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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Análise: Jessica Jones: Pulsar

Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio


Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio
Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel 

Jessica Jones: Pulsar é um livro com a impressionante dimensão de 360 páginas que a G. Floy editou em 2018, numa soberba edição de luxo, com uma fantástica capa grossísima em espessura, e que compila na íntegra as histórias da coleção Pulsar, da qual Jessica Jones – de quem a editora portuguesa já lançou várias outras obras – é a protagonista. 

O volume está dividido em 3 grandes histórias: a primeira, que nos coloca na criação da publicação Pulsar, um jornal pertencente ao Clarim Diário e para o qual é contratada a ex-Vingadora Jessica Jones, que se encontra grávida do, igualmente, ex-superherói Luke Cage, e a tentar ter uma vida dita “normal”. A segunda história vai colocar Jessica Jones na busca desenfreada pelo namorado que, estando a convalescer de um ataque em forma de explosão, acaba raptado sem se saber por quem mas onde Nick Fury parece estar envolvido. Finalmente, o último arco da história, traz-nos o aguardado casamento entre Jessica Jones e Luke Cage. 

Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio
Julgo ser de louvar que a G. Floy tenha lançado este livro, tão grande em dimensão, que apresenta, desenvolve e “arruma” bem a saga de uma personagem. É fantástico e altamente recomendável para mergulhar na personagem de Jessica Jones, conhecer o seu percurso, o início da sua relação com Luke Cage, a sua gravidez e a sua envolvência no universo de super-heróis. 

De uma forma credível, estas histórias – especialmente a primeira e a segunda - permitem-nos uma franca reflexão sobre o que seria ser-se super-herói no mundo real, que implicação isso teria na vida dos heróis e na das pessoas que os rodeiam, e que impacto a atuação dos super-heróis teria nos media - e até mesmo no sistema de saúde! E esta reflexão interessante remete-nos, por vezes, para Watchmen, ou mesmo, e especialmente, Marvels. Claro que a abordagem neste Pulsar será, por ventura, mais leve do que nas obras que menciono mas, há seguramente pontos de contacto. 

Algo que gostei bastante foi a introdução da personagem de Demo (e não Demolidor!) na segunda história. Ainda que seja uma subnarrativa sem qualquer influência na história principal de Jessica Jones, foi até, possivelmente, a parte mais profunda e negra que encontrei neste Pulsar sobre ser-se super-herói. Uma narrativa forte, amarga e triste que nos revela um lado menos bom e menos romanceado da vida de um super-herói. Pena foi, que a história apareça de forma demasiado independente da plot prinicipal. Acho que acaba por ser subaproveitada. 

Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio
Pulsar
é um livro que embora se foque na história pessoal de Jessica Jones, permite a aparição de numerosas personagens do universo Marvel, como o Homem-Aranha, o Homem de Ferro, Wolverine, Capitão América, Nick Fury, entre muitos outros. Bem sei que a introdução de outros super-heróis tem uma appeal comercial para as editoras e respetivos leitores de comics mas o que é certo é que, quanto mais comics vou lendo, em que aparecem outros super-heróis enquanto “convidados”, mais vou achando que isso não traz nada verdadeiramente bom ou substancial para a trama. Ou seja, perde-se o enfoque na personagem principal e olha-se de soslaio apenas, de forma superficial, para outras personagens, que têm os seus próprios meios e sagas. E, portanto, se calhar eu preferia que, também neste Pulsar, não tivessem aparecido tantos super-heróis com ações secundárias e que se tivesse apostado mais em Jessica Jones e Luke Cage. Mas enfim... Isto nada mais é, do que o meu gosto pessoal. Mas fica a nota. 

A minha história preferida foi a primeira porque considerei ser aquela que funciona melhor e onde o argumento é mais bem explorado. A segunda história tem ideias muito interessantes mas pareceu-me que, por vezes, estava um pouco embrulhada em si mesma. Menos straight to the point e isso causa-lhe alguma ausência de fluidez. A terceira e última história, a do casamento, parece-me muito desinspirada. A longa batalha é bastante gratuita e a possibilidade de um casamento Marvel – que não é todos os dias que acontece – podia ter sido muito mais bem explorada. 

Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio
Em termos de arte, o facto deste livro ser produto de tantos autores traz consigo o reverso da medalha dessa mesma condição. É que, sendo tão diferente na questão da ilustração, acaba por ser um produto demasiado heterogéneo entre si. Se na primeira história vamos tendo uma arte limpa, clara e estilizada, muito ao género dos habituais comics; na segunda história temos uma arte mais suja, mais riscada e mais noir - quiçá menos comercial – ao jeito do que já conhecemos de Alias; na terceira história, parece que temos uma arte algures no meio entre o estilo mais comic e o estilo mais “de autor”. É compreensível porque, afinal, são mais de cinco os autores que desenham nestas 360 páginas. Por outro lado, isso não será desculpa suficiente para que o estilo de ilustração tenha mudado tanto. E o próprio livro corrobora esta minha afirmação quando, na segunda história – a maior em dimensão – temos 3 autores diferentes a desenhá-la mas que, mesmo tendo diferenças de estilo entre si, conseguem encontrar uma homogeneidade e pontos em comum na ilustração. E penso que a única pessoa que pode ser responsabilizada por esta sensação de ausência de linha gráfica condutora é, possivelmente, Bendis por ter permitido (ou pretendido?) que o estilo de ilustração variasse tanto entre si. 

Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio
Seja como for, considero um livro com uma arte muito interessante. Especialmente logo a primeira história, desenhada por Mark Bagley, que apresenta um traço muito em linha com aquilo a que os comics da Marvel – e não só – nos têm habituado mas, ao mesmo tempo, tendo a sua própria personalidade. As personagens têm caras muito expressivas, as cenas de ação são espetaculares, as cores são estilizadas e dinâmicas, a planificação das pranchas arrisca coisas novas, várias vezes. Achei uma arte verdadeiramente cativante. Na segunda história, há bons momentos em termos de ilustração mas já não gostei tanto do estilo e, em parte, isso deveu-se a ter gostado tanto das ilustrações da primeira história. Quando me deparei com este novo estilo dos autores Brent Anderson, Michael Lark e Michael Gaydos, que, nos melhores momentos, me remeteu para a arte de Sean Phillips em Criminal, não fiquei tão impressionado como na primeira história desenhada por Bagley. Ainda assim,é uma arte interessante. Muito diferente da primeira, mas interessante. A história final, desenhada por Olivier Coipel, do qual li recentemente Magic Order, apresenta alguns bons momentos mas, mesmo assim, foi a que me impressionou menos. Tal como o próprio argumento dessa história, aliás, em que Bendis me parece bastante desinspirado e sem ideias que sustentem convenientemente os acontecimentos que envolvem o casamento de Jones e Cage. 

Em conclusão, e olhando para o todo e não para as partes de forma separada, há que fazer vénias à aposta da G. Floy neste enorme livro que acaba por ser uma história integral de Pulsar. A heterogeneidade da ilustração ao longo do livro tornou-se um certo problema, sim. No entanto, reitero que isso foi apenas a coisa menos boa deste fantástico lançamento da editora portuguesa. Não é uma obra inesquecível mas é um trabalho que sabe ser fantástico em vários momentos. E não restem dúvidas de Jessica Jones é uma personagem com carisma próprio e muito bem desenvolvida por Bendis. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.4 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Jessica Jones: Pulsar, de Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel - G. Floy Studio
Ficha técnica 
Jessica Jones: Pulsar 
Autores: Bendis, Bagley, Anderson, Lark, Gaydos e Coipel 
Editora: G. Floy 
Páginas: 360, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Maio de 2018

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Análise: A Ordem Mágica



A Ordem Mágica, de Mark Millar e Olivier Coipel

A Ordem Mágica foi recentemente editada em Portugal, pela G. Floy Studio. É a primeira banda desenhada original da Netflix (com publicação pela Image Comics) e é feita pelo super-produtivo autor Mark Millar, com ilustrações de Olivier Coipel.

E o que temos aqui é uma banda desenhada interessante, com bastante originalidade e um ritmo (demasiado) frenético, que vai beber a várias influências. O próprio Mark Millar apresentou esta série como sendo uma mistura entre Harry Potter e Sopranos. E de facto, tendo em conta que estamos perante uma história baseada em feiticeiros, com super-poderes ativados pelas suas varinhas mágicas, a comparação com o universo de Harry Potter é quase impossível de não se fazer. No entanto, A Ordem Mágica tem a sua própria personalidade e sendo, por ventura, para um público mais adulto do que Harry Potter, também não consegue ter a profundidade dos livros de J.K. Rowling. Embora, admito, talvez não seja muito justo comparar uma banda desenhada de 176 páginas com uma série de romances, com 7 livros editados e mais de 3.500 páginas.

Esta obra conta-nos a história de uma Ordem de mágicos que tem como missão proteger a Terra de todas as ameaças que possam surgir. Os membros desta Ordem levam vidas ditas normais durante o dia, escondendo os seus poderes e desempenhando papéis banais na sociedade. Mas à noite, ou perante as trevas, são eles que protegem o planeta das forças do mal. A Ordem é liderada pela família Moonstone, mais concretamente, por Leonard Moonstone que, durante o dia, faz espectáculos de magia. Os seus três filhos Regan, Cordelia e Gabriel também são feiticeiros embora, este último, tenha resolvido viver uma vida normal para sempre, depois de, às custas da magia, ter perdido a sua filha única. 

Tudo correria bem no universo se não existisse a malévola Miss Albany que, pertencendo à família Moonstone, foi afastada pelo antigo líder da mesma e que agora, juntamente com os seus súbditos, pretende vingar-se, roubando à Ordem um livro de feitiços – o oricalco – e eliminando todos os membros da Ordem, para que possa tornar-se líder da mesma.

Algo que merece destaque é a presença de personagens carismáticas neste livro. Cordelia, a filha rebelde de Leonard, mesmo podendo ser uma personagem cliché, a verdade é que tem um grande carisma e atitude, que certamente não deixarão o leitor indiferente. Gabriel também é uma personagem interessante por todo o drama familiar que já viveu.

Mas é na presença de vilões emblemáticos que esta obra se torna mais assinalável. Miss Albany é uma personagem densa, completamente maquiavélica e com um aspeto sombrio. É detentora de uns lábios sensuais, sempre pintados de vermelho, uns olhos de um azul vítreo e uma máscara bondage que ocultam a sua restante face. Diria que é uma personagem muito interessante do ponto de vista da conceção e da força gráfica que apresenta. Mas não ficamos por aqui. O seu braço direito, o Veneziano, com um fato retirado do Carnaval de Veneza, com longas mangas com folhos, um elegante chapéu veneziano e uma máscara branca que lhe cobre toda a cara, exceto os seus olhos vermelhos, é uma personagem medonha e extremamente iconográfica. Daquelas que nos ficam na mente muito depois de acabarmos a leitura do livro.

Há personagens vilões que ficam para sempre na mente dos leitores devido à sua força gráfica, como por exemplo, Joker em Batman ou V em V de Vingança. Miss Albany e o Veneziano são personagens desse tipo. São, possivelmente a par de Cordelia, a coisa mais interessante deste A Ordem Mágica.

A história vai-nos levando depois, para uma luta entre os bons e os maus que, por vezes, tem ideias muito interessantes e momentos memoráveis. Desde lutas com grandes monstros, flashbacks emotivos na vida de Gabriel com a filha, ou algumas mortes violentas e inesquecíveis que acontecem, este é um livro bem refinado. Se no final, sabe a pouco, é só porque o ritmo a que os acontecimentos se sucedem é, na minha opinião, demasiado rápido. O que faz com que certas personagens e acontecimentos não sejam tão bem trabalhados e explorados, levando, também, a que a história apresente algumas pontas soltas. 

Mark Millar possui uma característica muito singular, enquanto criador de histórias: é que as suas histórias têm (quase) sempre ideias muito interessantes e “fora da caixa” e que nos são dadas a um ritmo (quase sempre) muito acelerado. Ora, esta característica da velocidade narrativa, como gosto de lhe chamar, faz com que os seus livros se leiam muito bem e que sejam, na minha opinião, mais destinados a um público mais jovem, pois os significados e mensagens subliminares, nunca são tão bem explorados. Simplesmente porque não há tempo ou ritmo para isso. Por outras palavras, Mark Millar consegue propor sempre grandes ideias que depois, acabam por ser exploradas de forma superficial. E se isso é algo que pode funcionar muito bem em certas séries como Wanted, totalmente focadas na ação, julgo que em histórias como A Ordem Mágica que teria, à partida, coisas tão interessantes para desenvolver, esta característica da velocidade, faz com que certas ideias e conceitos sejam apenas apresentados de forma quase gratuita, não sendo depois suficientemente aproveitados.

E lá está, A Ordem Mágica lê-se muito bem, tem uma premissa curiosa e engraçada, mas, no final, parece que sabe a pouco. Que não foram exploradas de forma conveniente todas as potencialidades que a história e as personagens teriam. O sabor é bom, mas é pouco. E, sublinho, a principal causa disso não são as opções narrativas para a história mas sim o ritmo frenético que não consegue explorar (porque não tem páginas suficientes para isso, diga-se) cada personagem. Não consegue aprofundá-las. 

No final, mais do que um “escritor de histórias”, Millar parece ser um “criador de ideias para histórias”. E nisso, é das melhores mentes do mundo ao serviço dos comics. O autor parece conseguir destilar de si mesmo muitas e boas ideias para bandas desenhadas. Mas eu desejaria que conseguisse aprofundar melhor cada uma destas ideias.

Relativamente à arte, este é um excelente trabalho do autor Olivier Coipel. O seu traço é bastante original e vai um pouco mais longe do que os comics americanos mais comuns, que normalmente são bastante estilizados, mas com um traço mais funcional do que artístico. Neste A Ordem Mágica, há um cariz artístico, com uma interessante utilização de sombreados, que enriquece a qualidade da obra, em termos de ilustração. A utilização dos panos de "câmara" também é muito bem conseguida, dando à obra um cariz cinematográfico e diversificado. Deverá igualmente ser dado o merecido destaque às cores de Dave Stewart, que dão o charme que a obra necessitava e que são um grande trunfo do livro. É um livro carregado de bonitas ilustrações.

No final, a obra fica a parecer um comic americano com algumas nuances derivadas do estilo franco-belga. Por vezes, nos desenhos menos detalhados, a arte não consegue ser tão evocativa, mas, nas vezes em que o detalhe é grande e, também, na caracterização facial das personagens ao longo do livro, Coipel é um mestre. Destaque para a execução tão bem conseguida de Cordelia e, também, de Miss Albany e do Veneziano. Se a ideia de Millar para estas personagens foi boa, a execução das mesmas em termos ilustrativos, foi perfeita. 

Quanto à edição da G. Floy Studio, à semelhança daquilo a que a editora já nos tem habituado, estamos perante uma edição de boa qualidade, com uma boa encadernação e um papel brilhante que funciona bem para o tipo de história em questão. Gostei particularmente dos tons amarelados nas primeiras páginas do livro, que dão aquele aspeto de papel envelhecido e que casa tão bem com uma obra sobre magia. As primeiras páginas do livro, destinadas aos créditos, ficha técnica e prefácio – que aqui é assegurado por Antonio Solinas – estão muito bem conseguidas e fazem um ótimo convite ao leitor para mergulhar num universo mágico. 

A capa, não sendo uma má capa (de todo!), poderia ter sido melhor. Basta olhar para as capas dos restantes capítulos (capítulos dois, três, cinco ou seis, por exemplo) ou para algumas das capas variantes que vêm nos extras do livro e teríamos, certamente, melhores escolhas para a capa deste volume. Contudo, este primeiro volume tem sido editado nos outros países com esta mesma capa, portanto, este comentário, sendo verdadeiramente subjetivo, não deverá ser imputado à G. Floy mas antes, à edição original.

Em conclusão, estamos perante um livro bastante recomendável e que a G. Floy, diligentemente, edita em português. Tem um bom conceito que, mais bem trabalhado, poderia ter sido uma obra-prima. No entanto, e não o sendo, é uma leitura interessante que vale a pena fazer.


NOTA FINAL (1/10):
8.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica
A Ordem Mágica
Autores: Mark Millar e Olivier Coipel
Editora: G. Floy
Páginas: 176, a cores
Encadernação: capa dura