Mostrar mensagens com a etiqueta Margarida Madeira. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Margarida Madeira. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Comparativo: "7 Senhoras" pela Ala dos Livros e pela edição de autor

 



A Ala dos Livros acaba de lançar uma nova edição, revista e aumentada, da obra de estreia em banda desenhada de Margarida Madeira. Estamos a falar de um livro muito especial e que é um daqueles casos que "chegou, viu e venceu". Lançado através de uma edição de autor, com apoio da Fundação Lapa do Lobo, 7 Senhoras rapidamente conquistou o coração dos leitores e da crítica, tendo sido a obra vencedora do Prémio Revelação dos PBDA 2023 e vencido, igualmente, na categoria Obra Revelação da Banda Desenhada Nacional dos Prémios da Crítica de BD, VINHETAS D'OURO 2023.

Sendo uma edição de autor, imagino que não só a tiragem do livro não tenha sido muito grande, como a colocação em loja foi complexa. Era difícil encontrarmos este livro à venda. Como tal, a editora Ala dos Livros teve a excelente iniciativa de reeditar a obra, tornando-a acessível a tantos leitores que, infelizmente, e apesar do sucesso do livro, não puderam ler 7 Senhoras.


Como são duas edições bastante diferentes, parece-me legítimo um comparativo entre os dois lançamentos. Até porque mesmo aqueles que conseguiram comprar a primeira edição da obra, poderão encontrar nesta nova edições razões suficientes para uma nova compra.

Tendo ambos os livros lado a lado, a coisa que mais salta à vista é que a dimensão dos livros é bastante diferente. Enquanto a edição original da obra tinha 127 x 155 mm, a nova edição da Ala dos Livros apresenta o generoso formato de 210 x 270 mm. É quase o dobro em termos de tamanho! E convém dizer que não foi um aumento "só porque sim". A fluidez da leitura ganha com isto e as próprias pranchas respiram melhor, com a introdução de algumas ilustrações que, deste modo, até podem sair dos limites das vinhetas. Um aumento que é, portanto, muito bem-vindo.




Também em termos da própria capa, há claras diferenças entre as duas edições. A primeira edição da obra apresenta capa dura azul, em tecido, com o título e a ilustração a prata. Tem um aspeto notável, diga-se, especialmente se tivermos em conta que se trata de uma edição de autor. 

Já a capa dura da edição da Ala dos Livros, tem fundo a branco, com a ilustração a cores e lombada a azul. A sua capa não é a tecido como a edição original, mas apresenta um material igualmente nobre e de textura agradável ao toque. A edição vem ainda acompanhada por uma manga promocional com referência à nova edição e ao prémio que a obra arrecadou no Amadora BD.




As lombadas dos dois livros são semelhantes, com a diferença óbvia de terem dimensões bastante diferentes, mas a versão da Ala dos Livros, com o nome da autora e da editora acaba por funcionar melhor e ser mais apelativa.




Logo que abrimos os dois livros, encontramos mais diferenças. A edição original apresenta guardas a castanho, enquanto que a nova edição da Ala dos Livros optou por utilizar esse espaço para a introdução do plano de páginas/storyboard da autora Margarida Madeira. O que funciona bem em termos estéticos.

Salta igualmente à vista a introdução de uma fita de tecido marcadora. Pessoalmente, gosto sempre muito que os livros sejam acompanhados por este extra, que torna logo a edição em algo mais aprimorado e elegante.




A nova edição também traz novos textos de apoio que não constavam na primeira edição. 

Logo de início, há um prefácio de Nicoletta Mandolini, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, e, no final, há um posfácio da própria Margarida Madeira que nos fala de como surgiu a ideia e conceção da obra.




Também ao nível do papel utilizado, há diferenças. O papel da edição original da obra é baço e de um tom ligeiramente amarelado. Já o papel utilizado pela Ala dos Livros, tem brilho e é de um tom totalmente branco. 

Se praticamente todas as mudanças da Ala dos Livros foram, quanto a mim, para melhor, dignificando esta bela obra, não sei se esta opção do papel totalmente branco funcionou tão bem. É indiscutível que o papel utilizado pela Ala dos Livros é de ótima qualidade, mas como eu já tinha lido a primeira versão da obra, devo dizer que gostei daqueles tons amarelados que davam uma certa mística e personalidade própria aos desenhos de Margarida Madeira. Mas admito que talvez seja uma questão demasiadamente pessoal para que lhe demos muita importância.




Uma das coisas que também muito apreciei nesta nova edição da Ala dos Livros, é que se trata verdadeiramente de uma versão revista pela autora. Um "director's cut", como chamaríamos no cinema. E um exemplo muito claro disso, é que há novas vinhetas que foram introduzidas na edição da Ala dos Livros, através da colocação de fotografias das personagens reais em quem a autora se inspirou para as histórias que compõem a obra, como demonstra a foto que coloco mais acima.

Acho que é um acrescento pertinente e que presta, mais uma vez, homenagem às mulheres que serviram de inspiração para este livro, aproximando-as do leitor.




Como já referi mais acima, o maior formato utilizado na edição da Ala dos Livros permite que as ilustrações possam respirar melhor. 

As margens são maiores, deixando o espaço mais "clean", e certos pormenores do desenho, como demonstra o exemplo que coloco mais acima, podem ser expandidos para lá dos limites da vinheta, aumentando a dinâmica de leitura e melhorando a estética visual da obra.




Finalmente, falta ainda referir a joia da coroa da nova edição de 7 Senhoras, face à sua edição original, que é a inclusão de uma nova história adicional. 

É uma história que sai um pouco do tema e estrutura das restantes histórias contidas no restante livro, mas que, ainda assim, é um bom complemento por nos permitir ver os primeiros passos que a autora deu na feitura de banda desenhada. Isto porque esta breve história de sete pranchas surgiu a propósito de uma oficina de banda desenhada em que Margarida Madeira participou. Há, portanto, nesta nova história adicional, um cariz iniciático e seminal para a restante obra.

Em suma, e embora seja verdade que a edição original de 7 Senhoras tenha uma qualidade de materiais muito acima daquilo que normalmente encontramos em edições de autor, a edição da Ala dos Livros é nobre em todos os parâmetros possíveis e, para além de tornar acessível a um maior público esta obra obrigatória da banda desenhada portuguesa, que vos convido a conhecer melhor aqui, ainda a consegue melhorar e alargar, melhorando todo o processo de leitura.



terça-feira, 24 de setembro de 2024

BD portuguesa premiada é reeditada pela Ala dos Livros!



O belo livro 7 Senhoras, de Margarida Madeira, obra de estreia da autora portuguesa que conquistou vários prémios, como o Prémio Revelação dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora ou a Obra Revelação da Banda Desenhada Nacional dos Prémios VINHETAS D'OURO, vai receber uma nova edição!

E não se trata de uma mera reimpressão. A edição original tinha sido feita pela própria autora e agora a editora Ala dos Livros - e bem! - relança a obra num formato significativamente maior e que ainda inclui uma história adicional.

Este é um livro verdadeiramente especial que aconselho totalmente. E se a primeira edição depressa se extinguiu das prateleiras das livrarias, com esta nova e melhorada edição, fico satisfeito pela possibilidade de o livro chegar a vários lares portugueses. Até porque, convenhamos, é obrigatório.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse desta nova edição e com algumas imagens promocionais.


7 Senhoras, de Margarida Madeira

Longe dos grandes centros, sete mulheres, com sete vidas diferentes, despertam a curiosidade da autora. São essas sete histórias que Margarida Madeira decidiu contar. 

Histórias sobre sete mulheres que marcaram a sua infância e, com isso, influenciaram a sua forma de pensar e ver o mundo. A autora, então muito jovem, perscruta essas personagens e, através de um olhar atento, esmiúça a característica de cada uma delas para as desconstruir e reconstruir, tal como uma criança desconstrói um brinquedo.

Tandra, a vizinha que todos os dias via sair de casa até que desapareceu. “Dona Fúnfia”, que não sabia ler nem escrever, mas sabia fazer muitas coisas. Na escola, a menina Cristina ensinou-a a desenhar com os grandes mestres. Em criança, ia fazer os recados para a mãe à loja da Dona Iracema, que um dia lá deixou de trabalhar. A “vózita”, que deixou um cofre no quarto. A amiga Inês e a avó da Inês que decidiu usar calças. 

São estas mulheres e as suas histórias que se juntam, num relato autobiográfico ao mesmo tempo comovente e de grande sensibilidade. O resultado final, chega-nos sob a forma de sete histórias de vida diferentes que se situam entre o real e o imaginário, entre o provável e o inverosímil.

Publicado inicialmente em 2023, 7 SENHORAS, recebeu o Prémio Obra Revelação no Festival Amadora BD 2023 e será em breve adaptado para uma obra de animação.

Para além da alteração de formato, que foi aumentado permitindo dar maior visibilidade ao trabalho gráfico da autora, a edição que a ALA DOS LIVROS agora apresenta inclui um prefácio de Nicoletta Mandolini e uma história adicional que se encontrava inédita.

-/-

Ficha técnica
7 Senhoras
Autora: Margarida Madeira
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 270 mm
PVP: 26,00€




sexta-feira, 14 de abril de 2023

Análise: 7 Senhoras

7 Senhoras, de Margarida Madeira

7 Senhoras, de Margarida Madeira
7 Senhoras, de Margarida Madeira

De vez em quando, infelizmente não tão frequentemente assim, lá surge um(a) autor(a) que, sendo novo(a) na indústria, traz consigo ideias novas e refrescantes, num estilo muito próprio, que rapidamente se afirma e se assume como um talento nato para a banda desenhada. Margarida Madeira pode muito bem ser um desses casos.

A autora portuguesa, tendo já um vasto currículo na animação e na ilustração, acaba de lançar a sua primeira obra de banda desenhada. Dá pelo nome de 7 Senhoras e, num registo terno e pleno de sensibilidade, procura oferecer-nos um breve vislumbre sobre a vida de sete mulheres que, de uma forma ou de outra, criaram impacto em Margarida Madeira, à medida que a autora ia crescendo. Há, pois, todo um cariz autobiográfico nesta obra.

No total, são 6 histórias (uma vez que uma das histórias fala sobre duas mulheres) e mais uma espécie de epílogo que, no final, junta as pontas soltas de cada um dos contos, com o claro objetivo de torná-los numa só história.

7 Senhoras, de Margarida Madeira
São contos/capítulos breves, mas que conseguem fazer o leitor mergulhar nas vidas das personagens que nos são apresentadas. E encontrar redenção – ou um caminho possível para a mesma. Em estilo slice of life, a autora arrasta os leitores para estes pequenos episódios da vida que, quando passam por nós, mal damos por eles, mas que, passado algum tempo, verificamos que deixaram a sua marca. Se o estilo desta proposta em mini-histórias me remeteu para Estes Dias, de Bernardo Majer, uma das obras mais aclamadas da banda desenhada nacional no ano passado, também devo dizer que encontrei, pelo menos em termos de discurso e narrativa, algumas pontes entre este 7 Senhoras e as obras mais sensíveis e impactantes do espanhol Paco Roca.

Porém, e sendo, quanto a mim, positivas estas referências, é claro que Margarida Madeira tem o seu estilo próprio de contar uma história. A sua personalidade. Algo que é só seu. Com efeito, há algo, mais raro de encontrar, onde me parece que está o verdadeiro segredo da autora, que reside na forma como ela, narradora, nos revela as personagens e suas vivências, pelos olhos de uma criança.

7 Senhoras, de Margarida Madeira
Explico melhor: não é bem o olhar racional e afastado de uma pessoa adulta que incide nestas sete existências mundanas, mas sim o olhar de uma criança – a criança que em tempos foi – que Margarida Madeira consegue trazer à tona. E que beleza e ternura isso consegue trazer aos relatos que nos são dados!

Permitam-me um paralelismo. Uma das minhas bandas preferidas, os Soul Asylum (infelizmente apenas conhecidos pelo mega hit Runaway Train) tem, numa das suas muitas excelentes letras, intitulada Eyes of a Child, os seguintes versos “She sees the world through the eyes of a child… big problems seem smaller and old things seem new”. Estes versos, que considero verdadeiramente deliciosos, bem que me vieram à memória enquanto lia este 7 Senhoras. Logo na primeira história, em que a autora nos conta as suas memórias sobre Tandra, uma prostituta, é claro que quando Margarida era criança, não tinha a noção disso. E conta-nos a história dessa mesma perspetiva. Não se focando naquilo que nós, sociedade adulta e preconceituosa, facilmente recrimina e marginaliza, mas sim focando-se em gestos e hábitos do dia a dia de Tandra. Porque Margarida enquanto criança não olhava para Tandra e via uma prostituta. Ao invés, olhava para Tandra e via, primeiro que tudo, uma mulher. E isso é, quanto a mim, maravilhoso do ponto de vista do “story telling” e remete-me também para uma obra tão ímpar como O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry.

7 Senhoras, de Margarida Madeira
Assim, de forma airosa e aparentemente leve, Margarida faz desfilar diante do leitor vários contos que trazem os temas da prostituição, do luto, do analfabetismo, da desigualdade entre géneros e, acima de tudo, mostram-nos a maneira como as mulheres conseguem, cada uma à sua maneira, alcançar o seu local e a sua redenção.

Sendo sobre mulheres e versando sobre os temas que acabo de referir, também me parece salutar que o livro não concentre as suas energias em ser panfletário ou demasiado político-social. Não. São sete mulheres, sim. Mas creio que também poderiam ter sido sete homens (quem sabe, num livro futuro da autora?). O que (mais) interessa não é tanto o facto destas sete personagens serem mulheres, mas sim o facto de, das mais diversas formas, impactarem a vida de outrem. Neste caso, da autora. Que belo isso é!

A menina Cristina era uma funcionária da escola que melhorava a vida das crianças que tanto aprenderam consigo; a Dona Fúnfia, era uma empregada doméstica que, não sabendo ler, sabia fazer (e ensinar) tantas outras coisas; a Dona Iracena – qual Marie em Armazém Central – teve que “fazer pela vida”, assumindo o negócio do falecido marido; a Tandra – já por mim referida - antes de ser prostituta, também era uma mulher lesada por este mundo; a Vózita – a bisavó da autora – que, talvez sem querer, fez com que a mesma tomasse contacto com a morte, pela primeira vez; ou, finalmente, Inês e a sua avó, que ficaram amigas de Margarida.

7 Senhoras, de Margarida Madeira
Em termos de ilustração, 7 Senhoras também é um belo livro. Com um estilo de desenho de traço simples e naïf, com detalhes caricaturais, a autora consegue que o conjunto das vinhetas que compõem cada uma das pranchas deste livro tenha uma harmonia muito agradável à vista e que, naturalmente, case muito bem com o tipo de histórias que nos vão sendo dadas. As cores, assentes numa paleta em tons de azul, também contribuem bastante para esta sensação de harmonia. Voltando à obra de O Principezinho, que já referi acima, também do ponto de vista visual, e tal como essa obra, 7 Senhoras é um daqueles livros que parece ser feito para crianças, devido à leveza que transpira, mas, lá no fundo, tem uma profundidade que fica ao alcance apenas de uma mente mais vivida e madura. E, também por isso, deixou-me tão bem impressionado.

Em termos de edição, posso dizer que esta obra também tem uma forte personalidade vincada. Com capa dura em tecido, apresenta um aspeto muito singelo e simples. Apenas tem o título da obra e um pequeno desenho dos pés de cada uma das personagens. Nem sequer o nome da autora aparece na capa do livro, nem, tampouco, há uma sinopse da obra na contracapa. O resultado é cativante, concedo, mas creio que a capa do livro poderia beneficiar mais se tivesse mais elementos e se mostrasse, logo no primeiro contacto, de que se trata de uma banda desenhada. Olhando apenas para o livro, mais depressa parece uma obra de literatura, em prosa ou em poesia, do que, propriamente, um livro de banda desenhada. E como considero que este livro deve ser lido por todos os que gostam de banda desenhada, temo que, com este aspeto exterior, possa passar ao lado de muitos interessados em BD que não tomem contacto com o livro, especialmente pela sua capa demasiado séria e simples.

Tirando esta questão, há que dizer que, especialmente tendo em conta que estamos perante uma edição de autor – embora haja, na ficha técnica do livro, uma alusão ao facto da Fundação Lapa do Lobo ter apoiado a edição –, o livro apresenta uma boa qualidade enquanto objeto-físico. Bom papel baço, com uma espessura convincente, que alberga muito bem o estilo de ilustração da autora, e uma boa encadernação e impressão.

Em suma, devo dizer que 7 Senhoras é um livro que recomendo totalmente e que se afirma, desde já, como candidato claro a todos os prémios de banda desenhada que, em 2023, premeiem os Autores/Obras Revelação. Por falar em "revelação", Margarida Madeira revela-se, pois, ao mundo da banda desenhada e fá-lo em grande estilo!


NOTA FINAL (1/10):
9.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

7 Senhoras, de Margarida Madeira

Ficha técnica
7 Senhoras
Autora: Margarida Madeira
Editora: Independente (Edição de Autor)
Páginas: 104, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 155 x 127 mm
Lançamento: Fevereiro de 2023