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terça-feira, 29 de julho de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Ala dos Livros nos últimos 5 anos!


A propósito da comemoração dos 5 anos de existência do Vinheta 2020, trago-vos um especial que começa a partir de hoje e que procura celebrar e assinalar a melhor banda desenhada que cada uma das principais editoras portuguesas editou nos últimos 5 anos. Durante as próximas semanas tentarei, pois, oferecer-vos um artigo por editora.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a crème de la crème de cada editora.

Em cinco anos de edição ininterrupta de banda desenhada, há naturalmente muitos títulos editados e, como devem calcular, a tarefa não foi fácil e vi-me forçado a excluir obras fantásticas, mas, lá está, há que fazer escolhas e estas são as minhas escolhas.

Hoje começo com uma editora cujo contributo para o lançamento de boa banda desenhada em Portugal é verdadeiramente inegável: a Ala dos Livros.

Esta editora tem um catálogo que considero de extrema qualidade. São (muito!) mais as obras que adoro da editora, do que aquelas de que não gosto. Não foi fácil, mas aqui está o meu TOP

Eis, mais abaixo, as minhas obras favoritas lançadas pela editora Ala dos Livros:

terça-feira, 7 de maio de 2024

Análise: Undertaker #7 - Mister Prairie

Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie - Ala dos Livros

Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie - Ala dos Livros
Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie

Com o lançamento deste sétimo volume da série Undertaker, a editora Ala dos Livros consegue o respeitável feito de ficar a par com o lançamento original da série no mercado franco-belga. Coisa que sempre enalteço e que sublinha o cada vez menor atraso do mercado editorial de banda desenhada nacional face aos países de origem de muitas das séries que, hoje em dia, chegam até nós.

E, ainda por cima, falamos de Undertaker, uma das minhas séries preferidas. Sendo um western, com uma história ambientada no tempo dos cowboys, consegue o feito de ser igualmente uma história muito atual, com temas do nosso mundo contemporâneo. Se a mistela pode parecer forçada, deixem-me garantir-vos que todos estes temas são introduzidos de forma muito orgânica e escorreita na série. Nunca temos a ideia de que estamos a ser profetizados para o que quer que seja. Simplesmente, colocando temas que nos são próximos, a série cria com mais facilidade empatia nos seus leitores. No fundo, é um exercício de perspicácia por parte dos autores.

No caso deste sétimo volume, intitulado Mister Prairie, que abre a quarta história da série - relembro que cada história é constituída por 2 tomos - o tema adjacente é o aborto. O abordo visto à luz da sociedade do faroeste, claro está. E se hoje é um tema que ainda levanta muitas sobrancelhas, imagine-se no tempo em que a ação da história decorre!

Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie - Ala dos Livros
Desta feita, Jonas Crow, o protagonista, recebe um inesperado telegrama, que solicita os seus serviços numa localidade do Texas. O pedido é algo inusitado: é-lhe solicitado o fabrico de um caixão para um bebé que ainda não nasceu. Sim, que ainda não nasceu. E mais intrigante ainda que isso, é a assinatura de quem faz esse pedido: R. Prairie.

Ora, com uma paixão ainda por resolver por Rose Prairie - que acabou por seguir caminhos separados dos seus - Jonas Crow nem pensa duas vezes e faz-se à estrada para ir ao encontro da sensual Rose! Quando chega ao seu destino, o nosso protagonista terá muito com que lidar, já que não encontra aí o doce mel que desejaria, por parte de Rose, e, ainda por cima, terá que lidar com (mais) uma carismática personagem que procura profetizar os outros acerca da moral e dos bons costumes, do que é certo e do que é errado, lutando afincadamente contra tudo aquilo que coloque em causa os valores da sociedade. As questões levantadas são muito credíveis e bem-vindas, fazendo com que a leitura da obra insira na mente do leitor a semente da reflexão. E, melhor ainda, o enredo aqui criado faz com que o leitor encontre perspetiva com o mundo atual e com as questões de fanatismos políticos, religiosos, culturais e socioeconómicos que nos tempos atuais continuam a substituir junto de nós, em que o pensamento binário, que não aceita opinião contrária, está tão presente.

Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie - Ala dos Livros
O enredo, as novas personagens e a forma como os temas são introduzidos neste Mister Prairie está excelente, levando-me mesmo a crer que este é o melhor Undertaker até agora. Ou que está entre os dois melhores, vá. O trabalho de Xavier Dorison é, pois, verdadeiramente exímio. É verdade que esta é apenas a primeira parte de um álbum duplo, mas, pelo menos até agora, Dorison demonstra agilidade na forma como arquitetou toda esta trama.

Mas se Undertaker é uma BD de primeira linha, não o é apenas pelo belo trabalho de Dorison no argumento. Também o é devido à beleza visual que da obra emana. E, mais uma vez, Ralph Meyer continua inspiradíssimo neste livro, mantendo a qualidade e a beleza a que já nos habituou. Os desenhos são bem executados; as personagens têm forte personalidade gráfica, com as suas expressões a serem muito bem reproduzidas; as cenas de ação têm uma bela noção de movimento e dinâmica; os cenários são lindos; e a utilização da luz e sombra é verdadeiramente magistral. Sinceramente, nada falha nos desenhos de Ralph Meyer. E, como se não bastasse, as cores de Caroline Delabie ainda elevam mais os desenhos do ilustrador. Se é que tal era possível.

Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie - Ala dos Livros
Em termos de desenho, só não fiquei muito agradado com a ilustração escolhida para esta capa. E não é que a ilustração tenha algo de errado ou esteja mal executada. Diria que isso é impossível para um desenhador como Ralph Meyer. No entanto, acho uma daquelas capas generalistas que fazem com que a obra mais pareça “um western genérico”. E acho que isso é a maior injustiça que alguém - quer goste, quer não goste da série - pode dizer sobre Undertaker. Porque, por todos os motivos que já apontei, Undertaker é muito mais do que um "simples" western - e digo-o sem desprimor para as obras que optam por ser um "simples" western, atenção. É, pois, por isso que esta capa me deixa insatisfeito: porque vende mal o conteúdo. 

Quanto à edição, o livro apresenta capa dura, com brilho, bom papel brilhante, e boa encadernação e impressão. O normal nas edições da Ala dos Livros, onde não há nada negativo a apontar.

Portanto, em suma, Undertaker faz-me lembrar aquelas superbandas de rock que são constituídas por músicos de excelência em todas as vertentes. Na bateria, no baixo, nas guitarras, nos teclados, nas vozes. O argumento e as personagens de Dorison são magníficos, o desenho de Meyer é virtuoso comercial e artístico - tudo ao mesmo tempo! - e as cores de Caroline Delabie são um deleite para a vista. A série mantém-se, portanto, em forma e este sétimo volume até é capaz de ser o melhor de todos. Não deixem de comprar!


NOTA FINAL (1/10):
9.6



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie - Ala dos Livros

Ficha técnica
Undertaker #7 - Mister Prairie
Autores: Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Abril de 2024

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Ala dos Livros lança novo livro de Undertaker!



A Ala dos Livros acaba de lançar o novo volume da série Undertaker!

O lançamento ocorreu ontem, no Coimbra BD, onde tive a oportunidade e privilégio de apresentar o livro com o editor, e meu amigo, Ricardo Pereira.

Posso dizer que já tive a oportunidade de ler este sétimo tomo, que dá pelo nome de Mister Prairie, e que é um dos melhores da série - que já por si é excelente!

O livro deverá chegar às livrarias a partir da primeira semana de Maio, mas já se encontra em pré-venda no site da editora.

Para já, deixo-vos com a sinopse da obra e com as imagens promocionais da mesma.
Undertaker #7 - Mister Prairie, de Dorison, Meyer e Delabie

Um inesperado telegrama, a solicitar os seus serviços numa pequena povoação do Texas, vai levar Jonas Crow a largar tudo. Esse telegrama apresenta duas características muito peculiares: a primeira, é que lhe pedem que para fazer um caixão para um bebé ainda por nascer; a segunda, é o facto de a mensagem estar assinada por R. Prairie…

Mas nem tudo é o que parece… E rapidamente serão precisos mais caixões para além do pequeno caixão que inicialmente lhe pediam para executar. Para além disso, quando na cidade surge um novo adversário que quer proteger “a moral e os bons costumes”, Jonas terá de recorrer a muito mais do que o seu sarcasmo e os seus evangelhos para conseguir enfrentar toda uma cidade que fica em polvorosa.

“MISTER PRAIRIE”, o sétimo tomo da série, onde o texto saído da fértil imaginação de Xavier Dorison é uma vez mais servido pelo magistral grafismo de Ralph Meyer, associado nas cores ao talento de Caroline Delabie, reafirma o lugar de Undertaker como uma das melhores séries de western da banda desenhada europeia.

Esta série, difundida em 14 países entre os quais se inclui Portugal, obteve desde o início da sua publicação em França, em 2015, numerosos prémios e distinções. Salientam-se, o Prix Saint Michel 2015 du Meilleur Dessin, o Prix Le Parisien 2015 de la Meilleur BD, o Prix 2015 des rédacteurs de scenario.com e ainda a distinção Album preferé des lecteurs de BD Gest 2015.
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Ficha técnica
Undertaker #7 - Mister Prairie
Autores: Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 18,50€










sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Análise: Undertaker #5 e #6 - O Índio Branco | Salvage


Undertaker #5 e #6 - O Índio Branco | Salvage, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Os fãs do western – e, pasmem-se, até mesmo aqueles que não têm o hábito de ler westerns em banda desenhada – parecem concordar numa coisa: Undertaker, dos autores Xavier Dorison e Ralph Meyer, é uma das melhores séries de banda desenhada localizada no faroeste de sempre. Sim, não falo apenas da atualidade, falo de todo o tempo em que se lançaram westerns em banda desenhada. Que, como sabemos, até é um dos géneros mais antigos de BD.

Com um desenho extremamente belo – "de autor", mas, ao mesmo tempo, "comercial" – e um argumento impactante com belos momentos de ação e personagens memoráveis, não temos que fazer um grande esforço para admitir que Undertaker consegue ombrear com outras séries mais clássicas e obrigatórias como Blueberry, Comanche e a não tão clássica, embora igualmente excelente, Bouncer.

Portanto, partindo deste pressuposto para a leitura destes quinto e sexto tomos (que funcionam como díptico que encerra em si mesmo uma história, à semelhança do que tem vindo a ser feito na série), devo dizer que, à medida que ia avançando na leitura do volume nº 5, intitulado O Índio Branco, comecei a achar que a série poderia estar a claudicar em termos de qualidade. Felizmente, estava errado e as minhas dúvidas foram desfeitas com a leitura do volume mais recentemente publicado pela Ala dos Livros, Salvage.

Seja como for, há que dizer que, contrariamente aos quatro álbuns anteriores, que trazem uma história mais linear e simples – que foram, em parte, e quanto a mim, causa para o sucesso da série - as coisas arrancam de forma diferente em Undertaker #5. Isso poderá ter acontecido devido a ser a vontade de Xavier Dorison em fazer amadurecer a série, admito, mas é indiscutível que a série pareceu – e felizmente foi só uma ameaça – ter mudado bastante e perder algum do seu appeal inicial.

A história de O Índio Branco apresenta-se-nos com uma trama mais rebuscada e difusa, com Dorison, por ventura, a ver-se na necessidade de colocar muito texto e de apresentar as personagens e os seus intuitos iniciais de forma menos escorreita. Não é que haja algo de profundamente errado com este quinto volume, nem nada que se pareça, mas não é tão in your face em termos de nos prender logo à história.

Tudo começa quando Josephine Barclay, a mulher mais rica de Tucson, está decidida a recuperar o cadáver de Caleb Barclay, o seu filho. Este foi raptado(?) pelos índios Apaches há já alguns anos e foi recentemente assassinado. Acabou enterrado num cemitério Apache, bem no centro das terras interditas do Arizona.

Josephine está disposta a recuperar, pelo menos, o cadáver do seu filho e, para tal missão, pede ao seu noivo, com quem combinou casar, Sid Beauchamp, que lhe traga os restos mortais do seu filho. Só desta forma Beauchamp poderá casar com Josephine e com isso tomar posse de toda a fortuna de Josephine. Então, este decide recrutar o seu velho amigo da juventude, Jonas Crow, o nosso protagonista para o ajudar na sua empreitada. A sua missão será a de profanar um túmulo em pleno território índio e trazer o cadáver de Caleb para o “mundo civilizado”.

Eventualmente, por uma reviravolta na história, Jonas acaba do lado dos índios, e passa a proteger Salvage, Kenitei e Chato, o filho de Salvage e de Caleb.

Se é verdade que achei o quinto álbum uns furos abaixo dos demais álbuns da série, deixem-me assegurar-vos que o sexto volume resolve todas as pontas soltas que o álbum anterior, mais confuso e menos marcante, haviam deixado na minha leitura. Se calhar, se os autores tivessem lançado estes dois livros como um só livro, eu não teria sentido queixas porque, verdade seja dita, em Salvage, o sexto volume da série, tudo volta a ser como os autores da série nos habituaram: a ação volta de forma mais demarcada, à medida que a própria história também se torna mais fluída e simples. Até mesmo os próprios desenhos de Meyer – que são sempre geniais, diga-se – voltam a parecer mais memoráveis em Salvage.

Falando sobre as ilustrações de Ralph Meyer, já aqui escrevi bastante sobre o tema, mas tenho que reiterar que, de facto, o autor já é um dos grandes Mestres da banda desenhada franco-belga. Os desenhos que o autor nos oferece em Undertaker têm tudo: são bem executados, têm forte personalidade, têm bela noção de movimento, têm incríveis expressões faciais e apresentam uma magistral utilização da luz/sombra. O trabalho a nível de ilustração é também excelente na planificação cinematográfica, excelente a nível de cenários, excelente a nível de cenas de ação… enfim, excelente em tudo! Até as próprias cores, asseguradas por Caroline Delabie, a esposa de Ralph Meyer, são de uma beleza estonteante!

Tenho que fazer uma nota para a capa linda, sublime e perfeita do sexto volume. Lembrando alguns dos melhores cartazes de cinema, temos Jonas Crow em plena ação, numa cena de perseguição em cima de um comboio em movimento. As cores da capa são uma obra prima, também. Eis uma capa que não me importava de ter exposta e emoldurada na minha casa e uma séria candidata aos VINHETAS D’OURO para Melhor Capa do ano, acredito.

Em termos de edição, a Ala dos Livros continua a fazer aquilo que já nos apresentou nos tomos anteriores: capa dura brilhante, bom papel brilhante no miolo do livro, boa encadernação e boa impressão. Nota positiva para o facto de o volume referente a O Índio Branco apresentar seis páginas de extras, onde podemos visualizar esboços e storyboards a lápis.

Em suma, embora o 5º álbum de Undertaker seja o primeiro a cambalear (um pouco), o sexto tomo resolve as pontas soltas do volume anterior e catapulta a série, novamente, para o topo. Isto é muito simples: se se querem estrear na leitura de um western, leiam Undertaker. Se têm saudades de um bom western, leiam Undertaker. Até mesmo se não gostam de western, leiam Undertaker. Há probabilidades de mudarem de opinião! E, já agora, não avancem para a leitura do 5º volume sem terem o 6º à mão.


NOTA FINAL (1/10):
9.3



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Fichas técnicas
Undertaker #5 - O Índio Branco
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Abril de 2023


Undertaker #6 - Salvage
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Outubro de 2023

terça-feira, 16 de maio de 2023

Undertaker está de volta!


Tem sido incrível e merece os meus aplausos a forma rápida e assídua com que a editora Ala dos Livros tem vindo a lançar volumes desta magnífica série.

Se em Agosto do ano passado apenas tínhamos dois álbuns de Undertaker para ler, desde este mês de Maio que já temos 5 volumes da série! Portanto, em menos de um ano a editora publicou 3 tomos desta série que, relembro, na edição original francesa conta com 6 volumes, estando o 7º álbum em preparação.

Assim sendo, em pouco tempo, a Ala dos Livros estará alinhada com o lançamento original. O que é excelente! Até porque esta obra de Xavier Dorison e Ralph Meyer é, possivelmente, um dos melhores westerns em banda desenhada, que já tive a oportunidade de ler.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Undertaker #5 - O Índio Branco, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Josephine Barclay, a mulher mais rica de Tucson, está decidida a recuperar o cadáver de Caleb Barclay, o seu filho. Raptado pelos Apaches há já alguns anos e recentemente assassinado, Caleb está enterrado num cemitério Apache, bem no centro das terras interditas do Arizona. 

Para levar a bom termo tão delicada missão, escolhe o seu futuro marido, Sid Beauchamp que, por sua vez, recorre ao seu antigo colega, Jonas Crow, o único homem suficientemente louco para profanar um túmulo em pleno território índio…

Com “O Índio Branco”, quinto volume da aclamada série Undertaker, inicia-se um novo ciclo daquele que é já considerado um dos maiores westerns da BD europeia actual.

Esta série, difundida em 14 países entre os quais se inclui Portugal, obteve desde o início da sua publicação em França, em 2015, numerosos prémios e distinções. Salientam-se, o Prix Saint Michel 2015 du Meilleur Dessin, o Prix Le Parisien 2015 de la Meilleur BD, o Prix 2015 des rédacteurs de scenario.com e ainda a distinção Album preferé des lecteurs de BD Gest 2015.

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Ficha técnica
Undertaker #5 - O Índio Branco
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 17,90€

terça-feira, 11 de abril de 2023

Análise: Go West - Young Man

Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores - Gradiva

Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores - Gradiva
Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores

Dizer que Go West – Young Man se trata de uma antologia de banda desenhada está certo e errado ao mesmo tempo. Com efeito, as antologias de banda desenhada não costumam ter as características basilares que este Go West – Young Man tem. Normalmente, são histórias muito dispersas entre si, apresentando conceitos muito díspares e sem que haja, salvo algumas exceções, um tema muito homogéneo – pelo menos ao nível do tratamento gráfico-narrativo. Obviamente, e consequentemente, do ponto vista dos desenhos, também é natural que as antologias apresentem uma panóplia enorme de estilos de desenho diferentes.

Por isso, sim, Go West – Young Man é uma antologia de banda desenhada, uma vez que nos apresenta um conjunto de 14 histórias desenvolvidas pelo mesmo argumentista, mas ilustradas e coloridas por um grande conjunto de autores. Mas, por outro lado, por haver um fio condutor que vai ligando as histórias entre si e, também, pelo facto de haver um grafismo muito típico do estilo de traço franco-belga para western – não obstante ser verdade que, naturalmente, cada história ter um estilo de ilustração próprio – pode-se dizer que Go West – Young Man chega a parecer uma só história e não uma antologia de banda desenhada.

Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores - Gradiva
O fio condutor deste conjunto de histórias criadas por Tiburce Oger reside num relógio de bolso. É ele a personagem principal do livro e não as diferentes personagens que vão aparecendo nas 14 histórias. Essas apenas protagonizam o momento em que o relógio lhes vai parar às mãos. Será esse relógio de bolso que passando de mão para mão, através de uma diversidade de formas para tal, que fará com que cada uma das histórias tenha ligação entre si. Mesmo havendo, igualmente, uma independência entre cada uma das histórias.

Explico o paradoxo que acabei de escrever: é verdade que cada uma das histórias é uma mini-história auto-conclusiva, que funciona como um breve capítulo, e que até pode ser lida de forma independente. Com personagens novas, com um mini-enredo independente. Todavia, como aparece sempre a menção do relógio de bolso, de uma forma ou de outra, podemos dizer que há aqui uma ligação natural entre personagens. Afinal de contas, se fôssemos contar a história de alguns objetos, que circularam de mãos para mãos até chegarem até nós, que histórias mirabolantes não teria esse objeto para contar?

A premissa é muito criativa e fez-me logo gostar do livro. Pode até ser uma ligação algo artificial, mas, lá está, consegue dar à história uma grandeza maior. Mais não seja porque, como acompanhamos a história do relógio a partir do ano 1763, e que se estende até ao ano 1938, também acompanhamos a história do faroeste americano nesse período de tempo. Estão cá muitos momentos relevantes como a a presença dos mexicanos, dos índios, dos caçadores de prémios, dos pioneiros, dos foras-da-lei, dos túnicas azuis, das prostitutas que davam beleza aos saloons e até da personagem emblemática de Wild Bill. Nesse cômputo de tentar bem resumir as temáticas que naturalmente associamos ao western, pode-se dizer que Oger fez um grande trabalho.

Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores - Gradiva
Gostei também que cada história apareça separada por uma página em branco onde, através de quatro linhas de texto, Oger aproveita para ligar, de uma forma ainda mais clara, as histórias entre si. Sem estas linhas talvez algumas das histórias ficassem algo mais dispersas entre si. Portanto, parece-me mais um bom truque narrativo utilizado pelo argumentista e que serve, acima de tudo, para dar coesão à narrativa global da obra. Gostei.

É claro que, tal como em todas as antologias de banda desenhada, algumas histórias funcionam melhor do que outras. E acredito que, neste caso, isso nem se deve assim tanto à maior ou menor qualidade dos ilustradores, mas sim a momentos mais ou menos inspirados do argumentista. Há histórias que pura e simplesmente me pareceram meras divagações, que acrescentam pouco ao todo. Mas também há outras mais marcantes onde, em meras páginas, conseguimos, ainda assim, criar uma ligação com as personagens.

Por falar em número de páginas, as 14 histórias que nos são dadas também variam no número de páginas, havendo uma história com apenas 2 páginas e outra com 9 páginas. Mas, na maior parte das vezes, as páginas têm entre 6 e 8 páginas.

Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores - Gradiva
Dentro dos ilustradores, devo dizer que os nomes que eram por mim mais bem conhecidos eram os de Ralph Meyer (Undertaker), Boucq (Bouncer) ou Gastine (O Último Homem). Além do trabalho destes, que não desilude, posso dizer que fiquei agradavelmente surpreendido com os desenhos de Olivier Taduc, Benjamin Blasco-Martinez ou Ronan Toulhoat.

Os dois autores que apresentam estilos mais diferentes serão, por ventura, Patrick Prugne, devido à forma como usa as aguarelas, e Dominique Bertail, que nos oferece desenhos em tons de sépia e com forte impacto visual.

Mas, como já disse, apresentando naturais diferenças em termos de desenho, acho que o livro consegue alcançar, ao mesmo tempo, uma forte homogeneidade visual. Todos os estilos de ilustração coabitam bastante bem entre si e não há nenhuma história que seja particularmente superior – ou inferior – às demais.

Em termos de edição, a Gradiva dá-nos um belo trabalho com este livro. O livro apresenta capa dura e baça, com bom papel brilhante e boa qualidade ao nível da encadernação e da impressão. Já agora, aproveito para dizer que depois desta obra também já foi lançado, em França, Indians! - L'ombre noire de l'homme blanc, do mesmo autor que é outra antologia nos mesmos moldes e que, portanto, faria sentido que Gradiva editasse por cá.

Em suma, Go West - Young Man é uma bela aposta da Gradiva, que nos vai permitir 14 breves viagens no tempo até ao coração do faroeste americano, através de uma bengala narrativa bem engendrada pelo argumentista Tiburce Oger que, através da narração do que acontece a um relógio de bolso, consegue percorrer quase 200 anos da história do lado oeste dos Estados Unidos. E tudo isto com a participação de célebres ilustradores da banda desenhada franco-belga!


NOTA FINAL (1/10):
8.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Go West - Young Man, de Tiburce Oger e Vários Autores - Gradiva

Ficha técnica
Go West - Young Man
Autores: Tiburce Oger, Bertail, Blanc-Dumont, Blasco-Martinez, Boucq, Cuzor, Gastine, Hérenguel, Labiano, Meyer, Meynet, Prugne, Rossi, Rouge, Taduc e Toulhoat
Editora: Gradiva
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2023

quinta-feira, 23 de março de 2023

Análise: Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates

Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros

Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Quando se cria um protagonista cheio de carisma, com uma premissa original e única, com humor negro de sobra e com as características comuns a um Jack Sparrow, em Piratas das Caraíbas, que parece, por um lado, desajeitado e sortudo nos confrontos que enfrenta e, por outro lado, extremamente aventureiro e com sentido ético, estamos perante uma personagem que ultrapassa o teste do tempo. Daqui a 10, 20 ou 30 anos… quem ler Undertaker vai continuar a recordar o seu protagonista, Jonas Crow.

Isso já é algo fantástico e que os dois primeiros álbuns da série – que constituem um díptico – já conquistaram. Contudo, estava longe de achar que, para além desse fantástico protagonista, os autores de Undertaker nos conseguissem dar um vilão magnífico, infinitamente cruel, que, estou certo, também irá superar o teste do tempo.

Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Falo de Jeronimus Quint, o malvado médico, que se assume como um vilão impiedoso e maquiavélico, e que, por muito que eu adore Jonas Crow, tenho que considerar como a peça chave deste segundo díptico da série, composto pelo terceiro volume, O Monstro de Sutter Camp, e por este quatro volume, A Sombra de Hipócrates.

A história deste quarto volume começa no exato ponto onde acabou a história do volume anterior.

Depois de Quint virar a posição a seu favor, passa a viajar em fuga, na companhia de Rose. Tudo porque o psicopata médico a feriu de tal forma que só mesmo ele próprio a poderá salvar. Entretanto, Jonas Crow, acompanhado de Lin, passa a perseguir Rose e Quint com o objetivo de salvar a bela mulher e parar o maldoso médico. 

A história aparenta ser simples e básica quando contada desta forma, reconheço. Mas é na maneira como o enredo é pensado pelo argumentista Xavier Dorison, que este livro volta a ser fantástico de ler, pois parece que nós, leitores, estamos sempre atrás dos intuitos nefastos de Jeronimus Quint. E ver como Xavier bem doseia uma mente tão retorcida como a deste médico é, por si só, um excelente exercício de observação de um fantástico story telling, permitam-me o estrangeirismo.

Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
É claro que há muita ação à mistura, que as personagens vão correr muito perigo de vida em inúmeras circunstâncias, como havia de ser esperado num western, mas creio que o facto de Undertaker ser um western é mais ao nível da forma do que do conteúdo. Esta história poderia passar-se numa outra época e mesmo assim seria fantástica de ler. Até porque tem elementos de thriller e de policial muito presentes no seu enredo.

Já agora, permitam-me o desabado: adoraria ver um filme ou série, em imagem real ou em animação – mas, preferencialmente, em animação – de Undertaker.

Se o argumento, o ritmo da narrativa e as personagens revelam um argumentista cuja inspiração não parece cessar neste quarto volume da série, em termos de desenho e cor, o desenho da autoria de Ralph Meyer e a cor da autoria da sua esposa, Caroline Delabie, Undertaker é uma série que roça a perfeição e que insiste em não baixar – pelo contrário, até! – a qualidade visual da obra. 

Assim, e rebuscando algumas das palavras que escrevi em relação ao álbum anterior, “falando da arte ilustrativa, Undertaker consegue ser magnífico em todos os vetores que nos lembremos de considerar. O traço de Ralph Meyer é elegante, dinâmico, moderno, eficiente e multifacetado. Se as cenas de ação são muito bem representadas, com todo o drama que lhes é suposto, as cenas mais calmas, os sentimentos das personagens ou meras imagens de Jonas a cavalgar pelas trevas da floresta, também estão eximiamente bem representados. Os ambientes são muito belos, com muito detalhe a perder de vista. A planificação é diversificada e os planos escolhidos revelam bastante sensibilidade cinematográfica. E isto já para não falar das cores, da autoria de Caroline Delabie, a esposa de Ralph Meyer, que também são magníficas. O próprio jogos de sombra e luz, do claro e do escuro, é tão bom que até admito que também gostaria de ver estes livros publicados numa versão a preto e branco, como existe em França, e como a Ala dos Livros fez com a série Comanche. Não obstante, as cores são lindas e oferecem ao conjunto uma boa dose de modernidade.”

Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Tudo está bem feito em Undertaker! Até mesmo na vertente das capas, a série se revela acima da média. Todas elas são muito belas, com um sentido estético e de meta-comunicação visual muito elevado. Este quarto volume também não é exceção.

A edição da Ala dos Livros mantém-se em linha com o que a editora já fez nos três álbuns anteriores. Boa capa brilhante, bom papel brilhante e uma encadernação e impressão de excelente qualidade. Nota positiva para o facto da editora ter lançado este livro no passado mês de Novembro, apenas três meses depois de lançar o volume anterior. Isso é positivo para os leitores que, desta forma, podem ler de forma mais seguida, com pouco espaçamento temporal, os dois tomos que se complementam e contam uma só história.

Concluindo, da mesma forma que, na música, há superbands, que consistem numa banda formada por músicos muito conceituados e/ou virtuosos, a equipa por detrás de Undertaker parece-me, sinceramente, uma “Super Equipa de autores de BD": o argumento é bom, as personagens são fantásticas, a narrativa e ação é boa, as ilustrações são lindíssimas, as cores são perfeitas. Sinceramente, é difícil arranjar defeitos nesta série.

Há quem diga que poderia ser mais profunda em termos de história. Aceito, mas considero que nunca foi esse o objetivo duma série deste âmbito. Portanto, nem sei se isso pode - ou deve - ser considerado como um defeito ou uma fraqueza. Com efeito, olhando para aquilo que a série procura ser, pode-se dizer que é uma obra de excelência.

Tenho dito: não é preciso gostar-se do estilo western para que nos deleitemos com esta fantástica série. Basta que se aprecie uma excelente experiência de leitura, carregada de aventura, com um cheirinho de thriller, e onde as personagens são memoráveis, para que se goste de Undertaker. Série obrigatória para toda a gente! Bem, diria que só não é obrigatória para um público infantil pois apresenta inúmeras cenas violentas. 


NOTA FINAL (1/10):
9.6


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros

Ficha técnica
Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Novembro de 2022

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Ala dos Livros lança mais um volume de Undertaker!



Mas que boa notícia! 

A Ala dos Livros, que havia lançado em Agosto o terceiro tomo da belíssima série Undertaker, regressa agora com o quarto volume. Tudo isto em menos de dois meses!

E, se tivermos em conta, que a série está dividida por dípticos, quer dizer que quem já comprou o terceiro álbum, intitulado O Monstro de Sutter Camp, pode agora terminar a leitura, com o tomo que se lhe segue, este A Sombra de Hipócrates.

Tendo em conta a qualidade demonstrada pelos autores, Xavier Dorison e Ralph Meyer até esta parte, não tenho dúvidas que a série continuará a ser muito, muito boa!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

A Sombra de Hipócrates, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Jeronimus Quint, aliás “O Monstro de Sutter Camp”, prossegue a sua fuga na companhia de Rose, que o segue na esperança de que Quint a cure. No seu encalço, Jonas Crow e Lin estão decididos a salvar a amiga e a ajustar contas com o monstruoso e sádico cirurgião. Mas como deter um homem cuja malvadez lhe permite transformar cada paciente inocente num cúmplice mortal contra o Undertaker?

Quarto volume da série assinada por Xavier Dorison (argumento) e Ralph Meyer (desenho), Undertaker é um Western escrito à laia de policial, cheio de acção e de suspense.
Esta série, difundida em 14 países entre os quais se inclui Portugal, obteve desde o início da sua publicação em França, em 2015, numerosos prémios e distinções. Salientam-se, o Prix Saint Michel 2015 du Meilleur Dessin, o Prix Le Parisien 2015 de la Meilleur BD, o Prix 2015 des rédacteurs de scenario.com e ainda a distinção Album preferé des lecteurs de BD Gest 2015.

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Ficha técnica
Undertaker #4 - A Sombra de Hipócrates
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 17,50€

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Análise: Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Undertaker é capaz de ser o melhor western da atualidade! E falo em “atualidade” porque a série, que na edição original já vai no sexto volume, não parece dar sinais de que vá parar tão depressa assim. E ainda bem! Se, nos dias que correm, alguém me perguntar: “como é que se faz um bom western em bd?” a minha resposta será: “Lê o Undertaker e retira ideias”.

É que esta série de Xavier Dorison e Ralph Meyer tem tudo aquilo que deve ter para agradar a um fã de histórias de faroeste: uma boa, refrescante e leve história, com personagens marcantes, muita aventura e uma boa dose de humor, um desenho verdadeiramente espetacular que, ao mesmo tempo, consegue fazer a proeza de ser moderno, mas prestar homenagem aos westerns clássicos; e fantásticas cores, que sabem puxar por esta arte.

Acho que poderia acabar a minha análise aqui porque, sinceramente, acho que está tudo dito no parágrafo de cima.

Mas desenvolvamos um pouco mais.

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Este terceiro álbum da série, intitulado O Monstro de Sutter Camp, é igualmente o terceiro que a Ala dos Livros publica por cá. Depois dos eventos vividos no primeiro e segundo tomo da série, Jonas Crow, o cangalheiro que protagoniza a série, e que era, aparentemente, um solitário bem ao jeito de Lucky Luke, vê-se agora acompanhado de duas pessoas. E atente-se que essas duas pessoas não são dois pistoleiros de barba rija que o poderiam ajudar nas milhentas aventuras e perigos que vão aparecendo no seu caminho, mas sim, duas mulheres. E logo aí a série inova e ganha toques de modernidade onde as mulheres – e bem! – ocupam cada vez mais lugares de destaque nos livros, filmes e videojogos de aventura. As duas mulheres em causa são a lindíssima inglesa Rosa Prairie – que era governanta nos tomos anteriores – e Lin, a divertida e carrancuda imigrante chinesa que, mesmo parecendo que é apenas uma personagem com o objetivo de ser um comic relief da série, acaba por ser muito mais do que isso. Ou não fosse a série muito bem pensada e escrita pelo argumentista Xavier Dorison que já nos deu séries tão boas, e diferentes, como Long John Silver, O Castelo dos Animais ou O Terceiro Testamento.

Xavier Dorison tem o dom de formular boas histórias de aventura, com personagens cativantes e uma boa trama que as envolve. Não é que Undertaker seja uma série que nos ponha a pensar ou a refletir sobre a vida, mas, diga-se, também não é esse o seu objetivo. O propósito de Undertaker é puro entretenimento, à boa e antiga maneira, em que são adicionados uma boa trama, um fantástico protagonista emblemático, boas personagens secundárias, bons vilões e uma boa dose de aventura. Despretensioso nos intentos, mas altamente bem fabricado pelos autores.

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Assim, e voltando à história, este O Monstro de Sutter Camp coloca Jonas Crow, Rosa Prairie e Lin, esta equipa funerária atípica, a travarem uma enorme luta pela vida – e pela vingança de Jonas – depois de, numa cerimónia fúnebre preparada pelos três, um antigo coronel que o cangalheiro conhecera no passado, lhe anunciar, com laivos de loucura, que “O Monstro de Sutter Camp está vivo!”. Por esta altura o leitor não sabe quem é este “monstro” que tanto terror parece incutir naqueles que o conhecem. Mas rapidamente ficamos a conhecer que este monstro é um homem maquiavélico, cujos atos nefastos já vêm desde os tempos da Guerra da Secessão. Não adianto mais, para não estragar o prazer da leitura da obra aos que ainda a forem ler – e espero que sejam muitos!

Falando da arte ilustrativa, Undertaker consegue ser magnífico em todos os vetores que nos lembremos de considerar. O traço de Ralph Meyer é elegante, dinâmico, moderno, eficiente e multifacetado. Se as cenas de ação são muito bem representadas, com todo o drama que lhes é suposto, as cenas mais calmas, os sentimentos das personagens ou meras imagens de Jonas a cavalgar pelas trevas da floresta,  também estão eximiamente bem representados. Os ambientes são muito belos, com muito detalhe a perder de vista. A planificação é diversificada e os planos escolhidos revelam bastante sensibilidade cinematográfica. E isto já para não falar das cores, da autoria de Caroline Delabie, a esposa de Ralph Meyer, que também são magníficas. O próprio jogos de sombra e luz, do claro e do escuro, é tão bom que até admito que também gostaria de ver estes livros publicados numa versão a preto e branco, como existe em França, e como a Ala dos Livros fez com a série Comanche. Não obstante, as cores são lindas e oferecem ao conjunto uma boa dose de modernidade. 

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
E é até nessa questão da modernidade que me parece que Undertaker joga a sua principal cartada. Porque consegue ser moderno em relação ao western mais clássico em banda desenhada, colocando mulheres a desempenhar papéis mais relevantes, trazendo alguns temas mais contemporâneos para os enredos e tendo uma ilustração moderna, com técnicas atuais, mas, ao mesmo tempo, também consegue prestar as devidas homenagens ao clássico e aos personagens emblemáticos. Quem gosta dos westerns clássicos também gostará de Undertaker, estou certo. A série acaba, pois, por ter um equilíbrio impressionante ao conseguir balancear bem o melhor dos dois mundos: do moderno e do clássico. Quando, há uns tempos, falei com Ralph Meyer a este propósito, ele confirmou que, realmente, tornar Undertaker clássico e moderno ao mesmo tempo, é algo que os criadores tentam fazer. E fazem-no com distinção, acrescento eu. A própria capa deste terceiro tomo, que é, quanto a mim, uma das mais belas do ano, revela bem esta questão de ser clássico e moderno ao mesmo tempo.

Em termos de edição, tudo bem feito pela editora portuguesa. Capa dura, com brilho, bom papel, boa impressão e boa encadernação. No final do livro há ainda um caderno gráfico com algumas pranchas de Ralph Meyer a lápis, antes de receberem a aplicação da tinta, bem como alguns esboços do autor, que resultam numa experiência visual gratificante ao visualizarmos o nível de detalhe que Ralph coloca nos seus esboços. Depois, ainda temos três ilustrações a tinta e uma delas até é de página dupla. Verdadeiramente lindíssimas e um bom “rebuçado” com que a editora decidiu premiar os seus leitores.

Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros
Tendo em conta que as aventuras de Undertaker são sempre em díptico, isto é, cada arco ou história desenvolve-se ao longo de dois volumes, acho que esta é uma série onde eu gostaria de ver álbuns duplos a serem publicados. A meu ver, pensando no leitor, vá, acredito que funcionaria melhor para melhor imersão na história. Todavia, deixem-me dizer-vos que isto não é bem uma "crítica" ou "insatisfação" da minha parte pois conheço pessoalmente o editor Ricardo M. Pereira e sei a quantidade de cuidado e de opções bem pensadas, que ele procura ter nas edições da Ala dos Livros. E, por esse motivo, provavelmente, esta opção de publicar volume a volume é por uma questão de fidelidade à publicação original francesa. Coisa que, lá está, se compreende e aceita-se perfeitamente.

Em suma, Undertaker consegue ser um western magnífico, praticamente perfeito e ainda tem a capacidade de ser uma boa forma de iniciar os não amantes do género western nas histórias de cowboys. É fácil mergulhar no universo desta série e difícil de sair dela. Se é relativamente recente, acho que já é justo dizer que pode muito bem ombrear, em termos de qualidade, com séries clássicas do género como Blueberry ou Comanche. Que venham os próximos volumes!


NOTA FINAL (1/10):
9.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp, de Xavier Dorison e Ralph Meyer - Ala dos Livros

Ficha técnica
Undertaker #3 - O Monstro de Sutter Camp
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Agosto de 2022