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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Comic Heart nos últimos 5 anos!


Hoje apresento-vos aquela que foi a melhor banda desenhada editada pela Comic Heart nos últimos 5 anos. Bem sei que esta é uma chancela que, atualmente, pertence à cooperativa editorial A Seita, da qual já aqui fiz um TOP 10, mas tendo em conta o facto de a Comic Heart se especializar em banda desenhada de autores nacionais, faz sentido que se assinale quais as 10 melhores obras de banda desenhada que esta chancela lançou nos últimos 5 anos.

Até porque a Comic Heart tem no seu catálogo alguns dos nomes maiores da banda desenhada nacional, o que revela bem a importância que foi conquistando ao longo da sua história recente.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Deixo-vos então, mais abaixo, com as 10 melhores bandas desenhadas editadas pela Comic Heart nos últimos 5 anos:

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Análise: Taruje! #2

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito
Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

A revista Taruje era um projeto que, até há bem pouco tempo, eu só conhecia de nome. Sem que a tivesse lido. Mas recentemente, e após o lançamento do segundo volume desta iniciativa editorial, tomei contacto com a publicação.

E posso dizer que fiquei agradado com o estilo de "série B" desta revista de super-heróis à portuguesa que nos é proposta. Na verdade, e fazendo lembrar um pouco - mas com as devidas diferenças - o estilo de publicações da editora independente Gorila Sentado, Taruje reúne um conjunto de histórias de autores nacionais que são publicadas em continuação de uma revista para outra. É um tipo de publicação que já quase não existe em Portugal e que procura trazer de volta aquele gosto do leitor em acompanhar uma série que é deixada a meio, muitas vezes com a história a oferecer ao leitor um cliffhanger que só será resolvido aquando da publicação do número seguinte da revista.

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito
A característica mais diferenciadora de Taruje é, além deste tipo de publicação em formato revista, que a temática subjacente às várias histórias que nos são dadas, seja a dos super-heróis portugueses que têm, através de uma mutação, o poder de algum tipo de animal. Seja o poder de uma mosca ou de uma aranha, o de uma osga ou de uma tarântula, ou de uma outra qualquer criatura. Mas, invariavelmente, são histórias de e com mutantes.

Neste segundo número da revista, contamos com o contributo dos autores Henrique Pirote, que assina a primeira história, The Magnificent Môscáranha, e que também é o mentor/editor do projeto; Inês Pires e Henrique Gandum, autores da história Taranto & Gecker, e Pedro Brito, responsável pela história Underbase.

Todas as histórias têm em comum essa característica de versarem sobre super-heróis, e de terem bastantes cenas de ação, mas cada uma delas tem o seu próprio estilo, a sua própria vibe. Quer em termos de argumento, quer em termos de ilustração. Gostei especialmente do humor que impregna algumas das histórias e do facto de os autores não se levarem demasiadamente a sério. Não estou a dizer que este não é um trabalho sério - certamente o é - mas gostei da forma descomprometida, de humor audaz, que encontramos especialmente na primeira e terceira histórias.

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

Quanto à segunda história, a de Inês Pires e Henrique Gandum, em lugar do humor temos um conto, quiçá mais adulto, que, estando ainda no primeiro capítulo, lança as bases para um enredo que, bem aproveitado, pode ser bastante interessante.

Os estilos das três histórias em termos de ilustração também divergem bastante. Henrique Pirote oferece-nos um desenho de forte inspiração no mangá; Henrique Gandum mantém-se fiel ao seu registo mais realista, com belas cores, que o autor já nos deu na bela série Congo;e Pedro Brito brinda-nos com um estilo de ilustração mais tosco e peculiar nas formas, mas que apresenta uma dinâmica e um acelerado ritmo narrativo interessante.

A edição da revista apresenta um aspeto cuidado, com uma boa encadernação e impressão. As páginas, em formato A4, são agrafadas e detêm um decente papel brilhante. 

Ainda que cada um dos números de Taruje nos dê apenas um breve vislumbre das histórias e arte dos autores, posso dizer que me diverti e entretive bastante a ler esta segunda revista.

Taruje respira independência criativa por todos os seus poros e é, portanto, uma obra especialmente recomendada para os apreciadores de banda desenhada descomprometida, bem disposta e independente. Como um filme "série B".


NOTA FINAL (1/10):
6.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

Ficha técnica
Taruje #2
Autores: Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito
Edição de Autor
Páginas: 40, a cores
Encadernação: Capa mole (com agrafos)
Formato: A4
Lançamento: Julho de 2024



terça-feira, 13 de agosto de 2024

A antologia Taruje está de volta!



A antologia de banda desenhada Taruje regressou para o seu segundo número!

Foi no passado dia 13 de Julho que a mesma foi lançada na loja Kingpin Books, em Lisboa.

Este fanzine conta com três histórias de autores nacionais: Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito.

A antologia pode ser adquirida na loja Kingpin Books ou no site mudnag.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse destas três histórias, bem como com algumas imagens promocionais.

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito


"TARUJE! Sim, Taruje!
É esse o nosso nome, a nossa
interjeição! Ah, o que significa?
Bom, para ser honesto, nem eu sei...
Mas impacto não lhe falta!
"Taruje!" é o juntar de forças de quatro artistas,
três histórias, três aventuras.
Todos eles num fanzine à portuguesa!"

Môscáranha - Henrique Pirote
A vida suburbana pode ser enfadonha para um jovem , ainda pior se és estudante e tens um emprego da treta. Mas quando se foi mordido por... Bom, por questões legais não podemos revelar ainda alguns aspectos, mas ficam a saber que o João Pedro tem capacidades extraordinárias, e ele não tem medo de as mostrar. Ou tem?

Taranto & Gecker - Inês Pires e Henrique Gandum
Um casal, um jantar e seis bandidos resultam em 8 páginas de uma grande aventura, que nos dá a conhecer duas personagens cheias de garra, cujos caminhos se cruzam numa teia de acontecimentos.

UNDERBASE
- Pedro Brito
Floyd Cole é acusado de um crime que não cometeu. Para provar a sua inocência, vê-se obrigado a colaborar com o seu irmão Charles e a agência deste, a Cube, cujo intuito é não apenas analisar mas controlar o misterioso poder das próteses simbióticas. Uma história de retro-futurismo militar e dramas familiares. Ah, e também esmurrar kaijus com punhos de fogo!


Poderá ser Adquirida através de nós, pela kingpin books ou pelo site dos Irmãos Gandum. https://www.mudnag.pt

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Análise: Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart
Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda

Há obras que pura e simplesmente parecem trilhar o seu próprio caminho de uma forma única e fluída. Que chegam até nós e, sem pedir licença, se afirmam comodamente como representativas de algo único e sofisticado. E como se os seus autores pudessem saber, logo desde o início, para onde queriam ir em termos artísticos e em que lugar de honra ficaria a sua criação. Estão a ver quando um jogador de futebol parte confiante para a marcação de um livre, sabendo que vai marcar golo? 

Por vezes também é verdade que acontecem acasos felizes e certas criações artísticas são acalmadas sem que os autores assim o pudessem prever. Apenas se deixaram levar pela sua criação sem noção de como a mesma seria recebida. Com ou sem noção por parte dos autores, há uma coisa certa: por vezes, algumas criações artísticas têm uma vida própria e marcam um tempo e um género artístico. É o caso deste Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos. Um título grande e inspirado para uma obra cuja marca na banda desenhada nacional se fez sentir desde o seu lançamento original, então pela editora Polvo, em 2000, e se mantém intacta passadas mais de duas décadas.

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart
A reedição desta obra pel'A Seita e pela Comic Heart, que já era impossível de encontrar nas lojas portuguesas, faz, portanto, todo o sentido e é bem-vinda para todos. Para os que já conheciam - e a podem apreciá-la novamente, numa melhor edição - e para os que ainda não a tinham lido.

Esta é uma daquelas obras que se mantém atual passados todos estes anos. E isso justifica-se, a meu ver, por duas razões: 1) a abordagem visual, de tão original e única, tem e terá sempre o seu espaço próprio, não sofrendo obsoletismos com o passar dos anos; e 2) o próprio argumento, sendo mundano e focado nas relações humanas e seus respetivos problemas que enfrentamos, será sempre tema presente nas nossas vidas. 

Com efeito, há que considerar que as coisas que ficam obsoletas são as coisas que estão presas à atualidade e à moda. Não é o caso desta obra. No ano de 2000 não era esta a maneira de se fazer banda desenhada. Em 2021 também não o é. Necessariamente. E porquê? Porque Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos é uma obra original, com uma linguagem narrativo-visual à sua própria maneira. E quando algo é diferente no tempo presente, também o será no tempo futuro, a menos que, claro está, seja replicado por outros. Também não foi o caso, felizmente.

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart
A história da obra é simples. Acompanhamos a vida de um casal, Tomás e Elsa, que se encontra em crise conjugal. Cada um dos elementos está cada vez mais afastado do outro. Os caminhos, interesses, paixões de ambos parecem estar a separar-se, sem que seja possível mudar esse rumo. Ela é artística plástica e ele é escritor. Um dia, Tomás compra a uma idosa uma planta que, julga ele, pode bem ser a sua musa inspiradora, já que ele há muito não se sente verdadeiramente inspirado para as suas escritas. Não há muito mais a dizer sobre o argumento, que é simples e, à primeira vista, até pode não impressionar muito.

Mas este é um caso em que o que mais conta não será tanto o conteúdo, mas a forma. E, olhando para o papel de Pedro Brito, o argumentista, nesta obra, acho que o que mais salta à vista é a qualidade e inspiração que o mesmo aparenta ter para imaginar diálogos marcantes e verosímeis, que permitem às personagens um bom grau de profundidade, pois é através desses mesmos diálogos que vai sendo traçado o carácter de cada uma das personagens e suas respetivas motivações.

Por vezes, todos nós, menosprezamos a importância da construção de um bom diálogo (em banda desenhada, no cinema ou em literatura) para que a experiência que uma obra nos dá seja verdadeiramente impactante. E este é um claro exemplo em que são exatamente os diálogos que fazem a história. É aquilo que aqui é dito, e como é dito, que torna esta história tão prazerosa de acompanhar.

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart
Mas se os temas e problemas levantados pelo argumentista são bem pensados e apresentados, acho que é justo dizer que a força primordial desta obra reside na sua componente visual. João Fazenda, desconstruindo todas as regras possíveis e imaginárias, construiu o seu próprio mundo próprio, dotando Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos de uma singularidade total. Nunca li uma obra que, visualmente, fosse parecida a esta. E mesmo aquelas obras em que disse: “Hmmm é do mesmo género”, depois de bem vistas, me fizeram perceber que, de facto, não eram do mesmo género, coisíssima nenhuma.

João Fazenda apresenta um traço simplista e rápido, que parece advir do universo da ilustração e, não tanto, da banda desenhada. Os traços são lineares e, quase sempre, servem apenas para delinear uma expressão, uma postura de um corpo em mancha. Manchas essas que são pequenos borrões em tons de vermelho. Por exemplo, abrindo o livro ao calhas, vejo o corpo da personagem de Tomás que não passa de uma mancha de tinta a vermelho. Mas depois, para que se reconheça que se trata de Tomás, e não de uma outra qualquer personagem, o autor desenhou as suas feições e o seu rosto num traço a preto. Só é desenhado o estritamente necessário. Acaba por funcionar muito bem, a meu ver, porque o resultado final é sofisticado, mas simples; abstrato, mas percetível o quanto baste. Ou seja, acaba por haver muito equilíbrio. Se um leitor, numa livraria, folheando o livro achar: “Ui, que desenhos estranhos… isto não é para mim” pode, quase de certeza, depois de finda a leitura – se lhe der a devida oportunidade – descobrir que este tipo de desenhos, primeiro estranham-se, mas depois entranham-se. Mas, gostos à parte, que são subjetivos, o que será, sem dúvida mais consensual, é o cariz único e verdadeiramente inspirado destes desenhos, onde o autor se recria, página após página. Uma nota ainda para a maneira quase arcaica como faz a planificação da história sem, no entanto, tornar a leitura difícil de acompanhar. São dualidades atrás de dualidades que, medindo forças entre si, se conjugam de maneira maravilhosa nesta obra de grande fulgor.

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart

O resultado dos esforços de Pedro Brito e João Fazenda resulta numa obra que quem já leu não esqueceu e quem a ler, agora, pela primeira vez, não esquecerá também. E é assim mesmo que se querem as criações artísticas com que nos vamos deparando na nossa vida: inolvidáveis.

Quanto à edição, acho que a Comic Heart e A Seita estão de parabéns pelo fantástico trabalho que aqui encetaram. São quase 20 páginas de extras, onde se incluem esboços, uma longa e interessante entrevista conduzida por André Oliveira e um texto sobre a obra de Pedro Vieira de Moura. A edição é em capa dura, com papel baço de boa gramagem. O design gráfico da obra também está muito bem conseguido também. E a capa, sendo inédita, também é muito bonita. Tudo feito com muito bom gosto.

Em conclusão, esta é uma obra original, marcante, e, até, seminal na sua abordagem à banda desenhada. Fica-se com aquela sensação de que nunca se leu um livro igual e, provavelmente, nunca se voltará a ler um livro igual. Nem mesmo no caso de serem os mesmos autores a tentarem esse feito. Imperdível e um dos melhores álbuns da banda desenhada portuguesa. De sempre.


NOTA FINAL (1/10):
9.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda - A Seita e Comic Heart

Ficha técnica
Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos
Autores: Pedro Brito e João Fazenda
Editora: A Seita e Comic Heart
Páginas: 120, a 2 cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Reedição de uma das obras de culto da banda desenhada nacional!




A editora A Seita e a Comic Heart apostaram recentemente na reedição de uma das bandas desenhadas de culto nacionais. Falo de Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda, que recebe agora uma edição comemorativa dos 20 anos da obra e que tem cerca de 20 páginas de extras, incluindo esboços, uma entrevista conduzida por André Oliveira e um texto sobre a obra de Pedro Vieira de Moura.

Esta é uma excelente oportunidade para ficar a conhecer uma obra marcante na banda desenhada portuguesa.

Desde o fim de semana passado que este livro já se encontra disponível em todas as livrarias do país.
Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda

Tomás e Elsa são um casal em crise. A sua relação, apesar do amor, deixou de funcionar, o que os faz percorrer caminhos opostos. Ela, artista plástica, procura singrar no mundo artístico a todo o custo. Ele, escritor, luta por conseguir viver da escrita, enquanto persegue uma inspiração perdida. Mas um dia, uma estranha flor que Tomás compra na rua, leva-o nos seus sonhos a uma inesperada musa inspiradora.

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos é considerado um dos primeiros grandes romances gráficos da BD portuguesa. Após 20 anos, regressa numa edição comemorativa que inclui um extenso dossier de extras, uma entrevista aos autores conduzida por André Oliveira, e um texto de Pedro Vieira de Moura.

Um dos romances gráficos mais marcantes da BD portuguesa, que veio cair como uma verdadeira pedrada no charco no mercado nacional do início dos anos 2000, Tu És a Mulher... vive da combinação perfeita dos diálogos de Pedro Brito, que constroem o mapa desta história de desencontro amoroso, com o trabalho gráfico de João Fazenda, que conseguiu a proeza de “escrever” com os seus vermelhos uma espécie de segundo diálogo em cima dos desenhos. E, para os leitores de BD portugueses que continuam a debater-se com eterna questão que lhes é constantemente colocada, de saber se a BD é literatura, “se não é uma coisa só para crianças”, apontamos a fina ironia de os protagonistas desta história serem um escritor a quem encomendaram o argumento de uma banda desenhada, e a sua mulher, uma pintora que persegue a fama.
Como disse João Ramalho Santos na sua crítica, “‘Tu és a mulher...’ começa logo por tocar alguns dos equívocos associados à BD, metaforicamente materializados na tempestuosa relação entre o protagonista Tomás, e a sua mulher Elsa, artista plástica “séria”, no pior sentido da palavra. Ainda por cima, enquanto Elsa se revela irredutível na busca de consagração, Tomás debate-se com uma confrangedora falta de ideias”.

Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela é a Mulher dos Meus Sonhos, venceu os prémios Melhor Álbum Português e Prémio do Público em 2001 no Amadora BD, e Livro do Ano 2000 em BD pelo Diário de Notícias, tendo sido um dos mais premiados álbuns de BD portuguesa de sempre. A reedição que A Seita / Comic Heart aqui apresentam pretende, não só tornar o livro disponível para uma nova geração de leitores portugueses, mas homenagear uma obra ímpar no panorama nacional da Nona Arte, com uma edição em tamanho aumentado em relação à original, e que inclui um extenso caderno de extras com uma vintena de páginas, com esboços e estudos para o livro, bem com uma grande entrevista com os autores, magistralmente conduzida por André Oliveira, e um texto de Pedro Vieira de Moura.


“...Se esta sinopse [do livro] pode criar uma ideia de estrutura feérica, corroborada pela presença de devaneios, sonhos acordados, alucinações, é no seu ritmo, e no foco paulatino e pontuado dos diálogos e das maneiras como os corpos se cruzam, as amizades se nutrem, o amor desvanece, as vaidades se esgrimem, e nos modos aleatórios com que lançamos novas relações, que o livro demonstra a sua sofisticação. Um equilíbrio quase perfeito entre uma matéria fluida, que se espalha por uma sensação íntima como o rubor na pele, e uma estrutura sólida e dirigida que conforma as figuras. Tal qual o tango contínuo entre as linhas a preto e as manchas vermelhas da trilha visual do livro.”
Pedro Vieira de Moura, do posfácio.

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Ficha técnica
Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos
Autores: Pedro Brito e João Fazenda
Editora: A Seita e Comic Heart
Páginas: 120, a 2 cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 17,00€