Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen
[Antes de avançar nesta análise, permitam-me uma nota pessoal: estou bem ciente de como nos últimos tempos tenho escrito menos análises de banda desenhada aqui no Vinheta 2020. Sei que as análises de bd são a principal razão de ser deste blog, bem como o primordial motivo para as muitas visitas que o Vinheta 2020 recebe, diariamente. Não pensem que tenho lido menos bd nos últimos tempos. Na verdade, até tenho lido mais banda desenhada do que noutras alturas do ano. Mas, simplesmente, por vários motivos, em que destaco o lançamento do novo disco de uma das minhas bandas (Alves Baby) mas, também, e principalmente, a preparação da Gala dos VINHETAS D'OURO, que me tem ocupado muitas horas, não tenho tido tanto tempo para escrever. Mas, não se preocupem, tenho muitos livros já lidos e prontos a serem analisados. E espero voltar ao meu normal durante os próximos dias. Obrigado pela compreensão. Passemos, agora, à análise ao mais recente livro da série Blake e Mortimer.]
Depois do último volume de
Blake e Mortimer,
O Grito do Moloch, da autoria de Jean Dufaux, Christian Cailleaux e Étienne Schréder,
que aqui analisei, há cerca de um ano, e que considerei medíocre, tendo-me deixado profundamente desiludido com a obra, confesso que não estava com um apetite muito voraz para este novo lançamento da série
Blake e Mortimer. Mas, felizmente, devo confessar que fiquei amplamente convencido com este regresso da série.
Antes de mais, há que dizer que também é normal que a experiência de leitura entre este O Último Espadão e O Grito de Moloch seja diferente, se tivermos em conta que as equipas criativas também são outras. Mesmo assim, confesso que não estava à espera de uma diferença qualitativa tão grande entre ambas as obras. É que, se O Grito de Moloch foi verdadeiramente medíocre, com uma história mal concebida e desenhos preguiçosos, O Último Espadão, é totalmente o oposto, com uma história simples, mas lógica e bem estruturada, e um desenho que faz uma boa homenagem à série originalmente criada por Edgar P. Jacobs.
E note-se que a premissa base deste livro, de servir como continuação para o álbum inaugural da série, O Segredo do Espadão, até me fez franzir a testa inicialmente, pelo simples facto de me parecer uma abordagem algo gratuita e totalmente focada na vertente comercial, por parte dos autores. Estava errado. E ainda bem! Sendo uma boa homenagem ao livro original da série, este 28º livro traz algumas ideias próprias, conseguindo um balanço muito interessante entre o clássico e o moderno. E, embora sejam invocados alguns eventos de O Segredo do Espadão, a verdade é que este livro funciona bem, se lido sem conhecimento prévio do primeiro livro. Algumas coisas poderão não ser tão bem assimiladas pelos leitores que não conheçam a obra seminal, mas a grande maioria da história será bem-apanhada, sem dificuldades.
A história arranca com uma boa cena, bastante cinematográfica, quando, algures numa estrada em Inglaterra, um veículo circula em direção ao aeroporto militar de Hasley e, no seu interior, encontra-se o major Rupert Humbletweed, a quem o governo britânico confiou uma missão secreta. Enquanto isso acontece, também o capitão Francis Blake confia ao Professor Philip Mortimer uma operação da mais alta importância: deslocar-se ao Paquistão para alterar o código de ativação dos cinco Espadões estacionados na base de Makran, de forma a permitir a sua transferência para Inglaterra.
Entretanto, a organização IRA prepara um ataque sem precedentes a Londres, procurando estabelecer parcerias com velhos inimigos da dupla Blake e Mortimer. Com efeito, estamos perante uma história bem arquitetada por Jean Van Hamme. Pode não ser maravilhosa ou ser um livro que nos vai marcar para o resto da vida – não o é, seguramente – mas é indiscutível que é um dos bons livros da série Blake e Mortimer. Quiçá, um dos melhores dos últimos anos. E, então comparado com O Grito do Moloch, este O Último Espadão é poesia a todos os níveis: no da história, no da narrativa e até no do desenho.
O desenho, de Teun Berserik e Peter Van Dongen, é extremamente bem conseguido para os adeptos do estilo de linha clara, com uma boa dose de pormenores, de Edgar P. Jacobs. É simples e clássico, mas, ao mesmo tempo, e talvez por ser um estilo não tanto utilizado nos dias de hoje, traz uma certa sensação de frescura e modernidade, embora, claro está, não deixe de ser fiel ao estilo original da série – como deveria ser. As cores também o tornam um bonito álbum. Os fãs da série vão adorar, certamente.
Claro que, depois, e gostemos ou não, temos todas as idiossincrasias que poderíamos esperar de um livro de Blake e Mortimer: a balonagem, o excesso de texto por prancha, o tipo de planos utilizados, o comportamento demasiado "british" das personagens, etc. Se bem que, não esqueçamos, há algumas vinhetas de maior dimensão que os autores utilizam muito bem para deixar a história e o texto respirarem um pouco. É, por ventura, um dos traços de maior modernidade deste livro.
Em termos de edição, toda ela está ao nível dos padrões a que a editora
ASA já nos habituou nas suas séries de banda desenhada. E em especial na de
Blake e Mortimer: capa dura com acabamento em verniz, bom papel baço e boa encadernação e impressão. Nada a objetar, portanto. Nota para o facto da edição da loja FNAC ter, como já vem sendo hábito, uma capa exclusiva.
Em conclusão, finalmente passados tantos anos de "tiros ao lado", li um Blake e Mortimer que me encheu as medidas. História simples, mas interessante, narrativa com bom ritmo e um desenho muito bem conseguido. Tudo bem feito, de forma a prestar uma boa homenagem ao legado de Jacobs. Não será, repito, um livro magnífico ou perfeito… mas é um bom livro para juntarmos à série. Ideal para os fãs de Blake e Mortimer e bastante indicado como porta de entrada para novos leitores, que não conheçam a série e tenham curiosamente em conhecê-la.
NOTA FINAL (1/10):
8.4
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Blake e Mortimer: O Último Espadão
Autores: Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2021