quarta-feira, 30 de abril de 2025

MANGÁzine Especial - 15 Mangás que vale a pena conhecer!



Quando, há cerca de dois anos, fiz um artigo sobre algum do mangá publicado em Portugal, referi que era normal que, dada a quantidade crescente de obras mangá que por cá (já) eram editadas por tantas editoras portuguesas, era natural que depressa o meu artigo ficasse desatualizado.

Não poderia estar mais certo pois, num curto espaço de dois anos, muitas mais obras foram lançadas desde então. Certa ou erradamente - a ver vamos o que nos diz o futuro - parece haver uma aposta algo desenfreada em séries de mangá por parte de várias editoras portuguesas. Há até autores como Junji Ito ou Jiro Taniguchi que são publicados por várias editoras. Como se o mangá fosse uma espécie de "galinha de ovos de ouro" para o meio da banda desenhada.

E quando assim é, torna-se natural que os leitores menos conhecedores do subgénero do mangá se percam um bocado face a um denso volume de novas obras que por cá vão surgindo, não sabendo quais os títulos em que devem ou não apostar. E é essa a razão principal para vos trazer este artigo: para vos dar a conhecer algumas das séries relativamente recentes no nosso mercado e a minha opinião sobre as mesmas.

Optei por não colocar obras mais célebres e de qualidade que considero ser superior, como Monster, Boa Noite, Punpun, O Preço da Desonra, Sunny, Hitler, Bairro Distante ou as várias obras de Junji Ito que, quanto a mim, não precisam deste tipo de artigos e que, além disso, até já receberam análises próprias aqui no Vinheta 2020.

Antes que me corrijam, permitam que eu mesmo o faça: considerei para este artigo obras que não são mangá - pois não têm origem no Japão. Não é bem uma falha da minha parte ou, se o é, é uma falha consciente que se justifica pelo simples facto de serem obras com o potencial de agradar ao mesmo público e de serem propostas que, na sua génese, têm bastantes pontos em comum com o mangá puro do Japão.

Sem mais demoras, deixo-vos mais abaixo com o meu "MANGÁzine" especial, a minha listagem que engloba 15 mangás que foram recentemente publicadas por cá e que merecem ser (re)conhecias.

Iguana aposta em BD distópica de autora portuguesa estreante!



A editora Iguana prepara-se para lançar, a partir do próximo dia 12 de Maio, uma nova autora nacional de banda desenhada, que dá pelo nome M.L. Vieira e que tem neste Danificada a sua primeira obra de grande fôlego.

A história remete-nos para uma distopia futurista em que os clones são criados para trabalhar que nem escravos. Até que um deles passa a almejar mais do que a vida para o qual foi criado.

O livro já se encontra em pré-venda no site da editora

Mais abaixo, deixo-vos com alguma informação sobre o mesmo.


Danificada, de M.L. Vieira
Numa fábrica do futuro, máquinas e meios de transporte são montados por um batalhão de clones.

Todas mulheres, todas iguais, cada uma com um número. 

Elas não têm personalidade, nem ansiedades, nem se interrogam sobre a vida. 

Até que um dia a 2518 começa a sonhar com uma vida diferente. Sonha com a liberdade e um propósito até que… tudo começa a correr mal.

Nesta estreia impressionante, M.L. Vieira pega na ficção científica e na banda desenhada, e dá-lhe uma prosa poética e atual.

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Ficha técnica
Danificada
Autora: M.L. Vieira
Editora: Iguana
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 17,45€

terça-feira, 29 de abril de 2025

Análise: A Detetive Russa

A Detetive Russa, de Carol Adlam - ASA - LeYa

A Detetive Russa, de Carol Adlam - ASA - LeYa
A Detetive Russa, de Carol Adlam

A recente reforçada aposta da ASA em banda desenhada - que é ainda mais visível e palpável durante este ano 2025 - tem-nos brindado com belos livros numa cadência verdadeiramente impressionante, com algumas das suas obras a figurarem, para já, entre as melhores leituras de banda desenhada que fiz este ano como, por exemplo, Um Oceano de Amor, Hoka Hey!, Alguém Com Quem Falar ou Bobigny 1972. Mas se muitas vezes dizemos que "não se pode acertar sempre", este A Detetive Russa, da inglesa Carol Adlam, é manifesto exemplo disso. Mesmo que seja uma obra com um pressuposto interessante, acaba por não funcionar em vários quadrantes. 

Carol Adlam convida-nos a mergulhar num suposto thriller ambientando no tempo e ambiente do escritor Dostoiévski, que nos coloca perante a investigação de um crime por parte de uma personagem híbrida chamada Charlie Fox. Tudo começa quando Elena Ruslanova, filha de um riquíssimo empresário da indústria vidreira russa, aparece morta. Charlie Fox, jornalista, mergulha então num longo e profundo trabalho de investigação para encontrar o assassino, à boa maneira do que teria feito Sherlock Holmes ou Hercule Poirot.

A história segue, pois, por várias camadas e "side quests" em que nos são dados muitos dados e várias perguntas. Só as respostas é que tardam a aparecer... mesmo quando fazem o seu aparecimento efetivo, pois esta é uma obra onda a narrativa deixa demasiadas pontas soltas. Por esse motivo, preparem-se para ficarem com perguntas sem resposta.

A Detetive Russa, de Carol Adlam - ASA - LeYa
Reconheço que Carol Adlam demonstra uma notável coragem autoral ao lançar-se numa história que joga com o género policial noir, com espionagem, e com contextos históricos, especialmente com o pano de fundo russo-soviético, que confere um exotismo e densidade histórica à narrativa. A autora ambiciona, claramente, algo mais do que uma simples narrativa de mistério.

No entanto, é precisamente nesta ambição que reside uma das maiores fragilidades da obra. A narrativa torna-se, a certa altura, demasiadamente fragmentada, com saltos temporais e espaciais pouco assinalados e mudanças que, em vez de enriquecerem a leitura, acabam por contribuir para uma crescente confusão. Os leitores menos atentos — ou mesmo os mais experientes — poderão sentir-se perdidos na constante alternância de estilos e ritmos narrativos. Também não ajuda o facto de muitas das falas que encontramos nos diálogos entre personagens não serem acompanhadas por um balão, com as mesmas a serem introduzidas nas pranchas um pouco "à socapa", junto à personagem. Ora, escusado será dizer que nas ilustrações em que há várias personagens, esses diálogos se tornem confusos para o leitor que tem que andar ali a tentar adivinhar quem diz o quê. 

As personagens, embora intrigantes - especialmente a personagem principal - raramente são plenamente desenvolvidas. Há sugestões de profundidade emocional e de passados complexos, mas muitas dessas camadas ficam por explorar ou são apenas vagamente referidas. A personagem principal, por exemplo, oscila entre o papel de heroína enigmática e o de figura deslocada, mas falta-lhe uma linha de coerência emocional que a torne plenamente convincente. O leitor fica, muitas vezes, a tentar decifrar não apenas o enredo, mas também quem realmente são as personagens que o compõem. Sou-vos sincero, obriguei-me a ler uma segunda vez este livro, achando que o problema poderia ser meu, mas a verdade é que essa segunda leitura até me levou a encontrar (ainda) mais fragilidades na obra.

Mesmo assim, A Detetive Russa, tem alguns méritos. Especialmente, devido a esta ser uma obra visualmente ousada e ambiciosa que procura transcender os limites tradicionais da banda desenhada. A autora adota uma multiplicidade de estilos gráficos, do expressionismo ao realismo, numa tentativa clara de ilustrar os diferentes estados emocionais e psicológicos das personagens, bem como de marcar as diversas camadas narrativas. Este esforço estético resulta num livro que, por vezes, até é fascinante, com páginas que mais parecem quadros cuidadosamente compostos do que painéis sequenciais convencionais. Essa dinâmica visual, que permite que o leitor seja surpreendido várias vezes ao longo do livro, até me remeteu, com as devidas distâncias, para o Na Cabeça de Sherlock Holmes, de Cyril Lieron e Benoit Dahan, já que ambas as obras nos tentam surpreender em termos visuais para melhor mergulharmos na investigação criminal da narrativa. Mas, claro, A Detetive Russa fica bastante aquém da outra obra que menciono.

A Detetive Russa, de Carol Adlam - ASA - LeYa
Visualmente, contudo, há que reconhecer que Adlam demonstra um domínio técnico singular. Utilizando uma paleta de cores onde imperam os tons azulados, os enquadramentos revelam-se criativos e há um uso inteligente do espaço negativo. Estas escolhas estéticas sustentam parte do fascínio do livro, que convida o leitor a reler certas secções só para apreciar o detalhe gráfico. É uma obra que apela tanto ao olhar como ao intelecto — embora este último possa sair frustrado da experiência.

A estrutura da narrativa, por outro lado, dificulta a imersão. A história é contada através de fragmentos, cartas, relatórios e memórias que nem sempre se articulam de forma fluida. Essa opção estilística, que poderia enriquecer a narrativa se mais bem executada, acaba por gerar desorientação. Em vez de aguçar a curiosidade do leitor, este tipo de construção frequentemente interrompe o fluxo narrativo, exigindo um esforço de reconstrução que nem sempre compensa.

Mesmo o final da obra, longe de oferecer uma conclusão satisfatória, parece sublinhar a ambiguidade geral. O desfecho é aberto, pouco conclusivo, e deixa várias questões por resolver — não como uma estratégia deliberada de provocação intelectual, mas antes como um sintoma de uma narrativa que perdeu o controlo sobre a sua complexidade. Há a sensação de que Adlam quis dizer demasiado e acabou por não dizer o essencial.

Em termos de edição, o livro apresenta um bom trabalho, com capa dura baça, bom papel baço, boa impressão e boa encadernação.

Em suma, trata-se de uma obra esteticamente rica, mas narrativamente desequilibrada. A Detetive Russa é uma experiência visual memorável, porém confusa, cuja ambição artística não encontra eco numa execução narrativa eficaz. Apesar dessas fragilidades, não deixa de ser uma obra com algum interesse, com a sua ousadia estética e o seu desejo de inovar formalmente a merecerem ser dignos de elogio. 


NOTA FINAL (1/10):
6.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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A Detetive Russa, de Carol Adlam - ASA - LeYa

Ficha técnica
A Detetive Russa
Autora: Carol Adlam
Editora: ASA
Páginas: 112, a cores
Encadernação:
Formato: 307 x 224 mm
Lançamento: 

Um Olhar sobre o Coimbra BD 2025

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025

A edição de 2025 do Festival de Banda Desenhada Coimbra BD decorreu este fim de semana no Convento de São Francisco, entre os dias 25 e 27. Mais uma vez, tive a oportunidade de visitar o evento durante o primeiro dia do mesmo. E, novamente, é com muito bons olhos que vejo que este certame está vivo e de boa saúde, e que tem o potencial para continuar a crescer!

De facto, o Coimbra BD confirmou aquilo que já se vinha notando nas edições anteriores: é hoje um dos eventos de banda desenhada mais consistentes e carismáticos de Portugal. A cada ano, o festival cresce em qualidade e ambição, atraindo não só os aficionados de BD, como também novos públicos interessados na diversidade de atividades que o evento oferece. 

Esta edição demonstrou que o Coimbra BD pode muito bem tornar-se num dos mais importantes eventos de banda desenhada em Portugal. Se já não o for. Acredito que o seja.

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
Desde logo, porque tem o melhor espaço possível de TODOS os eventos em Portugal. O Convento de São Francisco é um espaço bem central - situado ao lado do Portugal dos Pequenitos - com boas áreas, boas e modernas instalações, parque de estacionamento gratuito, boas casas de banho, boa sinalética, bom espaço para auditórios, bom espaço para a área comercial. Enfim, é um evento que, em termos de infraestruturas, tem a dignidade que merece. Se há alguma coisa negativa que se pode apontar ao espaço - e não é bem algo "negativo", mas algo que funciona como oportunidade futura, digamos - é que o Convento de São Francisco talvez até seja grande de mais para o evento que, por agora, alberga. Mas, lá está, se o Coimbra BD continuar a crescer, mais do que um defeito, isto é uma qualidade, uma oportunidade.

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
O crescimento do evento nos últimos anos é evidente e também se nota na presença de autores internacionais, o que eleva o nível do festival e abre portas para novas parcerias e intercâmbios culturais. Este ano, o Coimbra BD contou com a presença de Arno Monin (co-autor de A Adopção), Gigi Cavenago (autor de Batman/Dylan Dog - A Sombra do Morcego) e Eddy Barrows (ilustrador brasileiro da DC Comics). A vinda a Coimbra de autores internacionais acrescenta a valência de "evento internacional" ao Coimbra BD o que, naturalmente, e a continuar deste modo, permitirá que o mesmo consiga ser mais relevante e captar mais público.

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
Nesta edição de 2025, houve um salto qualitativo na secção de exposições. Os temas foram variados, bem organizados e, sobretudo, bem apresentados. A Organização decidiu colocar no piso superior umas divisórias/paredes que permitiam que a exposição fosse mais bem "arrumada" e que os visitantes melhor pudessem circular entre os trabalhos expostos. É verdade que, no primeiro dia, dei conta de várias molduras que se desprendiam e caíam, mas no final do dia vi os funcionários da Organização a corrigir o problema. Penso que houve aqui um salto qualitativo do ano passado para este ano. Nota ainda, bastante positiva, para uma maior presença de originais expostos, o que é sempre algo que valoriza as exposições, pois permite que os visitantes compreendam melhor o valor artístico e histórico das peças, elevando a experiência geral do evento.

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
Uma coisa que me parece bastante bem-vinda é o aumento da área Artists Alley que este ano contou com bastantes mais artistas. E o facto desta área ser o prolongamento físico da zona onde se encontram as lojas de banda desenhada, faz com que se crie uma verdadeira ponte entre as duas áreas. E acho que isso tem bastante valor, pois só com estas pontes a banda desenhada pode almejar ir buscar público a outras frentes. É bom que exista uma sala dedicada ao gaming, uma ampla sala dedicada à cultura pop, ou um espaço dedicado aos jogos de tabuleiro, pois o conjunto de todas essas atividades permite que o evento arraste mais público e, com isso, ganhe nome e relevância viral. Mas, lá está, o que se assiste é que esses subgéneros trazem o seu próprio público que, depois, interage pouco ou nada com aquilo que diz respeito à banda desenhada, seja exposições, apresentações ou mercado de BD. E é justamente por esse motivo que bem-digo o crescimento e a junção da área Artists Alley à zona comercial de banda desenhada. É uma autêntica ponte entre dois universos e dou os parabéns à organização por tal.

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
No entanto, e apesar da minha indisfarçável satisfação perante este evento - e, também, perante as pessoas da Organização do Coimbra BD que estão claramente comprometidas em melhorar o evento de edição para edição, sempre com um trato afável e educado - o Coimbra BD ainda tem margem para consolidar melhor a sua programação e potenciar ainda mais a adesão do público.

Com efeito, considero que a área de apresentações e palestras ainda precisa de ser revista com atenção. E não me entendam mal com esta afirmação. O que não falta no Convento de São Francisco são boas salas para apresentações. Mas o "problema" é mesmo esse: ao haver três salas de apresentações, faz com que as mesmas se apresentem de forma mais dispersa e sejam mais difíceis de acompanhar por parte dos visitantes. Confesso não compreender o porquê de tal escolha, uma vez que nem sequer se verifica que as salas estejam a ser usadas ao mesmo tempo. Resultado: o evento até pode estar cheio de gente - como, felizmente, estava - mas as salas vão estar às moscas. É um claro exemplo em que "menos seria mais".

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
Já no ano passado o referi e volto a referi-lo: parece-me bem mais viável que passe a haver apenas um auditório ativo onde decorrem todas as apresentações. De preferência, aquele que se encontra mais perto do espaço comercial. Esta simples alteração trará melhores resultados, estou certo. Não é necessário que haja três auditórios se os mesmos não são utilizados em simultâneo. Ganha a Organização, ganham os autores/editores e ganha, especialmente, o público. Tal como no mercado da música, vale mais um concerto dado num Coliseu dos Recreios cheio, do que num Altice Arena "às moscas".

Outra coisa que também pode e deve ser melhorada é o anúncio das apresentações. É verdade que junto ao espaço comercial está afixado um grande programa que deixa bem claro quais as atividades a decorrer, mas parece-me que um anúncio feito por microfone (para isso seria necessário instalar um sistema de som, eu sei, mas valeria a pena) ou, pelo menos, nos vários écrans espalhados pelo evento, ajudaria a que as sessões fossem mais concorridas.

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025
O problema das salas de apresentações vazias ou pouco preenchidas não é apenas uma questão estética, mas também prejudica a dinâmica dos próprios convidados, que mereciam audiências mais robustas e entusiásticas. A utilização de apenas um auditório e uma comunicação mais eficaz dos horários e conteúdos aos visitantes poderia resolver este problema em futuras edições.

Este ano, junto à zona comercial, havia mesas para autógrafos. Pareceu-me uma boa ideia, por se tentar juntar à parte comercial os autores, mas, por outro lado, e havendo uma sala para sessões de autógrafos, pareceu-me uma medida redundante. Na maior parte das vezes, as mesas de autógrafos na parte comercial do evento encontravam-se vazias, o que senti causar uma certa confusão a alguns dos visitantes que por ali cirandavam. Creio que, na próxima edição, talvez seja melhor que os autógrafos aconteçam apenas na sala destinada para tal.

Enfim, mesmo com essas questões menores a corrigir, parece-me certo que o Coimbra BD continua a ser uma referência extremamente positiva no panorama da banda desenhada em Portugal. A qualidade geral ombreia com a de outros festivais nacionais de banda desenhada e a cidade de Coimbra já começa a ser reconhecida por este evento. Aliás, o facto do evento se encontrar muito concorrido na sexta-feira - mesmo considerando que era feriado - é prova de que o bom trabalho está a começar a gerar frutos de ano para ano.

Em 2025, o Coimbra BD demonstrou que tem a infraestrutura, a equipa e a paixão necessárias para crescer ainda mais. Que a próxima edição seja ainda melhor e parabéns a todos os envolvidos pelo sucesso desta edição!

m Olhar sobre o Coimbra BD 2025


quinta-feira, 24 de abril de 2025

Análise: Alexandra Kim, Filha da Sibéria

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim

Em pouco tempo, em cerca de um ano, a autora coreana Keum Suk Gendry-Kim passou de uma autora com nenhuma obra publicada em Portugal para uma autora com quatro livros editados por duas editoras portuguesas diferentes que, no seu todo, lançaram Erva, A Árvore Despida e A Espera, para além do livro a que este artigo se dedica. E será lançada ainda, brevemente, uma nova obra da autora, intitulada O meu amigo Kim Jong-Un, que nos há de chegar no próximo mês de Maio, pelas mãos da editora Iguana.

Hoje trago-vos aquele que foi o primeiro livro por cá editado, que dá pelo nome de Alexandra Kim, Filha da Sibéria, e que a editora Levoir publicou na sétima Coleção de Novelas Gráficas, lançada em parceira com o jornal Público.

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
Este é um trabalho de cunho biográfico que nos mergulha na vida de Alexandra Kim, uma figura histórica pouco conhecida, mas de grande relevância. A obra retrata a trajetória de Kim como a primeira coreana a aderir ao movimento bolchevique, destacando o seu papel na luta pelos direitos dos trabalhadores, no início do século XX. A narrativa é baseada no romance biográfico de Jung Cheol-Hoon.​

A história arranca com a infância de Alexandra passada na China, onde o seu pai trabalhava como intérprete na construção dos Caminhos-de-Ferro do Leste da China. Talvez por isso, desde cedo Alexandra Kim se viu sensibilizada para as condições precárias dos trabalhadores. Daí a ter-se envolvido na luta pela emancipação dos trabalhadores russos face à repressão do regime czarista, quando, após a morte do seu pai, regressou à Rússia, foi um mero passo expectável. Para além das barreiras linguísticas, foi a situação dos trabalhadores - e o seu sofrimento - aquilo que motivou o empenho de Alexandra Kim, numa altura em que o direito do trabalho era praticamente inexistente na Rússia. Durante a Primeira Guerra Mundial, Kim passou a trabalhar como intérprete nas fábricas dos Urais, aproximando-se ainda mais do Partido Comunista de Lenine.​

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
Keum Suk Gendry-Kim volta a dar-nos uma história carregada de humanismo para que possamos compreender o passado precário do proletariado russo - e não só - que teve que enfrentar múltiplas adversidades, demonstrando resiliência e coragem. A vida atribulada de Alexandra Kim, que se desenrolou por vários territórios, é particularmente rica devido ao seu percurso pessoal se ter cruzado com momentos importantes da história da luta das classes.

A narrativa de Gendry-Kim é marcada por uma abordagem sensível e respeitosa das experiências retratadas, evitando o sensacionalismo desenfreado e, em sentido oposto, optando por representar a violência e o sofrimento de forma subtil, utilizando sombras e cenários escuros para transmitir o impacto emocional dos eventos. Essa escolha estilística permite que o leitor se conecte profundamente com a história sem ser confrontado com imagens demasiado explícitas. Com efeito, Alexandra Kim, Filha da Sibéria não consegue ser tão impactante e chocante como o livro Erva, por exemplo, mas, mesmo assim, a obra consegue ser​ informativa e relevante.

Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público
O traço delicado e expressivo da autora, que se mantém fiel ao seu estilo, contrasta, pois, com a dureza dos eventos retratados, criando uma narrativa visualmente impactante. A escolha do preto e branco reforça a atmosfera sombria da época, enquanto os detalhes nas expressões faciais e nos cenários transportam o leitor para o contexto histórico da narrativa.​ Devo dizer que neste livro a autora me pareceu especialmente inspirada nos desenhos, apresentando ilustrações mais aprimoradas e de traço mais limpo do que noutras ilustrações contidas em livros já por cá publicados.

A meio do livro, é verdade que a narrativa se torna mais densa e fragmentada, o que pode dificultar o acompanhamento do percurso da protagonista. Esta mudança coincide com o aprofundamento do contexto político da Revolução Russa e das movimentações comunistas internacionais, o que exige do leitor uma maior familiaridade com os acontecimentos históricos e com as suas figuras-chave. Os saltos temporais e geográficos sucedem-se com mais rapidez, e a inclusão de personagens secundárias menos desenvolvidas também pode contribuir para um certo desencontro na leitura, exigindo maior atenção para não se perder o fio condutor da vida de Alexandra Kim.

A edição da Levoir é em capa dura baça, com bom papel baço no miolo e boa encadernação e impressão. Esta edição conta com um prefácio da autoria de Rui Cartaxo e, no final, com três páginas com informações biográficas sobre Alexandra Kim.

Em suma, pode dizer-se que Alexandra Kim, Filha da Sibéria é uma leitura interessante e especialmente relevante para quem se interessa por histórias de resistência e luta por justiça social. A obra destaca a importância de uma figura histórica de que se fala pouco, trazendo à luz o seu contributo para os movimentos sociais e políticos que ocorreram no início do século XX e mostrando como as fronteiras nacionais podem (e devem) ser facilmente transpostas quando se trata de combater a opressão e promover a igualdade.​


NOTA FINAL (1/10):
8.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Alexandra Kim, Filha da Sibéria, de Keum Suk Gendry-Kim - Levoir e Público

Ficha técnica
Alexandra Kim,Filha da Sibéria
Autora: Keum Suk Gendry-Kim
Editora: Levoir
Páginas: 236, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Outubro de 2023





Coimbra BD 2025 começa amanhã!


O Coimbra BD 2025 arranca amanhã! A esse propósito, deixo-vos com a programação completa das atividades que os visitantes poderão encontrar neste evento que acontece entre os dias 25 e 27 de Abril no Convento de São Francisco, em Coimbra, e que tem entrada livre.

Relembro que a programação relativamente aos autores que estarão presentes, bem como em relação às exposições já aqui foi previamente anunciada.

Vemo-nos por lá!



















quarta-feira, 23 de abril de 2025

Análise: O Ditador e o Dragão de Musgo

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa
O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé

O Ditador e o Dragão de Musgo, da dupla francesa Fabien Tillon e Fréwé, é um dos mais recentes lançamentos de banda desenhada da editora ASA. Este é um livro originalmente lançado em 2024 no mercado francófono, que desafia convenções ao apresentar uma história verídica com contornos tão improváveis que mais parecem saídos da ficção. 

A história acontece nas Coreias, a partir do ano 1978, e conta-nos a história verídica do realizador e produtor de cinema Shin Sang-Ok - uma autêntica estrela da Coreia do Sul. A sua mulher, Choi Eun-hee, é atriz e outra estrela do cinema nacional. A vida destes dois artistas, cujo casamento parece estar à beira do fim, é profundamente alterada quando Choi Eun-hee desaparece sem deixar qualquer rasto. Isto motiva Shin Sang-Ok a procurar a sua esposa desenfreadamente. Até que ele mesmo acaba por ser raptado, tal como - vimos a descobrir entretanto - a sua mulher. Por quem? Bem... pelo regime totalitário da Coreia do Norte.

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa
À semelhança do que aconteceu com outros artistas japoneses, chineses ou coreanos, o regime de Kim Jong-Il raptava alguns dos talentos mais proeminentes dos países vizinhos com o intuito de colocar esses mesmos artistas a trabalhar para o regime ditatorial. Assim, Shin Sang-Ok e Choi Eun-hee vêem-se cativos na Coreia do Norte com a tarefa de realizarem, em nome da ditadura, filmes que marcarão a história do cinema de Pyongyang, contribuindo para a propaganda política, alicerçada na propagação da ideia de que a Coreia do Norte é um país perfeito. 

Ao casal é concedida uma boa vida, com muitas mordomias, e liberdade para que façam os seus filmes da maneira que bem entenderem, desde que, claro está, esses filmes tracem uma boa imagem da Coreia do Norte. Como seria fácil de prever, Shin Sang-Ok não fica propriamente satisfeito com esta vida. Mesmo que uma gaiola seja bela e dourada, não passa disso mesmo: de uma gaiola, de uma prisão. Portanto, enquanto Shin Sang-Ok realiza filmes que são um sucesso junto do público e da crítica da Coreia do Norte, o realizador começa a encetar planos para uma fuga. Até porque, esta prisão levou o casal a ter que estar longe - e sem qualquer contacto - dos seus filhos ou de outros familiares ou amigos. Não conto mais para não privar os leitores das surpresas que esta história vai revelando.

Custa a crer, mas aconteceu mesmo. A narrativa mergulha o leitor num enredo mirabolante, mas assente em factos reais, o que a torna não apenas envolvente, mas também profundamente reveladora. Esta dualidade entre o absurdo e o verídico é o que dá à obra a sua principal força e originalidade, provocando tanto a incredulidade como a reflexão. 

O trabalho de Tillon no argumento é bem conseguido ao conseguir contar-nos uma história real com o ritmo de um thriller, fazendo com que uma das coisas mais fascinantes desta obra seja precisamente o facto de que, apesar de tudo parecer uma invenção absurda, se tratar de uma história real. A incredulidade que sentimos ao ler certos episódios é constantemente desafiada pela lembrança de que estes acontecimentos realmente tiveram lugar. Por essa razão, O Ditador e o Dragão de Musgo transcende o mero entretenimento, sendo uma obra com potencial educativo, que pode ser usada como porta de entrada para discussões sobre regimes autoritários, propaganda, resistência e até mesmo sobre o papel do absurdo na história política. A banda desenhada, muitas vezes subestimada como meio, revela-se aqui (e mais uma vez) como uma poderosa ferramenta de comunicação e crítica.

O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa
Os desenhos da autora Fréwé seguem um estilo rápido e simples, que à primeira vista pode parecer modesto, mas que revela uma eficiência narrativa surpreendente. As expressões faciais, os cenários e a linguagem corporal são transmitidos com clareza e fluidez, permitindo que o leitor acompanhe a história sem qualquer esforço. É um estilo que privilegia a funcionalidade narrativa em detrimento do virtuosismo gráfico, o que, neste caso, funciona muito bem.

No entanto, é inevitável pensar no potencial estético não totalmente explorado. Isso fica especialmente evidente nas ilustrações que marcam as divisões entre capítulos: nestes momentos, Fréwé abandona a simplicidade funcional para apresentar imagens verdadeiramente belíssimas, detalhadas e evocativas. São desenhos que nos mostram o que a artista é capaz de alcançar quando não está restrita ao ritmo da narrativa sequencial, e que nos fazem desejar mais momentos assim ao longo da obra. A diferença entre o estilo principal e estas ilustrações de separação dos capítulos sugere que a autora optou conscientemente por um traço mais leve e rápido para a narrativa. Ainda assim, essa escolha deixa a sensação de que a obra poderia ter alcançado um impacto visual ainda mais duradouro se houvesse uma maior integração do seu lado mais artístico ao longo de toda a história.

A edição da ASA é em capa mole, sem badanas. Bem, tecnicamente falando, o acabamento não é meramente em "capa mole", mas em "flexicover", sendo este um material mais maleável e resistente do que uma habitual "capa mole". Seja como for, e termos técnicos à parte, não se trata da "capa dura" a que os leitores portugueses de banda desenhada mais estão habituados. Para além disto, o livro apresenta bom papel baço no miolo, boa impressão e uma encadernação boa, embora um pouco frágil.

Em suma, O Ditador e o Dragão de Musgo é uma leitura que vale especialmente a pena por nos retratar uma história que, mesmo sendo inspirada em factos verídicos, é incrivelmente mirabolante. O seu relato extraordinário, aliado à eficácia do texto e ao charme visual, mesmo com as suas limitações, fazem desta uma obra que merece ser conhecida, debatida e, sobretudo, lida com espírito crítico.


NOTA FINAL (1/10):
8.0




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Ditador e o Dragão de Musgo, de Fabien Tillon e Fréwé - ASA - LeYa

Ficha técnica
O Ditador e o Dragão de Musgo
Autores: Fabien Tillon e Fréwé
Editora: ASA
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 291 x 210 mm
Lançamento: Março de 2025

terça-feira, 22 de abril de 2025

Análise: Lovistori | Cadafalso | O Diabo e Eu

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
Lovistori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão

Hoje trago-vos uma dose tripla de um autor brasileiro que muito aprecio e cuja obra tem vindo a ser editada em Portugal pela editora Polvo, mas que, com alguma pena minha, não tem recebido o destaque e o louvor que, quanto a mim, lhe é devido.

Falo-vos de Alcimar Frazão que, com uma obra marcada por um traço visual inconfundível e uma escrita densa e poética, se tem vindo a afirmar como uma das vozes mais singulares da banda desenhada contemporânea do Brasil. Por cá, a Polvo já editou O Diabo e Eu, Cadafalso e, mais recentemente, Lovistori.

Comecemos por este último.

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
Lovistori, com argumento de Lobo, narra uma história de amor que se desenrola nas ruas de Copacabana entre um travesti e um polícia. É uma história em género slice of life que nos coloca no turbilhão de sentimentos que envolve as personagens Sereia e Paixão, num relacionamento amoroso que, aos olhos de muitos, e possivelmente dos próprios protagonistas, tem muito de condenável. Sereia e Paixão tentam, como podem, fazer o seu amor e a sua paixão resistir a barreiras que parecem demasiado altas para serem ultrapassadas. Abordando os temas da transfobia, do preconceito e da violência de que é alvo a comunidade LGBTQI+ no Brasil atual, este é um livro de forte impacto, com alguma violência à mistura, que desafia o leitor a uma reflexão sobre os temas aqui presentes. Reflexão essa que não é demasiado politizada, o que me agradou. A narrativa, aparentemente simples, esconde camadas emocionais profundas e uma crítica subtil à banalização das relações humanas e da aceitação do outro. Dos três livros, é este o meu preferido - embora também tenha gostado muito de O Diabo e Eu

Em Cadafalso, Alcimar Frazão oferece-nos um conjunto de histórias curtas, em que os temas e as abordagens diferem bastante entre si, embora quase todas estas histórias curtas nos apresentem uma realidade algo sombria e triste que é, como expectável, sublinhada pela bela utilização dos tons negros e do espaço negativo das ilustrações, por parte do autor brasileiro. Há bastantes referências nestes contos, passando pela música, pela literatura ou pela filosofia existencialista, e as várias histórias acontecem em lugares muito variados como Florença, Barcelona, São Paulo ou Porto Alegre. Sendo um bom livro, admito que, dos três do autor, foi este aquele que menos me marcou, talvez pelo fio condutor - se é que o mesmo existe - ser algo disperso entre as diversas histórias. O que, reconheço, até pode ser um ponto a favor para os leitores que procuram histórias mais curtas e independentes, sobre variados temas.

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
Finalmente, O Diabo e Eu, obra através da qual conheci o trabalho do autor brasileiro, é uma biografia/homenagem muda, sem qualquer balão de fala ou legenda, ao músico Robert Johnson, uma figura incontornável dos blues americanos que criou na década de 1930 uma sonoridade entendida por muitos como a ligação entre o blues rural, acústico e sujo, e o blues moderno e eletrificado. O seu talento foi atribuído a um suposto pacto que ele teria feito com o Diabo na encruzilhada das estradas 61 com a 49, nos Estados Unidos. Pegando nas canções de Johnson para a partir daí construir uma narrativa de tom existencial sobre esta figura emblemática, Alcimar Frazão oferece-nos um livro que consegue o feito de fazer o leitor refletir e, por ventura, reler o livro uma segunda vez para mais profundamente conseguir captar os intentos do autor, já que há várias mensagens subliminares a retirar daqui. Gostei muito!

Olhando para estes três livros como um todo, é legítimo afirmar que os mesmos formam uma espécie de tríptico temático e estético, cada um mergulhado em atmosferas próprias é certo, mas todos conectados por uma visão profundamente humana e estilisticamente apurada da condição existencial. A arte ilustrativa de Frazão é um elemento unificador poderoso, com traços firmes e contrastes duros, que evocam tanto a elegância clássica da banda desenhada europeia, quanto um certo lirismo moderno e cinematográfico.

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo
O desenho de Alcimar Frazão é, pois, e sem dúvida, um espetáculo à parte. Executado sempre a preto e branco puro, o seu estilo alia o rigor técnico à expressividade emocional. A elegância realista com que representa corpos e rostos é impressionante, revelando uma atenção minuciosa ao detalhe sem nunca perder a força simbólica. As sombras e luzes, magistralmente distribuídas, conferem profundidade psicológica a cada cena, enquanto os enquadramentos e composições sugerem uma clara influência do cinema clássico e da banda desenhada europeia.

O seu estilo de ilustração é verdadeiramente belo, diferenciado e magnífico! Daqueles tipos de desenho carregados de charme, drama e noção estética que, tudo somado, são um deleite para os olhos e que é particularmente notável nas sequências de silêncio, onde as personagens falam apenas com os olhos ou com o corpo. Nestes momentos, o estilo de Frazão transcende o desenho narrativo e entra no território da poesia visual. 

Quanto às edições dos três livros, todas elas apresentam o mesmo tipo de aspeto e acabamento. Os três livros envergam capa mole com badanas, bom papel baço no interior, boa encadernação e boa impressão. Os livros O Diabo e Eu e Cadafalso, por terem papel preto, adquirem um certo requinte e destaque visual que me agrada especialmente.

Em suma, Alcimar Frazão é um artista verdadeiramente impressionante, que muito admiro, e que ao longo destes três livros nos acena com um estilo de ilustração depurado, belo, cinematográfico e poético. O facto de também as histórias terem algum existencialismo abstrato pode fazer com que os livros do autor não sejam necessariamente fáceis - ou para toda a gente. Contudo, isso não me impede de afirmar que este é um dos meus autores preferidos da banda desenhada brasileira da atualidade. Não deixem de dar uma oportunidade ao seu trabalho.


NOTA FINAIS (1/10):
Lovistori: 8.6
Cadafalso: 7.4
O Diabo e Eu: 8.2




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

Fichas técnicas
Lovistori
Autores: Lobo e Alcimar Frazão
Editora: Polvo
Páginas: 80, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 169 x 233 mm
Lançamento: Outubro de 2023

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

Cadafalso
Autor: Alcimar Frazão
Editora: Polvo
Páginas: 120, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 169 x 233 mm
Lançamento: Maio de 2019

Lovitori | Cadafalso | O Diabo e Eu, de Alcimar Frazão - Polvo

O Diabo e Eu
Autor: Alcimar Frazão
Editora: Polvo
Páginas: 48, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 169 x 233 mm
Lançamento: Junho de 2015

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Distrito Manga edita segundo volume de "Sinais de Afeto"



Ainda só passaram poucos dias desde que a Distrito Manga começou a publicar a série Sinais de Afeto, de suu Morishita, e a chancela do grupo editorial Penguin já se prepara para lançar o segundo volume da série, que tem lançamento previso para o próximo dia 28 de Abril!

Relembro que este é a primeira obra "shōjo", isto é, um mangá que é especialmente direcionado a um público feminino, da editora portuguesa.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.
     

Sinais de Afeto - Livro 2, de suu Morishita

Yuki está determinada em aproximar-se de Itsuomi, mas não deixa de se questionar : «Porque é que o tempo que passamos juntos é sempre tão curto?»

Depois de se debater com os seus sentimentos por Itsuomi, Yuki decide escolher o amor. Uma conversa íntima entre os dois, numa lavandaria, enquanto observam a neve a cair lá fora, abre o caminho para uma relação mais profunda.

Mas o progresso é lento e Yuki sente que o mundo em que Itsuomi se move é intimidante…

Como será que vão conseguir continuar a comunicar um com o outro quando Itsuomi está sempre a entrar e a sair da vida de Yuki?

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Ficha técnica
Sinais de Afeto - Livro 2
Autora: suu Morishita
Editora: Distrito Manga (Penguin)
Páginas: 168, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 10,95€