Alix Senator – Volumes 5-9, de Valérie Mangin e Thierry Démarez
Depois de já ter lido os primeiros quatro volumes da série
Alix Senator, publicada em Portugal pela editora
Gradiva, optei por ir acumulando vários volumes para depois fazer a sua leitura seguida, de uma só vez, para melhor poder mergulhar na série. E ainda bem que o fiz porque, sendo verdade que cada volume contém uma aventura, mais ou menos, independente, não deixa de ser menos verdade que há todo um percurso, um ciclo e um enredo que é comum a todos os livros. Com efeito, à medida que a série vai avançando, vão acontecendo alguns eventos – alguns deles dramáticos e irrevogáveis – que fazem com que o leitor tenha que ler a série toda para maior fruição da mesma.
E, lá está, como
Alix Senator é uma série onde, à semelhança de
Murena – com a qual há, de facto, muitas similaridades – existe uma trama que se vai tornando mais complexa, com muitas personagens – cada uma com a sua própria agenda pessoal – torna-se uma série algo difícil para ler, se os tomos forem lidos isoladamente. Como tal, recomendo que a leiam de forma seguida. Relembro que, neste momento, já estão publicados, em português, 9 dos 14 álbuns originalmente publicados.
Alix Senator é uma série criada por Valérie Mangin e Thierry Démarez, que é uma continuação da série original
Alix, da autoria de Jacques Martin. Mas, enquanto que a série clássica de Jacques Martin assentava num protagonista jovem, ingénuo e imberbe,
Alix Senator traz-nos um protagonista de meia idade, experiente e sábio, que é um dos senadores de Roma. O próprio estilo de ilustração é bastante diferente entre ambas as séries, com este
Alix Senator a ter um registo muito mais realista nos desenhos.
A história passa-se na Roma Antiga, acompanhando o protagonista e as personagens que o rodeiam, como os jovens Tito ou Khephren, numa narrativa pródiga em intrigas, mistérios e eventos históricos. Sendo histórias fictícias, o ambiente é baseado na Roma Antiga e, portanto, tem esse bom valor histórico. Como tal, a série mantém o foco na precisão histórica, ação, aventura e intrigas, mas também explora questões mais complexas, como a política e as lutas pelo poder numa Roma em declínio, reproduzindo vários eventos políticos, culturais e sociais da época o que, certamente, torna a leitura educativa e atraente para os fãs de história. E para aqueles que procuram uma dose tímidamente temperada de fantasia, a série também tem os seus argumentos para dar.
E, claro, depois há toda uma trama, cheia de conspirações, traições e
twists que, sendo bem-vinda, peca, a meu ver, por ser pouco clara, por vezes. É por isso que, amiúde, certos volumes são muito bem conseguidos e outros parecem menos inspirados. Não é uma série que cativa de forma igual, de livro para livro. Embora, claro, o sentimento global, especialmente se a série for lida de forma mais seguida, acaba por ser bastante positivo. E é verdade que, em todos os cômputos, a série parece ter vindo a evoluir, especialmente a nível do argumento.
A história destes cinco volumes anda muito à volta da descoberta de Khephren, filho não biológico de Alix, que descobre que os livros sibilinos escondem um terrível segredo. Aparentemente, uma misteriosa Cibele de auricalco concede o poder da eternidade àqueles que a forem adorar. E, claro, o jovem egípcio fica convencido de que é ele o predestinado a tal feito. Acaba por pagar caro por essa busca incessante, arrastando Alix e Enak – o seu pai biológico – para o deserto egípcio de forma a alcançar Amon e o santuário dos mortos. Pelas circunstâncias que lhes sucedem, Alix e Khephren veem-se prisioneiros, numa espera inglória pela morte. A história é então tomada por (mais) um evento bastante dramático que, naturalmente, não vou revelar aqui. Posteriormente, Alix acaba por ser enviado pelo Imperador Augusto à cidade de Petra, onde entra em cena Alexandre e o seu pai, Silei. Este, conspira para envolver Roma na sua toma do poder, enquanto uma onda de assassínios começa a assombrar a população local. Caberá depois a Alix, qual detetive dos tempos da Roma Antiga, a tarefa de desvendar quem está por detrás destes homicídios.
Se a história consegue cativar o leitor, acho que, por vezes, a argumentista Valérie Mangin poderia explorar melhor a forma como as personagens reagem aos eventos que experienciam. É que, face a alguns acontecimentos mais extremos, parece-me sempre que a reação das personagens é algo oca e pouco profunda. Se esses elementos mais dramáticos fossem mais bem explorados, o próprio leitor sentir-se-ia mais embrenhado na trama. A frieza acaba, pois, por contagiar o leitor. O que é pena.
Outra coisa que poderia ser mais bem explorada é que, amiúde, me parece que a série Alix Senator se esforça em demasia para agradar a “gregos e a troianos”. Passo a explicar: a história tem momentos de romance, de violência, de nudez, de drama.... dignos de uma série para adultos. No entanto, parece haver sempre uma aura de bom senso para não chocar em demasia, talvez com o intuito da série também se destinar a um público mais adolescente. Assim sendo, acaba por ser “morna”, com porções demasiado económicas de romance, de drama, de nudez e de violência. Quanto a mim, a série seria mais impactante se esses elementos nos fossem dados em doses menos contidas.
Em termos da ilustração, também se vai sentindo, de volume para volume, que Thierry Démarez está cada vez mais à vontade a desenhar a série, apresentando segurança e desenvoltura técnica para ilustrar as personagens, os locais, as roupas de época e os diferentes momentos de ação que vão pululando pela série. Embora, concretamente nas cenas mais bélicas e de ação, por vezes se sinta alguma rigidez nos movimentos das personagens. O traço é bastante realista e detalhado, enchendo bem o olho dos adeptos do género. Mais uma vez, também nesta questão,
Alix Senator nos remete para
Murena.
Repetindo as minhas palavras já escritas sobre esta série, em termos de ilustração esta obra apresenta “um estilo que aparenta ser clássico na conceção, embora também se sirva de algumas ferramentas modernas digitais (…). Os cenários são muito bem representados e com um cuidado aprumado em relação ao nível de detalhe dos desenhos. Também em termos de personagens, gostei bastante das ilustrações do autor, com caras realistas e com expressões verossímeis na maior parte das vezes. Também é verdade que, em alguns casos, se sentem as personagens e seus demais gestos algo estáticos.”
Nota ainda para as cores de Jean-Jacques Chagnaud, que são muito belas e que também têm vindo a melhorar ao longo da série.
Em termos de edição, o trabalho da Gradiva é bastante bem conseguido em toda a coleção. Todos os livros apresentam capa dura brilhante, bom papel brilhante e um bom trabalho ao nível da impressão, encadernação e acabamentos. Refira-se que o ritmo de publicação desta série por parte da Gradiva é verdadeiramente impressionante para os padrões nacionais. Em cerca de dois anos, a editora publicou 9 volumes!
Em resumo, Alix Senator é uma série que, de volume para volume, vai-se tornando mais coesa e nos dá uma bela trama que acaba por ser melhor sorvida se a série for lida de forma seguida. Sem interregnos temporais. Para os fãs de história, aventura e política, é uma leitura que vale a pena explorar!
NOTA FINAL (1/10):
8.5
-/-
Alix Senator #5 - O Uivo de Cibele
Autores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 31,30 x 23,30 cm
Lançamento: Agosto de 2022
Alix Senator #6 - A Montanha dos MortosAutores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 31,30 x 23,30 cm
Lançamento: Agosto de 2022
Alix Senator #7 – O Poder e a EternidadeAutores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 31,30 x 23,30 cm
Lançamento: Novembro de 2022
Alix Senator #8 - A Cidade dos VenenosAutores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 31,30 x 23,30 cm
Lançamento: Fevereiro de 2023
Alix Senator 9 - Os Espectros de RomaAutores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 31,30 x 23,30 cm
Lançamento: Setembro de 2023
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