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quinta-feira, 11 de março de 2021

Análise: D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa

D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio - Suma de Letras


D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio - Suma de Letras
D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio

A Suma de Letras tem vindo a percorrer o seu caminho, na edição de banda desenhada em Portugal, de uma maneira muito interessante, não fazendo muitas edições em termos de quantidade mas tendo, ainda assim, lançamentos regulares de bd, como foi disso exemplo o divertidíssimo livro Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse, durante o ano passado.

Agora, a editora aposta novamente num autor português e no registo do humor. Desta vez, temos as aventuras e desventuras que um pai divorciado vive com as suas duas filhas. Diria que dificilmente e, ainda por cima, nesta altura de confinamento, eu poderia identificar-me mais com esta situação, uma vez que tenho estado com as minhas duas filhas em casa - embora na companhia da minha mulher - o que, naturalmente, é uma tarefa que não é fácil. Por vezes apetece-me berrar e fugir de casa... mas noutras vezes, os momentos de ternura multiplicam-se. O que me leva à verdade incontornável de que há sempre o lado positivo e o lado negativo em cada situação com que nos deparamos. Até mesmo com o confinamento imposto pela pandemia de Covid-19! Não obstante o facto de que, compreensivelmente, já todos estejamos fartos destes tempos e com vontade do regresso a uma vida normal.

D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio - Suma de Letras
Parece-me também relevante que, cada vez mais, o papel do Pai comece a receber o devido valor. Se as mães são heroínas incontestáveis nas nossas vidas, os pais também o são. Ou, pelo menos, podem sê-lo. O que não faltam são exemplos desse super-heróismo dos pais que nem sempre merecem o devido apreço. Numa sociedade que começa – e bem – a voltar-se finalmente para a igualdade/equidade entre homens e mulheres, colocando, lenta mas gradualmente, estas últimas no seu lugar merecido, também faz falta que se credite aquilo que é fantástico e que os homens também fazem tão bem - ou melhor - que as mulheres. E portanto, reitero que é positivo que exista este D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa.

Mas claro, sendo um homem a retratar as próprias aventuras de se ser pai – e ainda por cima, com duas miúdas – teria que dar situações divertidas. E é isso que o português Alexandre Esgaio nos oferece neste D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa. O título é suficientemente auto-explicativo para que compreendamos o que temos em mãos. O autor vai partilhando as vivências, aparentemente auto-biográficas, que vai experenciando com as suas filhas. Não há aqui uma exploração muito grande da parte do protagonista estar desempregado ou de ser artista. Fica subentendido mas julgo que poderiam ter sido várias (muitas?) as piadas à volta destas duas vertentes que o autor, neste livro, acaba por não aproveitar. A parte de ser “dona de casa”, de cuidar da casa e das filhas é que acaba mais bem explorada.

D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio - Suma de Letras
Com momentos ternos e divertidos, considero, no entanto, que o humor não chega a ser muito acutilante. É engraçado na maior parte das curtas histórias que vamos lendo mas só em dois casos – no discurso sobre os tomates em pleno supermercado ou no passeio na praia, que acabou com um presente de uma gaivota – é que este livro me fez gargalhar. Considero que se existissem mais destas situações, este livro seria um verdadeiro fartote de risada. Mas, não o sendo, é uma leitura fácil e agradável de se fazer. Por vezes até me parece que o autor está mais focado em partilhar as situações que vai vivendo, tal como se a obra fosse apenas um diário, do que, propriamente, fazer rir o leitor. E não há mal nenhum nisso, relembro. Por ventura, até fará do livro algo mais honesto. As crianças estão sempre a surpreender-nos com as suas tiradas inteligentes, transparentes e inesperadas e isso é o que recebemos desta obra, especialmente da filha mais velha do protagonista deste livro. Destaque ainda para algumas referências que o autor deposita nas suas histórias, das quais se destaca, claramente, aquela em que homenageia Relatividade, uma das obras primas do artista holandês MC Escher.

Quanto à forma, os tipos de pequenas histórias que nos são apresentados pelo autor variam entre breves gags de uma só ilustração (cartoons), ou pequenas histórias de uma, duas, quatro páginas. Não há uma fórmula estática que o autor utilize e isso faz com que o livro não se torne repetitivo. Apesar das mais de 100 páginas é um livro que se lê bastante depressa.

D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio - Suma de Letras
Em termos de ilustração, os desenhos que nos são dados são feitos à mão por Alexandre Esgaio. De traço bastante simplista e por vezes infantil, diria que encaixa bem no cariz desta banda desenhada. Mesmo com caras em que os olhos são dois pontinhos, as bocas são um risco em meia lua e os narizes um mero rabisco, a verdade é que as emoções nos rostos das personagens são bem passadas pelo autor e há mérito nisso. Sendo um cartoon de humor, interessa, acima de tudo, ser-se eficiente na ilustração e isso é sobejamente conseguido pelo autor.

Normalmente, os desenhos são a preto e branco mas acaba por haver sempre um elemento a cores. O mais frequente é a camisola às riscas vermelhas do pai e as botas amarelas da sua filha mais velha mas, ocasionalmente, aparecem outros elementos coloridos.

Na parte da legendagem parece-me que o livro apresenta alguns problemas. Por vezes o texto quase come o espaço das personagens e torna as páginas muito cheias e com a ausência da harmonia desejável. Fica tudo muito "encavalitado" e pouco apelativo visualmente. Nesse sentido, há também que ter em conta que esta bd começa por ser lançada enquanto web comic e isso talvez justifique que, visualmente, a mesma não pareça ter sido concebida de raiz para o papel e para os livros. A continuar a editar as aventuras de D.A.D. em papel, julgo ser algo que Alexandre Esgaio poderia ter em conta no futuro. Não é que funcione mal... mas estou certo que poderia funcionar melhor.

Em conclusão, D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa não é um livro hilariante ou com desenhos magníficos. Mas é uma leitura fácil, com alguns momentos divertidos e afetuosos e que é lançada, com fantástico sentido de oportunidade por parte da editora Suma de Letras, reconheça-se. Pois relembro que o Dia do Pai está à porta e que, nesse sentido, este é um presente "na mouche" para os pais que são fãs de banda desenhada. E não só.


NOTA FINAL (1/10):
6.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio - Suma de Letras

Ficha técnica
D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa
Autor: Alexandre Esgaio
Editora: Suma de Letras
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Março de 2021

sexta-feira, 5 de março de 2021

Lançamento: D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa




Depois do aclamado álbum Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse, a editora Suma de Letras prepara-se para publicar mais um álbum de tiras humorísticas, de um autor português!

Chama-se D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, é da autoria de Alexandre Esgaio, e conta as aventuras e desventuras de um pai com duas filhas.

A obra estará disponível nas livrarias a partir de 9 de Março. Tem fortes probalidades de ser a prenda mais oferecida a todos aqueles que são pais e gostam de bd - mas não só!!

Abaixo, fiquem com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens pormocionais.


D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa, de Alexandre Esgaio

Uma BD sobre o dia-a-dia de um pai divorciado e as suas duas filhas. As ilustrações são feitas à mão pelo autor. Por vezes ternurente, outras vezes cómico, este livro é único e original.

Um pai, duas filhas. Uma casa para arrumar, roupa para lavar, comida para fazer, crianças para ir buscar à escola, birras, quedas, caos, alegria, humor e amor.

Assim são os desenhos de Alexandre Esgaio, umas vezes amorosos, outras hilariantes, misturados com referências a grandes nomes da arte, pequenas homenagens espalhadas ao longo do livro e que nos apanham de surpresa.

Um livro de banda desenhada feito de pequenos momentos na vida de um pai de duas filhas irrequietas, inteligentes e muito senhoras de si.

Uma homenagem a todos os pais do mundo, em BD e com humor.

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Ficha técnica
D.A.D. – Desempregado, Artista, Dona de Casa
Autor: Alexandre Esgaio
Editora: Suma de Letras
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa mole
PVP: 14,40€

domingo, 6 de dezembro de 2020

Análise: Vida de Adulta

Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse - Suma de Letras,  Penguin Random House

Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse - Suma de Letras,  Penguin Random House
Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse 

O subtítulo desta obra, Histórias para rir da triste vida de uma jovem precária, sem paciência e sem dinheiro, dá inequivocamente o mote para as peripécias e desventuras hilariantes que a autora, Raquel Sem Interesse, nos oferece, e que é publicado pela Suma de Letras, chancela da Penguin Random House. 

E num país onde a banda desenhada de humor é uma raridade, posso dizer que me tornei fã desta banda desenhada. E não foi tarefa difícil. Dei por mim a rir-me da doçura e destreza racional desta personagem. 

Vida de Adulta conta-nos em tiras humorísticas o dia-a-dia da personagem Quica, as suas dificuldades em arranjar um trabalho condigno, para o qual tanto estudou, a aventura diária que é andar de transportes públicos, as interações através das redes sociais, enfim, basicamente, a vida atual de um jovem adulto. E o quotidiano da personagem, que é inspirada na própria autora da obra, embora seja normal e apresente “problemas” com que todos nós lidamos, é-nos dado com um humor divertidíssimo e acutilante, que nos coloca um sorriso na cara, à medida que vamos acompanhado as “desgraças” de Quica. Algo como Seinfeld, que era uma série televisiva que abordava assuntos mundanos vida, sabia fazer. 

Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse - Suma de Letras,  Penguin Random House
Porque, embora esta seja uma história pessoal, há em Quica uma universalidade que é transversal a todos os jovens adultos dos dias de hoje: o trabalho precário e a dificuldade em ficar financeiramente independente, mesmo já tendo cerca de 30 anos. E é aí que reside a qualidade da obra. Todos nós temos um pouco de Quica. E mesmo as pessoas mais velhas, certamente já tiveram (ou ainda têm?) um pouco de Quica. E as pessoas mais novas, os teenagers, indubitavelmente terão um pouco de Quica nos anos vindouros. As boas personagens são aquelas que, tendo a sua própria originalidade, conseguem reunir consenso. E Quica é uma dessas personagens. 

Muitas vezes o traço deste tipo de banda desenhada – chamemos-lhe, à falta de melhor nomenclatura, a “bd humorística leve” – apresenta uma arte simples, rápida, eficiente, caricatural, que não arrisca muito, mas que é facilmente aceite. Uns bonecos engraçados, vá. E Vida de Adulta é tudo isso. Mas é algo mais. Raquel Sem Interesse, tem um traço muito rápido, riscado e rabiscado, que muito aprecio e que me faz lembrar - com as devidas distâncias - um autor que adoro, o belga André Franquin, autor do delicioso Gaston La Gaffe. Os traços faciais das personagens, nomeadamente o nariz de Quica, também me remeteram para a série Achille Talon. Em termos de desenho, e mesmo apresentando desenhos simples, acho um trabalho muito bem conseguido que, aliás, foi a primeira coisa que despertou o meu interesse por esta obra. 

A panóplia de reações faciais, muito caricaturais, e que nos fazem rir só de olhar para os desenhos, também é uma cartada forte que a autora sabe usar. Em termos de planificação dos cartoons, há bastante variedade. Temos desde rábulas de uma só ilustração, que ocupam uma página inteira, até tiras de 2 ou 4 vinhetas, ou histórias que ocupam mais do que uma página. Torna a leitura ainda mais fácil e menos repetitiva. 

Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse - Suma de Letras,  Penguin Random House
E se graficamente este trabalho me remete para algumas obras franco-belgas, o estilo de humor remete também para alguns clássicos do cartoon americano em que Calvin & Hobbes será um protótipo do género. A junção destes dois estilos, algo diferentes entre si, em Vida de Adulta é muito interessante. Este livro compila, aliás, as histórias que a autora criou inicialmente como um projeto para o seu mestrado e que começaram a chegar ao público através das redes sociais, feiras de ilustração independentes e de uma colaboração com a plataforma digital do Correio do Porto com a publicação de tiras quinzenais, entre 2016 a 2018. 

Se tenho alguma "queixa" a fazer neste trabalho, muito bem conseguido, é que me parece que, em termos de branding, "Vida de Adulta" pode não ter sido o nome mais bem conseguido para o projeto. Olhando até para a capa do livro, não é óbvio de que se trata de uma banda desenhada. Para quem não conhecer, pode muito bem achar que se trata de um livro destinado a adolescentes, que pode ser um álbum ilustrado ou, até um livro de psicologia, para o qual foi escolhida uma capa com uma ilustração. Portanto, a capa do livro, até é agradável mas acho que falha no objetivo de se apresentar como uma banda desenhada. E o título também não ajuda, repito. Acho que “Quica” teria mais força. Ou até mesmo o nome da autora “Raquel Sem Interesse” seria um ótimo título. Ainda para mais, tendo em conta que Quica é um alter ego da autora, seria um nome muito bom. Mas isto é apenas a minha opinião. 

Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse - Suma de Letras,  Penguin Random House
A encadernação é em capa mole. Eu sou daqueles que em 95% dos casos prefere sempre que o livro tenha capa dura. É, na minha opinião, esteticamente mais bonito; transforma o objeto em algo menos perecível e trata a obra com mais "dignidade". Se é que me entendem. Porém, os livros de banda desenhada de humor são livros que funcionam bem em capa mole. E explico porquê: não é que tenham menos dignidade do que os livros ditos “sérios”, ou que não seja preferível ter um objeto menos perecível e mais bonito. A questão não é essa. A questão é que é um tipo de livro que mais facilmente é levado para todo o lado: de férias, para a praia, para o jardim, para o trabalho, para ser lido na hora de almoço ou durante a viagem, nos transportes públicos. Ou seja, por ser uma leitura mais bem disposta e ligeira, levamo-la mais para fora de casa. E, nesse caso concreto, o livro torna-se mais leve e portátil com a capa mole. Portanto, neste caso, Vida de Adulta foi editado pela Suma de Letras em capa mole e acho que fez todo o sentido. 

Em conclusão, Quica – e a autora Raquel Sem Interesse – apanharam-me de surpresa. Não conhecia as aventuras da personagem no universo das redes sociais e depois de acompanhar as desgraças reais e honestas da sua vida, posso dizer que sou fã da série, que acho que é uma lufada de ar fresco para a bd nacional humorística e que fico a torcer para que esta obra - e a sua autora - tenham muito sucesso e que ainda nos dêem muitos lançamentos futuros. Dêem uma oportunidade a esta obra. É divertidíssima! 


NOTA FINAL (1/10): 
8.6 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse - Suma de Letras,  Penguin Random House
Ficha técnica
 
Vida de Adulta 
Autora: Raquel Sem interesse 
Editora: Suma de Letras ( Penguin Random House) 
Páginas: 104, a cores 
Encadernação: Capa mole 
Lançamento: Setembro de 2020