer a tourné do Burlão por França, em que durante um mês inteiro andávamos de cá para lá, e de lá para cá, as pessoas perguntavam: “Vão fazer outro álbum? Há outro projeto?” E, no princípio, dizíamos: “Sim, talvez encontremos algo para fazer... porque não?”. E uma vez, numa viagem de comboio de duas ou três horas, eu disse ao Alain: “Então? Que fazemos? Duas horas de comboio... queres dormir, é?” Então ele começou-me a contar várias ideias e de repente diz-me: “Também tinha esta ideia que queria fazer com o fulano tal mas ele não quis porque não sei quê…” e depois começa a contar-me a ideia. E eu escutei-o, calado. Calado como uma puta. Falou durante uma hora, uma hora e meia, termina e diz: “que tal?” E eu digo: “onde é que eu assino? É maravilhoso!”. “Gostas, mesmo?” E eu respondi-lhe: “Parece-me incrível mas se o vamos fazer, vamos fazer de uma forma muito especial. Que vai tornar o proejto ainda mais ambicioso. (risos)

Alain Ayroles: É mais difícil de fazer do que dizer.

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Mal posso esperar! Muito obrigado!

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Análise: O Burlão nas Índias

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros
O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles

Estão a ver aquelas coisas boas da vida que são fora de série até nos mais ínfimos pormenores? Que nos fazem ficar com um sorriso na face, que não é mais do que um misto de admiração e respeito pela arte e engenho de outrem? O Burlão nas Índias é tudo isso e muito mais! Uma verdadeira obra-prima da banda desenhada, singular nos seus intentos e nos seus feitos, é difícil ficar-se insatisfeito perante este banquete de 9ª arte! Assume-se como uma das melhores obras de banda desenhada dos últimos anos.

Esta obra da autoria de Guarnido e Ayroles, que a Ala dos Livros publica em tão boa hora, conta-nos a jornada épica e mirabolante de Don Pablos de Segóvia. Um dos maiores tratantes, trapaceiros e charlatões da história. A personagem, especialmente famosa em Espanha, foi criada por Francisco de Quevedo na sua obra universal El Buscón. E como no último parágrafo dessa obra original é relatado que, no final da sua vida, Pablos viajou até às Índias em busca de fortuna, sem que, depois, tivesse havido um relato de tais aventuras, os autores desta banda desenhada decidiram pegar na história nesse ponto, imaginando como teriam sido essas aventuras nas Índias ou, melhor dizendo, no continente americano.

Assim, a história que aqui temos é o relato de como Pablos, uma das personagens eticamente mais incorretas de sempre, mas maravilhosamente perspicaz e adorável, consegue desafiar a sociedade e aquilo que a mesma tinha destinado para si. Com o tema do El Dorado como pano de fundo, ele consegue enganar tudo e todos – incluindo o próprio leitor – e dar a volta por cima. Uma personagem inesquecível e maravilhosa, que nos traz à memória Dom Quixote de La Mancha, que enfrenta adversidades, perigos, soldados, dramas, guerras, ameaças de morte, fome, uma infância infeliz, tortura e muito mais. E tudo isto em busca de um sonho: o de alcançar fortuna e o de contrariar o destino pré-programado duma sociedade totalmente hierarquizada. E este último ponto também me remeteu, em certa maneira, para a enorme demanda que Edmond Dantès tem pela frente, em O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Não quero falar muito mais da história. O argumento é tão delicioso que, certamente, quanto mais falar do mesmo, mais prazer retirarei aos meus leitores quando puderem ler esta obra. E não é, obviamente, esse o meu intuito. E sim, caros leitores, este é daqueles que têm mesmo que comprar! O preço da obra até pode ser “puxadote”, reconheço, mas quando finalmente terminamos a leitura da obra percebemos que vale cada cêntimo – e muito mais!

Há tanto que enaltecer nesta obra incrível e obrigatória! Mas vamos por partes.

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros
Em primeiro lugar, desta vez, comecemos pela arte ilustrativa. Juanjo Guarnido é o aclamado autor da série Blacksad, que assina em parceria com Juan Diáz Canales e que, até à presente data, conta com 5 volumes – estando, neste momento, os autores a trabalhar na próxima aventura do detetive-gato que será um álbum duplo. Eu teria páginas e páginas para escrever sobre Blacksad pois, afinal de contas, esta série ocupa um lugar muito relevante na minha bedeteca, sendo uma das minhas bandas desenhadas favoritas de sempre. Está, certamente, no top 10 das bandas desenhadas da minha vida. E, por ventura, nos três lugares cimeiros dessa lista. E embora houvesse muito para escrever sobre Blacksad, vou-me ficar apenas com o relevante para esta análise a O Burlão nas Índias: é que, a meu ver, Guarnido é bem capaz de ser o melhor ilustrador da banda desenhada atual. E sim, bem sei que isto de ser-se “o melhor”, é bastante relativo e, em boa parte, subjetivo. Ainda assim, a capacidade de ilustração do autor é de tal forma impressionante que considero o seu trabalho perfeito. Já o era em Blacksad. É-o, também, em O Burlão nas Índias.

O traço hábil do autor tem a capacidade de saber ser realista mas, também, conseguir dotar as suas personagens de uma familiaridade rara, com que adultos e crianças facilmente se identificam. Há uma componente da escola Disney nas personagens de Guarnido que nos obriga a mergulhar nas histórias com o mesmo gosto com que mergulhámos nos filmes clássicos de animação do estúdio de animação americano. A isso dever-se-á certamente, para além do talento nato do autor, a sua passagem pelos estúdios Disney onde trabalhou em filmes como O Corcunda de Notre Dame, Hércules ou Tarzan.

Mas não são apenas personagens maravilhosas que Guarnido nos oferece nas suas bandas desenhadas. Os enquadramentos com forte influência no cinema, as expressões inequívocas dos sentimentos das personagens, os ambientes, os cenários, os objetos, os estados do tempo, os pormenores, as nuances, a diversidade ilustrativa, o que fica subentendido... tudo roça a perfeição! Cada vinheta é um pequeno quadro, um frame que nos torna cativos na perfeição do talento do autor. Também por isso, o detalhe que o autor oferece aos seus desenhos é fora do comum. Cada vinheta merece que pousemos o nosso olhar atento e sereno nela durante largos momentos.

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros
E não ficamos por aqui! Também nas cores, e na forma sublime, acutilante e ténue como o autor utiliza as aguarelas na sua arte, estamos perante um gaúdio para os olhos. Uma maravilha que faz com que os seus painéis merecessem figurar no museu do Louvre. Na verdade, e para que não considerem que me estou a perder em exageros, lembro-me de ver no Louvre obras de arte que me entusiasmaram (bem) menos do que a arte de Guarnido. Talvez até a própria capa de O Burlão nas Índias seja um statement do autor quanto a isso. Se repararem bem, é um claro exemplo de quadro a óleo que tantas vezes habita as paredes de museus por todo o mundo. Já agora, e porque falei na capa da obra, confesso que nem acho que tenha um cariz comercial muito forte. No entanto, e após o término da leitura, compreende-se que é, sem tirar nem pôr, a capa certa para esta obra.

Ainda no cômputo da ilustração, outra coisa que me faz achar Guarnido único é que a sua ilustração parece encontrar uma simbiose perfeita entre um estilo que é comercial (a expressividade das personagens a la Disney) e, ao mesmo tempo, artístico (com o uso subtil das aguarelas, a capacidade de ilustrar décors que são autênticas obras de arte). Se fosse uma banda de rock, acho que Guarnido seria os Queen, podendo fazer músicas grandiosas e épicas como Bohemian Rhapsody, The Show Must Go On, Who Wants to Live Forever ou Innuendo e, ao mesmo tempo, fazer músicas mais comerciais como Another One Bites The Dust, I Want To Break Free, We Will Rock You ou Don't Stop Me Know. E isto, não é muito frequente em criadores de bd, que me parecem mais propensos a adoptar um ou outro estilo (o comercial OU o artístico) mas, muito raramente os dois estilos. Guarnido é comercial mas também é artístico. Enquanto lia este livro, a minha filha, de 6 anos, observou algumas páginas e comentou, “Uau, pai. Que desenhos giros!”. Mas também estou certo que um apreciador de pintura clássica pode ficar maravilhado com o trabalho de Guarnido.

Há muitos desenhadores de bd franco-belga ainda no ativo que são excecionais: Loisel, Gibrat, Yslaire, Miguelanxo Prado, Jordi Lafebre, Marini, Boucq, Manara, Bourgeon, Hermann, Schuiten, Chabouté, Ralph Meyer... enfim, podia estar aqui o dia todo. E mesmo não sendo eu uma pessoa que gosta de considerar um artista em detrimento dos outros, igualmente geniais, eu tenho que dizer que Guarnido é bem capaz de ser o meu preferido. Pondo as coisas com dramatismo... se eu fosse num avião em vias de se despenhar com todos os ilustradores geniais que menciono acima, e eu só tivesse um pára-quedas para salvar um deles... acho que o daria a Guarnido. Sim, atualmente, talvez seja o meu número um.

E neste O Burlão nas Índias, convém dizer que Guarnido não se poupou a esforços e não se deixou adormecer à sombra do seu aclamado trabalho em Blacksad. Pelo contrário, até tentou ir mais longe na sua demanda artística por algo sublime e inesquecível que figurará na história da banda desenhada para sempre.

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros
Mas se a qualidade do ilustrador Guarnido é óbvia e uma garantia, a verdade é que o nome Alain Ayroles era praticamente desconhecido para mim. E residia nele a capacidade – ou não – de fazer deste livro uma obra medíocre extremamente bem ilustrada ou uma obra-prima. Felizmente aconteceu o segundo caso e Ayroles vence e convence na maneira como nos entrega a história. É verdade que o autor já tinha uma certa base em que se apoiar – a obra original de Francisco de Quevedo – mas, ainda assim, há que reconhecer que o seu trabalho é formidável.

A opção por contar a história na primeira pessoa é logo uma decisão inteligente pois, como costumo dizer, isso já é meio caminho andado para que se crie automatica e sistematicamente uma relação entre narrador e leitor. Mas depois, esta é uma daquelas histórias bigger than life, com a qual facilmente nos identificamos em certos pontos, mesmo que, noutras situações, a conduta de Pablos nos possa chocar. Seja como for, há em todos nós um pouco de Don Pablos e damos por nós a torcer pelo seu sucesso, apesar de todas as más ações que a personagem protagoniza. A maneira como a personagem está tratada é excelente. E mesmo as personagens secundárias também têm influência no bom andamento e conceção da trama.

O texto é rico no vocabulário e, por vezes, certas vinhetas carecem de uma segunda leitura para que não percamos o fio à meada. Além disso, ainda temos momentos cómicos e satíricos, bem como momentos tristes, com frases marcantes, que nos obrigam a parar um pouco para pensar. Está lá tudo! Nada fica a faltar.

E, por fim, onde reside a verdadeira mestria de Ayroles é no facto do próprio autor, assumir o papel de Pablos ao conseguir baralhar tão bem o leitor. Estão a ver como se sentiam todas as pessoas que Pablos enganava? Ayroles brinca com o leitor e, não raras vezes, fiquei com este pensamento: “Sacana do Ayroles, deu-me bem a volta”. Isto, meus amigos, é uma jogada de mestre. Várias vezes nos é narrado um evento para, mais tarde, voltarmos a esse mesmo evento e vermos que, afinal, talvez as coisas não tenham mesmo acontecido como nos pareceu à primeira.

Sempre gostei deste tipo de exercícios narrativos que aumentam a possibilidade de retirarmos significados complementares das obras e que são uma clara prova da sagacidade e diversão que um autor aparenta ter na criação da obra. Um exemplo cinematográfico: lembram-se quando em o Lobo de Wall Street, Leonardo DiCaprio, interpretando Jordan Belfort, conta à sua mulher a história de como conseguiu chegar a casa, conduzindo sob o efeito de pesadas drogas? E que, mais tarde, percebemos que, afinal de contas, não foi bem como ele contou e somos brindados com a verdade dos factos? Que as coisas não correram como o narrador contou ao espetador? E somos surpreendidos? Nessa altura pensei, “Uau, Scorsese... deste-te ao trabalho de filmar, editar e produzir duas versões da mesma cena, só para brincares com o espetador? Genial!” Pois bem, em O Burlão nas Índias isso acontece vezes sem conta. E o meu sentimento foi semelhante: “Uau, Ayroles e Guarnido... vocês planearam, desenharam, trabalharam em tantas páginas que depois, mais à frente, seriam recontadas? Tudo em prole de uma narração audaz? Genial!”. É mesmo um trabalho de narração genial e Ayroles demonstra ser um exímio contador de histórias que sabe dar e tirar, encantar e ludibriar. Tal como o protagonista da obra, Don Pablos.

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros
A minha análise já vai longa mas não a posso terminar sem falar da edição da obra. O trabalho de argumentista e ilustrador já era perfeito e faltava apenas que a editora Ala dos Livros pudesse estar ao nível dos autores. E, meus caros, a qualidade desta edição é um marco no lançamento de banda desenhada em Portugal. O formato de 235 x 310 mm é gigante e faz com que este livro seja o maior livro de banda desenhada da minha extensa coleção de bd. E mesmo fora de bd só tenho um Atlas da Vida Selvagem que consegue ser maior em formato do que O Burlão. Espantoso! E claro, relembrando a qualidade da arte de Guarnido e os detalhes das suas ilustrações, um formato deste tamanho permite uma imersão total na obra. O livro conta com papel de ótima qualidade, capa dura, com o título da obra debruado a tinta dourada e em relevo. A edição traz ainda uma elegante fita vermelha que serve como marcador de livro. Um objeto magnífico de se ter. Lembram-se do que eu escrevia acima sobre o preço “puxadote”? O preço do livro até pode ser “puxadote” mas quando olhamos para a qualidade do argumento, para a qualidade da ilustração e para a qualidade da edição... a relação qualidade/preço permite-nos ver que esta obra de cara não tem nada. Se o barato por vezes sai caro, aqui é caso para dizer que o caro sai barato.

E como se tudo isto já não fosse suficiente, a editora à semelhança do que fez em Alice – Edição Especial 25 Anos, de Luís Louro, optou por lançar uma edição especial e bastante restrita de 100 exemplares. Nesta edição restrita de O Burlão nas Índias, o livro vem com selo branco, é numerado e é acompanhado por uma tela que reproduz a capa do livro e que pode servir como caixa para arrumar o livro. Embora me pareça que a função de “caixa” não seja tão bem conseguida como a de tela. Os fãs e colecionadores de banda desenhada apreciam este tipo de brindes e acho que faz cada vez mais sentido dar a possibilidade a um número pequeno de fãs para poderem adquirir relíquias adjacentes à obra.

O Burlão nas Índias não é apenas um livro perfeito. É um livro que tem que fazer história. Já nem eu nem aqueles que me lêem no Vinheta 2020 estarão neste mundo e esta obra continuará a ser um marco para a banda desenhada. Daqui a 10, 50, 100 anos. É esta a marca da universalidade que traz consigo este O Burlão nas Índias. Da mesma forma que Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes é uma obra ímpar e universal, O Burlão nas Índias também o é. Guarnido dá show em cada vinheta, oferecendo-nos uma autêntica masterclass, um verdadeiro banquete daquilo que a ilustração em banda desenhada (também) pode ser. E Ayroles é igualmente genial, audaz e inteligente ao construir um argumento tão bem articulado, tão bem doseado, tão bem conseguido.

Sabem o que me está a apetecer fazer depois de ter escrito este texto? Reler esta obra-prima da banda desenhada outra vez!

Caros leitores, já compraram? Então estão à espera de quê? Se esta banda desenhada não esgotar, algo está errado com os leitores portugueses de (boa) banda desenhada.


NOTA FINAL (1/10):
10.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles - Ala dos Livros

Ficha técnica
O Burlão nas Índias
Autores: Juanjo Guarnido e de Alain Ayroles
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021

quinta-feira, 25 de março de 2021

Lançamento: O Burlão nas Índias está a chegar!!!




Está para chegar aquele que, a meu ver, será um dos grandes lançamentos de BD em Portugal, durante o ano de 2021: O Burlão nas Índias, da autoria de Juanjo Guarnido (Blacksad) e de Alain Ayroles (De Cape et de Crocs).

Devo dizer que fui acompanhando a feitura deste trabalho nas redes sociais de Juanjo Guarnido e a arte é qualquer coisa de espantoso. Com uma qualidade de ilustração semelhante àquela que é uma das minhas séries preferidas de sempre: Blacksad. Também estive várias vezes a "namorar" a versão original em francês que saiu em 2019. Felizmente, ainda bem que me contive e agora poderei apreciar esta obra em português.

Como se isto não fosse já uma notícia de ouro para os adeptos de bd, a Ala dos Livros volta a surpreender com o lançamento de uma edição especial! Haverá uma edição limitada a 100 exemplares, numerada, com selo branco, e embalada em moldura com tela.

Este é um sério candidato a livro do ano. 

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e com as imagens promocionais.

O Burlão nas Índias, de Juanjo Guarnido e Alain Ayroles

El Buscón, a novela picaresca escrita por Francisco de Quevedo, é uma das mais importantes obras da literatura espanhola de todos os tempos. No último parágrafo desta obra, Pablos, um burlão, relata que no final da vida viajou até às Índias em busca de fortuna. Prometeu detalhar os pormenores dessa viagem numa segunda parte, a qual Quevedo nunca escreveu.

Pegando na história no ponto em que Quevedo a interrompeu, é essa “segunda parte da História da vida do aventureiro de nome Don Pablo de Segóvia, vagabundo exemplar e espelho dos trapaceiros” que o desenhador espanhol Guarnido (Blacksad) e o argumentista francês Alain Ayroles (Garulfo, De Cape et de Crocs) nos propõem em O Burlão nas Índias, uma banda desenhada magistral de 160 páginas que é, também ela, uma importante obra literária.

O Burlão nas Índias narra-nos as aventuras de Dom Pablos de Segóvia, um bandalho pouco recomendável, mas extremamente simpático e convincente, que na Espanha do Século de Ouro se aventura nessa América a que então chamavam Índias. Sucessivamente miserável e riquíssimo, adorado e escarnecido, as suas peripécias conduziram-no dos meios pobres aos palácios, dos picos da Cordilheira aos meandros do Amazonas, até esse local mítico onde se cristalizam todos os sonhos do Novo Mundo: o Eldorado!

Inicialmente publicada em França em 2019, esta obra obteve os seguintes prémios:

«Prix des Libraires de BD », « Prix Landerneau», «Prix RTL de la BD», «Prix BD Le Parisien», «Prix BDGest du meilleur récit court Europe» e o «Prix Hors les murs».

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Ficha técnica
O Burlão nas Índias
Autores: Juanjo Guarnido e de Alain Ayroles
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 33,00€
PVP do Pack Especial - Edição limitada a 100 exemplares, numerada, com selo branco, embalada em moldura com tela: 45€