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terça-feira, 12 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Levoir nos últimos 5 anos!



Hoje trago-vos a melhor banda desenhada que, nos últimos 5 anos, foi lançada em Portugal pela Levoir!

Porquê cinco anos? Bem, porque não só é um número redondo, como é o tempo de existência do Vinheta 2020. E isso tem sido estímulo para que nos últimos dias eu tenha feito um TOP 10 por editora. Afinal de contas, foram muitas e muitas as obras de BD com grande qualidade que, durante 5 anos, foram editadas em Portugal!

Mas centremo-nos na Levoir.

Depois de uma entrada em peso no lançamento de banda desenhada em Portugal, com a edição de inúmeras séries de comics americanos ou das icónicas coleções de Novelas Gráficas, entre outros lançamentos relevantes, a Levoir registou um período mais calmo por volta de 2020. Essa calma deu depois lugar a uma gradual retoma da atividade editorial por parte da editora.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Sem mais demora, deixo-vos então com as minhas 10 obras preferidas que a Levoir editou entre o período de 2020 a 2025:

terça-feira, 15 de julho de 2025

Análise: O Desassossegado Senhor Pessoa

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir
O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral

A editora Levoir lançou recentemente um dos seus livros agendados para este ano que eu mais queria ler! Falo-vos de O Desassossegado Senhor Pessoa, do francês Nicolas Barral, do qual a mesma editora já havia publicado, em 2020, o belíssimo Ao Som do Fado. Talvez por ter gostado tanto desse livro, talvez por gostar tanto de Fernando Pessoa ou talvez por este O Desassossegado Senhor Pessoa ter sido um livro bastante aclamado pela crítica internacional, estava, pois, muito curioso e empolgado para mergulhar nesta leitura.

E posso dizer-vos que Nicolas Barral não desilude e volta a dar-nos um belo e profundo livro de banda desenhada que, sinceramente, tomo como um privilégio e uma honra para os portugueses. O Desassossegado Senhor Pessoa é uma obra carregada de lirismo, imaginação e profunda portugalidade. Trata-se de um retrato comovente dos últimos dias de Fernando Pessoa, figura mais que central da literatura portuguesa, cuja complexidade interior é aqui explorada de forma credível, delicada e respeitosa. Barral volta a mergulhar na história e cultura da alma portuguesa, compondo uma verdadeira eulogia gráfica ao maior poeta do nosso país.

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir
A narrativa, bem construída, acontece em 1935 e centra-se em Simão Cerdeira, um jovem jornalista do Diário de Lisboa, incumbido de escrever o obituário de Fernando Pessoa quando surgem rumores a ameaçar que a morte do poeta está iminente. Este ponto de partida permite ao autor guiar-nos por uma Lisboa dos anos 30, ao mesmo tempo que nos oferece uma investigação jornalística sobre Pessoa que não é mais do que uma (bem-vinda) forma de nos apresentar, de um modo leve, o mistério e a aura quase metafísica de Fernando Pessoa. O dispositivo narrativo - a busca de Cerdeira pelo homem por detrás do mito - acaba por ser uma metáfora para a própria leitura da obra de Pessoa: um labirinto de vozes, vidas e máscaras que, sendo díspares, têm enquanto denominador comum a mente genial de Fernando Pessoa.

Um dos méritos desta abordagem adotada por Barral é que a mesma não se torna demasiado explicativa ou académica. Ao invés, o autor francês opta por uma construção mais sensorial e poética, que respeita a ambiguidade do poeta e não tenta aprisioná-lo numa explicação racional. Os heterónimos, em particular Bernardo Soares ou Álvaro de Campos, aparecem de forma orgânica, pontuando a história sem a dominarem, como se continuassem a visitar o mundo através do corpo do seu criador.

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir
A história, embora situada num momento terminal da vida de Pessoa, não se afunda em tristeza. Há nela um tom contemplativo, por vezes melancólico, mas nunca pesado. Barral escreve (e desenha) com reverência, mas também com liberdade, fazendo da obra quase uma extensão gráfica do Livro do Desassossego. É uma homenagem viva, por vezes poética, ao espírito inquieto de Pessoa e à pluralidade que o define.

A estrutura do livro alterna habilmente entre o presente da investigação de Simão Cerdeira e os ecos da vida interior de Pessoa, fundindo biografia e ficção com um equilíbrio raro. Nicolas Barral não tenta fazer de Pessoa uma personagem "normal", mas tampouco transforma o poeta português num mito inalcançável - prefere deixá-lo viver entre sombras e interrogações, tal como ele mesmo desejava.

A inserção de frases e reflexões inspiradas no universo pessoano, muitas vezes evocando trechos do Livro do Desassossego, reforça a dimensão poética do livro. São intervenções subtis que conferem à narrativa uma espessura literária, sem jamais quebrar o ritmo da leitura ou tornar o tema "forçado". A obra, neste sentido, posiciona-se entre a banda desenhada e a literatura, sendo ao mesmo tempo acessível e profunda, o que, como bem sabemos, é um equilíbrio que nem sempre é alcançável por grande parte dos autores.

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir
Visualmente, O Desassossegado Senhor Pessoa é um livro belíssimo. Para além de Fernando Pessoa, também Lisboa protagoniza a história, surgindo retratada com uma paleta de cores quentes e nostálgicas, onde o azul do Tejo, os ocres das fachadas e a luz própria lisboeta ajudam a construir uma atmosfera evocativa e encantadora. As vinhetas, muitas vezes silenciosas, respiram como poesia visual, permitindo ao leitor mergulhar lentamente no mundo do poeta. O jornalista Simão Cerdeira tem uma fisionomia claramente inspirada no ator Adrien Brody que, entre outros filmes, protagonizou o célebre O Pianista. Relembro que já em Ao Som do Fado, o protagonista era inspirado no ator Benicio del Toro, o que revela uma inclinação de Barral para utilizar atores de características faciais originais, para retratar as suas personagens.

Um único e pequeno reparo que posso fazer ao desenho de Barral é que, por vezes, o autor adota uma linha demasiado grossa, destoando um pouco da delicadeza de outras sequências desenhadas com mais elegância e subtileza. Esse contraste não parece advir de uma opção narrativa ou conceptual, mas acontece várias vezes e, pelo menos a mim, provoca uma certa estranheza, ainda que nunca comprometa (muito negativamente) a qualidade geral da obra, concedo. Trata-se de um detalhe estético menor, mas ainda assim perceptível.

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir
Em termo de edição, o livro apresenta as características naturais a que a editora Levoir já nos habituou na sua Coleção de Novelas Gráficas, embora, neste caso, a lombada seja branca e este livro tenha sido lançado, de forma independente, fora da referida coleção que, ao que tudo indica, este ano não deverá ser lançada. De resto, o livro apresenta capa dura baça, bom papel baço no interior e uma boa encadernação e impressão. Uma ou outra página pareceu-me desfocada. Não consegui averiguar se se trata de um problema da edição portuguesa ou se tal já havia acontecido na edição original. Mas fica a nota. 

O livro inclui ainda um posfácio de Ricardo Belo de Morais, escritor e investigador da Casa Fernando Pessoa, que também traduziu o livro que lhe deu um título que, a meu ver, consegue ser melhor do que o original. Nota ainda para o facto desta obra ter uma capa alternativa, limitada às lojas FNAC, em que o fundo é amarelo, em vez de ser azul.

Em suma, O Desassossegado Senhor Pessoa é mais do que uma simples biografia ilustrada. É uma meditação que respeita a memória de Pessoa sem a enclausurar. Nicolas Barral, com sensibilidade e mestria, oferece-nos uma história que não pretende decifrar o poeta, mas acompanhá-lo nos seus últimos passos, através de uma carta de amor à Lisboa dos anos 30, ao mistério da criação artística, e ao homem que, do seu baú, deu voz a muitos outros homens e que continua, desassossegadamente, a falar connosco. Saibamos nós ouvi-lo.


NOTA FINAL (1/10):
9.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral - Levoir

Ficha técnica
O Desassossegado Senhor Pessoa
Autor: Nicolas Barral
Editora: Levoir
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 195 x 270 mm
Lançamento: Maio de 2025

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Levoir vai lançar BD sobre Fernando Pessoa!



A Levoir prepara-se para apresentar, já durante o próximo fim de semana, no Maia BD, o livro O Desassossegado Senhor Pessoa, do francês Nicolas Barral, que a editora portuguesa pretende lançar nas próximas semanas,

Do mesmo autor, já a editora lançou há uns anos o belíssimo Ao Som do Fado, o que nos revela uma aparente propensão do autor para abordar temas portugueses. Primeiro, abordou o Estado Novo e a luta pela revolução. Agora, aborda o poeta português mais famoso, o genial Fernando Pessoa. Para isso contará, imagino, o facto de Nicolas Barral ser casado com uma portuguesa.

Esta nova aposta da Levoir, que enalteço, terá ainda uma exposição no Maia BD. O livro deverá chegar às livrarias a partir do dia 3 de Junho. Nota para o facto de haver uma capa exclusiva para as lojas FNAC.
Por agora, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais da obra.

O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral

O Desassossegado Senhor Pessoa vai ser apresentado no Festival Maia BD a 24 de Maio, com uma exposição sobre as obras do autor editadas em Portugal, e a 3 de Junho sairá para o mercado livreiro.

A tradução e o posfácio são da autoria de Ricardo Belo de Morais, escritor e investigador da Casa Fernando Pessoa.
A obra do francês Nicolas Barral foi uma das grandes sensações no mundo da Banda Desenhada em França em 2024 e candidato aos prémios do Festival de Banda Desenhada de Angoulême 2025.

Licenciado pela Escola de Belas-Artes de Angoulême, Nicolas Barral iniciou a sua carreira na revista Fluide Glacial, mas foi a sua colaboração com Pierre Veys em Baker Street e As Aventuras de Philip e Francis – uma paródia à série Blake e Mortimer – que o tornou conhecido do grande público. Nicolas é autor de Ao Som do Fado, uma emotiva e bem documentada banda desenhada sobre Portugal antes do 25 de Abril de 1974. Publicada pela Levoir em 2020 em Portugal, ainda antes da sua saída em França, o livro esgotou e teve uma segunda edição em 2024 aquando dos 50 anos da Revolução dos Cravos.


O Desassossegado Senhor Pessoa, é um retrato comovente dos últimos dias de vida de Fernando Pessoa.
Simão Cerdeira, um jovem jornalista do Diário de Lisboa é indicado para escrever o obituário de Fernando Pessoa, porque corre o rumor, em Novembro de 1935, de que o poeta está doente e morrerá em breve. Mas Cerdeira nada sabe sobre a vida desta enigmática figura e, começa a investigar, percorrendo o seu rasto, entrevistando as principais testemunhas da vida do poeta.

Ao mesmo tempo, Pessoa prepara a sua morte. Na altura Fernando Pessoa trabalhava nos textos do Livro do Desassossego, do heterónimo Bernardo Soares.

“Dizem que Pessoa tinha um baú cheio de milhares de textos, uma espécie de caixa de correio onde todos esses escritores vinham regularmente deixar os seus manuscritos. Um baú cheio de pessoas que talvez só existam na imaginação do seu dono.”

O Desassossegado Senhor Pessoa, tem uma capa exclusiva para a FNAC.

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Ficha técnica
O Desassossegado Senhor Pessoa
Autor: Nicolas Barral
Editora: Levoir
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 195 x 270 mm
PVP: 26,90€

sexta-feira, 15 de março de 2024

Análise: Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada

Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral - Gradiva

Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral - Gradiva
Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral

Depois de começar a publicar a coleção em banda desenhada de Nestor Burma com os três volumes criados por Moynot, a editora Gradiva publicou o quarto volume da série que, desta vez, é feito pelas mãos de Nicolas Barral.

Relembro que esta série adapta para banda desenhada os romances originais de Leo Malet e que começou a ser desenvolvida pelas mãos do célebre Jacques Tardi, que fez os primeiros quatro volumes da série. No entanto, e contrariando o mais expectável e, diria mesmo, adequado, a Gradiva optou por começar a publicar a série pelos volumes de Moynot e Barral presumivelmente, digo eu, por serem a cores, co contrário dos quatro volumes de Tardi, que são a preto e branco. Por esse motivo, permitam-me esclarecer que a numeração dos tomos que a Gradiva tem vindo a utilizar, não respeita a numeração original. Este Boulevard…Ossada é-nos dado como sendo o quarto volume da série, mas, na verdade, é o oitavo volume da série. E o primeiro em que Nicolas Barral participa.

Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral - Gradiva
Desta vez, o detetive Nestor Burma vê-se rodeado por mais uma trama rocambolesca que envolve os diamantes roubados do tesouro imperial do czar da Rússia, vários crimes e um conjunto de personagens bastante diverso. Temos chineses de interesses algo dúbios, temos espiões russos, temos negociantes de diamantes, enfim, temos um conjunto de personagens algo unilaterais, mas, ao mesmo tempo, e também por isso, impactantes, com que o carismático Nestor Burma terá que lidar.

A história leva-nos por uma trama carregada de mistério e engimas que o protagonista terá que resolver. Há também espaço para algumas cenas de violência física com os esperados combates corpo-a-corpo de Nestor.

Embora o argumento deste livro de Barral se mantenha ainda bastante complexo e, por vezes, apresente algumas pontas soltas ou esclarecimentos que, no final, são dados um bocado a bruto, a verdade é que este álbum é o que funciona melhor dos quatro publicados até agora pela Gradiva. Parece-me que Barral consegue dar-nos um trabalho que, para além dos desenhos (já lá irei), também é melhor na adaptação do texto original de Malet.

Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral - Gradiva

O desenho de Barral consegue ser próximo ao de Tardi, mas tendo a sua própria identidade. É daqueles bons exemplos em que, visualmente falando, se consegue homenagear o trabalho original e, simultaneamente, não se fazer um autêntico “copy/paste”, tendo a sua própria identidade. É isso que Barral faz neste Boulevard…Ossada

E como o seu desenho é mais trabalhado e pormenorizado - especialmente nos detalhes dos cenários - do que o de Moynot, acaba por superar os desenhos dos três álbuns anteriores, também.

Efetivamente, eu já tinha gostado bastante do trabalho de Barral no belíssimo livro Ao Som do Fado (que a Levoir publicou na sua Coleção de Novelas Gráficas). E embora, visualmente falando, os dois livros sejam diferentes – até por questões óbvias de aproximação ao estilo de Tardi neste Boulevard…Ossada –, sinto-me mais uma vez agradado com o trabalho do autor.

Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral - Gradiva

Este é um álbum que foi originalmente lançado em França na sua versão a preto e branco. Só mais tarde, a versão a cores foi publicada. E é essa a versão que a Gradiva optou por editar por cá. Não pude ler a versão a preto e branco para fazer um comparativo justo entre as duas versões, mas posso dizer que, pelo menos, gostei bastante do trabalho de cores deste livro, que nos remete para a temática típica que uma história de Nestor Burma pressupõe.

De resto, a edição da Gradiva é competente, com o livro a apresentar capa dura brilhante, bom papel brilhante e boa impressão e encadernação.

Em suma, dos quatro álbuns de Nestor Burma já publicados pela Gradiva, este é claramente o melhor. Mesmo não sendo um livro perfeito e continuando, quanto a mim, a carecer de mais páginas para melhor adaptar a obra original de Leo Malet, diria que acaba por ser uma boa entrada na série!


NOTA FINAL (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral - Gradiva

Ficha técnica
Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada
Autor: Nicolas Barral
Editora: Gradiva
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 22,50 x 29,70
Lançamento: Abril de 2023

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Gradiva lança 4º volume de Nestor Burma!



A Gradiva prepara-se para lançar, já durante este mês de Abril, o seu quarto volume da série Nestor Burma! E, desta vez, Emmanuel Moynot - que assinou os três volumes anteriormente lançados pela editora portuguesa - dá lugar ao autor Nicolas Barral.

Barral é também o autor do belíssimo livro, Ao Som do Fado, que a Levoir lançou por cá, na sua última Coleção de Novelas Gráficas. Como tal, devo dizer que tenho altas expetativas para este 4º volume de Nestor Burma. Confesso não ter ficado particularmente maravilhado com os três álbuns anteriores de Moynot desta série que, lembremos, foi originalmente começada e pensada por Jacques Tardi.

De referir ainda que este Boulevard... Ossada foi originalmente publicado a preto e branco mas que, alguns anos mais tarde, recebeu uma versão a cores e será essa a versão que a Gradiva irá publicar por cá.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora. Abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais da edição original.


Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada, de Nicolas Barral

No final da Primavera, Nestor Burma e a sua secretária Hélène Chatelain recebem a visita de um negociante de diamantes que os põe no rasto de um enigmático chinês. 

Suspeitando não só de chantagem, mas também de um caso de tráfico de diamantes, Nestor Burma vê-se a braços com mortes e esqueletos...

Ossos do ofício, diriam alguns! Uma investigação para um detetive de choque que não se agasta com minudências em causas de envergadura, no 9.º arrondissement de Paris…

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Ficha técnica
Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada
Autor: Nicolas Barral
Editora: Gradiva
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato:  22,50 x 29,70
PVP: 18,00€

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

TOP 5 - As melhores novelas gráficas da última edição da Levoir e Público



TOP 5 - As melhores novelas gráficas da última edição da Levoir e Público 

Depois de, no passado sábado, ter chegado ao fim a 6ª edição da Coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, é tempo de fazer uma pequena reflexão em relação a esta última edição, olhando para o seu conjunto, e definir quais foram as 5 melhores obras desta leva. 

Tal como todas as atividades de 2020, também a edição deste ano das Novelas Gráficas, sofreu com a pandemia de covid-19, tendo a coleção sido lançada apenas no final do mês de Agosto, cerca de dois meses mais tarde do que aquilo que aconteceu em edições anteriores. 

A série começou bastante mal, com a terceira e quarta obra, O Neto do Homem mais Sábio e Rever Paris, respetivamente, a serem lançadas com mais erros e falhas do que o aceitável, sendo de especial importância, o erro no ano do nascimento do autor José Saramago, em O Neto do Homem mais Sábio, que colocava o escritor português a nascer nos anos 90(!) e, a meu ver, ainda mais difícil de aceitar, a famigerada página 58 do álbum Rever Paris, que apresentou imagens impressas em baixa resolução, deixando-as "pixelizadas" e, consequentemente, arruinadas. Difícil de compreender também, foi a dualidade de critérios que a editora adotou face as erros destas duas obras. No caso de O Neto do Homem mais Sábio decidiu fazer uma nova edição da obra, recolhendo a primeira edição, sem custos adicionais para os leitores que a tinham adquirido. Algo que considero que foi responsável e bem feito, por parte da Levoir. Mas em Rever Paris, a editora nem sequer se pronunciou sobre os erros tão gritantes da obra. O que é lamentável. 

Há, no entanto, que ser justo e afirmar que, olhando para o todo, a edição das obras foi bastante satisfatória e sem mais problemas de aí em diante. É de assinalar que esta 6ª Coleção de Novelas Gráficas – que continuo a considerar O ACONTECIMENTO da edição de banda desenhada em Portugal – apresentou, em termos gerais, uma boa seleção de livros, todos inéditos em Portugal (à exceção de As Paredes Têm Ouvidos), e a um preço extremamente competitivo (10,90€). Por este preço apetecível, é quase "serviço público" aquilo que a editora faz. E, por esse motivo, todos os amantes de banda desenhada deverão estar gratos por esta fantástica coleção. 

Uma pequena nota que faço, meramente pessoal, é que me parece que o alinhamento das obras poderia ser mais bem dividido entre si. Neste ano, a grande maioria das melhores obras ficaram para o fim. Tendo em conta que interessa "agarrar" o leitor, desde o primeiro momento, será que as melhores obras não deveriam ser lançadas logo no início da coleção? Fica a questão no ar. 

A inclusão de três obras que, mesmo não sendo criadas por autores portugueses, tratam de assuntos do interesse geral dos portugueses, tais como a biografia de José Saramago, em O Neto do Homem mais Sábio, e o período do Estado Novo em Portugal, que é retratado em As Paredes Têm Ouvidos e Ao Som do Fado, merece uma vénia da minha parte. 

Deixo-vos então com a lista daqueles que considero os 5 melhores livros desta 6º edição da coleção  de Novelas Gráficas que, para os leitores mais atentos que seguem o Vinheta 2020, não deverá apresentar grandes surpresas:

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Análise: Ao Som do Fado



Ao Som do Fado, de Nicolas Barral

Ao Som do Fado é o 14º livro da coleção Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público, e fecha com chave de ouro a edição deste ano. É uma obra magnífica e verdadeiramente obrigatória para todo e qualquer fã de banda desenhada. E não só! A Levoir fez jackpot com esta aposta!

Por vezes, há situações na vida ou nas artes em que tudo parece correr bem. Parece que todos os astros estão alinhados entre si, de forma a dar-nos algo maior e melhor, por causa desse mesmo alinhamento. É o caso de Ao Som do Fado. Nas pequenas e grandes coisas, nesta obra tudo parece funcionar bem e com uma fantástica harmonia. 

Como primeiro ponto positivo é sempre de assinalar que a Levoir tenha conseguido lançar a nível mundial uma obra. E, ainda por cima, sendo uma obra sobre Portugal e o período do Estado Novo, ainda melhor isso é. É claro que isto, por si só, não seria garantia de um livro espetacular. Mesmo com lançamento mundial e tratando uma questão que interessa - ou devia interessar – aos leitores portugueses poderia, mesmo assim, ser uma obra mal conseguida. Felizmente, não é o caso. 

Avançando para a história, esta decorre em Portugal, durante a década de 1960, período em que Salazar ainda detinha os desígnios de Portugal nas suas mãos. O protagonista é Fernando Pais, um médico bon vivant, que mantém uma vida tranquila, embora pareça estar sempre perto do perigo, devido às relações que vai criando com pessoas que põem em causa o Estado Português. Curiosamente, e ainda mais se tivermos em conta esses tais relacionamentos que tinha, Fernando acaba depois por ser contratado para trabalhar na sede da PIDE. A obra vai responder o porquê desta situação mas isso caberá aos leitores desvendarem por si, para não criar spoilers. Ao mesmo tempo que vamos acompanhando a história de Fernando no tempo presente, vamos tendo flashbacks até ao seu tempo de estudante universitário, quando conhece alguns elementos da resistência portuguesa e se apaixona por uma militante, Marisa. Eventualmente, e passados 10 anos em que um acontecimento importante muda a sua vida, e a dos que o rodeavam na juventude, volta a aproximar-se de um grupo de inconformados com o regime vigente em Portugal. 

A história permite várias reflexões, mostrando-nos a tristeza (ainda) latente de um regime repressivo perante a liberdade de expressão e de associação, com acontecimentos algo chocantes ao longo da história, mas com um final algo positivo. Ou será negativo? Julgo que esta conclusão deverá ser feita por cada um dos leitores. Mas uma coisa é certa: a obra também sabe não tomar demasiado partido sobre os acontecimentos retratados. E mesmo se nos revela uma atuação da PIDE vergonhosa para a história de Portugal, também aponta num sentido mais positivo – um silver lining? – para que, passadas várias décadas do período do Estado Novo, saibamos aprender e ter uma visão panorâmica sobre os acontecimentos. E isto revela, que esta é uma obra profundamente adulta. Quanto mais maduros formos, melhor e mais profundamente compreenderemos Ao Som do Fado. Um jovem com 15 anos compreenderá certamente os significados deste livro. Mas um homem de 55 – ou de 75 anos, quiçá – conseguirá certamente mergulhar mais profundamente nela. Mas não há problema, se tudo correr bem, o jovem de 15 anos voltará a esta leitura anos mais tarde, descobrindo novos e/ou renovados significados. Portanto, isto também me leva a dizer que é um livro que deve ser lido por todos. E se eu fosse professor de História, na altura do estudo do período do Estado Novo, recomendaria certamente a leitura desta obra.

O argumento é muito interessante, fazendo com que o livro não seja apenas um livro histórico, pois pode ser lido em qualquer outra parte do mundo, mesmo por alguém que nunca tenha ouvido falar do Estado Novo em Portugal e, ainda assim, ser uma boa história. O ritmo não é rápido mas, nem por sombras, é demasiado lento. É o ritmo adequado e adulto, que permite criar pausas e reflexões, mantendo o nosso interesse em desvendar a história. Todas as personagens estão muito bem desenvolvidas parecendo-nos reais e que deixam a sua marca em nós, leitores.

Ainda não falei do autor deste livro magnífico. Nicolas Barral é francês mas aparenta ter uma forte ligação a Portugal. É verdade que casou com uma mulher cujo país de origem é Portugal e que, segundo o autor, muito contribuiu para lhe apresentar a cultura e história portuguesa. Este autor já é conhecido do público português devido à série As Aventuras de Philip e Francis – uma paródia à série Blake e Mortimer – que, em Portugal, está editado pela Arte de Autor.

Em termos gráficos, temos um livro com uma arte elegante que retrata Lisboa à época com muito cuidado e graciosidade. O trabalho de fundo do autor foi muito bem conseguido porque graficamente consegue recriar uma vida, uma presença e uma forma de estar das personagens que é, em tudo, muito lisboeta. Muito portuguesa. E a obra também se torna apetecível por ter tantos pontos emblemáticos da cidade como a zona de Alfama, o Cais do Sodré, a Praça do Comércio, o Chiado, o Rossio, a Cidade Universitária, a Rua Augusta, a Avenida da Liberdade, os cafés A Brasileira ou o Martinho da Arcada, entre outros.

O traço é elegante e bem desenvolvido, com personalidade própria e com uma boa capacidade de ilustrar as várias emoções das personagens. Se posso fazer uma única crítica a esta obra soberba é que o facto de várias vezes, o autor mudar a espessura do seu traço, alternando entre um traço mais fino e um traço mais grosso, não me deixou tão maravilhado porque prefiro de longe as ilustrações do autor com o referido traço fino. Mas não é nada que belisque a qualidade gráfica do álbum. É mais uma questão minuciosa e, francamente, oriunda do meu gosto pessoal, a falar.

Em termos de cores, o autor também acertou em cheio, captando muito bem a luz de Portugal. Tenho vários amigos e conhecidos estrangeiros que me dizem que a luz de Portugal – o próprio tom azul do nosso céu, assim parece – é diferente dos outros sítios. Dos outros países. Ao início achava que estes eram comentários resultantes do estado maravilhado de se passar umas férias ou umas temporadas em Portugal. Mas já vão sendo tantas as pessoas que, sem se conhecerem entre si, me dizem isto, que começo a achar que efetivamente têm razão e que, de facto, Portugal tem uma luz natural e um azul no céu únicos. Seja como for, Nicolas Barral percebeu issoe e transpô-lo para a obra. Quando folheio este álbum tenho a exata sensação de estar em Lisboa. Os flashbacks que vão acontecendo ao protagonista Fernando ao longo da obra, apresentam uma paleta a sépia que também funciona bem, e que permite ajudar à distinção entre tempo passado e presente, dando um charme adequado às lembranças da personagem.

Quanto à edição da Levoir, está em linha com a qualidade da maioria dos livros da coleção. Capa dura, papel fino de qualidade. Lamento que não haja prefácio a esta obra – bem o merecia! - mas sei que possivelmente isso se deve à gestão dos cadernos para impressão e da ausência de espaço livre para o fazer – sem ter que aumentar o livro, entenda-se. 

Portanto, e finalizando, tudo parece funcionar bem neste livro. O argumento é excelente, as ilustrações são bonitas, as imagens de locais portugueses são fiéis, é um documento histórico, tem personagens bem desenvolvidas, uma fantástica capa e até tem a elegância de um título muito inspirado. A isto ainda se junta o tal merecido lançamento mundial. Se tudo o que envolve esta obra não é perfeito, anda lá perto.

É uma proposta obrigatória, mais que recomendada, e assume-se como um dos melhores livros do ano. Daqueles livros que, daqui a 50 anos, continuará a ser um fantástico romance, uma magnífica ode a Portugal - e à cidade de Lisboa, em particular -, e um valioso testemunho histórico sobre o Estado Novo que tão profundamente marcou a história do nosso país. Se ainda não o compraram, não percam mais tempo.


NOTA FINAL (1/10):
9.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
Ao Som do Fado
Autor: Nicolas Barral
Editora: Levoir
Páginas: 168, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2020

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Lançamento: Ao Som do Fado



Pois é, tudo o que é bom chega ao fim e amanhã sai para as bancas o último volume da coleção de Novelas Gráficas da Levoir e do jornal Público.

Trata-se de Ao Som do Fado, uma história ambientada em Portugal na década de 60, e é da autoria do autor francês Nicolas Barral, que terá nesta edição o seu lançamento a nível mundial. E isso é impressionante!

Fiquem com a nota de imprensa da editora e respetivas imagens promocionais.


Ao Som do Fado, de Nicolas Barral

Para terminar a colecção Novela Gráfica VI a 21 de Novembro, a Levoir e o Público escolheram fazer o lançamento a nível mundial da obra Ao Som do Fado do francês Nicolas Barral.

Licenciado pela Escola de Belas-Artes de Angoulême, Nicolas Barral iniciou a sua carreira na revista Fluide Glacial, mas foi a sua colaboração com Pierre Veys em Baker Street e As Aventuras de Philip e Francis – uma paródia à série Blake e Mortimer – que o tornou conhecido do grande público.

A história decorre em Portugal, na década de 1960, período em que o país tinha Salazar como presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo. Nicolas Barral começa Ao Som do Fado com a queda da cadeira dada por Salazar, durante umas férias no Forte de Santo António, no Estoril.

Fernando Pais é um médico lisboeta que leva uma vida tranquila vivendo longe das tensões que se fazem sentir no país, até ao dia em que é contratado para tratar os prisioneiros torturados pela PIDE. O que deverá ele fazer? Ignorar ou passar a fazer parte dos horrores do regime? Não fazer nada é aderir e Fernando não tem outra opção que não seja envolver-se activamente na resistência.

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Ficha técnica
Ao Som do Fado
Autor: Nicolas Barral
Editora: Levoir
Páginas: 168, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€