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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

TOP 5 - As melhores novelas gráficas da última edição da Levoir e Público



TOP 5 - As melhores novelas gráficas da última edição da Levoir e Público 

Depois de, no passado sábado, ter chegado ao fim a 6ª edição da Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, é tempo de fazer uma pequena reflexão em relação a esta última edição, olhando para o seu conjunto, e definir quais foram as 5 melhores obras desta leva. 

Tal como todas as atividades de 2020, também a edição deste ano das Novelas Gráficas, sofreu com a pandemia de covid-19, tendo a coleção sido lançada apenas no final do mês de Agosto, cerca de dois meses mais tarde do que aquilo que aconteceu em edições anteriores. 

A série começou bastante mal, com a terceira e quarta obra, O Neto do Homem mais Sábio e Rever Paris, respetivamente, a serem lançadas com mais erros e falhas do que o aceitável, sendo de especial importância, o erro no ano do nascimento do autor José Saramago, em O Neto do Homem mais Sábio, que colocava o escritor português a nascer nos anos 90(!) e, a meu ver, ainda mais difícil de aceitar, a famigerada página 58 do álbum Rever Paris, que apresentou imagens impressas em baixa resolução, deixando-as "pixelizadas" e, consequentemente, arruinadas. Difícil de compreender também, foi a dualidade de critérios que a editora adotou face as erros destas duas obras. No caso de O Neto do Homem mais Sábio decidiu fazer uma nova edição da obra, recolhendo a primeira edição, sem custos adicionais para os leitores que a tinham adquirido. Algo que considero que foi responsável e bem feito, por parte da Levoir. Mas em Rever Paris, a editora nem sequer se pronunciou sobre os erros tão gritantes da obra. O que é lamentável. 

Há, no entanto, que ser justo e afirmar que, olhando para o todo, a edição das obras foi bastante satisfatória e sem mais problemas de aí em diante. É de assinalar que esta 6ª Coleção de Novelas Gráficas – que continuo a considerar O ACONTECIMENTO da edição de banda desenhada em Portugal – apresentou, em termos gerais, uma boa seleção de livros, todos inéditos em Portugal (à exceção de As Paredes Têm Ouvidos), e a um preço extremamente competitivo (10,90€). Por este preço apetecível, é quase "serviço público" aquilo que a editora faz. E, por esse motivo, todos os amantes de banda desenhada deverão estar gratos por esta fantástica coleção. 

Uma pequena nota que faço, meramente pessoal, é que me parece que o alinhamento das obras poderia ser mais bem dividido entre si. Neste ano, a grande maioria das melhores obras ficaram para o fim. Tendo em conta que interessa "agarrar" o leitor, desde o primeiro momento, será que as melhores obras não deveriam ser lançadas logo no início da coleção? Fica a questão no ar. 

A inclusão de três obras que, mesmo não sendo criadas por autores portugueses, tratam de assuntos do interesse geral dos portugueses, tais como a biografia de José Saramago, em O Neto do Homem mais Sábio, e o período do Estado Novo em Portugal, que é retratado em As Paredes Têm Ouvidos e Ao Som do Fado, merece uma vénia da minha parte. 

Deixo-vos então com a lista daqueles que considero os 5 melhores livros desta 6º edição da coleção  de Novelas Gráficas que, para os leitores mais atentos que seguem o Vinheta 2020, não deverá apresentar grandes surpresas:

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Análise: Ao Som do Fado



Ao Som do Fado, de Nicolas Barral

Ao Som do Fado é o 14º livro da coleção Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, e fecha com chave de ouro a edição deste ano. É uma obra magnífica e verdadeiramente obrigatória para todo e qualquer fã de banda desenhada. E não só! A Levoir fez jackpot com esta aposta!

Por vezes, há situações na vida ou nas artes em que tudo parece correr bem. Parece que todos os astros estão alinhados entre si, de forma a dar-nos algo maior e melhor, por causa desse mesmo alinhamento. É o caso de Ao Som do Fado. Nas pequenas e grandes coisas, nesta obra tudo parece funcionar bem e com uma fantástica harmonia. 

Como primeiro ponto positivo é sempre de assinalar que a Levoir tenha conseguido lançar a nível mundial uma obra. E, ainda por cima, sendo uma obra sobre Portugal e o período do Estado Novo, ainda melhor isso é. É claro que isto, por si só, não seria garantia de um livro espetacular. Mesmo com lançamento mundial e tratando uma questão que interessa - ou devia interessar – aos leitores portugueses poderia, mesmo assim, ser uma obra mal conseguida. Felizmente, não é o caso. 

Avançando para a história, esta decorre em Portugal, durante a década de 1960, período em que Salazar ainda detinha os desígnios de Portugal nas suas mãos. O protagonista é Fernando Pais, um médico bon vivant, que mantém uma vida tranquila, embora pareça estar sempre perto do perigo, devido às relações que vai criando com pessoas que põem em causa o Estado Português. Curiosamente, e ainda mais se tivermos em conta esses tais relacionamentos que tinha, Fernando acaba depois por ser contratado para trabalhar na sede da PIDE. A obra vai responder o porquê desta situação mas isso caberá aos leitores desvendarem por si, para não criar spoilers. Ao mesmo tempo que vamos acompanhando a história de Fernando no tempo presente, vamos tendo flashbacks até ao seu tempo de estudante universitário, quando conhece alguns elementos da resistência portuguesa e se apaixona por uma militante, Marisa. Eventualmente, e passados 10 anos em que um acontecimento importante muda a sua vida, e a dos que o rodeavam na juventude, volta a aproximar-se de um grupo de inconformados com o regime vigente em Portugal. 

A história permite várias reflexões, mostrando-nos a tristeza (ainda) latente de um regime repressivo perante a liberdade de expressão e de associação, com acontecimentos algo chocantes ao longo da história, mas com um final algo positivo. Ou será negativo? Julgo que esta conclusão deverá ser feita por cada um dos leitores. Mas uma coisa é certa: a obra também sabe não tomar demasiado partido sobre os acontecimentos retratados. E mesmo se nos revela uma atuação da PIDE vergonhosa para a história de Portugal, também aponta num sentido mais positivo – um silver lining? – para que, passadas várias décadas do período do Estado Novo, saibamos aprender e ter uma visão panorâmica sobre os acontecimentos. E isto revela, que esta é uma obra profundamente adulta. Quanto mais maduros formos, melhor e mais profundamente compreenderemos Ao Som do Fado. Um jovem com 15 anos compreenderá certamente os significados deste livro. Mas um homem de 55 – ou de 75 anos, quiçá – conseguirá certamente mergulhar mais profundamente nela. Mas não há problema, se tudo correr bem, o jovem de 15 anos voltará a esta leitura anos mais tarde, descobrindo novos e/ou renovados significados. Portanto, isto também me leva a dizer que é um livro que deve ser lido por todos. E se eu fosse professor de História, na altura do estudo do período do Estado Novo, recomendaria certamente a leitura desta obra.

O argumento é muito interessante, fazendo com que o livro não seja apenas um livro histórico, pois pode ser lido em qualquer outra parte do mundo, mesmo por alguém que nunca tenha ouvido falar do Estado Novo em Portugal e, ainda assim, ser uma boa história. O ritmo não é rápido mas, nem por sombras, é demasiado lento. É o ritmo adequado e adulto, que permite criar pausas e reflexões, mantendo o nosso interesse em desvendar a história. Todas as personagens estão muito bem desenvolvidas parecendo-nos reais e que deixam a sua marca em nós, leitores.

Ainda não falei do autor deste livro magnífico. Nicolas Barral é francês mas aparenta ter uma forte ligação a Portugal. É verdade que casou com uma mulher cujo país de origem é Portugal e que, segundo o autor, muito contribuiu para lhe apresentar a cultura e história portuguesa. Este autor já é conhecido do público português devido à série As Aventuras de Philip e Francis – uma paródia à série Blake e Mortimer – que, em Portugal, está editado pela Arte de Autor.

Em termos gráficos, temos um livro com uma arte elegante que retrata Lisboa à época com muito cuidado e graciosidade. O trabalho de fundo do autor foi muito bem conseguido porque graficamente consegue recriar uma vida, uma presença e uma forma de estar das personagens que é, em tudo, muito lisboeta. Muito portuguesa. E a obra também se torna apetecível por ter tantos pontos emblemáticos da cidade como a zona de Alfama, o Cais do Sodré, a Praça do Comércio, o Chiado, o Rossio, a Cidade Universitária, a Rua Augusta, a Avenida da Liberdade, os cafés A Brasileira ou o Martinho da Arcada, entre outros.

O traço é elegante e bem desenvolvido, com personalidade própria e com uma boa capacidade de ilustrar as várias emoções das personagens. Se posso fazer uma única crítica a esta obra soberba é que o facto de várias vezes, o autor mudar a espessura do seu traço, alternando entre um traço mais fino e um traço mais grosso, não me deixou tão maravilhado porque prefiro de longe as ilustrações do autor com o referido traço fino. Mas não é nada que belisque a qualidade gráfica do álbum. É mais uma questão minuciosa e, francamente, oriunda do meu gosto pessoal, a falar.

Em termos de cores, o autor também acertou em cheio, captando muito bem a luz de Portugal. Tenho vários amigos e conhecidos estrangeiros que me dizem que a luz de Portugal – o próprio tom azul do nosso céu, assim parece – é diferente dos outros sítios. Dos outros países. Ao início achava que estes eram comentários resultantes do estado maravilhado de se passar umas férias ou umas temporadas em Portugal. Mas já vão sendo tantas as pessoas que, sem se conhecerem entre si, me dizem isto, que começo a achar que efetivamente têm razão e que, de facto, Portugal tem uma luz natural e um azul no céu únicos. Seja como for, Nicolas Barral percebeu issoe e transpô-lo para a obra. Quando folheio este álbum tenho a exata sensação de estar em Lisboa. Os flashbacks que vão acontecendo ao protagonista Fernando ao longo da obra, apresentam uma paleta a sépia que também funciona bem, e que permite ajudar à distinção entre tempo passado e presente, dando um charme adequado às lembranças da personagem.

Quanto à edição da Levoir, está em linha com a qualidade da maioria dos livros da coleção. Capa dura, papel fino de qualidade. Lamento que não haja prefácio a esta obra – bem o merecia! - mas sei que possivelmente isso se deve à gestão dos cadernos para impressão e da ausência de espaço livre para o fazer – sem ter que aumentar o livro, entenda-se. 

Portanto, e finalizando, tudo parece funcionar bem neste livro. O argumento é excelente, as ilustrações são bonitas, as imagens de locais portugueses são fiéis, é um documento histórico, tem personagens bem desenvolvidas, uma fantástica capa e até tem a elegância de um título muito inspirado. A isto ainda se junta o tal merecido lançamento mundial. Se tudo o que envolve esta obra não é perfeito, anda lá perto.

É uma proposta obrigatória, mais que recomendada, e assume-se como um dos melhores livros do ano. Daqueles livros que, daqui a 50 anos, continuará a ser um fantástico romance, uma magnífica ode a Portugal - e à cidade de Lisboa, em particular -, e um valioso testemunho histórico sobre o Estado Novo que tão profundamente marcou a história do nosso país. Se ainda não o compraram, não percam mais tempo.


NOTA FINAL (1/10):
9.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
Ao Som do Fado
Autor: Nicolas Barral
Editora: Levoir
Páginas: 168, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2020

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Lançamento: Ao Som do Fado



Pois é, tudo o que é bom chega ao fim e amanhã sai para as bancas o último volume da coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público.

Trata-se de Ao Som do Fado, uma história ambientada em Portugal na década de 60, e é da autoria do autor francês Nicolas Barral, que terá nesta edição o seu lançamento a nível mundial. E isso é impressionante!

Fiquem com a nota de imprensa da editora e respetivas imagens promocionais.


Ao Som do Fado, de Nicolas Barral

Para terminar a colecção Novela Gráfica VI a 21 de Novembro, a Levoir e o Público escolheram fazer o lançamento a nível mundial da obra Ao Som do Fado do francês Nicolas Barral.

Licenciado pela Escola de Belas-Artes de Angoulême, Nicolas Barral iniciou a sua carreira na revista Fluide Glacial, mas foi a sua colaboração com Pierre Veys em Baker Street e As Aventuras de Philip e Francis – uma paródia à série Blake e Mortimer – que o tornou conhecido do grande público.

A história decorre em Portugal, na década de 1960, período em que o país tinha Salazar como presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo. Nicolas Barral começa Ao Som do Fado com a queda da cadeira dada por Salazar, durante umas férias no Forte de Santo António, no Estoril.

Fernando Pais é um médico lisboeta que leva uma vida tranquila vivendo longe das tensões que se fazem sentir no país, até ao dia em que é contratado para tratar os prisioneiros torturados pela PIDE. O que deverá ele fazer? Ignorar ou passar a fazer parte dos horrores do regime? Não fazer nada é aderir e Fernando não tem outra opção que não seja envolver-se activamente na resistência.

-/-

Ficha técnica
Ao Som do Fado
Autor: Nicolas Barral
Editora: Levoir
Páginas: 168, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€


domingo, 15 de novembro de 2020

Análise: Acender Uma Fogueira



Acender Uma Fogueira, de Chabouté
 

Com a coleção das Novelas Gráficas da Levoir e do Jornal Público a aproximar-se, cada vez mais, do seu final, devo confessar que este era um dos títulos mais por mim aguardados. O seu autor, Christophe Chabouté, conquistou nos últimos anos um lugar de destaque junto dos leitores de banda desenhada. E mais do que parecer almejar ser um autor comercial, parece-me que aquilo que Chabouté persegue é a qualidade do seu trabalho, abraçando projetos dificeis de levar a bom porto, como, por exemplo, uma banda desenhada em que, cada vez mais, o texto é apenas usado quando estritamente necessário. E este Acender Uma Fogueira é um exemplo da dificuldade inerente. O próprio autor refere que após conhecer o conto original de Jack London, no qual esta obra se baseia, achou imediatamente que seria “uma história impossível de contar em BD porque aconteciam pouquíssimas coisas”. Mas, lá está, foi exatamente essa impossibilidade ou, diria antes, dificuldade, que funcionou como drive para que Chabouté pegasse nesta obra. E isso é muito louvável. Revela que o verdadeiro concorrente do autor é ele mesmo. Pertencem a este tipo de artistas, aqueles que chegam mais longe, que quebram convencionalismos e que conseguem deixar a sua marca que persiste e resiste ao teste do tempo. 

A história desta obra não poderia ser mais linear e fácil de explicar. Um homem caminha pelas florestas geladas do norte da América, em busca do ouro do Klondike, enquanto é acompanhado por um cão. As temperaturas são tão geladas que a luta pela sobrevivência torna-se o primordial objetivo do protagonista. E é por isso que o punhado de fósforos que possui, são a verdadeira arma que o mune para fazer face a temperaturas tão nefastas de lidar por parte do ser humano. Uma clássica luta pela sobrevivência num ambiente incrivelmente inóspito. Conseguirá o homem prevalecer sobre a natureza? 

A arte de Chabouté revela uma grande beleza na caracterização das paisagens. Afinal, este é um livro bonito de se observar da primeira à última página. E em termos de planificação, embora Chabouté nos apresente uma planificação clássica e sóbria, também é verdade que é uma planificação variada com vinhetas de vários tamanhos. Em termos de cores, o trabalho do autor, mais do que bem feito, é inteligente na forma como utiliza a vertente cromática em Acender Uma Fogueira. Chabouté, que habitualmente recorre ao preto e branco, decidiu usar cores nesta obra e isso foi uma decisão claramente ajustada para que o branco da neve, que envolve o protagonista, seja constrastado com o vermelho vivo do fogo das fogueiras. Sendo uma paisagem árida de vida, poucas são as cores que aparecem. Quase que só existem 3 cores para além do preto e branco: o tom da pele da personagem, os tons acastanhados da sua roupa e dos troncos das árvores despidas, e, claro, o vermelho alaranjado do fogo. 

Esta é uma obra que não tem muito texto em quantidade mas, ainda assim, onde o texto que possui assume uma forte importância para que a relação que se cria entre o leitor e o protagonista seja sedimentada. E esse texto que nos é dado, não é feito propriamente através de balões de fala porque, afinal de contas, o protagonista da história encontra-se sozinho e não chega a comunicar com o cão através de fala. No entanto, o discurso da sua consciência, como que em pensamento, é passado aos leitores. E é através dessa forma que sabemos para onde vai, como vai e que vamos sentindo a angústia que, gradualmente, começa a habitar a personagem. Diria, pois, que há uma clara e brilhante consonância entre comunicação textual e imagética. 

O traço do autor é fino, elegante e habilidoso e só a cara da personagem aparenta uma maior crueza na caracterização. O jogo de sombra e luz está muito bem executado. Acima de tudo, sentimo-nos mesmo dentro do cenário onde a história se desenrola. Como se, tal como o homem e o cão, também nós sentíssemos o frio, o sentimento de desolação e o crescente mau presságio que começa a ser levantado. Desespero é mesmo uma sensação que me habitou enquanto lia esta obra. Como se, qual espetador, apenas seja dado ao leitor a possibilidade de assistir passivamente a uma história que ameaça desgraça desde as primeiras até às últimas páginas. Se ela acontece ou não, caberá ao leitor ir descobrir. 

E, portanto, toda a obra traz consigo uma grande maturidade narrativa, uma simplicidade nos intentos, que leva-me a considerar Acender uma Fogueira como uma obra carregada de qualidade. Eventualmente não será um daqueles livros que mudam a nossa vida – se é reconfortante assistir a uma obra com uma história tão despretensiosa, também é verdade que haverá finitude na capacidade de nos marcar ao longo das nossas vidas. É um livro sério, sincero e belo, mas que traz consigo uma reflexão pertinente. 

A edição da Levoir está muito muito bem conseguida. Detendo todas as características inerentes aos livros da mesma coleção – como capa dura e papel fino de boa qualidade – traz também uma bonita galeria de esboços do autor, além de um prefácio e de um posfácio pertinentes, que ajudam o leitor a inteirar-se sobre a obra do autor. 

Deixo um aviso à navegação. Não me parece que seja uma obra para todos. Não há ação, não há trama, não há vilões (só se considerarmos as condições atmosféricas como o próprio "vilão" desta história). É pois, uma obra solitária, em que acontecem "poucas coisas" como o próprio Chabouté referiu deste o início. Acredito que muitos autores poderão considerar uma obra “chata”, demasiado fechada e verificar uma certa sensação de marasmo. Reconhecendo pois que não será uma obra para todos, é uma obra verdadeiramente magnânime pelo propósito que tem, pela componente gráfica e por trazer consigo uma mensagem que, até mesmo sendo de alguma forma "batida", sempre convém relembrar: há coisas maiores do que o homem. E ser humilde enquanto espécie animal, fazer-nos-á chegar mais longe do que se adoptarmos uma postura de que somos donos e senhores do mundo e de tudo o que nele acontece. Uma poderosa mensagem, num poderoso livro de Chabouté. A qualidade é uma garantia nesta obra e, tal como João Miguel Lameiras assume no posfácio deste livro, também era meu desejo que este autor passasse a ser (mais) publicado em Portugal. Parabéns à Levoir pela aposta. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.7 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica 
Acender Uma Fogueira 
Autor: Christophe Chabouté 
Editora: Levoir 
Páginas: 96, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Novembro de 2020

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Análise: A Vida é Bela, Se Não Desistires

A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth


A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
 

A Vida é Bela, Se Não Desistires é a 12ª obra a ser lançada na Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do Jornal Público, e é a primeira obra do autor Seth a ser editada em Portugal. 

Seth é o pseudónimo de Gregory Gallant, um dos autores de BD mais célebres da, também célebre, editora canadiana Drawn & Quarterly, que tem publicado ao longo dos tempos importantes bandas desenhadas de um estilo mais alternativo e mais maduro. Este A Vida é Bela, Se Não Desistires é uma prestigiada obra, tendo sido até eleita como um dos “cem melhores comics do século XX”, pelo The Comics Journal. Mas estas questões dos prémios valem o que valem, bem o sabemos, e fica apenas como nota de interesse. Mas já voltarei a este assunto. 

Esta é uma obra autobiográfica em que o autor nos mostra alguns pedaços da sua vida, nomeadamente, a sua paixão, ou diria mesmo, obsessão, pelos cartoons das revistas The New Yorker. E é quando descobre um cartoon de um autor que assina como “Kalo”, e que Seth não conhece, que o seu interesse em saber mais sobre esse autor e respetiva obra, começa a aumentar, levando-o a procurar mais informação em qualquer lado possível, desde lojas de banda desenhada, a listagens de autores, ou, até mesmo, contactando os responsáveis da The New Yorker. 

A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
Toda a narrativa da obra circunda esta demanda de Seth, ao mesmo tempo que vamos conhecendo um pouco da sua vida, como a relação algo vazia que mantém, esporadicamente, com a sua mãe e irmão, ou o seu relacionamento amoroso e como o mesmo também é bastante superficial. A única coisa no protagonista da história que parece ser profunda é a sua relação e gosto pelas coisas do passado. Não só os comics antigos como tudo, de uma forma geral. No tempo atual, Seth revela-nos que já nada parece ter o charme e a qualidade das coisas de outrora. Acaba por ser uma pessoa presa ao passado e refém de um sentimento de saudosismo e nostalgia, que o invade nas mais pequenas coisas. Até na relação com a sua família. Se as memórias do passado com a família até são boas, a personagem parece estar desligada da mesma no tempo presente. 

Além disso, também são feitas muitas referências a outros autores de banda desenhada que influenciaram o gosto do autor. Isso até é interessante, mas como certos cartoons são contados apenas em texto e sem qualquer demonstração visual, fica-se com a ideia que as referências acabam por não trazer nada de muito relevante à história. Parecem meros fillers narrativos ou um capricho pessoal do autor. 

A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
A arte de Seth apresenta um traço elegante que nos remete automaticamente para os cartoons clássicos dos anos 40 e 50. Funcionam muito bem e dão à obra um tom adequado, muito em consonância com a personalidade da própria personagem principal. As personagens são por isso bastante "cartoonizadas", tendo-me remetido para o estilo de desenho da série televisiva do Batman: The Animated Series, de Paul Dini e Bruce Timm. O estilo é, pois, por isso, vintage e os desenhos apresentam-se graciosos. Todo o livro é colorido em tons azulados que, juntamente com os brancos e pretos, dão um toque de classe e beleza suave à obra. Graficamente, é uma obra exemplar e bonita para observar. 

Voltando à questão de A Vida é Bela, Se Não Desistires ser uma obra muito prestigiada quer para leitores quer para crítica, aproveito para dizer que, enquanto leitor e analista de banda desenhada, me considero bastante desprendido das observações que a crítica ou o público fazem a uma obra. Isso não quer dizer que eu esteja isolado na minha bolha. Leio muitos outros blogs e sites - com destaque para o blog português As Leituras do Pedro, do qual sou seguidor assumido – embora eu me obrigue a não ler análises às obras que irei analisar brevemente, para que, mesmo inconscientemente, não acabe influenciado nas minhas opiniões. No entanto, e é esse o ponto que pretendo passar, o facto de um livro vencer prémios ou ser aclamado por público e crítica não me leva a aclamá-lo também, só porque sim, ou para estar em concordância com os demais. Não me passa pela cabeça concordar (ou discordar!) só porque sim. Tenho que gostar verdadeiramente. Caso contrário, se for para ter um espaço que diz exatamente o que os outros já dizem, mais vale não o ter. E é por isso que considero o Vinheta 2020 como um espaço 100% livre, nas opiniões que emite. 

A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
E isto para dizer que este A Vida é Bela, Se Não Desistires é um bom livro mas, e a meu ver, apenas isso. Já muita gente mo tinha recomendado, ainda antes de eu saber que seria um livro a ser incluído nesta coleção de Novelas Gráficas da Levoir. E já o tinha visto em muitos TOPs de melhores livros de bd. Estava com grandes expetativas, mas, mesmo reforçando a ideia de que é um bom livro e, possivelmente, uma das propostas mais fortes desta edição de novelas gráficas, devo confessar que não correspondeu às minhas expetativas. As leituras que fiz de A Vida é Bela, Se Não Desistires – e até fiz duas para dar o benefício da dúvida e tentar perceber se era eu que estava “errado” ou a deixar escapar algo – levam-me a concluir que é um livro bonito e bem ilustrado, naquele estilo que, coerentemente com a história, nos remete para os cartoons clássicos da revista The New Yorker, mas que, em termos de história ou de mensagem, é uma obra algo seca e que, não sendo de todo vazia, também não aprofunda os seus intuitos convenientemente. É feito o convite ao leitor para algumas reflexões a retirar, aqui e ali, com a introdução de algumas frases bem calculadas - com a característica “quotable”, que qualquer autor sempre busca -, mas, no final, a sensação é de um certo vazio, de uma certa superficialidade narrativa. 

A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
Seth procura compreender a sua desilusão com o presente e o seu gosto pelas coisas do passado, mas parece lançar as questões para o ar, apenas. A tal procura por Kalo chega a apresentar um cariz “burocrático”. E não é que eu tenha ficado indiferente aos momentos calmos de reflexão, de nuances em termos de significado. A questão é que não chega a tocar lá no fundo. A obra está cheia de planos em que se vê o protagonista a caminhar na rua. São também utilizados alguns planos de detalhe, quer na rua, quer nos interiores. E se isso implica um certo cuidado com a meta-comunicação por parte do autor, a verdade é que acaba por ser um “truque” narrativo repetido demasiadas vezes. E, não sendo utilizado para algo mais denso em termos de potencial interpretação, acaba por cair na árida repetição de vinhetas que vão parecendo iguais umas às outras. Por exemplo, perdi a conta das vinhetas com ilustrações de casas que vão preenchendo as localidades por onde o protagonista passa. Se é verdade que as ilustrações são bonitas de se observar e que a utilização das mesmas nos permite uma viagem mais vagarosa e com mais atenção à envolvente dos sítios por onde Seth passa, às tantas a ideia de repetição e de vazio começa a habitar-nos a mente. Claro que, bem sei, Seth procura que, qual lugar comum, nos centremos mais na jornada do que no destino mas, ainda assim, a jornada, por si só, não chega a ser profunda ou dinâmica o suficiente para passar da mundanidade. Aquando o seu lançamento original, em 1996, talvez este livro apresentasse características próprias que o distinguiam dos demais. Hoje em dia, apenas me parece um livro bom. Sem ser excecional. 

A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
Quanto à edição da Levoir, temos um bom trabalho em mãos. Capa dura e papel fino de qualidade. Reparei que a característica orla preta, que deriva da lombada e ocupa uma pequena porção da capa, não foi introduzida neste A Vida é Bela, Se Não Desistires. Desta vez, a minha costela de designer percebe a razão. Como é um livro em que a capa é dividida em 9 retângulos, significa que se a tal orla preta, característica dos livros desta coleção, fosse colocada, ficaríamos com uma capa assimétrica porque, necessariamente, os retângulos do lado esquerdo da capa ficariam menos espessos que os restantes. Não funcionaria bem. Desta vez, compreendo totalmente esta pequena rotura com a homogeneidade dos livros. Parece-me também que o tamanho da letra dos balões está exageradamente pequeno em dimensão, o que dificulta um pouco a leitura do texto. Não é algo que considere que estrague a leitura – e até gostei da fonte escolhida, que encaixa bem no estilo visual da obra – mas reconheço que ficaria melhor se o texto fosse um pouco maior em dimensão. 

Em conclusão, esta é uma obra que chega aos leitores portugueses com muito atraso em relação ao lançamento original. A Levoir está de parabéns por ter feito este “serviço público” aos amantes de BD. Embora esta seja uma obra com qualidade, um bom livro de BD, confesso que me deixou um pouco desiludido. Talvez a culpa disso seja o demasiado hype que envolve A Vida é Bela, Se Não Desistires. É bom, mas não considero que seja tão magnífico assim. É apenas bom. Não obstante, assume-se como um dos reforços de peso desta coleção de Novelas Gráficas da Levoir e Público. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.6 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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A Vida é Bela, Se Não Desistires, de Seth
Ficha técnica 
A Vida é Bela, Se Não Desistires 
Autor: Seth 
Editora: Levoir 
Páginas: 192, a 2 cores 
Encadernação: capa dura 
Lançamento: Novembro de 2020

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Análise: A Solidão do Executivo

A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí - Levoir - Público


A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí - Levoir - Público
A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí 

O 11º volume da coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, é A Solidão do Executivo, da autoria de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí. Da mesma dupla criativa, foi igualmente publicada pela Levoir, na coleção de 2018, a obra Tatuagem. Quanto a Bartolomé Seguí, isoladamente, contando com As Serpentes Cegas (argumento de Felipe Cava Hernandez) e com Histórias do Bairro (argumento de Gabi Beltrán), este já é o seu quarto livro a figurar na coleção de novelas gráficas, o que faz dele um dos autores mais assíduos desta coleção da Levoir. 

Quanto a mim, isso são boas notícias. A arte deste autor tem uma personalidade muito própria e que muito me atrai. Se os leitores que me lêem gostaram da arte visual de Tatuagem, certamente gostarão da arte ilustrativa de A Solidão do Executivo. Há uma continuidade no desenho e no estilo, que é mantida nesta nova aventura da personagem Pepe Carvalho. Quer o desenho, quer a ambiência que Seguí introduz nas suas ilustrações, parecem remeter-nos para os anos 70. Se fosse um filme, tanto este A Solidão do Executivo, como Tatuagem, teriam uma fotografia muito derivante dos anos 70, em termos cromáticos. E o cuidado com que os ambientes (sejam objetos, sejam personagens ou sejam veículos) são desenhados é tanto que nos basta folhear o livro para que mergulhemos nesse período. As referências a esses anos idos são muitas e estão presentes por todos os desenhos, se estivermos atentos. Até chega a haver uma referência – e reflexão - ao célebre cartaz do 25 de Abril, com a imagem da criança a colocar um cravo numa metralhadora. 

A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí - Levoir - Público
O trabalho de cores é, possivelmente, a arma secreta de Seguí que lhe permite ter uma aura tão histórica nos desenhos que nos apresenta nesta história. O resultado é fantástico! E mesmo sendo verdade que o traço do autor é fino, há também uma presença de carvão a sombrear as ilustrações, que dá o tal toque original ao trabalho de Seguí, que o distingue dos restantes autores. Em termos de desenho, apresenta uma vertente semi-realista que funciona muito bem. A planificação das páginas é interessante, apresentado uma boa variedade e dinâmica, e os “planos de câmara” também são bem conseguidos por parte de Seguí. Diria que, em termos gráficos, é uma obra cheia de qualidade. Pode-se gostar ou não do estilo de ilustração do autor. Mas acho que é facilmente aceitável por todos que, em termos de ilustração, este é um álbum muito interessante. 

Onde as coisas não funcionam tão bem, é na parte da história em si. Mas já lá irei. 

Quanto ao argumento, tal como em Tatuagem, também em A Solidão do Executivo temos uma adaptação, com base no romance com o mesmo nome, de Manuel Vázquez Montálban. E também a personagem principal é Pepe Carvalho que, neste novo caso, terá que investigar a morte de Antonio Jaumà, um importante homem de negócios. A narrativa permite-nos ainda um regresso ao passado de Carvalho, nos tempos em que era agente da CIA e fez uma viagem pelos Estados Unidos com o, agora falecido, Jaumà. E embora tudo e todos pareçam confirmar que Jaumà foi assassinado por causa de um acerto de contas sexual, a vivúva do mesmo contrata Pepe Carvalho para investigar o assassinato. Entretanto a história dá várias voltas e reviravoltas. A maior parte da investigação acontece em Barcelona mas também há muitas partes do livro que nos levam até São Francisco, Los Angeles ou Las Vegas. Entretanto, o investigador Carvalho vai mergulhando nos assuntos que rodeavam Jaumà, desde as suas crenças políticas de esquerda, até à sua passagem pela multinacional “Petnay”. E pelo caminho, há de tudo um pouco: desde inúmeros comentários gastronómicos de Pepe Carvalho, até cenas de sexo e de ação. 

A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí - Levoir - Público
A história, não sendo nada de muito original, até pode ser bastante boa. Mas a maneira como está transposta para a banda desenhada é que apresenta alguns problemas. Estão a ver quando uma pessoa quer dizer muitas coisas e acaba por perder o fio à meada em relação ao seu raciocínio inicial? Parece-me que foi o caso de Migoya neste livro. Das duas uma: ou o livro necessitaria de (muitas) mais páginas para que pudesse dar tempo ao leitor de digerir os acontecimentos e diálogos; ou então, com este número relativamente reduzido de páginas para condensar tantas coisas, julgo que Migoya teria sido mais bem sucedido se abdicasse de inúmeras situações que, não só não acrescentam nada verdadeiramente importante à história ou à investigação de Pepe Carvalho, como, lamentavalemente, ainda têm o condão de tornar a trama principal menos perceptível. Ou seja, o efeito é duplamente negativo. Há diálogos e situações que parecem autênticos fillers, isto é, que estão ali só para ocupar espaço. E se tivermos em conta que o livro até nem tem assim tantas páginas (96), é uma má jogada, em termos de gestão do argumento, por parte de Nagoya. 

Em termos de como os autores utilizam o discurso da banda desenhada, acho que surgem mais algumas fraquezas na obra. O discurso da personagem de Carvalho é apresentado com o recurso a balões de pensamento mas isto gera um certo problema pois não se torna muito claro se aquela afirmação pertence ao pensamento da personagem naquele determinado momento, naquela determina vinheta, ou se é um pensamento que nos é dado num outro tempo de ação diferente, como é muitas vezes utilizado para contar uma história. Por outras palavras, se esses pensamentos são o discurso direto do narrador que conta a história ao leitor ou se, afinal de contas, esse balão de pensamento diz apenas respeito ao pensamento da personagem naquele determinado momento, não tendo propriamente um narrador a contar a história. Não está claro e confesso que me gerou alguma confusão. Aliás, há algum tempo que não lia uma banda desenhada que achasse tão difusa em termos de argumento e discurso. Muitas foram as vezes em que tive que voltar a ler determinada página para perceber o que se estava a passar. E não, não é por ser uma trama muito complexa. É, isso sim, por ser um livro algo confuso naquilo que quer passar. 

A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí - Levoir - Público
E é uma pena pois acho que este livro tinha potencial para ser um dos melhores desta coleção de novelas gráficas da Levoir. A arte é impressionante e um bom policial é sempre bem-vindo, diria. Mas aqui, parece-me que em termos de argumento – ou de adaptação do argumento original que, confesso, não conheço – houve alguns problemas. Não são suficientes para destruir a obra. Continua a ser um livro interessante para ler e graficamente é um dos meus preferidos desta coleção da Levoir, mas fica um sentimento agri-doce no final da leitura. 

Relativamente à edição da Levoir, é mais um livro bem conseguido. Capa dura, papel fino, boas cores e ainda, como bónus, uma curta história adicional de 4 páginas, denominada Como Pepe Carvalho Conheceu (Em Liberdade) Biscuter. Verifiquei que esta é a única novela gráfica – até à data - que não tem um prefácio. É pena porque, a meu ver, um prefácio é sempre bem-vindo por acrescentar algo à obra. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.5 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica 
A Solidão do Executivo 
Autores: Hernán Migoya e Bartolomé Seguí 
Editora: Levoir 
Páginas: 96, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Lançamento: A Solidão do Executivo




Amanhã chega às bancas o 11º volume da coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do Jornal Público, intitulado A Solidão do Executivo, da autoria de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí, dupla de quem a Levoir já publicou, em 2018, a obra Tatuagem.

Mas se olharmos apenas para Bartolomé Seguí, esta já é a sua quarta obra a figurar na coleção de novelas gráficas da Levoir, tendo sido lançadas, para além das duas obras supramencionadas, As Serpentes Cegas, com argumento de Felipe Cava Hernandez, e Histórias do Bairro, com argumento de Gabi Beltrán.

Fiquem com a nota de imprensa da editora e com as imagens promocionais.




A Solidão do Executivo, de Hernán Migoya e Bartolomé Seguí

O detective Pepe Carvalho, a personagem mais universal do escritor e jornalista Manuel Vázquez Montalbán, regressa à colecção Novela Gráfica com A Solidão do Executivo, em banca a 31 de Outubro.

Este romance inédito em Portugal foi adaptado por Hernán Migoya e ilustrado por Bartolomé Seguí, a dupla responsável por Tatuagem, que a Levoir e o Público editaram na colecção de 2018.

Neste novo caso, Carvalho terá de regressar à sua juventude como agente da CIA quando, numa viagem aos Estados Unidos, conheceu Antonio Jaumà, o responsável pela multinacional Petnay. 

Anos mais tarde Jaumà aparece morto em estranhas circunstâncias. Carvalho, contratado pela viúva para investigar o caso, vai descobrir que o que parecia um crime passional esconde algo muito mais sombrio e complexo.

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Ficha técnica
A Solidão do Executivo
Autores: Hernán Migoya e Bartolomé Seguí
Editora: Levoir
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Análise: Karmen



Karmen, de Guillem March
 

A 10ª obra publicada na coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do Público, é Karmen, da autoria de Guillem March. Não é a primeira vez que uma das obras deste autor aparece nesta coleção da editora portuguesa. Já na edição do ano passado, a Levoir lançou Monika que o autor maiorquino assinou em parceria com Thilde Barboni. Mas desta vez, com Karmen, Guillem March assegura argumento e ilustração. 

E digo, desde já, sem rodeios, que Karmen é um forte candidato a ser a melhor obra desta coleção! E é, também, uma das melhores obras de banda desenhada a serem lançadas em 2020, em Portugal. 

O tema desta história é o suicídio. É verdade que é um tema que já vai sendo bastante comum e presente na nossa sociedade, passando, também, para o universo das criações artísticas como filmes, livros, entre outros. No entanto, também é verdade que é um tema que, pela sensibilidade que, compreensivelmente, acarreta, acaba, muitas vezes, por receber um tratamento emotivo e melodramático que parece explorar mais a tristeza inerente ao suicídio do que ser, efetivamente, uma reflexão profunda sobre o tema. E nisso, este Karmen – também – se transcede! A forma como March decidiu abordar a temática do suicídio apresenta uma grande objetividade e inteligência, sem descurar um olhar sensível sobre o assunto. 

A história arranca com o suicídio de Catalina, que corta os seus pulsos na casa de banho do apartamento onde vive com a sua flatmate. Depois, aparece a personagem de Karmen que funciona como uma espécie de anjo da guarda, que pertence a uma sociedade(?) de seres que guiam os mortos para a sua nova vida, numa espécie de realidade paralela entre a vida e a morte. Um limbo. Sim, estamos a falar de reincarnação. Mas se os meus leitores, perante este tema, já começaram a franzir a testa, deixem-me acalmar-vos e dizer que, March é inteligente o suficiente para mergulhar de forma suave nestes temas. Não é uma obra que nos tente “evangelizar” com determinada(s) crença(s) acerca do pós-vida. A obra leva-se a sério, mas sem querer ter a pretensão de nos levar a acreditar em algo. O tema da religião está totalmente ausente. 

Karmen vai acompanhar Catalina mostrando-lhe como reagirão as pessoas que lhe são próximas, após tomarem conhecimento do seu suicídio. Devido a este acompanhamento de Catalina, por parte de Karmen, uma figura metafísica, julgo que é impossível não relembrar a obra-prima da literatura, Um Conto de Natal, de Charles Dickens, em que o velho Scrooge também é visitado por vários fantasmas ou espíritos que lhe permitem tomar conhecimento do passado, presente e futuro, levando-o a refletir sobre os seus actos. Mas é curioso – e inteligente – que o próprio March tenha feito alusão à obra de Dickens, colocando, logo de parte, eventuais comparações inflamadas. A auto-consciência dos autores quase sempre funciona a seu favor. 

A concepção, quer gráfica, quer narrativa, de Karmen está maravilhosa. A personagem tem cabelo cor-de-rosa, um rosto jovial, sarapintado de sardas, e o seu corpo permite visualizar o seu esqueleto. Em termos visuais é bastante impactante mas é na sua forma de enfant terrible de atuar, quebrando algumas das regras que lhe são impostas pelo grupo a que pertence, que a personagem ainda se torna mais memorável, remetendo-me para Harley Quinn, de Batman, e para a forma, aparentemente infantil e desprovida de inteligência que aparenta, inicialmente, ter. Já Catalina, que vive de amores por Xisco, é uma personagem igualmente interessante e que vai, ela mesma, fazer esta viagem ao fundo de si própria, para conhecer que coisas são essas que a levaram a tomar uma decisão tão drástica como acabar com a própria vida. 

Também a mim, esta questão do suicídio é um tema que me faz pensar muito. E acredito que, senão em todas as vezes, pelo menos, em muitas delas, quando as pessoas decidem terminar com a própria vida, acabam por tomar uma decisão – sem retorno! - de forma pouco pensada ou pouco racional em que, apenas o mau, o desagradável e o dissabor é tomado em linha de conta. No fundo, parece-me que a visão das pessoas está toldada pela negritude à sua volta e só conseguem vislumbrar esta saída. É triste e lamentável. Mas é uma condição humana, diria. E Guillem March, sem grandes moralismos mas aparentando, ainda assim, fazer desta obra um exemplo de apoio a pessoas que sofrem com tendências suicidas, procura, com Karmen, trazer luz, perspetiva e racionalidade à forma como olhamos para nós mesmos. Sinceramente, acho que esta obra fantástica deveria ser recomendada pelos profissionais que prestam apoio a cidadãos em vias de suicídio. É magnífica na história e na ideia que pretende passar. 

Mas, se até aqui, já temos um argumento inteligente, bem temperado com questões metafísicas mas querendo, também, ser uma história acessível e mundana, em termos gráficos, esta é uma obra de enorme fôlego artístico! 

A forma como March desenha é de loucos! E explico porquê o “de loucos”: a maneira como o autor utiliza os planos de câmara, isto é, o ponto de vista de observação, parece obedecer a uma regra: ser difícil! Ou seja, com planos picados e contra-picados, ou com efeitos fisheye, o objeto a ser desenhado torna-se muito mais difícil de desenhar, certo? E é isso que March faz. Opta pelas situações mais difíceis e executa-as de forma soberba. Um verdadeiro mago da ilustração. 

Devido ao meu background pessoal, em que sou músico nas horas vagas, a forma virtuosa como March ilustra, remete-me bastante para a música. Exemplificando: enquanto baterista, tendo algumas noções musicais, é relativamente simples acompanhar uma qualquer música, oferecendo-lhe percussão. No entanto, os melhores bateristas, aqueles que são mais virtuosos, conseguem, para além desse objetivo primordial de dar batimento a uma música, introduzir técnicas, nuances, alterações que enriquecem a música. E claro, quanto mais técnico for o baterista, mais desses pormenores colocará na sua prestação. Por vezes oiço alguns bateristas e penso: “Ui, que escolha arriscada que este baterista fez mas que conseguiu resolver de forma majestosa”. Pois bem, neste Karmen, esta sensação assaltou-me muitas e muitas vezes. Ao visualizar certos planos, certas perspetivas que March escolhia, tinha exatamente essa sensação: “Ui, que escolha arriscada que este ilustrador fez mas que conseguiu resolver de forma majestosa”. 

E não é apenas na escolha da posição dos pontos de vista que o autor é incrível. A concepção das personagens, a emoção nas suas caras, os cenários - sejam interiores ou exteriores, tudo está feito de forma exímia. E a planificação, com uma dinâmica vertiginosa, que consegue surpreender constantemente o leitor, é fantástica também. O facto de Catalina conseguir voar pelos céus, também foi mais um golpe de génio do autor, pois possibilitou que visualmente as situações criadas sejam de enorme fulgor, com a personagem a voar – ou a nadar pelos céus? - ao longo de Palma de Maiorca, local onde a história se desenrola. 

Mais uma coisa ainda. O poder que Catalina recebe de, quando toca numa pessoa viva, conseguir visualizar o percurso de vida dessa personagem, não só graficamente está feito de forma muito inspirada e original como, narrativamente, é mais uma forma inteligente e criativa de ter estas subplots que nos fazem mergulhar na história. Tudo muito bem feito e muito bem pensado! 

A edição da Levoir apresenta capa rija e papel fino de boa qualidade, tendo uma capa com uma ilustração muito apelativa, também. A editora portuguesa está de parabéns pela aposta nesta obra fantástica. Pelo preço mais que convidativo a que é lançada, chega a ser pecaminoso não a adquirir. É um dos melhores livros do ano. Não só da Levoir como da totalidade de livros de bd lançados em 2020, no mercado português. 
Muito recomendável! 


NOTA FINAL (1/10): 
9.3 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica 
Karmen 
Autor: Guillem March 
Editora: Levoir 
Páginas: 168, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Lançamento: Karmen




Amanhã chega às bancas a 10ª Novela Gráfica da Levoir e do Público. Trata-se da obra Karmen, de Guillem March, de quem a Levoir já publicou o interessante Monika, na passada edição das novelas gráficas.

Fiquem com a nota de imprensa e imagens promocionais.

Karmen, de Guillem March

A Novela Gráfica Karmen, de Guillem March, tem estreia marcada para o dia 24 de Outubro. Editada pela Levoir e pelo Público, surge no seguimento de Monika, de 2019.

O maiorquino March é um ilustrador consagrado, ligado à DC Comics e bem conhecido pelos seus trabalhos em Batman e Catwoman.

Em termos gráficos, trata-se de um livro notável.

Karmen tem cabelo cor-de-rosa, um rosto sardento e veste um maiô de esqueleto. 

Ela é um “anjo da guarda”, pertencente a um grupo de seres que guiam os mortos para a sua próxima vida. 

Enviada para acompanhar a jovem Catalina, a protagonista, que acabara de cortar os pulsos e se encontra entre a vida e a morte, Karmen vai mostrar-lhe a vida dos seus amigos e daqueles que ama, numa viagem alucinante.

Nesta fantasia moderna, Guillem March trata o suicídio, um assunto de difícil abordagem, de uma forma terna e não desprovido de humor.

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Ficha técnica
Karmen
Autor: Guillem March
Editora: Levoir
Páginas: 168, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€