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quarta-feira, 10 de abril de 2024

Análise: O Corvo VII - O Despertar dos Esquecidos

O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros

O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros
O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro

Já tive a oportunidade de o dizer pessoalmente ao autor e digo-o mais uma vez: quando Luís Louro concede mais seriedade às suas obras, consegue resultados que são mais impactantes para os leitores. E não desvirtuem, por favor, aquilo que quero dizer com esta afirmação. É claro que o bom humor do autor, a que todos os amantes portugueses de banda desenhada já foram habituados, é - e será sempre - bem-vindo. Mas reitero: quando a dosagem entre o bom humor e algo mais profundo é equilibrada, tal como o é neste sétimo volume de O Corvo, os resultados são mais gratificantes. Para a obra em si e para os leitores, estou certo.

Tendo lido coisas positivas sobre o mais recente número de O Corvo, que acaba de ser publicado e que dá pelo nome de O Despertar dos Esquecidos, devo dizer que parti para esta leitura com muito entusiasmo e antecipação.

O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros
Até porque, além disso, este álbum também assinala o importante marco dos 30 anos da série, tendo em conta que o primeiro volume foi originalmente editado em 1994. E é também o maior álbum, em número de páginas, até agora. Coisa que, entre outras boas decisões do autor, acaba por funcionar a favor deste novo volume.

Em termos de história, este O Despertar dos Esquecidos difere de todos os álbuns da série até agora. Sendo verdade que em O Silêncio dos Indecentes e, especialmente, em Inimigos Íntimos, o autor já tinha abordado temáticas mais sérias, tinha-o feito sempre de forma mais superficial e leve do que neste sétimo livro. Aqui, em O Despertar dos Esquecidos, o herói Corvo não é chamado a intervir em cenas de ação, em confrontos físicos, lutando contra vilões com vontade de conquistar o mundo. Não, nada disso! Esta é uma história muito mais terra-a-terra, com o Corvo a ter que lidar com vilões intangíveis com que todos nós, de uma forma ou de outra, convivemos na nossa vida: a solidão, a velhice, o esquecimento e a sensação de já não sermos necessários. Wow! Alguém o podia prever, tendo em conta que estamos a falar de um livro de O Corvo?

Desta vez, o protagonista da série – que neste álbum em concreto até nem parece ser o real protagonista - responde a um pedido de auxílio algo diferente: Alcides, o idoso pai de uma mulher completamente abalada, desapareceu e o nosso herói parte em sua busca. No seguimento da mesma, acaba por ir dar a um lar de idosos. E mesmo que não encontre por lá o objeto da sua demanda, Alcides, trava conhecimento com os castiços e divertidos residentes idosos desse lar.

Admito que o início do argumento parece avançar aos soluços, com a história a demorar um pouco (leia-se páginas) a encarrilar devidamente, mas, quando o faz, o enredo envolve-nos totalmente, fazendo com que criemos uma fácil e automática ligação afetuosa com as novas personagens que aqui deambulam.

O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros
Nota ainda para duas presenças bastante fugazes, embora relevantes. A primeira é a da Mulher do Capitão, essa bela, voluptuosa e sexy mulher por quem todos nós, leitores, temos um (forte) fraco. Sendo uma presença que ocupa poucas páginas, acaba por ser relevante para o bem disposto final do livro.

A segunda presença que aqui se faz sentir é a de Vicente – ou o Corvo quando está sem traje de herói. É verdade que a presença de Vicente neste O Despertar dos Esquecidos é bastante breve, mas devo confessar que acaba por ser um dos momentos mais marcantes do livro, pois torna-se claro, para os que melhor conhecem o Luís Louro em pessoa, que estas páginas estão carregadas de uma forte vertente biográfica onde o autor se abre, em busca, imagino, de alguma redenção. Devo dizer que engoli em seco e fiquei emotivo com esta dupla página concedida a Vicente.

Mas o livro ainda haveria de me dar mais momentos emotivos, especialmente na forma carinhosa como o Corvo escolhe engendrar um plano para ajudar os idosos a escaparem do seu quotidiano repetitivo e sensaborão. O que me leva mesmo à questão de que, futuramente, não sei se não preferia ver a personagem do Corvo a digladiar-se com este tipo de problemas, mais reais, em detrimento dos habituais e mais clássicos "vilões" que ameaçam o mundo em que vivemos. Esta vertente mais humana de O Corvo é, em tudo, mais bem-vinda porque, mesmo sendo uma história que agradará aos clássicos fãs da série, vai um pouco além disso, sendo mais madura.

Mas, com tanta emotividade, será este um álbum piegas onde o humor não está presente? Nem pensar! Continua a ser um livro carregado de humor, com diversas tiradas divertidas, trocadilhos e situações caricatas. Além das habituais referências que pululam ao longo das ilustrações. Sendo uma história agridoce, pois faz-nos ficar tristes e divertidos ao mesmo tempo, continuo a considerá-la como passível de ser inserida na categoria de humor. Mesmo que também possa admitir que essa categoria será redutora para classificar este O Despertar dos Esquecidos.

O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros
Voltando ao humor aqui presente, também neste ponto Luís Louro acaba por ser mais feliz do que em álbuns anteriores. E a causa é simples e está no método que o autor aqui utiliza. É que, instrumentalizando cada um dos idosos do lar enquanto móbil para a colocação de larachas e comentários indecorosos, esse humor presente na sua postura de “já se estar por tudo” na vida e dizer-se o que se pensa, sem filtros, parece muito mais natural e menos construído do que em álbuns passados. Sei que a questão de humor, entre muitas outras, é das mais subjetivas que existe e, por isso, digo-o baseando-me, naturalmente, nos meus gostos pessoais: as piadas e disparates, por vezes brejeiros, ditos por idosos, funcionam muito melhor do que as que são ditas pelo Corvo. E, portanto, até nesse cômputo, este O Despertar dos Esquecidos é um dos livros mais divertidos de toda a saga de O Corvo. O que sublinha a ideia com que fiquei que, neste sétimo livro, praticamente tudo saiu bem a Luís Louro.

Em termos de desenho, o autor continua dono e senhor de si mesmo, com um trabalho imaculado em termos de traço e cores. O seu desenho está verdadeiramente dinâmico e cada vez mais confiante. Para não repetir o mesmo, por outras palavras, repesco aquilo que já escrevi face ao desenho do autor no último Corvo: “considero que Luís Louro se mantém no topo das suas capacidades. Se os seus desenhos angulosos estão mais confiantes do que nunca, é nas cores que o trabalho de Louro mais me deixa boquiaberto. Esse que até costuma ser o calcanhar de Aquiles em tanta da banda desenhada nacional – não se diz muito isto, mas é a mais pura das verdades – acaba por ser uma das principais qualidades nos álbuns mais recentes de Luís Louro. As cores são lindas e flashy, fazendo com que sejam um deleite para os olhos. Os desenhos são belos, claro, (…) e com um traço muito característico, sim. Mas estas cores também têm uma importante quota parte no facto de os livros de Luís Louro terem um aspeto tão moderno, tão bem executado e, arrisco mesmo, tão “exportável” para outros mercados estrangeiros. Nota ainda para as brilhantes ilustrações que ocupam uma ou duas páginas, onde o autor revela um dinamismo visual muito acima da média.

O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros
Por falar nos belos desenhos de página dupla, permitam-me deixar bem claro que a página dupla em que, neste O Despertar dos Esquecidos, vemos o Corvo e os seus novos amigos a olhar para o desordenado voo dos pombos lisboetas perante uma luz alaranjada pautada por um sol nascente, é possivelmente a melhor ilustração que Luís Louro concedeu para o seu/nosso Corvo. Não só por ser uma ilustração belíssima em termos visuais, como por encerrar uma beleza, um significado, uma poesia e uma leveza difíceis de reproduzir em banda desenhada. Por muito que eu adore as mulheres angulosas e sexys que Luís Louro ilustra – e, acreditem, adoro-as! – acho que, se eu pudesse escolher a ilustração perfeita do autor para emoldurar e pendurar na minha casa, seria esta mesma! Até porque, convenhamos, os desenhos com mulheres voluptuosas, poderiam ser imagens demasiado ariscas para expor numa casa com crianças abaixo dos 9 anos.

Por falar nesta ilustração, foi mesmo ela que foi incluída, enquanto print bónus de oferta, para as primeiras compras do livro. Que sorte! De resto, olhando para a edição que a Ala dos Livros nos dá neste livro, temos que dizer que, mais uma vez, estamos perante um belíssimo trabalho. O livro apresenta capa dura brilhante, com bom papel brilhante no miolo e uma boa encadernação e impressão. Além disso, e também porque, relembro, se trata de uma edição que procura ser comemorativa dos 30 anos de O Corvo, o livro traz 15 páginas de extras onde os leitores e admiradores da série puderam contribuir com criativas homenagens fotográficas ao Corvo e onde são colocadas citações de imprensa e sites a propósito dos vários lançamentos da série ao longo dos últimos 30 anos. Há ainda um belo prefácio feito por Francisco Lyon de Castro e uma mais dispensável conversa de SMS entre Nuno Mata e Luís Louro. Acaba por ser uma boa edição para coroar os 30 anos de uma série tão emblemática da banda desenhada portuguesa. Até porque, não esqueçamos, não é todos os dias que uma qualquer série de BD de origem portuguesa tem uma longevidade tão grande.

Em suma, O Corvo parece ter alcançado a sua maioridade aos 30 anos, com este O Despertar dos Esquecidos a ser o melhor álbum da série até agora. E isso verifica-se por Luís Louro ter conseguido dosear bem os vários momentos da trama e, ao mesmo tempo, transpor a personagem principal de O Corvo para uma luta, quiçá mais relevante e verossímil, por aqueles que, possivelmente, chamariam de herói ao primeiro que, atravessando-se no seu caminho, tivesse a galhardia e humanidade de passar algum do seu tempo com eles. É tudo isso que, afinal de contas, faz despertar todos aqueles que se mantêm esquecidos por esse país fora. Belíssimo livro!


NOTA FINAL (1/10):
9.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos, de Luís Louro - Ala dos Livros

Ficha técnica
O Corvo #VII - O Despertar dos Esquecidos
Autor: Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Abril de 2024

sexta-feira, 8 de março de 2024

Análise: O Corvo III - Laços de Família

O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl - Ala dos Livros

O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl - Ala dos Livros
O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl

Um dos planos editoriais da Ala dos Livros passa por reeditar os três volumes de O Corvo, originalmente editados pela ASA, de forma a homogeneizar a clássica série da autoria de Luís Louro. Tendo, aliás, em conta que o autor viu o seu , e 6º volume a serem publicados em pouco tempo pela Ala dos Livros - e relembro que está para breve o lançamento do 7º álbum da série - acho que esta reedição das obras mais antigas, faz todo o sentido.

E, como primeiro desses 3 álbuns a ser lançados, a editora trouxe-nos, há uns meses, Laços de Família, o terceiro volume da série, que havia sido originalmente lançado no ano de 2007. Este era, aliás, o livro mais raro e, portanto, mais difícil de encontrar à venda. Pelo que, parece-me, foi um passo lógico por parte da editora, apesar de eu ter dado conta de algumas críticas sobre a opção da editora em relançar o terceiro álbum, quando a opção pela republicação do primeiro álbum seria, para alguns, mais lógica. A mim, confesso, não me fez problema nenhum. Estou confiante que a editora acabará por republicar os três álbuns mais antigos. E isso é que interessa.

O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl - Ala dos Livros
Laços de Família
é o único álbum da série em que Luís Louro não assume o argumento da história. Esse, ficou a cargo de Nuno Markl. Já tinha lido Laços de Família há muitos anos e, confesso, já nem me lembrava bem da história. E agora que o voltei a ler, devo dizer que até gostei da abordagem que Markl faz às personagens criadas por Luís Louro.

Desta feita, será um concurso de TV, que procura encontrar um super-herói português, que fará com que o Corvo fique indignado com a própria sugestão de se achar que Portugal precisa de um herói. O Corvo é O HERÓI português. Pelo menos, é isso o que ele acha.

Mas há outros concorrentes que procuram reclamar a sua importância e serem aclamados como heróis. E, claro, surgem vários vilões. Entre eles, destaco o Senhor do Mal, que me fez rir várias vezes e, claro, a Viúva Negra, uma voluptuosa e curvilínea mulher que, qual Catwoman na série Batman, sendo vilã, também é irremediavelmente sexy aos olhos do protagonista Corvo. Cria-se aqui uma relação muito divertida entre o protagonista e a Viúva Negra que, quanto a mim, até poderia ser mais explorada. Não só neste terceiro tomo da série, como em futuros volumes.

O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl - Ala dos Livros
Se a história funciona bem e tem vários momentos divertidos, o que salta mais à vista quando se (re)lê este O Corvo III é a componente da ilustração.

É que, por muito que eu seja fã do trabalho de Luís Louro há muitos anos, olhar agora para este livro e compará-lo com um dos Corvos lançados a partir do quarto volume, é um exercício interessantíssimo. Até porque há uma mudança, uma revolução extrema (!) na forma como Luís Louro evoluiu em termos de desenho. Afirmar isto pode parecer que estou a descurar o trabalho de Luís Louro antes de O Corvo IV. Nada disso! Nos primeiros três volumes da série o traço já lá estava, o estilo também. Mas o que é assinalável, e verdadeiramente impressionante, é a forma como o autor soube evoluir o seu próprio estilo e, portanto, tornar mais atuais, modernas e, admitamos, melhores as suas ilustrações. Para tal, melhorou o processo de cores, de luz, de sombra e do próprio traço, mais anguloso e estilizado. Portanto, por este motivo, olhar para Laços de Família, conhecendo as obras mais atuais do autor, é um exercício que faz sorrir e prestar louvor ao percurso evolutivo, para melhor, do autor. Merece especialmente respeito o facto de o autor não se ter “sentado à sombra da bananeira”, tentando evoluir. Conseguiu.

O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl - Ala dos Livros
Em termos de edição, o livro apresenta um excelente trabalho, que supera a edição anterior da obra. O formato é maior, a capa é dura e brilhante (tendo um nova e melhor ilustração de capa) e, no miolo, o papel é brilhante e de boa qualidade, com uma boa impressão e encadernação.

Há também 10 páginas dedicadas a extras que melhoram a edição. Entre esses conteúdos, há uma nota introdutória de Nuno Markl, vários esboços e estudos de personagem de Luís Louro, o guião das primeiras 10 páginas, a ilustração da capa original e uma curiosa (e incomum) troca de e-mails entre os autores quando começaram a conversar, à distância, sobre a obra, no ano 2005.

Digo sempre isto e, portanto, lamento repetir-me mas, a meu ver, faria mais sentido que estes conteúdos adicionais fossem disponibilizados no final do livro, ao invés de nos serem dados logo nas primeiras páginas, quando ainda nem sequer lemos a obra. Quando começo a ver um filme, em Dvd ou Bluray, também não começo pelo making of do vídeo. Mas imagino que isto seja um capricho/escolha do autor/editor e há que aceitá-lo.

Portanto, concluindo, é com bons olhos que vejo os números mais antigos da série O Corvo, de Luís Louro, a serem reeditados numa bela edição. Era uma pena que os primeiros três volumes da série estivessem extintos das livrarias portuguesas e é ótimo saber que, pelo menos Laços de Família, volta a estar disponível para todos. Que venham os volumes 1 e 2 do super-herói português mais célebre de todos!


NOTA FINAL (1/10):
7.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Corvo III - Laços de Família, de Luís Louro e Nuno Markl - Ala dos Livros

Ficha técnica
O Corvo III - Laços de Família
Autores: Nuno Markl e Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Maio de 2023

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Análise: O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes

O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros

O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros
O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro

A Ala dos Livros acabou de lançar o novo álbum da série O Corvo, da autoria de Luís Louro. Antes de qualquer coisa mais, é fantástico poder assistir a este “período dourado” do autor português ao serviço da banda desenhada. Senão vejamos: se a série d' O Corvo já tem seis álbuns, verificamos que os primeiros três volumes da mesma foram feitos num espaço temporal de 13 anos, enquanto que a segunda metade da série, já com o autor a lançar através da Ala dos Livros, foi feita em apenas 3 anos. O que é louvável e que nos mostra duas coisas: por um lado, que Luís Louro está numa fase muito produtiva. Como nunca esteve, diria. Por outro lado, que a sua “nova” editora consegue acompanhar a criação do autor, dando-lhe as ferramentas editoriais necessárias para que Luís Louro se mantenha ativo e relevante ao serviço da banda desenhada nacional. E isto já para não falar que, além destes três Corvos em três anos, ainda foi reeditada a edição comemorativa dos 25 anos da sua Alice, foi lançada a série de tiras humorísticas Covidiotas e Dante, uma das obras mais relevantes do autor, também foi lançada durante esta janela temporal. Verdadeiramente impressionante!

O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros
Neste sexto volume que agora nos chega, intitulado O Silêncio dos Indecentes, numa analogia ao clássico do cinema O Silêncio dos Inocentes, temos o super-herói mais famoso da cidade de Lisboa – e de Portugal? - às avessas com a sua própria consciência. Melhor dizendo, até é Vicente, o homem por debaixo da “capa” de Corvo que parece estar à beira de uma depressão, pondo em causa a sua razão de ser e parecendo estar numa redoma de prostração anímica onde, nem o seu próprio alter-ego, Corvo, parece conseguir entrar. Aprecio que, aliado a todo o humor louco e silly do autor, haja espaço para dar mais profundidade e seriedade à personagem. Luís Louro já o tinha feito no anterior volume Inimigos Íntimos.

Essas reflexões que parecem não dar tréguas a Vicente, são-nos dadas através dos diálogos – ou monólogos? – da personagem com o Corvo. Nesses diálogos também entra, por vezes, a própria voz do narrador Luís Louro. Qual Inception de Chris Nolan! À medida que Vicente vai lutando contra toda a negatividade que parece rodeá-lo surge, entretanto, “Chefes” e o seu bando de freiras. Como não poderia deixar de ser, as freiras são bem guarnecidas em termos de protuberâncias mamárias, o que, não tenho dúvidas, será do agrado dos fãs d’ O Corvo. Como diz o funcionário de um restaurante de rodízio aonde costumo ir: “quando chega a parte de levar a maminha às mesas, ninguém recusa. Ninguém diz não a uma boa maminha”. Ora, quem sou eu para discordar disso.

Mas, adiante, o que não será tanto do agrado do Corvo, é que Chefes e o seu bando se queiram ver livres do nosso herói. Embora, dentro dessas freiras, talvez haja uma aliada secreta do nosso herói. Mas não digo mais nada para não estragar surpresas a ninguém. Há ainda algumas revelações que permitem dar-nos um vislumbre mais claro acerca do passado do Corvo embora Louro – e bem – deixe, por agora, o jogo em aberto em relação a algumas dessas revelações.

O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros
Embora, à custa de Chefes, as ameaças ao bem-estar do protagonista sejam muitas, parece ser dentro de si mesmo, nas profundezas do seu ser, que há o maior perigo. De resto, surgem algumas personagens que já conhecemos, como a Mulher do Capitão e outras que fazem aqueles cameos bem ao jeito de Luís Louro e que tornam mais rica a nossa leitura, por motivarem que andemos ali "à pesca" de referências. Essa é uma das coisas que mais aprecio nos livros de Louro: que haja tantas referências espalhadas pelos desenhos e que as mesmas surjam de forma natural, sem serem forçadas.

Em termos de história, O Silêncio dos Indecentes fica um pouco aquém de Inimigos Íntimos, quanto a mim. Tal como no anterior volume da série, também há esta legítima tentativa de trazer mais maturidade à história, mas pareceu-me um esforço menos inspirado ou que, pelo menos, a depressão de Vicente merecia ter sido mais aprofundada. Além de que a opção por monólogos em detrimento da conversa com a psiquiatra do álbum anterior, não me pareceu tão bem conseguida.

Embora, mesmo abordando assuntos sérios, tenhamos sempre a leveza do humor de Luís Louro, encontramos neste sexto volume da série um certo tipo de reciclagem de piadas, ao nível das chamuças (e da difícil digestão das mesmas), sobre o Ucal, e sobre outros assuntos que vão sendo recorrentes. São piadas que continuam a funcionar bem e a deixar os leitores com um sorriso na face, e que fazem parte da personalidade de Corvo, bem sei, mas é inegável uma certa sensação de repetição.

Por falar na parte cómica, até é em certas situações onde não há diálogo e onde é feita a chamada “comédia de situação” que, na minha opinião, Luís Louro mais brilha. Exemplos disso é quando o Corvo se faz valer, com resultados drásticos, do seu novo drone ou quando interage com o manequim cheio de explosivos. É um tipo de humor simples, clássico, mas verdadeiramente apetecível. Relembra alguns dos heróis que já consideramos clássicos, como por exemplo, Jack Sparrow em Os Piratas das Caraíbas, que embora seja um herói que acaba por vence os perigos e os vilões, parece fazê-lo mais com sorte do que com real talento. E quão divertido isso é! Ainda dentro do humor deste O Silêncio dos Indecentes, dou especial destaque à passagem com a “gaivota intelectual”, pois considero um dos melhores momentos do livro. Tenho, aliás, pena que a gaivota tenha tido um fim tão trágico. Gostaria de ver esta personagem novamente no futuro.

O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros
Quanto ao desenho, considero que Luís Louro se mantém no topo das suas capacidades. Se os seus desenhos angulosos estão mais confiantes do que nunca, é nas cores que o trabalho de Louro mais me deixa boquiaberto. Esse que até costuma ser o calcanhar de Aquiles em tanta da banda desenhada nacional – não se diz muito isto, mas é a mais pura das verdades – acaba por ser uma das principais qualidades nos álbuns mais recentes de Luís Louro. As cores são lindas e flashy, fazendo com que sejam um deleite para os olhos. Os desenhos são belos, claro, com boas cenas de ação e um traço muito característico, sim. Mas estas cores também têm uma importante quota parte no facto de os livros de Luís Louro terem um aspeto tão moderno, tão bem executado e, arrisco mesmo, tão “exportável” para outros mercados estrangeiros.

Nota ainda para as brilhantes ilustrações que ocupam uma ou duas páginas, onde o autor revela um dinamismo visual muito acima da média. Por exemplo, a ilustração que coloca Corvo em cima de um candeeiro de rua, debaixo de uma chuva torrencial, numa clara alusão à pose de Homem-Aranha, é uma autêntica obra de arte. Daria um belo poster promocional da série O Corvo ou mesmo uma bela capa. Por falar em capa, também nesse cômputo Luís Louro se apresenta em grande forma. Esta é uma das melhores capas da série. Por ventura, a minha preferida, embora também tenha gostado muito da nova capa de Laços de Família, que a Ala dos Livros reeditou recentemente.

Em termos de edição, a Ala dos Livros volta a não comprometer, dando-nos um belo trabalho a esse nível. O livro apresenta capa dura brilhante, com bom papel brilhante e uma boa execução ao nível de impressão e encadernação. Logo no início do livro, há um dossier de extras, com esboços, curiosidades e informações sobre o Corvo, que tornam mais apetecível esta edição. A meu ver, este conjunto de extras deveria aparecer no final do livro já que, mesmo por esse motivo de serem “extras”, não devem aparecer antes da obra propriamente dita, pois é ela o mais relevante. Mas, claro, admito que é uma questão meramente pessoal e de escolha. E prefiro estes extras no início do livro do que não os ter. Mas deixo a nota.

O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros
Outra coisa que também merece nota, é a inclusão, como bónus, de um livro de passatempos, com 12 páginas, para os primeiros 150 compradores do álbum. Mais uma vez, temos Luís Louro e a Ala dos Livros a surpreenderem-nos. Já o disse – e direi novamente, as vezes que forem necessárias – que acho extremamente relevante que as editoras nacionais saibam “mexer-se” de forma a fazer chegar os livros ao maior número possível de leitores. Há muitas formas de o fazer, certamente. Basta puxar pela criatividade. E a Ala dos Livros parece apostada em tentar fazê-lo. Como costumo dizer, fazer um livro de banda desenhada, escrever um romance, gravar um disco de música, filmar e editar um filme… é apenas metade do caminho percorrido. É claro que a conclusão da obra é algo muito bom, mas representa apenas que se chegou a “meio da ponte”. Depois, falta promover essa criação artística e fazê-la chegar ao (maior) público certo (possível). Essa é a segunda parte da “ponte”. Portanto, acho que estas iniciativas que Luís Louro e a Ala dos Livros têm feito, no sentido promocional dos seus lançamentos, são bons exemplos, pois colocam as pessoas a falar dos livros. E este livro de passatempos sobre o universo d’ O Corvo, recheado de jogos das diferenças, palavras cruzadas, sopa de letras, labirintos, entre outros, é um bom extra. Não só porque é original ou algo que até nos pode entreter, desafiando-nos a constatar se somos tão conhecedores da série como achamos ser, mas também porque aumenta o interesse na obra e torna-se, per se, um objeto de colecionismo. Um inglês diria quanto a isto: well done!

Em suma, este O Silêncio dos Indecentes continua a dar aos fãs d’ O Corvo tudo aquilo que eles querem: uma história divertida e desprendida – apesar da bem conseguida introdução de alguma maior seriedade no argumento – soberbamente ilustrada e com belíssimas cores, por um dos nomes mais relevantes da banda desenhada nacional! Recomenda-se, claro.


NOTA FINAL (1/10):
8.3


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro - Ala dos Livros

Ficha técnica
O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes
Autor: Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Setembro de 2023

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Ala dos Livros lança novo álbum da série O Corvo!



Está de volta O Corvo, de Luís Louro, numa edição limitada que traz uma bela surpresa, que deixará os fãs a salivar!

Bem, como se trata de uma surpresa, e eu sou sempre fiel à minha palavra, não vou ser eu que a vou revelar. No entanto, posso dizer-vos que, mais uma vez, a editora Ala dos Livros surpreende com a sua capacidade de inovação e de dar aos leitores e fãs de banda desenhada, aquilo que eles realmente querem. E, no caso concreto, estou certo que os fãs de Luís Louro - que felizmente são muitos - adorarão!

A editora fez saber nas redes sociais que "há uma novidade ainda mais fabulosa. Não há UM novo livro do Corvo. HÁ DOIS! Além do CORVO VI - O Silêncio dos Indecentes, temos como oferta exclusiva e limitada a 150 exemplares, um exemplar de um livro totalmente inédito do Corvo".
Como já disse, não vou revelar mais nada sobre este "segundo livro" que acompanhará O Corvo VI. Digo-vos apenas: não percam tempo e sejam um dos primeiros 150 leitores a adquirir a obra. 
Trust me, on this.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da mesma e com algumas imagens promocionais.


O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes, de Luís Louro

O Corvo é o super-herói, o alter-ego de Vicente. Tímido e inseguro, Vicente desconhece a existência do CORVO e procura a ajuda da bela psicóloga para resolver os seus traumas.

Velhos inimigos querem destruir o nosso herói, mas a maior batalha é travada no seu interior e ameaça a sua própria existência! Será o CORVO capaz de manter a sua identidade? E qual é o papel de Vicente? Quem vai salvar o CORVO das implacáveis freiras do Convento e dos planos maquiavélicos do Chefes?

Entretanto, o nosso herói terá de continuar a lutar pela justiça (e se possível passando perto das janelas da atraente “mulher do capitão”…) sem esquecer que até os ratos voadores podem assumir as mais estranhas formas, e terá de recorrer às mais modernas armas (vá... “coisas”) do seu corvo-arsenal para enfrentar novas e terríveis criaturas. Mas há mais re(ve)lações do passado que vão surgir.

E o nosso herói será confrontado com a necessidade de fazer escolhas: a direita ou a esquerda?
O Silêncio dos Indecentes, é o 6º álbum da série O CORVO, o herói criado pelo autor em 1993. O universo de Luís Louro continua em crescer com novas histórias e personagens. Neste álbum ficamos a conhecer cada vez melhor as origens, os traumas e os desejos das personagens, numa aventura em que o humor se mistura com os dramas da existência do alter-ego de Vicente. Luís Louro promete supreender todos os seus fãs com esta história...

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Ficha técnica
O Corvo VI - O Silêncio dos Indecentes
Autor: Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 17,75€

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Ala dos Livros lança O Corvo de Nuno Markl e Luís Louro!



É já no próximo dia 30 de Maio que O Corvo III - Laços de Família, chega às livrarias!

Esta é uma reedição do terceiro volume da série O Corvo, originalmente lançado em 2007 pela editora ASA.

Saliente-se que é o único volume da série em que o argumento não ficou a cargo de Luís Louro, mas de outro autor que, neste caso, é Nuno Markl.

Convém também dizer que este era, possivelmente, O Corvo mais raro de encontrar no mercado. Pelo que se entende e agradece a republicação do álbum por parte da Ala dos Livros.

Atente-se que, ainda durante este ano, é esperado que Luís Louro lance o sexto volume da série.
De resto, é igualmente esperado que os volumes 1 e 2 de O Corvo venham a ser reeditados num futuro que, espera-se, não seja muito distante.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


O Corvo III - Laços de Família, de Nuno Markl e Luís Louro

O Corvo é o super-herói de Portugal. Pelo menos de Lisboa, vá! Adorado por todos (excepto pelos pombos…) e até conhecido por alguns, ninguém está à altura deste nosso herói nacional. Mas quando um concurso de TV pretende encontrar um super-herói português, há novos concorrentes que querem roubar-lhe o lugar. E se a este concurso se apresentam novos heróis, surgem também novos (e velhos…) vilões!

Quando, em 2007, Nuno Markl assume pela primeira vez o desafio de criar um argumento de BD, fá-lo em conjunto com Luís Louro, mergulhando juntos no universo de O CORVO, e proporcionando-nos uma aventura cheia de humor e situações inesperadas. 

Ficamos, assim, a conhecer “O Senhor do Mal”, a malvada, fantástica, soberba, linda, terrível “Viúva Negra”, a verdadeira origem do “Combustão” e “O Pombo” (não há ali algo de familiar?) entre muitos outros aspirantes a herói.

Alheio a tudo e a todos à sua volta, o nosso herói continua a sua luta pela justiça, deambulando pelos telhados da cidade, desgraçando (leia-se, “ajudando”) todos os que dele precisam (mesmo que não soubessem).
O CORVO III – Laços de Família, publicado originalmente em 2007, é o terceiro volume da célebre série portuguesa O CORVO, originalmente criado por Luís Louro em 1994 e surge agora reeditado, numa edição revista e melhorada, com a chancela da Ala do Livros. Com esta publicação, a editora confirma assim a intenção de editar na íntegra esta série incontornável da BD Portuguesa, da qual está previsto, ainda em 2023, um novo álbum.

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Ficha técnica
O Corvo III - Laços de Família
Autores: Nuno Markl e Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
PVP: 17,75€

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Análise: O Corvo V - Inimigos Íntimos

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro

A personagem O Corvo – o super-herói mais famoso de Portugal – até pode ter estado adormecida por muitos anos. Mas agora, e desde que Luís Louro, o seu autor, voltou a pegar neste nome icónico da banda desenhada portuguesa, tendo lançado o quarto volume de O Corvo no ano passado, - enquanto trocava a sua longa duração com a editora ASA por uma nova e refrescante relação com a Ala dos Livros -, parece que O Corvo nunca esteve tão vivo! Passado um ano, aqui está uma nova aventura e é bem possível que novas aventuras vão acontecendo anualmente(?), a partir de agora. Assim espero, pelo menos!

Neste O Corvo – Inimigos Íntimos sente-se um claro esforço do autor em dar-nos algo diferente, quiçá com mais conteúdo, em termos de argumento. Seria, certamente, fácil ir buscar um vilão de outros livros ou apresentar-nos um novo "mauzão" mas Louro faz mais do que isso. E não é que não existam vilões em Inimigos Íntimos. Mas, e como o próprio nome indica, o maior vilão desta história não poderia ser mais íntimo do que o próprio Corvo, ou Vicente, o homem por detrás da máscara. A própria capa do livro - muito bem conseguida, diga-se - já fazia prever que talvez o enfoque da obra fosse Vicente em detrimento d' O Corvo. Embora, convenhamos, cada um deles precise do outro para existir.

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

Nesse sentido, e com originalidade e sentido de oportunidade, o autor mergulha-nos na mente de Vicente e nos seus dramas do passado, da infância, para melhor compreendermos certos comportamentos e posturas do super-herói. Afinal de contas, todos nós somos o produto das nossas vivências, certo? Assim, tendo uma conversa com uma muito voluptuosa psicóloga – poderia ser de outra forma? – Vicente vai mergulhando no seu passado, fazendo-nos várias revelações. E, quando no capítulo 3, somos presenteados com um flashback até à infância de Vicente, as coisas tornam-se subitamente sérias, com os episódios de perseguição e assédio moral e sexual  – vulgo, bullying – de que a personagem foi vítima.

Mas se somos presenteados com uma abordagem mais madura e séria em termos de argumento, a verdade é que em quase cada uma das páginas há uma qualquer piada, uma qualquer sátira ao mundo atual em que vivemos, que logo nos lembra que este é, apesar de tudo, um livro d’ O Corvo e que haverá sempre espaço para uma tirada cómica. E, seja na forma como subverte o chavão clássico das histórias de super-heróis; seja como brinca com o papel de um narrador numa história; seja como ridiculariza a corrente de pensamento do politicamente correto, que tantos millennials parecem seguir nos tempos que correm; seja na forma como faz Corvo punir aqueles que falam mal a língua de Camões, Louro é mordaz na forma como faz humor. E é difícil não ficarmos com um sorriso na cara - e por vezes chegarmos à gargalhada - enquanto lemos este livro.

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

Depois dessa partilha de passado traumatizante, Luís Louro troca-nos as voltas com um plot twist que volta a trazer humor e sagacidade para a história.

A meu ver, apenas me parece que o final do livro poderia ter sido mais bem conseguido pelo autor. A história fica "fechada" mas demasiado "em aberto". Quase diria que parece a primeira parte de um álbum duplo. E, se calhar, até estou profundamente enganado e o próximo livro nem sequer pegará na história no exato momento em que este 5º volume a termina. Mas, seja como for, parece-me que o autor levanta com muita pertinência um véu que não havia sido explorado até agora na série mas que, de alguma forma, poderia ser mais bem espremido em termos de argumento. Por outras palavras, à medida que ia lendo a obra comecei a achei que este era o melhor argumento do Corvo mas, depois, no final, senti que sabia a pouco. Que a história estava incompleta ou, pelo menos, mal aproveitada. Ainda assim, insisto que o argumento, tirando esta questão, me agradou muito e me deixou preso à história.

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

Em termos de arte ilustrativa, Luís Louro parece caminhar sempre de forma ascendente em termos qualitativos. É óbvio que o seu estilo, que todos conhecemos, se mantém presente. As ilustrações mantêm-se bastante angulosas, as poses do herói Corvo continuam exuberantes e humorísticas, as mulheres de ancas largas e seios fartos continuam a marcar presença e a planificação das páginas continua dinâmica. Mas, além disso, e como dizia, a técnica do autor parece-me cada vez melhor. O desenho está cada vez mais confiante no traço e vê-se que Luís Louro domina cada vez mais a componente digital nos seus desenhos, o que nos oferece cores vistosas, bons jogos de luz e sombra e uma inteligente e bem executada utilização de texturas que dão profundidade às ilustrações, melhorando-as. Em termos de ilustração, este é um fantástico trabalho e é até bem capaz de ser um dos melhores álbuns - senão o melhor - do autor, quanto a mim.

Relativamente à edição, estamos perante mais um bom trabalho da Ala dos Livros. A capa é dura e brilhante, o papel (também brilhante) tem boa qualidade e a encadernação e a impressão estão muito bem feitas, também. E há também extras que merecem destaque: o prefácio – algo académico demais para os meus gostos, confesso – de João R. Marques; as duas páginas com esboços do autor, uma receita de culinária para as chamuças do Corvo; e 3 páginas dedicadas a fan art, em que são mostradas 15 ilustrações do Corvo feitas por alguns nomes bem conhecidos da banda desenhada nacional. Estava esperançoso que a ilustração que a minha filha de 6 anos fez, pudesse figurar nesta galeria. Mas, infelizmente, tal não aconteceu. 

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

Voltando ao assunto das chamuças, cada álbum traz um vale que dá direito a uma chamuça no bar do Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja. Sendo (mais) uma iniciativa do autor e editor, que revela o bom espírito de humor que habita toda esta equipa, acaba por funcionar como mais uma forma de estreitar o laço entre autor, editora e leitor. E isso é fantástico – goste-se ou não de chamuças!

A Ala dos Livros tem-se tornado rapidamente numa editora muito ativa no chamado marketing de guerrilha em que, muitas vezes, faz coisas fora do expetável, para chamar a atenção dos leitores. E eu não poderia valorizar mais essa vontade! Porque, afinal de contas, é giro não saber qual será a ideia seguinte da editora. Em O Burlão nas Índias publicaram uma edição especial que incluía uma tela; em Alice – Edição Especial 25 anos, de Luís Louro, fizeram uma das edições mais fantásticas de bd nacional de sempre, e em Os Covidiotas – também de Luís Louro - enviaram um pedaço de papel higiénico aos leitores que compravam o livro. Enfim, apenas alguns exemplos de ideias criativas e "fora da caixa" da editora. Desejo sinceramente que a criatividade e audácia continue presente nesta editora!

Em suma, este O Corvo V - Inimigos Íntimos traz-nos um Luís Louro muito inspirado, quer nas piadas – quase sempre muito divertidas – com que nos brinda, quer na capacidade técnica, em termos de execução das ilustrações e aplicação de cores, que está cada vez mais apurada. Se o quarto volume tinha sido interessante, este quinto volume é ainda melhor!


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro - Ala dos Livros

Ficha técnica
O Corvo V - Inimigos Íntimos
Autor: Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

O super-herói mais famoso da bd portuguesa está de volta!




Sim, o famoso Corvo, da autoria de Luís Louro, um nome incontornável da banda desenhada portuguesa, está de volta!

Conforme dei conta, num artigo recente, dos lançamentos de bd que nos esperam nesta rentrée, a Ala dos Livros acaba de lançar o quinto álbum d' O Corvo.

O título desta nova aventura é Inimigos Íntimos e promete ser uma viagem ao passado de Vicente, o herói por detrás do fato de Corvo.

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e imagens promocionais.

O Corvo V - Inimigos Íntimos, de Luís Louro
Vicente, morador em Alfama e carteiro de profissão, teve uma infância difícil – o pai, polícia, acabou por se enforcar depois de ter morto a mãe por causa de… futebol. Não é por isso de estranhar que, em adulto, Vicente sofra de alguns traumas e apresente um desdobramento de personalidade que faz com que, durante a noite, tenha necessidade de deixar emergir o seu “eu inconsciente” transformando-se no Corvo.

Esperem lá, mas isso já todos sabiam… A “timidez do Vicente”, o “vestir a pele de super-herói”, blá, blá, blá. Mas o que todos querem saber é o que significa isso dos “Inimigos Íntimos.” O que aconteceu afinal a Vicente que ainda não sabemos? Qual a origem dessa dupla e atormentada existência do Vicente como Corvo?

O Corvo V – Inimigos Íntimos é uma viagem intensa e surpreendente pela (sub)consciência de Vicente, que vai revelar como as personagens e os traumas do passado fizeram nascer o herói mais inconsciente de todos os tempos.
(Quase) sempre com a noite da sua Lisboa como cenário, o Corvo vai combatendo os seus temíveis inimigos alados e os malfeitores mais inesperados. Mas será o Vicente capaz de encontrar a ajuda ideal para enfrentar os seus próprios demónios? Conseguirá ele escapar à tentação? Vamos finalmente descobrir o segredo das chamuças do Corvo?

Inimigos Íntimos, é o quinto volume das aventuras do fantástico Corvo, criado por Luís Louro em 1994.

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Ficha técnica
O Corvo V - Inimigos Íntimos
Autor: Luís Louro
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,95€