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terça-feira, 16 de julho de 2024

Análise: A Norte de Sul Nenhum

A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita

A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita
A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas

Foi ainda no último Coimbra BD que João Mascarenhas voltou a lançar um novo livro, intitulado A Norte de Sul Nenhum. Depois da biografia em banda desenhada de Adriano Correia de Oliveira, intitulada O Perigoso Pacifista, e de uma incursão na banda desenhada humorística, com Burpszila, João Mascarenhas regressa à banda desenhada, desta vez com uma obra de cariz poético que convida à reflexão.

Este trabalho é feito com base nos (ou impulsionado pelos) poemas do poeta algarvio Fernando Cabrita. Se bem que, com esse mote presente, João Mascarenhas acabou por traçar a sua própria história.

A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita
Falando na história, esta acompanha o percurso de Khalid, um refugiado de guerra que procura guarida no sul de Portugal, mais concretamente na cidade algarvia de Olhão. Aí, Khalid encontra uma felicidade e uma subsistência que advêm da música que sai do seu alaúde, e das rosas que cultiva e das quais faz perfumes que passa a vender aos habitantes locais. É em Olhão que encontra também um amigo, João, que tem em comum com Khalid duas coisas: o facto de também ele ter fugido para outro país, neste caso França, para fugir a uma guerra (a Colonial) e o facto de também ser músico. Juntos unem esforços e passam a tocar juntos, num estilo de música em que o alaúde e a guitarra portuguesa partilham melodias.

Se a história é de redenção, também traz consigo uma certa tristeza nostálgica pelos amores que ficam pelo caminho e pela sensação de vazio que isso gera. Mesmo que um refugiado encontre a felicidade longe da sua terra, haverá sempre na sua vida uma certa sensação de "plano B", de algo que funcionou como um corretivo, como um escape. E escapar à realidade desavinda é sempre o primordial intuito de um refugiado, já se sabe. Ou dever-se-ia saber. Vão-se sucedendo, portanto, diálogos muito profundos entre João e Khalid que nos fazem parar um pouco para pensar e para refletir. O texto é maduro e bastante inspirado(r).

A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita
Esta é uma obra que, mais que contar uma história - no seu sentido mais clássico - nos convida a uma reflexão, a uma espécie de encantamento que tem no belo texto profundo do autor uma âncora, e nas imagens uma embarcação, que permitem que A Norte de Sul Nenhum, apesar do título, chegue a bom porto. É um tipo de banda desenhada contemplativa que, nos dias atuais, não é muito frequente nos lançamentos de banda desenhada portuguesa. E, também por isso, parece reclamar para si um lugar e uma pertinência que é bem-vinda.

Falando ainda no cariz poético da obra, devo até dizer - e, logicamente, com todo o respeito pela obra de Fernando Cabrita - que fiquei especialmente entusiasmado e bem impressionado pelo texto de João Mascarenhas que, sendo em prosa, consegue uma ímpar poesia. Por vezes, sente-se que o texto de Fernando Cabrita, em caixas de texto da cor verde, acaba por ser mais abstrato e, por isso, frio, do que o próprio texto de Mascarenhas, onde a força das palavras atinge mais facilmente o leitor. Quem conhece pessoalmente João Mascarenhas - como é o meu caso - pode dizer com propriedade que o autor, com toda a sua gentileza e uma certa nobreza e classe na postura, está bem presente nas palavras e reflexões que nos vão sendo dadas ao longo desta leitura. Ou seja, e dito por outras palavras, sente-se muito a alma de João Mascarenhas neste livro.

A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita
O relato é ainda pautado por várias referências onde até Tintin, Milu e o Capitão Haddock fazem uma curiosa aparição.

Quanto às ilustrações, João Mascarenhas tem o dom de bem nos mergulhar nas ruas olhanenses e de nos oferecer duas personagens com aparência carismática. Os desenhos numa bicromia onde imperam os tons a preto e os tons amarelos esverdeados - ou serão verdes amarelados? - assumem uma estética por vezes mais abstrata e contemplativa que se coaduna bem no pendor poético da obra. 

Por vezes, senti uma certa ausência de continuidade nas ilustrações do autor, já que acontece que logo a seguir a um desenho especialmente belo, possamos encontrar um outro que parece ter sido feito com menos primor e detalhe.

Não obstante, merecem um nota positiva os vários pormenores visuais que embelezam as páginas deste livro, como os frisos arabescos no final de cada prancha ou os belos desenhos das portas que, nas guardas do livro, nos convidam a mergulhar nele. A própria capa do livro, pela sua originalidade de fazer interagir elementos da cultura portuguesa e da cultura arábica, consegue ser bastante intrigante e chamativa.

A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita

A edição da editora A Seita está bastante bem conseguida. O livro tem capa dura baça e no interior apresenta bom papel baço e um bom trabalho a nível da impressão e da encadernação. Além disso, traz uma nota introdutória assinada por Fernando Cabrita e, no final, alguns textos do próprio João Mascarenhas, onde o autor nos revela o porquê desta obra, o porquê da cidade de Olhão, o porquê dos alaúdes e mais alguns porquês. Vê-se que é uma edição que recebeu cuidado e carinho por parte dos autores/editores.

Nota ainda - de admiração e de louvor - para o cariz solidário que os autores imprimiram à obra, ao abdicarem do valor dos direitos de autor das vendas, de forma a que essa verba seja entregue a uma associação de apoio aos refugiados. Não só o valor  - maior ou menor - que possa ser amealhado é sempre algo positivo para quem dele possa vir a beneficiar, como este tipo de postura nobre dos autores chama a atenção para o tema da obra, sensibilizando o público. A banda desenhada (também) pode ter um papel ativo na ação social. Os meus aplausos, portanto!

Em suma, A Norte de Sul Nenhum parece ser diferente de tudo aquilo que se publica em termos de banda desenhada nacional e traz-nos um João Mascarenhas inspirado, maduro e reflexivo e, com tudo isso somado, dá-nos um dos melhores trabalhos do veterano autor português.


NOTA FINAL (1/10):
8.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Norte de Sul Nenhum, de Fernando Cabrita e João Mascarenhas - A Seita

Ficha técnica
A Norte de Sul Nenhum
Autor: João Mascarenhas, a partir dos poemas de Fernando Cabrita
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 205 x 270 mm
PVP: 13,90€



terça-feira, 21 de maio de 2024

João Mascarenhas lança nova BD solidária!



O veterano autor João Mascarenhas (autor de O Perigoso Pacifista ou de O Menino Triste) acaba de lançar um novo álbum de BD pela editora A Seita que se intitula A Norte de Sul Nenhum e que é feito a partir dos poemas de Fernando Cabrita.

Se é uma boa notícia ver João Mascarenhas ativo e a voltar ao lançamento de BD, outra coisa que, quanto a mim, merece especial louvor, é o cariz solidário com que esta obra é lançada, já que o valor dos direitos de autor será totalmente entregue a uma associação de apoio aos refugiados - já que a história do livro versa sobre um refugiado de guerra.

Não é algo que veja a acontecer muitas vezes no mercado nacional, portanto envio daqui uma vénia a João Mascarenhas que, através da sua arte e da sua criação, dá um passo ativo numa causa social.

A Norte de Sul Nenhum chegou às livrarias no fim de semana passado.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais da mesma.


A Norte de Sul Nenhum, de João Mascarenhas

Khalid, um refugiado de guerra, encontrou alguma felicidade através da sua poesia, da música que toca no seu alaúde, e das rosas que cultiva, das quais retira essências para fazer perfumes e outros encantos que vende na cidade onde passou a viver, no Sul de Portugal. Estando longe da mulher que ama, tenta viver das memórias e dos prazeres que partilha com João, alguém que também fugiu aos horrores da guerra colonial.

Depois de O Perigoso Pacifista, João Mascarenhas volta a juntar a música e a banda desenhada numa história que parte dos poemas de Fernando Cabrita para abordar o drama dos refugiados. Os direitos de autor desta edição serão entregues pelos autores a uma Associação de apoio aos refugiados.

“A Norte de Sul Nenhum é uma banda desenhada onde se espelham algumas misérias do tempo presente. Em Khalid, concentra-se o drama do migrante, o destino que se recusa, o sonho de uma outra vida. É em Portugal onde a vai encontrar, num outro Sul tornado refúgio, e onde o músico, poeta e perfumista árabe se cruza com um migrante português de outros tempos, de outras fugas, de outros sonhos. João Mascarenhas, autor de banda desenhada, aliou-se a um dos mais emblemáticos poetas algarvios, Fernando Cabrita, para nos trazer uma quase poesia em banda desenhada.”
Paulo Dentinho (jornalista da RTP)

João Mascarenhas é autor e divulgador premiado de BD e ilustração. A sua personagem (e alter ego) O Menino Triste é publicada desde 2001, contando já com 4 álbuns. 

Tem sido exposto em vários continentes, participou em inúmeros projectos e editou vários fanzines, o mais conhecido dos quais é o BDLP, que reúne autores dos países da CPLP, e que venceu o Prémio Nacional de BD do Festival Internacional Amadora BD 2013 na categoria de Melhor Fanzine, e o Troféu HQ MIX 2014, no Brasil, na categoria Destaque da Língua Portuguesa. 

O Perigoso Pacifista, uma biografia do cantor Adriano Correia de Oliveira, é o seu mais recente trabalho em BD (ed. A Seita).

Fernando Cabrita é um advogado e escritor algarvio, que entre poesia, crítica literária e ensaio, já tem publicados cerca de cinquenta títulos em Portugal e em muitos outros países, com obra traduzida para castelhano, francês, russo, polaco e turco, e com poemas publicados em revistas literárias, blogues, antologias e colectâneas do mundo inteiro. A sua obra poética recolheu já numerosos prémios literários, entre os quais se destacam o Prémio Nacional de Poesia Mário Viegas em 2008, e o Prémio Internacional de Poesia Palabra Ibérica em 2011, e muito recentemente, em Outubro de 2023, o Prémio de Poesia da Lusofonia Prof. Adriano Moreira. A sua poesia foi musicada pela cantora Viviane, pelos Entre Aspas e pelo Projecto Camaleão Azul. De 2015 a 2022 foi o organizador do Festival Internacional Poesia a Sul.

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Ficha técnica
A Norte de Sul Nenhum
Autor: João Mascarenhas, a partir dos poemas de Fernando Cabrita
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 205 x 270 mm
PVP: 13,90€

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Escorpião Azul lança novo livro de João Mascarenhas!


Foi na segunda semana do Amadora BD que a Escorpião Azul lançou o novo livro de João Mascarenhas e Luís Graça, intitulado Burpszila.

Trata-se de um livro de humor que já pode ser encontrado nas livrarias de bairro e especializadas.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra.

Burpszila, de Luís Graça e João Mascarenhas

Um ser intergaláctico cai, por acidente e devido a uma avaria na sua nave, no planeta Terra, mais precisamente, em Portugal.

Tentando interagir com a cultura local, vai coleccionando uma série de mal-entendidos, dado não compreender bem alguns dos hábitos do povo autóctone.

Isto tudo enquanto espera pela assistência intergaláctica da sua nave.


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Ficha técnica
Burpszila
Autores: Luís Graça e João Mascarenhas
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 56, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 24 x 17cm (italiano)
PVP: 13,50€

terça-feira, 23 de maio de 2023

Exposição de BD de Penim Loureiro e João Mascarenhas inaugura amanhã!



Arranca amanhã, no ISEL, a exposição "Banda Desenhada no ISEL" dos docentes, e autores de banda desenhada, Penim Loureiro e João Mascarenhas.

Amanhã, 24 de Maio, pelas 17h, ocorrerá a sessão de abertura.

Não deixem de aparecer!

Mais abaixo, deixo-vos a informação oficial veiculada pela Organização.

Exposição - Banda Desenhada no ISEL

No dia 24 de maio, pelas 10h30 , será inaugurada no átrio principal do ISEL a exposição "Banda Desenhada no ISEL" dos docentes do ISEL Penim Loureiro e João Mascarenhas.

O evento é promovido pelo grupo World Action ISEL (WAI).

Programa:
24 maio 10h30 (4ª feira): Abertura da Feira do livro de banda desenhada no ISEL, átrio central-Edifício P;
24 maio 15h00 (4ª feira): Inauguração da exposição Banda Desenhada no ISEL. Conversa informal com os autores João Mascarenhas e Penim Loureiro. Visita guiada pela exposição;
25 maio 17h00 (5ª feira): Visita guiada pela exposição pelos os autores;

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Análise: O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita
O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas

A editora A Seita, em parceria com o Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira, lançou recentemente O Perigoso Pacifistauma biografia em banda desenhada da vida de Adriano Correia de Oliveira. Este trabalho marca o regresso de João Mascarenhas ao lançamento de banda desenhada e assinala a estreia de Paulo Vaz de Carvalho, como argumentista de bd.

Adriano Correia de Oliveira foi um músico de sobeja importância para Portugal. Não só ao nível cultural, através da sua música, como também ao nível político. Até porque, especialmente no final do Estado Novo, qualquer ímpeto político ver-se forçado, pelas condições impostas, a ter que se mascarar de ímpeto cultural e artístico. 

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita
Assim, desde a sua tenra infância em Avintes, até aos tempos de estudante ativista na Universidade de Coimbra, passando pela sua afirmação e desenvolvimento enquanto músico de craveira, O Perigoso Pacifista procura dar ao leitor um quadro geral da vida de Adriano. Tudo de uma forma bastante despretensiosa, que aprecei, e com vários momentos divertidos, em que nos aproximamos tanto do artista como da pessoa que foi Adriano. E de como o mesmo era profundamente estimado por todos aqueles músicos e autores com que conviveu. Falo de José Niza, José Cid, Almada Negreiros, Zeca Afonso, Vitorino, Fausto, Carlos Alberto Moniz, Carlos Paredes e tantos outros nomes relevantes, não só do mundo universitário coimbrense da época, como da moderna cultura portuguesa. E isso é de uma relevância inestimável que, em boa hora, o lançamento deste livro recupera.

A história da vida de Adriano Correia de Oliveira é-nos dada em breves episódios que procuram ser um breve vislumbre para a pessoa – e músico – que foi Adriano. Desta forma, a leitura acaba por ser fácil e acessível, embora pouco profunda, a meu ver. E creio que a divisão da história por episódios poderia ter sido feita de forma mais estanque. Explico: quando falava com o simpatiquíssimo João Mascarenhas a propósito deste livro, o autor fez referência ao facto de a história ser contada por episódios, mais ou menos, independentes entre si. Até referiu os livros do Gaston Lagaffe como exemplo. Mas, num Gaston Lagaffe, os episódios – ou capítulos, ou pranchas, ou "gafes", conforme lhes quisermos chamar – são-nos apresentados de forma estanque. Quase sempre têm a dimensão de uma prancha e há um princípio, meio e fim. São mini-histórias, vá. Isso não acontece em O Perigoso Pacifista. Neste caso, a história, mesmo estando dividida por pequenos capítulos na vida do músico português, apresenta-se como um todo. O que faz, a meu ver, com que a experiência acabe por ficar a meio caminho entre ser uma história completa e ser uma história dividia em pequenos episódios. É que, como história completa, parece-me, que, narrativamente falando, não consegue encaixar em si mesma os vários episódios de uma forma tão fluída assim, ficando, no fim, demasiado compartimentada. Por outro lado, também não adota o género do Gaston Lagaffe (e de tantas outras bandas desenhadas) em que se opta, intencionalmente, por apresentar capítulos independentes entre si.

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita
Diria que esta será mesmo a minha crítica menos positiva ao livro, pois este meio-termo torna o argumento demasiado compartimentado e menos coeso, do ponto de vista narrativo. Exemplificando o que acabo de escrever, é comum que nos seja apresentada uma cena da vida de Adriano e que, logo a seguir, passemos para outra cena, noutro tempo e noutro lugar, e que sintamos que a cena anterior não ficou convenientemente fechada. Paulo Vaz de Carvalho serve-se bastante das legendas temporais para tentar dar-nos uma sensação de continuidade, mas nem sempre isso é usado da melhor forma, quanto a mim. Por exemplo, na página 17, na primeira vinheta temos uma legenda que nos diz “De volta a casa…” e, logo na vinheta seguinte, temos a legenda “tempos depois”. Ou seja, apenas nos é dada uma vinheta para apresentar um evento e logo estamos a saltitar para outro tempo e para outro lugar. No entanto, também são vários os eventos que ocupam várias páginas. Há, portanto, uma noção de tempo e de ritmo muito aleatória.

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita
Olhando para as ilustrações de João Mascarenhas, tenho que dizer que são inúmeros os belos momentos que as mesmas me proporcionaram. O autor é detentor de um estilo de ilustração muito heterogéneo e carregado de diferentes soluções gráficas, que é difícil definir e/ou catalogar. Parece que há espaço para tudo! Por momentos, temos um Adriano bebé completamente "abonecado" em termos de ilustração, noutros momentos temos uma fantástica ilustração citadina, num estilo mais realista. Em certos casos temos um plano das personagens numa perspetiva arriscada, noutros casos temos o desenho meio disforme dos edifícios da cidade, que me remetem para Gaudí, e, noutros casos ainda, somos brindados com uma perseguição policial a relembrar Frank Miller em Sin City! E tudo isto num livro com meras 56 páginas! Numas vezes o seu desenho é muito adulto, noutras vezes parece muito imberbe. 

Há, portanto, toda uma dicotomia latente na arte de João Mascarenhas que, possivelmente, também deixará em dois pólos diferentes as opiniões dos leitores. Uns adorarão e outros, nem tanto assim. No meu caso, devo dizer que, sendo verdade que, em alguns desenhos, admito que gostaria de ver um traço mais cuidado nas expressões e linguagem corporal das personagens - bem como na noção de movimento das mesmas -, por outro lado, também admito que fico rendido perante muitas e muitas ilustrações com que o autor nos brinda. Há toda uma poesia e uma musicalidade – que fica sublinhada pela inclusão de elementos gráficos que navegam em segundo plano pelas vinhetas – que muito me atraiu em O Perigoso Pacifista. Portanto, não achando que o trabalho do autor é perfeito, acho que me posso assumir como fã da originalidade e ecletismo dos seus desenhos.

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita
Nota positiva, também, para a forma como o autor conseguiu desenhar de forma facilmente percetível tantas figuras conhecidas. Todas elas são automaticamente reconhecíveis. O que até, sendo algo bom, me leva a uma consideração: é que, se me posso queixar de algo, concretamente n’O Perigoso Pacifista é que, por vezes, me fez uma certa confusão que o estilo de ilustração mais realista das personagens secundárias fosse tão díspar do desenho - mais caricatural - da personagem de Adriano. Quando as mesmas convivem na mesma vinheta, admito que achei que ficava uma experiência pouco natural.

Julgo que uma grande palavra de apreço tem que ser dada à forma como este livro foi lançado. Não só a edição do livro, em si, apresenta a qualidade a que A Seita já nos tem habituado recentemente, como capa dura baça, bom papel mate, boa impressão e boa encadernação, como o livro vem complementado com belos extras que ajudam a que esta obra consiga ter uma relevância verdadeiramente biográfica e com um cariz de documento histórico, também. Assim, temos, no final do livro, um conjunto de notas breves sobre cada uma das personagens que marcaram presença na vida de Adriano Correia de Oliveira. Temos ainda um prefácio de duas páginas escrito por José Barata-Moura, três páginas dedicadas à biografia – em prosa – do músico e uma página que lista a discografia completa de Adriano. 

O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita
Se a informação já estava bem trabalhada, toda esta edição sai a ganhar com a inclusão de um cd com sete dos maiores êxitos do músico português, nomeadamente, as canções Minha Mãe, Trova do Vento que Passa, Cantar de Emigração, Canção com Lágrimas, E Alegre se Fez Triste, Tejo que Levas as Águas e Vira Velho. Acho que foi uma cartada de mestre por parte d’A Seita e do Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira. Se estamos a ler a biografia em BD de um importante músico português, porque não termos também o acesso a músicas do mesmo? Aplaudo incansavelmente esta ideia. E acho até que faz com que o produto possa almejar públicos maiores: não só o "público da bd" pode passar a ser "público da música", por ter acesso ao cd num livro que compra para ler; como o "público da música" pode igualmente passar a ser "público da bd", por ter acesso a uma banda desenhada num cd que compra em primeira instância para ouvir. E faço ainda uma ressalva: há muito que a música de Adriano Correia de Oliveira não era lançada em cd, o que ainda dá mais relevância a esta bela iniciativa de lançar como bónus do livro, este cd de Adriano Correia de Oliveira.

Em suma, O Perigoso Pacifista é uma aposta ganha enquanto belo produto que, não só presta uma bela homenagem a uma das vozes que cantou o 25 de Abril e que, lamentavelmente, é muitas vezes esquecida, como nos oferece um conjunto de episódios que marcaram a vida de Adriano Correia de Oliveira e que foram testemunhados por todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver consigo. Olhando para a banda desenhada em si – e não tanto para o lançamento enquanto "produto" – creio que algumas coisas, especialmente ao nível do argumento, poderiam ter sido melhor limadas para que o livro alcançasse uma maior grandeza. Seja como for, é uma justa e digna homenagem que vale a pena conhecer.


NOTA FINAL (1/10):
7.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas - A Seita

Ficha técnica
O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira
Autores: Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 215 x 285 mm
Lançamento: Março de 2022

terça-feira, 17 de maio de 2022

Acaba de ser lançada uma BD de homenagem a Adriano Correia de Oliveira!



Já se encontra nas livrarias portuguesas a nova aposta da editora A Seita numa banda desenhada de origem nacional. Trata-se de O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, dos autores Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas e consiste numa biografia da vida de Adriano Correia de Oliveira, contada em episódios. 

O livro é lançado através de uma co-edição d' A Seita e do Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira

Nota para o facto do livro incluir um CD com sete dos maiores êxitos do músico português, uma das vozes da revolução do 25 de Abril.

Mais abaixo deixo-vos com a nota de imprensa e com algumas imagens promocionais da obra.
O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira, de Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas

A música de Adriano Correia de Oliveira marcou profundamente a vida de Portugal antes e depois do 25 de Abril, e foi uma das peças fundamentais com que se construiu o país democrático em que hoje vivemos. Durante muito tempo injustamente esquecida, a obra de Adriano é homenageada neste livro que, através de depoimentos daqueles que privaram directamente com o cantor, recolhidos por Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas, mostra um lado mais divertido e mais humano de uma das mais importantes vozes portuguesas da segunda metade do século XX. Um livro que inclui um CD com sete dos seus maiores êxitos, e que nos relembra que naqueles tempos, "Revolução" rimou muitas vezes com "canção".

A Seita e o Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira associaram-se para esta edição, inserida nas comemorações do nascimento de Adriano, uma obra desenvolvida em conjunto por dois autores ligados, não só à Associação, mas também à memória e vida de Adriano, especialmente Paulo Vaz de Carvalho, que com ele privou ao longo da sua vida, e que ajudou a relembrar e a fixar momentos do dia-a-dia de uma vida que marcou os inícios do Portugal em que vivemos. João Mascarenhas, autor de banda desenhada já confirmado e com obra feita, dedicou-se a ilustrar esta biografia, mas também, em muitas das suas páginas, a Coimbra dos seus tempos de estudante, a mesma Coimbra que ajudou a criar a pessoa de Adriano Correia de Oliveira.
“Boa parte da alma cantada da Revolução dos Cravos passa pelos acordes e pela voz de Adriano. E é boa parte dessa alma que nos é revelada neste livro. A vida como ela é, contada de forma sublime neste livro encharcado em humanidade e poesia. Um livro que reverbera a vida de Adriano mas que fala essencialmente da condição humana, trazendo o músico para o nosso convívio, para a nossa intimidade.”
Paulo Monteiro – Director do Festival de BD de Beja e autor de BD

“As pranchas que o leitor vai percorrer materializam uma articulação inteligente – superiormente conseguida – de textos com imagem e de imagens que são texto. Nelas, o encadeado das estórias devolve-nos ao prazer da vista fragmentos de história que fazem pensar. Arrancam ao esquecimento cenas e cenários que os mais velhos recordarão, e que à descoberta dos que depois vieram, e vierem, se entregam. .”
José Barata-Moura (do prefácio)

Este volume inclui uma secção extensa de notas biográficas sobre Adriano Correia de Oliveira, bem como a sua discografia completa, e um prefácio de José Barata-Moura.


O livro inclui um CD em que se reúnem sete dos maiores êxitos de Adriano Correia de Oliveira:

1 – Minha Mãe (1962)
2 – Trova do Vento que Passa (1963)
3 – Cantar de Emigração (1970)
4 – Canção com Lágrimas (1970)
5 – E Alegre se Fez Triste (1971)
6 – Tejo que Levas as Águas (1975)
7 – Vira Velho (1980)

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Ficha técnica
O Perigoso Pacifista: Histórias de Adriano Correia de Oliveira
Autores: Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 215 x 285 mm
PVP: 17,50€