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quarta-feira, 13 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Escorpião Azul nos últimos 5 anos!


Hoje é dia de vos dar a conhecer quais os 10 melhores livros de banda desenhada editados pela editora Escorpião Azul nos últimos 5 anos!

A Escorpião Azul é uma editora de pequena dimensão que tem sabido trilhar o seu próprio caminho, à sua própria maneira, apostando especialmente em obras de autores portugueses, embora dando espaço a outros autores estrangeiros num registo mais autoral.

Tenho notado um acréscimo de qualidade nos últimos anos, quer na qualidade das edições, quer na qualidade das apostas das editoras. 

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Deixo-vos então as melhores 10 BDs lançadas pela Escorpião Azul entre o período de 2020 a 2025, período de existência do Vinheta 2020:

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Análise: O Atendimento Geral

O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul

O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul
O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes

Depois de Paulo J. Mendes ter sido o vencedor dos Prémios de Banda Desenhada do Amadora BD no ano passado pela sua (fantástica) obra Elviro, todos os olhos estavam postos no seu trabalho seguinte. Esse livro seguinte dá pelo nome de O Atendimento Geral, tendo sido recentemente lançado no Amadora BD e, mais uma vez, Paulo J. Mendes volta a dar-nos um livro especial e uma das melhores bandas desenhadas portuguesas lançadas em 2024.

O seu irresistível humor assente no absurdo e numa portugalidade muito própria - com a qual todos nos podemos identificar - mantém-se em boa forma neste terceiro livro. O Atendimento Geral é uma obra que não terá o fator surpresa de um O Penteador, que surpreendeu tudo e todos, nem a força de um Elviro que, sendo superior ao primeiro livro do autor português, acabou por chegar a mais gente e, por conseguinte, servir de cartão de visita para muitos (novos) leitores. Por esse motivo, talvez, como escrevia, este O Atendimento Geral não surpreenda tanto, concedo. Mas considerar a obra como "mais do mesmo" seria injusto, até porque há aqui muitas coisas que são diferentes e bem-vindas.

O método de construir uma história absurda onde as situações normais e as situações inusitadas se misturam num casamento perfeito mantém-se presente, tal como presente também está mais um rol de personagens icónicas e divertidas a quem é difícil resistir. Essa é a parte basilar na obra de Paulo J. Mendes e, portanto, volta a estar presente. Todavia, a história é diferente das duas anteriores e até pisca o olho a uma maior sátira social do que nos supramencionados livros O Penteador e Elviro.

O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul
Em termos de enredo, em O Atendimento Geral acompanhamos a vida de Lombinhos, um tímido escriturário que vê a sua vida dar uma grande volta quando é encarregado de ser o responsável pela abertura de uma sucursal da empresa "O Atendimento Geral" numa pequena localidade do interior lusitano. Que, curiosamente, é a exata vila em que, quando em criança, o autor passava as suas férias numa quinta da sua tia, entretanto às portas da morte.

Mais de três décadas depois dessas belas memórias estivais juvenis, Lombinhos perdeu naturalmente o laço com esta terra pequena e fechada. No entanto, a sua ida forçada para esta vila fá-lo voltar ao contacto com amigos da juventude. Entre eles, o seu melhor amigo que, entretanto, se casou com o amor da sua juventude e que, no tempo presente, parece ser o arqui-inimigo e total oposto de Lombinhos. Se as duas personagens eram próximas e amigas na juventude, na idade madura, encontram-se em extremos.

Enquanto o protagonista volta a familiarizar-se com esta pequena vila, mudando o seu preconceito inicial perante a mesma, o leitor vê-se embriagado nas peculiares personalidades de cada um dos habitantes locais. Isto é um livro de banda desenhada, mas as suas ricas e irresistíveis personagens, davam para fazer inúmeras temporadas, caso esta história fosse uma telenovela ou uma série de televisão.

Com efeito, as histórias de Paulo J. Mendes conseguem aquela dualidade - que adoro! - entre parecerem, à primeira vista, completamente "normais", até mesmo com alguma mundanidade, mas depois mostrarem-se carregadas de cenas absurdas e inusitadas que nos fazem rir e nos agarram completamente ao enredo. Também podemos, admito, ver a coisa de uma forma diametralmente oposta: as histórias são de chorar a rir e depois aparecem disfarçadas de histórias sérias e credíveis. Mas bem, seja como for, histórias sérias carregadas de momentos cómicos ou histórias ridículas carregadas de momentos sérios, o que é certo é que as histórias funcionam bem e têm uma singularidade muito própria. Consequentemente, é justo de afirmar que Paulo J. Mendes não precisou de muitos livros para nos possibilitar o seu estilo próprio de autor, o seu signature style. Em apenas três obras, já fica claro o modo singular como o autor nos dá banda desenhada., parecendo um casamento feliz entre o bom humor dos velhos filmes de cinema português, que tinham António Silva, Ribeirinho ou Vasco Santana como nomes maiores, e o non sense e o caricato dos Monty Python. Funciona na perfeição!

Neste livro em concreto, Paulo J. Mendes tece críticas um pouco mais aguçadas - mas sem serem demasiadamente inflamadas - à sociedade atual nas suas mais diversas variantes. É impossível lermos este livro sem notarmos que, de página para página, Paulo J. Mendes está a espelhar, mesmo que de forma exagerada ou inversa, as idiossincrasias que temos enquanto espécie humana, de modo geral, e enquanto povo português, de modo particular.

É verdade que, por vezes, há algum texto em demasia nos balões que retiram alguma da legibilidade da narrativa ou que certos temas acabem repetidos de uma forma algo exagerada - embora eu também compreenda que isso faz parte do registo humorístico do autor. Mesmo assim, são pequenas "queixas" minhas para uma obra que tanto prazer me deu ler.

O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul
Em termos de ilustração, os apreciadores do trabalho de Paulo J. Mendes continuarão satisfeitos com o trabalho que o autor nos oferece neste O Atendimento Geral. As personagens apresentam uma bela expressividade "cartoonesca" e, em termos cénicos, o autor oferece-nos desenhos um pouco mais realistas, o que dá uma boa junção. Mesmo assim, a história não permite que o autor nos conceda tantos cenários de rua ou paisagísticos como eu desejaria até porque, quando isso acontece, a componente visual da obra sai beneficiada.

Desta vez, as ilustrações de Paulo J. Mendes são num preto e branco puro, sem espaço para tons a cinza. Ainda que eu tenha preferido as belíssimas cores com que o autor nos brindou em Elviro, tenho que reconhecer que este registo a preto e branco puro também funciona bem para o estilo de ilustração de Paulo J. Mendes e, mesmo ficando aquém de Elviro, suplanta em muito a componente visual de O Penteador que tinha tons a cinza que, quanto a mim, não resultaram tão bem.

A edição da Escorpião Azul volta a seguir as diretrizes do recente (e aprovado) cânone editorial já por nós conhecido: o livro tem capa mole baça, com badanas, bom papel baço no miolo e boa impressão e encadernação. No início surge-nos um prefácio, bem-vindo, de Pedro Cleto. O livro apresenta ainda um generoso dossier de extras de 8 páginas, onde podemos ver esboços de personagens e de planificação, bem como estudos para a capa da obra. E, como detalhe, o livro volta a apresentar as margens laterais coloridas por uma cor própria - nesta caso, a cor castanha - o que dá personalidade e singularidade à edição.

Em suma, O Atendimento Geral não desilude e reafirma Paulo J. Mendes como um dos autores mais impactantes da atualidade bedéfila em Portugal. É fácil mergulharmos numa história do autor... o difícil mesmo é termos que dizer adeus a estas personagens irresistíveis quando termina a nossa leitura. Resta-nos a sorte de poder  resolver esse "problema" voltando à primeira página e começando tudo de novo!


NOTA FINAL (1/10):
9.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul

Ficha técnica
O Atendimento Geral
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 272, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Outubro de 2024

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Escorpião Azul publica o muito esperado novo livro de Paulo J. Mendes!



Foi ainda durante o último Amadora BD, no segundo fim de semana do evento, que a editora Escorpião Azul publicou o novo álbum de Paulo J. Mendes, autor que foi o grande vencedor da edição passada dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora, com a sua obra Elviro.

Depois de O Penteador e de Elviro, ambos também publicados pela Escorpião Azul, surge-nos agora O Atendimento Geral.

Devo dizer que estou muito, muito curioso para ler este novo livro, já que sou um grande admirador da obra do autor!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes

Um tímido escriturário vê a sua vida virada do avesso ao ser encarregado de abrir uma sucursal em certa vila do interior. A mesma onde, na infância e na juventude, passava férias na quinta de uma tia até ao derradeiro ano em que algo corre mal e aquela lhe põe as malas à porta. 

De regresso forçado após três décadas a um meio pequeno e fechado que já não reconhece, irá defrontar amigos tornados inimigos, a elite local que o hostiliza, insaciáveis apetites imobiliários e a pressão para obter resultados que não consegue, enquanto se deixa capturar por um ressuscitado apego à velha casa, memórias e cultivos ancestrais. 

Pelo caminho, o reacender de uma antiga paixão estival acarreta outro factor jamais superado: Um total estado de paralisia que o atinge sempre que se envolve fisicamente com alguém...

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Ficha técnica
O Atendimento Geral
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 272, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 29,00€

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Vinheta 2020 tem nova imagem feita por autor nacional!


Chegados ao segundo semestre do ano, é tempo de renovarmos a imagem do Vinheta 2020, como já vem sendo feito desde o primeiro ano de atividade deste espaço. Para isso, conto mais uma vez com a generosidade de um autor português.

Desta feita, contei com o contributo do Paulo J. Mendes, autor que tanto admiro, e que já nos deu obras tão especiais como Elviro ou O Penteador. A propósito de novos lançamentos do autor, é esperado que, durante este ano, saia outro livro de Paulo J. Mendes.

Para a imagem do Vinheta 2020, o autor reuniu numa ilustração três personagens incontornáveis da banda desenhada franco-belga: Marsupilami, Blake e Mortimer.

Paulo J. Mendes junta-se assim a um belo conjunto de autores que já ilustraram a imagem do Vinheta 2020 que são: Jorge Coelho, Henrique Gandum, Daniel Maia, Joana Afonso, Ricardo Santo, Luís Louro, Osvaldo Medina e Telmo Estrelado.

Obrigado, Paulo!

quarta-feira, 20 de março de 2024

Pára tudo! Eis o meu livro sobre BD!!!



Hoje é um dia muito importante para mim!!!

Finalmente posso apresentar-vos o meu primeiro livro, em que estive a trabalhar no último ano, e que sairá no próximo sábado!

Chama-se Muitos Anos a Virar Frangos... perdão, Muitos Anos a Virar Páginas, e é um livro não de banda desenhada, mas sobre banda desenhada.

O repto foi lançado por Jorge Deodato que, a propósito do 10º aniversário da editora Escorpião Azul, me convidou a fazer um livro sobre banda desenhada, com alguns dos principais editores portugueses de BD. Gostei da ideia e pus mãos à obra!

Procurando não fazer um mero livro de entrevistas secas e formais, tive 10 "verdadeiras" conversas com 10 dos mais relevantes editores de banda desenhada em Portugal.

O objetivo? Muito simples: levantar um pouco (ou, por vezes, demasiado!) o véu sobre o que é a edição de banda desenhada por terras lusas, conhecendo as dificuldades, os desafios, os feitos alcançados. E, porque sei que isso também é importante, conhecer os percursos pessoais destes 10 editores. E, acreditem, há aqui histórias mirabolantes contadas na primeira pessoa!

Falei com 10 pessoas incríveis que, com generosidade, me abriram o coração, esmiunçando o seu passado e opinando - por vezes de uma forma que muitos poderão achar polémica - sobre tudo e mais alguma coisa que esteja relacionada com a banda desenhada. Esperem afirmações marcantes que nos fazem pensar.

Os autores com quem falei foram Jorge Deodato e Sharon Mendes (Escorpião Azul), Rui Brito (Polvo), Mário Freitas (Kingpin Books), José Hartvig de Freitas (A Seita, Devir, G. Floy Studio), Bruno Caetano (A Seita, Comic Heart), Ricardo M. Pereira (Ala dos Livros), Silvia Reig (Levoir), João Miguel Lameiras (A Seita, Devir), Vanda Rodrigues (Arte de Autor) e Guilherme Valente (Gradiva).

Falámos de tudo e mais alguma coisa! Houve perguntas malandras, houve respostas curiosas e, acima de tudo, houve conversas abertas e sem tretas ou filtros. Não gosto de chamar ao Muitos Anos a Virar Páginas um livro de entrevistas... é mais um livro de conversas que QUALQUER AMANTE de BANDA DESENHADA certamente apreciará. Admito que isto pode parecer o discurso de quem quer vender algo, mas digo-vos, com sinceridade total: conhecendo o livro como conheço, eu adoraria ler um livro assim, mesmo que tivesse sido feito por outra pessoa. Considero-o uma "verdadeira bíblia" sobre os meandros da edição de banda desenhada em Portugal e acho que, no final da leitura, saímos bastante mais ricos!

Acham que percebem muito sobre banda desenhada e sobre o que é editar BD? Então esperem por ler este livro e ficarem de boca aberta perante certas revelações. Mais, não digo.

Eu sou suspeito a falar, reconheço, mas estou muito orgulhoso do que aqui foi feito. Daquilo que representa este livro. Mas, claro, não o teria conseguido sozinho, claro está, se não fosse a generosidade destes 10 editores que disseram "SIM" ao meu convite. A eles, e agora publicamente, eu digo: OBRIGADO.

Mas há mais neste Muitos Anos a Virar Páginas, caros leitores.

Este não é apenas um livro de texto. Está carregado de desenhos e de imagens. Cada conversa é acompanhada por fotografias do acervo pessoal de cada um dos editores e algumas dessas fotos veem agora, pela primeira vez, a luz do dia. Já para não falar que várias dessas fotografias incluem autores de renome internacional.

Mas melhor ainda que isso, é que o livro conta com 10 ilustrações inéditas e feitas de propósito para o Muitos Anos a Virar Páginas por alguns dos autores portugueses mais marcantes na banda desenhada nacional, nomeadamente: Luís Louro, Rita Alfaiate, Paulo J. Mendes, Derradé, Pepedelrey, Álvaro, Inês Garcia, João Gordinho, Ricardo Santo e João Amaral! Todos eles com obras publicadas pela Escorpião Azul. Posso dizer-vos que todos estes ilustradores se esmeraram nas suas ilustrações e que foi para mim uma honra poder contar com o seu contributo. A capa do livro, já agora, é da autoria de Sharon Mendes.

Este contributo de tanta gente estendeu-se ainda a Maria José Magalhães Pereira, que assina um fantástico e muito elucidativo prefácio ao livro. Já viram a sorte que eu tive em poder contar para o meu livro com tanta gente maravilhosa e que tanto e tão bem representa a banda desenhada em Portugal? 

Sim, já perceberam que estou muito entusiasmado com este livro, mas acho que tenho razões para tal. O mesmo será lançado no próximo sábado, às 22h, no Festival LouriBD, na Lourinhã. Apareçam e trocamos dois dedos de conversa.

Com sorte, tendo em conta que muitos dos ilustradores que aparecem no livro estarão presentes no LouriBD, ainda levam o livro com dedicatórias para casa.

Por agora, deixo-vos com a sinopse da obra, ficha técnica e com algumas das ilustrações que poderão encontrar no livro.


Muitos Anos a Virar Páginas, de Hugo Pinto

No atual e consentâneo período dourado que se vive na edição de banda desenhada em Portugal em que, cada vez mais, se lança mais e melhor BD por terras lusas, há, ainda assim, questões que subsistem sem resposta: como é que, efetivamente, se desenrola a atividade de edição de BD por cá? Será este mercado tão sustentável como aparenta ser? Que ambiente se respira entre concorrentes na edição? Que tiragens são feitas? Que diferença há entre Novela Gráfica e Banda Desenhada? Como vivem os editores de BD em Portugal? E serão eles “editores” ou meros “publicadores”?

Recorrendo a um anglicismo e adaptando ao universo da banda desenhada a célebre questão sem resposta de Bob Dylan, a pergunta primordial que se impõe é: How many books must a publisher publish, before you call him an editor?

“A resposta, meu amigo”, a essa e outras questões, está neste primeiro livro de Hugo Pinto (autor do blogue Vinheta 2020 e divulgador e crítico de banda desenhada). De modo desgarrado e sem pudores, não fugindo a assuntos muitas vezes considerados tabu, este é um livro com conversas entre o autor e 10 dos mais proeminentes editores de banda desenhada da última década em Portugal.

Não só Muitos Anos a Virar Páginas assinala os 10 anos de existência da editora Escorpião Azul, como nos dá um extenso e profundo vislumbre sobre a banda desenhada em Portugal, carregado de inúmeras histórias dos bastidores da edição da 9ª Arte que eram, até agora, desconhecidas.

E como cereja em topo do bolo, ainda reúne 10 ilustrações únicas e inéditas feitas por 10 dos autores que fazem parte do catálogo da editora portuguesa.

Eis um livro obrigatório para todos os amantes de banda desenhada.

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Ficha técnica
Muitos Anos a Virar Páginas
Autor: Hugo Pinto
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 256, a preto e branco
Encadernação: Capa Mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Março de 2024
PVP: 25,00€

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Análise: Elviro

Elviro, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul

Elviro, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul
Elviro, de Paulo J. Mendes

Agora, vendo bem, talvez tivesse sido fácil de antever que Paulo J. Mendes voltaria a deslumbrar-nos depois de O Penteador.

Já nessa altura, com essa obra, Paulo J. Mendes provou ser um contador de histórias sui generis, sabendo dotá-las de um humor simples – talvez básico, até – mas que é verdadeiramente delicioso e nos remete para alguns momentos dos Monty Python. Tudo isso, enquanto revelava um traço eficaz e que se coadunava bem com a história contada. Essa obra acabou por ser muito bem aceite por público e crítica, a que se juntaram algumas nomeações e prémios de banda desenhada, nomeadamente a vitória no VINHETA D’OURO para Melhor Obra de Humor em 2020.

Mas, se O Penteador foi muito bom, Elviro acaba por o superar em todos os pontos. A história é mais completa, mais lógica, o non-sense não é tão presente em Elviro como em O Penteador, mas isso não significa que esse tipo de humor não esteja presente em toda a obra. Quem gostou da leitura divertida e bem disposta de O Penteador, decerto não se sentirá defraudado com este Elviro. Mas, para além desse humor, há bastante mais neste segundo livro que a Escorpião Azul edita do autor. Há aqui toda uma relevância histórica e um conjunto de personagens memoráveis que ficam connosco, mesmo depois de fecharmos o livro. E se isso não é uma característica comum aos chamados "clássicos da banda desenhada", então o que será?

A história de Elviro é simples. Elviro Bolacho e a sua esposa Ataílde decidem passar uma semana de férias de Verão em Nalgas de Mar, uma vila costeira, com belas praias. Elviro é um entusiasta dos velhos veículos de transporte público e, por esse motivo, escolheu Nalgas de Mar como destino para as suas férias, devido ao velho serviço de elétricos da vila se encontrar prestes a encerrar. Como entusiasta, Elviro quer documentar o momento histórico em que o serviço de elétricos será substituído por um sistema de troleicarros.

Elviro, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul
No entanto, nem tudo são coisas boas neste período estival e a relação entre Elviro e a sua esposa, Ataílde, não parece viver os melhores dias. Brigas constantes entre os dois, essencialmente devido a esta paixão pelo transporte público de Elviro, levam a que haja uma forte zanga entre o casal, que os leva a passar a estadia sozinhos, cada um para seu lado. Ataílde passa a frequentar a praia junto de um amigo esotérico, enquanto que Elviro divide o seu tempo entre o estudo e a tentativa de salvamento dos velhos elétricos de Nalgas de Mar.

Entretanto, Elviro conhece Jaclina, uma bela jovem boleira, por quem parece nutrir uma paixão. Ou um “fraquinho”, vá. A este enredo, juntam-se memoráveis personagens como Parretas, o responsável pelo serviço dos Elétricos; Tângero, o Padre moderno que gosta de música eletrónica; Prendrelico, o Rei das Bolas de Berlim; Nektarina, a russa que ajuda Jaclina e Parretas; Atunésio, também fã de transportes públicos; Arrozinho, que tem jeito para tudo e mais alguma coisa; e, também, o grupo de mirones, adepto de observar à distância o crescente número de mulheres que pratica essa dádiva dos céus chamada topless. São personagens que nos fazem rir, pela sua conduta e forma de estar peculiar e que Paulo J. Mendes esculpe muitíssimo bem.

A história está carregada de humor, mas diga-se em abono da verdade que estamos perante um humor muito próprio. Não parece que Paulo J. Mendes tente fabricar tiradas cómicas ou gags humorísticos, com a habitual punchline. Ao invés, o autor presta-se a dar-nos uma história que justamente por não parecer humorística, mas sim algo sério, é que nos faz rir perante as situações, os nomes das personagens e das localidades, os eventos non-sense que são criados. É aí, nessa aparente tentativa de ser sério, que reside a genialidade do humor do autor, quanto a mim. Daí ser um tipo de humor refinadamente simples, que se torna delicioso e que me remete, muitas vezes, para os Monty Python. É, pois, frequente que, lendo este Elviro (e O Penteador também, já agora) pensemos: “mas este Paulo J. Mendes está a dar-nos uma história séria, está a gozar com a nossa cara ou, simplesmente, é um autêntico "Rei" da comédia, que não tem medo de ser silly ou non-sense (perdoem-me os estrangeirismos), mesmo quando a história tem um lado de sério, também?”. Fico-me pela última hipótese. A trama é divertida e com aquele humor inocente típico dos antigos filmes portugueses, como o A Canção de Lisboa, O Grande Elias ou O Pátio das Cantigas, entre outros. A título de exemplo, refiro que as provocações constantes a Prendrelico me fizeram recordar as provocações constantes a Evaristo, em O Pátio das Cantigas.

E, mesmo admitindo que, por vezes, parece haver um excesso de balões e falas desnecessariamente grandes, acabamos por constatar, mais à frente, que esse diálogo que. inicialmente nos parecia mundano ou dispensável, é inteligentemente aproveitado pelo autor para contribuir para mais uma piada ou mais um momento hilariante. Não obstante, admito que, em alguns casos, me pareceu que Paulo J. Mendes nos dá alguma matéria informativa a mais, em relação aos elétricos e aos troleicarros. Lendo a nota introdutória com que o autor nos brinda logo nas primeiras páginas, percebemos que o mesmo também nutre um especial gosto pelo tema e que, por conseguinte, talvez não se tenha coibido de falar sobre o mesmo. Contudo, pareceu-me que talvez se tenha adensado em demasia no assunto. Não que, sublinhe-se, isso torne a leitura maçuda ou aborrecida.

Elviro, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul
Se, até aqui, tenho estado focado na bela e hilariante história de Elviro há que dizer que, em termos visuais, o trabalho do autor não fica nada atrás. E aqui o salto qualitativo face a O Penteador é verdadeiramente gritante. E tudo isso é potenciado pela enorme beleza com que as cores dotam os desenhos do autor. Este é um daqueles autores que faz um belo uso das cores e que, só por isso, já deixa vontade de querer ler a sua história. Nos ambientes, especialmente, são verdadeiras obras de arte que compõem o livro. Posso até dizer uma coisa: depois deste Elviro já não consigo – nem quero – imaginar um novo livro de Paulo J. Mendes que não seja a cores. Ainda que o tom de pele das personagens me pareça um pouco avermelhado em demasia, acho que as cores potenciam - em muito! - as ilustrações do autor. E mesmo quanto a esse tom avermelhado de pele... como é uma história de verão e de férias na praia, aceita-se que as personagens estejam com escaldões por longos períodos de exposição solar.

Se em termos de desenho de personagens, onde o autor utiliza um traço semi-caricatural simples, não há um grande afastamento face àquilo que o autor nos tinha dado em O Penteador, já em termos de ambientes e do tratamento dos veículos, é notória uma bela evolução. Os desenhos acabam por ser bastante ricos, povoados por imensos detalhes que, não raras vezes, merecem uma observação atenta da parte do leitor. 

Acho que talvez certas vinhetas pudessem "respirar" melhor, se não fossem tão pequenas e tivessem tanto texto, embora isso também me pareça mais "feitio" do que "defeito". É o estilo do autor, apesar de tudo. 

A edição da Escorpião Azul parece ser semelhante aos demais livros da editora, mas, neste caso, há algumas questões que interessa realçar, por melhorarem a qualidade do livro. Como habitual, a capa é mole, com badanas, mas, desta vez, temos um papel com uma gramagem mais espessa do que o costume (120 g) e a extremidade do papel tem a cor amarela. O que faz com que o livro, quando fechado, tenha a cor amarela se olharmos para o conjunto das páginas como um todo. Nota positiva ainda para o generoso caderno de extras que inclui estudos gráficos de Paulo J. Mendes para os locais, as personagens, os veículos, os storyboards e as capas. São extras muito bem-vindos e que dignificam a edição da Escorpião Azul. Como ponto menos positivo, apenas lamentei que alguns balões apresentassem pretos menos carregados, que fez parecer que havia falta de preto na impressão. Mas não é nada muito chocante.

Por fim, é justo dizer que, não só Elviro é uma das melhores BD’s portuguesas do ano, como se assume, com alguma facilidade, diga-se, como um clássico instantâneo da banda desenhada portuguesa! Se O Penteador já foi bom e se já nos apresentou o enorme potencial de Paulo J. Mendes, Elviro é a verdadeira constatação da relevância do autor, que junta uma personalidade muito própria na maneira de contar histórias castiças, carregadas de portugalidade, com um humor bastante raro. E tudo isto num belo registo visual, onde as bonitas cores são as jóias da coroa. Não li todo o catálogo da Escorpião Azul – embora tenha lido a grande parte dos livros da editora – mas arrisco dizer que esta é a obra mais relevante da Escorpião Azul. Absolutamente obrigatória!


NOTA FINAL (1/10):
9.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Elviro, de Paulo J. Mendes - Escorpião Azul

Ficha técnica
Elviro
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 208, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Outubro de 2022

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Depois de "O Penteador", Paulo J. Mendes está de volta para mais uma BD!


Depois da aclamada obra O Penteador, que arrebatou, aliás, vários prémios e nomeações, incluindo o VINHETA D'OURO para Melhor Obra de Humor em 2020, Paulo J. Mendes está de volta com o seu mais recente livro que dá pelo nome de Elviro e que estará disponível no Amadora BD já a partir do próximo dia 21

A publicação da obra é pelas mãos da editora Escorpião Azul.

Devo dizer que estou muito curioso para ler este livro.

Elviro, de Paulo J. Mendes

Numa pitoresca vila costeira, vivem-se os últimos dias do seu decrépito serviço de eléctricos.Elviro Bolacho, entusiasta de velhos veículos de transporte público, aproveita as férias de Verão com a esposa Ataílde para registar tudo o que pode desses derradeiros instantes.

Uma zanga entre o casal leva a que passem a estadia separados: Ao longo de sete dias, ela toma banhos de sol com um amigo de ocasião numa praia infestada de mirones, enquanto ele passa o tempo à volta dos eléctricos, entre os seus registos e um esforço para tentar salvar o que resta, sem suspeitar que a sua atracção por uma jovem doceira irá desencadear precisamente o oposto.

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Ficha técnica
Elviro
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 208, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Já é conhecido o vencedor do Prémio Jorge Magalhães!



A editora Ala dos Livros promove o Prémio de Argumento para Banda Desenhada Jorge Magalhães, que é um prémio com dois claros e importantes objetivos: 1) o de homenagear essa personalidade incontornável da banda desenhada em Portugal que foi Jorge Magalhães, avô dos editores, e 2), o de procurar assinalar e destacar os melhores trabalhos da banda desenhada portuguesa, ao nível do argumento. 

Por estes dois motivos, esta iniciativa, cuja primeira edição é esta mesmo, é algo que considero mais que relevante e que espero que se possa manter futuramente!

Foi também por achar que é algo muito pertinente e bem-vindo que aceitei fazer parte do júri que selecionou as melhores obras, ao nível do argumento, da banda desenhada de 2020. Não poderia estar mais bem acompanhado no júri, ou não fosse este painel composto por nomes tão ilustres da banda desenhada nacional como João Miguel Lameiras, Paulo Monteiro, Pedro Cleto ou Maria José Magalhães. Bem, na verdade, o único nome menos ilustre deste conjunto, é o meu!

Mas, deixando a constituição do júri de lado e focando-me no(s) vencedor(es), informo que o grande vencedor deste primeira edição do Prémio de Argumento para Banda Desenhada Jorge Magalhães foi Filipe Melo, com o seu Balada para Sophie, que arrecadou o prémio de melhor argumento de 2020. Este livro foi inicialmente publicado pela Tinta da China embora, neste momento, esteja a ser editado pela chancela Companhia das Letras, da Penguin Random House.

Vencedor: Balada para Sophie 
de Filipe Melo e Juan Cavia
Companhia das Letras (Originalmente publicado pela Tinta da China)



Também dignas de relevo e louvores são as duas obras que receberam uma menção honrosa por parte do júri: Desvio, da Planeta Tangerina, com argumento de Ana Pessoa, e O Penteador, da Escorpião Azul, com argumento de Paulo J. Mendes.

Menção Honrosa: Desvio
de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho
Planeta Tangerina

 
Menção Honrosa: O Penteador
de Paulo J. Mendes
Escorpião Azul



Parabéns aos autores vencedores, às editoras que apostaram nestas obras e aos criadores deste Prémio!

terça-feira, 7 de julho de 2020

Análise: O Penteador




O Penteador, de Paulo J. Mendes

Se há géneros que, na minha opinião, estão batidos, o do humor ocupa um lugar de destaque. Quer seja na banda desenhada, como no cinema ou nos programas televisivos, estou constantemente com a sensação de dejá vu, perante obras de humor. Felizmente, O Penteador, de Paulo J. Mendes, lançado pela Escorpião Azul, é uma exceção à regra nesse universo de comédia, assumindo-se como uma leitura refrescante e original que, aqui e ali, pisca o olho ao universo dos Monty Python.

Paulo J. Mendes tem uma história pessoal interessante enquanto autor. Tendo estado bastante ativo no mundo da banda desenhada nacional quando era jovem adulto, com a publicação do seu material em fanzines como Comicarte ou Düdü, e tendo colaborado na organização das primeiras edições do Salão de Banda Desenhada do Porto, a verdade é que passou as últimas décadas desligado da banda desenhada. E em boa hora se reconectou à 9ª arte quando lançou esta obra.

Devo dizer que O Penteador me surpreendeu desde o primeiro momento em que iniciei a minha leitura porque a obra encerra em si uma dicotomia muito interessante: é que, por um lado, se folhearmos as páginas desta obra, olhando apenas para os desenhos sem lermos a história, ficamos com a ideia de que é um livro sério, com um estilo de arte que em nada faz percepcionar de que se trata de uma história humorística. Só olhando para os desenhos, poderia ser uma novela gráfica do mais pesado e intenso possível. Um drama eloquente, até. Mas, se lermos o livro, não demoramos muito a perceber de que se trata de um livro cómico ao mais alto nível. 

A história conta-nos a experiência do jovem Mafaldo Limparrim que chega a Poço Redondo, uma terra tipicamente portuguesa - baseada certamente numa pequena terriola do interior de Portugal - em busca de um emprego. As coisas começam a correr-lhe bem e rapidamente acaba nas boas graças do seu novo, embora idoso, chefe, Nascilindo, que o arrasta para uma vida descontraída, bem regada de boa comida e muita bebida. E sempre na companhia de figuras cada vez mais proeminentes na esfera social: o Presidente da Câmara, o Rei e o Papa. 

Os nomes das personagens, as situações criadas pelas mesmas, o cómico de situação que aqui se apresenta… é muito bem explorado.  Estamos sempre perante situações non sense. Não me pareceu uma comédia forçada, pareceu-me que, acima de tudo, o autor há-de ter um singular sentido de humor que o leva a divertir-se enquanto cria uma banda desenhada. As personagens, os locais, as comidas, as experiências e a trama não se encaixam naquilo que seria o expectável. E isso é algo que só temos que louvar. O autor parece, por isso, ter uma voz própria que merece ser assinalada e tida em atenção, pois tem potencial para trilhar um caminho próprio na banda desenhada nacional. Acho que não consigo encontrar um livro de banda desenhada semelhante a este. Há aqui muita originalidade e um certo desprezo implícito pelo expectável, pelo comummente aceite. Isso não quer dizer que o tom do texto seja provocatório, muito embora, as personagens clássicas do clero, da nobreza e da política sejam apresentadas em tom jocoso. Há aqui um certo humor ingénuo e quase infantil, que resulta bem, pela (aparente) seriedade da história e da arte ilustrativa que a acompanha.

Porque uma coisa é dizer-se uma piada. E outra coisa é dizer-se uma frase que tem piada. Há diferenças nisso porque, se virmos bem, esta obra nem sequer assenta na clássica punchline que a maioria dos textos humorísticos pressupõe. Parece que o propósito não é fazer rir mas sim contar uma história que, eventualmente, nos fará rir. Há livros que têm escrito na capa (por vezes literalmente) que são livros de humor. Este O Penteador, aparentemente nem parece ser um livro de humor. E é por isso que é tão refrescante. Que surpreende tanto. Em vez de querer ser um livro de comédia, levado a sério; parece querer ser um livro sério, levado com comédia. E há substanciais diferenças entre uma e outra coisa.  

Os diálogos estão muito bem construídos e a sequência narrativa e planificação da mesma, também demonstram um bom cuidado por parte do autor. 

Tocando no tema da arte ilustrativa, é um livro que, uma vez mais, se leva a sério. Gostei particularmente dos cenários, onde o autor revela experiência e boa técnica, e também realço a boa e dinâmica utilização de "planos de câmara". O desenho das personagens, sendo simples, torna-as bastante amigáveis e giras de observar. A ilustração é a preto e branco, com forte presença dos tons cinzentos de carvão. Algo que me lembrou bastante o trabalho do espanhol Kim nas novelas gráficas A Arte de Voar e A Asa Quebrada, assinadas em conjunto com Antonio Altarriba e, especialmente, em Neve nos Bolsos (esta última, escrita e desenhada por Kim) que foram publicadas em Portugal pela Levoir, juntamente com o jornal Público. Contudo, mesmo com algumas semelhanças na aparência das ilustrações, é de referir que o estilo de desenho de Paulo J. Mendes é um pouco mais cartoonesco do que o de Kim.

Como nota menos positiva, apenas acho que ao longo da leitura, sensivelmente a partir do meio da obra, começa a existir uma certa repetição de situações que esgotam a componente cómica das primeiras peripécias com que a personagem principal, Mafaldo, se depara. Bem se entende que é algo propositado pelo autor para hiperbolizar o nonsense mas aqui, diria, que vai um pouco longe demais e que acaba por perder (alguma da) piada original. Eu sou daqueles que, normalmente, aprecia que os livros de banda desenhada sejam longos em número de páginas. Mas, neste caso, acho que talvez a história pudesse ter menos páginas. Ou então, que da segunda parte para a frente, apresentasse novas situações. Ainda assim, isto não estraga o livro. Apenas o impede de ser mais imaculado.

Por todos estes motivos, este é um livro altamente recomendável e que, bastante me entristece, se passar ao lado de muitos leitores de banda desenhada.


NOTA FINAL (1/10):
8.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica
O Penteador
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 160, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Fevereiro de 2020


segunda-feira, 29 de junho de 2020

Lançamento: O Penteador



Outro dos recentes lançamentos da editora Escorpião Azul que merece destaque é O Penteador, de Paulo J. Mendes, que foi lançado no primeiro trimestre de 2020. Atente-se na espetacular capa do livro.

Abaixo fiquem ainda com a nota de imprensa e imagens promocionais.

O Penteador de Paulo J. Mendes
Candidato a um emprego numa velha loja de miudezas, o jovem Mafaldo Limparrim desloca-se a Poço Redondo, vila suburbana de montanha conhecida pelos seus maus ares, para conhecer o seu idoso e irrequieto patrão. 

Contaminado desde o primeiro minuto, acabará por retirar-se à socapa após uma vigorosa familiarização com algumas especialidades e personagens locais. 

Diversas circunstâncias, contudo, ditarão o sucessivo regresso do jovem à peculiar vila, sempre acompanhado por um crescendo de personagens cada vez mais ilustres.

Ficha técnica
O Penteador
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 160, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 15,00€