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quarta-feira, 20 de março de 2024

Pára tudo! Eis o meu livro sobre BD!!!



Hoje é um dia muito importante para mim!!!

Finalmente posso apresentar-vos o meu primeiro livro, em que estive a trabalhar no último ano, e que sairá no próximo sábado!

Chama-se Muitos Anos a Virar Frangos... perdão, Muitos Anos a Virar Páginas, e é um livro não de banda desenhada, mas sobre banda desenhada.

O repto foi lançado por Jorge Deodato que, a propósito do 10º aniversário da editora Escorpião Azul, me convidou a fazer um livro sobre banda desenhada, com alguns dos principais editores portugueses de BD. Gostei da ideia e pus mãos à obra!

Procurando não fazer um mero livro de entrevistas secas e formais, tive 10 "verdadeiras" conversas com 10 dos mais relevantes editores de banda desenhada em Portugal.

O objetivo? Muito simples: levantar um pouco (ou, por vezes, demasiado!) o véu sobre o que é a edição de banda desenhada por terras lusas, conhecendo as dificuldades, os desafios, os feitos alcançados. E, porque sei que isso também é importante, conhecer os percursos pessoais destes 10 editores. E, acreditem, há aqui histórias mirabolantes contadas na primeira pessoa!

Falei com 10 pessoas incríveis que, com generosidade, me abriram o coração, esmiunçando o seu passado e opinando - por vezes de uma forma que muitos poderão achar polémica - sobre tudo e mais alguma coisa que esteja relacionada com a banda desenhada. Esperem afirmações marcantes que nos fazem pensar.

Os autores com quem falei foram Jorge Deodato e Sharon Mendes (Escorpião Azul), Rui Brito (Polvo), Mário Freitas (Kingpin Books), José Hartvig de Freitas (A Seita, Devir, G. Floy Studio), Bruno Caetano (A Seita, Comic Heart), Ricardo M. Pereira (Ala dos Livros), Silvia Reig (Levoir), João Miguel Lameiras (A Seita, Devir), Vanda Rodrigues (Arte de Autor) e Guilherme Valente (Gradiva).

Falámos de tudo e mais alguma coisa! Houve perguntas malandras, houve respostas curiosas e, acima de tudo, houve conversas abertas e sem tretas ou filtros. Não gosto de chamar ao Muitos Anos a Virar Páginas um livro de entrevistas... é mais um livro de conversas que QUALQUER AMANTE de BANDA DESENHADA certamente apreciará. Admito que isto pode parecer o discurso de quem quer vender algo, mas digo-vos, com sinceridade total: conhecendo o livro como conheço, eu adoraria ler um livro assim, mesmo que tivesse sido feito por outra pessoa. Considero-o uma "verdadeira bíblia" sobre os meandros da edição de banda desenhada em Portugal e acho que, no final da leitura, saímos bastante mais ricos!

Acham que percebem muito sobre banda desenhada e sobre o que é editar BD? Então esperem por ler este livro e ficarem de boca aberta perante certas revelações. Mais, não digo.

Eu sou suspeito a falar, reconheço, mas estou muito orgulhoso do que aqui foi feito. Daquilo que representa este livro. Mas, claro, não o teria conseguido sozinho, claro está, se não fosse a generosidade destes 10 editores que disseram "SIM" ao meu convite. A eles, e agora publicamente, eu digo: OBRIGADO.

Mas há mais neste Muitos Anos a Virar Páginas, caros leitores.

Este não é apenas um livro de texto. Está carregado de desenhos e de imagens. Cada conversa é acompanhada por fotografias do acervo pessoal de cada um dos editores e algumas dessas fotos veem agora, pela primeira vez, a luz do dia. Já para não falar que várias dessas fotografias incluem autores de renome internacional.

Mas melhor ainda que isso, é que o livro conta com 10 ilustrações inéditas e feitas de propósito para o Muitos Anos a Virar Páginas por alguns dos autores portugueses mais marcantes na banda desenhada nacional, nomeadamente: Luís Louro, Rita Alfaiate, Paulo J. Mendes, Derradé, Pepedelrey, Álvaro, Inês Garcia, João Gordinho, Ricardo Santo e João Amaral! Todos eles com obras publicadas pela Escorpião Azul. Posso dizer-vos que todos estes ilustradores se esmeraram nas suas ilustrações e que foi para mim uma honra poder contar com o seu contributo. A capa do livro, já agora, é da autoria de Sharon Mendes.

Este contributo de tanta gente estendeu-se ainda a Maria José Magalhães Pereira, que assina um fantástico e muito elucidativo prefácio ao livro. Já viram a sorte que eu tive em poder contar para o meu livro com tanta gente maravilhosa e que tanto e tão bem representa a banda desenhada em Portugal? 

Sim, já perceberam que estou muito entusiasmado com este livro, mas acho que tenho razões para tal. O mesmo será lançado no próximo sábado, às 22h, no Festival LouriBD, na Lourinhã. Apareçam e trocamos dois dedos de conversa.

Com sorte, tendo em conta que muitos dos ilustradores que aparecem no livro estarão presentes no LouriBD, ainda levam o livro com dedicatórias para casa.

Por agora, deixo-vos com a sinopse da obra, ficha técnica e com algumas das ilustrações que poderão encontrar no livro.


Muitos Anos a Virar Páginas, de Hugo Pinto

No atual e consentâneo período dourado que se vive na edição de banda desenhada em Portugal em que, cada vez mais, se lança mais e melhor BD por terras lusas, há, ainda assim, questões que subsistem sem resposta: como é que, efetivamente, se desenrola a atividade de edição de BD por cá? Será este mercado tão sustentável como aparenta ser? Que ambiente se respira entre concorrentes na edição? Que tiragens são feitas? Que diferença há entre Novela Gráfica e Banda Desenhada? Como vivem os editores de BD em Portugal? E serão eles “editores” ou meros “publicadores”?

Recorrendo a um anglicismo e adaptando ao universo da banda desenhada a célebre questão sem resposta de Bob Dylan, a pergunta primordial que se impõe é: How many books must a publisher publish, before you call him an editor?

“A resposta, meu amigo”, a essa e outras questões, está neste primeiro livro de Hugo Pinto (autor do blogue Vinheta 2020 e divulgador e crítico de banda desenhada). De modo desgarrado e sem pudores, não fugindo a assuntos muitas vezes considerados tabu, este é um livro com conversas entre o autor e 10 dos mais proeminentes editores de banda desenhada da última década em Portugal.

Não só Muitos Anos a Virar Páginas assinala os 10 anos de existência da editora Escorpião Azul, como nos dá um extenso e profundo vislumbre sobre a banda desenhada em Portugal, carregado de inúmeras histórias dos bastidores da edição da 9ª Arte que eram, até agora, desconhecidas.

E como cereja em topo do bolo, ainda reúne 10 ilustrações únicas e inéditas feitas por 10 dos autores que fazem parte do catálogo da editora portuguesa.

Eis um livro obrigatório para todos os amantes de banda desenhada.

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Ficha técnica
Muitos Anos a Virar Páginas
Autor: Hugo Pinto
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 256, a preto e branco
Encadernação: Capa Mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Março de 2024
PVP: 25,00€

terça-feira, 27 de junho de 2023

Análise: Porra... Voltei!

Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições

Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições
Porra... Voltei!, de Álvaro

Porra.. Voltei! é o álbum mais recente de Álvaro [Santos] e assume-se facilmente como a obra de maior fulgor do autor português. Em mais de 300 páginas, Álvaro leva-nos a navegar numa densa e mirabolante história onde a religião, os meios de comunicação e a própria superficialidade com que vivemos são os maiores visados. É uma obra profunda, complexa, cheia de segundas leituras, que deve ser lida por todos!

Depois de feita a leitura, parece-me notório que o autor muda um pouco em termos de discurso e seriedade, face ao tipo de álbuns a que nos tem habituado. E dizer isto, não é afirmar que esta é uma obra que seja o oposto das anteriores. O estilo de humor mordaz mantém-se presente, sim. Todavia, se, até aqui, o humor de Álvaro tem sido a tónica principal dos seus livros, havendo, ainda assim, algum espaço para crítica social, em Porra… Voltei! a fórmula parece ser bem diferente: temos um livro que, de maneira desbragada, tece violentas críticas à Igreja e aos que agem em seu nome, à sociedade atual, aos media e, de forma global, ao “aparvalhamento” das gentes da nossa era. De nós próprios. E, lá no meio, também há humor, claro. Mas, desta vez, o enfoque não é humor. É certo que me ri várias vezes com este livro, mas a verdade é que não classificaria Porra… Voltei! como um livro de humor.

Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições
Antes pelo contrário, a sensação com que ficamos, quando acabamos a leitura deste extenso livro, é de um certo alarme, de um certo desencantamento, de uma certa devastação emocional. Porra… Voltei! é um álbum pesado e que, de maneira viciante, passa para o leitor toda a desilusão perante o caminho que temos percorrido. Enquanto sociedade, enquanto mundo.

Para tal, apoia-se numa premissa interessante: o que aconteceria se, passados mais de 2.000 anos, Jesus Cristo voltasse à Terra? Que acharia ele do estado atual do mundo? Terão os alicerces de uma sociedade que ser apoiados no culto de uma figura? Terá a igreja desvirtuado os pressupostos iniciáticos da própria religião? As questões são sérias e carecem de resposta simples. Por isso, Porra… Voltei!, mais do que tudo, convida a uma reflexão profunda.

O início deste livro – e quando digo “início”, refiro-me à primeira metade do livro - é tão enigmático e arrebatador que tenho que dizer que, infelizmente, algures a partir da segunda metade do livro, me pareceu que a trama se perdeu um pouco. E explico porquê: o início da obra tem um ritmo narrativo que é magnífico. Quase como um filme de suspense ou de mistério, vão sendo dados ao leitor vários eventos que, à partida, parecem não estar relacionados entre si, mas que, à medida que a nossa leitura vai avançando, percebemos que não são mais do que acontecimentos interligados que surgem em catadupa, juntando várias personagens em determinados momentos que convergem com a chegada de Jesus Cristo à Terra, qual extraterrestre. Achei verdadeiramente genial, esta maneira de nos dosear a história e de nos manter colados a ela.

Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições
Confesso até que fiquei surpreendido pelas fortes apetências narrativas de Álvaro que consegue juntar a situação precária dos refugiados, a seita que opera com este tráfico humano, a dupla de polícias (que é hilariante) e o próprio Jesus Cristo que, careca e nu, parece estar longe daquela forma física bela e exemplar que a Igreja Católica normalmente veicula.

Todo o arranque da história, extremamente cinematográfico, é criado de forma sublime, repito. A restante história vai, depois, progredindo para situações que levam Jesus Cristo a ter que se defender, à paulada, de inimigos que aparecem no seu caminho, a ter que lidar com uma mulher que, embora lhe sirva de amparo, é movida por uma forte volúpia, que acaba por arrastar Jesus para uma vida de casal mundana.

Jesus vai, depois, tomando conhecimento de como é o mundo através da televisão e, meus caros, tenho que dizer que considero genial a forma e os exemplos escolhidos por Álvaro para apresentar o mundo atual: desde o forte apelo ao consumo desenfreado em que vivemos na atualidade, passando por um culto do rápido e superficial, a doença pelo desporto (especialmente pelo futebol), os programas de televisão de qualidade dúbia, a violência e exploração do corpo, o discurso político de ódio, a fome no mundo, o excesso de abundância para alguns, a Igreja que quer dizer ao mundo o que se deve e o que não se deve fazer, o racismo… enfim, está cá tudo. E claro, quando exposto a estas imagens, Jesus fica surpreso e chocado perante aquilo em que o homem tornou o mundo.

Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições
O livro estava verdadeiramente genial até aqui. Mas, infelizmente, e como já referi, parece-me que Álvaro acaba por perder o controlo do seu próprio enredo, já que se começa a encontrar alguma redundância no tema, que acaba por não permitir ao livro ir mais longe. Eventualmente, Jesus vê-se na necessidade de confrontar a igreja, sem que mereça crédito por parte da mesma. E, às tantas, fica claro que, mesmo que a igreja tivesse a melhor das intenções no conjunto de valores que apregoa, há muito se afastou dos mesmos.

Há várias cenas de tortura que poderão ferir algumas suscetibilidades, mas que servem, sem dúvidas, para mais incisivamente assinalar o modo de funcionamento de muitas seitas de cariz religioso.

O livro está ainda salpicado de citações de personalidades relevantes da nossa sociedade, como Einstein, Carl Sagan, Charlie Chaplin ou Donald Trump, entre outros, que parecem surgir como pistas que Álvaro nos vai oferecendo para melhor compreendermos o alcance da história.

Mas se na história o autor português vai mais além do que o expetável, em termos visuais este também é o trabalho em que o autor mais “nada para fora de pé”. E fá-lo com muito sucesso! O seu habitual grosso traço a preto e branco, de cariz cartoonizado, também aparece em Porra... Voltei! mas não se fica por aí porque, quer em termos de planificação, quer em termos de soluções narrativas ou de planos de câmara utilizados, Álvaro arrisca muito mais e dá-nos um belo trabalho, que apresenta uma boa dose de diversidade, o que torna a leitura mais apetecível num livro com tantas páginas. Há alguns desenhos que aparentam ter sido elaborados de forma mais rápida, mas também há outros onde é clara a forte inspiração e detalhe na execução do autor, que muito me agradaram e que gostaria de ver Álvaro a explorar mais em livros vindouros.

Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições
A edição é em capa mole e com papel brilhante. Sendo esta uma edição de autor, já que a chancela Insónia Edições pertence ao próprio Álvaro Santos, o livro tem uma boa apresentação. Como não há margem entre as vinhetas e os limites da página, é verdade que na parte interior do livro encontramos, por vezes, algum balão de fala que não se lê tão bem. Mas não é nada de muito alarmante, dira.

Em termos de capa, devo dizer que, quanto a mim, o autor poderia ter sido mais feliz. Não é que a capa tenha uma ilustração mal feita ou algo que se pareça. Mas a verdade é que, mesmo no interior do livro, há muitas mais ilustrações que poderiam ter dado origem a uma capa mais impactante e chamativa. Além de que a escolha de cores torna pouco visível a figura de Jesus na capa.

Em suma, este Porra… Voltei! promete não deixar ninguém indiferente. Se o início do livro é verdadeiramente impressionante, o último terço do mesmo parece mais forçado e mostra-nos um autor que não soube fechar tão bem a obra como a soube abrir. Não obstante, será injusto da minha parte se não classificar este como o melhor livro do autor e uma das mais pertinentes e obrigatórias bandas desenhadas nacionais do ano. Sou fã do registo mais leve e ligeiro do autor, mas é neste registo mais intenso – e com uma arte que arrisca mais – que eu quero ler mais livros de Álvaro!


NOTA FINAL (1/10):
8.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Porra... Voltei!, de Álvaro - Insónia Edições

Ficha técnica
Porra... Voltei!
Autor: Álvaro
Editora: Insónias Edições (Edição de Autor)
Páginas: 320, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Maio de 2023

terça-feira, 9 de maio de 2023

Álvaro prepara-se para a editar novo livro de BD!



Este será, possivelmente, o álbum de Álvaro que mais expetativa tem criado junto da comunidade bedéfila!

O novo livro do autor de obras como Conversas com os Putos ou o Homem Voador chama-se Porra... Voltei! e trata-se de uma obra com mais de 300 páginas (!), onde Álvaro traz à tona a temática de Jesus Cristo e como seria o seu regresso ao mundo atual onde vivemos. Uma premissa deveras interessante, diria.

Além disso, o próprio registo visual que nos tem sido dado a conhecer através de várias pranchas que o autor tem vindo a partilhar nas redes sociais, parece fazer crer que Álvaro terá nesta obra o seu trabalho mais relevante no cômputo visual.

O livro é editado pela Insónia Edições, uma chancela do próprio autor, e deverá ser lançado no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.

Abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Porra... Voltei!, de Álvaro

O que aconteceria se Jesus da Nazaré regressasse a este planeta?
Como o mundo actual o receberia?
Como os cristãos o encarariam?
Iriam reconhecê-lo?
Iriam aceitá-lo na sua igreja?

E ele?
Como enfrentaria os cristãos?
O que aconteceria se ele entrasse numa igreja e olhasse ao seu redor?
Como olharia para aquele mártir estilizado pregado numa cruz?
Iria reconhecê-lo?
Iria aceitá-lo?

O leitor já alguma vez se interrogou sobre o que poderia acontecer?
Claro que sim.
E eu também.

O autor
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Ficha técnica
Porra... Voltei!
Autor: Álvaro
Editora: Insónias Edições (Edição de Autor)
Páginas: 320, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 166 x 235 mm






terça-feira, 8 de março de 2022

Análise: Homem Voador


Homem Voador, de José Pinto Carneiro e Álvaro

Homem Voador traz-nos o conjunto de pranchas e tiras humorísticas que a dupla formada por José Pinto Carneiro e Álvaro foi publicando, em forma de webcomic, durante vários anos.

Homem Voador apresenta uma interessante e divertida premissa que assenta num único poder: o de voar. Imaginem se amanhã acordassem com a capacidade de voar. Sem força sobre-humana, sem inteligência mais elevada do que os valores de Q.I. mundanos, sem super-velocidade, sem nada desses poderes! A não ser o de voar. Porque todo o resto - o trabalho, a família, a casa, o quotidiano - continuaria a ser o mesmíssimo de sempre. É uma premissa interessante e que traz consigo boas possibilidades para gags divertidos, que os autores portugueses sabem explorar bem.

E se, aparentemente, a capacidade para voar parece uma coisa boa e útil nas vossas vidas, este Homem Voador prova que são mais as dores de cabeça inerentes a esta capacidade do que as vantagens.

O protagonista é um funcionário das finanças que, certo dia, encontra um cão vadio na rua e decide ajudá-lo, acolhendo-o em sua casa. Em troca, o cão – que se chama Zé Manel e consegue falar – concede ao seu novo dono um desejo à escolha. Este, sem refletir nas várias possibilidades, revela ao cão que o seu desejo é ter a capacidade para voar.

A partir deste ponto, os autores exploram inúmeros problemas que surgem com a capacidade de voar, nomeadamente, a necessidade de uma licença para voar ou as divergências com os drones da CIA.

Além do Homem Voador e do cão Zé Manel, aparecem neste livro a mulher do protagonista – a minha personagem preferida, por ser crua, amarga e completamente alienada, que até merecia, na minha opinião, uma banda desenhada só para si – e a filha de ambos, Tininha, sempre agarrada ao telemóvel. Desfilam ainda algumas personagens como super-heróis da banda desenhada, agentes da CIA, o Pai Natal, a Nossa Senhora de Fátima, Pinto da Costa, Jorge Jesus, Cavaco Silva, soldados da Al-Qaeda, entre outros. Vejam lá o cocktail que para aqui vai!

É divertido e fez-me sorrir algumas vezes embora também tenha achado que, por vezes, há temas menos bem conseguidos, como a ameaça da CIA e seus drones, que os autores acabam por repetir mais vezes do que o expetável. Também há, no entanto, outros momentos muito bons, como o diálogo no sofá com a sogra do Homem Voador ou o sexo nas alturas que este tem com a sua mulher.

Uma das fraquezas do livro será o de ser notório de que se trata de uma compilação. Bem sei que isto é uma faca de dois gumes, porque, por um lado, tem a vantagem de oferecer aos leitores e seguidores do webcomic a possibilidade de ter estes gags em livro físico. Por outro lado, ao ser essa mera compilação, perde-se uma certa sensação de homogeneidade, carecendo o todo de um fio condutor que melhor ligasse as várias peripécias que nos são dadas.

Quanto ao desenho a preto e branco de Álvaro, pode-se dizer que o mesmo está em linha com tudo aquilo que o autor já nos tem dado: traço simples, expressivo, funcional e com aquele tom "cartoonesco" que tão bem assenta em histórias humorísticas. As próprias expressão faciais desenhadas por Álvaro já são, muitas vezes, meio caminho andado para que esbocemos um sorriso.

Num formato horizontal (italiano), a edição pela chancela Insónia Edições, apresenta cada mole e um papel (ligeiramente) brilhante que, a meu ver, funciona bem neste tipo de histórias. No final do livro, há espaço ainda para uma pequena galeria de esboços. Alguns feitos em toalha de papel de restaurante. Certamente, atrevo-me a especular, resultantes do convívio de uma Tertúlia BD de Lisboa.

Em conclusão, José Pinto Carneiro e Álvaro trazem-nos mais um livro onde impera a boa disposição, a crítica social e a capacidade para remeter uma coisa positiva, como o poder de voar, para algo verdadeiramente catastrófico! Pelo menos, para a vida de um típico funcionário das finanças. Exceção seja feita à vida sexual deste homem, onde o céu passa a ser o limite para boas e ritmadas cambalhotas!


NOTA FINAL (1/10):
7.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
Homem Voador
Autores: José Pinto Carneiro e Álvaro
Editora: Insónia Edições
Páginas: 64, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Setembro de 2021