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terça-feira, 13 de agosto de 2024

Análise: Jim

Jim, de François Schuiten - ASA - LeYa

Jim, de François Schuiten - ASA - LeYa

Jim, de François Schuiten

Que belo e, ao mesmo tempo, pesaroso é quando se utiliza a criação artística para, de alguma forma, tentar ultrapassar a dor da perda e os consequentes flagelo emocional e aperto no coração. Muitas vezes, e curiosamente, é até através desse exercício solitário de busca pela redenção que vários artistas conseguem criar algumas das suas obras artísticas mais impactantes, sejam elas de que meio forem.

Jim, do célebre autor François Schuiten - conhecido e celebrado pela série de banda desenhada As Cidades Obscuras, que assina em colaboração com Benoît Peeters - é isso mesmo: um exercício com o duplo intuito de ser, por um lado, uma homenagem a um daqueles amigos que nos marcam a vida e, por outro lado, uma tentativa de apaziguamento da dor provocada por um luto que nos chega sem avisar. Quase sempre é assim, já agora.

Jim, de François Schuiten - ASA - LeYa
Este é, pois, um livro que não é propriamente uma banda desenhada, mas antes um livro ilustrado, em que Schuiten presta homenagem ao seu cão, Jim, o seu fiel amigo com quem partilhou a vida durante mais de uma década. Vê-se que não houve um plano editorial lógico e/ou pensado pelo autor para a feitura deste livro e que a mesma aconteceu como forma de ultrapassar o doloroso luto. Aliás, é o próprio Schuiten que, no início deste livro, na nota introdutória, nos faz essa revelação.

Depois da morte de Jim, o único desejo de Schuiten foi desenhar o seu cão, o que acabou por funcionar enquanto uma certa forma de terapia pessoal. Para tal, foi desenhando diariamente uma ilustração onde recordava, ou momentos felizes e/ou cómicos passados com Jim, ou onde refletia na sua ilustração as sensações de melancolia com que estava a lidar. Cada uma das ilustrações é sempre acompanhada por uma breve descrição ou comentário, onde o autor nos permite perceber ainda com mais profundidade os seus sentimentos. Além disso, a própria ordem das várias dezenas de ilustrações que aqui nos são dadas, respeita a ordem com que as mesmas foram sendo criadas pelo autor.

Jim, de François Schuiten - ASA - LeYa
É claro que, tratando-se de François Schuiten, que é dono de um traço diferenciado e por demais belo, esta homenagem gráfica, ou "crónica desenhada sobre o luto", como o autor lhe chama, é de uma beleza singular, onde a mestria de desenho do autor não só se nos revela familiar como, em alguns casos, até vai mais longe assumindo uma dimensão poética e comovente. 

Quem tem uma animal de estimação sabe que criamos com estes seres um relacionamento de amizade que assenta na partilha de muitos momentos e rotinas. Daí que seja comum dizer-se que, em cada casa, os animais conquistam o seu estatuto de "membro da família". E, claro, quando as suas (curtas) vidas nos obrigam a deles ficarmos privados, não é uma situação fácil de gerir, por mais racionalidade que procuremos impor-nos a nós próprios nesses momentos de perda e luto. 

E os desenhos a preto e branco com que Schuiten nos brinda, fazem com que a dor do autor perpasse para os leitores. Há alguns desenhos especialmente belos onde o autor utiliza inteligentes jogos visuais em que Jim aparece presente na vida de Schuiten, mesmo já estando ausente. O que é poético e maravilhoso.

Jim, de François Schuiten - ASA - LeYa

A edição da editora ASA - que em boa hora apostou nesta obra - é em capa dura baça. No interior, o papel é baço e de boa qualidade, enquanto que a impressão e a encadernação também são boas. No final, há ainda um caderno com ilustrações de outros autores que, conhecendo Schuiten e o seu Jim, não deixaram de contribuir com uma ilustração para o livro. E, depois disto, ainda somos brindados com um texto da filósofa Audrey Jougla sobre a amizade entre os homens e os animais de estimação.

Tudo somado, esta é uma obra bonita, triste, sensível, comovente e melancólica e, acima de tudo, totalmente genuína, que vale a pena conhecer. Volto ao início do meu texto: por vezes, a tristeza faz os grandes artistas produzirem novas criações artísticas belas e impactantes. É o caso! Schuiten expõe-se com coragem como eu nunca tinha visto e isso só pode ser sinónimo de um livro especial. Acresce que esta obra também é um ótimo presente para aqueles que, gostando ou não de BD, perderam ou simplesmente têm animais de estimação.


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Jim, de François Schuiten - ASA - LeYa

Ficha técnica

Jim
Autor: François Schuiten
Editora: ASA
Páginas: 128, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Junho de 2024

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Levoir encerra a coleção de Novelas Gráficas com obra de Schuiten e Peeters!


Chega hoje ao fim a sétima coleção de novelas gráficas da Levoir e do Público! E trata-se de um fim com chave de ouro, se tivermos em conta que estamos perante o lançamento do novíssimo volume de As Cidades Obscuras, dos consagrados autores François Schuiten e Benoît Peeters!

Falo de O Regresso do Capitão Nemo que é um dos livros mais esperados desta sétima coleção de novelas gráficas! O que é fácil de perceber se olharmos para o quão amada é a série As Cidades Obscuras no mundo inteiro e, em particular, em Portugal.

A Levoir está também de parabéns por ter conseguido fazer o lançamento em simultâneo com o mercado franco-belga. Nota para o facto de, em termos de design de capa, a editora ter optado por apresentar uma versão que não segue as características estandardizadas da restante coleção. Ou seja, a lombada tem um lettering diferente - e mais fiel ao original. Há apenas a menção de "Novela Gráfica" na capa, para que o livro não pareça editado fora da coleção.

Na minha opinião, esta é uma boa opção por parte da editora que, desta forma, ainda torna o livro mais apetecível. Sinceramente, até gostaria que passasse a ser esta a opção da editora em futuras coleções de Novelas Gráficas. 

Para esta edição, tive o privilégio e responsabilidade de escrever o prefácio à obra.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa e com algumas imagens promocionais.


O Regresso do Capitão Nemo, de François Schuiten e Benoît Peeters

A fechar a colecção Novela Gráfica a Levoir e o Público lançam em simultâneo com França e Bélgica, o maravilhoso livro de Schuiten e Peeters, O Regresso do Capitão Nemo, em banca a 2 de Novembro.

Dos dois artistas a Levoir editou em 2019 A Febre de Urbicanda e em 2020 Rever Paris.

Este belo livro é uma mistura de banda desenhada, narrativa ilustrada e a história de Júlio Verne, que se instalou em Amiens, onde em breve será erguida uma monumental escultura de bronze do Nauti-polvo. 

Desta forma, os autores de As Cidades Obscuras dão vida a uma personagem inesquecível que virou a imaginação de pernas para o ar...
O Regresso do Capitão Nemo, é baseado no romance de Júlio Verne Vinte Mil Léguas Submarinas, publicado entre 1869 e 1870, que conta as aventuras de três náufragos capturados pelo Capitão Nemo, um inventor e marinheiro que viaja pelos mares no seu navio Nautilus.

Uma criatura híbrida emerge das águas. Parte criatura animal, parte embarcação subaquática, o Nauti-polvo transporta um homem com amnésia. Onde é que esta pequena embarcação o levará enquanto viaja por lugares mais ou menos familiares? "Capitão, eu era um capitão... Eu sou o Capitão Nemo. 

Com imagens impressionantes a preto e branco, a história segue o herói dos romances de Júlio Verne Vinte Mil Léguas Submarinas e A Ilha Misteriosa, para quem Schuiten e Peeters imaginam um novo destino.
No prefácio do livro, Hugo Pinto escreve: "Sendo considerado como o derradeiro álbum de As Cidades Obscuras, não restam dúvidas de que é um belo final – porventura agridoce para os mais acérrimos fãs – e que dignifica a enorme e inquestionável qualidade de uma série que nos deu, acima de tudo, um lugar especial de refúgio, para onde podemos viajar sempre que nos seus livros pousarmos o olhar. Um desses lugares dos quais não queremos sair."

O design da capa, da lombada e da contracapa não segue as regras da colecção Novela Gráfica.



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Ficha técnica
O Regresso do Capitão Nemo
Autores: François Schuiten e Benoît Peeters
Editora: Levoir
Páginas: 96, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 230 x 310mm
PVP: 13,90€

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Levoir vai lançar novo álbum de Schuiten e Peeters!



O anúncio foi feito há uns dias e, certamente, deixou muita gente feliz!

A Levoir lançará no fim do ano, em conjunto com a Casterman, o álbum Les Cités Obscures - Le Retour du Capitaine Nemo, de Schuiten e Peeters.

A notícia acaba por ser duplamente agradável para os fãs de As Cidades Obscuras. Não só por estar já assegurada a versão portuguesa desta nova obra como, também, por ser o regresso dos autores a mais uma volume que compõe esta série tão célebre e acarinhada por leitores de banda desenhada em todo o mundo.

Relembre-se que Schuiten, após o álbum Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó, até chegou a dizer que esse seria o seu último álbum de banda desenhada.

Felizmente para muitos, o autor mudou de opinião e prepara este regresso a Cidades Obscuras na companhia de Peeters.

Dos mesmos autores, a Levoir já havia publicado Rever Paris e a Febre de Urbicanda.

O livro é esperado para ser lançado em França durante o mês de Outubro. Portanto, como será uma edição conjunta, é esperado que a versão portuguesa nos chegue durante a mesma altura.



quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Análise: Rever Paris




Rever Paris, de François Schuiten e Benoît Peeters

Rever Paris é o quarto volume da Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, da autoria de François Schuiten e Benoît Peeters (conhecidos, principalmente pela série As Cidades Obscuras) e é-nos apresentada na sua versão integral, reunindo os dois álbuns Rever Paris (de 2014) e A Noite das Constelações (de 2016). Trata-se, portanto, de um álbum duplo o que, por 10,90€, é uma autêntica pechincha para os amantes de banda desenhada.

E mesmo não sendo um álbum do universo de As Cidades Obscuras, acaba por utilizar uma linguagem, um ritmo, uma temática e, acima de tudo, uma estética, muito em linha com os trabalhos da dupla criativa em As Cidades Obscuras

Neste caso, toda a história gira em torno da cidade de Paris. Quer na Paris histórica do passado, quer na Paris utópica do futuro. Estamos no ano de 2156 e acompanhamos a caminhada de Kârinh, a protagonista da obra, que nasceu na Arca, uma colónia espacial criada por um grupo de ex-terráqueos que cortaram todos os laços com o seu planeta natal. Kârinh sempre foi uma apaixonada pelo planeta Terra e especialmente pela cidade de Paris, baseando o seu conhecimento nos livros que lia sobre a arquitectura da cidade. Filha de pai terráqueo e órfã de mãe, sonha encontrar na capital francesa mais informação sobre as suas origens familiares. Entretanto, acaba por ser a escolhida para ingressar numa expedição à Terra. Fica feliz por realizar o sonho de conhecer a cidade que tanto ama, mas a verdade é que não vai encontrar exatamente aquilo que pretendia encontrar. E junte-se a isso o facto desta viagem ser igualmente uma busca de identidade e de pertença, por parte da protagonista.


Paralela à demanda e busca de Kârinh, o tema do espaço urbano, da arquitectura, do desenvolvimento e mutação das cidades e a (dist)utopia das cidades do passado, do presente e do futuro também estão presentes. 

Relativamente à arte, diria que é um típico livro François Scuitten. Quem já é fã da sua arte, continuará a sê-lo e quem não aprecia muito, também não será neste livro que mudará de ideias. Mas, seja como for, e goste-se ou não do estilo de ilustração do autor, a verdade é que o seu traço apresenta uma singularidade incrível, num estilo genial, do ponto de vista arquitetónico, transportando o leitor para um outro universo que é, ao mesmo tempo, tão distante e impossível como, tão real e próximo. É uma arte impressionante da primeira à última página. Em termos de gosto pessoal, tenho que dizer, mais uma vez, e como já disse em Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó, que, na conceção de expressões faciais das personagens, o autor é um pouco limitado. As suas personagens humanas parecem-me sempre pouco expressivas e com pouca sensação de movimento, levando a que me pareçam bonecos de cera, mesmo admitindo que as fisionomias estão muito bem caracterizadas. É nos objetos, nos edifícios, nos locais, nos veículos que, de facto, a arte do autor se transcende fazendo com que o seu estilo seja único e grandioso. E claro, é realmente impressionante que Schuiten consiga imaginar e conceber, através dos seus desenhos, todos estes locais, onde somos convidados a entrar. Destaque para a magnífica capa do livro. Perfeita, em termos estéticos.


Relativamente à história de Kârinh, diria que Peeters não aparece neste Rever Paris tão inspirado como noutros livros. Há aqui muitas ideias interessantes, mas, no final, o argumento não parece tão sólido como os alicerces arquitetónicos onde se sustentam as maravilhosas ilustrações de Schuitten. A primeira parte da obra é marcada por Kârinh à procura de uma civilização que idealizou e que já não existe. A sua caminhada atravessa regiões áridas e locais abandonados, desprovidos de vida humana – que remetem, com as devidas diferenças, para a exploração que o videojogo The Last Of Us coloca ao jogador. Ao longo da jornada, vão sendo introduzidas personagens no caminho da protagonista, mas são sempre personagens misteriosas e algo latas, que não conseguem adensar a trama convenientemente. A própria Kârinh é, aliás, uma personagem que, a meu ver, poderia estar mais bem desenvolvida na forma como traça o seu caminho e as suas ambições. Parece que o autor não tinha uma ideia clara de como queria construir a sua personagem e fê-lo aos poucos, enquanto escrevia o argumento desta obra. E eventualmente, a procura de Kârinh recai naquele lugar-comum narrativo da procura pelas raízes, por familiares até então desconhecidos, e por uma terra a que possa pertencer. Uma coisa que é apenas subtilmente levantada e que, por ventura, poderia dar mais suco ao argumento é a temática de ser – ou não - preferível viver num mundo limpo, organizado, climatizado e programado ou se, opostamente, a vida tem mais “sal” quando vivida num mundo onde impera o caos, a imprevisibilidade, o desconhecido.


Quanto à edição, este livro merece-me um comentário mais extenso. Se, há uns dias, aplaudi a decisão da Levoir em redistribuir a obra O Neto do Homem mais Sábio, de Tomás Guerrero, devido a vários erros ortográficos e à gralha no ano do nascimento de José Saramago, a verdade é que, tendo feito esse gesto – que mais uma vez aplaudo – a editora abriu um precedente perigoso para ela mesma. É que, Rever Paris, tem tal como O Neto do Homem mais Sábio, inúmeros erros ortográficos e de pontuação, bem como verbos mal conjugados ou palavras repetidas. Sendo assim, a pergunta coloca-se: “Então e agora, Levoir?” Irá a Levoir fazer uma nova impressão de Rever Paris, como fez para a biografia de José Saramago? Ou ficamos com uma dualidade de critérios que em nada fica bem à editora portuguesa? Não andei a contar o número de erros dos dois livros mas diria que são abundantes em ambas as obras. E ainda nem mencionei o mais grave! Na página 58 de Rever Paris acontece aquele que, a meu ver, é possivelmente o pior erro que pode acontecer na impressão de uma obra de banda desenhada: uma página ser impressa em baixa resolução, o que faz com que as ilustrações fiquem todas "pixelizadas" e, consequentemente, arruinadas. Não sei se este grave problema apenas afetou o meu exemplar e se isto é um erro de impressão externo à editora. De qualquer maneira, repito: de todos os problemas, na impressão e edição, que um livro de bd possa apresentar, este é o mais grave. Que fará a Levoir quanto a isto, repito? Novas impressões tal como em O Neto do Homem mais Sábio? Ou será que a (verdadeira) razão da reimpressão d’O Neto do Homem Mais Sábio foi a pressão externa que a editora sofreu, por se tratar de uma obra que cobre a vida de José Saramago? Afinal, a razão não foi a preocupação pelos leitores? São perguntas às quais a Levoir há-de dar uma resposta. Seja ela qual for.


É certo que a coleção de novelas gráficas é o acontecimento editorial da banda desenhada em Portugal e as valências desta coleção são mais que muitas, como, aliás, já referi várias vezes. Os livros são verdadeiramente baratos tendo em conta a qualidade dos mesmos. Mas isso não pode - nem deve - justificar que este tipo de erros que revelam, acima de tudo, um descuido na edição e revisão das obras, possam acontecer. Rever Paris é uma obra de dois nomes tão solenes da banda desenhada mundial, numa edição integral, complementada por um interessantíssimo dossier de extras, e que tem o fantástico preço de 10,90€. Sim, isso é incontestável. Mas infelizmente, também é verdade que a Levoir continua a apresentar erros e problemas nos seus livros que lhe tiram o grau de qualidade e profissionalismo que, certamente, a editora almeja deter. E é uma verdadeira pena, sublinho.

Porque, no final, Rever Paris é um livro de grande qualidade, que eleva o nível da coleção de novelas gráficas da Levoir e do Público. Schuiten aparece muito inspirado e dá-nos um trabalho grandioso nas ilustrações. Já Benoît Peeters, por seu turno, não se mostra tão inspirado no argumento, como noutros trabalhos da dupla. E, claro, a principal queixa na leitura deste livro, tem que ir para a fraca qualidade da edição – com problemas ainda mais crassos do que no anterior volume da coleção O Neto do Homem Mais Sábio – que, lamentavelmente, retiram prazer à leitura da obra. A pergunta subsiste: irá a Levoir lançar uma nova versão corrigida do livro?


NOTA FINAL (1/10):
8.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica
Rever Paris
Autores: François Schuiten e Benoît Peeters
Editora: Levoir
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2020

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Lançamento: Rever Paris





Amanhã chega às bancas a obra Rever Paris, da autoria de Schuiten e Peeters. Este é o quarto volume da Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do Público.

Fiquem com as imagens promocionais e com a nota da editora.


Rever Paris, de François Schuiten e Benoît Peeters

Os criadores das Cidades Obscuras, François Schuiten e Benoît Peeters, oferecem-nos a sua visão sobre a Paris do futuro, num livro que é inquestionavelmente uma obra-prima editado pela Levoir e o Público. Rever Paris sai em banca a 12 de Setembro.

Schuiten e Peeters já nos tinham maravilhado com o seu trabalho em A Febre de Urbicanda, publicado na colecção Novela Gráfica de 2019.

A história de Rever Paris transporta-nos para um futuro longínquo, o ano 2156. Kârinh a jovem protagonista desta história, vive na Arca, onde nasceu, uma colónia espacial fundada por antigos terráqueos, que fugiram do seu planeta devorados pela poluição e pelo aquecimento global. 


Várias décadas após este êxodo, é enviada uma expedição à Terra para determinar se o planeta voltou a ser habitável. Kârinh, é a escolhida, o seu sonho vai tornar-se realidade e toma o comando do Tube, um velho recipiente que transporta cerca de quinze pessoas em hibernação. No final de uma viagem difícil, a jovem parte, sozinha, para descobrir a sua Paris fantasiosa e as suas origens.

O seu pai era um terráqueo, que ela nunca conheceu. A sua mãe Fumiko deixou este mundo no seu regresso de uma missão de sete meses à Terra 40 anos antes. Kârinh sempre foi uma solitária, ao chegar a Paris mergulha numa Paris antiga, uma cidade de outro tempo bem diferente da que conhece dos livros de autores visionários como Júlio Verne e Albert Robida.

A cidade imaginada pelos seus autores com desenhos magníficos em azul e laranja é uma grande homenagem aos ilustradores do século XIX, Robida, Doré e Grandville.

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Ficha técnica
Rever Paris
Autores: François Schuiten e Benoît Peeters
Editora: Levoir
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Análise: Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó



Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó, de Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux

Se a publicação de um novo livro de Blake e Mortimer é sempre um motivo de euforia para os muitos fãs que esta série de banda desenhada tem, é de notar que este O Último Faraó, sendo uma obra de grande qualidade e uma homenagem ímpar às personagens de Edgar P. Jacobs, também revisita novos universos, traçando – para o bem e para o mal – um caminho que se afasta sobejamente dos livros desta série clássica.

De facto, esta obra parece transportar-nos mais para o universo de As Cidades Obscuras, de Schuiten e Peeters, do que, propriamente, para um livro clássico de Blake e Mortimer. E não que haja algum mal nisso. Porém, aviso os fãs de Blake e Mortimer que pode haver uma possível desilusão, se aquilo que procuram é mais uma aventura da famosa dupla. Já se, por acaso, existirem leitores que sejam fãs do universo ilustrativo de Schuiten e da série Blake e Mortimer, ao mesmo tempo – e certamente, haverão muitos! -, então este álbum reveste-se da maior obrigatoriedade possível. 

A história leva-nos a uma aventura, que vai buscar um fio condutor a O Mistério da Grande Pirâmide, uma das histórias mais célebres da dupla Blake e Mortimer. Neste O Último Faraó, o protagonisto é quase na totalidade de Mortimer, relegando Blake para funções mais secundárias na narrativa. Destaco que uma coisa que me fez alguma confusão foi o facto de Blake estar muito mais envelhecido do que Mortimer. Mortimer está mais velho, sim, mas Blake parece uma personagem verdadeiramente idosa, em comparação com Mortimer. 

A narrativa decorre numa Bruxelas destruída e abandonada, após a libertação de uma energia de origem desconhecida, cuja radiação coloca em risco toda a humanidade. Mortimer é pois, a pessoa que encabeça o empreendimento de enfrentar esta ameaça, com toda a sua inteligência e pensamento crítico. Para tal, tem que ir até ao ponto central de onde esta energia é emanada: o Palácio da Justiça – aquele que será, por ventura, o edifício mais notável e emblemático, não só da cidade de Bruxelas, como de toda a Bélgica. Este edifício, diga-se, tem uma importância tão grande na obra que é quase como se fosse uma personagem per si.

O ritmo da narrativa é algo lento – e mais uma vez, isto remete-nos para As Cidades Obscuras – com a personagem central a embarcar numa viagem pelo sobrenatural e pela ficção científica, assente numa realidade paralela que é propiciada, essencialmente, pelos sonhos de Mortimer, que martirizam a personagem e a levam a locais e encontros oníricos. Mas, à medida que a história vai avançando, há momentos de maior tensão e o ritmo narrativo avança significativamente, também.

Uma das coisas que mais gostei neste livro foram as questões que esta história tem a capacidade de levantar, nas mentes dos leitores. Quão dependentes estamos de uma sociedade que funciona a mil à hora, sem quaisquer oportunidades de abrandamento? Consegue o mundo respirar da forma como é explorado pela humanidade? Consegue a própria humanidade respirar? E se algo pára? Que capacidades temos para reagir? Como o faremos numa situação in extremis? Especialmente na época que (ainda) estamos a viver, causada pela pandemia de covid-19, que fez o mundo parar durantes uns meses e trouxe à baila uma reflexão mais profunda sobre a forma como estamos a viver, a leitura deste livro reveste-se, ainda mais, de significados secundários que serão, a meu ver, tão ou mais pertinentes do que a história mais linear que nos é dada nesta obra. 

Os livros de Schuiten sempre foram mais para pensar e para racionalizar, do que, propriamente para passarem emoções ao leitor. E, também aqui, isso acontece. Mesmo podendo ser uma história algo fria, do ponto de vista emocional, é uma história bem construída e que nos leva a pensar. Mais do que dizer: “este livro sensibilizou-me”, aquilo que acabamos por dizer quando acabamos a sua leitura é: “este livro fez-me pensar um pouco”. Para isso contribuiu a participação de vários nomes na elaboração da obra. Schuiten não esteve sozinho e foi ajudado no argumento por Jaco Van Dormael e Thomas Gunzig.

As ilustrações de Schuiten são absolutamente incríveis, especialmente em termos de ambientes e de arquitetura. Aliás, por vezes, Schuiten até me parece mais um arquitecto (e/ou um engenheiro) do que, propriamente, um ilustrador de banda desenhada. As suas ilustrações de ambientes atingem uma capacidade de detalhe singular, que são um mimo para os olhares atentos. Não obstante, e mesmo sabendo que esta afirmação poderá ser polémica para grande parte dos leitores que me lêem, não fico tão maravilhado com as ilustrações das personagens que este autor faz. Mesmo reconhecendo que o seu estilo é muito próprio – e isso merece, desde logo, as devidas vénias – a verdade é que nos seus livros todos, as personagens parecem-me sempre algo frias e pouco expressivas, o que faz com que se pareçam mais com bonecos de cera do que com figuras humanizadas. É o seu estilo, bem sei. No entanto, tratando-se de um livro de Blake e Mortimer, bem mais baseado nas personagens do que nas construções ou ambientes, penso que é uma coisa menos bem conseguida nesta obra. Apenas porque, repito, não considero que o nível de excelência de Schuitten na caracterização das expressões emotivas das personagens, seja tão bom como o é nos cenários e objetos. E, em Blake e Mortimer, talvez se pedisse mais no departamento das expressões das personagens.

Onde o livro é muito forte também, é nas cores, que são asseguradas por Durieux. Se há algo que, à semelhança do traço de Schuiten, eleva este livro a um objeto de arte é, sem dúvida, a componente cromática que habita nestas páginas. O ambiente é muito próprio, com cores que são exatamente aquilo que a história pedia. Mas mais do que isso, as cores conseguem realçar da melhor forma o traço de Schuiten. E isso é sempre digno de menção. Destaque para a capa do álbum, que é espetacular em termos de concepção, ilustração e de aplicação de cores.

Relativamente à edição por parte da editora ASA, devo dizer que está impecável. O papel é bom, a qualidade da impressão também e o design do livro é fiel ao livro original, em francês. É, também, um objeto bonito para se ter numa boa coleção de banda desenhada.

Em conclusão, e dito de uma forma muito linear, este é um livro que se for visto como "um livro que presta homenagem a Blake e Mortimer", é uma obra estupenda da banda desenhada. No entanto, se for visto como “mais um livro de Blake e Mortimer” ou como "uma continuação da série", terá um sabor agridoce para muitos fãs, não obstante a sua qualidade.

Uma coisa é certa: pode não ser perfeito mas a qualidade está lá, com uma história pertinente para os dias de hoje e com uma arte ilustrativa singular, carregada de virtuosismo técnico. 


NOTA FINAL (1/10):
8.5

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica
Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó
Autores: Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux
Editora: Asa
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Lançamento: Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó



Acaba de ser lançado pela Asa, o muito aguardado álbum O Último Faraó, de Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux, que nos vai levar a mais uma Aventura de Blake e Mortimer, assinada por importantes nomes da banda desenhada mundial.

Fiquem com as imagens promocionais e com a nota de imprensa da editora.

Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó, de Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux

O Último Faraó, de Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux está, a partir de hoje, nas livrarias.

Blake e Mortimer – O Último Faraó, de François Schuiten, Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig e do ilustrador Laurent Durieux é um tributo ao universo mítico de Edgar P. Jacobs pelas mãos de quatro “monstros sagrados” da BD e da cultura pop.

Vinda das profundezas do Palácio da Justiça, em Bruxelas, uma energia de origem desconhecida ameaça a sobrevivência da humanidade. Ninguém parece capaz de conseguir contê-la… a não ser, talvez, Philip Mortimer. Mas, desde O Mistério da Grande Pirâmide, o tempo foi passando. Estará o professor preparado para enfrentar os mistérios do Egito que lhe regressam à memória?

Ficha técnica
Uma Aventura de Blake e Mortimer - O Último Faraó
Autores: Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig, François Schuiten e Laurent Durieux
Editora: Asa
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 17,95€