terça-feira, 12 de novembro de 2024

Vem aí o novo Lucky Luke!


A editora ASA prepara-se para lançar, durante a próxima semana, o mais recente álbum de Lucky Luke.

O novo livro chama-se Um Cowboy Sob Pressão e tem argumento de Jul e ilustração de Achdé, como tem vindo a acontecer nos mais recentes álbuns da série.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora, mas deverá chegar às livrarias na próxima semana, a partir do dia 19 de Novembro.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão, de Jul e Achdé

A atmosfera é sombria em Nova Munique, uma pequena vila em Dakota fundada por colonos alemães.

A razão? A escassez de cerveja causada pela greve geral que paralisa todas as cervejarias do país! 

Assim, Lucky Luke é chamado para o resgate, terá de ir a Milwaukee, a capital americana da cerveja, para aliviar as tensões entre os sindicalistas marxistas e os barões industriais. 

E se o nosso cowboy solitário já está dominado pelos espasmos do conflito social, isso sem contar com os Daltons que vêm se envolver no jogo.

-/-

Ficha técnica
Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão
Autores: Jul e Achdé
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 298 x 228 mm
PVP: 12,90€

Ala dos Livros lança "Verão Índio" de Hugo Pratt e Milo Manara!


É um dos clássicos da célebre parceria entre os Mestres autores Hugo Pratt e Milo Manara e vai voltar a ter uma edição portuguesa!

E tendo em conta a qualidade das edições da editora Ala dos Livros - e, em particular, a da coleção "Obras de Pratt" - não tenho dúvidas que estaremos perante uma bela edição definitiva de colecionador.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora e deverá chegar às livrarias durante a próxima semana.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Verão Índio, de Hugo Pratt e Milo Manara
Massachusetts, 1625. 

Dois jovens índios encontram Shevah, a bela sobrinha do reverendo Black, nas dunas à beira mar. A violação da jovem rapariga quebra a convivência existente entre colonos e índios. Escondido na vegetação, Abner, que assiste a tudo, acaba por abater os dois jovens e recolher a jovem rapariga na cabana isolada onde vive com a sua família.

Mas os acontecimentos precipitam-se: os índios querem vingar a morte dos seus. 

Entretanto, começa a época do ano conhecida como o verão índio, que fica assim tingido pelo sangue da vingança e da morte.
Assinada por dois grandes mestres da Banda Desenhada Mundial, Hugo Pratt e Milo Manara, Verão Índio é uma história simultaneamente sensual e violenta, cuja acção decorre na América puritana dos primeiros colonos, e que a Ala dos Livros apresenta (de novo) aos leitores portugueses, alargando a Colecção Obras de Pratt a obras que o grande mestre veneziano efectuou com outros autores.
-/-

Ficha técnica
Verão Índio
Autores: Hugo Pratt e Milo Manara
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 320 mm
PVP: 33,00€

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

A Seita aposta em novo autor nacional de BD!


Um dos lançamentos, com algum destaque, no Amadora BD foi o da obra O Arauto, de Ruben Mocho, autor português que lança agora a sua obra de maior fôlego para o mercado nacional.

Este é o primeiro volume de um total de três volumes. Nota para o facto da obra contar com a colaboração de Allen Dunford no argumento.

Ainda não tive a oportunidade de ler este livro, mas já vos posso dizer que só de o folhear, fiquei bastante curioso para o ler.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.


O Arauto #1, de Ruben Mocho (participação no argumento de Allen Dunford)

As planícies do Velho Oeste sempre foram palco das mais estranhas aventuras, e foram por vezes percorridas pelas criaturas e personagens mais surpreendentes e assustadoras... mas poucas tão estranhas e temíveis como as que seguem o Arauto, um pistoleiro sepulcral, e que incluem: o seu cavalo, Sombra, vindo de um tempo imemorial; um Corvo misterioso e que parece agir como observador e líder deste pequeno grupo; e um cão infernal e gigante, chamado Blasfémia. 

Este estranho cavaleiro percorre a vastidão da América, e tem um passado terrível, que mergulha na Antiguidade clássica e bíblica... e enfrenta inimigos quase sobrenaturais, e que se opõem à sua busca.

O que persegue? Que segredo intemporal, vindo da passado, é o seu? E quem é o inimigo que o confronta quando menos espera?
O Arauto é o primeiro álbum de Ruben Mocho, uma saga em três volumes com um visual arrojado e dinâmico, e que nos mergulha num mundo sobrenatural, que não é bem o nosso.

Ruben Mocho é um jovem artista de banda desenhada proveniente de Lisboa, com uma extensa experiência na produção visual de jogos de computador. Tem já vários trabalhos de BD publicados em formato comic nos Estados Unidos, nas séries Postmasters, com argumento de Garret Gunn e Christina Blanch, e Worlds Forgotten, escrito por John Schell. O Arauto, a lançado 35º FIBDA, é o seu primeiro trabalho a solo (com apoio de Allen Dunford), e o início de uma saga de fantasia contemporânea, ambientada no Velho Oeste (e não só!). Previsto inicialmente para publicação em mini-série de comic nos EUA, os primeiros capítulos foram reunidos e publicados em português pel’A Seita/Comic Heart. A série está prevista para um total de seis comics, e um total de três álbuns de capa dura, o segundo dos quais sairá no Outono de 2025.

A edição d’A Seita inclui também um caderno extenso de extras, desde capas variantes e ilustrações especiais, até uma secção de esboços e estudos criada pelo autor para esta álbum.

-/-

Ficha técnica
O Arauto #1
Autor: Ruben Mocho (com a participação no argumento de Allen Dunford)
Editoras: A Seita e Comic Heart
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18,5 x 27,5 cm
PVP: 18,95€

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Escorpião Azul publica o muito esperado novo livro de Paulo J. Mendes!



Foi ainda durante o último Amadora BD, no segundo fim de semana do evento, que a editora Escorpião Azul publicou o novo álbum de Paulo J. Mendes, autor que foi o grande vencedor da edição passada dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora, com a sua obra Elviro.

Depois de O Penteador e de Elviro, ambos também publicados pela Escorpião Azul, surge-nos agora O Atendimento Geral.

Devo dizer que estou muito, muito curioso para ler este novo livro, já que sou um grande admirador da obra do autor!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

O Atendimento Geral, de Paulo J. Mendes

Um tímido escriturário vê a sua vida virada do avesso ao ser encarregado de abrir uma sucursal em certa vila do interior. A mesma onde, na infância e na juventude, passava férias na quinta de uma tia até ao derradeiro ano em que algo corre mal e aquela lhe põe as malas à porta. 

De regresso forçado após três décadas a um meio pequeno e fechado que já não reconhece, irá defrontar amigos tornados inimigos, a elite local que o hostiliza, insaciáveis apetites imobiliários e a pressão para obter resultados que não consegue, enquanto se deixa capturar por um ressuscitado apego à velha casa, memórias e cultivos ancestrais. 

Pelo caminho, o reacender de uma antiga paixão estival acarreta outro factor jamais superado: Um total estado de paralisia que o atinge sempre que se envolve fisicamente com alguém...

-/-

Ficha técnica
O Atendimento Geral
Autor: Paulo J. Mendes
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 272, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 29,00€

Análise: Na Cabeça de Sherlock Holmes

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor
Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan

Quando, no início deste ano, vos apresentei uma lista com as obras que mais expetativa me estavam a criar para 2024, Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan, apareceu na segunda posição de uma lista de notáveis obras. Por algum motivo, eu sentia que este era um livro especial. Bem, por vários motivos, na verdade: pelas análises estrangeiras positivas da obra que já tinha lido, pelas pranchas do livro que eu já conhecia e pela premissa da história que tinha, quanto a mim, muito potencial.

Talvez por isso, e mesmo que me tenha custado fazê-lo, obriguei-me a esperar pela edição portuguesa da obra, já anunciada pelo esforço conjunto editorial d' A Seita e da Arte de Autor.

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor
E agora que, há poucas semanas, este Na Cabeça de Sherlock Holmes foi lançado no Amadora BD - e já depois de o ter lido duas vezes de seguida - posso dizer-vos, agora a frio, que este é um dos vários livros da minha vida. Uma obra prima! Um livro que reinventa a banda desenhada. Que é inteligente, que é audaz, que é inventivo, que é criativo, que faz diferente. E que é distinto de tudo aquilo que já tenhamos lido - mesmo que já tenhamos lido muita banda desenhada. 

O meu feeling de que este seria um livro especial estava, afinal de contas, certo. Apenas pecou por defeito. Pois achando que seria especial, não pude antever que fosse tão especial. Este é mesmo um daqueles livros que os muitos leitores do Vinheta 2020, a quem agradeço a confiança, podem comprar às cegas. Comprem-no hoje mesmo, peçam-no como prenda de natal, peçam-no emprestado, requisitem-no de uma biblioteca ou leiam-no à socapa numa FNAC... mas leiam-no. Repito: é uma obra prima da banda desenhada, algo que não podem deixar de ler.

Os responsáveis pela autoria de tamanho feito são os franceses Cyril Lieron e Benoit Dahan - que eram perfeitos desconhecidos para mim - que uniram esforços para criar uma história de investigação propícia aos poderes de dedução fantásticos do mais célebre detetive do mundo: Sherlock Holmes.

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor
A história arranca sem grandes cerimónias, quando o Dr. Watson, o inolvidável companheiro de Sherlock Holmes, presta assistência médica a um outro amigo e colega de profissão, que aparece a contar uma história rocambolesca, aparentemente sem grande sentido, que o levou a perdas de memória, a uma clavícula deslocada e a estranhos acontecimentos. É-lhe encontrado um pó misterioso nas suas roupas, bem como um bilhete para um espetáculo exótico. São estes os ingredientes e a ignição para que, analisando o caso, Sherlock Holmes nos faça mergulhar num intrincado jogo de caça ao rato, uma investigação complexa que nos leva ao sabor da inteligência da personagem, trazida à vida pela própria inteligência da história e, especialmente, do enredo e da forma visual como tudo nos é oferecido.

Acho até que nem vale a pena escrever mais nada sobre a história. Porque parte da diversão da leitura deste livro é mesmo descobri-la. Não só "o quê", como acaba, mas também o "como", o caminho feito até que se desvende o mistério. Diria apenas que um aviso à navegação deve ser feito: este é um livro que dá muito ao leitor, mas que também exige algo do mesmo: uma leitura atenta. Como já referi, a história é complexa e, por vezes, o leitor poderá sentir-se assoberbado ou achar que há demasiada informação para absorver. E há. Mas tendo em conta o livro que temos em mãos, que procura fazer-nos mergulhar numa personagem tão perspicaz como Sherlock Holmes, é natural e até bem-vindo, diria, que o livro exija de nós alguma inteligência e atenção em troca. Porque se a investigação fosse mais simples ou mais linear, toda a premissa do livro seria mais superficial e, consequentemente, menos impactante. 

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor
Mas, afinal de contas, porque é que Na Cabeça de Sherlock Holmes é assim tão especial?

A forma como os autores exploram o universo da banda desenhada é tão diferenciada que quase é justo afirmar que os mesmos criaram um subgénero dentro da própria BD, com algumas regras próprias. É, possivelmente, a planificação mais corajosa e inventiva que já pude encontrar num livro de banda desenhada. Dei-me ao trabalho de contar o número de páginas com uma planificação dita "mais clássica", com seis ou oito vinhetas retangulares por prancha, e sabem quantas páginas eu encontrei que respeitassem esse cânone? Zero. Em cada página há uma prancha que é diferente da anterior e da posterior. 

Dahan faz-nos viajar por pranchas verdadeiramente complexas mas que - qual milagre da BD! - não só são muito belas na conceção do desenho, como conseguem fazer com que não nos percamos, mesmo tendo em conta a complexidade da investigação. Para tal, também conta a inteligente ferramenta visual que não é mais do que uma linha vermelha, que percorre todo o livro, de página a página, e que simboliza o próprio fio condutor das deduções de Sherlock Holmes. Sentimo-nos como se estivéssemos verdadeiramente dentro da cabeça do célebre detetive. Daí que o título da obra também seja muito feliz.

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor
Por falar em ferramentas visuais, há tantos exemplos que o difícil mesmo é referi-las a todas. Mesmo assim, posso apenas assinalar que em várias vezes o leitor se vê compelido a colocar o seu livro contra a luz de um candeeiro, ou de uma janela, para ver o desenho oculto (!) que está naquela página; ou, noutros casos, é-lhe sugerido que dobre as folhas do livro (com cuidado, para não as deixar vincadas, digo eu) para encontrar algo que, à primeira vista, não estava lá. Magnífico, criativo, inovador, genial!

Note-se que, antes de ler o livro, e já sabendo de algumas destas ferramentas visuais interativas, tive algum receio que a obra se perdesse em demasia nestes artifícios, afastando-se do tema principal que é a história e a investigação decorrente. Mas em momento algum isso aconteceu. Há um enfoque total na trama e na narrativa e estes "stunts bedéfilos" procuram apenas servir a obra da melhor forma possível. 

Também o desenho, propriamente dito, de traço caricatural e profundamente estilizado e moderno, captura muito bem a estética vitoriana, ao mesmo tempo que é rico e carregadíssimo de detalhes. A própria capa, assombrosamente bela (mesmo sem contar com o recorte na mesma) nos pede uma observação atenta. Mas esta riqueza de desenho não acontece apenas na capa. Espraia-se por todo livro, com cada vinheta a revelar-se cheia de detalhes e, em alguns casos, de informações que os olhares incautos poderão descurar. Nada parece ter sido deixado ao acaso neste livro e talvez também seja essa a razão da sua concepção magnífica. A própria paleta de cores, de tons a sépia, é perfeita para nos fazer sentir que estamos a ler um livro vintage, de época.

Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor
Em termos de edição, temos um trabalho notável das editoras A Seita e Arte de Autor. O livro apresenta capa dura com um recorte na mesma, no formato da cabeça da personagem Sherlock Holmes, o que não só dá um aspeto diferenciado e original à capa do livro, como tem o significado adjacente de ser um convite para que entremos literalmente dentro da cabeça de Sherlock Holmes. Um verdadeiro "rebuçado". 

E não é só isto que torna a edição boa. O papel baço utilizado é de excelente qualidade e a impressão e encadernação são impecáveis. No final, ainda é incluído um pequeno caderno de extras com quatro belíssimas ilustrações que não aparecem na edição original da obra, o que é prova do esforço conjunto d' A Seita e da Arte de Autor para uma edição especial. A própria opção por lançar a obra enquanto um volume integral que, relembro, originalmente tinha sido lançada enquanto díptico, com dois volumes, foi bastante acertada.

Do ponto de vista editorial, poderemos apenas objetar que entre a altura em que o livro foi primeiramente anunciado, para o início de 2023, até ao momento em que, finalmente, foi efetivamente editado, passou demasiado tempo. Sei que nós, leitores, não gostamos de esperar, mas, lá está, vale mais esperar um pouco mais se isso for a garantia de que a obra chegará mesmo até nós e numa bela edição. E foi exatamente isso que aconteceu.

Em suma, Na Cabeça de Sherlock Holmes parece ser um festim de criatividade em esteroides. É diferente de tudo o que já lemos em banda desenhada e tem um charme irresistível, que revela que os limites da banda desenhada enquanto género estão longe de estarem encontrados. "Porno para admiradores de banda desenhada", poderia ser o seu subtítulo. Ainda tenho muita coisa para ler que também aparenta ter enorme qualidade, mas é bem provável que a minha premiação mental para melhor BD do ano, publicada em Portugal, fique agora atribuída. Numa palavra: imperdível!


NOTA FINAL (1/10):
10.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-


Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan - A Seita e Arte de Autor

Ficha técnica
Na Cabeça de Sherlock Holmes
Autores: Cyril Lieron e Benoit Dahan
Editoras: A Seita e Arte de Autor
Páginas: 104 páginas, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2024

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Gradiva regressa às BDs sobre as Grandes Batalhas Navais!


Já está disponível o novo volume da coleção As Grandes Batalhas Navais que a editora Gradiva tem vindo a publicar.

Desta vez, a batalha história que nos é dada é a de Lepanto. 

Jean-Yves Delitte volta a estar ao leme do argumento da obra, mas os desenhos são assinados por Federico Nardo.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Lepanto - As Grandes Batalhas Navais, de Jean-Yves Delitte e Federico Nardo

No final do século XV, entendia-se que o mundo era um vasto território a descobrir.

E mesmo que a navegação não seja ainda uma ciência, mas uma arte que envolve improvisação, o papado encoraja as potências cristãs a partilhar o mundo entre si. Mas a Europa cristã, que estava a sair das suas fronteiras, tinha pela frente o Império Otomano, um crescente de territórios que se estendem ao longo de todo o litoral mediterrânico.

Na história das civilizações, o poder marítimo revelou-se sempre preponderante. Símbolo do génio científico e militar de uma nação, foi muitas vezes ele que fez a diferença por ocasião dos grandes conflitos numa época em que o avião não existia, fazendo ecoar os nomes de Trafalgar, Jutlândia ou Lepanto como confrontos já lendários.

Perito no assunto, Jean-Yves Delitte propõe com esta nova coleção fazer-nos mergulhar no coração das maiores batalhas navais da história, da Antiguidade à Segunda Guerra Mundial.

-/-

Ficha técnica
Lepanto - As Grandes Batalhas Navais
Autores: Jean-Yves Delitte e Federico Nardo
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 239 x 319 mm
PVP: 20,99€

Análise: Julieta Pirueta

Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo - Nuvem de Letras - Penguin Random House

Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo - Nuvem de Letras - Penguin Random House
Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo

As inúmeras chancelas do gigante editorial Penguin Random House têm vindo a publicar, cada uma com base no público a que se destina, várias obras de banda desenhada.

Uma dessas chancelas é a Nuvem de Letras que, tendo uma oferta mais direcionada para um público infantil, editou recentemente este Julieta Pirueta, dos autores italianos Brian Freschi e Elena Triolo.

O livro conta a história de Julieta, uma menina que, juntamente com a sua mãe e o seu irmão, vai mudar de casa, o que pressupõe uma alteração de escola e o contacto com novos professores e crianças. Mas esse até nem é o grande problema de Julieta. O seu problema é que toda a gente à sua volta faz um qualquer desporto, mas ela, parece não ter vocação para nenhum.

Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo - Nuvem de Letras - Penguin Random House
E embora a sua mãe a coloque a fazer quase todos os desportos - vólei, atletismo, ténis, tiro com arco, basquete, escalada, bowling, golfe, artes marciais, natação... - Julieta revela-se desastrada e sem queda para o desporto, metendo-se em situações caricatas que, mesmo com a personagem a ser divertida e descomplexada - lhe causam algum desconforto. 

É uma história leve e positiva sobre a tentativa forçada de uma criança em tentar, sem sucesso, todos os desportos até, finalmente, descobrir o ballet enquanto paixão e forma de expressão física e artista. Nem sempre as crianças querem fazer aquilo que os pais querem que elas façam. E, portanto, gostei especialmente da ideia inerente à obra de que é comum que os pais das cidades mais ocidentais incutam, por vezes de uma forma exagerada, a prática de um desporto nos seus filhos. Não é que o desporto não seja saudável e uma ótima forma de desenvolvimento físico e psicológico para crianças e adolescentes, mas também não deve ser algo obrigatório, que uma pessoa tenha que, mandatoriamente, fazer. Há pessoas que simplesmente não apreciam e não se sentem à vontade a fazer desporto. Especialmente o desporto que os pais lhes querem impingir. E haver crianças que não façam desporto não quer dizer, pelo menos taxativamente, que não sejam crianças saudáveis. Acho que esse ponto está bem conseguido no livro e é-nos dado com o recurso a algumas peripécias divertidas que revelam bem o quão não toldada para a prática desportiva Julieta parece ser. E é no ballet que a protagonista encontra a sua vocação. Infelizmente, o ballet é algo que lhe está expressamente proibido pela mãe, o que fará Julieta praticar às escondidas.

Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo - Nuvem de Letras - Penguin Random House
Em termos de argumento, há algumas coisas que não se tornam claras e que, naturalmente, e tendo especialmente em conta que estamos perante numa leitura direcionada a um público mais jovem, deveriam ter sido respondidas para melhor compreensão da obra. Ou melhor desenvolvidas. Por exemplo, fica-se sem perceber porque é que o pai de Julieta se encontra noutra cidade, afastado da sua família, embora isso seja bastantes vezes mencionado na narrativa. Aparentemente, um leitor adulto deduzirá que houve um divórcio entre os pais de Julieta. Mas para uma criança que leia ao livro, a questão é tratada muito de soslaio. 

Também fica demasiadamente à superfície o porquê da mãe da protagonista ser tanto contra a prática do ballet, quando a ideia que a história dava era que a mãe apenas queria que Julieta fizesse alguma coisa. Como o pai de Julieta é músico podemos - os adultos - indagar que talvez a mãe de Julieta não queira que a filha ande no ballet por ser uma prática artística que a remete para as lembranças que tem do seu ex-marido, que é músico. No entanto, Julieta acaba por ter aulas de guitarra, o que parece não irritar tanto a mãe tanto como as aulas de ballet... E isto acaba por causar uma certa incoerência no enredo que, sendo direcionado a um público infantil, deve ser mais escorreito. 

Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo - Nuvem de Letras - Penguin Random House
Enfim, se estas questões tivessem sido melhor respondidas, a obra teria outra profundidade e uma maior coerência. Assim, acaba por navegar muito à superfície, mesmo para uma obra destinada a um público mais infantil. É claro que, sendo uma série que está pensada para novos episódios, é natural e expectável que algumas das questões que ficam por responder, como a questão da ausência do pai, venham a ser atendidas futuramente. Mesmo assim, não deixa de ser verdade que a história poderia ser mais bem construída por parte do argumentista Brian Freschi.

Já os desenhos de Elena Triolo são simples e apelativos, encaixando bem nesta história leve. Apresentando um traço linear, "cartoonesco" e aparentemente rápido, a autora oferece-nos personagens cativantes e bastante expressivas, com quem é fácil criar empatia. As cores também contribuem para o aspeto agradável da obra. Estamos perante um trabalho bastante coerente e bem-vindo na vertente visual.

A edição da Nuvem de Letras é em capa mole baça com badanas. No miolo, encontramos bom papel baço e um bom trabalho no cômputo da impressão e da encadernação.

Em suma, Julieta Pirueta é um banda desenhada infantil interessante e que pode criar o "bichinho da BD" nos mais novos, muito embora o seu argumento pudesse ser mais bem construído e mais bem desenvolvido - mesmo tendo em conta, ou especialmente tendo em conta, que é um livro direcionado aos mais pequenos.


NOTA FINAL (1/10):
6.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




-/-

Julieta Pirueta, de Brian Freschi e Elena Triolo - Nuvem de Letras - Penguin Random House

Ficha técnica
Julieta Pirueta
Autores: Brian Freschi e Elena Triolo
Editora: Nuvem de Letras (Penguin Random House)
Páginas: 184, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 150 x 213 mm
Lançamento: Setembro de 2024

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree

Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree

Foi com alguma surpresa que soube que a obra Cogito Ego Sum, de Luís Louro, iria receber uma nova edição, não pelas mãos da Ala dos Livros, com quem Luís Louro tem vindo a trabalhar nos últimos anos, lançando os seus novos projetos e reeditando alguns trabalhos mais antigos como O Corvo, mas sim pela editora Polvo, com quem o autor nunca havia publicado.

Mas, enfim, jogadas de bastidores da edição à parte, foi com muito gosto que soube desta notícia, pois sempre fui, desde adolescente, um grande fã de Cogito Ego Sum. Acho até que, quando se fala da extensa e rica obra de Luís Louro, Cogito Ego Sum aparece muitas vezes - e injustamente - esquecido. 

E, claro, tendo em conta que os dois volumes originais da obra - o primeiro editado pela Meribérica/Liber e o segundo editado pela Booktree - há muito estavam extintos das livrarias - bem como extintas estão, há muitos anos, as referidas editoras - parece-me muito bem-vinda esta reedição integral, num só volume, de uma obra de Luís Louro que considero um marco para bem conhecer e bem mergulhar na mente criativa do autor.

Como tal, trago-vos hoje um comprativo entre as várias edições da obra, tentando apresentar as diferenças entre esta nova reedição da Polvo e as edições originais de Cogito Ego Sum.

Em primeiro lugar, a principal alteração que salta logo à vista, é que há uma nova capa nesta nova edição. Não sendo tão bela, a meu ver, como a capa do segundo volume - uma das minhas capas favoritas de todos os livros de Luís Louro, onde se notava uma clara inspiração no universo pictórico de Peter Pan, de Régis Loisel - esta nova capa é, ainda assim, bonita e impactante. 

As contracapas também são diferentes mas, neste caso, foi utilizada uma faixa da contracapa do segundo volume, editado pela Booktree. 

A adição da impactante assinatura do autor na capa e contracapa do novo livro, embora seja um pormenor, também me parece bem-vinda. Não só em termos estéticos, como em termos de "branding" de autor.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


Também o formato da obra é diferente. A nova edição perde apenas alguns milímetros de largura e ganha mais de um centímetro de altura.

Logicamente, a lombada da edição da Polvo também será diferente, por reunir dois livros num só. E em capa dura. 

Já que falo nisso, convém não esquecer que, embora o livro lançado pela Meribérica tivesse capa dura, o livro lançado pela Booktree apresentava capa mole com badanas. Era, pois, obrigatório, diria, que esta reedição integral tivesse capa dura. E ainda bem que assim foi feito.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


Quando abrimos cada um dos três livros, encontramos guardas muito diferentes. 

Na edição da Meribérica, as guardas, em fundo amarelo, apresentam um prefácio à obra por João Miguel Lameiras. A edição da Booktree, sendo em capa mole e com badanas, não tem guardas. 

Já a nova edição da Polvo, apresenta umas guardas muito belas e bem-vindas. No início do livro temos, numa escala cromática de vermelhos, a ilustração completa da capa e contracapa do primeiro livro, e nas segundas guardas temos, em iguais tons, a ilustração completa da capa e contracapa do segundo volume. Uma solução muito bem pensada que não só dá requinte ao livro como permite que se recuperem estas duas belas ilustrações.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree



Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree



Todos os livros apresentam frontispícios diferentes, devido à escolha de ilustrações diferentes para esta página introdutória.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


Folheando as primeiras páginas de cada livro, encontramos coisas diferentes, também. No caso de Cogito Ego Sum I, pela Meribérica, além do prefácio de João Miguel Lameiras constante nas guardas do livro, já por mim mencionado, nada temos além de uma referência ao facto de o livro ser dedicado a Rebeca Louro, filha do autor. 

Em Cogito Ego Sum II, pela Booktree, encontramos um prefácio de Maria José Magalhães Pereira e cinco desenhos de Luís Louro. Quatro esboços a lápis e um desenho de estudo de capa do primeiro livro. Diria que são belos desenhos que, lamentavelmente não entram na reedição da Polvo. Numa edição tão interessante como aquela que a Polvo nos traz, diria mesmo que é a única coisa a lamentar. Mas já lá irei.

Mesmo assim, importa referir as novidades da nova edição da obra assim que folheamos as primeiras páginas: temos um novo esboço para esta nova edição, um novo e emotivo prefácio de Rebeca Louro, e uma nota introdutória da minha autoria.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


Avançando para o miolo do livro, o papel desta nova edição é brilhante e de bela qualidade. Para ser sincero, o papel utilizado nas duas versões originais também era bom. Mesmo assim, a nova edição apresenta mais requinte neste cômputo.

O que também melhorou, foi o tratamento cromático da obra, onde os contrastes de cor e os tons mais amarelados foram melhorados, ficando mais credíveis e orgânicos. A legendagem também está melhor e mais moderna.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


O facto do formato da obra ser ligeiramente maior, bem como a ligeira diminuição das margens a branco, também permitem que as pranchas e vinhetas possam ser um pouco maiores face à edição original da obra. 


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


No final da obra, a reedição da Polvo ainda nos dá alguns "bombons". 

Ao contrário das edições originais dos livros que, no seu final, não tinham quaisquer extras - à exceção de um esboço solitário em Cogito Ego Sum II -, esta nova edição da obra dá-nos uma galeria de extras com quatro páginas. 

Nela podemos encontrar as duas ilustrações das capas dos dois livros originais - desta vez sem o gradiente a vermelho utilizado nas guardas do livro -, três ilustrações adicionais, uma nota biográfica sobre Luís Louro e um retrato do autor pelas mãos da sua filha Verónica Louro.


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


Em suma, a nova edição de Cogito Ego Sum não só é um livro, quanto a mim, essencial na carreira de Luís Louro e, portanto, totalmente recomendado aos fãs de outras obras do autor que ainda não tenham mergulhado em Cogito Ego Sum, como apresenta um belo trabalho de edição da Polvo que assinala e celebra a própria obra. 

Tenho apenas pena que alguns dos esboços contidos no segundo volume não tenham sido introduzidos nesta reedição que, sendo integral, é ainda mais propensa a este tipo de material extra. Mas tirando esse detalhe, a verdade é que outro material extra também foi incluído e produzido especialmente para esta edição que merece estar sempre disponível em loja.

Se (ainda) não conhecem, façam um favor a vós mesmos e incluam este livro na vossa estante!


Comparativo: "Cogito Ego Sum" pela Polvo, pela Meribérica e pela Booktree


Não haverá Comic Con em 2025!



Ao contrário daquilo que vinha a ser feito há uns anos, com edições anuais do evento, a Organização da Comic Con já fez saber que a próxima edição do certame decorrerá apenas em 2026 e não em 2025 como, imagino, muitos estariam à espera.

O local será o mesmo da última edição, a Exponor, em Leça da Palmeira, Matosinhos, a poucos minutos da cidade do Porto, e a data para realização do evento já é conhecida: de 26 a 29 de Março de 2026.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa que a Organização partilhou durante esta manhã.


COMIC CON PORTUGAL REVELA AS DATAS DA PRÓXIMA EDIÇÃO
 

2026 será o grande ano da próxima edição do evento, mas já em 2025 todos os fãs de Cultura  Pop terão novidades relacionadas à Comic Con Portugal com novos projetos que prometem conectar e unir gerações!

6 de novembro, 2024: A Comic Con Portugal lança oficialmente as datas da próxima edição do maior evento de Cultura Pop da Península Ibérica. Agendado para decorrer de 26 a 29 de março de 2026 na Exponor (Matosinhos), o evento promete proporcionar uma experiência incomparável para os fãs de todas as idades, transformando-se numa jornada inesquecível que une gerações e celebra a cultura geek como nunca.


Uma Viagem pela Cultura Pop

Mais do que uma simples viagem pela Cultura Pop, a Comic Con Portugal pretende estreitar laços entre pessoas, famílias e empresas, utilizando a cultura pop como veículo de conexão, também ao longo do ano de 2025, com diversas iniciativas que serão anunciadas em breve.

Desde crianças até adultos, fãs de sagas icónicas como Star Wars ou O Senhor dos Anéis serão convidados a participar numa aventura que percorre várias regiões do país, promovendo o envolvimento e a inspiração.

O clímax desta jornada épica será a Comic Con Portugal 2026, que se realizará de 26 a 29 de março na Exponor (Matosinhos), um evento que reúne fãs de todas as idades e regiões para celebrar a cultura pop em toda a sua magnitude. Durante quatro dias, a Exponor será transformada num ponto de encontro para geeks, com painéis emocionantes, exposições, concursos de cosplay e lançamentos exclusivos. O evento que será uma experiência imersiva e inesquecível para todos os participantes.

Os bilhetes para a Comic Con Portugal 2026 ficarão brevemente disponíveis. 



Análise: Harlem - Edição Integral

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros
Harlem - Edição Integral, de Mikaël

A leitura do recente Harlem, de Mikaël, de quem a editora Ala dos Livros já havia publicado os igualmente brilhantes álbuns Giant e Bootblack deixou-me, mais uma vez, maravilhado. Este é um daqueles álbuns que faz tudo bem: tem um bom argumento, tem um bom enredo, é educativo, tem boas personagens de quem guardamos memória já depois de finalizada a leitura do livro, tem ilustrações magníficas, cores belas e um igualmente belo trabalho de edição. Que mais podemos pedir?

Tal como em Giant e em Bootblack, este Harlem pertence à trilogia de histórias ambientadas na Nova Iorque do século passado. Cada uma destas histórias foi originalmente lançada em dois volumes e em cada um deles a Ala dos Livros optou, e bem, por publicá-los em volumes duplos integrais.

Harlem foca-se numa personagem real histórica, Stephanie St. Clair, também conhecida por Queenie, o que aumenta o cariz educativo da obra. 

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros
A ação decorre, como seria expectável, no bairro de Harlem, situado na ilha de Manhattan, em Nova Iorque. Estamos em 1931, durante a época da Grande Depressão. Os habitantes desta cidade, que por esta altura já é o centro do mundo, vivem muitas privações. E, em especial, a população negra, segregada neste bairro, diariamente vê injustiças racistas a serem perpetradas pelo regime vigente.

Porém, e apesar das difíceis circunstâncias, há uma mulher, Stéphanie St. Clair, conhecida como Queenie, que parece contrariar o regime. É mulher, é negra e profundamente rica, tornando-se influente no bairro.

Mas, e à boa maneira da cidade da qual Frank Sinatra cantava "if I can make it there, I'll make it anywhere", Queenie teve que superar muitos obstáculos e ser muito corajosa para subir a pulso até ocupar a sua posição atual. Originária das Índias Ocidentais e outrora escrava, cria a lotaria clandestina de Harlem que a torna muito poderosa e rica. Obviamente, o seu sucesso incomoda não só a polícia local, como a mafia que procura reclamar para si o império construído por Queenie.

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros
Esta Queenie representada pelo autor francês Mikaël revela-se uma enigmática e interessantíssima personagem, da qual até já uma outra banda desenhada, intitulada Queenie: Godmother of Harlem: A Graphic Novel, de Aurelie Levy e Elizabeth Colomba, foi publicada. Com efeito, ela é uma espécie de "godmother" que terá que se envolver numa luta contra a polícia e contra a máfia. A história remete-nos, pois, para clássicos do cinema como O Padrinho, Tudo Bons Rapazes, Era Uma Vez Na América, entre outros. Pessoalmente, sou um grande fã do género e acho que a história arquitetada por Mikaël neste Harlem está muito bem construída, adicionando várias personagens relevantes e carismáticas além da protagonista Queenie. Não é portanto de espantar que esta seja uma daquelas BDs que nos dão a impressão de estarmos a ver um filme no cinema.

Se a história e os diálogos são bons, há uma outra coisa neste Harlem que também é digna de nota: a história principal é entrecortada por flashbacks do passado de Queenie. Dito assim, não parece nada que não tenhamos visto em milhentos outros livros ou filmes. Mas, no caso em apreciação, estes flashbacks demarcam-se totalmente da restante história ao serem-nos dados de forma muda, sem qualquer texto. E, ainda por cima, com uma paleta de cores que difere daquela utilizada na restante história. Ora, não só os desenhos são lindos - já lá irei - mas também a capacidade de Mikaël em nos contar uma história passada de vida sem qualquer recurso a texto é verdadeiramente impressionante. Acaba por dar a ideia que temos um "novo livro dentro do livro". Que certamente, se isolado da obra e comercializado dessa forma, continuaria a resultar muito bem. Fiquei mesmo muito bem impressionando com este, digamos assim, "extra" da obra. E talvez seja até esse o motivo que, possivelmente me faz considerar Harlem ligeiramente acima dos também impressionantes Giant e Bootblack.

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros
Como se não bastasse tudo aquilo que aqui é feito em termos de história e narrativa, o autor ainda nos dá um pequeno easter egg, ligando os acontecimentos desta história aos dos livros anteriores. Uma cereja no topo do bolo, diria.

Concentrando-me nas ilustrações presentes nesta obra, o trabalho de Mikaël volta a ser magnânime. A forma como o autor capta a cidade de Nova Iorque consegue fazer-nos viajar para a Big Apple e fazer-nos absorver todos os seus ruídos, os seus cheiros, a sua sujidade, a sua beleza, as suas gentes e o seu rebuliço. Há vinhetas que poderiam ser comercializadas como postais da cidade de Nova Iorque dos anos 30, tal não é a sua beleza e perfeita execução. É um livro extremamente bonito.

E não é só a cidade que é brilhantemente desenhada pelo autor. As personagens são muito bem esculpidas, a sua linguagem corporal ou o dramatismo das suas expressões faciais são perfeitos e a própria escolha de planos de câmara é portentosa, remetendo-nos, mais uma vez, para o cinema. Aprecio também a forma como o autor consegue diferenciar as várias personagens, bem como um certo erotismo que perpassa em várias cenas.

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros
A parte dos flashbacks, já por mim referida, numa escala em tons azulados, apresenta-nos maravilhosas ilustrações que nos pedem uma observação cuidada. Um verdadeiro deleite para os olhos.

Até a própria capa do livro - e sobrecapa - é de uma beleza estética estonteante.

Quanto à edição da Ala dos Livros, eis-nos perante mais um belíssimo trabalho. O livro apresenta capa dura baça, bom papel brilhante, boa encadernação e boa impressão. Para além da também boa escolha, já enunciada, de publicar num só volume os dois volumes que correspondem à totalidade da obra. No final do livro, somos ainda brindados com um dossier de extras com 14 páginas, que nos permite apreciar inúmeros esboços do autor. Neste ponto, devo dizer que gostaria que os comentários do autor - que surgem ao lado das ilustrações - tivessem sido traduzidos em vez de deixados em francês.

Portanto, em suma e como já referido por mim, Harlem é - como, aliás, Giant ou Bootblack também o são - uma daquelas bandas desenhadas que me deixam de "barriga cheia" por fazerem tanta coisa bem. Estes livros de Mikaël até podem não ser, por motivos que serão apenas pessoais e subjetivos, "livros de uma vida", mas que são livros brilhantemente executados já será algo mais objetivo e claro de afirmar. Harlem é, pois, totalmente recomendado, e entra para o grupo dos melhores livros de banda desenhada do ano. Não deixem de ler!


NOTA FINAL (1/10):
9.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

Harlem - Edição Integral, de Mikaël - Ala dos Livros

Ficha técnica
Harlem - Edição Integral
Autor: Mikaël
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 136, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Outubro de 2024