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sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Análise: O Silêncio de Malka

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir
O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero

Inserida na Coleção Angoulême, que a editora Devir tem vindo a lançar durante este ano, está esta obra do argentino Jorge Zentner e do espanhol Rubén Pellejero, intitulada O Silêncio de Malka e que chegou às livrarias portuguesas há algumas semanas.

Este é um belo livro que nos conta a história de uma família judia que, vítima das perseguições que marcaram a Rússia no final do século XIX, é forçada a abandonar a sua terra natal e a procurar um novo futuro na Argentina. Logicamente, e esse será um dos principais focos desta obra, essa mudança não é apenas geográfica, mas também cultural e espiritual, pois contrariamente ao que poderiam desejar, estes recém-chegados da Rússia à Argentina, enfrentam a dureza do trabalho agrícola e a adaptação a um território desconhecido, onde os migrantes são tratados com desdém pelos locais. Infelizmente, é algo que, passe o tempo que passar, parece continuar a assolar a sociedade. Se calhar, é algo que está adjacente ao facto de os humanos não serem tão humanos assim, diria eu.

Mas avancemos.

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir
O Silêncio de Malka
 é constituído por seis histórias distintas, cada uma centrada num momento ou período específico, que em conjunto formam um retrato profundo da experiência dos imigrantes russos na Argentina. No centro do enredo, está Malka, uma criança cuja inocência contrasta com as duras realidades que a vão rodeando desde tenra idade. A sua voz - ou melhor, o seu silêncio - funciona, pois, como símbolo da sua vulnerabilidade, mas também da sua resiliência, já que, convenhamos, se resistir a um destino malfadado não é tarefa fácil, imaginem fazê-lo sem poder falar. Há silêncios que são mais ruidosos do que muitas palavras ocas e insípidas e essa é a metáfora mais presente neste O Silêncio de Malka.

Os seis capítulos que compõem a obra, mesmo fazendo parte de um todo, apresentam alguma independência narrativa, podendo até ser lidos de forma isolada. À primeira vista, o leitor poderá ficar com a ideia de que Zentner não tinha uma estrutura narrativa fechada quando começou a escrever a obra e que foi acrescentando episódios ao longo do tempo. Consequentemente, essa fragmentação inicial pode dar a sensação de que não existe uma orgânica muito forte entre todas as partes. Confesso-vos que dei comigo a sentir isso à medida que lia a obra. Mas uma segunda leitura, com mais atenção a algumas pistas deixadas pelo argumentista, permitiu-me constatar que cada capítulo tem uma ligação subtil com os outros, compondo, no fim, um quadro muito mais coeso do que se poderia supor.

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir
Esse aspeto faz com que a leitura seja enriquecedora, sendo possível encontrar ecos, símbolos e pequenos detalhes que estabelecem pontes entre pequenos eventos que poderiam parecer soltos ou independentes. Este é, portanto, um daqueles casos em que a narrativa ganha profundidade ao ser revisitada, demonstrando que a fragmentação aparente é, na verdade, uma forma de refletir a própria condição das personagens, feita de momentos dispersos que só no tempo se consolidam num todo mais profundo.

Outro elemento notável deste O Silêncio de Malka é a forma como a obra equilibra fantasia e realidade. Quem acompanha as minhas análises já se deve ter dado conta que, por vezes, eu tenho uma certa tendência a considerar que "demasiada fantasia" pode arruinar os intentos narrativos de uma obra. Como o "céu é o limite" na utilização da fantasia, dou-me conta de que muitos autores se deixam levar por essa atratividade mas deixando, depois, que as suas obras fiquem inverossímeis ou demasiado imberbes. Em O Silêncio de Malka há fantasia, sim, mas de um modo temperado e equilibrado, abrindo o véu para uma reflexão mais profunda, mas através de uma postura credível ou, pelo menos, sensata. Há, de facto, momentos em que elementos mágicos, inspirados tanto pela tradição judaica da Torá como pelas crenças populares da Argentina rural, atravessam a narrativa. Esses episódios não são meras fugas para o irreal, mas funcionam como metáforas das esperanças e medos das personagens. E ao conjugar o fantástico com o registo mais histórico e informativo do livro, Zentner constrói um retrato complexo que ultrapassa a simples crónica da migração dos russos.

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir
Este equilíbrio entre fantasia e realidade também contribui para que a obra seja envolvente sem perder densidade. Por um lado, mergulha o leitor na experiência concreta dos migrantes russos que procuraram uma vida melhor na Argentina; por outro, abre espaço para a imaginação e para o intangível, como se nos sugerisse que toda a experiência humana é atravessada por forças invisíveis, sejam elas religiosas, culturais ou emocionais. Gostei desta profundidade temática.

O livro peca apenas, na minha opinião, por ser algo curto. Fico com a ideia que, com mais algumas páginas, certos eventos poderiam ter sido mais bem retratados.

O traço de Rubén Pellejero é outra das coisas que merece destaque absoluto. O estilo daquele que haveria de se tornar no ilustrador da atual série Corto Maltese, é, nesta obra, original e familiar ao mesmo tempo, conseguindo criar empatia imediata com o leitor. As expressões faciais, os cenários e a caracterização das personagens são muito belos e conseguem transmitir uma humanidade palpável. Além disso, as cores utilizadas são belíssimas, conferindo uma atmosfera particular a cada capítulo. É um trabalho de cores que não serve apenas para embelezar a obra, mas também para reforçar o tom emocional de cada episódio. Aprecie especialmente esta vertente cromática da obra.

O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir
A beleza dos desenhos faz com que, mesmo nos momentos mais duros da narrativa, haja sempre um espaço para a contemplação estética. Pellejero consegue transformar a dor, o desespero ou a solidão em imagens de grande impacto, sem nunca resvalar para a gratuitidade. 

Em termos de edição, o livro apresenta capa dura baça e bom papel baço no interior. O trabalho de encadernação e impressão também é bom. O livro é ainda composto por um epílogo de três páginas, alguns esboços de Pellejero e um texto sobre a obra, da autoria de Benoit Mouchart. Há também um texto introdutório à obra por parte de Zentner. São generosas 26 páginas de extras. A edição continua ter o formato de 17 por 24 cms. Um formato que muitos consideram pequeno em demasia. Não diria que seja grande, mas no caso em concreto, sinto que a leitura não sei prejudicada pela escolha deste formato.

Em suma, O Silêncio de Malka é uma obra comovente e sofisticada, que combina narrativa histórica, fantasia simbólica e belos desenhos de Pellejero. A parceria entre este e Zentner resulta num livro belo e melancólico, que fala da dor do exílio, da força da memória e da capacidade de resistência das comunidades perseguidas. Eis um livro que espero que não orbite fora dos radares dos leitores portugueses.


NOTA FINAL (1/10):
8.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Silêncio de Malka, de Jorge Zentner e Rubén Pellejero - Devir

Ficha técnica
O Silêncio de Malka
Autores: Jorge Zentner e Rubén Pellejero
Editora: Devir
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Junho de 2025

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Análise: Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939)

Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir

Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir
Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki

Começo por dizer que estava particularmente empolgado para ler este primeiro volume da série Showa - Uma História do Japão, da autoria de Shigeru Mizuki, que a Devir editou recentemente. Mizuki é um autor consagrado do mangá, do qual a editora lançou já este ano o muito interessante Hitler, e uma obra com uma ambição tão grande como a de este Showa, de contar e condensar(?) a história do período Showa do Japão, é algo que merece o meu louvor e respeito. Além de que, é uma obra amplamente reconhecida pela crítica.

Confesso, no entanto, ter ficado bastante desiludido com este livro. E quando falo em "desilusão" não é por considerar que este não é um trabalho com boa qualidade. Certamente o é. Mas poderia, pelo menos quanto a mim, ser muito - mas mesmo muito! - melhor. Mas já lá irei.

Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir
Este primeiro volume de um total de quatro, cobre - em mais de 500 páginas - os anos iniciais, de 1926 a 1939, da Era Showa, um dos períodos mais turbulentos e decisivos da história japonesa. Mizuki constrói uma narrativa que combina elementos autobiográficos com um panorama histórico abrangente, apresentando a evolução política, social e militar do Japão. A obra mergulha nos anos que antecedem a Segunda Guerra Mundial e acompanha as transformações internas do país, mostrando o impacto de tais mudanças tanto na esfera nacional como no quotidiano das pessoas.

Desde o início, percebe-se que os intuitos da obra são ambiciosos: Mizuki não pretende apenas contar a sua vida durante este período temporal, mas criar um retrato quase enciclopédico de todo um período histórico. A tentativa de condensar um vasto conjunto de acontecimentos, desde intrigas políticas e tratados internacionais até pequenas alterações no quotidiano japonês, confere ao livro um valor informativo inegável, concedo. E é verdade que quando lemos este livro parecemos estar a fazer um curso intensivo de história do Japão, com uma quantidade de dados que impressiona pela abrangência e exaustividade. 

Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir
No entanto, é exatamente essa mesma densidade informativa que é também a principal fraqueza do livro, pois a narrativa arrasta-se, parecendo um despejo contínuo de factos, em que a sucessão de datas e eventos parece esmagar qualquer tentativa de cadência narrativa. É como se o autor estivesse determinado a não deixar escapar nenhum acontecimento, por mais irrelevante que possa parecer no todo, o que cria um ritmo irregular e muitas vezes cansativo.

Mizuki tenta mitigar esse efeito excessivamente expositivo da obra inserindo passagens autobiográficas, nas quais relata episódios da sua infância e das suas experiências familiares. Esses momentos oferecem um sopro de humanidade e proximidade, funcionando como pausas mais leves no meio da avalanche de informação. Contudo, a ligação entre o plano pessoal e o plano histórico nem sempre é fluida: muitas vezes a transição parece forçada, como se o autor estivesse meramente a alternar capítulos da sua autobiografia com os de um manual escolar, sem que os mesmos tivessem especial ligação direta entre si. Além de que os períodos autobiográficos são em menor número do que os de exposição de factos históricos... o que é pena.

Há também uma personagem de cabeça em formato fálico que surge repetidamente enquanto narrador para contextualizar os factos históricos, o que reforça essa tal sensação didática da obra, remetendo-nos para as mascotes ou explicadores dos manuais escolares, cujo objetivo é sistematizar informações e simplificar conceitos. Embora este recurso seja útil para leitores menos familiarizados com o assunto retratado, acaba por sublinhar o carácter “aula de história” do livro e, paradoxalmente, fragmentar a experiência narrativa. E como se a muita informação que nos aparece nas legendas e nos balões não fosse já suficiente, ainda somos premiados, quase página sim, página não, com mais notas de rodapés complementares a essas mesmas informações, o que aumenta o cariz redundante da leitura.

Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir
Outro problema dessa abordagem é que a quantidade de acontecimentos abordados não deixa espaço para que alguns, os mais importantes, se desenvolvam ou amadureçam na mente do leitor. A “chuva” constante de dados impede que se compreenda plenamente a profundidade de certos eventos, o que acaba por ser contraproducente e incoerente num livro que procura ser informativo. Em vez de explorar o impacto humano de momentos decisivos, Mizuki opta por um registo quase cronológico onde a emoção cede lugar à catalogação e à exposição.

Paradoxalmente, quando a obra mergulha de facto na vida pessoal do autor, o resultado é muito mais cativante. As memórias de infância, as dificuldades familiares, as pequenas anedotas e observações sobre a vida no Japão pré-guerra revelam um talento narrativo mais envolvente. Infelizmente, esses momentos são mais a exceção do que a regra, parecendo haver uma obsessão do autor em não deixar nenhum acontecimento, por mais pequeno que seja, de fora... mas depois falhando naquilo que, quanto a mim, seria mais relevante, que era a perspetiva mais humana e pessoal dos acontecimentos ocorridos. A parte mais biográfica, as experiências pessoais de Mizuki são a exceção à fria "aula de história". Deveria ser exatamente ao contrário: o enfoque na vida de Mizuki e os acontecimentos históricos como pano de fundo. Quanto a mim, claro.

Visualmente, Mizuki adota uma solução estética original e eficaz: combina um traço caricatural para as personagens com um estilo mais realista e detalhado para as representações históricas. Essa dicotomia gráfica, já utilizada pelo autor noutras obras, ajuda a separar claramente o registo pessoal do registo histórico, conferindo ao livro um ritmo visual dinâmico e interessante.

Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir
Os desenhos realistas impressionam pelo cuidado e minúcia, evocando documentos de época e reforçando a credibilidade histórica. Por outro lado, os rabiscos caricaturais, assumidamente simplistas, transmitem leveza e humor, lembrando ao leitor que esta é também uma obra de um autor com uma forte voz autoral. O tal "signature style" que é tão importante. O contraste não cria incoerência; pelo contrário, parece intencional e dá ao livro uma identidade própria.

A edição da obra é em capa mole baça, sem badanas, mas com uma sobrecapa que acrescenta uma diferente capa à obra. No miolo, o papel é aceitável e a impressão é boa. No final do livro, há ainda um texto do filósofo Takeshi Umehara sobre a obra.

É visível que Mizuki encarou este projeto como uma missão de fôlego: registar e explicar, para gerações futuras, todo um período de transformações radicais no Japão. O esforço de pesquisa e a vontade de transmitir tudo o que sabe são louváveis. No entanto, essa mesma ambição é o que torna a leitura mais difícil para quem procura um equilíbrio entre informação e narrativa emocional.

Reconheço que apesar de exaustivo, este primeiro volume cumpre o papel de introduzir o leitor ao cenário histórico da Era Showa com riqueza de detalhes. Quem tiver paciência e interesse genuíno pela história japonesa encontrará aqui um material vasto e valioso, ainda que tenha de lidar com um excesso de exposição e alguma falta de fluidez.

Em suma, este primeiro volume de Showa - Uma História do Japão é uma obra sólida, marcada por um trabalho hercúleo de recolha e apresentação de factos, mas que poderia beneficiar de uma inversão de prioridades: dar mais espaço à experiência humana e menos ao inventário exaustivo histórico. Ainda assim, a originalidade gráfica, a honestidade autoral e a importância do projeto justificam a continuação da leitura nos próximos volumes.


NOTA FINAL (1/10):
7.0



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Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939), de Shigeru Mizuki - Devir

Ficha técnica
Showa #1 - Uma História do Japão (1926-1939)
Autor: Shigeru Mizuki
Editora: Devir
Páginas: 528, a cores e a preto e branco
Encadernação: Capa mole com sobrecapa
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Junho de 2025

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Devir nos últimos 5 anos!


Depois de umas curtas férias, estou de volta para vos trazer mais um TOP 10 dedicado à melhor banda desenhada editada em Portugal nos últimos 5 anos que, como sabem, é o período de existência do Vinheta 2020.

E hoje o enfoque vai todo para a editora Devir!

Trata-se da editora portuguesa com o maior catálogo em obras mangá, mas nos últimos anos tem apostado também no alargamento da sua oferta editorial, com o lançamento de obras americanas e europeias e num conjunto de outras novas obras que, mesmo tendo como origem o Japão, se direcionam a um público mais maduro.

Por estes motivos, considero que a Devir se apresenta em grande forma no tempo mais recente.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.

Assim sendo, deixo-vos, então, com o meu TOP 10 da melhor banda desenhada editada pela Devir nos últimos 5 anos:

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Monster está de volta!




A editora Devir prepara-se para fazer chegar às livrarias o quinto volume da série Monster, de Naoki Urasawa!

Por agora, o livro já pode ser encontrado em pré-venda no website da editora.

Este é o ponto em que a série vai a meio, sendo que a mesma é constituída por 9 volumes.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Monster #5, de Naoki Urasawa

Tenma tenta entrar clandestinamente na Checoslováquia para procurar a mãe de Johan.

É apanhado em flagrante delito pela polícia da fronteira, mas escapa por pouco com a ajuda de Grimmer, um jornalista freelancer. 
Os dois homens separam-se sem perguntar um ao outro o que os trouxe à Checoslováquia. Na verdade, Grimmer também está profundamente interessado no kinderheim 511 que existiu em tempos na Alemanha de Leste.

Prémios:
Prémio de Manga de Excelência, no 1º Japan Media Arts Festival, 1997.
Grande Prémio Cultural Tezuka Osamu, 1999
Prémio Manga Shogakukan, 2001
Melhor série mangá, Lucca Comics, 2004
Prémio de Melhor série de manga, Lucca Comics, 2004
Nomeado para o Prémio Eisner, nos E.U.A., na categoria de Melhor Edição Americana de Adaptação Internacional – Japão, em 2007 e 2009; e Melhor Série, em 2007, 2008 e 2009

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Ficha técnica
Monster #5
Autor: Naoki Urasawa
Editora: Devir
Páginas: 406, a preto e branco
Formato: 14,8 x 21 cm
PVP: 20,00€


terça-feira, 22 de julho de 2025

As novidades de BD da Devir para o segundo semestre de 2025!


Hoje trago-vos as novidades de banda desenhada que a editora Devir espera lançar no segundo semestre de 2025 e preparem-se bem, pois são mais de 45(!) os livros de BD que a editora prepara para a segunda metade de 2025!

Entre as várias propostas, a editora portuguesa mantém a sua aposta nas suas séries em andamento, passando pelo mangá, pelos comics americanos e pela coleção de Angoulême.

A editora decidiu dar destaque a algumas das obras que vai editar, partilhando comigo as respetivas sinopses desses livros que, por meu turno, partilho agora convosco.

Mais abaixo, deixo-vos com essas novidades fazendo a ressalva que algumas das capas que apresento são as versões estrangeiras e, portanto, podem ser diferentes na edição portuguesa.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Análise: Batman - Volume 1

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet

O ano de 2025 tem sido um ano simpático para os admiradores portugueses de Batman. Depois da Devir ter assegurado os direitos da DC Comics para a publicação de Batman, a editora portuguesa já publicou o muito cativante Batman - Três Jokers e publicou mais recentemente este Batman de Grant Morrison. Além disso, está previsto, ainda para este ano, a publicação do segundo volume desta empreitada e, não esqueçamos, a própria editora A Seita chegou a publicar recentemente Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego. É, portanto, um bom ano para Batman em Portugal, especialmente se tivermos em conta que durante alguns anos nenhum livro do Homem-Morcego por cá foi editado.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Este Batman de Grant Morrison – Volume Um que hoje vos trago, marca o início da ambiciosa e influente fase do argumentista escocês Grant Morrison no universo do Cavaleiro das Trevas. Este volume compila as primeiras histórias de Batman sob o comando do autor, que se propôs a integrar décadas de mitologia da personagem numa narrativa coesa, densa e inovadora. Esta abordagem tentou, de algum modo, consolidar alguns eventos - muitas vezes contraditórios - no passado do super-herói, equilibrando alguns elementos mais absurdos(?) da "Era de Prata" com a seriedade moderna da "Era das Trevas".

E, claro, um dos aspetos mais marcantes deste volume é a introdução de Damian Wayne, o filho de Bruce Wayne com Talia al Ghul. Damian é arrogante, violento e treinado pela Liga dos Assassinos, o que me leva a poder afirmar que Damian é uma subversão radical da figura do Robin tradicional. Uma autêntica "peste" que coloca a paciência de Batman à prova. E mais do que ser uma nova personagem, denota-se que a sua grande adição à série é o próprio desafio direto à moralidade e ao método de Batman que traz consigo, o que causa um conflito interno que será um dos motores centrais da narrativa.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Os elementos de espionagem, drama familiar e alguma ficção científica parecem levar-nos para as aventuras dos anos 50 e 60, o que faz com que as histórias se afigurem clássicas na forma e conteúdo mas, claro, sendo reinterpretadas à luz de uma narrativa mais contemporânea. Em vez de rejeitar os elementos considerados mais "ridículos" ou inverosímeis da história da personagem, Morrison tem o mérito de os abraçar e de os contextualizar de uma forma tão criativa quanto possível. Aprecio e respeito essa vertente conciliadora do autor.

E outra coisa que me parece digna de nota é a capacidade de Grant Morrison na construção de narrativas a longo prazo. Desde cedo o autor consegue inserir sementes na história que depois vai colher mais tarde, em capítulos futuros. Ou seja, deixa propositadamente pontas soltas para depois, a jusante, as amarrar, dando credibilidade a toda a sua criação. Acaba por ser uma leitura que, mais tarde, é compensadora.

Contudo, e ainda que o trabalho de Grant Morrison na série tenha sido - e continue a ser - bastante celebrado por fãs e crítica, considero ter alguns sentimentos mistos face às histórias que compõem este primeiro volume. É que, se por um lado concedo que a maneira como Morrison reimaginou certos eventos na vida de Batman, dando com isso profundidade à personagem e ao seu universo, é mais que meritória, também considero que, enquanto histórias propriamente ditas, são contos que apenas cumprem. Leem-se bem, mas estão longe de poderem ser considerados como as mais inesquecíveis histórias do super-herói.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Participam na escrita do argumento autores de bastante relevância, como Greg Rucka, Geoff Johns ou Mark Waid. Já quanto ao desenho, também são inúmeros os ilustradores que colaboram nas histórias deste volume, sendo que é Andy Kubert o autor que mais se destaca neste livro, quer em qualidade, quer em quantidade, revelando um desenho dinâmico e exímio na caracterização das personagens, da cidade e dos eventos de ação. O seu desenho consegue equilibrar um tom sombrio e realista com momentos mais surreais e estilizados, que se tornam cada vez mais presentes ao longo da saga. Kubert também é hábil ao retratar expressões e movimentações, o que contribui para a carga emocional e para a fluidez da ação. 

Se Andy Kubert é a "estrela da ilustração" neste livro, o trabalho de John Van Fleet chega a ser - e digo-o naturalmente com todo o respeito que tenho pelo autor - risível. É possível que estas ilustrações, feitas em 3D digital, pudessem parecer apelativas no ano em que foram criadas (2007) - e, mesmo assim, tenho as minhas dúvidas quanto a isso - mas, hoje em dia, em 2025, parecem extremamente mal feitas e mal renderizadas. Estão a ver quando jogam um videojogo de 2001 que na altura até parecia ter bons gráficos, mas que hoje em dia parece cómico e obsoleto? É essa a sensação que a história O Palhaço à Meia-Noite nos dá. A própria história que aqui encontramos não é uma banda desenhada, mas um texto em prosa ilustrado - pesado e poético, mas bom, embora talvez denso em demasia - e que depois é parcamente ilustrado pelas ilustrações de John Van Fleet. Não consegue ser aceitável, desculpem.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
A edição da Devir é especialmente cuidada, com o objeto-livro a ser muito apetecível. Apresenta capa dura baça, com elegantes detalhes a verniz. A encadernação e impressão são de excelente qualidade, tal como é o papel brilhante utilizado no miolo do livro. Há ainda um prefácio da autoria de Mike Marts que funciona como uma boa introdução à obra. A editora portuguesa também merece uma nota de louvor pela aposta em trazer para Portugal uma "subsérie" dentro da própria série de Batman - se é que assim lhe podemos chamar - que é aclamada por fãs e crítica e que é indiscutivelmente uma mais-valia para quem aprecia o Cavaleiro das Trevas.

Em suma, Batman de Grant Morrison - Volume Um é uma leitura instigante, ambiciosa e muitas vezes brilhante, que inaugura uma das fases mais criativas e reverenciadas do Cavaleiro das Trevas. Morrison respeita o legado de Batman, mas também desafia as suas convenções, oferecendo ao leitor uma nova forma de ver Bruce Wayne: como uma figura mítica que atravessa o tempo, a lógica e a realidade. Este primeiro volume, embora desiquilibrado em vários momentos, é apenas o começo de uma jornada complexa e provocativa que redefine o que significa ser o Batman.


NOTA FINAL (1/10):
7.0




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir

Ficha técnica
Batman - Volume 1
Autor: Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet
Editora: Devir
Páginas: 172, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Maio de 2025

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Análise: A Bela Casa do Lago #1

A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno - Devir

A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno - Devir
A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno

Entre as várias obras lançadas pela Devir, desde que a editora passou a ter os direitos de publicação para a DC Comics em Portugal, foi recentemente editado este A Bela Casa do Lago, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno. Este é o primeiro de dois volumes que compõem um ciclo "fechado" da série, embora haja um segundo ciclo que pega na história como a mesma é deixada no final do segundo volume.

A Bela Casa do Lago apresenta-se como uma narrativa misteriosa e inquietante, com um ponto de partida muito interessante. A história centra-se num grupo de amigos que, convidados por um misterioso anfitrião para passar férias numa casa de luxo isolada à beira de um lago, veem-se rapidamente envolvidos numa situação insólita e aterradora. Inicialmente, tudo parece ser uma típica reunião de velhos conhecidos, mas rapidamente se transforma num jogo psicológico marcado por revelações perturbadoras e um clima de desconfiança crescente, que levanta muitas dúvidas e poucas respostas. A premissa pode até não ser inteiramente original, pois este tipo de histórias de isolamento e catástrofes à escala global já são terreno conhecido, mas é excetuada por James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno com um tom de thriller psicológico que agarra o leitor desde o primeiro momento. Admito que rapidamente fiquei cativado.

A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno - Devir
O argumentista Tynion IV apresenta-nos uma série de perguntas que mantêm o mistério vivo. Quem é realmente este anfitrião? O que está a acontecer no mundo lá fora? Qual o verdadeiro propósito daquela reunião? Este jogo de adivinhação constante dá ritmo à narrativa e garante um envolvimento emocional imediato com as personagens cujo passado nos vai sendo desvendado através do recurso a flashbacks. Contudo, é também aqui que surgem as minhas primeiras dúvidas em relação à obra... é que apesar de existirem na mesma momentos muito fortes, com cliffhangers eficazes e cenas visualmente poderosas, a história por vezes oscila em termos de coerência e fluidez. 

Com efeito, há uma certa dualidade na forma como a narrativa é conduzida. Em alguns momentos, o enredo apresenta desenvolvimentos ousados e criativos, gerando verdadeiro impacto emocional. Noutras ocasiões, no entanto, parece recorrer a soluções algo forçadas, que soam artificiais e menos inspiradas. Já para não falar que certas atitudes de algumas personagens seriam pouco verosímeis numa situação como aquela que nos é dada. Esta oscilação dificulta uma leitura completamente fluida, criando uma sensação de que o livro ainda está a encontrar o seu tom ideal. Isso não retira mérito à obra, mas coloca-a numa posição ambígua: ainda pode revelar-se uma obra-prima… ou perder-se na sua própria ambição. Espero que aconteça a primeira opção.

A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno - Devir
Mas, enfim, por estes motivos que aponto, acaba por ser difícil e prematuro formular uma opinião definitiva sobre A Bela Casa do Lago. Há muito potencial, sim, mas também há o risco de alguma dispersão em termos de enredo. E só a leitura do próximo volume da série poderá resolver as pontas soltas remanescentes da leitura deste primeiro número.

No que toca à componente visual, o trabalho de Álvaro Martínez Bueno é, sem dúvida, um dos maiores trunfos da obra. Os seus desenhos são evocativos, ricos em detalhe, e dotados de uma atmosfera muito própria. Há um equilíbrio entre modernidade e um certo classicismo no traço, o que ajuda a acentuar tanto os momentos de introspeção como os de tensão. O estilo gráfico é muito personalizado e ousado, com composições que potenciam a imersão no espaço narrativo da casa, do lago, e do mundo suspenso em que tudo acontece.

A forma como o "terror" é representado visualmente é também digna de nota. Não se trata de um terror explícito ou gratuito, mas antes de um desconforto subtil e crescente, que é construído com grande sensibilidade artística. É um terror mais psicológico do que visual, mas que se torna marcante justamente por isso - e fica na memória do leitor.

A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno - Devir
Também a planificação, bastante inventiva e original, é um ponto alto da obra. É frequente que a ordem das vinhetas ou a sua disposição nos surpreendam ao longo da leitura. 

A paleta de cores, a cargo de Jordi Bellaire, complementa o trabalho gráfico com grande eficácia. As cores são bem escolhidas, variando entre tons suaves e tons mais sombrios conforme o ambiente o exige. Há uma lógica cromática que contribui para a ambientação e para o ritmo da narrativa, ajudando a enfatizar contrastes emocionais. 

Contudo, nem tudo é perfeito do ponto de vista visual. Um dos problemas que senti durante a leitura foi a dificuldade em identificar, de forma imediata, algumas das personagens. Por vezes, os rostos ou os traços distintivos não são suficientemente diferenciados, o que leva a alguma confusão nas interações. Isso pode comprometer um pouco a fluidez da leitura, já que se perde tempo a tentar perceber "quem é quem" em determinadas cenas - e isso afeta o ritmo, principalmente numa história que depende tanto das relações entre os protagonistas.

Em termos de edição, a Devir faz aqui um bom trabalho com o livro a apresentar capa dura baça, papel brilhante no interior, e uma boa encadernação e impressão.

No seu conjunto, A Bela Casa do Lago #1 é uma obra com muito potencial, tanto narrativo quanto visual. O universo criado por Tynion IV é intrigante e oferece muito espaço para crescer, mas este volume inicial ainda não permite uma avaliação definitiva. As fundações estão lançadas e há momentos verdadeiramente impactantes, mas também algumas fragilidades que podem - ou não - ser ultrapassadas e/ou corrigidas no volume seguinte. Neste momento, é uma leitura recomendável, mas com a expectativa suspensa, por isso, resta-nos ver para onde nos leva esta viagem. Se a promessa inicial for cumprida, poderemos estar perante uma obra relevante e memorável no panorama da BD contemporânea. Se, por outro lado, a história se perder nas suas próprias complexidades ou deixar de sustentar a tensão que construiu, poderá acabar por ser apenas mais uma boa ideia mal explorada. Por agora, ficamos com um thriller intrigante, visualmente deslumbrante, e à espera de respostas.


NOTA FINAL (1/10):
7.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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A Bela Casa do Lago #1, de James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno - Devir

Ficha técnica
A Bela Casa do Lago #1
Autores: James Tynion IV e Álvaro Martínez Bueno
Editora: Devir
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Abril de 2025

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Devir lança nova BD de Junji Ito!


A editora Devir acaba de lançar mais uma obra de Junji Ito! 

A grande diferença entre esta e outras das obras do mestre do terror em mangá é que, neste caso, estamos perante uma história que é de terror, sim, mas que também está impregnada de humor.

Relembro que a mesma Devir já editou obras do mesmo autor, como Tomie, Uzumaki ou a Coleção de Contos Junji Ito. Outras editoras, por sua vez, como a Presença ou a Sendai, também editaram recentemente outras obras do autor japonês. 

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora sobre este Soichi e com algumas imagens promocionais da obra.

Soichi 01: As Maldições Inconvenientes, de Junji Ito
Depois do sucesso esmagador de Uzumaki, a DEVIR continua explorar o universo único do mestre do terror japonês Junji Ito com Soichi 01: As Maldições Inconvenientes. Neste volume, Junji Ito revela-nos uma faceta mais absurda e mordaz da sua obra, onde o horror sobrenatural se cruza com o humor negro e o quotidiano mais bizarro.

Professores feitos de pano, bonecos de palha pregados às árvores e outros estranhos acidentes acontecem numa pequena cidade do interior. Na mesma cidade onde mora Soichi, um rapaz impertinente que não parece ser alheio às situações inesperadas e misteriosas que se passam em seu redor.

Soichi é um jovem franzino, excêntrico e obcecado por maldições, feitiços e pregos - muitos pregos. As histórias, curtas e interligadas, mostram-nos os seus rituais delirantes e a forma como perturba vizinhos, colegas e até a própria família. Tudo isto com um tom inquietante, mas também surpreendentemente cómico.

A personagem já foi adaptada para televisão em várias ocasiões, com destaque para a série Junji Ito Collection (2018) e Junji Ito Maniac: Japanese Tales of the Macabre (Netflix, 2023), onde ganhou episódios dedicados exclusivamente às suas histórias mais peculiares.

Com ilustrações hiper detalhadas, rostos distorcidos e ambientes claustrofóbicos, Soichi 01 mergulha-nos num pesadelo deliciosamente desconfortável — e é mais uma prova do génio estético e existencial de Junji Ito.

Uma leitura imperdível para fãs de terror, mangá e tudo o que habita entre o riso nervoso e o arrepio.


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Ficha técnica
Soichi 01: As Maldições Inconvenientes
Autor: Junji Ito
Editora: Devir
Páginas: 414, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 14,8 x 21 cm
PVP: 20,00€

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Devir lança mangá que conta a história recente do Japão!



Já está disponível uma das grandes apostas da editora Devir para este ano que dá pelo nome de Showa - Uma história do Japão e que é da autoria do autor  Shigeru Mizuki!

Este mangá histórico - e destinado a um público transversal - é uma obra em 4 volumes. Este primeiro número, que chega agora às livrarias, conta com mais de 500 páginas!

O que é mais interessante é que, além de narrar a história contemporânea do Japão, a obra também permite uma perspetiva bastante pessoal e autoral, ao ter uma abordagem autobiográfica.

Eis um livro que merece todas as atenções e mais algumas!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Showa - Uma história do Japão (1926-1939) #1, de Shigeru Mizuki

A Era Showa, que foi dos mais turbulentos e transformadores períodos da história do Japão, teve início em 1926 e durou até ao final do séc. XX.

Nesta obra em quatro volumes, Shigeru Mizuki usa a sua própria vida como pano de fundo para relatar os acontecimentos políticos e sociais da época. Através de uma perspectiva intimista e original, o autor explora como os eventos históricos afetaram a população japonesa, os efeitos devastadores da II Grande Guerra, a ocupação americana e a transformação económica e social que moldaram o Japão moderno.

Showa é mais do que uma biografia ou um simples relato histórico. É uma reflexão profunda sobre o Japão, relevante para todos os interessados na história do país, contada de uma forma visualmente impactante e emocionalmente rica, por um dos maiores mangaká contemporâneos.

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Ficha técnica
Showa - Uma história do Japão (1926-1939) #1
Autor: Shigeru Mizuki
Editora: Devir
Páginas: 528, a cores e a preto e branco
Encadernação: Capa mole com sobrecapa
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 30,00€

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Análise: Estes Dias que Desaparecem

Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher - Devir

Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher - Devir
Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher

Estes Dias Que Desaparecem, de Timothé Le Boucher, é uma das mais recentes apostas da Devir que, diga-se, tem editado em 2025 um eclético conjunto de boas obras de banda desenhada! 

Estes Dias Que Desaparecem é uma obra que se destaca desde as primeiras páginas pela força da sua premissa. A ideia central - um jovem que, subitamente, começa a perder a consciência em dias alternados e a dar-se conta de que a sua vida está a ser vivida por uma outra versão de si mesmo - é ao mesmo tempo intrigante e perturbadora. Trata-se de um conceito que facilmente poderia ter descambado em artifícios narrativos vazios, em abordagens mais fantásticas ou em enigmas sem resolução, mas o autor consegue evitá-lo com mestria.

A história acompanha Lubin Maréchal, um jovem acrobata que, após um estranho episódio de perda de consciência, descobre que está a viver apenas um dia em cada dois. Ou seja, vive um dia e dorme as 24 horas seguintes. O problema é que, durante essas 24 horas seguintes, há um outro Lubin, uma outra versão de si mesmo, que vive por ele. Nos dias em que não está "presente", o seu corpo é habitado por uma outra personalidade - uma versão alternativa de si próprio, com desejos, vontades e uma vida que rapidamente começa a divergir da sua. Este conflito interno e existencial torna-se o motor de uma narrativa que não se limita ao mistério, mas que se alarga ao drama psicológico e à reflexão sobre identidade, dupla personalidade e saúde mental.

Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher - Devir
A grande virtude do livro é, de facto, saber sustentar a tensão da sua premissa sem se perder nela. É frequente para mim encontrar obras com ideias iniciais muito fortes e interessantes, que depois se desmoronam ao longo da execução - seja por excesso de ambição, seja por incapacidade de dar corpo à ideia sem recorrer a atalhos narrativos, seja por não se saber fechar bem a história procurando muitas vezes uma apoteose. Nem sempre é necessário uma apoteose, diria eu. 

Timothé Le Boucher, pelo contrário, revela uma grande contenção e uma notável capacidade de gestão narrativa. O livro avança com ritmo, desenvolve bem os dilemas das duas versões de Lubin e mantém o leitor emocionalmente envolvido até ao final. Às tantas, já dava por mim a pensar: "mas o que será que vai acontecer com esta história e com esta personagem?". E isso, o não óbvio, é uma sensação sempre boa.

À medida que a história progride, o conflito entre os dois "eus" de Lubin torna-se mais tenso e desigual. Um deles tenta preservar a sua identidade e a sua vida, enquanto o outro, mais assertivo e instintivo, começa a tomar decisões irreversíveis. Esta dualidade entre os dois "eus" de Lubin é explorada com inteligência, servindo como uma poderosa metáfora para o descontrolo, a ansiedade da juventude e as possibilidades não vividas. Mais do que uma trama de suspense, o livro é também um retrato melancólico sobre a perda de si mesmo, dando-nos pano para mangas para refletirmos naquilo que somos, naquilo que poderíamos ser e na irrevogável passagem do tempo ou potencial perda de todas as faculdades mentais que julgamos ter no tempo presente.

Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher - Devir
Se, do ponto de vista narrativo, o livro é sólido, coeso e, em última instância, satisfatório, o mesmo já não se pode dizer da sua componente visual. Apesar de recorrer a uma estética claramente inspirada no mangá - nomeadamente na forma como as emoções são expressas através dos rostos e da linguagem corporal das personagens -, o resultado é um pouco insípido. Os cenários, em particular, revelam-se frequentemente despidos, pouco trabalhados e com um nível de detalhe abaixo do que seria desejável numa história tão rica em potencial dramático e simbólico.

Essa simplicidade gráfica poderia até ser encarada como uma escolha estilística consciente, com o objetivo de focar a atenção nas personagens e no seu drama interno. Contudo, a execução raramente ultrapassa o funcional, e há momentos em que se sente que o ambiente gráfico poderia fazer muito mais para reforçar o impacto emocional da narrativa. Falta densidade, textura, camadas - algo que complemente visualmente o que está tão bem conseguido no plano narrativo.

Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher - Devir
A utilização de um desenho com influências na estética oriunda do estilo mangá é, ainda assim, um ponto interessante, pois ajuda a conferir dinamismo às expressões e aproxima a leitura de um público mais jovem, habituado a esse tipo de traço. Além disso, serve bem o registo emocional da história, que frequentemente exige expressões de pânico, frustração, confusão ou euforia. A expressividade das personagens está bem captada, e isso contribui para a empatia com os protagonistas, mesmo quando o resto do cenário gráfico fica aquém.

Voltando ainda à história, outro aspeto que merece ser elogiado neste Estes Dias Que Desaparecem é a forma como Timothé Le Boucher evita dar respostas fáceis. O final do livro mantém uma certa ambiguidade, não no sentido de deixar pontas soltas, mas no de respeitar a complexidade emocional da história. Não há reviravoltas gratuitas nem moralismos, apenas a inevitável evolução das consequências de viver metade da vida ou, pior, de ver outra versão de nós mesmos viver a vida que julgávamos ser nossa.

A edição da editora Devir é boa, apresentando capa dura baça e bom papel baço no interior do livro. A impressão e e encadernação também são boas. Mas mais do que isso, importa para mim realçar o facto da editora ter apostado numa obra europeia relativamente recente e diferente das suas outras propostas. o que acrescenta qualidade e diversidade ao catálogo da editora.

Em conclusão, Estes Dias Que Desaparecem é uma leitura refrescante e original. Consegue pegar numa ideia ousada e desenvolver um enredo envolvente, maduro e coerente. Mesmo que o desenho não acompanhe plenamente a qualidade do argumento, o livro impõe-se como uma proposta verdadeiramente  interessante da banda desenhada europeia contemporânea. É uma prova de que, quando bem tratadas, as boas ideias não se perdem: ganham profundidade, intensidade e permanência. Recomenda-se!


NOTA FINAL (1/10):
9.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Estes Dias que Desaparecem, de Timothé Le Boucher - Devir

Ficha técnica
Estes Dias que Desaparecem
Autor: Timothé Le Boucher
Editora: Devir
Páginas: 192, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Maio de 2025